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ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO APLICADA

EM UMA OFICINA MECÂNICA


DJONATHAN LUIZ DE OLIVEIRA - oliveira.ind.eng@gmail.com
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

CAMYLLA RAMOS DE AMORIM - camy.r.amorim@gmail.com


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

IZABELA RODRIGUES CORREA NETTO - izabelarcn@gmail.com


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

LIZANDRA GARCIA LUPI VERGARA - l.vergara@ufsc.br


UFSC

Área: 4 - ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO


Sub-Área: 4.7 - ERGONOMIA DOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO

Resumo: É RESPONSABILIDADE DOS GESTORES DAS EMPRESAS GARANTIR


QUE OS FUNCIONÁRIOS EXERÇAM ATIVIDADES QUE NÃO CAUSEM DANOS A
SUA INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL. A ERGONOMIA SURGE COMO IMPORTANTE
FERRAMENTA PARA ANALISAR PROCESSOS E IDENTIFICAR AQUELAS TTAREFAS
QUE PODEM SER CRÍTICAS A SAÚDE E AO BEM-ESTAR DOS COLABORADORES.
ESTE ARTIGO APRESENTA UM ESTUDO ERGONÔMICO EM UMA OFICINA
MECÂNICA EM DUAS TAREFAS: AJUSTE DE FREIO E POLIMENTO. PARA ISSO FOI
REALIZADA UMA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET). COMO
RESULTADO OBSERVOU-SE QUE AMBAS AS ATIVIDADES OFERECEM RISCOS E
NECESSITAM DE MUDANÇAS.

Palavras-chaves: ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO, RULA, REBA,


QUESTIONÁRIO LEST, OFICINA MECÂNICA, ERGONOMIA.
XXV SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Inovação E Sustentabilidade Na Gestão De Processos De Negócios
Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de novembro de 2018

ERGONOMIC ANALYSIS OF WORK APPLIED IN A


CAR REPAIR SHOP
Abstract: IT IS THE RESPONSIBILITY OF CORPORATE MANAGERS TO ENSURE
THAT EMPLOYEES ENGAGE IN ACTIVITIES THAT DO NOT HARM THEIR PHYSICAL
OR MORAL INTEGRITY. ERGONOMICS EMERGES AS AN IMPORTANT TOOL FOR
ANALYZING PROCESSES AND IDENTIFYING THOSE TASKS THAAT CAN BE
CRITICAL TO THE HEALTH AND WELL-BEING OF EMPLOYEES. THIS ARTICLE
PRESENTS AN ERGONOMIC STUDY IN A CAR REPAIR SHOP IN TWO TASKS:
BRAKE ADJUSTMENT AND POLISHING. FOR THIS, AN ERGONOMIC WORK
ANALYSIS (AET) WAS PERFORMED. AS A RESULT IT HAS BEEN OBSERVED THAT
BOTH ACTIVITIES POSE RISKS AND REQUIRE CHANGE.

Keyword: ERGONOMIC ANALYSIS OF WORK, RULA, REBA, LEST


QUESTIONNAIRE, CAR REPAIR SHOP, ERGONOMICS.

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1. Introdução

Com o crescente avanço da tecnologia tem-se tornado necessário, não somente no


âmbito científico, mas também no dia-a-dia das empresas, a busca pela inovação e
sistematização das operações (OLIVEIRA et al., 2017). Contudo, a otimização de processos
não pode ser o único enfoque de melhorias. O bem-estar dos funcionários é uma parte crucial
para o sucesso ou fracasso de uma empresa.
A Associação Internacional da Ergonomia (2018) defende que a ergonomia “é a
disciplina científica relacionada com a compreensão das interações entre seres humanos e
outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos
para projetar a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema”.
Os distúrbios musculoesqueléticos e osteomusculares estão entre os mais recorrentes
problemas relacionados ao trabalho em todo o mundo; eles não são uma doença dos tempos
modernos, estão associados a atividades que envolvem movimentos repetitivos desde o século
XVII (VERGARA; PANSERA, 2012; ZAKERJAFARI; YEKTAKOOSHALI, 2018).
O objetivo deste trabalho foi realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) em
uma oficina mecânica localizada em Florianópolis a fim de encontrar atividades críticas para a
saúde dos funcionários e de sugerir possíveis melhorias. O artigo segue estruturado da
seguinte maneira: A seção 2 traz a metodologia de pesquisa; Todas as etapas da AET
realizadas no estudo são apresentadas na seção 3. Por fim, na seção 4, conclui-se o trabalho.

2. Metodologia

2.1 Análise Ergonômica do Trabalho

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) visa levantar dados referentes ao ambiente


de trabalho, bem como a participação no trabalhador, de forma a propor melhorias. A AET
consiste em observar e analisar de maneira holística os operários e colaboradores atuando em
seu ambiente de trabalho, buscando comparar a tarefa a ser realizada com a atividade que de
fato ocorre (SILVA et al., 2017). A análise se divide em 5 etapas conforme apresentado na
Figura 1 (SCHIAVON et al., 2017; SILVA et al., 2017; VERGARA; GARCIA; MIRANDA,
2012).
1. Análise da Demanda: É a definição do problema através do entendimento de todos
os envolvidos;
2. Análise da Tarefa: é a prescrição do que o funcionário deve fazer, conhecido como
trabalho prescrito;

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3. Análise das Atividades: considera o que o trabalhador realmente faz, seu trabalho
efetivo (real). Nesta etapa são utilizadas diversas ferramentas ergonômicas a fim de coletar
dados sobre os riscos inerentes às atividades;
4. Diagnóstico: É a proclamação das causas dos problemas descritos na demanda;
5. Recomendações Ergonômicas: É o estabelecimento das melhorias e implementações
necessárias para a solução do problema.
Desta forma, o estudo foi executado da seguinte forma: Para a análise da demanda
foram estabelecidas reuniões e entrevistas com os funcionários a fim de estabelecer quais as
atividades críticas da empresa. Com essa identificação foi realizada entãoa análise da tarefa
em conversa com o proprietário da oficina, o qual explicou detalhadamente qual deveria ser o
passo a passo das tarefas. A análise da atividade foi feita de três formas: (1) observação do
trabalho realizado, (2) entrevista com o funcionário e (3) aplicação de ferramentas
ergonômicas (questionário LEST, RULA e REBA). Por fim, com todos os dados coletados,
foi realizado um diagnóstico e as recomendações ergonômicas para corrigir os problemas
encontrados.

2.2 Materiais e Métodos


2.2.1 Questionário LEST
O método LEST desenvolvido em 1975 pelos membros do laboratório Laboratoire
d’Economie et Sociologie du Travail (LEST, o qual apelida o método) (CALLEJÓN-FERRE
et al., 2011; GUÉLAUD et al., 1975). A função do método LEST é de avaliar as condições de
trabalho, classificando estas condições como: satisfatório, incômodo ou prejudicial;
Relacionando ainda os fatores que podem influenciar a saúde e a vida pessoal dos
trabalhadores (VERGARA; PANSERA, 2012). O método é de natureza global, considerando
cada aspecto do trabalho de uma maneira geral. Ele não se aprofunda em cada um desses
aspectos, mas sim uma primeira avaliação que nos permite estabelecer se uma análise mais
profunda é necessária com métodos específicos. O objetivo é avaliar o conjunto de fatores
relacionados ao conteúdo do trabalho que podem impactar tanto na saúde quanto na vida
pessoal dos trabalhadores (DIEGO-MAS, 2015).

2.2.2 RULA
O RULA foi desenvolvido por McAtamney, Nigel e Corlett (1993) para investigar a
exposição individual de trabalhadores a fatores de risco associados a distúrbios do membro
superior relacionados ao trabalho. Esta ferramenta permite que seus usuários façam uma

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avaliação rápida da postura corporal, entretanto, não é projetada para diagnosticar distúrbios
musculoesqueléticos, apesar de fornecer uma avaliação dos riscos ergonômicos que podem
levar a lesões e a distúrbios (SEZGIN; ESIN, 2018).

2.2.3 REBA

A Rapid Entire Body Assessment (REBA) é uma ferramenta de análise postural para
avaliar os perigos do trabalho referentes ao corpo inteiro. Uma avaliação da REBA fornece
uma avaliação rápida e precisa do perigo postural corporal final para um trabalhador. Usando
a planilha REBA, o avaliador atribui uma pontuação para cada uma das partes do corpo, por
exemplo, punhos, antebraços, cotovelos, ombros, pescoço, tronco, costas, pernas e joelhos
(ÇAKIT, 2018; KATHIRAVAN; GUNARANI, 2018).

3. Resultados

Esta seção apresenta os resultados levantados com o desenvolvimento do método


AET, explicando como ocorreram cada uma de suas etapas, demonstrando as ferramentas
utilizadas e seus resultados.

3.1. Análise da Demanda

O trabalho foi realizado em uma oficina mecânica, no mercado há 25 anos, localizada


no bairro Trindade, na cidade de Florianópolis-SC. A média de serviços é de 40 carros por
semana, sendo os serviços mais prestados: ajuste dos freios e embreagem, troca de óleo, troca
de filtros, ajuste e conserto de suspensão, cristalização e polimento.
A empresa atualmente conta com cinco funcionários atuando como mecânicos, além
do dono do estabelecimento que atua como gerente administrativo. Não há hierarquia entre os
mecânicos, podendo todos os cinco executar todas as atividades, sendo dois funcionários
preferencialmente alocados para os serviços de cristalização e polimento. A empresa é
estruturada conforme apresentado na FIGURA 1:

FIGURA 1 - Organograma da empresa. Fonte: Os Autores (2018).

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Para ocupar o posto de mecânico é exigido experiência de mais de seis meses na área
ou formação automotiva em escolas técnicas, garantindo que o trabalhador tenha
conhecimento em mecânica, elétrica básica, pintura e lataria. O trabalho não é repetitivo, já
que os automóveis chegam com problemas diferentes, possibilitando variações nas atividades
dos trabalhadores.
A jornada de trabalho é de 10 horas diárias, sendo 1 hora de intervalo e duas pausas de
15 minutos por dia, sendo estes definidos pelos funcionários, podendo ser maiores que o
estipulado, caso o trabalhador ache necessário. A relação de trabalho é horizontal,
possibilitando que os funcionários possam se comunicar facilmente com o gerente.
Em conversa com os funcionários duas tarefas foram apontadas como as responsáveis
por grande parte dos desconfortos físicos: o ajuste do freio e o polimento dos carros. Por tanto
estes foram escolhidos como alvos da investigação.

3.2. Análise da Tarefa

A realização das tarefas requer muita força física, visto que alguns componentes do
carro têm peso elevado. Para tanto, os funcionários dispõem de maquinários e ferramentas
para auxiliar na execução da tarefa, a exemplo do elevador automotivo e da pistola
pneumática. As subseções a seguir detalham quais são as atividades prescritas para os
serviços de regulagem de freio e cristalização e polimento.

3.2.1 - Regulagem de freio

O funcionário que contribuiu para a pesquisa tem 27 anos e ocupa o cargo há dois anos. Essa atividade dura em
média 1h30min e é feita aproximadamente três vezes por dia. A

FIGURA 2 apresenta o fluxograma simplificado da tarefa.

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FIGURA 2 - Fluxograma da atividade de regulagem de freio. Fonte: Os Autores (2018).

3.2.2. Cristalização e polimento

A atividade de cristalização e polimento possui funcionários fixos. A demanda por


funcionário é de 3 carros por semana em média. A cristalização completa de um carro demora
aproximadamente de um dia e meio. A FIGURA 3 apresenta o fluxograma da tarefa.

FIGURA 3 - Fluxograma da atividade de cristalização. Fonte: Os Autores (2018).

3.3. Análise da Atividade

Após a compreensão do trabalho prescrito aos funcionários, foi-se estudado como este
trabalho realmente acontece. As subseções abaixo apresentam o trabalho real para os dois
tipos de serviço estudados.

3.3.1. Regulagem de freio

O trabalhador fica com os braços levantados sem apoio durante muito tempo e não
utiliza equipamento de proteção individual (EPI). Além disso, ele precisa se curvar diversas
vezes para posicionar a roda no chão. Após o trabalho, ele afirma sentir dor nos braços e
costas. O operador da atividade relatou que em alguns carros o tambor (peça metálica que
cobre o freio do carro) não pode ser retirado. Assim, se faz necessário utilizar o aparelho
celular para iluminar uma abertura existente no tambor durante a regulagem dos freios, pois
através dessa abertura é realizado o serviço. Na FIGURA 4 são apresentadas as posturas
observadas na regulagem de freio.

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O tempo médio de utilização da pistola pneumática é de 45 minutos por dia tendo o


ruído mensurado pelo medidor de pressão sonora de 94,2 dB. Para esse nível de ruído, o
tempo máximo de exposição indicado na norma NR17 é de 2 hora, ou seja, o ruído não gera
riscos à saúde do funcionário. A luminosidade do local é de 119lux, muito abaixo do
recomendado para o tipo de atividade, que é 750 lux.

FIGURA 4 - Posturas observadas na regulagem de freio. Fonte: Os Autores (2018).


Para este serviço foram utilizados o questionário Lest e a ferramenta RULA. Como
resultado do questionário LEST, as dimensões de carga física (valor = 7) e aspectos
psicológicos (valor = 6,292) representam fadiga ao trabalhador. Analisando mais
profundamente esses aspectos, é possível concluir que a carga física está relacionada ao peso
da roda que é retirada do carro. Já o aspecto psicológico se relaciona à atenção que a
realização da tarefa demanda do profissional, visto que um erro na regulagem pode causar o
não funcionamento do freio, causando acidentes para o proprietário do veículo.
Os resultados do RULA com relação à postura na etapa de colocação da roda no chão
teve pontuação igual a 6 pontos, em uma escala que vai de 0 a 7, o que evidencia a
necessidade de mudanças rápidas no posto de trabalho.

3.3.2. Cristalização e polimento

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O trabalhador fica por uma grande quantidade de tempo em duas posições nesta
atividade: esticado e com os ombros encolhidos para alcançar a parte superior do veículo e
inclinado com o corpo torcido para alcançar a parte inferior do mesmo. Após o trabalho,
assim como o funcionário da ativida de regulagem de freios, ele afirma sentir dor nos braços e
costas. Na FIGURA 5 podem ser visualizadas as posturas mais críticas da atividade:

FIGURA 5 - Posturas críticas da cristalização e polimento. Fonte: Os Autores (2018).


O tempo médio de utilização da máquina politriz por carro é de 2,5 horas, e o ruído
advindo da máquina, mensurado pelo medidor de pressão sonora, é de 99,7 dB. Para esse
nível de ruído, o tempo máximo de exposição indicado na norma NR17 é de 1 hora, ou seja, é
uma situação de trabalho insalubre. A luminosidade do local é de 293, muito abaixo do
recomendado para o tipo de atividade, que é 750 lux.
Para esta atividade a ferramenta utilizada foi o REBA. A ferramenta foi aplicada para
as duas posições (para polimento na parte superior e inferior do automóvel). Os resultados
foram: 5 pontos para a parte superior (evidenciando um risco médio e uma intervernção
necessária) e 9 pontos para a parte inferior (evidenciando um risco alto e uma intervenção
urgentemente necesária).

3.4. Diagnóstico

Nesta etapa foi realizado um diagnóstico baseado na análise ergonômica do posto de


trabalho, com o intuito de propor melhorias que corroborem com condições melhores aos
funcionários na realização de suas funções. As etapas de análise da tarefa e da atividade
evidenciaram alguns pontos críticos com relação à ergonomia física.

3.4.1. Regulagem de freio

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Na atividade de troca de freio, o funcionário realiza as posturas críticas de curvatura


repetida para pegar e colocar os pneus no chão, e de levantamento dos braços por tempo
elevado. Com a aplicação do Método de Avaliação Postural RULA, que analisa o
posicionamento dos membros superiores, foram obtidos 6 pontos de um máximo de 7, o que
evidencia a necessidade de mudanças rápidas no posto de trabalho.
A iluminação no ambiente não está adequada à norma NBR 5413 sem a utilização do
aparelho celular como fonte de luz, porém a utilização do mesmo atrapalha a execução da
atividade. O ruído causado pelo uso da pistola pneumática, apesar de alto, encontra-se dentro
dos limites estabelecidos pela NR 17, uma vez que o tempo de exposição encontra-se abaixo
do máximo permitido. Além disso, a empresa já oferece protetores auriculares aos
funcionários, porém eles não possuem o costume de utilizá-los.
A temperatura do local foi considerada adequada, visto que as medições foram
realizadas no inverno. Porém, o posto de trabalho não possui climatização e os funcionários
declararam sentir calor no verão, portanto possivelmente em outra época do ano a medição de
temperatura não indicaria resultados satisfatórios.

3.4.2. Cristalização e polimento

Já com relação à atividade de cristalização/polimento, problemas posturais também


foram identificados pela aplicação do método REBA. O método foi aplicado para o polimento
das partes superior e inferior do carro, e as pontuações dos dois casos evidenciam a
necessidade de mudanças. Entretanto o polimento na parte inferior do veículo é o que
apresenta maior risco para o funcionário que desempenha a atividade.
A iluminação do ambiente foi considerada muito baixa, comparando o valor retornado
pelo luxímetro (de 293 lux) com as recomendações da norma NBR 5413 para tarefas com
requisitos visuais normais, em que o parâmetro é de 750 lux. Já o ruído decorrente da
máquina politriz está acima do indicado pela NR 17, e isso se dá principalmente pelo tempo
de exposição. Segundo a norma, o máximo tempo de exposição a 100 dB seria de 1 hora,
porém os funcionários, em dias de polimento, são expostos ao ruído por um período de 2h30,
somando a exposição das etapas de Polimento e Aplicação da Resina. Em relação à
temperatura, a análise foi a mesma da atividade de troca de freios.

3.5. Recomendações Ergonômicas

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Visando melhorar os aspectos ergonômicos das atividades, foram realizadas


recomendações à empresa com relação à ergonomia física. Apesar de o Questionário LEST
ter acusado uma alta carga psíquica para as atividades, os próprios trabalhadores não
realizaram queixas nesse sentido, e afirmaram que o ritmo de trabalho é adequado, pois são
instruídos a levarem o tempo que precisarem para realizar o reparo da melhor forma possível.

3.5.1. Regulagem de freio

Para essa atividade, foi proposto que a empresa adquira um capacete com lanterna,
proporcionando uma iluminação adequada para a atividade sem que o funcionário necessite
utilizar o próprio aparelho celular e execute a tarefa com dificuldade pela necessidade de
segurar o aparelho.
Outra sugestão é a utilização de uma mesa deslocável para posicionamento das rodas,
visto que a colocação e retirada das rodas pesadas no chão faz com que o funcionário execute
uma postura crítica para a coluna. Foi recomendada uma altura para a mesa de 95 cm,
definida a partir da utilização do percentil 80 da altura da púbis da tabela antropométrica do
sexo masculino, já que se trata de um trabalho pesado. Foi considerada a altura média ao
invés do percentil 95, que seria a escolha tradicional nesse caso, por conta das características
dos próprios funcionários da empresa, os quais possuem estatura mediana. A empresa possui
rotatividade baixa, então isso foi levado isso em consideração. A mesa proposta possui travas,
para evitar deslocamentos indesejados, e uma prateleira para alocação do capacete com
lanterna, que é a primeira melhoria sugerida.

FIGURA 6 – Mesa.

3.5.2. Cristalização e polimento

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Para a atividade de polimento, foram realizadas quatro recomendações ergonômicas. A


primeira delas é com relação à postura crítica de polimento da parte superior do carro. Foi
proposto que os funcionários passassem a utilizar um calço, para que, com o acréscimo de
altura, os braços não precisassem ser levantados na realização dessa parte da atividade. A
proposta é que o comprimento do calço seja próximo à distância entre rodas de um carro
pequeno (comprimento de 2m, abaixo dos 2,3m de distância entre rodas de um carro popular),
evitando a necessidade de deslocamento constante do item. A altura do calço ideal seria de
aproximadamente 35 cm, para que o topo do carro fique na altura dos cotovelos do
funcionário, uma vez que o polimento é uma atividade leve à moderada. Para o cálculo da
altura do banco foi utilizado a altura do cotovelo (percentil de 80) da tabela antropométrica do
sexo masculino, que é de 113,5 cm. Além disso, foi considerado a média da altura de um
carro popular, que é de 148,0 cm, de acordo com a ficha técnica de um veículo do site de uma
importante montadora de carros. Seria interessante que o calço possuísse regulagem de altura,
para que fosse possível utilizá-lo confortavelmente em um carro pequeno e também em uma
caminhonete, por exemplo. Entretanto, o gerente administrativo relatou que a maioria dos
carros atendidos são carros comuns, portanto o investimento em um calço de altura regulável
não se justificaria (FIGURA 7).

FIGURA 7 – Calço.

A segunda recomendação, também com relação à postura, é relacionada ao polimento


da parte inferior do carro. Durante as visitas e entrevistas, foi constatado que, na maior parte
do tempo, pelo menos um dos três elevadores encontra-se livre para uso. Dessa forma, elevar
o carro na altura do umbigo do trabalhador é uma possibilidade de aliviar o esforço físico
decorrente dessa atividade.
Para avaliar os impactos de uma possível aplicação das recomendações, foi feita uma
simulação utilizando a ferramenta REBA foi possível observar que com o uso do elevador
para polir a parte inferior do carro, o funcionário ficará com o tronco ereto, não ficará com o
pescoço rotacionado, não terá uma postura instável ou grandes mudanças posturais. Tais

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mudanças reduzem a pontuação do final do Reba de 9 para 3. Os dados podem ser


visualizados abaixo:
Utilizando novamente a ferramenta REBA, mas agora para realizar a análise do
polimento na parte superior do veículo, é possível observar que com o uso do calço para polir
a parte superior do carro, o funcionário ficará com os braços entre -20 e 20 graus e o
antebraço entre 60 e 100 graus, não ficará com o ombro elevado. Tais variações são
responsáveis por reduzir a pontuação do final do Reba, saindo da zona de risco médio para
saúde do funcionário. O resultado da aplicação do REBA pode ser visualizado abaixo:
A empresa já possui protetores auriculares, porém os mesmos são pouco utilizados.
Como se trata de uma empresa pequena, e o gerente administrativo possui muitos afazeres,
não seria possível que um profissional orientasse diariamente os funcionários para a utilização
de EPI, porém uma proposta da pesquisa foi a utilização de placas conscientizadoras próximas
à garagem do polimento, com frases como “Não esqueça de utilizar seu protetor auricular”, ou
“A falta de EPI pode te causar surdez no futuro” tem efeito parecido e são de fácil
implementação.
A última sugestão é a utilização de iluminação combinada na garagem de trabalho,
visto que atualmente a garagem possui lâmpadas porém, quando não está chovendo, é
utilizada apenas a luz natural. Essa luz natural não incide diretamente e, conforme exposto no
diagnóstico, está longe de ser suficiente para o posto de trabalho.

3. Resultados

O presente estudo teve como objetivo aplicar a Análise Ergonômica do Trabalho em


duas atividades de uma oficina mecânica a fim de identificar quais os principais riscos que as
atividades poderiam gerar para a saúde dos funcionários. Para tanto, ferramentas como o
questionário LEST, a REBA e a RULA foram utilizados.
Para a atividade de regulagem do freio foi constatado que a postura na etapa de
colocação da roda no chão era crítica e a luminosidade também, necessitando de intervenções.
Já para a atividade de cristalização e polimento, foi constatado que a luminosidade estava
abaixo da recomendada, a exposição ao ruído demonstrava uma situação insalubre ao
trabalhador, e a postura para polimento da parte superior e inferior do carro era crítica.
A síntese das recomendações ergonômicas pode ser observada abaixo:

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TABELA 1 - Recomendações ergonômicas

Fonte: Os autores (2018)


Essas recomendações fornecem um grande ganho para o bem-estar e saúde dos
funcionários, uma vez que auxiliam na postura do corpo na realização das atividades que, por
serem repetitivas, podem gerar grandes prejuízos aos colaboradores.
Como proposta de trabalhos futuros, recomenda-se fazer as medições de temperatura
no verão para compreender a influência da mudança de temperatura das estações do ano no
trabalho e bem-estar dos funcionários, uma vez que as atividades exigem muito esforço físico.
Recomenda-se também uma análise no ramo organizacional da ergonomia, uma vez que foi
constatado que a sinalização no ambiente é precária, podendo gerar falha a comunicação entre
funcionários acerca dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos.

Referências
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International Journal of Occupational Safety and Ergonomics, v. 24, n. 2, p. 286–293, 2018.
CALLEJÓN-FERRE, A. J. et al. Indices of ergonomic-psycholsociological workplace quality in the greenhouses
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DIEGO-MAS, Jose Antonio. Análisis ergonómico global mediante el método LEST. 2015. Disponível em:
<https://www.ergonautas.upv.es/metodos/lest/lest-ayuda.php>. Acesso em: 27 jun. 2018.
GUÉLAUD, Françoise et al. Pour une analyse des conditions du travail ouvrier dans l’entreprise. 4. ed.
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IEA. What is Ergonomics? 2018. Disponível em: <https://www.iea.cc/about/index.html>. Acesso em: 10 jul.
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KATHIRAVAN, S.; GUNARANI, G. I. Ergonomic Performance Assessment (EPA) Using RULA and REBA
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n. 4, p. 836–843, 2018.
MCATAMNEY, Lynn; NIGEL CORLETT, E. RULA: a survey method for the investigation of work-related
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PRODUÇÃO 2017, Joinville. Anais... Joinville
SCHIAVON, Letícia de Oliveira et al. Análise Ergonômica de um Centro de Educação infantil. In: XXXVII
ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 2017, Joinville/SC. Anais... Joinville/SC
SEZGIN, Duygu; ESIN, M. Nihal. Effects of a PRECEDE-PROCEED model based ergonomic risk management
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47, p. 89–97, 2018.
SILVA, Luiz Carlos Duarte et al. Análise ergonômica do trabalho : aplicação em uma oficina mecânica. In:
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VERGARA, Lizandra Garcia Lupi; PANSERA, Thaís Regina. Ergonomics analysis of the activity of boning
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ZAKERJAFARI, Hamid Reza; YEKTAKOOSHALI, Mohammad Hossein. Work-Related Musculoskeletal
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