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ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM UMA

EMPRESA DE ENTREGA DE GÁS DE COZINHA DA


MESORREGIÃO DO ALTO PARANAÍBA
JOÃO CARLOS RODRIGUES SILVA – joao.c.rodrigues@ufv.br
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/CAMPUS RIO PARANAÍBA – UFV/CRP

THAINÁ CRISTINA BRAGA DE SOUZA – thaina.souza@ufv.br


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/CAMPUS RIO PARANAÍBA – UFV/CRP

LUANA YASMIN MARQUES PEREIRA – luana.yasmin@ufv.br


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/CAMPUS RIO PARANAÍBA – UFV/CRP

JOÃO VITOR ARAÚJO LONDE – joao.londe@ufv.br


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/CAMPUS RIO PARANAÍBA – UFV/CRP

GUSTAVO ALVES DE MELO – gustavo_melocp@hotmail.com


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA/CAMPUS RIO PARANAÍBA – UFV/CRP

Área: 8 – ENGENHARIA DO TRABALHO


Sub-Área: 8.2 – ERGONOMIA

Resumo: A ERGONOMIA É UMA DISCIPLINA CIENTÍFICA RELACIONADA AO


ENTENDIMENTO DAS INTERAÇÕES ENTRE OS SERES HUMANOS E OUTROS
ELEMENTOS OU SISTEMAS. SENDO ASSIM, PODE SER APLICADA NOS MAIS
DISTINTOS SETORES DA ATIVIDADE PRODUTIVA, VISTO QUE, AS CONDIÇÕES
GERAIS DE TRABALHO, CONSIDERANDO, A ILUMINAÇÃO, O NÍVEL DE RUÍDOS E
A TEMPERATURA SÃO OS PRINCIPAIS CAUSADORES DOS PROBLEMAS QUE
AFETAM, DIRETAMENTE, A SAÚDE DOS FUNCIONÁRIOS DE UMA EMPRESA.
DESSA FORMA, ESTE ESTUDO TEVE POR OBJETIVO REALIZAR UMA ANÁLISE
ERGONÔMICA DO TRABALHO DE UM ENTREGADOR EM UMA EMPRESA DE
ENTREGA DE GÁS DE COZINHA DA MESORREGIÃO MINEIRA DO ALTO
PARANAÍBA. ALÉM DISSO, O ESTUDO APRESENTOU UM CARÁTER DESCRITIVO E
UMA ABORDAGEM QUALITATIVA-QUANTITATIVA, COM UMA AVALIAÇÃO
ERGONÔMCA PAUTADA NAS FERRAMENTAS RULA E OWAS. ALÉM DA
UTILIZAÇÃO DESTAS FERRAMENTAS FORAM REALIZADAS ENTREVISTAS E
OBSERVAÇÕES DIRETAS A FIM DE AUXILIAR NA ETAPA DE COLETA DE DADOS.
DESTA MENEIRA, AS FERRAMENTAS APLICADAS APONTARAM A NECESSIDADE
DE AÇÕES CORRETIVAS IMEDIATAS. NESTE SENTIDO, FORAM SUGERIDAS
ALGUMAS MEDIDAS A FIM DE REDUZIR OS DESGASTES GERADOS PELA
EXECUÇÃO DA ATIVIDADE DE ENTREGA, A SABER, A UTILIZAÇÃO DE CINTA
ERGONÔMICA LOMBAR, PROTETOR DE OMBRO AJUSTÁVEL, PROTETORES
AURICULARES, ÓCULOS DE SOL, E A REALIZAÇÃO DE GINÁSTICA LABORAL,
COMPENSATÓRIA E CORRETIVA.

Palavras-chaves: ERGONOMIA; SAÚDE; TRABALHO; RULA; OWAS.


XXVII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Economia Circular e suas Interfaces com a Engenharia de Produção
Bauru, SP, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2020

ERGONOMIC ANALYSIS OF WORK IN A KITCHEN


GAS DELIVERY COMPANY IN MESORREGION
FROM ALTO PARANAÍBA
Abstract: ERGONOMICS IS A SCIENTIFIC DISCIPLINE RELATED TO
UNDERSTANDING THE INTERACTIONS BETWEEN HUMAN BEINGS AND OTHER
ELEMENTS OR SYSTEMS. THEREFORE, IT CAN BE APPLIED IN THE MOST
DIFFERENT SECTORS OF THE PRODUCTIVE ACTIVITY, SINCE THAT THE
GENERAL WORKING CONDITIONS, CONSIDERING, THE LIGHTING, THE NOISE
LEVEL AND THE TEMPERATURE ARE THE MAIN CAUSERS OF THE PROBLEMS
THAT DIRECTLY AFFECT THE HEALTHCARE OF THE HEALTHCARE. FROM A
COMPANY. THEREFORE, THIS STUDY HAS AIM TO PERFORM AN ERGONOMIC
ANALYSIS OF A DELIVERY'S WORK AT A KITCHEN GAS DELIVERY COMPANY IN
MESORREGION FROM ALTO PARANAÍBA. ALSO, THE STUDY PRESENTED A
DESCRIPTIVE CHARACTER AND A QUALITATIVE-QUANTITATIVE APPROACH,
WITH AN ERGONOMIC EVALUATION BASED ON RULA AND OWAS TOOLS.
BEYOND THE USE OF THESE TOOLS INTERVIEWS AND DIRECT OBSERVATIONS
WERE PERFORMED IN ORDER TO ASSIST IN THE DATA COLLECTION STEP. IN
THIS WAY, THE TOOLS APPLIED HAVE POINTED THE NEED FOR IMMEDIATE
CORRECTIVE ACTIONS. IN THIS SENSE, SOME MEASURES WERE SUGGESTED IN
ORDER TO REDUCE THE WEAR GENERATED BY EXECUTING THE DELIVERY
ACTIVITY, TO KNOW, THE USE OF LUMBAR ERGONOMIC BELT, ADJUSTABLE
SHOULDER PROTECTOR, HEARING PROTECTORS, SUNGLASSES, AND THE
PERFORMANCE OF LABORAL, COMPENSATORY AND CORRECTIVE GYMNASTICS.

Keywords: ERGONOMICS; HEALTH; WORK; RULA; OWAS.

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1. Introdução

A ergonomia busca por melhores condições de trabalho dos colaboradores nas


organizações bem como se dedica à promoção da saúde destes em seus ambientes de trabalho
(NATH et al., 2017). Neste contexto, é notável uma maior demanda da ergonomia de acordo
com a introdução de novas tecnologias e em situações de mudanças (ARAUJO et al., 2017;
NATH et al., 2017). Assim, tais mudanças pautadas na reestruturação produtiva são realizadas
a fim de obter a adequação dos postos de trabalho ao homem e, indiretamente, a elevação dos
níveis produtivos nas organizações (ARAUJO et al., 2017; NATH et al., 2017).
Além disso, a ergonomia se trata de uma àrea de conhecimento difusa, dotada de uma
multiplicidade de aplicações em diferentes setores produtivos (NATH et al., 2017). Cabe
lembrar que melhorias neste âmbito representam uma das oportunidades de alavancagem de
produção pelas organizações (ARAUJO et al., 2017; NATH et al., 2017). Assim, o presente
estudo comtemplou uma análise ergonômica do trabalho em uma organização dedicada à
entrega de gás de cozinha, sendo sua realização motivada por observações e relatos de
colaboradores sobre os desgastes físicos gerados pelas atividades realizadas.
De acordo com De Andrade (2018) e o MME (2017), o consumo de GLP (Gás
Liquefeito de Petróleo) é mais relevante quando considerado residencial, uma vez que chega a
representar 78% de sua utilização. Em 2016, esse valor representou cerca de 7,4 milhões de
toneladas de GLP comercializados, sendo que 40% desse total foram referentes a região
Sudeste (DE ANDRADE, 2018). No Brasil, existe uma rede ampla de revendedores, que
desde 2004 cresce progressivamente. Sendo que esse valor mais que quadruplicou em um
período de 10 anos, e em 2017 esse valor já era de mais de 67 mil revendedores (DE
ANDRADE, 2018).
Dessa maneira, este estudo teve por objetivo realizar uma análise ergonômica do
trabalho de um entregador de gás que presta serviços a um centro de distribuição de gás
localizado na mesorregião mineira do Alto Paranaíba. Frente a isso, a fim de obter melhorias
no ambiente de trabalho, foram implementados alguns métodos ergonômicos para identificar
as ações corretivas necessárias, a saber, o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) e o
método OWAS (Ovako Working Posture Analysis System).

2. Ergonomia aplicada ao setor de distribuição de gás

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A indústria petrolífera é composta por uma série de derivados de petróleo que são
comercializados para finalidades distintas. Dentre esses derivados está o GLP (Gás Liquefeito
de Petróleo), conhecido também como gás de cozinha (MOREIRA, 2015). No Brasil, o GLP
tem um papel importante para economia do país, sendo comercializado mais de 7 milhões de
toneladas do produto por ano (DE ANDRADE, 2018). Além disso, a receita anual média
desse mercado no país é de mais de R$ 22 bilhões de reais, havendo 23 empresas
distribuidoras e mais de 54 mil empresas revendedoras (MOREIRA, 2015). Vale ressaltar que
a principal vantagem da indústria brasileira do GLP é a sua logística, pois ela é realizada de
forma econômica e competitiva (DE ANDRADE, 2018).
Em se tratando da atividade de distribuição de gás, muitas empresas deste setor sofrem
com o afastamento de funcionários, gerado pelo carregamento de cargas elevadas e desgaste
físico associado (GOMES; UFS, 2016). A quantidade de funcionários afastados por empresas
está em torno de 100 operários por ano, sendo esse afastamento temporário relacionado a
doenças e acidentes, ou até mesmo, a afastamentos que levam a aposentadorias destes por
incapacidade ou invalidez (GOMES; UFS, 2016). Neste contexto, o enfoque ergonômico
nesta área tende a desenvolver postos de trabalhos que visam reduzir as exigências
biomecânicas e cognitivas, buscando colocar o trabalhador em uma boa postura de trabalho
(GOMES; UFS, 2016). Assim, buscar uma postura correta sem inclinação do dorso é
extremamente importante na execução dessa tarefa, tornando o estudo ergonômico essencial
para a área (GOMES; UFS, 2016).

3. Ferramentas ergonômicas e Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

A Análise Ergonomica do Trabalho (AET) tem como objetivo a identificação e a


averiguação de funções e objetos utlizados pelo funcionário em seu local de trabalho
(ARAUJO et al., 2017; NATH et al., 2017). Além disso, esta preza pela medição dos
impactos que o uso destes objetos e esforços relacionados têm em sua rotina (ARAUJO et al.,
2017). Cabe lembrar que a AET é regida e regulamentada pela NR17, que estabelece medidas
de adaptação do trabalho às caracteriísticas físicas e mentais dos trabalhadores (ARAUJO et
al., 2017; NATH et al., 2017).
Em se tratando das metodologias disponíveis para o auxílio na avaliação ergonômica,
dentre elas, há os métodos RULA e OWAS. Segundo Manghisi et al. (2017) o método RULA
contempla fatores como o tempo contínuo das operações, características individuais, fatores
ambientais no posto de trabalho e fatores psicossociais. Além disso, é um método que a avalia

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o corpo biomecânico do indivíduo e detecta psoturas de trabalho inadequadas, de forma


semelhante ao método OWAS (MANGHISI et al., 2017). Conforme Gomez-Galan et al.
(2017), o método OWAS é uma ferramenta simples para a análise das atividades do
trabalhador durante a realização de suas atividades. Desta forma, esta análise contempla a
postura da coluna, braços, pernas e cargas utilizadas na execução das atividades (GOMEZ-
GALAN et al., 2017).

4. Procedimentos Metodológicos

O presente estudo se caracterizou por ser uma pesquisa de caráter descritivo com uma
abordagem qualitativa-quantitativa. Para Creswell e Creswell (2017), a combinação entre
diversos métodos qualitativos e quantitativos visa fornecer um quadro mais geral da questão
em estudo. Nesta perspectiva, a pesquisa qualitativa pode ser apoiada pela pesquisa
quantitativa e vice-versa, possibilitando uma análise estrutural do fenômeno com métodos
quantitativos e uma análise processual mediante métodos qualitativos (CRESWELL;
CRESWELL, 2017).
Enquanto procedimento, o estudo foi realizado através de observações diretas do posto
de trabalho do funcionário. Segundo Kumar (2019), a observação constitui um elemento
fundamental para a pesquisa, pois é a partir dela que é possível delinear as etapas de um
estudo: formular o problema, construir a hipótese, definir variáveis e coletar dados. Ainda
segundo Kumar (2019), a observação é a aplicação dos sentidos humanos para obter
determinada informação sobre aspectos da realidade.
Além da observação do processo, os autores registraram as etapas da execução da
atividade por meio de fotografias que foram tiradas durante a visita à empresa. A junção de
anotações realizadas com as fotografias permitiu uma coleta de informações eficiente e
identificação da demanda, possibilitando uma aplicação posterior dos métodos de avaliação
postural, a saber, o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) e o método OWAS (Ovako
Working Posture Analysis System). O método RULA investiga a exposição dos trabalhadores
aos fatores de risco relacionados aos membros superiores e inferiores. Além disso, permite
que as posturas de trabalho que merecem atenção especial sejam identificadas (MANGHISI et
al., 2017). Já em relação ao método OWAS, Gomez-Galan et al. (2017), afirmam ser um
método simples para análise e classificação da postura do trabalhador durante as realizações
de atividades.

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Frente a isso, o estudo foi dividido nas etapas de análise da demanda, análise da tarefa,
análise da atividade, diagnóstico e recomendações. Neste sentido, o estudo realizou uma
caracterização da organização e do ambiente de trabalho, contemplando aspectos referentes à
ventilação, ruído, temperatura, iluminação, rotinas de trabalho, entre outros. Assim, após a
etapa de classificação das posturas e da determinação do peso das cargas, os valores
encontrados foram confrontados e obtido o resultado final, que indica a determinação do nível
de risco, finalizando a etapa de diagnóstico. Por fim, foram propostas como recomendações
algumas medidas para a redução do desgaste físico do funcionário analisado para a realização
de suas atividades.

5. Resultados e discussão

A organização analisada é uma revendedora de gás e água mineral localizada na


mesorregião mineira do Alto Paranaíba. Fundada em 1995, é uma empresa familiar de
pequeno porte que se consolidou na região nos últimos anos. A comercialização de GLP pela
organização em estudo é uma de suas principais fontes de renda, sendo vendidas de 35 a 40
unidades deste por dia. Além disso, as entregas podem ser realizadas no período de 8:00 às
20:00 horas, por um único entregador, que já trabalha no local a 10 anos. Frente a isso, foi
identificada uma demanda ergonômica neste estudo caracterizada pela repetição excessiva de
movimentos do entregador durante o período de trabalho, além do carregamento de cargas
elevadas, posturas inadequadas praticadas pelo entregador e uma exposição elevada deste aos
raios solares UVA e UVB.
Neste sentido, foi realizado uma análise da tarefa do entregador de gás visando
compreender melhor seu trabalho e as condições ambientais, técnicas e organizacionais desta
realização. Segundo Gomes e Ufs (2016) o objetivo desta análise é levantar dados sobre as
exigências da empresa para com seus funcionários. Nesta etapa de coleta de dados, foram
realizadas observações diretas e entrevistas com funcionários e gerentes a fim de obter o
conhecimento do que é a tarefa prescrita e como o trabalhador deveria realizá-la. Assim, a
priori, o pedido deve chegar ao gerente e logo ser repassado ao entregador, que receberá a
localização e os dados do pedido. Se o entregador estiver no local da empresa, este carregará
o carro de entrega com 6 unidades do gás e sairá para entrega. Caso não, este deve ser
acionado por telefone pela organização, e se houver unidades disponíveis, já realizará a
entrega conforme mostra a Figura 1.
FIGURA 1 - Diagrama sistêmico do processo. Fonte: Autores (2019).

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Além disso, conforme a Figura 1, o processo de entrega também inclui a instalação e a


cobrança, também feitos pelo entregador. As entregas no destino informado devem ser
sequenciadas da seguinte maneira: primeiramente, o entregador deve descer do veículo e
retirar o gás, colocando-o nas costas. Logo, ele caminha até o local de instalação e o instala, e
em seguida deve verificar o escapamento de gás. Após as verificações, ele receberá pelo
pedido (manuseio de cartão ou dinheiro), e seguirá para o próximo destino, até o fim de seu
expediente.
No ambiente de trabalho da organização, existem poucos barulhos fora de controle que
são um dos agentes mais nocivos à saúde humana. Ou seja, nenhum barulho ou ruído que o
funcionário está sujeito a escutar ultrapassa o valor de 85 decibéis (dB). Entretanto, fora do
ambiente organizacional, existem ruídos gerados pelo veículo que ele utiliza, barulhos
externos como, por exemplo, o trânsito, buzinas de veículos, barulho que os botijões de gás
fazem ao encostar um no outro e conversas paralelas de clientes enquanto ele faz a troca e
instalação do botijão de gás.
Como o funcionário passa a maior parte do tempo da sua rotina de trabalho em lugares
descobertos, existe uma grande exposição do mesmo ao sol, principalmente entre as 10:00
horas da manhã e as 15:00 da tarde, que são quando as temperaturas estão mais elevadas,
sendo assim necessário o uso de manguitos para a proteção dos braços à exposição da luz
solar. Além de que no verão, estação do ano onde as temperaturas estão cada vez maiores, o
funcionário alcança o ápice da fadiga mais rápido, deixando a desejar em seu desempenho
dessa forma.
Além disso, o local de trabalho do entregador é aberto, bastante arejado e não possui
deficiência em relação à ventilação. O que pode prejudicá-lo são dias em que a corrente de ar

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é forte e, por estar em local onde a circulação de ar é maior, pode atrapalhá-lo no desempenho
da sua atividade. No que se refere ao nível de iluminação, este é um fator que não interfere no
local de trabalho do funcionário, pois ele trabalha em um local aberto, existindo dessa forma
uma boa iluminação conduzida pela luz solar. Por fim, os equipamentos utilizados pelo
funcionário são o veículo (Tricíclo com capacidade de carga de 6 unidades do gás), luvas que
o auxiliam na pega do botijão, máquina de cartão, caso o cliente venha efetuar o pagamento
desta forma, manguitos de proteção para dias muito quentes e uma bolsa com algumas
ferramentas, caso exista a necessidade de usá-las quando estiver fazendo a troca do gás para o
cliente.
Frente a isso, em seguida, foi realizado uma análise da atividade do entregador
contemplando a sua compreensão das tarefas requisitadas pela organização, incluindo assim,
processos de adaptação e regulação deste ao longo de sua jornada de trabalho. Dessa maneira,
cabe lembrar que um botijão de GLP cheio pesa em média 27 kg e, quando vazio, por volta de
13 kg. Sendo assim, com a dependência do trabalho manual que o ramo de distribuição de
GLP possui, para que a tarefa seja desempenhada é necessário extremo esforço físico e
atenção constante. O trabalhador dessa área está frequentemente envolvendo-se com ações
como levantar, abaixar, carregar, puxar ou empurrar os botijões, ações que geram um desgaste
físico elevado.
Na atividade em questão, foi observado que o entregador tem uma rotina diária,
começando sempre pela manhã com o carregamento de seu veículo até a sua capacidade
máxima. Após a distribuidora receber pedidos, o funcionário começa seu trabalho de entrega,
dirigindo-se ao local informado. Nesse processo o funcionário entra na residência onde foi
pedido o gás, carregando o mesmo geralmente em cima do ombro, realizando a instalação. A
forma como o gás é carregado pelo funcionário varia do local onde ele tenha que efetuar a
entrega, caso seja em um apartamento que não possua um elevador, o botijão tem que ser
transportado por escadas, tornando a atividade ainda mais desgastante e perigosa. Em
sequência, o funcionário volta para o seu veículo e, caso receba novas ordens, via rádio, para
realizar a entrega em outra localidade, ele se dirigirá para o novo endereço e realizará o
mesmo processo.
Em relação às condicionantes físicas que afetam o desenvolvimento das atividades
pelo entregador, foram percebidos a ocorrência de movimentos bruscos, sendo necessário
manter a postura para evitar que haja sobrecarga em regiões desnecessárias, como por
exemplo, sobre a coluna. Dessa forma, a atividade deve ser executada concentrando o peso

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sobre os músculos dos membros inferiores e não sobre os músculos do dorso. Além disso, na
distribuidora o ambiente de trabalho deve estar sempre limpo, evitando com isso, possíveis
acidentes por falta de organização, principalmente, pelo funcionário estar lidando com uma
carga elevada de peso. A organização e um ambiente de trabalho limpo torna a execução da
atividade mais eficiente e segura.
No que se refere às condicionantes cognitivas que afetam o desenvolvimento das
atividades pelo entregador, estas se referem à memória, atenção, percepção, linguagem e
funções executivas. No trabalho esses tipos de funções são extremamente importantes na
execução de tarefas, por mais simples ou mais complexas que estas sejam. No desempenho
desta atividade o funcionário deve ter atenção em seu trabalho a todo o momento. Como este
está lidando com cargas pesadas, qualquer erro por falta de atenção pode resultar em acidentes
de trabalho que podem ocasionar na lesão do mesmo. A utilização da memória para lembrar a
localização dos endereços de entrega também é extremamente importante para que a atividade
seja executada de maneira eficiente. Como não são usados equipamentos que auxiliam o
funcionário na realização da entrega, a memória é uma característica cognitiva fundamental
para o trabalho.
Frente a isso, ao realizar uma visita à organização, foi possível o acompanhamento de
uma das entregas realizadas pelo funcionário, possibilitando a aplicação dos métodos RULA e
OWAS com base nas posições observadas, como mostra as Figuras 2 (a), (b) e (c). Durante a
entrevista, o entregador afirmou que quando começou a desempenhar a função, a 11 anos
atrás, sentia dores nos músculos e pernas no geral, mas que isso nunca o impediu de trabalhar.
Em contraste com os dias atuais, em que o mesmo diz não sentir dor e nenhum incômodo no
corpo. Segundo ele o tempo foi um fator fundamental para se adaptar a rotina e,
consequentemente, as dores não são mais perceptíveis.
FIGURA 2 – Posturas executadas no carregamento do veículo. Fonte: Autores (2019).
(a) (b) (c)

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Uma queixa do funcionário esteve relacionada a alta claridade em que ele se expõe ao
realizar suas tarefas durante o dia. Isso ocorre, pois como o ambiente é aberto existe um
contato direto com o sol, e mesmo com ele afirmando usar protetor solar, seus olhos ainda
sofrem agressão dos raios solares. No fim do dia, foi relatado pelo entregador a ocorrência de
dores de cabeça que podem estar relacionadas a esse fator. Com relação à sua postura no
veículo, conforme a Figura 2 (c), foi possível notar que o mesmo não adotava uma postura
reta do tronco, sendo um fator prejudicial à sua saúde à longo. Além disso, quando
questionado a respeito de possíveis ruídos durante a entrega, o funcionário que dispõe de dois
veículos, um com cabine e outro convencional, assegura que é preferível utilizar o veículo sem
cabine, uma vez que a presença desse diferencial faz com que o ruído não se dissipe para o
ambiente e seja absorvido apenas por ele.
Considerando todas as informações obtidas, o método RULA foi aplicado
primeiramente a partir do mapeamento das posições dos membros superiores e punho do
entregador através dos escores da Tabela 1.
TABELA 1 – Análise dos braços e punhos.
Membros superiores e punho
Análise de Braços 5
Localização do Antebraço 3
Posição do punho 1
Giro do punho 2
Escore de Postura 6
Escore de uso dos músculos 1
Escore de força e carga 3
Escore final (linha da Tabela 3) 10
Fonte: Autores (2019).
De acordo com a Tabela 1, o escore final foi obtido a partir da soma dos escores de
postura, de uso dos músculos e de força e carga. Em seguida, foram mapeadas as posições do
pescoço, tronco e pernas a partir dos escores da Tabela 2.
TABELA 2 – Análise de pescoço, tronco e pernas.
Pescoço, tronco e pernas
Pescoço 3
Tronco 2
Pernas 2
Escore de postura 3
Escore de uso de músculos 1
Escore de força e carga 3
Escore final (conluna da Tabela 3) 7
Fonte: Autores (2019).

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De forma análoga, o escore final da Tabela 2 foi obtido a partir da soma dos escores de
postura, de uso dos músculos e de força e carga. Sendo assim, o escore final obtido pela
Tabela 1 correspondeu à linha da Tabela 3, já o escore final obtido pela Tabela 2
correspondeu ao número da coluna da Tabela 3.
TABELA 3 – Análise final do método.
1 2 3 4 5 6 7+
1 1 2 3 3 4 5 5
2 2 2 3 4 4 5 5
3 3 3 3 4 4 5 6
4 3 3 3 4 5 6 6
5 4 4 4 5 6 7 7
6 4 4 5 6 6 7 7
7 5 5 6 6 7 7 7
8+ 5 5 6 7 7 7 7
Fonte: Autores (2019).
De acordo com a avaliação da linha e coluna da Tabela 3, o escore final obtido foi 7,
que significa que investigações e mudanças devem ser realizadas imediatamente a fim de
amenizar os risco e fatores prejudiciais à saúde do entregador. Com relação ao método OWAS,
este foi aplicado posteriormente a fim de comprovar os resultados obtidos no método RULA.
Frente a isso, a Tabela 4 contemplou a classificação da postura para o tronco do entregador ao
realizar a troca do botijão de gás.
TABELA 4 - Classificação da postura para tronco.
Código Descrição
1 Tronco reto (em posição neutra)
2 Tronco flexionado para frente
3 Tronco rotacionado para um dos lados
4 Tronco flexionado para frente e rotacionado para um dos lados
Fonte: Martinez (2005); Autores (2019).
Assim, a Tabela 5 se tratou da classificação da postura para os braços, estes que se
mostraram acima da linha do ombro durante a realização da atividade.
TABELA 5 - Classificação da postura para braços.
Código Descrição
1 Ambos os braços abaixo do nível do ombro
2 Um dos braços acima da linha do ombro
3 Ambos os braços acima da linha do ombro
Fonte: Martinez (2005); Autores (2019).
A Tabela 6, correspondeu à classificação da postura para as pernas, sendo considerada
a posição andando em razão da sua constante movimentação para a execução da atividade.

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TABELA 6 - Classificação da postura para pernas.


Código Descrição
1 Sentado
2 Em pé, com joelhos retos e peso distribuído uniformemente entre as pernas
3 Em pé, com joelhos retos e peso concentrado em uma das pernas
Em pé, com joelhos flexionados e peso distribuído uniformemente entre as
4
pernas
5 Em pé, com joelhos flexionados e peso concentrado em uma das pernas
6 Ajoelhado (com um ou dois joelhos tocando o chão)
7 Andando
Fonte: Martinez (2005); Autores (2019).
Por fim, a Tabela 7 contemplou a classificação da carga manipulada pelo entregador
considerando o peso do botijão cheio, superior à 20 quilos.
TABELA 7 - Classificação da carga manipulada.
Código Descrição
1 Menos de 10 Kg
2 Entre 10 e 20 Kg
3 Mais de 20 Kg
Fonte: Martinez (2005); Autores (2019).
Dessa forma a Tabela 8, apresentou o resultado da aplicação do método OWAS com
base nos códigos das classificações realizadas anteriormente.
TABELA 8 – Resultado da avaliação.
PERNAS
1 2 3 4 5 6 7
DORSO BRAÇO
CARGA
1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 3 2 2 3 1 1 1 1 1 2
1 2 2 3 2 2 3 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 3 3
2 2 2 2 3 2 2 3 2 3 3 3 4 4 3 4 4 3 3 4 2 3 4
3 3 3 4 2 2 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 3 3 3 4 4 4 1 1 1 1 1 1
3 2 2 2 3 1 1 1 1 1 2 4 4 4 4 4 4 3 3 3 1 1 1
3 2 2 3 1 1 1 2 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 1 1 1
1 2 3 3 2 2 3 2 2 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
4 2 3 3 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
3 4 4 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
Fonte: Martinez (2005); Autores (2019).

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Frente a isso, conforme a Tabela 8, o escore final obtido para o método OWAS foi 4.
Segundo Martinez (2005), este escore significa que a carga causada por esta postura tem
efeitos danosos imediatos sobre o sistema músculo-esquelético e que ações corretivas
imediatas devem ser tomadas, confirmando os resultados obtidos no método RULA.
Desta maneira, foram sugeridas neste estudo algumas recomendações com relação ao
trabalho do entregador de gás a fim de amenizar os danos fisícos gerados na sua execução.
Dentre elas, a realização de ginástica laboral no início de cada jornada de trabalho, com
duração média de 15 a 20 minutos. Além disso, durante os intervalos de descanso foi sugerido
a realização de ginástica compensatória e, no encerramento do expediente, a ginástica
corretiva. Vale ressaltar as reclamações do entregador com relação a sua exposição constante
a alta luminosidade prejudicando sua visão, assim, foi sugerido a utilização de óculos escuros
para sua proteção contra raios UVA e UVB, reduzindo a ocorrência de dores de cabeça e
facilitando sua visão durante a realização das entregas dos botijões.
Em relação ao ruído observado na atividade de transporte do GLP, proveniente do
veículo utilizado, foi sugerido a utilização de protetores auriculares durante a atividade de
transporte a fim de reduzir a frequência percebida pelo entregador. Por fim, no que se refere
às medidas relacionadas a sua postura, foi sugerido a utilização de um protetor de ombro
ajustável para evitar o contato direto com o botijão e, consequentemente, para amortecer os
impactos gerados. Ainda com relação a sua postura, foi sugerido o uso de cinta lombar
ergonômica para auxiliá-lo na manutenção de uma postura correta e adequada, prevenindo de
lesões e torções causadas por sobrecargas na musculatura das costas e abdômen.

6. Considerações Finais

Durante as visitas foi possível observar que existe uma sobrecarga e possível fadiga
dos músculos do entregador, uma vez que o trabalho além de exigir grandes esforços era
repetido inúmeras vezes em um período curto de tempo. Além disso, foi possível notar uma
possível contradição entre os resultados dos métodos ergonômicos aplicados RULA e OWAS,
em paralelo com a entrevista e as observações realizadas durante a entrega. Enquanto os
métodos apontam uma ação corretiva imediata, o funcionário relatava não sentir a necessidade
de mudanças, já que segundo ele suas tarefas não o sobrecarregam e nem mesmo geram
fadiga.
É possível inferir que essa contradição se deve ao fato de o entregador realizar as
mesmas tarefas durante um longo período de tempo, no qual ele pode ter perdido a percepção

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do que realmente o incomoda no seu ambiente de trabalho. Além disso, em se tratando de


uma empresa familiar, onde o seu contato é direto com os empregadores, relatar essas queixas
pode ter sido visto como algo prejudicial, que poderia afetar seu relacionamento com os
gestores e até mesmo a sua permanência na empresa. Todavia, é importante salientar que os
métodos aplicados foram eficazes, sendo imprecindível o seguimento das recomendações
propostas, a fim de melhorar não somente o desempenho do funcionário, mas também sua
qualidade de vida.

Referências
ARAUJO, Fernanda et al. Análise Ergonômica do Trabalho na COOPERMINAS: um estudo do trabalho na
autogestão. In: XII Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social. 2017.
CRESWELL, John W.; CRESWELL, J. David. Research design: Qualitative, quantitative, and mixed methods
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DE ANDRADE, Breno Silva Bertoco. O setor de distribuição de gás liquefeito e natural no Brasil: panorama e
perspectivas frente aos desinvestimentos da Petrobras. 2018. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
GOMES, D.; UFS, L. Da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) em uma distribuidora de GLP em Aracaju/SE.
2016.
GOMEZ-GALAN, Marta et al. Musculoskeletal disorders: OWAS review. Industrial health, v. 55, n. 4, p. 314-
337, 2017.
KUMAR, Ranjit. Research methodology: A step-by-step guide for beginners. Sage Publications Limited, 2019.
MANGHISI, Vito Modesto et al. Real time RULA assessment using Kinect v2 sensor. Applied ergonomics, v.
65, p. 481-491, 2017.
MARTINEZ, G. M. Una guía de introducción al método OVAKO working posture analysis system (OWAS).
2005.
MME. Boletim mensal de acompanhamento da indústria do gás natural. 2017. Publicado em junho de 2017.
Acesso em 21/10/2019 e disponível em:
http://www.mme.gov.br/documents/1138769/12566999/Boletim+Mensal+de+Acompanhamento+da+Indústria+
de+Gás+Natural_Junho2017+ok.pdf/eff5c15f7601-4eca- b537-42ebcb1d29c3.
MOREIRA, A. M. Segurança na utilização de gás liquefeito de petróleo. 2015.
NATH, Nipun D.; AKHAVIAN, Reza; BEHZADAN, Amir H. Ergonomic analysis of construction worker's
body postures using wearable mobile sensors. Applied ergonomics, v. 62, p. 107-117, 2017.

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