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DESENVOLVIMENTO DE
METODOLOGIA DE CUSTEIO PARA
RESTAURANTES SELF-SERVICE
Fabricio Molica de Mendonca (UFSJ)
fabriciomolica@yahoo.com.br
Guilherme Vasconcelos e Goncalves (UFSJ)
nieow@hotmail.com
Erik Vilaca Machado (UFSJ)
erik_v7@hotmail.com
1. Introdução
Dentro do setor de bares e restaurantes, o segmento self-service tem ganhado importância
como negócio para micro e pequenos empresários criativos, que buscam atender a demanda
por um tipo de alimentação fora de casa dentro dos padrões de limpeza, qualidade, rapidez e
preços requeridos pelos consumidores.
Acredita-se que tais empresas podem ganhar sobrevida quando são dotadas de ferramentas de
coleta, armazenamento e análise de custos, despesas e receitas, pois, quanto mais estruturadas
estiverem as informações, melhores serão as condições para a tomada de decisão em situações
que necessite de uma boa base de dados. No entanto, tais ferramentas devem estar adequadas
à realidade da empresa no que se refere aos recursos para investimento em tecnologia de
informação e em conhecimento técnico necessário para analisar os sistemas.
Este trabalho tem por finalidade desenvolver uma ferramenta de apuração de custos para
pequenas e microempresas do segmento de self-service, com base no custeamento marginal
variável ou direto, capaz de fornecer informações para auxiliá-las no controle e na tomada de
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Cabe ressaltar que, para melhor compreensão da ferramenta desenvolvida, neste artigo buscou
apresentar apenas a parte de alimentação.
2. Referencial teórico
As informações geradas pela contabilidade de custos focam na redução dos custos por meio
do controle dos gastos, de operações, dos desperdícios e da elaboração de orçamentos
(PADOVEZE, 2009). Como consequência, auxiliam na solução de problemas referentes
análise de preços, análise de contribuição, nível mínimo de atividades e outros (SANTOS,
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2011). Nesse contexto, a Contabilidade de Custos tem duas funções relevantes: controle –
cuja missão é fornecer dados para o estabelecimento de padrões e orçamentos – e auxílio à
tomada de decisão – cuja missão é gerar informações auxiliem escolhas, como, aumentos de
preços e de custos, cortes de produtos, etc. (MARTINS, 2012).
Para acumular os custos aos produtos e serviços, os dois métodos mais utilizados são: o
custeamento por absorção e o custeamento marginal variável ou direto. O custeamento por
absorção é uma exigência da contabilidade fiscal e societária e tem por finalidade apurar o
custo do produto ou serviço distribuindo custos diretos aos produtos e alocando os custos
indiretos por meio de rateio (LEONE, 2010). O custeamento marginal variável ou direto tem
por finalidade atribuir apenas custos diretos ou variáveis aos produtos e trata o custo fixo
como uma despesa que faz parte da estrutura de funcionamento da empresa. Ao atribuir
apenas os custos variáveis aos produtos, percebe-se que a análise se concentra nos custos que
sofrem alteração de acordo com a produção (MERGLIORINI, 2011) e, portanto, é o mais
indicado para a situação apresentada neste artigo.
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Como todos os custos podem ser classificados em diretos ou indiretos e fixos ou variáveis,
dependendo do comportamento do elemento de custo (MERGLIORINI, 2011), considera-se,
como custo variável, em um self-service, apenas o custo dos materiais usados para preparar a
refeição. Os custos fixos englobam a energia elétrica, água, material de limpeza, depreciação,
mão de obra, impostos e outros (MATOS, 2004).
Nesse negócio, a rentabilidade deve ser buscado com base: a) na redução de custos variáveis,
envolvendo o custo, o rendimento e o desperdício da matéria prima; b) na redução de custos
fixos tanto no total quanto por unidade, por meio de otimização de recursos; c) no aumento do
volume do negócio, por meio da atração e fidelização de clientes (ERFURTH).
Cabe ressaltar que, em um self-service, o cliente é responsável pelo pagamento apenas do que
consome, por isso, controlar desperdícios se torna um desafio importante no sentido de
reduzir custos variáveis e fixos. Desperdícios elevados afetam os custos finais e a
sobrevivência do negócio, já que não podem ser repassados aos clientes e nem elevar
excessivamente o custo da refeição (ANJOS, 2014).
Assim, o controle e a análise de custos busca identificar como as variáveis receitas, custos,
desperdícios e despesas se inter-relacionam para obter a margem de contribuição de cada
produto e do resultado geral para a empresa (MATOS, 2004). Essa margem mostra a
capacidade da empresa em cobrir seus custos fixos e obter lucro (ASSEF, 2010).
Por meio do custeamento marginal é possível encontrar indicadores que auxiliam a tomada de
decisões, pois: a) o levantamento e análise da margem de contribuição indica como melhorar
a utilização da capacidade da empresa; b) a análise da relação custo volume e lucro permite
analisar o ponto de equilíbrio e estratégias; c) a análise em separado da composição de cada
elemento de custo permite mostrar o impacto de suas variações na rentabilidade da empresa;
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d) a análise da margem de segurança que indica aos gestores o limite em que as vendas podem
cair, antes de iniciar o prejuízo (DUTRA, 2010; CREPALDI, 2012).
3. Metodologia
Para atender ao objetivo, foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo e
analítico. Esse tipo de pesquisa permite a compreensão de impactos sociais e culturais de um
fenômeno, pois visa compreensão mais que quantificação e, ao invés da generalização, tem o
particular, o individual e o peculiar como focos, que se definem no seu desenvolvimento
(TRIVIÑOS, 1987; GODOY, 1995; RAMPAZZO, 2002). Quanto ao gênero, se trata de uma
pesquisa empírica que, segundo Demo (1995) é aquela que codifica a face mensurável da
realidade social. Como estratégia de pesquisa, a pesquisa-ação, visto que, em um projeto
dessa natureza, o pesquisador é um agente ativo do objeto pesquisado, buscando gerar
informações concretas para as organizações estudadas (THIOLLENT, 2011).
Os recursos metodológicos que foram usados são pesquisa bibliográfica, levantando estudos
relacionados a restaurantes self-service e pesquisa em sistemas de informações voltados para
o segmento. Como se trata de uma pesquisa-ação, foi selecionado um restaurante de self-
service para a coleta das informações e para se fazer a construção da ferramenta. Para isso,
foram utilizados os recursos da entrevista não estruturada e não diretiva (RICHARDSON,
1999), e da observação in locu.
A coleta e análise de dados foram desenvolvidas em quatro etapas: Na primeira etapa foi
realizado um mapeado do fluxo de informações relativas a custos, despesas, receitas e
resultados. Na segunda etapa, foi desenvolvida uma metodologia para apuração das
informações relevantes para a tomada de decisão, por meio de sistema de informações,
voltada para o controle, desenvolvidas dentro da realidade das empresas, utilizando de
tecnologia disponível, como planilhas do programa Excel; Na terceira etapa foi feita a
aplicação da ferramenta e levantado e analisados os indicadores de desempenho.
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apurados com precisão, tais como data, produto, custo unitário, tipo, categoria, marcador,
fornecedor. Os estoques são avaliados pelo preço médio ponderado móvel (MARTINS,
2012), por meio da figura 1.
As informações relacionadas aos custos fixos abrangem todo o gasto do self-service que não
sofre variação com o aumento ou redução do volume de produção, como aluguel, salários,
água, luz, telefone, depreciação, impostos, limpeza. Também são colocadas neste mesmo
grupo as possíveis despesas fixas referentes os pró-labores dos sócios e das possíveis despesas
administrativas. Os indicadores obtidos desse conjunto de informações são: custo fixo total do
self-service; custo fixo unitário; capacidade máxima de produção e desperdício.
As informações de vendas relacionam aos volumes vendidos e os valores que são pagos pelos
clientes. Quando a venda é realizada, por um lado, são registradas as receitas de vendas e os
tributos associados a ela e, por outro lado, os materiais ou os produtos do estoque de produto
acabado são baixados. Os indicadores gerados com essas informações são: preço unitário do
quilo; volume de vendas; faturamento; faturamento por quilo; faturamento médio por cliente;
relação faturamento sobre custo; relação custo/faturamento; relação desperdício/faturamento.
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A avaliação do estoque é feita por meio do preço médio ponderado móvel. Por meio desse
critério, os valores unitários são ajustados à cada compra realizada. Por exemplo, imagina-se
que no dia 01 de março haja 10 quilos de arroz, ao preço de 2,40 o quilo, o estoque de arroz
neste dia é avaliado por 24,00. Se no dia 02 houver a compra de mais 155 quilos ao preço de
2,29, então o valor da compra seria igual a 354,95. Em relação ao estoque de arroz, no dia 02,
o registro seria igual a 165 quilos de arroz (10+155) no valor total de 378,95 (24,00+354,95).
O custo médio ficaria igual a 2,30 (378,95/165). O levantamento do consumo de cada material
usado na produção e a baixa do estoque é feita por meio a figura 2.
Para encontrar o valor consumido, basta multiplicar a quantidade consumida pelo custo médio
unitário de cada item. Continuando o exemplo do arroz, em que havia 10 quilos em estoque e
foram comprados mais 155 quilos, chegando ao custo médio de 2,30 o quilo. Imagine agora
que no final do período sobraram 15 quilos no estoque. Então, aplicando a fórmula 2,
podemos concluir que no período foram gastos 150 quilos de arroz (10+155-15=150).
Multiplicando esses 150 por 2,30 o quilo, então, o gasto com arroz no período foi de 345,00
(150 x 2,30). Esse mesmo raciocínio é aplicado para os demais materiais, conforme mostra a
Tabela 2. Para efeitos didáticos, nesta tabela foram lançadas apenas sete materiais.
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No self-service, em virtude do cardápio variar muito, o controle da comida deve ser feito
diariamente, por meio da planilha de controle de custos variáveis diário (Tabela 3). Nesta
planilha são lançados o dia da semana, a semana, o dia do mês, todos os ingredientes
necessários para o dia em quantidade e em valor. A soma representa o custo variável do dia.
Segunda-feira
Semana 1
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Nessa mesma planilha são lançadas informações como o volume de vendas em quilo, o
número de refeições vendidas, o preço do quilo e o volume de sobra. Tais informações
contribuem para a geração de outras informações relevantes tais como: faturamento do dia
(32,282 x 40,00 = 1.291,69), custo médio por quilo/dia (426,20/32,292=13,20), custo médio
por refeição/dia (426,20/98=4,35), custo da sobra (2 x 13,20=26,40), margem de contribuição
por quilo (40,00-13,20=26,80) e margem de contribuição do dia (1.291,68-426,20=865,48).
Cabe ressaltar que, em virtude do grande número de materiais usados no buffet de comida a
quilo, neste trabalho foram discriminados apenas sete materiais, os demais estão na
classificação “outros”. A comparação desses indicadores com os dos demais dias da semana e
das outras semanas, permite avaliar o desempenho da gestão de custos variáveis.
O registro dos custos fixos é mais simples, uma vez que, não variam em função do volume de
produção. Para isso, foi criada uma planilha de levantamento mensal de custos fixos (Tabela
4). Esse valor de 16.385,67 pode ser calculado por dia útil trabalhado. Por exemplo, se em um
determinado mês o restaurante trabalhar 27 dias, então, o custo fixo médio diário será igual a
606,88. Tal informação se torna importante para verificar se a margem de contribuição obtida
naquele dia consegue cobrir a estrutura de custo médio diário. Tal informação acaba se
tornando um indicador de desempenho.
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As informações sobre vendas são obtidas quando o cliente entrega a comanda para fazer o
pagamento (Tabela 5). Por meio do controle dessas comandas é possível verificar qual a
quantidade vendida total e por cliente, o valor pago e o faturamento diário, semanal e mensal.
Semana 1
Dia da semana 2ª Feira
Preço quilo 40,00
Clientes Quant Valor
Cliente 1 0,400 16,00
Cliente 2 0,550 22,00
Cliente 3 0,482 19,28
Cliente 4 0,800 32,00
Outros 30,060 1.202,40
Total 32,292 1291,68
Faturamento 1291,68
Quilos vendidos 32,292
Faturamento/quilo 40,00
Fonte: elaboração própria
O custo fixo foi medido no período de um mês totalizando R$16.385,67. Isso não impede que
se tenha uma demonstração de resultado diária, semanal, quinzenal, mensal ou anual. A tabela
6 mostra o DRE Marginal por dia, da primeira semana de um determinado mês de
funcionamento do self-service. O custo fixo diário foi encontrado, considerando que o
restaurante trabalhou 27 dias.
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o rendimento dos alimentos. Houve dias em que foram apresentadas taxas de rendimento de
60% de legumes e 70% de verduras. Isso acaba afetando o custo variável dos alimentos. No
sábado, o resultado da semana foi o menor, assim como é em todos os sábados. O número de
clientes reduz significativamente neste dia. Então, tal informação acaba sendo útil no sentido
de desenvolver estratégias de incrementar vendas neste dia.
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5. Conclusão
O trabalho teve por finalidade desenvolver uma ferramenta de apuração de custos para
pequenas e microempresas do segmento de self-service, com base no custeamento marginal
variável ou direto, capaz de fornecer informações para auxiliá-las no controle e na tomada de
decisões, contribuindo para o aumento da competitividade no mercado.
Para atingir aos objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho
descritivo e analítico. A estratégia usada foi a pesquisa-ação realizada em um restaurante self-
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Partindo-se do mapeamento do fluxo das informações foi possível elaborar planilhas para
controlar estoques, levantar os custos variáveis do self-service, levantar os custos indiretos
mensais, semanais e diários e levantar os registros de vendas. Cada planilha criada pode servir
de relatório que pode ser usado tanto no controle, quanto na tomada de decisão.
Por meio da simulação exibida nesse artigo, percebeu-se há alterações nos custos diários do
self-service provocados pelo custo da própria comida oferecida e pelo volume de pessoas. No
entanto, os resultados acumulado da semana e do mês apresentam indicadores muito
próximos, mostrando certa estabilidade da empresa em relação aos indicadores de margem de
contribuição, ponto de equilíbrio, volume de vendas, relação percentual entre a margem e a
receita de vendas e do resultado sobre a receita de vendas.
Como sugestões de novas pesquisas, há a oportunidade de abranger outros produtos que são
trabalhados nos self-services que não está relacionada diretamente com o buffet como
bebidas, chocolates, balas e outros. Também, torna-se importante buscar conciliar os
resultados obtidos nas demonstrações do resultado com o fluxo do dinheiro nesses
restaurantes, ou seja, estudar a relação entre os resultados com o fluxo de caixa da empresa.
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