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Simpósio de Engenharia de Produção

Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão


28 a 30 de agosto, Catalão, Goiás, Brasil

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CUSTEIO ABC EM UMA EMPRESA


VAREJISTA DE GÁS E ÁGUA MINERAL

Lucas Gomes Pereira, IFMG Governador Valadares, lucasgope28@gmail.com


Samara Alves Barbosa, IFMG Governador Valadares, samaraalvesb@hotmail.com
Eleni Dias Silva, IFMG Governador Valadares, eleni_diias@hotmail.com
Bárbara da Silva Garcia, IFMG Governador Valadares, barbara.garcia.eng@gmail.com
Débora Rosa Nascimento, IFMG Governador Valadares, debora.nascimento@ifmg.edu.br

Resumo: Em razão da competitividade de preços no mercado, as organizações têm buscado, cada


vez mais, métodos que as auxiliem na identificação e no repasse dos custos aos seus produtos,
favorecendo a melhoria nos processos e o aumento das margens de lucro. Dentre as ferramentas
que a Gestão de Custos dispõe, o Método de Custeio Baseado em Atividades (ABC) permite, então,
avaliar como as tarefas se relacionam com a geração de receitas e o consumo de recursos. Este
trabalho avalia os custos e os preços de venda de uma empresa varejista de gás e água mineral de
Governador Valadares, com o objetivo de concluir se, no mês de maio de 2017, a situação foi de
lucro ou prejuízo. Dessa forma, foi possível identificar as falhas administrativas do
empreendimento e, assim, propor soluções para as mesmas. Para isso, utilizou-se o método ABC,
que consistiu em definir as atividades das empresas; quais são os itens de custos, alocar o valor
dos itens de custos para as atividades definidas e, posteriormente, alocar o custo das atividades
para os produtos, através de direcionadores. Ao fim da aplicação do método, pôde-se perceber que
os desperdícios em certas atividades administrativas fizeram com que o custo de certos produtos
fosse mais caro que o seu preço de venda. Embora assumindo o prejuízo com a venda desses
artigos, o saldo do mês estudado foi positivo. Entretanto, outros fatores contribuíram para o
encarecimento dos produtos, como a falta de registros formais e a desconsideração de alguns
custos para a formação de preço.

Palavras-chave: custeio ABC, custos, preços, varejo, gás

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, as empresas têm buscado, cada vez mais, métodos que as amparem nas suas
decisões e que garantem a sua permanência no mercado. Em razão disso, a Gestão de Custos se
tornou mais relevante no sentido de poder oferecer informações para assessorar a condução
financeira dos negócios de uma organização.
Dentre os métodos de custeio que a Gestão de Custos dispõe, existe o Método de Custeio
Baseado em Atividades (ABC), que permite que se identifiquem pontos de melhorias na gestão
financeira da empresa, reconhecendo os custos com atividades associadas aos setores, e avaliando
como essas tarefas se relacionam com a geração de receitas e o consumo de recursos.
O presente trabalho consiste na aplicação do Método de Custeio ABC em uma empresa varejista
de gás e água mineral da cidade de Governador Valadares/MG. O problema da pesquisa aborda a
carência da organização no registro e controle de seus gastos, de modo eficaz e eficiente. Não há o
controle sobre o consumo de combustível dos veículos e nem mesmo com a sua manutenção.
Muitos itens de custos nem mesmo são percebidos pela administração da empresa, como a
depreciação de seus equipamentos.
Portanto, o objetivo deste estudo é, por meio do ABC, concluir se a situação da empresa no mês
de maio de 2017 foi de lucro ou de prejuízo. Dessa maneira, foi possível a identificação do impacto
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dessas falhas administrativas e, assim, propor melhorias aos seus processos, de forma a aumentar
sua margem de lucro e eliminar despesas desnecessárias.

2. GESTÃO DE CUSTOS

Segundo Martins (2003), Hansen e Mowen (2013), custeio significa método de apropriação de
custos. Essa apropriação pode ser realizada sob dois enfoques: o econômico e o contábil. O
primeiro diz respeito aos custos auxiliando tomada de decisões e o último, possibilitando a apuração
de resultados.
Os custos podem ser classificados de diversas formas. Segundo Iudícibus e Marion (2008), os
custos relacionados à produção podem ser classificados como: diretos e indiretos. Os diretos são
apropriados diretamente ao produto e há conhecimento do valor que o item absorveu. O custo com
matéria-prima é um exemplo de custo direto. Já os custos indiretos não são facilmente
identificáveis, não possuem uma medida exata de repasse ao produto e precisam de estimativas de
valores, que são definidas por meio do rateio. A depreciação é um exemplo de custo indireto.
O grande desafio da Gestão de Custos é a incorporação dos custos indiretos aos produtos e,
atualmente, os custos indiretos representam grande parte dos dispêndios da empresa. Por isso, é
importante que as organizações tomem o cuidado de ter o controle sobre todos os gastos, pois essa
atitude se reflete na apuração de custos de uma forma mais precisa. Buscando atender essas
necessidades de repassar os custos de forma mais precisa, foram criadas as metodologias de custeio
modernas (MEGLIORINI, 2012).

2.1. Métodos de Custeio Modernos

Os métodos de custeio modernos são o Custeio Baseado em Atividades (ABC) e o Método de


Unidades de Esforço Produtivo (UEP).
O método UEP faz a unificação da produção em uma unidade de medida, que atua como um
indexador da produção. Para aplicação dessa metodologia, se faz necessário a divisão da empresa
em postos operativos, os quais acumulam os esforços para realizar a transformação da matéria-
prima em produto acabado. Somente os custos diretos de fabricação são apropriados (WERNKE,
2005).
Já o ABC é conhecido como um sistema diferencial perante às metodologias convencionais;
devido à sua forma de aplicação e distribuição dos custos indiretos. Os produtos fazem uso das
atividades e estas, por sua vez, se mantêm por meio do consumo de recursos (RIBEIRO, 2009).
Essas atividades se caracterizam pela ação que emprega recursos humanos, materiais,
tecnológicos e financeiros para a produção de um bem ou serviço. Cada atividade é composta por
um conjunto de tarefas, necessárias para a concretização de um procedimento que, por sua vez,
consiste em atividades agrupadas e inter-relacionadas (MARTINS, 2003)
Os procedimentos para a implantação do ABC, segundo Ribeiro (2009), é feito da seguinte
maneira: primeiramente, a empresa é dividida em departamentos; logo após, todos os itens de custos
são identificados; os custos indiretos de fabricação (CIF) são acumulados aos seus departamentos,
os seus setores de origem; as atividades realizadas em cada departamento são identificadas, e são
definidas as mais relevantes para a contabilização dos custos; os CIF são repassados às atividades
que os gerarem, através de direcionadores primários; e por último, os custos das atividades com os
CIF acumulados são repassados aos produtos, por direcionadores secundários.
Esses direcionadores são fatores que dizem respeito ao consumo das atividades pelas
mercadorias. Os direcionadores primários representam a distribuição dos custos dos departamentos
às atividades. E os secundários demonstram a relação de custo das atividades com os produtos. Para
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que haja maior confiabilidade na definição desses direcionadores, é importante para empresa manter
um sistema acurado de registro de todos os dados relacionados à compra e à venda de seus itens
(MARTINS, 2003).

3. METODOLOGIA

Este estudo abrange todos os custos e dados do mês de maio do ano de 2017, e se baseia nas
etapas do método de custeio ABC: mapeamento das atividades – onde as atividades são descritas e
identificados os responsáveis por ela e os recursos consumidos; definição dos itens de custo;
alocação dos itens de custos às atividades; alocação dos custos das atividades secundárias para as
primárias; e por último, a alocação dos custos das atividades para os produtos. Levando em
consideração a quantidade de produtos vendida e o preço de venda dos mesmos, calculando a
diferença entre as receitas e custos totais, foi possível analisar a situação do empreendimento no
referido período.
Entrou-se em contato com o proprietário do estabelecimento, que permitiu o acesso às
dependências da loja e à documentação referente ao mês examinado. Então, subdividiu-se a
empresa em setores e, com auxílio de uma trena, foram medidas as dimensões de cada subdivisão.
A organização foi fragmentada em setor de estocagem e de atendimento.
Para o mapeamento das atividades e identificação dos itens, uma entrevista semiestruturada foi
elaborada. A entrevista foi realizada com o proprietário e também com os seus empregados. Foram
registradas todas as informações quanto à execução de cada tarefa. Para a listagem das despesas e
dos custos da empresa, foi necessário analisar as documentações, notas fiscais e recibos de
pagamentos do mês abrangido. Os dados foram transportados para uma planilha virtual.
Com relação ao cálculo da depreciação dos bens da organização, os artigos foram considerados
como novos. O preço de cada um foi pesquisado na internet, levando em consideração o seu modelo
e marca. A informação de vida útil foi extraída da Instrução Normativa da Receita Federal nº 1.700,
de março de 2017 (BRASIL, 2017).
Já para a depreciação dos veículos, foi utilizada a tabela Fipe, da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas. Observando-se o modelo, marca e o ano do veículo, a tabela informa o valor
do bem no tempo presente. Esse valor foi dividido entre os anos de vida útil de equipamentos dessa
espécie, obtendo-se o valor mensal da depreciação (FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS
ECONÔMICAS, 2017).
Para o consumo de potência, as informações de cada item foram obtidas da página online da
empresa EcoPlanetEnergy (2015), onde foi necessário considerar as horas de utilização diária de
cada unidade.

4. ESTUDO DE CASO

O estudo foi realizado em uma empresa varejista de gás liquefeito de petróleo (GLP) e água
mineral, situada na cidade de Governador Valadares/MG. Atuante no ramo desde o ano de 2006, a
organização já se instalou em outros endereços e, hoje, aluga um estabelecimento de
aproximadamente 151,3m².
O comércio conta com cinco funcionários, sendo uma auxiliar de escritório e quatro
entregadores. O empreendimento atende tanto pessoas físicas como jurídicas. A instituição vende
seus produtos em duas modalidades: a venda normal, que acontece no estabelecimento; e a venda
fretada, onde o cliente solicita a entrega em domicílio.
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Para fins de distribuição dos custos, o estabelecimento foi dividido em dois setores: o de
estocagem – que compreende o estoque de botijões e de galões de água - e o de atendimento. O
setor de estocagem possui 142,18m² e o setor de atendimento possui 9,12m².
A empresa melhorou alguns de seus processos ao longo dos anos, como a compra de mini trucks
que auxiliam a venda itinerante de seus produtos. Pouco tempo atrás, a empresa havia adotado um
sistema eletrônico para controle de pedidos, porém, pela dificuldade de aprendizagem de seus
funcionários, resolveu em voltar com o método convencional de anotações dos pedidos em cadernos
e blocos de notas.

4.1. Mapeamento das Atividades

A empresa opera sete atividades. A atividade de entregar pedidos consiste em receber a ordem
de entrega do proprietário ou da auxiliar de escritório, ir ao estoque de produtos e separar os itens
da entrega, colocá-los no veículo, ir ao endereço e efetuar propriamente o serviço.
Já a tarefa de atender clientes consiste em atender aos telefonemas, anotando no caderno de
pedidos o endereço e a quantidade de produtos da solicitação de entrega em domicílio. Pode ser
realizada também quando o cliente vai ao estabelecimento e efetua sua compra. É realizada pelo
proprietário e pela auxiliar de escritório.
Estocar produtos resume-se em dispor do espaço físico para a armazenagem dos produtos. É
realizada pela equipe de descarga da empresa fornecedora. Consome o espaço da instalação e
energia elétrica, em razão da iluminação externa.
Limpar estabelecimento é realizada pela auxiliar de escritório e consiste em retirar a sujidade
dos equipamentos e móveis, unicamente, do setor de atendimento.
Comprar produtos é executada pelo proprietário da empresa. É realizada toda vez que é
necessária a reposição do estoque. É feita no setor de atendimento e consome os serviços de
telefonia.
Já a tarefa de emissão de documentos é feita pelo proprietário e também pela auxiliar de
escritório. Consiste em transcrever para notas e recibos, as vendas realizadas no mês. Esses
documentos são enviados para a contabilidade.
Por fim, a atividade receber pagamentos é expressa em realizar a transação financeira das
vendas, seja por meio de dinheiro em espécie ou por meio de cartões. É feita tanto no
estabelecimento, pelo proprietário e pela auxiliar de escritório, como na residência do cliente, pelo
entregador.

4.2. Itens de Custo

Todos os itens de custo foram identificados, conforme a Tab. (1).


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Tabela 1: Itens de custo referentes a maio/2017 (Fonte: Autoria Própria).


Item de custo Valor (R$) Item de custo Valor (R$)
Aluguel 650,00 Uniformes e EPI’s 420,00
Aluguel de máquina de
Salário dos entregadores 5.244,00 115,00
cartões
FGTS dos entregadores 389,60 Pro labore 8.000,00
Salário da auxiliar de
1.311,00 Taxa de sindicato GV 3,33
escritório
FGTS da auxiliar de
97,40 IPTU 18,33
escritório
Serviços de medicina
55,00 Taxa de lixo 18,33
ocupacional
Combustível 2.635,00 Taxa de incêndio 55,00
Serviços de contabilidade 800,00 Guia da Previdência Social 2.371,79
Energia elétrica 183,11 Taxa de sindicato BH 20,00
Água tratada 40,00 Material de limpeza 15,00
Serviços de telefonia 300,00 Água para consumo 100,00
Manutenção dos veículos 3.650,00 Depreciação 1.522,25
Insumos de escritório 60,62
Total 28.074,77

Alguns itens de custo podem ser reunidos e embutidos uns nos outros, de forma a simplificar os
cálculos e os repasses das próximas etapas. O custo com serviços de medicina foi dividido
igualmente entre o proprietário e os funcionários; assim como o custo da água para consumo. O
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) foi associado diretamente ao salário de cada um
dos empregados. A Guia da Previdência Social foi dividida também, de forma igualitária, entre o
proprietário e os colaboradores. O mesmo processo foi realizado com a despesa com serviços de
contabilidade. O pro labore do dono do estabelecimento é formado pelas parcelas citadas mais o
proporcional ao mês de maio do pagamento da taxa do sindicato dos comerciantes de Governador
Valadares. Já as taxas de lixos, incêndio e IPTU foram embutidas no custo de aluguel. A Tabela (2)
indica os itens de custo após o processo de incorporação.

Tabela 2: Itens de custos incorporados, referentes a maio/2017 (Fonte: Autoria Própria).


Item de custo Valor (R$) Item de custo Valor (R$)
Custo com espaço físico 741,67 Manutenção dos veículos 3.650,00
Custo com entregadores 8.278,79 Insumos de escritório 60,62
Custo com a auxiliar de
1.964,70 Pro labore 8.548,63
escritório
Aluguel de máquina de
Combustível 2.635,00 115,00
cartões
Energia elétrica 183,11 Taxa de sindicato BH 20,00
Água tratada 40,00 Material de limpeza 15,00
Serviços de telefonia 300,00 Depreciação 1.522,25
Total 28.074,77

4.3. Alocação dos itens de custos às atividades


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Para o repasse dos itens de custos às atividades, foram utilizados diversos direcionadores. O
custo com funcionários e pro labore foram transferidos de acordo com a matriz dedicação em cada
atividade, conforme mostra a Tab. (3).

Tabela 3: Matriz dedicação dos funcionários (Fonte: Autoria Própria).


Aux. de escritório
Atividades Proprietário (%) Entregador (%)
(%)
Entregar pedidos 0 0 80
Atender clientes 60 50 0
Estocar produtos 0 0 0
Limpar
0 20 0
estabelecimento
Comprar produtos 15 0 0
Emitir documentos 5 6 0
Receber pagamentos 20 24 20
Total 100 100 100

O custo com combustível foi transferido para atividades que exijam o uso de veículos,
observando a dedicação dos entregadores nessas atividades.
As atividades apropriaram-se dos custos de energia elétrica pela proporção do consumo de
potência dos equipamentos que as mesmas utilizam, de acordo com a pesquisa na página online.
Com relação ao setor de atendimento, cinco das sete atividades ocorrem no mesmo espaço físico,
fazendo o uso dos mesmos equipamentos. Para tal, decidiu-se calcular a proporção de uso das
atividades desse setor, tendo como base a dedicação dos funcionários na realização das tarefas.
Pôde-se concluir que a atividade atender clientes utiliza 55% do setor de atendimento; limpar
estabelecimento, 10%; comprar produtos, 8%; receber pagamentos, 22%; e emitir documentos usa
6% do setor.
O custo com água tratada foi igualmente distribuído para as atividades que dependem dos
funcionários e do proprietário. Já a despesa com manutenção dos veículos foi repartida entre as
atividades que necessitam de veículos; também, de acordo com a dedicação dos entregadores nessas
atividades. Cada atividade se apropriou do custo dos insumos de escritório que utilizam.
O custo com espaço físico foi repassado observando-se a área dos setores em que cada tarefa
acontece. Como cinco das sete atividades acontecem num mesmo setor, o procedimento foi o
mesmo adotado no repasse dos custos com energia elétrica. O gasto com material de limpeza foi
associado diretamente à atividade de limpar estabelecimento. Já o aluguel da máquina de cartões foi
diretamente associado à atividade de receber pagamentos, já que é exclusiva para esse fim.
A taxa de sindicato foi correlacionada com a atividade de compra, pois os produtos são
adquiridos de uma distribuidora, na cidade de Belo Horizonte. O gasto com serviços de telefonia foi
direcionado às atividades que utilizam o telefone. Três das atividades fazem o uso do equipamento,
portanto, o custo foi proporcionado, levando em consideração a dedicação do pessoal. Concluiu-se
que a atividade de atender pedidos usa 58% do telefone; já comprar produtos, 8%; e receber
pagamentos utiliza 34% dos serviços de telefonia.
Por último, a depreciação foi repassada às atividades, segundo os equipamentos que as mesmas
fazem uso. Nas funções que manuseiam os mesmos equipamentos, o repasse foi realizado da
mesma maneira que foi executada na distribuição do custo de energia elétrica. No repasse dos
custos de depreciação dos veículos, as tarefas entregar produtos e receber pagamentos tiveram suas
parcelas proporcionadas, em conformidade com a dedicação dos entregadores.
A Tabela (4) informa os repasses citados e o custo total de cada atividade.
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Tabela 4: Custo das atividades referentes a maio/2017. Notas: (A) Entregar produtos; (B) Atender
clientes; (C) Estocar produtos; (D) Limpar estabelecimento; (E) Comprar produtos; (F) Emitir
documentos; (G) Receber pagamentos (Fonte: Autoria Própria).
(C) (D) (F) (G) Total
Item de custo (A) (R$) (B) (R$) (E) (R$)
(R$) (R$) (R$) (R$) (R$)
Custo com
empregados e 6.623,00 6.111,53 - 392,94 1.282,29 545,31 3.837,01 18.792,12
pro labore
Combustível 2.108,00 - - - - - 527,00 2.635,00
Depreciação 1.184,33 23,01 - 4,18 3,14 2,30 305,29 1.522,25
Energia
- 81,45 35,02 14,81 11,11 8,15 32,58 183,11
elétrica
Custo com
- 24,59 696,96 4,47 3,35 2,46 9,84 741,67
espaço físico
Insumos de
8,00 24,00 - - - 26,62 2,00 60,62
escritório
Água tratada 6,67 6,67 - 6,67 6,67 6,67 6,67 40,00
Manutenção 2.920,00 - - - - - 730,00 3.650,00
Serviços de
- 174,60 - - 23,81 - 101,59 300,00
telefonia
Materiais de
- - - 15,00 - - - 15,00
limpeza
Aluguel da
máquina de - - - - - - 115,00 115,00
cartão
Taxa de
- - - - 20,00 - - 20,00
sindicato BH
Total 12.850,03 6.445,85 731,98 438,07 1.350,37 591,50 5.666,97 28.074,77

4.4. Alocação dos Custos das Atividades para os Produtos

As atividades limpar estabelecimento e emitir documentos são secundárias, pois não se


relacionam diretamente aos produtos e ao cliente. O custo da atividade de emissão de documentos
fiscais foi alocado diretamente à atividade de recebimento de pagamento. Já a tarefa de limpeza da
loja foi repassada às atividades que ocorrem no setor de atendimento. Excetuando a tarefa de
limpeza, pois ela é que vai ser repassada e também a de emissão documentos que já foi alocada à
atividade de receber pagamentos; o custo foi distribuído de acordo com proporção de uso do setor
de atendimento (58% para atender clientes; 8% para comprar produtos e 34% para receber
pagamentos) obtida da dedicação das pessoas da empresa nas atividades – procedimento similar ao
realizado na etapa de distribuição das despesas de serviços de telefonia.
Para a alocação dos custos das atividades para os produtos foram definidos direcionadores, de
acordo com o relatório informado pelo proprietário da empresa, referente ao mês de maio de 2017.
Mas, antes determinou-se o custo por direcionador de cada atividade informado na Tab. (6).
Para a determinação do número de pedidos de entregas desse mês, analisou-se os endereços
anotados no caderno da empresa, que configura um entrega, de alguns dias. Com os dados médios
desses dias, inferiu-se para os demais dias do mês de maio. Multiplicando o número médio de
pedidos ao dia por 31 dias do mês abordado, têm-se as informações constantes na Tab. (5). Com
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relação a quantidade de produtos vendidos em cada modalidade, como o proprietário não mantém
um registro de quantos produtos foram vendidos na modalidade normal, então, foi lhe solicitado que
informasse uma proporção de frequência das modalidades. Ele informou que a modalidade fretada é
a mais comum de seus produtos, representando 90% da quantidade de produtos vendidos.

Tabela 5: Relatório de compra e venda do mês de maio/2017 (Fonte: Autoria Própria).


Direcionador Quantidade
Botijões de gás comprados 2.992
Galões de água comprados 2.313
Unidades de produtos comprados 5.305
Pedidos de compra de gás 13
Pedidos de compra de água 11
Pedidos de compra totais 24
Botijões de gás vendidos 2.992
Galões de água vendidos 2.163
Unidades de produtos vendidos 5.155
Botijões de gás vendidos na mod. fretada 2.693
Botijões de gás vendidos na mod. normal 299
Galões de água vendidos na mod. fretada 1.947
Galões de água vendidos na mod. normal 216
Pedidos de entrega de gás 1.116
Pedidos de entrega de água 1.240
Pedidos de entrega totais 2.356

Tabela 6: Custo da atividade por direcionador no mês de maio/2017 (Fonte: Autoria Própria).
Custo total Custo por
Atividade Direcionador Quantidade Unidade
(R$) direcionador
Entregar Pedidos de entrega
12.850,03 2.356 5,45 R$/entrega
pedidos totais
Atender Unidades de
6.700,81 5.155 1,30 R$/unidade
clientes produtos vendidos
Estocar Unidades de
731,98 5.155 0,14 R$/unidade
produtos produtos vendidos
Comprar Pedidos de compra
1.385,14 24 57,71 R$/compra
produtos totais
Receber Unidades de
6.406,81 5.155 1,24 R$/unidade
pagamentos produtos vendidos
Total 28.074,77 - - - -

Tabela 7: Repasse dos custos para os produtos e suas modalidades. Nota: (A) Entregar produtos; (B)
Atender clientes; (C) Estocar produtos; (D) Comprar produtos; (E) Receber pagamentos. (Fonte:
Autoria Própria).
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Custo de Custo Custo


Custo (A) Custo (B) Custo (C) Total
Produto aquisição (D) (E)
(R$/un.) (R$/un.) (R$/un.) (R$/un.)
(R$/un.) (R$/un.) (R$/un.)
Gás
46,00 2,26 1,30 0,14 0,25 1,24 51,20
fretado
Gás
46,00 - 1,30 0,14 0,25 1,24 48,94
normal
Água
5,00 3,47 1,30 0,14 0,29 1,24 11,45
fretada
Água
5,00 - 1,30 0,14 0,29 1,24 7,98
normal

A atividade estocar produtos foi repassada pelo direcionador unidade de produtos vendidos, pois
houve um desperdício referente à compra de produtos, ou seja, a quantidade vendida foi menor.
Portanto, se repassasse pelas unidades compradas, o custo de 150 galões de água mineral, que não
foram vendidas, ficariam perdidos se não forem considerados no próximo mês.
As parcelas dos custos na atividade comprar são diferentes, pois, similarmente com o que
aconteceu com a atividade estocar, houve desperdício, justamente por causa da compra de produtos
acima do que vendeu. Então optou-se por transferir o custo de compra dos 150 galões para os 2.163
galões vendidos. Por isso, o custo nesse mês saiu mais caro.
Com estes dados obtidos e os dados de preço de venda informados pelo proprietário é possível
chegar a conclusão se a condição da empresa para o mês de maio foi de prejuízo ou de lucro, de
acordo com a Tab. (8).

Tabela 8: Balanço de entrada e saída no mês de maio/2017 (Fonte: Autoria Própria).


Preço Perc.
Qtde. Custo Qtde.
de Receita Custo de Lucro
Produto vendida unitário vendida
venda (R$) (R$) lucro (R$)
(un.) (R$/un.) (un.)
(R$/un.) (%)
Gás
58,00 2.693 156.194,00 51,20 2.693 137.870,04 13,29 18.323,96
fretado
Gás
55,00 299 16.445,00 48,94 299 14,631,70 12,39 1.813,30
normal
Água
8,00 1.947 15.576,00 11,45 1.947 22.296,73 -30,14 -6.720,73
fretada
Água
7,50 216 1.620,00 7,98 216 1.723,29 -5,99 -103,29
normal
Total - - 189.835,00 - - 176.521,77 - 13.313,24

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho teve por objetivo analisar os custos da empresa abordada, aplicando o método de
custeio ABC; verificando se sua situação, no mês de maio de 2017, foi de lucro ou de prejuízo.
Apesar do proprietário assumir um prejuízo de 30,14% nas vendas de água fretada e de quase 6%
nas vendas de água normal, o lucro nas vendas de botijões de gás acaba por compensar essas
perdas, totalizando ao final, um saldo positivo de pouco mais de 13 mil reais. Esse montante acaba
por mascarar alguns erros que a administração da empresa comete, principalmente, os desperdícios
ocasionados pela compra e estoque excessivos, que contribui para que o custo desses artigos seja
Simpósio de Engenharia de Produção
Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão
28 a 30 de agosto, Catalão, Goiás, Brasil

maior que o seu preço de venda. Outro fator que contribuiu para isso foi o custo com manutenções
do mês devido à quebra imprevista de uma das motocicletas utilizadas para a fretagem.
A principal dificuldade encontrada na aplicação do método foi a falta de informações sobre as
vendas e as compras dos produtos. O que comprometeu a exatidão na definição dos itens de custo e
direcionadores. O custo com combustível, com material de limpeza e com a água para consumo dos
trabalhadores foram determinados por meio de aproximações feitas pelo proprietário. Existem
custos que nem mesmo são percebidos, como a depreciação dos equipamentos. A matriz de
dedicação dos funcionários em cada atividade também pode não corresponder fielmente à realidade
devido aos empecilhos sofridos pela equipe deste trabalho em acompanhar a rotina dos
trabalhadores; e, até então, nenhum estudo como esse havia sido feito pela empresa. As informações
para a construção dessa tabela foram obtidas por meio de deduções. Como não há padronização de
quais informações devem constar no caderno de registro de vendas que a organização mantém, não
houve como determinar o número exato de entregas no mês, por isso recorreu-se à inferência por
meio da média de alguns dias. E também não teve como se diferenciar entre as modalidades de
venda dos produtos – fretada ou normal.
Isso tudo reforça a necessidade da criação de um controle de vendas de forma mais formal,
registrando tanto os produtos que são vendidos, na porta do estabelecimento, quanto os produtos
que são entregues em domicílio. Dessa forma, a empresa terá dado o suficiente, com o passar do
tempo, para realizar uma previsão de demanda, de forma a diminuir os desperdícios, além de tornar
o sistema de custeio mais apurado e mais assertivo. Com relação aos veículos, propõe-se que o
proprietário renove sua frota, pois muitos veículos estão depreciados e muito desgastados. Com
isso, as despesas com manutenções corretivas têm sido quase que inevitáveis.

6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Receita Federal. Instrução normativa RFB nº 1.700, de 14 de março de 2017. Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 16 mar. 2017. Seção 1. p. 23. Disponível em:
<https://goo.gl/NXmHSR>. Acesso em: 27 jun. 2017.
ECOPLANETENERGY. Como calcular o consumo mensal dos meus equipamentos? 2015.
Disponível em: <https://goo.gl/B5aUhG>. Acesso em: 27 jun. 2017.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS. Preço médio de veículos. 2017.
Disponível em: <https://goo.gl/i3nPN6>. Acesso em: 27 jun. 2017.
HANSEN, D. R.; MOWEN, M. Gestão de custos: contabilidade e controle. 3. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2013.
IUDÍCIBUS, S. de.; MARION, J. C. Curso de contabilidade para não contadores. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MEGLIORINI, E. Custos: análise e gestão. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.
RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos. São Paulo: Saraiva, 2009
WERNKE, R. Análise de custos e preço de venda: ênfase em aplicações e casos nacionais. São
Paulo: Saraiva, 2005.

7. DIREITOS AUTORAIS

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