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Universidade Federal do Rio Grande

Escola de Engenharia
Metrologia Mecânica

Aula 2 – Princípios de metrologia

Profa Sara Matte Manhabosco


Processo de Medição:
Pode ser definido como o conjunto de atividades necessárias para obtenção
de informações de um objeto de medição.

No caso mais simples, o resultado da medição de uma grandeza é expresso


por um número e uma unidade de medida.

Exemplo de medição:
indicação
Nível de ruído
no ambiente 62,8 decibéis

instrumento de medição:
Decibelímetro
definição do procedimento
mensurando de medição

resultado
da medição

condições operador
ambientais
Agentes Necessários a Comparação Quantitativa:
A grandeza a medir (mensurando): Esta representa a informação a
ser obtida do objeto da medição e é descrita por um modelo
matemático apropriado.
Instrumento de medição: É o dispositivo físico que desempenha a
comparação quantitativa.

Padrão: É a realização física da unidade de medida considerada como


referência de comparação.

Método de medição: É o modo de efetuar a comparação quantitativa


e que depende dos fenômenos físicos envolvidos com o objetivo e o
instrumento de medição.

Operador: É a pessoa que supervisiona o processo de medição, opera


o instrumento e faz as leituras.
Resultado da medição
• É a faixa de valores dentro da qual deve se situar o valor
verdadeiro do mensurando.

RM = (RB ± IM) unidade


• Resultado base é a estimativa do valor do mensurando
que, acredita-se, mais se aproxime do seu valor
verdadeiro.
• Incerteza da medição é o tamanho da faixa simétrica, e
centrada em torno do resultado base, que delimita a
faixa onde se situam as dúvidas associadas à medição.
Sistema de unidades
Constituído por um conjunto das unidades de base e das
unidades derivadas correspondentes a outras grandezas.

Sistema CGS de unidades


Em 1863 foi introduzido talvez o primeiro sistema coerente
de unidades, o CGS, centímetro, grama e segundo que foi
inicialmente utilizado em sistemas mecânicos.

O antigo sistema métrico


A expressão “unidade MKS de força” é constituído
por 3 unidades bases que são o metro, o quilograma
e o segundo.
Sistema Internacional de Unidades (SI) - 1971

Consiste de 28 unidades

 7 unidades base (escolhidas arbitrariamente, mas levando


em conta as vantagens que seu uso traz nas relações
internacionais, no ensino e na pesquisa)

Metro, quilograma, segundo, ampère, kelvin, mol, candela

 2 unidades derivadas adimensionais

 19 unidades derivadas
O METRO (m)

É o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo


durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 do
segundo.

Assim, a velocidade da luz no vácuo é exatamente igual a


299 792 458 m/s.

Observações:
•depende da definição do segundo;
• incerteza atual de reprodução: 10-12 m
O SEGUNDO (s)

• é a duração de 9 192 631 770 períodos da


radiação correspondente à transição entre os
dois níveis hiperfinos do estado fundamental
do átomo de Césio 133 (em repouso, a uma
temperatura de 0 k).

• Observações:
– Incerteza atual de reprodução: 10-15 s
O QUILOGRAMA (kg)
• é igual à massa do
protótipo internacional
do quilograma.
– incerteza atual de
reprodução: 2.10-9 g
– busca-se uma melhor
definição

• é uma unidade de massa, e


não de peso ou força.
O AMPERE (A)
• é a intensidade de uma corrente elétrica constante
que, mantida em dois condutores paralelos, retilíneos,
de comprimento infinito, de seção circular desprezível,
e situados à distância de 1 metro entre si, no vácuo,
produz entre estes condutores uma força igual a 2.10-
7 newton por metro de comprimento (1948).

• incerteza atual de reprodução: 9.10-8 A


O KELVIN (K)

É a fração 1/273,16 da temperatura


termodinâmica no ponto tríplice da água
(Ponto Tríplice = 273,16 K)
A CANDELA (cd)

 é a intensidade luminosa, numa dada direção, de


uma fonte que emite uma radiação
monocromática de freqüência 540 . 1012 hertz e
cuja intensidade energética nesta direção é de
1/683 watt por esterradiano.

 incerteza atual de reprodução: 10-4 cd


O MOL (mol)

 é a quantidade de matéria de um sistema


contendo tantas entidades elementares
quantos átomos existem em 0,012
quilograma de carbono 12.

 incerteza atual de reprodução: 2 . 10-9 mol


Observações importantes:
 Somente as definições de quilograma, segundo e kelvin
são independentes das outras definições;

 O metro depende do segundo;

 O mol depende do quilograma;

 O ampere depende do metro, quilograma e segundo;

 O candela depende do metro, quilograma e segundo;


Sistema Internacional de Unidades (SI) - 1971

Unidades derivadas adimensionais

GRANDEZA UNIDADE DIMENSÃO DEFINIÇÃO DA UNIDADE


FÍSICA (SÍMBOLO) DE BASE
1 rad é o ângulo plano correspondido entre 2
Radiano raios que, na circunferência de um circulo,
Ângulo plano Adimensional interceptam um arco de comprimento igual ao
(rad) comprimento do raio desse círculo
1 sr é ângulo solido que tendo o vértice do
Esterradiano centro de uma esfera, intercepta na superfície
Ângulo sólido Adimensional desta uma área igual à de um quadrado tendo
(sr) por lado o raio da esfera
Alguns exemplos de unidades derivadas:
Grandeza derivada Unidade derivada Símbolo

área metro quadrado m2


volume metro cúbico m3
velocidade metro por segundo m/s
aceleração metro por segundo ao quadrado m/s2
velocidade angular radiano por segundo rad/s
aceleração angular radiano por segundo ao quadrado rad/s2
massa específica quilogramas por metro cúbico kg/m3
intensidade de campo magnético ampère por metro A/m
densidade de corrente ampère por metro cúbico A/m3
concentração de substância mol por metro cúbico mol/m3
luminância candela por metro quadrado cd/m2
GRANDEZAS E UNIDADES

Unidade Derivada:
Quando uma unidade é determinada a partir de
2 ou mais unidades

Por exemplo:
Velocidade = m/s

Comprimento dividido pelo tempo


Múltiplos e submúltiplos das unidades do SI

Fator Nome Símbolo Fator Nome Símbolo


101 deca Da 10-1 deci D
102 hecto H 10-2 centi C
103 quilo K 10-3 mili M
106 mega M 10-6 micro μ
109 giga G 10-9 nano N
1012 terá T 10-12 pico P
1015 peta P 10-15 femto F
1018 exa E 10-18 atto A
1021 zetta Z 10-21 zepto Z
1024 yotta Y 10-24 yocto Y
Fonte: INMETRO, 2007.
IMPORTÂNCIA DO SI

• Clareza de entendimentos internacionais


(técnica, científica)

• Transações comerciais

• Garantia de coerência ao longo dos anos


PADRÕES FUNDAMENTAIS
• São dispositivos, artefatos, instrumentos ou sistemas
usados para realizar um valor de uma grandeza.

• Os resultados de instrumentos de medição dependem dos


padrões.

• Eles servem para armazenar, realizar ou prover grandezas


que servem como base para medição de grandezas.

• Eles servem como referência para averiguar erros de


instrumentos de medição (referências para calibrações).
• Existe uma hierarquia de padrões de uma mesma
grandeza.
PADRÕES FUNDAMENTAIS
Padrão de Medição
 Padrão é uma referência para a medição/calibração;

 Tem seu valor e incerteza conhecidos;

 Classificação (VIM, 2008):


 Padrão primário
 Padrão secundário
 Padrão terciário

Blocos padrão:
- Retangular ou quadrado
- Aço, metal duro ou
cerâmica
PADRÕES FUNDAMENTAIS
 Padrão primário: é um padrão estabelecido com auxílio de um
procedimento de medição primário ou criado como artefato,
escolhido por convenção. O valor primário é aceito sem referência
a outros padrões da mesma grandeza.

 Padrão secundário: é um padrão estabelecido por meio de uma


calibração com referência a um padrão primário de uma grandeza
do mesmo tipo.

 Padrão terciário: é um padrão estabelecido por meio de uma


calibração com referência a um padrão secundário de uma
grandeza do mesmo tipo. Padrões terciários são empregados em
laboratórios metrológicos industriais, de universidades ou
prestadores de serviços de ensaios e calibrações.
 Classificação (VIM, 2008):
 Padrão de Medição Internacional;
 Padrão de Medição Nacional;
 Padrão de Medição de Referência;
 Padrão de Medição de Trabalho.

 Hierarquia de padrões;
Exemplo: 1 kg possui 0,02 mg de incerteza
Calibrar outro padrão de 1kg → Incerteza será:
(0,02 ± x) mg
Padrões Fundamentais e Rastreabilidade
Padrão de Medição Internacional
 É um padrão primário;
 Reconhecido internacionalmente;
 De menor incerteza;
 Serve de referência para todas as medições do
mundo;
 Exemplo:
 O protótipo internacional do quilograma
Padrões Fundamentais e Rastreabilidade
Padrão de medição nacional
 Padrão referência de um país;
 Geralmente mantidos em Institutos Nacionais de Metrologia - INMETRO
 Destinados a calibrar padrões de mesmo tipo

Padrão de medição de referência


 Designado para realizar a calibração de outros padrões (da empresa, laboratório, etc.).

 Esses padrões devem ser calibrados por um laboratório externo que disponha de
padrões superiores, por exemplo, o INMETRO.
Padrões Fundamentais e Rastreabilidade
Padrão de medição de trabalho

 São padrões usados na rotina do trabalho na empresa, nas tarefas


do dia-a-dia;

 Geralmente é calibrado em relação a um padrão de referência;

 Podem ser usados em calibrações de rotina ou na verificação de


instrumentos de medição;

 Quando utilizado em verificação, pode ser denominado de


“padrão de verificação” ou “padrão de controle”.
Padrões Fundamentais e Rastreabilidade

Rastreabilidade

 A forma mais fácil de explicar, é associar a calibração de um


instrumento de medição com os padrões de grandeza a que o
instrumento se refere.

 A vantagem da comparação com o padrão primário é que este


tem a menor incerteza (são mais caros)

 Rastreabilidade vertical e rastreabilidade horizontal


Padrões Fundamentais e Rastreabilidade

Cadeia de rastreabilidade
 É a linha que permite ligar um resultado de medição à referência
anteriormente definida

 VIM: Sequência de padrões e calibrações utilizada para relacionar um


resultado de medição a uma referência

 Independente de quantas calibrações um instrumento passou, se todas


elas foram realizadas por um laboratório acreditado → Podemos
assegurar a rastreabilidade da medição.
Exatidão, Precisão e Confiabilidade

 Exatidão de um instrumento

 Capacidade de um instrumento de medição para realizar


leituras próximas ao valor verdadeiro da variável medida.

 O instrumento de medição ideal apresenta ótima exatidão e


ótima repetitividade.
 Precisão
 Variabilidade dos resultados de medições sucessivas;
 VIM = O termo precisão não deve ser mais utilizado.
Exatidão, Precisão e Confiabilidade
Confiabilidade

 Estimativa da probabilidade de um instrumento de medição


continuar comportando-se dentro de limites especificados de
erros, durante um determinado tempo e sob condições
especificadas;

 Está intimamente relacionado com o controle de qualidade,


ou seja, a conformidade de um produto com os requisitos
preestabelecidos pela empresa.

Para isso, é necessário que se trabalhe com procedimentos,


rotinas, instruções e métodos de inspeção específicos.
Fontes de erros na medição

Fontes intrínsecas ao objeto:


 Baixo grau de homogeneidade;
 Irregularidades superficiais (rugosidade, marcas do
avanço no fresamento, corrosão, rebarbas).

Rugosidade superficial

Fonte: Andersson, 2012


Fontes de erros na medição

Fontes intrínsecas ao SM:


 Erros de geometria,

 Sobrecargas;

 Arranjo inadequado;

 Atrito interno;

 Folgas entre os elementos;

 Uso de materiais consumíveis ou deterioráveis ao longo do tempo e uso;

 O próprio princípio de funcionamento do sistema de medição.


Fontes de erros na medição
Exemplo: Trata-se de um sistema de medição de forças baseado na
propriedade de uma mola se alongar de maneira proporcional à força
aplicada.

Fonte: Albertozzi; Souza, 2012.


Fontes de erros na medição
Influências ambientais
 Temperatura
- Principal parâmetro ambiental
- Temperatura de referência para a metrologia dimensional 20 ºC
- Quase todos os materiais mudam suas dimensões em função da T

É a propriedade dos materiais


modificarem suas dimensões em função
Dilatação térmica das variações da temperatura a que estão
ΔL = α L ΔT sujeitos

- Quando um sistema de medição e a peça a ser medida são do mesmo material ou


são materiais que possuem o mesmo coeficiente de dilatação térmica e estão na mesma
temperatura,

.
A dilatação térmica não produz erros de medição
Exercício 1
A figura abaixo representa em linha cheia uma peça retangular numa
temperatura inicial. Em função do aumento da temperatura ambiente, a peça
sofre dilatação térmica, aumentando suas dimensões. Considerando que a
peça seja aço e que suas dimensões sejam b = 10,000 mm e c = 40,000 mm a
uma T = 20 ºC. Após algum tempo, a temperatura atinge T = 30 ºC. Calcule ∆b
e ∆c.

b b'

c
c'
Fontes de erros na medição
Influências ambientais
 Umidade provoca a dilatação de materiais higroscópicos (alguns plásticos), corrosão de
metais, proliferação de fungos, etc.

 Vibrações (quando necessário, é minimizado utilizando sistemas isoladores sob o piso ou


maquinas de medir)

 pressão atmosférica, iluminação, poeira, interferência eletromagnética, agentes biológicos,


tensão de rede e ruído sonoro.

 Em geral, as medições são realizadas em condições de utilização:

- Temperatura de 25 ±10 ºC
- Umidade relativa do ar até 90% UR
- Pressão barométrica: 80 kPa até 108 kPa
- Ausência de choques, vibrações ou de acelerações.
Fontes de erros na medição
Influência do operador no sistema de medição:
 Erros de leitura - paralaxe
 Anotar o valor errado
 Ler escalas erradas - Falta de treinamento ou
treinamento inadequado;
 Erros de operação
- Falta de habilidade tátil,
ótica ou auditiva.

 Exemplo: Paquímetro → Força de medição

Influência do operador no ambiente:


 Calor do corpo do observador

 Movimento brusco que provoque vento


Fontes de erros na medição
Influência do operador no objeto:
 Manuseio e montagem inadequados do objeto de medição
 Contaminação do objeto com as mãos

Influência do padrão:
 Erros e incertezas do padrão são transferidos para o sistema de medição.

Método de medição:
 Posicionamento inadequado do sistema de medição em relação ao objeto;

 Sistema de medição incompatível com as características do objeto;

 Não usar instrumento de medição nas mesmas condições de calibração;

 Erros nos programas ou em arredondamentos.


Fontes de erros na medição

Como reduzir os erros na medição?


 O uso de salas de medição climatizadas, fontes de tensão
elétrica estabilizadas e blindagens eletromagnéticas;
 Compensar suas influências por soluções de projeto;
 Manter constante por meio de dispositivos de controle.

Chão de fábrica → Alto custo → resultados piores


Considerações Finais

 Uma adequada calibração de componentes e equipamentos,


reduz as fontes de erro, garantindo maior produtividade e
redução de desperdícios de matéria prima;

 Garante a qualidade do produto final, que é um diferencial


tecnológico e comercial para as empresas;

 A metrologia deve estar presente, assegurando a produção de


resultados confiáveis, com base em princípios científicos e
metrológicos adequados.

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