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FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA

MÁQUINAS
TÉRMICAS
2 Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos

Prof.: Henrique Engelhardt


Conteúdo

Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos ..........................................................................................................


Capítulo 2 – Propriedades de um Substância Pura ................................................................................................
Capítulo 3 – Trabalho e Calor .................................................................................................................................
Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica ..........................................................................................................
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor ..................................................................................................
Capítulo 6 – Trocadores de Calor ...........................................................................................................................
Anexo 1 – Propriedades Gerais ..............................................................................................................................
Anexo 2 – Tabelas Termodinâmicas ......................................................................................................................
Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos 3
Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos
1.1 Termodinâmica e Energia
A termodinâmica pode ser definida como a ciência da energia. Embora toda
pessoa tenha uma ideia do que seja energia, é difícil estabelecer uma definição exata
para ela. A energia pode ser entendida como a capacidade de causar alterações. Hoje a
termodinâmica é amplamente interpretada para incluir todos os aspectos da energia e
suas transformações, entre eles a geração da energia elétrica, a refrigeração e as
relações que existem entre as propriedades da matéria.
Uma das leis mais fundamentais da natureza é o princípio de conservação da
energia. Ele diz que durante uma interação, a energia pode mudar de uma forma para
outra, mas que a quantidade total permanece constante. Ou seja, a energia não pode ser
criada ou destruída. Uma rocha que cai de um penhasco, por exemplo, adquire
velocidade como resultado de sua energia potencial ser convertida em energia cinética,
como mostra a figura 1.1.
A alteração no conteúdo de energia de um corpo ou de qualquer outro sistema é
igual à diferença entre a entrada e a saída de energia e o balanço de energia é expresso
Figura 1.1: A energia não pode ser como 𝐸𝑒𝑛𝑡 − 𝐸𝑠𝑎𝑖 = ∆𝐸.
criada nem destruída; ela pode A primeira lei da termodinâmica é apenas uma expressão do princípio de
apenas mudar de forma (primeira lei).
conservação da energia, e diz que a energia é uma propriedade termodinâmica. A
segunda lei da termodinâmica diz que a energia tem qualidade, assim como
quantidade, e que os processos reais ocorrem na direção da diminuição da qualidade da
energia.
Por exemplo, o café quente em uma xícara deixada sobre uma mesa esfria após
um certo tempo, mas o café frio em uma xícara deixada na mesma sala nunca esquenta
por conta própria, como mostra a figura 1.2. A energia de alta temperatura do café é
degrada (transformada em uma forma menos útil a uma temperatura mais baixa) depois
de ser transferida para o ar circundante.
Figura 1.2: O calor flui da maior para a Todas as atividades da natureza envolvem alguma interação entre energia e
menor temperatura. matéria. Assim, é difícil imaginar uma área que não se relacione à termodinâmica de
alguma maneira. Uma casa comum é, em alguns aspectos, uma galeria de maravilhas da
termodinâmica. Muitos utensílios e aparelhos domésticos comuns foram criados, no seu
todo ou parte, usando os princípios da termodinâmica. Alguns exemplos, incluem a rede
elétrica ou de gás, os sistemas de aquecimento e condicionamento de ar, o refrigerador,
o umidificador, a panela de pressão, o aquecedor de água, o chuveiro, o ferro de passar
roupa e até mesmo o computador e a TV. Em uma escala maior, a termodinâmica tem
um papel importante no projeto de usinas nucleares, nos coletores solares e no projeto
de veículos, desde os automóveis comuns até os aviões. A figura 1.3 apresenta alguns
exemplos de aplicação da termodinâmica.

1.2 Importância das Dimensões e Unidades


Toda grandeza física pode ser caracterizada pelas dimensões. As magnitudes
atribuídas às dimensões são chamadas de unidades. Algumas dimensões básicas, como
massa m, comprimento L, tempo t e temperatura T são designadas como dimensões
primárias ou fundamentais, enquanto outras como velocidade v, energia E e o volume
V são expressas em função das dimensões primárias e chamadas de dimensões
secundárias ou dimensões derivadas.
Vários sistemas de unidades foram desenvolvidos ao longo dos anos. Apesar dos
esforços da comunidade científica e de engenharia para unificar o mundo com um único
sistema de unidades, hoje ainda existem dois conjuntos de unidades em uso: o sistema
inglês, e o SI métrico que também é conhecido como Sistema Internacional (SI). O SI é
um sistema simples e lógico baseado no escalonamento decimal entre as diversas
unidades, utilizado em trabalhos científicos e de engenharia na maioria das nações
industrializadas, incluindo a Inglaterra. O sistema inglês, porém, não tem uma base
numérica sistemática aparente, e as diversas unidades desse sistema estão relacionadas
Figura 1.3: Algumas áreas de
entre si de forma bastante arbitrária, o que torna confuso e difícil de entender. Os Estados
aplicação da termodinâmica.
Unidos é o único país industrializados que ainda não fez a conversão completa para o
Sistema Internacional de Unidade (SI).
4 Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos
Na tabela 1.1 são apresentadas as dimensões fundamentais do sistema SI. E
como já dito o SI tem por base uma relação decimal entre as unidades. Os prefixos
usados para expressar os múltiplos das diversas unidades estão listados na tabela 1.2. Tabela 1.1: Dimensões fundamentais
A unidade SI de força, denominada newton (N), é uma unidade secundária, do SI.
definida como a força necessária para acelerar uma massa de 1 kg a uma taxa de 1 Dimensões Unidades
m/s². Ou seja: Comprimento metro (m)
1 𝑁 = 1 𝑘𝑔. 𝑚/𝑠 2 Massa quilograma (kg)
Assim, a força pode ser definida como: Tempo segundo (s)
𝐹 = 𝑚. 𝑎 (Eq. 1.1) Temperatura kelvin (K)
O termo peso quase sempre é utilizado incorretamente para expressar massa. Corrente
ampère (A)
Ao contrário da massa, o peso W é uma força. Ele é a força gravitacional aplicada a um elétrica
Quantidade de
corpo, e sua magnitude é determinada pela segunda lei de Newton, candela (cd)
luz
𝑊 = 𝑚. 𝑔 (Eq. 1.2)
Quantidade de
Onde m é a massa do corpo e g é a aceleração da gravitacional local (g é 9,81 mol (mol)
matéria
m/s² no SI e no sistema inglês 32,174 ft/s²). O peso de uma unidade de volume de uma
substância é chamado de peso específico 𝛾 e é determinado por:
𝛾 = 𝜌. 𝑔 (Eq. 1.3)
Onde 𝜌 é a massa específica, que é definida como a massa por unidade de
volume.
O trabalho, que é uma forma de energia, pode ser definido simplesmente como
força vezes distância. Dessa forma, ele tem a unidade “newton-metro (N x m)”, que é
Tabela 1.2: Prefixos padrão em
chamada de joule (J), ou seja,
unidades no SI.
1 J = 1 N.m (Eq. 1.4)
Múltiplo Prefixo
A unidade de energia mais comum no SI é o quilojoule (1 kJ = 10³ J). No sistema 109 giga, G
inglês, a unidade de energia é o Btu (Unidade térmica inglesa), definida como a energia 106 mega, M
necessária para elevar em 1 °F a temperatura de 1 lbm de água a 68°F. No sistema 103 quilo, k
métrico, a quantidade de energia necessária para elevar em 1 °C a temperatura de 1 g 102 hecto, h
de água a 14,5ºC é definida como uma caloria (cal), e 1 cal = 4,1868 J. As magnitudes 101 deca, da
do quilojoule e do Btu são quase idênticas (1 Btu = 1,0551 kJ). 10-1 deci, d
A unidade da taxa de energia em relação ao tempo é o joule por segundo (J/s), 10-2 centi, c
que é chamado de watt (W). No caso do trabalho, sua taxa é chamada de potência. 10-3 mili, m
Uma unidade comumente usada para a potência é o cavalo-vapor (hp), que é 10-6 micro, µ
equivalente a 746 W. A energia elétrica é geralmente expressa em quilowatt-hora 10-9 nano, n
(kWh), que equivale a 3.600 kJ. Um aparelho elétrico com uma potência nominal de 1
kW consome 1 kWh de eletricidade quando funciona continuamente por uma hora.
Quando se trata de geração de energia elétrica, as unidades de kW e kWh são
frequentemente confundidas. Note que kW ou kJ/s é uma unidade de potência,
enquanto kWh é uma unidade de energia.
Em todas as equações utilize a homogeneidade dimensional, ou seja, cada
termo de uma equação deve ter a mesma unidade. Se, em algum estágio da análise,
estivermos somando duas quantidades com unidades diferentes, é uma indicação clara
de que cometemos um erro nos primeiros estágios.

Exemplo 1 – Obtendo fórmulas por meio de considerações sobre as unidades


Um tanque está cheio de óleo cuja massa específica é 𝜌 = 850 kg/m³. Se o volume do
tanque for V = 2 m³, determine a quantidade de massa m do tanque.

1.2.1 Fatores de conversão de unidades Figura 1.4: Esquema para o exemplo 1.


Assim como todas as dimensões não primárias podem ser formadas por
combinações adequadas de dimensões primárias, todas as unidades secundárias
podem ser formadas pela combinação de unidades primárias. As unidades força, por
exemplo, podem ser expressas como:
𝑚
1 N = 1 kg 2
𝑠
Elas também podem ser expressas de forma mais convenientes por meio dos
fatores de conversão de unidades, como a seguir:
𝑁
=1
𝑘𝑔. 𝑚/𝑠 2
Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos 5
Os fatores de conversão de unidades são sempre iguais a 1, não possuem
unidade e, portanto, tais fatores (ou seus inversos) podem ser inseridos
convenientemente em qualquer cálculo para converter unidades adequadamente.

1.3 Sistemas e Volumes de Controle


Um sistema é definido como uma quantidade de matéria ou região no espaço
Figura 1.5: Sistema, vizinhança e selecionada para estudo. A massa ou região fora do sistema é chamada de vizinhança.
fronteira. A superfície real ou imaginária que separa o sistema de sua vizinhança é chamada de
fronteira, como mostra a figura 1.5. A fronteira de um sistema pode ser fixa ou móvel.
Observe que ela é a superfície de contanto compartilhada pelo sistema e pela vizinhança.
Em termos matemáticos, a fronteira tem espessura zero e, portanto, não pode conter
massa nem ocupar nenhum volume no espaço. Os sistemas podem ser considerados
fechados ou abertos, dependendo da seleção de uma massa fixa ou de um volume fixo
para o estudo.
Um sistema fechado consiste em uma quantidade fixa de massa, e nenhuma
massa pode atravessar sua fronteira. Ou seja, nenhuma massa pode entrar ou sair de
um sistema fechado, como mostra a figura 1.6. Entretanto, a energia na forma de calor
ou trabalho pode cruzar a fronteira, e o volume de um sistema fechado não precisa ser
Figura 1.6: A massa não pode necessariamente fixo. Se em um caso especial, nem a energia atravessa a fronteira, esse
atravessar as fronteiras de um sistema sistema é chamado de sistema isolado.
fechado, mas a energia pode.
Considere o arranho pistão-cilindro mostrado na figura 1.7. Desejamos descobrir
o que acontece ao gás que está confinado quando é aquecido. Como nos concentramos
no gás, esse será nosso sistema. As superfícies internas do pistão e do cilindro formam
a fronteira; como nenhuma massa está cruzando essa fronteira, trata-se de um sistema
fechado. Observe que a energia pode atravessar a fronteira, e que parte da fronteira
(neste caso, a superfície interna do pistão) pode ser mover. Tudo o que estiver fora do
gás, incluindo o pistão e o cilindro, é a vizinhança.
Um sistema aberto, ou um volume de controle, como é usualmente chamado,
é uma região criteriosamente selecionada no espaço. Em geral, ele inclui um dispositivo
que envolve fluxo de massa, como um compressor, uma turbina ou um bocal. O
escoamento através desses dispositivos pode ser melhor estudado selecionando-se a
Figura 1.7: Um sistema fechado com região dentro do dispositivo como o volume de controle. Tanto massa quanto energia
uma fronteira móvel. podem cruzar a fronteira de um volume controle.
As fronteiras de um volume de controle são chamadas de superfície de controle,
e podem ser reais ou imaginárias. No caso de um bocal, a superfície interna do bocal
forma a parte real da fronteira, e as áreas de entrada e saída foram a parte imaginária,
uma vez que nelas não existem superfícies físicas, como mostra a figura 1.8(a). Um
volume de controle pode ter tamanho e forma fixos, como um pistão, por exemplo, ou
pode envolver uma fronteira móvel, como mostra a figura 1.8(b).
Em um volume de controle também pode haver interações de calor e trabalho,
como em um sistema fechado, além de interação de massa.

1.4 Propriedades de um Sistema


Qualquer característica de um sistema é chamada de propriedade. Algumas
propriedades familiares são a pressão P, a temperatura T, o volume V e a massa m. A
lista pode se estender incluindo propriedades menos conhecidas como a viscosidade, a
condutividade térmica, o módulo de elasticidade, o coeficiente de expansão térmica, a
resistividade elétrica e até mesmo a velocidade e a altura.
As propriedades podem ser classificadas como intensivas ou extensivas. As
propriedades intensivas são independentes da massa de um sistema, como
temperatura, pressão e densidade. As propriedades extensivas são valores que
dependem do tamanho – ou extensão – do sistema. A massa total, o volume total e
quantidade de movimento total são alguns exemplos de propriedades extensivas.
As propriedades extensivas por unidade de massa são chamadas de
Figura 1.8: Um volume de controle propriedades específicas. Alguns exemplos de propriedades específicas são o volume
pode conter fronteiras fixas, móveis, específico (𝑣 = 𝑉/𝑚) e a energia total específica (𝑒 = 𝐸/𝑚).
reais e imaginárias.
6 Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos
1.5 Densidade e Densidade Relativa
A densidade (ou massa específica) é definida como a massa por unidade de
volume.
𝑚
𝜌= (kg/m³) (Eq. 1.5)
𝑉
O inverso da densidade é o volume especifico 𝑣, definido como o volume por
unidade de massa. Ou seja,
𝑉 1
𝑣= = (Eq. 1.6) Tabela 1.3: Densidade relativa, na
𝑚 𝜌
Geralmente, a densidade de uma substância depende da temperatura e da temperatura de 0°C.
pressão. A densidade da maioria dos gases é proporcional à pressão e inversamente Substância DR
proporcional à temperatura. Nos líquidos e sólidos, por sua vez, são substâncias Água 1,0
Sangue 1,05
essencialmente incompressíveis, e a variação de suas densidades com a pressão são
Água do mar 1,025
geralmente desprezíveis. A 20°C, por exemplo, a densidade da água varia de 998 kg/m³
Gasolina 0,7
a 1 atm até 1.003 kg/m³ a 100 atem, uma alteração de apenas 0,5%. As densidades de
Álcool etílico 0,79
líquidos e sólidos dependem muito mais da temperatura do que da pressão. A 1 atm, Mercúrio 13,6
por exemplo, a densidade da água varia de 998 kg/m³ a 20°C até 975 kg/m³ a 75°C, Madeira 0,3-0,9
uma alteração de 2,3%, a qual pode ainda ser considerada desprezível em muitas Ouro 19,2
análises. Ossos 1,7-2,0
Às vezes, a densidade de uma substância é dada de forma relativa à densidade Gelo 0,92
de uma sustância bem conhecida. Nesse caso, ela é chamada de gravidade específica Ar (a 1 atm) 0,0013
ou densidade relativa, e é definida como a razão entre a densidade da substância e a
densidade de alguma substância padrão, a uma temperatura especificada (em geral
água a 4°C, para a qual 𝜌Á𝑔𝑢𝑎 = 1.000 𝑘𝑔/𝑚³). Ou seja,
𝜌
𝐷𝑅 = (Eq. 1.7)
𝜌Á𝑔𝑢𝑎
Observe que a densidade relativa de uma substância é uma grandeza
adimensional. Na tabela 1.3 são fornecidas as densidades relativas de algumas
substâncias.

1.6 Estado e Equilíbrio


Considere um sistema que não esteja passando por nenhuma mudança. Nesse
ponto, todas as propriedades podem ser medidas ou calculadas em todo o sistema, o
que nos dá um conjunto de propriedades que descreve completamente a condição ou Figura 1.9: Um sistema em dois
o estado do sistema. Em determinado estado, todas as propriedades de um sistema estados diferentes.
têm valores fixos. Se o valor de apenas uma propriedade mudar, o estado será
diferente. A figura 1.9 mostra um sistema em dois estados diferentes.
A termodinâmica trata de estados em equilíbrio. A palavra equilíbrio implica um
estado também de equilíbrio. Em um estado de equilíbrio não existem potenciais
desbalanceados (ou forças motrizes) dentro do sistema. Um sistema em equilíbrio não
passa por mudanças quando é isolado de sua vizinhança.
Existem muitos tipos de equilíbrio, e um sistema não está em equilíbrio
termodinâmica a menos que as condições para todos os tipos relevantes de equilíbrio
sejam atendidas. Por exemplo, um sistema está em equilíbrio térmico se a temperatura Figura 1.10: Um sistema fechado
for igual em todo o sistema, como mostra a figura 1.10. O equilíbrio mecânico está atingindo o equilíbrio térmico.
relacionado à pressão, e um sistema está em equilíbrio mecânico se não houver variação
na pressão em qualquer ponto do sistema com o tempo. Se um sistema contém duas
fases, ele está em equilíbrio de fase quando a massa de cada fase atinge um nível de
equilíbrio e permanece nele. Finalmente, um sistema está em equilíbrio químico se sua
composição química não mudar com o tempo, ou seja, se não ocorrer nenhuma reação
química.

1.7 Processo e Ciclos


Toda mudança na qual um sistema passa de um estado de equilíbrio para outro é
chamada de processo, e a série de estados pelos quais um sistema passa durante um
processo é chamada de percurso do processo, como ilustrado na figura 1.11. Para
descrever um processo completamente, é preciso especificar os estados inicial e final do Figura 1.11: Um processo entre os
processo, bem como o percurso que ele segue, além das interações com a vizinhança. estados 1 e 2 e o percurso do processo
Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos 7
Quando um processo se desenvolve de forma que o sistema permaneça
infinitesimalmente próximo a um estado de equilíbrio em todos os momentos, ele é
chamado de processo quase-estático ou processo de quase-equilíbrio. Um processo
de quase-equilíbrio pode ser visto como um processo suficientemente lento que permite
ao sistema ajustar-se internamente para que as propriedades de um parte do sistema não
mudem mais rapidamente do que as propriedades das outras partes.
Isso é ilustrado na figura 1.12. Quando o gás de um arranjo pistão-cilindro é
repentinamente comprimido, as moléculas próximas à face do pistão não terão tempo
suficiente para se deslocar e vão se acumular em uma região pequena à frente do pistão,
criando ali uma região de alta pressão. Por causa dessa diferença depressão, não é mais
Figura 1.12: Processos de possível dizer que o sistema está em equilíbrio, e isso o caracteriza como um processo
compressão de quase-equilíbrio e de de não equilíbrio.
não equilibro Diagramas de processo traçados com o emprego de propriedades termodinâmicas
como coordenadas são muito úteis na visualização dos processos. Algumas propriedades
comuns usadas como coordenadas são a temperatura T, a pressão P e o volume V. A
figura 1.13 mostra o diagrama P-V do processo de compressão de um gás.
O prefixo iso- é quase sempre usado para designar um processo em que
determinada propriedade permanece constante. O processo isotérmico, por exemplo,
é um processo durante o qual a temperatura T permanece constante; o processo
isobárico é um processo durante o qual a pressão P permanece constante; e o processo
isocórico é um processo durante o qual o volume específico v permanece constante.
Diz-se que um sistema executou um ciclo quando ele retorna ao estado inicial no
final do processo. Ou seja, para um ciclo, os estados inicial e final são idênticos.
Os termos permanente e uniforme são usados com frequência na
termodinâmica e, portanto, é importante ter uma compreensão clara de seus significados.
O termo permanente implica em nenhuma modificação com o tempo. O oposto de
permanente é transiente, ou temporário. O termo uniforme, por sua vez, implica em
Figura 1.13: O diagrama P – V de um nenhuma variação no espaço.
processo de compressão. Diversos equipamentos de engenharia operam por longos períodos sob as
mesmas condições e são classificados como dispositivos de regime permanente. Os
processos que envolvem tais dispositivos podem ser razoavelmente bem representados,
por um processo algo idealizado chamado de processo em regime permanente, que
pode ser definido como um processo durante o qual um fluido escoa através de um
volume de controle de forma permanente, como mostra a figura 1.14.

1.8 Temperatura e a Lei Zero da Termodinâmica


É o nível a que se encontra o calor (energia calorífica) em um corpo. Caracteriza
a ação mais ou menos enérgica do calor sobre os nossos sentidos. É a temperatura que
nos permite afirmar que um corpo está mais ou menos quente que outro.
Existem várias propriedades dos materiais que mudam com a temperatura de
maneira repetida e previsível, e isso cria a base para a medição da temperatura com
exatidão. O comumente usado termômetro de bulbo de mercúrio, por exemplo, tem por
base a expansão do mercúrio com a temperatura.
Figura 1.14: Durante um processo em Quando um corpo é colocado em contato com outro corpo que está a uma
regime permanente, as propriedades temperatura diferente, como mostra a figura 1.15, o calor é transferido do corpo com
do fluido dentro do volume de controle temperatura mais alta para aquele com temperatura mais baixa até que ambos os corpos
podem variar com a posição, mas não atinjam a mesma temperatura. Nesse ponto, a transferência de calor para e diz-se que
com o tempo. os dois corpos atingiram o equilíbrio térmico. A igualdade de temperatura é a única
exigência para o equilíbrio térmico.
A lei zero da termodinâmica afirma que, se dois corpos estão em equilíbrio
térmico com um terceiro corpo, eles também estão em equilíbrio térmico entre si. Pode
parecer tolice que um fato tão óbvio seja uma das leis básicas da termodinâmica.
Entretanto, tal fato não pode ser concluído a partir de outras leis da termodinâmica, e
serve como base para a validade da medição da temperatura. Ao substituir o terceiro
corpo por um termômetro, a lei zero pode ser reescrita como dois corpos estão em
Figura 1.15: Dois corpos em um
equilíbrio térmico se ambos estiverem a mesma leitura de temperatura, mesmo que não
invólucro isolado atingem o equilíbrio
térmico quando são colocados em estejam em contato.
contato.
8 Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos
1.8.1 Escalas de Temperatura
As escalas de temperatura permitem usar uma base comum para as medições
de temperatura, e várias foram criadas ao longo da história.
As escalas de temperatura usadas hoje no SI e no sistema inglês são a escala
Celsius e a escala Fahrenheit, respectivamente. Na escala Celsius, aos pontos de
gelo e de vapor foram atribuídos originalmente os valores 0°C e 100°C,
respectivamente. Os valores correspondentes na escala Fahrenheit são 32°F e 212°F.
Com frequência, elas são chamadas de escalas de escalas de dois pontos, já que os
valores de temperatura são atribuídos em dois pontos diferentes.
Para converter uma temperatura da escala Celsius para Fahrenheit, pode ser
utilizada a equação 1.8 e para a conversão da escala Fahrenheit para Celsius a
equação 1.9.
𝑇(°𝐹) = 1,8(𝑇°𝐶) + 32 (Eq. 1.8)

(𝑇°𝐹) − 32
𝑇(°𝐶) = (Eq. 1.9)
1,8
As leituras de temperaturas obtidas tanto na escala Fahrenheit como na Celsius
estão baseadas em pontos zero arbitrariamente estabelecidos e que, conforme tem sido Figura 1.16: Comparação das escalas
demonstrado, não são os mesmos para as duas escalas. Quando se deseja conhecer de temperatura.
somente a mudança de temperatura que ocorre durante um processo ou a temperatura
de uma substância em relação a um ponto de referência conhecido, estas leituras são
completamente adequadas.
Quando as leituras de temperatura são aplicadas em equações que tratam de
determinadas leis fundamentais, é necessário utilizar leituras de temperatura cujo ponto
de referência é o zero absoluto. Experiências feitas tem demonstrado que este ponto,
conhecido como zero absoluto, existe aproximadamente a -273°C (-460°F).
As temperaturas calculadas a partir deste novo ponto zero são chamadas Figura 1.17: Comparação das
temperaturas absolutas ou temperaturas termodinâmicas, e a nova escala magnitudes de várias unidades de
termométrica assim definida recebeu o nome de escala Kelvin (K), no SI. Já no sistema temperatura.
inglês a escala utilizada é Rankine (R). Para converter as temperaturas, veja a
equivalência: No sistema inglês são utilizadas para
𝑇(𝐾) = 𝑇(°𝐶) + 273 (Eq. 1.10) pressão:
A escala Rankine está relacionada à escala Fahrenheit por: lbf/ in² ou psi (libra-força por polegada
𝑇(𝑅) = 𝑇(°𝐹) + 460 (Eq. 1.11) quadrada)
A relação entre as escalas de temperatura nos dois sistemas de unidades é:
1 atm = 14,696 psi
𝑇(𝑅) = 1,8. 𝑇(𝐾) (Eq. 1.12)
O número de divisões entre as escalas Kelvin e Celsius são iguais, ou seja, a 1 kgf/cm² = 14,223 psi
divisão de 1 K e 1°C é idêntica, como mostra as figuras 1.16 e 1.17. Assim, quando
estivermos lidando com diferença de temperatura ΔT, o intervalo de temperatura de
ambas as escalas são iguais. Elevar a temperatura de uma substância em 10°C é o Figura 1.18: Conversão de unidades de
pressão no sistema inglês
mesmo que elevá-la em 10 K. Ou seja,
∆𝑇(𝐾) = ∆𝑇(°𝐶) (Eq. 1.13)

∆𝑇(𝑅) = ∆𝑇(°𝐹) (Eq. 1.14)

Exemplo 2 – Expressão da elevação de temperatura em diferentes unidades


Durante um processo de aquecimento, a temperatura de um sistema se eleva em 10°C.
Expresse essa elevação de temperatura em K, °F e R.

1.9 Pressão
A pressão é definida como uma força normal exercida por um fluido por unidade
de área. Possui unidade em newtons por metro quadrado (N/m²), denominada de
pascal (Pa). Ou seja, 1 Pa = 1 N/m².
A unidade de pressão pascal é muito pequena para quantificar as pressões
encontradas na prática. Assim, normalmente são usados seus múltiplos quilopascal (1
kPa = 10³ Pa) e megapascal (1 MPa = 106 Pa). Outras três unidades de pressão muito
usadas na prática são: bar, atmosfera padrão e quilograma-força por centímetro
quadrado.
Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos 9
1 bar = 105 Pa = 0,1 MPa = 100 kPa
1 atm = 101.325 Pa = 101,325 kPa = 1,01325 bar
1 kgf/cm² = 9,81 N/cm² = 9,81 x 104 N/m² = 9,81 x 104 Pa

A pressão real em determinada posição é chamada de pressão absoluta, e é


medida com relação ao vácuo absoluto (ou seja, a pressão absoluta zero). A maioria dos
dispositivos de medição de pressão, porém, é calibrada para ler o zero na atmosfera (a
Figura 1.19: Alguns medidores de
pressão básicos.
figura 1.19 são apresentados alguns manômetros) e, assim, indicam a diferença entre a
pressão absoluta e a pressão atmosférica local. Essa diferença é chamada de pressão
manométrica. As pressões abaixo da pressão atmosférica são chamadas de pressões
de vácuo e são medidas pelos medidores de vácuo, que indicam a diferença entre a
pressão atmosférica e a pressão absoluta. As pressões absoluta, manométrica e de
vácuo são todas quantidades positivas e estão relacionadas entre si por:
𝑃𝑚𝑎𝑛 = 𝑃𝑎𝑏𝑠 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 (Eq. 1.15)

𝑃𝑣𝑎𝑐 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃𝑎𝑏𝑠 (Eq. 1.16)

Essa relação é ilustrada na figura 1.20. Assim como outros medidores de pressão,
o medidor utilizado para medir a pressão do ar de um pneu de automóvel lê a pressão
Figura 1.20: Pressões absoluta, manométrica. Assim, a leitura comum de 32 psi (2,25 kgf/cm²) indica uma pressão de 32
manométrica e de vácuo. psi acima da pressão atmosférica. Em um local no qual a pressão atmosférica é de 14,3
psi, por exemplo, a pressão absoluta do pneu é de 32 + 14,3 = 46,3 psi.

Exemplo 3 – A pressão absoluta de uma câmara de vácuo


Um medidor de vácuo conectado a uma câmara mostra a leitura de 5,8 psi em uma localização
na qual a pressão atmosférica é de 14,5 psi. Determine a pressão absoluta na câmara.

1.9 Manômetro de Coluna


Um dispositivo que baseia-se no princípio da diferença de altura para medir a
Figura 1.21: A pressão de um líquido pressão é chamado de manômetro de coluna, normalmente usado para medir
em repouso aumenta linearmente com diferenças de pressão pequenas e moderadas. Um manômetro de coluna consiste
a distância de uma superfície livre. principalmente em um tubo de forma de U, de vidro ou plástico, contendo um ou mais
fluidos como mercúrio, agua, álcool ou óleo. Quando as diferenças de pressão são
elevadas, fluidos pesados como o mercúrio são usados, o que mantém o tamanho do
manômetro em um nível gerenciável.
Considere o manômetro de coluna usado para medir a pressão do tanque
mostrado na figura 1.22. Como os efeitos gravitacionais dos gases são desprezíveis, a
pressão em qualquer parte do tanque e na posição 1 temo mesmo valor. Além disso,
como a pressão em um fluido não varia na direção horizontal dentro do fluido, a pressão
no ponto 2 é igual a pressão no ponto 1, P2 = P1.
A coluna de fluido de altura h está em equilíbrio estático e aberta para a atmosfera.
Dessa forma, a pressão no ponto 2 é:
Figura 1.22: O manômetro de coluna 𝑃2 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 + 𝜌𝑔ℎ (Eq. 1.17)
básico. Onde 𝜌 é a densidade do fluido no tubo. Observe que a seção transversal do tubo
não tem efeito sobre a diferença de altura h e, assim, não tem efeito sobre a pressão
exercida pelo fluido.

Exemplo 4 – Medição da pressão com um manômetro de coluna


Um manômetro de coluna é usado para medir a pressão em um tanque. O fluido usado tem
uma densidade relativa de 0,85, e a altura da coluna é de 55 cm, como mostra figura 1.23. Se
a pressão atmosférica local for de 96 kPa, determine a pressão absoluta dentro do tanque.

Figura 1.23: Esquema para o exemplo


4.
10 Capítulo 1 – Introdução e Conceitos Básicos

EXERCÍCIOS
1.1 Determine a massa e o peso do ar contido em uma sala 1.12 A água de um tanque é pressurizada a ar, e a pressão é
cujas dimensões são 6 m x 6 m x 8 m. Suponha que a medida por um manômetro de coluna de vários fluidos, como
densidade do ar seja de 1,16 kg/m³. mostra a figura abaixo. O tanque está localizado em uma
R.: 334,1 kg; 3.277 N montanha a uma altitude de 1.400 m, onde a pressão
atmosférica é de 85,6 kPa. Determine a pressão do ar no tanque
1.2 Um aquecedor a resistência de 4 kW foi utilizado em um se h1 = 0,1 m, h2 = 0,2 m e h3 = 0,35 m. Tome as densidades
processo de aquecimento de água por 2 horas para elevar a de água, do óleo e do mercúrio como 1.000 kg/m³, 850 kg/m³, e
temperatura da água ao nível desejado. Determine a 13.600 kg/m³, respectivamente.
quantidade de energia elétrica usada em kWh e kJ.
R.: 8 kWh; 28.800 kJ

1.3 Qual é a diferença entre as propriedades intensivas e


extensivas?

1.4 Defina os processos isotérmico, isobárico e isocórico.

1.5 O que é a lei zero da termodinâmica?

1.6 A temperatura interna de uma pessoa saudável é de 37°C.


Quando é isso em kelvins?
R.: 310 K

1.7 Qual é a temperatura do ar aquecido a 150°C em °F e em 1.13 Determine a pressão atmosférica em uma localidade na
R? qual a leitura barométrica é de 740 mmHg e a aceleração
gravitacional é g = 9,81 m/s². Suponha que a temperatura do
1.8 A temperatura de um sistema se eleva em 45 °C durante mercúrio seja de 10°C, quando sua densidade equivale a
um processo de aquecimento. Expresse essa elevação de 13.570 kg/m³.
temperatura em kelvins.
R.: 45 K

1.9 Qual é a diferença entre pressão manométrica e pressão


absoluta?

1.10 O pistão de um arranjo pistão-cilindro vertical contendo


um gás tem massa igual a 60 kg e área de seção transversal
de 0,04 m², como mostra a figura. A pressão atmosférica local
é de 0,97 bar, e a aceleração gravitacional é de 9,81 m/s².
Determine a pressão dentro do cilindro.

1.11 Um manômetro de coluna contendo óleo (850 kg/m³) está


conectado a um tanque cheio de ar. Considerando que a
diferença no nível de óleo entre as duas colunas é de 36 cm e
a pressão atmosférica é 98 kPa, determine a pressão absoluta
do ar no tanque.
R.: 101 kPa
Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras . 11

Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras


2.1 Substância Pura
Uma substância que tem a mesma composição química em toda a sua extensão
é chamada de substância pura. A água, o nitrogênio, o hélio e o dióxido de carbono,
por exemplo, são substâncias puras.
Entretanto, uma substância pura não precisa ser constituída por um único
elemento ou composto químico. Uma combinação de diversos elementos ou compostos
Figura 2.1: O nitrogênio e o ar gasoso
químicos também se qualifica como substância pura, desde que a mistura seja
são substâncias puras.
homogênea. O ar, por exemplo, é uma mistura de diversos gases, mas com frequência
é considerado uma substância pura porque tem uma composição química uniforme
(figura 2.1). Entretanto, uma mistura de óleo e água não é uma substância pura. Como
o óleo não é solúvel em água, ele se concentrará na parte superior da água, formando
duas regiões quimicamente diferentes (substância heterogênea).
Uma mistura de duas ou mais fases de uma substância pura ainda é uma
substância pura, desde que a composição química de todas as fases seja igual (figura
2.2).
Figura 2.2: Uma mistura de água
líquida e gasosa é uma substância
2.2 Fases de uma Substância Pura
pura, mas uma mistura de ar líquido e Ao estudar fases ou mudanças de fase na termodinâmica, não é preciso se
gasoso não é uma substância pura. preocupar com a estrutura molecular e com o comportamento das diferentes fases.
Entretanto, é útil ter uma certa compreensão do fenômeno molecular envolvido em cada
fase.
As ligações intermoleculares são mais fortes nos sólidos e mais fracas nos
gases. Um motivo para isso é que as moléculas dos sólidos estão mais compactadas,
enquanto nos gases elas estão separadas por distâncias relativamente grandes.
As moléculas em um sólido estão organizadas em um padrão tridimensional
(rede) que se repete em todo o sólido (figura 2.3). Por causa das pequenas distâncias
entre as moléculas em um sólido, as forças de atração entre as moléculas são grandes
Figura 2.3: As moléculas de um sólido e mantêm as moléculas em posições fixas. Embora as moléculas de um sólido não
são mantidas em suas posições pelas possam se movimentar relativamente entre si, elas oscilam continuamente em torno de
poderosas forças intermoleculares. suas posições de equilíbrio. A velocidade das moléculas durante essas oscilações
depende da temperatura. A temperaturas suficientemente altas, a velocidade (e,
portanto, a quantidade de movimento) das moléculas pode atingir um ponto no qual as
forças intermoleculares são parcialmente superadas e grupos de moléculas se
desprendem (figura 2.4). Esse é o início do processo de derretimento (fusão).
O espaçamento molecular na fase líquida não é muito diferente daquela na fase
sólida, exceto pelo fato de que na fase líquida as moléculas não estão mais fixas em
relação às outras e podem girar e transladar livremente.
Na fase gás, as moléculas estão distantes umas das outras, e não existe uma
ordem molecular. Moléculas de gás se movimentam aleatoriamente, colidindo
continuamente entre si e com as paredes do recipiente em que se encontram. As
moléculas na fase gás estão em um nível de energia consideravelmente mais alto do
que nas fases líquida ou sólida. Assim, o gás deve liberar uma quantidade grande de
sua energia antes de condensar ou congelar.

2.3 Processos de mudança de fase de substâncias puras


Há inúmeras situações práticas em que duas fases de uma substância pura
coexistem em equilíbrio. A água existe como uma mistura de líquido e vapor na caldeira
e no condensador de uma usina termoelétrica. O refrigerante passa de líquido para
vapor no congelador de um refrigerador. Por ser uma substância conhecida, a água é
usada para demonstrar os princípios básicos envolvidos na mudança de fase.

Figura 2.4: A organização dos átomos


nas diferentes fases.
12 Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras.
2.3.1 Líquido comprimido e líquido saturado
Considere um arranjo pistão-cilindro contendo água no estado líquido a uma
pressão de 1 atm (estado 1, figura 2.5). Nessas condições, a água está na fase líquida
e é chamada de líquido comprimido ou líquido sub-resfriado. Isso significa que ela
não está pronta para se converter em vapor. Calor é agora transferido para a água,
elevando sua temperatura para, digamos, 40°C. À medida que a temperatura se eleva,
a água líquida se expande ligeiramente e seu volume específico aumenta. Nesse
estado, a água ainda é um líquido comprimido, pois ainda não começou a se vaporizar.
À medida que mais calor é transferido, a temperatura continua subindo até atingir
Figura 2.5: A 1 atm e 20°C, a água se
100°C (estado 2, figura 2.6). Nesse ponto, a água ainda é um líquido, mas qualquer encontra na fase líquida (líquido
adição de calor fará com que o líquido se converta em vapor. Ou seja, um processo de comprimido).
mudança de fase de líquido para vapor está para ocorrer. Um líquido que está pronto
para se vaporizar é chamado de líquido saturado. Assim, o estado 2 é um estado de
líquido saturado.

2.3.2 Vapor saturado e vapor superaquecido


Após o início da ebulição, a temperatura para de subir até que o líquido se
converta inteiramente em vapor. Ou seja, a temperatura permanecerá constante
durante todo o processo de mudança de fase se a pressão for mantida constante.
Durante o processo de ebulição, a única alteração que observamos é um grande
aumento no volume e um declínio contínuo no nível do líquido como resultado do líquido Figura 2.6: A 1 atm e 100°C, a água se
que continuamente se transforma em vapor. encontra como um líquido pronto para
Quando o processo de vaporização passa da metade (estado 3, figura 2.7), o se vaporizar (líquido saturado).
cilindro contém quantidades iguais de líquido e vapor. À medida que calor é transferido,
o processo de vaporização continua até que a última gota de líquido seja convertida em
vapor (estado 4, figura 2.8). Nesse ponto, todo o cilindro está cheio de vapor no limite
com a fase líquida, ou seja, qualquer perda de calor por parte desse vapor fará com que
parte dele se condense (mudando de fase de vapor para líquido). Um vapor que está
pronto para condensar é chamado de vapor saturado. Assim, o estado 4 é um estado
de vapor saturado. Uma substância em um estado entre 2 e 4 é chamada de mistura
líquido-vapor saturada, uma vez que as fases líquida e vapor coexistem em equilíbrio
nesses estados. Figura 2.7: Á medida que calor é
Após a conclusão do processo de mudança de fase, voltamos novamente a uma transferido, parte do líquido saturado se
região de única fase (desta vez vapor), e qualquer transferência de calor para o vapor evapora (mistura líquido-vapor
resulta em um aumento tanto de temperatura quanto de volume específico (figura 2.9). saturado).
No estado 5, a temperatura do vapor é, digamos, 300°C, de modo que se removermos
parte do calor do vapor, a temperatura poderá cair um pouco, mas nenhuma
condensação ocorrerá desde que a temperatura seja mantida acima dos 100°C (para
P = 1 atm). Um vapor que não está pronto para se condensar (ou seja, um vapor não
saturado) é chamado de vapor superaquecido. Assim, a água no estado 5 é um vapor
superaquecido. Esse processo de mudança de fase à pressão constante é ilustrado em
um diagrama T-v na figura 2.10.

Figura 2.8: A 1 atm, a temperatura


permanece constante a 100 °C até que
a última gota de líquido se evapore
(vapor saturado).

Figura 2.9: À medida que mais calor é


Figura 2.10: Diagrama T-v para o processo de aquecimento de água à pressão constante.
transferido, a temperatura do vapor
começa a subir (vapor superaquecido).
Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras 13
Tabela 2.1: Pressão de saturação 2.3.3 Temperatura de saturação e pressão de saturação
(ebulição) da água a diversas A afirmação de que “a água começa a ferver aos 100°C”, não está correta. A
temperaturas.
afirmação correta seria “a água ferve aos 100°C à pressão de 1 atm”. Se a pressão dentro
Temperatura Pressão de
(T, °C) saturação do cilindro fosse elevada para 500 kPa pela adição de pesos na parte superior do pistão,
(Psat, kPa) a água começaria a ferver a 151,8°C. Ou seja, a temperatura na qual a água começa a
-5 0,40 ferver depende da pressão; portanto, se a pressão for fixa, a temperatura de ebulição
0 0,61 também será fixa.
5 0,87 A uma determinada pressão, a temperatura na qual uma substância pura muda de
10 1,23
25 3,17
fase é chamada de temperatura de saturação TSAT. Da mesma forma, a uma
50 12,35 determinada temperatura, a pressão na qual uma substância pura muda de fase é
100 101,4 chamada de pressão de saturação PSAT.
200 1.555 Tabelas de saturação que relacionam a pressão de saturação em função da
250 3.976 temperatura (ou a temperatura de saturação em função da pressa) encontram-se
disponíveis para praticamente todas as substancias. A tabela 2.1 apresenta uma listagem
parcial da tabela para a água. Essa tabela indica que a pressão da água em mudança de
fase (ebulição ou condensação) a 25°C deve ser de 3,17 kPa e que a pressão da água
deve ser mantida a 3.976 kPa (cerca de 40 atm) para que ela entre em ebulição a 250°C.
É necessário uma grande quantidade de energia para derreter um sólido ou
vaporizar um líquido. A quantidade de energia absorvida ou liberada durante um processo
de mudança de fase é chamada de calor latente. Mais especificamente, a quantidade de
energia absorvida durante a fusão é chamada de calor latente de fusão e é equivalente
à quantidade de energia liberada durante a solidificação. Da mesma forma, a quantidade
de energia absorvida durante a vaporização é chamada de calor latente de vaporização
Figura 2.11: A curva de saturação
e é equivalente à energia liberada durante a condensação.
líquido-vapor de uma substância pura A figura 2.11 mostra um gráfico de Tsat em função de Psat para a água, tal gráfico
(os valores numéricos são para a água) é chamado de curva de saturação líquido-vapor. Uma curva desse tipo é característica
de todas as substâncias puras.
Fica claro no a figura 2.11 que Tsat aumenta com Psat. Assim, uma sustância a
Tabela 2.2: Variação da pressão pressões mais altas entra em ebulição a temperaturas mais altas.
atmosférica padrão e da temperatura A pressão atmosférica, e portanto a temperatura de ebulição da água, diminui com
de ebulição (saturação) da água em a altitude. Por exemplo, a pressão atmosférica padrão a uma altitude de 2.000 m é de
função da altitude. 79,50 kPa, o que corresponde a uma temperatura de ebulição de 93,3 °C, ao contrário
Altitude Pressão Temp. de
(m) atmosférica ebulição
dos 100 °C no nível do mar (altitude zero). A variação da temperatura de ebulição da
(kPa) (°C) água com a altitude nas condições atmosféricas padrão é apresentada na tabela 2.2.
0 101,33 100,0
1.000 89,55 96,5 2.3.4 Algumas consequências da dependência entre Tsat e Psat
2.000 79,50 93,3 Já foi mencionado que uma substância a uma determinada pressão entra em
5.000 54,05 83,3
ebulição à temperatura de saturação correspondente àquela pressão. Esse fenômeno
10.000 26,50 66,3
20.000 5,53 34,7 permite controlar a temperatura de ebulição de uma substância por meio apenas do
controle da pressão, o que resulta em inúmeras aplicações práticas.
Uma forma prática de congelar é o resfriamento a vácuo, que se baseia em
reduzir a pressão da câmara de resfriamento até a pressão de saturação à baixa
temperatura desejada.
No resfriamento a vácuo, existem dois estágios distintos. No primeiro estágio, os
produtos à temperatura ambiente, por exemplo 25°C, são colocados na câmara e a
operação se inicia. A temperatura da câmara permanece constante até a pressão de
saturação ser atingida, que é de 3,17 kPa a 25°C. No segundo estágio, as condições de
saturação são mantidas no interior da câmara a pressões progressivamente mais baixas
(e a temperaturas mais baixas correspondentes) até que a temperatura desejada seja
atingida (figura 2.12).
Figura 2.12: A variação da temperatura
de frutas e vegetais com a pressão 2.4 Diagramas de Propriedades para os processos de mudança de fase
durante o resfriamento a vácuo de 25 a 2.4.1 O diagrama T-v
0°C. Tomando como base o exemplo anterior, à medida que a pressão aumenta, a linha
de saturação encolhe, como mostra a figura 2.13(a), tornando-se um ponto quando a
pressão atinge 22,06 MPa (no caso específico da água). Esse ponto é chamado de ponto
crítico, sendo identificado como o ponto no qual os estados de líquido saturado e vapor
saturado são idênticos.
14 Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras.
A temperatura, a pressão e o volume específico de uma substância no ponto crítico são chamados respectivamente
de temperatura crítica TCR, pressão crítica PCR e volume específico crítico vCR. As propriedades do ponto crítico da água são
PCR = 22,06 MPa, TCR = 373,95 °C e vCR = 0,003106 m³/kg.

(a)
(b)
Figura 2.13: (a) Diagrama T-v dos processos de mudanças de fase a pressão constante para uma substância pura a diversas pressões
(valores numéricos para a água). (b) Fase do diagrama T-v de uma substância pura.

Como mostra a figura 2.13(b) os estados de líquido saturado


podem ser ligados por uma linha chamada linha de líquido
saturado, e os estados de vapor saturado da mesma figura podem
ser ligados por outra linha chamada linha de vapor saturado.
Essas duas linhas se encontram no ponto crítico, formando uma
curva como mostrado na figura 2.13. Todos os estados de líquido
comprimido estão localizadas na região à esquerda da linha de
líquido saturado, chamada região de líquido comprimido. Todos
os estados de vapor superaquecido estão localizados à direita da
linha de vapor saturado, chamada região de vapor
superaquecido. Nessas duas regiões, existe uma única fase da
substância, líquido ou vapor. Todos os estados que contenham
ambas as fases em equilíbrio estão localizadas sob a curva,
chamada região de mistura líquido-vapor saturada ou região
úmida. Figura 2.14: Diagrama P-v de uma substância pura.

2.4.2 O Diagrama P-v


A forma geral do diagrama P-v de uma substância pura é
muito parecida com o diagrama T-v, mas as linhas de T constante
desse diagrama apresentam uma tendência descendente, como
mostra a figura 2.14.

2.4.3 O Diagrama P-T


A figura 2.15 mostra o diagrama P-T de uma substância pura.
Esse diagrama é frequentemente chamado de diagrama de fases,
uma vez que todas as três fases são separadas umas das outras
por três linhas; assim, a linha de sublimação separa as regiões de
sólido e vapor, a linha de vaporização separa as regiões de líquido
e vapor e alinha de fusão separa as regiões sólida e líquida. Essas
três linhas se encontram no ponto triplo, onde todas as três fases
coexistem em equilíbrio. A linha de vaporização termina no ponto
crítico, já que não é possível fazer nenhuma distinção entre as fases Figura 2.15: Diagrama P-T das substâncias puras.
de líquido e vapor acima do ponto crítico. As substâncias que se
expandem e contraem na solidificação diferem apenas na linha de
fusão do diagrama P-T.
Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras 15
2.5 Tabelas de Propriedades
Para a maioria das substâncias, as relações entre propriedades termodinâmicas
são complexas demais para serem expressas por meio de equações simples. Assim, as
propriedades quase sempre são apresentadas na forma de tabelas. Algumas
propriedades termodinâmicas podem ser medidas com facilidade, mas outras nem tanto,
e devem ser calculadas usando-se as relações entre elas e as propriedades mensuráveis.
Figura 2.16: A combinação u + Pv é
Os resultados dessas medições e cálculos são apresentadas em tabelas com formato
geralmente encontrada na análise de
volumes de controle conveniente.
Para cada substância, suas propriedades termodinâmicas podem estar
relacionadas em mais de uma tabela. Na verdade, uma tabela separada é preparada para
cada região de interesse, como as regiões de vapor superaquecido, líquido comprimido
e de mistura saturada. Tabelas de propriedades em unidade do SI são apresentadas no
Anexo B.

2.5.1 Entalpia – uma propriedade combinada


Ao examinar as tabelas, pode-se encontrar duas novas propriedades: entalpia h e
entropia s. A entropia é uma propriedade associada à segunda lei da termodinâmica, e
nós não a usaremos. Entretanto, é apropriado a apresentação da entalpia neste ponto.
Na análise de determinados tipos de processo, particularmente na geração de
potência e refrigeração (figura 2.16), frequentemente encontramos a combinação das
propriedades u + Pv. Em nome da simplicidade e da conveniência, essa combinação é
definida como uma nova propriedade, a entalpia, que recebe o símbolo h:
Figura 2.17: O produto pressão x
ℎ = 𝑢 + 𝑃𝑣 (Eq. 2.1)
volume tem unidades de energia
A letra u é energia interna que representa a energia possuída pela matéria devido
ao movimento e/ou forças intermoleculares. Observe que na equação 2.1, a unidade do
produto pressão-volume tem unidade de energia, como mostra também a figura 2.17. Por
exemplo, pode ser facilmente demonstrado que 1 kPa.m³= 1 kJ (onde Pa = N/m², e que
1 J = 1 N.m).

2.5.2 Estados de líquido saturado e vapor saturado


As propriedades da água nos estados de líquido e vapor saturado estão listadas
nas Tabelas B.1.1 e B.1.2. Ambas as tabelas oferecem as mesmas informações. A única
diferença é que na Tabela B.1.1 as propriedades estão listadas em função da temperatura
e na tabela B.1.2 em função da pressão. Assim, é mais conveniente usar a Tabela B.1.1
quando a temperatura for fornecida e a Tabela B.1.2 quando a pressão for fornecida.
O subíndice 𝑙 é usado para indicar as propriedades do líquido saturado e o
subíndice 𝑣 para indicar as propriedades do vapor saturado. Outro subscrito muito usado
Figura 2.18: Esquema e diagrama T-v é o 𝑙𝑣, que denota a diferença entre os valores do vapor saturado e do líquido saturado
do exemplo 1. para mesma propriedade. Por exemplo,
𝑣𝑙 = volume específico do líquido saturado
𝑣𝑣 = volume específico do vapor saturado
𝑣𝑙𝑣 = diferença entre 𝑣𝑣 e 𝑣𝑙 (ou seja, 𝑣𝑙𝑣 = 𝑣𝑣 − 𝑣𝑙 )

A quantidade ℎ𝑙𝑣 é chamada de entalpia da vaporização (ou calor latente de


vaporização), e representa a quantidade de energia necessária para vaporizar uma
massa unitária de líquido saturado a uma determinada temperatura ou pressão. Ela
diminui à medida que a temperatura ou a pressão aumenta e torna-se zero no ponto
crítico.

Exemplo 1 – Pressão de um líquido saturado em um tanque


Um tanque rígido contém 50 kg de água líquida saturada a 90°C. Determine a pressão e o
volume do tanque.
Figura 2.19: Esquema e diagrama P-v
Exemplo 2 – Variação de volume e energia durante a evaporação
do exemplo 2.
Uma massa de 200 g de água líquida saturada é complemente vaporizada a uma pressão
constante de 100 kPa. Determine (a) a variação de volume e (b) a quantidade de energia
transferida para a água.
16 Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras.
2.5.3 Mistura de líquido e vapor saturados
Durante um processo de vaporização, uma substância existe parte como líquido
e parte como vapor. Ou seja, ela é uma mistura de líquido saturado e vapor saturado,
como mostra figura 2.20. Para analisar essa mistura adequadamente, precisamos
conhecer as proporções das fases líquido e vapor da mistura. Isso é feito definindo uma
nova propriedade chamada de título x como a relação entre a massa do vapor e a
massa total da mistura:
𝑚𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟
𝑥= (Eq. 2.2)
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
Onde
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑚𝑙𝑖𝑞 + 𝑚𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 = 𝑚𝑙 + 𝑚𝑣 Figura 2.20: A quantidade relativas das
O título tem significado apenas para as misturas saturadas. Não faz sentido falar fases líquido e vapor de uma mistura
em título para as regiões de líquido comprimido ou de vapor superaquecido. Seu valor saturada são especificadas pelo título x
está entre 0 e 1. O título de um sistema composto por líquido saturado é 0 (0%), e o
título de um sistema composto por vapor saturado é 1 (ou 100%). Durante o processo
de vaporização, apenas a quantidade de líquido saturado muda, e não suas
propriedades. O mesmo pode ser dito sobre o vapor saturado.
Uma mistura saturada pode ser tratada como uma combinação de dois
subsistemas: o líquido saturado e vapor saturado. Entretanto, a quantidade de massa
de cada fase é geralmente desconhecida. Assim, é quase sempre mais conveniente
supor que as duas fases se misturam bem, formando uma mistura homogênea, como
mostra a figura 2.21. Assim, as propriedades dessa “mistura” serão simplesmente as
propriedades médias da mistura líquido-vapor saturada. Esse procedimento é mostrado
a seguir.
Considere um tanque contendo um mistura de líquido-vapor saturado. O volume
ocupado pelo líquido saturado é 𝑉𝑙 e o volume ocupado pelo vapor saturado é 𝑉𝑣 .
O volume total V é a soma dos dois:
Figura 2.21: Por conveniência, um
𝑉 = 𝑉𝑙 + 𝑉𝑣 sistema bifásico pode ser tratado como
𝑉 = 𝑚. 𝑣 → 𝑚𝑡 𝑣𝑚𝑒𝑑 = 𝑚𝑙 𝑣𝑙 + 𝑚𝑣 𝑣𝑣 uma mistura homogênea.
𝑚𝑙 = 𝑚𝑡 − 𝑚𝑣 → 𝑚𝑡 𝑣𝑚𝑒𝑑 = (𝑚𝑡 − 𝑚𝑣 )𝑣𝑙 + 𝑚𝑣 𝑣𝑣

Dividindo por 𝑚𝑡 temos:


𝑣𝑚𝑒𝑑 = (1 − 𝑥)𝑣𝑙 + 𝑥𝑣𝑣
Já que 𝑥 = 𝑚𝑣 /𝑚𝑡 . Essa relação pode também ser expressa como:
𝑣𝑚𝑒𝑑 = 𝑣𝑙 + 𝑥𝑣𝑙𝑣 (𝑚3 /𝑘𝑔) (Eq. 2.3)
Onde 𝑣𝑙𝑣 = 𝑣𝑣 − 𝑣𝑙 . Resolvendo para o título obtemos:
𝑣𝑚𝑒𝑑 − 𝑣𝑙
𝑥=
𝑣𝑙𝑣 (Eq. 2.4)

A análise anterior pode ser repetida para energia interna (u) e para a entalpia (h)
da seguinte forma: Figura 2.22: O valor de v para uma
𝑢𝑚𝑒𝑑 = 𝑢𝑙 + 𝑥𝑢𝑙𝑣 (𝑘𝐽/𝑘𝑔) (Eq. 2.5) mistura líquido-vapor saturado está
entre os valores 𝑣𝑙 e 𝑣𝑣 , a uma dada
ℎ𝑚𝑒𝑑 = ℎ𝑙 + 𝑥ℎ𝑙𝑣 (𝑘𝐽/𝑘𝑔) (Eq. 2.6) T e P.
Para simplificar, o subíndice “med” (média) é, em geral, desconsiderado. Os
valores das propriedades medias das misturas estão sempre entre os valores das
propriedades de líquido saturado e de vapor saturado, como mostra a figura 2.22.

Exemplo 3 – Pressão e volume de uma mistura saturada


Um tanque rígido contém 10 kg de água a 90°C. Se 8 kg de água estiverem na forma líquida
e o restante estiver na forma de vapor, determine (a) a pressão no tanque e (b) o volume
do tanque.

Figura 2.23: Esquema e diagrama T-v


para o exemplo 3.
Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras 17

Exemplo 4 – Propriedades de uma mistura líquido-vapor saturada


Um vaso de 80 L contém 4 kg de refrigerante-134a (tabela B.5) uma pressão de 160 kPa.
Determine (a) temperatura, (b) o título, (c) a entalpia do refrigerante e (d) o volume ocupado
pela fase vapor.

2.5.4 Vapor Superaquecido


Na região à direita da linha de vapor saturado e a temperaturas acima da
temperatura do ponto crítico, uma substância existe como vapor superaquecido. Como a
região superaquecida é de única fase (apenas a fase vapor), a temperatura e a pressão
Figura 2.24: Esquema e diagrama P-v não são mais propriedades dependentes das tabelas. O formato das tabelas de vapor
para o exemplo 4. superaquecido é na figura 2.25.
Nessas tabelas, as propriedades estão listadas em função da temperatura para
pressões selecionadas, começando a partir dos dados de vapor saturado. A temperatura
de saturação é mostrada entre parênteses após o valor da pressão. Quando comparado
ao vapor saturado, o vapor superaquecido é caracterizado por:
• Pressões mais baixas (P < PSAT a uma determinada T);
• Temperaturas mais altas (T > TSAT a uma determinada P);
• Volumes específicos mais altos (v > vv a uma determinada ou T);
• Energias internas mais altas (u > uv a uma determinada P ou T);
• Entalpias mais altas (h > hv a uma determinada P ou T).

Exemplo 5 – Temperatura de um vapor superaquecido


Determine a temperatura da água em um estado em que P = 0,5MPa e h = 2.890 kJ/kg.

Figura 2.25: Uma listagem parcial da 2.5.5 Líquido Comprimido


tabela de vapor superaquecido. Tabelas de líquido comprimido não são encontradas tão facilmente, e a tabela
B.1.4 é a única tabela de líquido comprimido desta apostila. O formato da tabela é muito
parecido com o formato das tabelas de vapor superaquecido. Um motivo para a falta de
dados para líquido comprimido é a relativa independência das propriedades do líquido
comprimido em relação à pressão. A variação das propriedades do líquido comprimido
com a pressão é muito pequena. É necessário um aumento de cem vezes na pressão
para que a variação das propriedades atinjam valores da ordem de 1 %.
Na ausência de dados para o líquido comprimido, uma aproximação geral seria
tratar o líquido comprimido como líquido saturado à mesma temperatura. Isso porque as
propriedades do líquido comprimido dependem muito mais da temperatura do que da
pressão. Assim,
𝑦 ≅ 𝑦𝑙 @ 𝑇 (Eq. 2.7)
Figura 2.26: A uma dada P, o vapor para líquidos comprimidos, onde y é v, u ou h. Dessas três propriedades, a propriedade
superaquecido possui h mais alta que o cujo valor é mais sensível a variações na pressão é a entalpia h.
vapor saturado, exemplo 5. Em geral, um líquido comprimido é caracterizado por:
• Pressões mais altas (P > PSAT a uma determinada T);
• Temperaturas mais baixas ( T < TSAT a uma determinada P);
• Volumes específicos mais baixos (v < vl a uma determinada P ou T);
• Energias internas mais baixas (u < ul a uma determinada P ou T);
• Entalpias mais baixas (h < hl a uma determinada P ou T).
Entretanto, ao contrário do vapor superaquecido, as propriedades do líquido
comprimido não são tão diferentes dos valores correspondentes ao líquido saturado.

Exemplo 6 – Aproximação do líquido comprimido como líquido saturado


Determine a energia interna da água líquida comprimida a 80°C e 5 MPa, usando (a) dados
da tabela de líquido comprimido e (b) dados do líquido saturado. Qual é o erro associado ao
segundo caso?
Figura 2.27: Esquema e diagrama T-u
para o exemplo 6.
18 Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras.
2.5.6 Estado de referência e valores de referência
Valores de u, h e s não podem ser medidos diretamente, e por isso são calculados a partir de propriedades
mensuráveis usando as relações entre as propriedades termodinâmicas.

Exemplo 7 – O uso de tabelas de vapor de água para determinar propriedades


Determine as propriedades que estão faltando e descreva as fases na seguinte tabela para a água:
T,°C P, kPa u, kJ/kg x Descrição da fase
(a) 200 0,6
(b) 125 1.600
(c) 1.000 2.950
(d) 75 500
(e) 850 0,0

2.6 Equação de estado do gás ideal


Tabelas de propriedades fornecem informações bastante exatas sobre as
propriedades, mas elas são volumosas e sujeitas a erros de digitação. Uma abordagem Tabela 2.3: Valor de R para diferentes
gases ideias.
mais prática e desejável seria ter algumas relações entre as propriedades que fossem
Substância R, kJ/kg.K
simples e suficientemente gerais e precisas. O Anexo A (Propriedades Gerais) traz
Ar 0,2870
várias propriedades de várias substâncias. Hélio 2,0771
Qualquer equação que relacione pressão, temperatura e volume específico de Argônio 0,2081
uma substância é chamada de equação de estado. Relações envolvendo outras Nitrogênio 0,2968
propriedades de uma substância em estados de equilíbrio também são chamadas de
equações de estado. Existem várias equações de estado; algumas são simples, e
outras, bastante complexas. A equação de estado para substâncias na fase gasosa
mais simples e mais conhecida é a equação de estado do gás ideal. Essa equação
prevê o comportamento P-v-T de um gás com bastante precisão dentro de uma
determinada região.
Gás e vapor são frequentemente usados como sinônimos. A fase vapor de uma
substância é normalmente chamada de gás quando está acima da temperatura crítica.
Em geral, entende-se por vapor um gás que não está longe do estado de condensação.
Em 1662, o inglês Robert Boyle observou durante suas experiências com uma
câmara de vácuo que a pressão dos gases é inversamente proporcional ao seu volume.
Em 1802, os franceses J. Charles e J. Gay-Lussac, determinaram experimentalmente
que a baixas pressões o volume de um gás é proporcional à sua temperatura. Ou seja,
𝑇
𝑃 = 𝑅( ) Figura 2.28: Esquema para o exemplo
𝑣 8.
ou
𝑃𝑣 = 𝑅𝑇 (Eq. 2.8)
Onde a constante de proporcionalidade R é chamada de constante do gás. A
equação 2.8 é chamada de equação de estado do gás ideal, ou simplesmente relação
do gás ideal, e um gás que obedece a essa relação é chamado de gás ideal. Nessa
equação, P é a pressão absoluta, T é a temperatura absoluta e v é o volume específico.
A equação de estado do gás ideal pode ser escrita de diversas maneiras:
𝑉 = 𝑚. 𝑣 → 𝑃𝑉 = 𝑚𝑅𝑇 (Eq. 2.11)

Escrevendo a equação 2.11 duas vezes para uma massa fixa e simplificando,
temos a seguinte relação entre as propriedades de um gás ideal em dois estados
diferentes:
𝑃1 𝑉1 𝑃2 𝑉2
= (Eq. 2.12)
𝑇1 𝑇2

Exemplo 8 – Aumento da temperatura do ar em um pneu durante uma viagem


A pressão manométrica de um pneu de automóvel é de 210 kPa antes de uma viagem. No
fim do trajeto, a pressão verificada é 220 kPa, em um local onde a pressão atmosférica é
de 95 kPa (figura 2.28). Supondo que o volume do pneu permaneça constante e a
temperatura do ar antes da viagem seja de 25°C, determine a temperatura do ar no pneu
depois da viagem.
Capítulo 2 – Propriedades das Substâncias Puras 19
EXERCÍCIOS
2.1 Qual é a diferença entre líquido saturado e líquido temperatura do argônio é mantida constante. Determine a
comprimido? E entre vapor saturado e vapor superaquecido? pressão final no dispositivo.

2.2 O que é título? Ele possui algum significado nas regiões de 2.12 Refrigerante 134a a 200 kPa e 25°C flui ao longo de uma
vapor superaquecido? linha de refrigeração. Determine o seu volume específico.

2.3 Complete esta tabela para H2O: 2.13 Três quilogramas de água em um recipiente possuem uma
T, °C P, kPa h, kJ/kg x Descrição da fase pressão de 100 kPa e temperatura de 250°C. Qual é o volume
200 0,7 desse recipiente?
140 1.800
950 0,0 2.14 10 kg de R-134a a 320 kPa ocupam um recipiente rígido
80 500 cujo volume é de 14 L. Determine a temperatura e a entalpia
800 3.158,2 total no recipiente. O recipiente é então aquecido até que a
pressão seja de 600 kPa. Determine a temperatura e a entalpia
2.4 Complete esta tabela para R-134a: total quando o aquecimento estiver concluído.
T, °C P, kPa v, m³/kg Descrição da fase
-12 320
30 0,0065
550 Vapor saturado
60 600
Tutorial para cálculo de interpolação linear
1º Pressionar a tecla , selecionar a opção REG e
2.5 Um quilo de água enche um recipiente rígido de 150 L a depois LIN ;
uma pressão inicial de 2 MPa. O recipiente é então resfriado
para 40 °C. Determine a temperatura inicial e a pressão final da 2º Digitar o primeiro conjunto de dados, utilize para separar
água. o par de dados o botão , que fica localizado do lado
esquerdo do botão de M+;
3º Após digitar o primeiro conjunto de dados pressione o
botão ;
4º Digite o segundo conjunto de dados, para isso repita o 2º
e 3º passos;
2.6 10 kg de R-134a enchem um recipiente rígido de 1,348 m³
a uma temperatura inicial de -40°C. O recipiente é então 5º Digitar o valor que se deseja interpolar;
aquecido até a pressão de 200 kPa. Determine a temperatura
final e a pressão inicial. 6º Pressione a tecla , e depois a tecla , que fica
localizada na tecla do número 2;
2.7. Um recipiente de 9 m³ é preenchido com 300 kg de R-134a
a 10°C. Qual é a entalpia específica do R-134a no recipiente? 7º Usar a seta para a direita três vezes até chegar no ,
.
2.8 Dez quilogramas de R-134a ocupam 1,595 m³ de um arranjo 8° Pressionar a tecla .
pistão-cilindro a uma temperatura de -26,63°C. O recipiente é
aquecido até a temperatura de 100°C. Determine o volume final
do R-134a.
Dicas:
- Para realizar interpolação linear com números negativos,
coloque o número entre parênteses e o colocar o sinal
utilize o botão .

- Para limpar a memória da calculadora: pressione a tecla


2.9 Qual é a diferença entre R e Ru? Como as duas se e depois e depois a opção .
relacionam?

2.10 Qual é o volume específico do nitrogênio a 300 kPa e 227


°C?

2.11 Uma quantidade de 0,6 kg de argônio preenche um volume


de 0,05 m³ de um dispositivo pistão-cilindro a 550 kPa. O pistão
é então movido pela alteração dos pesos até que o volume seja
o dobro do seu tamanho original. Durante esse processo, a
Capítulo 3 – Trabalho e Calor 20

Capítulo 3 – Trabalho e Calor


3.1 Introdução
Trabalho e calor são formas de transferência de energia de um sistema para
outro e por isso são importantes na análise de processos e sistemas termodinâmicos.
O trabalho é usualmente definido como uma força F agindo através de um
deslocamento x, sendo este deslocamento na direção da força. Isto é,
𝜏 = 𝐹 × ∆𝑥 (Eq. 3.1)
Essa relação é muito útil porque nos permite determinar o trabalho necessário (a)
para levantar um peso ou esticar um fio.
Entretanto, em vista do fato de estarmos tratando a termodinâmica do ponto de
vista macroscópico, é vantajoso relacionar nossa definição de trabalho com os
conceitos de sistemas, propriedades e processos. Definimos, portanto, o trabalho do
seguinte modo: um sistema realiza trabalho se o único efeito sobre o meio (tudo externo
ao sistema) puder ser o levantamento de um peso. Observe, também, que a nossa
definição não afirma que um peso foi realmente levantado ou de que uma força agiu (b)
realmente através de uma distância dada, mas que o único efeito externo ao sistema Figura 3.1: Exemplo de trabalho
poderia ser o levantamento de um peso. O trabalho realizado por um sistema é realizado na fronteira de um sistema.
considerado positivo e o trabalho realizado sobre um sistema é considerado negativo.
O símbolo 𝜏 designa o trabalho realizado por um sistema.
Na figura 3.1(a) considere a bateria e o motor como sistema e que este motor
acione um ventilador. Trabalho atravessa a fronteira do sistema? Para responder a essa
questão, usando a definição de trabalho, vamos substituir o ventilador por uma
combinação de polia com um peso, como mostra a figura 3.1(b). Com a rotação do
motor, o único efeito externo ao sistema é o levantamento de um peso. Assim, para o
nosso sistema original (figura 3.1a), concluímos que trabalho atravessa a fronteira do Figura 3.2: Exemplo de trabalho
sistema. atravessando a fronteira de um sistema
Agora considere a figura 3.2, onde a fronteira do sistema foi alterada de modo a devido ao fluxo de uma corrente
incluir somente a bateria. Novamente temos um questionamento: trabalho cruza a elétrica através da mesma.
fronteira do sistema? Ao responder essa questão, estaremos respondendo a uma outra
mais geral, isto é, o fluxo de energia elétrica através da fronteira de um sistema é uma
forma de trabalho?
O único fator limitante, para se ter como único efeito externo o levantamento de
um peso, é a ineficiência do motor. Assim, quando projetarmos um motor mais eficiente,
com menores perdas de mancal e elétricas, reconhecemos que poderemos nos
aproximar da condição que satisfaz a exigência de se ter o levantamento de um peso
como único efeito externo.
Portanto, podemos concluir que, quando há fluxo de eletricidade através da
fronteira de um sistema, como na figura 3.2, trata-se de trabalho.
Figura 3.3: O trabalho associado a uma
3.1.1 Unidades de trabalho
fronteira móvel é chamado de trabalho
A definição de trabalho envolve o levantamento de um peso, isto é, o produto de
de fronteira.
uma unidade de força (1 newton) atuando através de uma distância unitária (1 metro).
Essa unidade de trabalho no SI é chamada de joule (J).
1J=1N.m
Potência é o trabalho realizado por unidade de tempo e é designado pelo
símbolo Pot. Assim,
𝜏
𝑃𝑜𝑡 = (Eq. 3.2)
∆𝑡
A unidade de potência no SI é joule por segundo que é chamado de watt (W).

3.1.2 Trabalho de fronteira móvel


Uma forma de trabalho mecânico frequentemente encontrada em situações
práticas está associada à expansão ou compressão de um gás em um arranjo pistão- Figura 3.4: Um gás realiza uma
cilindro. Durante esse processo, parte da fronteira (a superfície interna do pistão) se quantidade de trabalho quando força o
pistão a se mover por uma distância
move para cima ou para baixo. Portanto, o trabalho de expansão e compressão
Δx.
geralmente é chamado de trabalho de fronteira móvel ou simplesmente trabalho de
fronteira (figura 3.3).
Capítulo 3 – Trabalho e Calor 21

Considere o gás confinado no arranjo pistão-cilindro mostrado na figura 3.4. A


pressão inicial do gás é P, o volume total é V e a área da seção transversal do pistão é
A. Se o pistão se deslocar de uma distância Δx em quase equilíbrio, o trabalho realizado
durante esse processo é: (a) O gás realiza trabalho sobre o meio.

𝜏 = 𝐹 × ∆𝑥 = 𝑃 × 𝐴 × ∆𝑥 = 𝑃 × ∆𝑉 (Eq. 3.3)

Ou seja, o trabalho de fronteira é igual ao produto da pressão absoluta P pela variação


no volume ∆V. Assim:
𝜏 = 𝑃 × (𝑉2 − 𝑉1 ) (Eq. 3.4)
Esta equação também pode ser escrita utilizando volume específico:
𝑉 (b) O meio realiza trabalho sobre o gás.
𝑣= 𝑉 =𝑚×𝑣 𝜏 = 𝑃 × (𝑚 × 𝑣2 − 𝑚 × 𝑣1 ) Figura 3.5
𝑚
Simplificando:
𝜏 = 𝑚 × 𝑃 × (𝑣2 − 𝑣1 ) (Eq. 3.5)

Numa expansão o gás realiza um trabalho positivo sobre o meio exterior. Numa
compressão o deslocamento tem sentido oposto ao da força que o gás exerce sobre o
êmbolo, assim o meio externo realiza um trabalho negativo sobre o gás. Observe a
figura 3.5

Resumindo, temos:
∆𝑉 > 0 𝜏 > 0 O gás realiza trabalho sobre o meio (expansão gasosa)

Expansão gasosa com aumento de Expansão gasosa com diminuição da


pressão. pressão.
∆𝑉 < 0 𝜏 < 0 O meio realiza trabalho sobre o gás Figura 3.6: Aproximação entre o valor da
área do gráfico com o trabalho.

Compressão gasosa com diminuição Compressão gasosa com aumento de


de pressão. pressão.
∆𝑉 = 0 𝜏 = 0 O sistema não troca trabalho

Trabalho nulo com aumento de Trabalho nulo com diminuição de pressão.


pressão.

Num diagrama pressão x volume, o trabalho realizado pela força que o gás
exerce sobre o êmbolo é numericamente igual à área sob a curva. Observe a figura 3.6.
22 Capítulo 3 – Trabalho e Calor.

Exemplo 1
O diagrama mostra a transformação de uma massa gasosa do estado X para o estado
Y. Determine o trabalho realizado sobre o gás.

Figura 3.7: Exemplo 2.

Exemplo 2
Um arranjo pistão-cilindro com batentes contém inicialmente 0,3 kg de vapor de água a
1,0 Mpa e 400°C. A localização dos batentes corresponde a 60% do volume inicial.
Nessas condições, começa-se a resfriar o vapor. Determine o trabalho de compressão
caso o estado final seja (a) 1,0 Mpa e 250°C e (b) 500 kPa, (c) Determine também a
temperatura no estado final na parte (b).

3.2 CALOR
A definição termodinâmica de calor é um tanto diferente da interpretação comum
da palavra.
O calor é definido como sendo a forma de transferência de energia através da
fronteira de um sistema, numa dada temperatura, a um outro sistema (ou meio), que
apresenta uma temperatura inferior, em virtude da diferença entre as temperaturas dos
dois sistemas. Isto é, o calor é transferido do sistema com temperatura superior ao
sistema que apresenta temperatura inferior e a transferência de calor ocorre unicamente
devido à diferença entre as temperaturas dos dois sistemas. Figura 3.9: Mudanças de estado físico.
Considera-se positivo o calor transferido para um sistema e o calor transferido
de um sistema é considerado negativo. Assim, uma transferência de calor positiva
representa um aumento de energia no sistema e uma transferência negativa representa
uma diminuição de energia no sistema. O calor é representado pelo símbolo Q. Os
processos que não apresentam transferência de calor (Q = 0) são denominados
adiabáticos.

3.2.1 Unidades de quantidade de calor


Antes mesmo que o calor fosse reconhecido como forma de energia, as medidas
das quantidades de calor eram feitas através das variações de temperatura que os
corpos sofriam quando se lhes fornecia energia sob a forma de calor.
Assim, estabeleceu-se como unidade, a quantidade de calor, a caloria (cal). Figura 3.10: Zona de fusão.
Denomina-se caloria (cal) a quantidade de calor necessária para aumentar a
temperatura de 1 g de água de 14,5°C a 15,5°C, sob pressão atmosférica normal.
Nos sistema internacional de unidades, a unidade de quantidade de calor é joule
(J).
A relação entre a caloria e o joule é: Tabela 3.1: Calor latente de fusão de
1 cal = 4,184 J (Eq. 3.7) algumas substâncias (cal/g).
Substância cal/g
3.2.2 Calor Sensível e Calor Latente Água 80
O calor se divide em duas classes ou categorias, dependendo de qual dos dois Álcool 25
efeitos produz sobre o material que o absorve ou cede. Quando o calor absorvido ou Alumínio 95
cedido por um material causa ou acompanha uma mudança na temperatura deste, o Cloreto de sódio 124
calor transmito é denominado calor sensível, enquanto que a energia que causa ou Cobre 49
Chumbo 6
acompanha uma mudança de fase é conhecido como calor latente.
Mercúrio 2,7
A figura 3.9 apresenta as mudanças dos estados físicos da água e a indicação
Nitrogênio 6,1
de onde é compreendido o calor latente e sensível.
Capítulo 3 – Trabalho e Calor 23

A quantidade total de energia necessária para elevar a temperatura do sólido da


condição inicial de zero absoluto até a temperatura de fusão, é conhecida, como calor
sensível do sólido, podendo ser calculada mediante a aplicação da fórmula:
𝑄 = 𝑚 × 𝑐 × (𝑇2 − 𝑇1 ) (Eq. 3.8)

A quantidade de energia necessária para realizar a mudança de sólido para


líquido, pode ser calculada pela seguinte equação:
𝑄 = 𝑚 × 𝐿𝐹 (Eq. 3.9)
Onde:
Q = quantidade de energia térmica em calorias (cal);
m = massa em gramas (g);
LF = calor latente de fusão em caloria por grama (cal/g). A tabela 3.1 apresenta
o calor latente de fusão de algumas substâncias. Tabela 3.2: Calor latente de
vaporização de algumas
A quantidade total de energia cedida ao líquido para aumentar sua temperatura substâncias (cal/g).
desde a temperatura de fusão até a temperatura de vaporização é conhecida como Substância cal/g
calor sensível do líquido e pode ser calculada mediante a equação 3.8. Água 540
Álcool 204
A quantidade de energia necessária para vaporizar ou condensar uma dada
Hidrogênio 108
massa de fluido à temperatura de saturação pode ser determinada pela seguinte
Cobre 1288
equação:
Chumbo 209
Mercúrio 70
𝑄 = 𝑚 × 𝐿𝑉 (Eq. 3.10)
Nitrogênio 48
Onde:
Q = quantidade de energia térmica em calorias (cal);
m = massa em gramas (g);
LV = calor latente de vaporização em caloria por grama (cal/g). A tabela 3.2 Tabela 3.3: Calor específico de
apresenta o calor latente de vaporização de algumas substâncias. algumas substâncias.
Substância cal/g °C
Exemplo 5 Água 1,0
Um bloco de gelo de 50 g é tirado de um congelador a 0°C e colocado em um ambiente Etanol 0,581
a 25 °C. Vamos calcular a quantidade de energia que o corpo absorve até atingir o Mercúrio 0,033
equilíbrio térmico com o ambiente. Alumínio 0,214
Amônia (líquida) 1,125
3.2.3 Calor específico (c) Cobre 0,0921
Define-se o calor específico (c) como a quantidade de calor necessária para Cloreto de Sódio 0,204
elevar em 1°C, 1 g (uma grama) da substância. Por exemplo, o calor específico da água
é igual a 1,0 cal/g°C, significa que é necessário fornecer uma quantidade de calor de
1,0 cal para aquecer 1,0g de água de 1°C.
Quanto menor o calor específico de uma substância, mais facilmente ela pode
sofrer variações em sua temperatura. Na tabela 3.3 são apresentados valores de calor
específico de algumas substâncias.

3.2.4 Capacidade térmica de um corpo (C)


É o quociente entre a quantidade de calor Q recebido ou cedido por um corpo e
a correspondente variação de temperatura ΔT.
𝑄
𝐶= (𝑐𝑎𝑙/°𝐶) (Eq. 3.11)
∆𝑇
A capacidade térmica de um corpo representa a quantidade de calor necessária
para que a temperatura do corpo varie 1°C.
A capacidade térmica de uma grama de água é 1 cal/°C. Isto significa que para
elevar 1°C a temperatura de um 1 kg (1000 g) são necessárias 1000 calorias.

3.2.5 Cálculo da quantidade de calor


Da definição do calor específico, resulta que a quantidade de calor que se deve
adicionar ou retirar de uma dada massa de material para obter uma mudança específica
na sua temperatura, pode ser calculada mediante a seguinte equação:
𝑄 = 𝑚 × 𝑐 × (𝑇2 − 𝑇1 ) (Eq. 3.12)
24 Capítulo 3 – Trabalho e Calor.

Onde:
Q = quantidade de energia térmica em calorias (cal);
m = massa (g);
c = calor específico (cal/g°C);
T1 = temperatura inicial (°C ou K);
T2 = temperatura final (°C ou K, compatível com T1).

Exemplo 6
20 kg de água à temperatura inicial de 25 °C são aquecidas até que a temperatura seja
aumentada para 80°C. Calcular a quantidade de energia térmica cedida em kcal.

3.2.6 Modos de Transferência de Calor


Uma simples definição, mas geral, fornece uma resposta satisfatória para a
pergunta: O que é transferência de calor? Transferência de calor (ou calor) é energia
térmica em trânsito devido a uma diferença de temperaturas no espaço.
Sempre que houver uma diferença de temperatura em um meio ou entre meios, (a)
haverá, necessariamente, transferência de calor. Na figura 3.11 é apresenta os
diferentes tipos de processos de transferência de calor por modos.
O termo condução é utilizado quando existe um gradiente de temperatura em
um meio estacionário e sólido.
Já o termo convecção faz referência à transferência de calor que ocorrerá entre
uma superfície e um fluido em movimento quando eles estiverem a diferentes
temperaturas.
O terceiro modo, radiação térmica, consiste de ondas eletromagnéticas (b)
viajando com a velocidade da luz. Como a radiação é a única que pode ocorrer no
espaço vazio, esta é a principal forma pela qual o sistema Terra-Atmosfera recebe
energia do Sol e libera energia para o espaço.
A transmissão de calor realiza-se sempre da região de maior temperatura para
a região de menor temperatura (do corpo mais quente para o corpo mais frio) e nunca
na direção oposta. Posto que o calor é energia e, consequentemente, não é destruído
ou consumido em qualquer processo, a energia em forma de calor que deixa um corpo
deverá passar e ser absorvida por outro corpo cuja temperatura seja menor que a do (c)
corpo que está cedendo a energia. Figura 3.11: Modos de transferência
de calor.

EXERCÍCIOS
3.1 Em um processo à pressão constante de 2,0 x 105 N/m²,
um gás aumenta seu volume de 8 x 10-6 m³ para 13 x 10-6 m³. 3.5 Um arranjo pistão-cilindro que não sofre atrito inicialmente
Calcule o trabalho realizado pelo gás. contém 50 L de refrigerante 134a líquido saturado. O pistão
está livre para se mover e sua massa é tal que mantém uma
3.2 Uma massa de 5 kg de vapor de água saturado a 300 kPa pressão de 500 kPa sobre o refrigerante. O refrigerante é
é aquecida a uma pressão constante até que a temperatura então aquecido até que sua temperatura atinja 70°C. Calcule
atinja 200°C. Calcule o trabalho realizado pelo vapor durante o trabalho realizado durante esse processo.
esse processo.
3.6 Um cilindro hidráulico, com área da seção transversal
3.3 Um volume de 1 m³ de água líquida saturada a 200 °C é igual a 0,01 m², deve levantar uma massa de 1000 kg.
expandido isotermicamente em um sistema fechado até que Sabendo que o curso do movimento deve ser igual a 0,50 m,
seu título seja 80%. Determine o trabalho total produzido por determine a pressão interna necessária e o trabalho realizado
essa expansão, em kJ. no processo.

3.4 O volume de 1 kg de hélio em um arranjo pistão-cilindro é 3.7 Um conjunto pistão-cilindro opera a pressão constante e,
de 7 m³ inicialmente. O hélio começa então a ser comprimido inicialmente, contém 0,2 kg de vapor saturado de água a 400
até o volume de 3 m³, enquanto sua pressão é mantida kPa. O conjunto é resfriado até que o volume de água se torne
constante a 150 kPa. Determine a temperatura inicial e final igual a metade do inicial. Determine o trabalho realizado
do hélio, assim como o trabalho necessário para comprimi-lo, nesse processo.
em kJ.
Capítulo 3 – Trabalho e Calor 25

3.8 Um conjunto pistão-cilindro contém ar. Inicialmente, o ar


está a 600 kPa, 290 K e o volume ocupado pelo ar é 0,01 m³.
Um processo a pressão constante é realizado e detecta-se o
fornecimento de 54 kJ de trabalho. Determine o volume e a
temperatura no estado final desse processo.

3.9 Um conjunto pistão-cilindro sem atrito contém 5 kg de


vapor de refrigerante R-134a a 1000kPa e 140°C. O sistema
é resfriado a pressão constante, até que o refrigerante
apresente título igual a 25%. Calcular o trabalho realizado
durante esse processo.

3.10 A massa de 150 kg de água é elevada de 15°C para 85°C


mediante adição de calor. Qual a energia térmica cedida?

3.11 Dois metros cúbicos de água por segundo são resfriados


de 30°C para 2°C. Calcular a taxa de transmissão de calor em
joules por segundo (watt).

3.12 Qual a taxa de resfriamento em quilocaloria por segundo


produzida pela fusão de gelo à taxa de 12,36 kg/s?

3.13 Determinar a quantidade de calor (kcal) necessária para


vaporizar 50 kg de água à temperatura de saturação de 100°C.

3.14 A vinte quilogramas de água a 65°C são cedidas 1195 kcal


de energia térmica. Qual a massa de água que será
vaporizada?

3.15 Uma amostra de um litro de água na fase líquida tem


temperatura de 0°C. Calcule a quantidade de energia
necessária para elevar a temperatura dessa amostra de água
até que ela atinja 200°C.

3.16 O gráfico mostrado abaixo representa a temperatura de


uma amostra de certa substância, inicialmente na fase sólida,
em função da quantidade de energia absorvida. (a) Identifique
a temperatura de fusão da substância. (b) Sabendo que a
amostra tem massa de 20g, calcule o calor latente de fusão da
substância.
Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica 26

Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica


A primeira lei da termodinâmica, também conhecida como princípio de conservação da energia, oferece uma base
sólida para o estudo das relações entre as diversas formas de energia e interações de energia. Com base em observações
experimentais, a primeira lei da termodinâmica enuncia que energia não pode ser criada nem destruída durante um processo;
ela pode apenas mudas de forma. Cada parcela de energia deve ser contabilizada durante um processo.

4.1 Formas de Energia


A energia pode existir em inúmeras formas; ela pode ser térmica, mecânica, cinética, potencial, elétrica, magnética,
química e nuclear, e a soma delas constitui a energia total E de um sistema. A energia total de um sistema com base em
uma unidade de massa é indicada por e. Ela pode ser expressa como:

𝐸 (Eq. 4.1)
𝑒= (𝑘𝐽/𝑘𝑔)
𝑚
A termodinâmica nada afirma sobre o valor absoluto de energia total. Ela trata apenas da variação da energia total.
Assim, é possível atribuir um valor zero (E=0) à energia total de um sistema em algum ponto de referência conveniente. A
variação da energia total de um sistema não depende do ponto de referência escolhido. A diminuição da energia potencial
de uma pedra em queda livre, por exemplo, só depende da diferença de altura, e não do referencial escolhido.
Em uma análise termodinâmica, normalmente é útil considerar as diversas
formas de energia que constituem a energia total de um sistema em dois grupos:
macroscópico e microscópico. As formas macroscópicas de energia são aquelas
que um sistema possui como um todo, em relação a algum referencial externo,
como as energias cinética e potencial, mostrado na figura 4.1. As formas
microscópicas de energia são aquelas relacionadas à estrutura molecular de um
sistema e ao grau de atividade molecular e são independentes de referenciais Figura 4.1: A energia macroscópica de
externos. A soma de todas as formas microscópicas de energia é chamada de um objeto muda com a velocidade e a
energia interna de um sistema e é indicado por U. altura.
A energia macroscópica de um sistema está relacionada ao movimento e à influência de alguns efeitos externos como
gravidade, magnetismo, eletricidade e tensão superficial. A energia que um sistema possui como resultado de seu movimento
relativo a algum referencial é chamada de energia cinética (EC). Quando todas as partes de um sistema se movem com a
mesma velocidade, a energia cinética é expressa como:
𝑉2
𝐸𝐶 = 𝑚 (𝑘𝐽) (Eq. 4.2)
2
Ou, por unidade de massa
𝑉2
𝑒𝑐 = (𝑘𝐽/𝑘𝑔)
2

Onde V indica a velocidade do sistema com relação a um referencial fixo.


A energia que um sistema possui como resultado de seu altura em um campo gravitacional é chamado de energia
potencial (EP), e é expressa como:

𝐸𝑃 = 𝑚𝑔𝑧 (𝑘𝐽) (Eq. 4.3)

Ou, por unidade de massa


𝑒𝑝 = 𝑔𝑧 (𝑘𝐽/𝑘𝑔)

Onde g é a aceleração da gravidade (9,81 m/s²) e z é a elevação do centro de gravidade do sistema com relação a
algum nível de referência escolhido arbitrariamente.
Os efeitos magnéticos, elétricos e de tensão superficial são significativos apenas em alguns casos específicos e,
geralmente, ignorados. Na falta de tais efeitos, a energia total de um sistema consiste nas energias cinética, potencial e
interna, e é expressa como:
𝑉2
𝐸 = 𝑈 + 𝐸𝐶 + 𝐸𝑃 = 𝑈 + 𝑚 + 𝑚𝑔𝑧 (𝑘𝐽) (Eq. 4.4)
2
Ou por unidade de massa:
𝑉2
𝑒 = 𝑢 + 𝑒𝑐 + 𝑒𝑝 = 𝑢 + + 𝑔𝑧 (𝑘𝐽/𝑘𝑔)
2
Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica 27
A maioria dos sistemas fechados permanece estacionário durante um processo e, assim, não sofre nenhuma variação
em suas energias cinética e potencial. Os sistemas fechados cuja velocidade e posição do centro da gravidade permanecem
constantes durante um processo são chamados de sistemas estacionários.
A variação da energia total ΔE de um sistema estacionário é idêntica à variação de sua energia interna ΔU.

4.2 Balanço de Energia


De acordo com as discussões anteriores, o princípio de conservação da energia
pode ser expresso da seguinte maneira: A variação líquida (aumento ou diminuição) da
energia total do sistema durante um processo é igual à diferença entre a energia total
que entra e a energia total que sai do sistema durante esse processo. Ou seja,

𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒


( )−( )=( )
𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑠𝑎𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎

Ou,
𝐸𝐸𝑁𝑇 − 𝐸𝑆𝐴𝐼 = ∆𝐸𝑆𝐼𝑆𝑇𝐸𝑀𝐴 (Eq. 4.7)

Essa relação é chamada de balanço de energia e se aplica a todo tipo de


sistema passando por qualquer tipo de processo.

4.3.1 Variação da Energia de um sistema (∆𝐸𝑆𝐼𝑆𝑇𝐸𝑀𝐴 )


A determinação da variação da energia de um sistema durante um processo Figura 4.3: Para sistemas
compreende a avaliação da energia do sistema no início e no final do processo, e o estacionários.
cálculo da diferença entre elas. Ou seja,

Variação da energia = Energia no estado final – Energia no estado inicial


Ou
∆𝐸𝑆𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 = 𝐸𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝐸𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝐸2 − 𝐸1 (Eq. 4.8)

Observe que a energia é uma propriedade, e que o valor de uma propriedade


não varia, a menos que o estado do sistema mude. Assim, a variação de energia de um
sistema é zero se o estado do sistema não mudar durante o processo. Da mesma Figura 4.4: A quantidade de
maneira, a energia pode existir em inúmeras formas como interna (sensível, latente, energia de um volume de controle
química e nuclear), cinética, potencial, elétrica e magnética, e sua soma constitui a pode ser modificada por um fluxo
energia total E de um sistema. Na ausência de efeitos de natureza elétrica, magnética de massa, e também por meio de
e de tensão superficial (por exemplo, nos sistemas compressíveis simples), a variação interações de calor e de trabalho
de energia total de um sistema durante um processo é a soma das variações de suas
energias interna, cinética e potencial, e pode ser expressa como:

∆𝐸 = ∆𝑈 + ∆𝐸𝐶 + ∆𝐸𝑃 (Eq. 4.9)


Onde
∆𝑈 = 𝑚(𝑢2 − 𝑢1 )
1
∆𝐸𝐶 = 𝑚(𝑉22 − 𝑉12 )
2
∆𝐸𝑃 = 𝑚𝑔(𝑧2 − 𝑧1 )

Quando os estados inicial e final são conhecidos, os valores das energias


internas específicas u1 e u2 podem ser determinados diretamente por meio de tabelas
de propriedades ou de relações entre propriedades termodinâmicas.
A maioria dos sistemas encontrados na prática são estacionários, ou seja, eles
não sofrem qualquer variação de velocidade ou de altura durante um processo (figura
4.3). Portanto, nos sistemas estacionários, as variações das energia cinética e
potencial são nulas e equação para variação da energia total, equação 4.9, se reduz a
∆𝐸 = ∆𝑈 para tais sistemas.
28 Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica
4.3.2 Mecanismos de transferência de energia
A energia pode ser transferida para ou de um sistema sob três formas: calor, trabalho e fluxo de massa. As interações
de energia são identificadas quando atravessam a fronteira de um sistema e representam a energia ganha ou perdida por
um sistema durante um processo. As duas únicas formas de interações de energia associadas a uma massa fixa ou aos
sistemas fechados são a transferência de calor e a realização de trabalho (figura 4.4).
Assim a primeira lei da termodinâmica pode ser escrita:
𝑄 − 𝜏 = ∆𝑈 + ∆𝐸𝐶 + ∆𝐸𝑃

Exemplo 1
Um tanque rígido contém um fluido quente que é resfriado enquanto é agitado por uma
hélice. Inicialmente, a energia interna do fluido é de 800 kJ. Durante o processo de
resfriamento, o fluido perde 500 kJ de calor, e a hélice realiza 100 kJ de trabalho no
fluido. Determine a energia interna final do fluido. Despreze a energia armazenada na
hélice.
Figura 4.5: Esquema para o
exemplo 1.
4.3 Energia Interna – Uma propriedade Termodinâmica
A energia interna é uma propriedade extensiva, visto que ela depende da massa do sistema. As energias cinética e
potencial, pelo mesmo motivo, também são propriedades extensivas.
O símbolo U designa a energia interna de uma dada massa de uma substância. Segundo a convenção usada para as
outras propriedades extensivas, o símbolo u designa a energia interna por unidade de massa. Pode-se dizer que u é a energia
interna especifica, conforme fizemos no caso do volume específico. Contudo, como o contexto usualmente esclarecerá,
quando nos referirmos a u (energia interna especifica) ou a U (energia interna total) usaremos simplesmente a expressão
energia interna.
É muito expressivo que, apesar destas limitações, a energia interna é uma das propriedades independentes de uma
substância pura. Isso significa, por exemplo, que se especificarmos a pressão e a energia interna (com referência a uma
base arbitrária) do vapor superaquecido, a temperatura também estará determinada.
Assim, numa tabela de propriedades termodinâmicas, como as tabelas de vapor de água, os valores de energia interna
podem ser tabelados juntamente com as outras propriedades termodinâmicas. Observe que estas tabelas apresentaram os
valores da energia interna do líquido saturado (ul), da energia interna do vapor saturado (uv) e da diferença entre as energias
internas do líquido saturado e do vapor saturado (ulv). A energia interna de uma mistura líquido-vapor saturados, com um
dado título, é calculada do mesmo modo que o utilizado para o volume especifico, ou seja:

𝑈 = 𝑈𝑙𝑖𝑞 + 𝑈𝑣𝑎𝑝 𝑜𝑢 𝑚𝑢 = 𝑚𝑙𝑖𝑔 𝑢𝑙 + 𝑚𝑣𝑎𝑝 𝑢𝑣

Dividindo por m e introduzindo o título x, temos:


𝑢 = 𝑢𝑙 + 𝑥𝑢𝑙𝑣

Exemplo 2
Determine, para a água e nos estados indicados, as propriedades que faltam (P, T, x e v):
a) T=300°C, u = 2780 kJ/kg
b) P=2000 kPa, u =2000 kJ/kg

Exemplo 3
Um recipiente rígido, com volume de 5 m³, contém 0,05m³ de água líquida saturada e 4,95 m³ de água no estado de vapor
saturado a pressão de 0,1 MPa. Calor é transferido à água até que o recipiente contenha apenas vapor saturado. Determinar
o calor transferido nesse processo.
Capítulo 4 – Primeira Lei da Termodinâmica 29
Exercícios

4.1 Calcule a energia cinética total, em kJ, de um objeto cuja massa é de 100 kg e cuja velocidade é de 20 m/s.

4.2 Calcule a energia potencial total, em kJ, de um objeto de massa 20 kg, considerando que ele está localizado 20 m abaixo
de um nível de referência em um local onde g = 9,5 m/s².

4.3 Um sistema fechado adiabático é elevado em 100 m em um local onde a aceleração da gravidade é de 9,8 m/s². Determine
a variação da energia desse sistema, em kJ/kg.

4.4 Um sistema fechado adiabático é acelerado a partir de 0 m/s até 30 m/s. Determine a variação da energia específica
desse sistema, em kJ/kg.

4.5 Um cilindro provido de pistão contém 0,5 kg de vapor d’água a 0,4 MPa e apresenta inicialmente um volume de 0,1 m³.
Transfere-se calor ao vapor até que a temperatura atinja 300°C, enquanto a pressão permanece constante. Determine o
calor transferido e o trabalho realizado nesse processo.

4.6 Considere 2 kg de água como sistema. Inicialmente, a temperatura e o título são iguais a 120°C e 0,25. A temperatura
da água é aumentada 20°C num processo isocórico. Determine o título e a energia interna específica no estado final deste
processo. Depois faça os diagramas P-v e T-v.

4.7 Um vaso rígido contém 0,75 kg de água. Inicialmente, a temperatura e a pressão são iguais a 300°C e 1200 kPa. A água
é então resfriada até que a pressão atinja 300 kPa. Determine a temperatura no estado final do processo, o trabalho realizado
e o calor transferido no processo descrito. Faça o diagrama P-v.

4.8 Considere 2 kg de água como sistema. Inicialmente, a temperatura e o título são iguais a 120°C e 0,25. A temperatura
da água é aumentada 20°C num processo isobárico. Determine a variação de entalpia detectada neste processo. Depois
faça os diagramas P-v e T-v.
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 30

Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor


5.1 Relação entre a transferência de calor e a termodinâmica
A Termodinâmica trata da relação entre o calor e as outras formas de energia. A energia pode ser transferida através
de interações entre o sistema e suas vizinhanças. Estas interações são denominadas calor e trabalho.
A 1ª Lei da Termodinâmica governa quantitativamente estas interações: "A variação líquida de energia de um sistema
é sempre igual a transferência líquida de energia na forma de calor e trabalho".
∆𝐸 = 𝑄 − 𝑊 ∆𝐸 = ∆𝐸𝐶 + ∆𝐸𝑃 + ∆𝑈 Eq. 5.1
A 2ª Lei da Termodinâmica aponta a direção destas interações: "É impossível o processo cujo único resultado seja a
transferência líquida de calor de um região fria para uma região quente", ou seja, a transferência de calor sempre ocorrerá
da região mais quente para a mais fria.
Porém existe uma diferença fundamental entre a transferência de calor e a termodinâmica.
Embora a termodinâmica trate das interações do calor e o papel que ele desempenha na primeira e na segunda leis,
ela não leva em conta nem o mecanismo de transferência nem os métodos de cálculo da taxa de transferência de calor.
A termodinâmica trata com estados de equilíbrio da matéria onde inexiste gradientes de temperatura. Embora a
termodinâmica possa ser usada para determinar a quantidade de energia requerida na forma de calor para um sistema passar
de um estado de equilíbrio para outro, ela não pode quantificar a taxa (velocidade) na qual a transferência do calor ocorre.

5.2 Mecanismos de Transferência de Calor


Uma simples definição, mas geral, fornece uma resposta satisfatória para a
pergunta: Transferência de calor (ou calor) é energia térmica em trânsito devido a uma
diferença de temperaturas no espaço.
Sempre que houver uma diferença de temperatura em um meio ou entre meios,
haverá, necessariamente, transferência de calor. Os diferentes processos de transferência
de calor são referidos como mecanismos de transferência de calor. Existem três Figura 5.1: Transferência de calor
mecanismos, que podem ser reconhecidos assim: por condução através de um
sólido.
• Quando a transferência de energia ocorrer em um meio estacionário, que pode
ser um sólido ou um fluido, em virtude de um gradiente de temperatura, utiliza-se o termo
transferência de calor por condução. A figura 5.1 ilustra a transferência de calor por
condução através de uma parede sólida submetida à uma diferença de temperatura entre 𝑇∞
Fluido em movimento
suas faces.
• Quando a transferência de energia ocorrer entre uma superfície e um fluido em
movimento em virtude da diferença de temperatura entre eles, utiliza-se o termo
transferência de calor por convecção. A figura 5.2 ilustra a transferência de calor por
convecção quando um fluido escoa sobre uma aquecida.
• Quando, na ausência de um meio interveniente, existe uma troca líquida de
energia (emitida na forma de ondas eletromagnéticas) entre duas superfícies a diferentes Figura 5.2: Transferência de calor
temperaturas, utiliza-se o termo transferência de calor por radiação. A figura 5.3 por convecção entre uma
apresenta a transferência de calor por radiação entre duas superfícies a diferentes superfície aquecida e um fluido
em movimento.
temperaturas.

5.3 Condução
A condução pode ser definida como o processo pelo qual a energia é transferida de
uma região de alta temperatura para outra de temperatura mais baixa dentro de um meio
(sólido, líquido ou gasoso) ou entre meios diferentes em contato direto.
Este mecanismo pode ser visualizado como a transferência de energia de partículas
mais energéticas para partículas menos energéticas de uma substância devido a interações
entre elas.
O mecanismo da condução pode ser mais facilmente entendido considerando, como
exemplo, um gás submetido a uma diferença de temperatura. A figura 5.4 mostra um gás Figura 5.3: Transferência de calor
entre duas placas a diferentes temperaturas. por radiação entre duas
superfícies.
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 31

(1)

(X)

Figura 5.4: Associação da transferência de calor por


condução à difusão de energia devido à atividade
(2) molecular.

1. O gás ocupa o espaço entre duas superfícies (1) e (2) mantidas a diferentes temperaturas de modo que T1 > T2
(o gás não tem movimento macroscópico, ou seja, ele é considerado um fluido estacionário);
2. Como altas temperaturas estão associadas com energias moleculares mais elevadas, as moléculas próximas à
superfície são mais energéticas (movimentam-se mais rápido);
3. O plano hipotético X é constantemente atravessado por moléculas de cima e de baixo. Entretanto, as moléculas
de cima estão associadas com mais energia que as de baixo.
Portanto existe uma transferência líquida de energia de (1) para (2) por condução. Para os líquidos o processo é
basicamente o mesmo, embora as moléculas estejam menos espaçadas e as interações sejam mais fortes e mais frequentes.

5.3.1 Condução de Calor Unidimensional


No tratamento unidimensional a temperatura é função de apenas
uma coordenada. Este tipo de tratamento pode ser aplicado em muitos dos
problemas industriais.
Para quantificar o processo de transferência de calor utiliza-se a lei
de Fourier.
A lei de Fourier é fenomenológica, ou seja, foi desenvolvida a partir
da observação dos fenômenos da natureza em experimentos. Na figura 5.5
é mostrado um experimento onde o fluxo de calor resultante é medido após Figura 5.5: Experimento de condução térmica em
regime estacionário.
a variação das condições experimentais.
Considere que a transferência de calor através de uma barra de ferro com uma das extremidades aquecidas e com a
área lateral isolada termicamente, como mostra a figura 5.5. Com base em experiências, variando a área da seção da barra,
a diferença de temperatura e a distância entre as extremidades, chega-se a seguinte relação: A taxa de transferência de
calor por condução é proporcional a multiplicação da área da seção pela diferença de temperatura, dividida pela espessura
do material. Essa proporcionalidade é mostrada na equação 5.2:
∆𝑇
𝑞𝑥 ∝ 𝐴 Eq. 5.2
∆𝑥
A proporcionalidade pode ser convertida para igualdade através de um coeficiente de proporcionalidade e a Lei de
Fourier pode ser enunciada assim:
∆𝑇
𝑞𝑥 = 𝑘𝐴 Eq. 5.3
∆𝑥
Onde:
𝑞𝑥 – taxa de transferência de calor por condução (W);
k – condutividade térmica do material (W/m.K);
A – área da seção através da qual o calor flui por condução, medida perpendicularmente à direção do fluxo (m²);
∆𝑇 – diferença de temperatura, ∆𝑇 = 𝑇2 − 𝑇1 (K);
∆𝑥 – espessura do material (m).

Para a condução térmica, a equação da taxa é conhecida como lei de Fourier. Para uma parede plana unidimensional,
mostrada na figura 5.6, a equação da fluxo térmico é representada na forma:
∆𝑇 Eq. 5.4
𝑞"𝑥 = −𝑘
∆𝑥
O fluxo térmico q”x (W/m²) é a taxa de transferência de calor na direção x por unidade de área perpendicular à direção
da transferência e ele é proporcional ao gradiente de temperatura, ΔT/Δx, nesta direção.
O sinal negativo é uma consequência do fato do calor ser transferido na direção da temperatura decrescente.
32 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.

Nas condições de estado estacionário mostradas na


figura 5.6, com a distribuição de temperaturas linear, o
gradiente de temperatura pode ser representado como:

∆𝑇 𝑇2 − 𝑇1
= Eq. 5.5
∆𝑥 𝐿

Com isso, o fluxo térmico pode ser escrito na forma:


𝑇1 − 𝑇2 ∆𝑇 Eq. 5.6
𝑞"𝑥 = 𝑘 =𝑘
Figura 5.6: Transferência de calor unidimensional por condução. 𝐿 𝐿

A taxa de transferência de calor por condução, qx (W), é dada através da simples multiplicação da área da parede
plana pelo fluxo térmico por condução, ou seja:
𝑞𝑥 = 𝑞"𝑥 × 𝐴 Eq. 5.7

Os valores numéricos de k variam em extensa faixa dependendo da constituição química, estado físico e temperatura
dos materiais. Quando o valor de k é elevado o material é considerado condutor térmico e, caso contrário, isolante térmico.
A tabela 5.1 apresenta os valores de condutividade térmica (k) para alguns materiais.

Tabela 5.1: Condutividade Térmica de materiais comuns.


Condutividade
Material
Térmica k (W/mK)
Vidro 1,4
Papel 0,180
Parafina 0,240
Granito 2,79
Borracha 0,13
Teflon 0,35
Madeira 0,14

Exemplo 1: A parede de um forno industrial é construída em tijolo refratário com 0,15 m de espessura, cuja condutividade
térmica é de 1,7 W/(m.K). Medidas efetuadas ao longo da operação em regime estacionário revelam temperaturas de 1400
e 1150 K nas paredes interna e externa, respectivamente. Qual o valor do fluxo de calor por condução? E a taxa de calor
perdida se esta parede possui as seguintes dimensões 0,5 m por 1,2 m?
Exemplo 2: O fluxo térmico através de uma lâmina de madeira, com espessura de 50 mm, cujas temperaturas das superfícies
são de 40 e 20°C, foi determinado como de a 40 W/m². Qual é a condutividade térmica dessa madeira?

Exemplo 3: As temperaturas interna e externa de uma janela de vidro com 5 mm de espessura são de 15 e 5°C. Qual é a
perda de calor através da janela com dimensões de 1 m por 3 m? A condutividade térmica do vidro é de 1,4 W/(mK).

Exemplo 4: Uma câmara de congelador é um espaço cúbico de lado igual a 2 m. Considere que a sua base seja
perfeitamente isolada. Qual é a espessura mínima de um isolamento à base de espuma de estireno (k = 0,030W(mK)) que
deve ser usada no topo e nas paredes laterais para garantir uma carga térmica menor do que 500 W, quando as superfícies
interna e externa estiverem a -10 e 35°C?
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 33
5.4 Convecção
A convecção pode ser definida como o processo pelo
qual energia é transferida das porções quentes para as porções
frias de um fluido através da ação combinada de: condução de
calor, armazenamento de energia e movimento de mistura.
O mecanismo da convecção pode ser mais facilmente entendido
considerando, por exemplo, um circuito impresso (chip) sendo
refrigerado (ar ventilado), como mostra a figura 5.7. Figura 5.7: Transferência de calor entre a superfície do chip
quente e o ar ventilado.
1. A velocidade da camada de ar próxima à superfície é
muito baixa em razão das forças viscosas (atrito).
2. Nesta região o calor é transferido por condução. Ocorre portanto um armazenamento de energia pelas partículas
presentes nesta região.
3. Na medida que estas partículas passam para a região de alta velocidade, elas são carregadas pelo fluxo
transferindo calor para as partículas mais frias.

No caso acima dizemos que a convecção foi forçada, pois o movimento de mistura foi induzido por um agente externo,
no caso um ventilador.
Suponhamos que o ventilador seja retirado. Neste
caso, as partículas que estão próximas à superfície Escoamento devido às
Componentes quentes forças de empuxo
continuam recebendo calor por condução e armazenando a
sobre placas de circuitos
energia. Estas partículas tem sua temperatura elevada e,
portanto a densidade reduzida. Já que são mais leves elas
sobem trocando calor com as partículas mais frias (e mais
pesadas) que descem. Neste caso dizemos que a convecção
é natural (é óbvio que no primeiro caso a quantidade de
calor transferido é maior). A figura 5.8 apresenta um exemplo
de convecção natural.
Um exemplo bastante conhecido de convecção
natural é o aquecimento de água em uma panela doméstica.
Para este caso, o movimento das moléculas de água pode Figura 5.8: Transferência de calor por convecção natural.
ser observado visualmente.
O modo de transferência de calor por convecção abrange dois mecanismos: movimento molecular aleatório (difusão)
e o movimento global do fluido. Este movimento do fluido está associado ao fato de que, em um instante qualquer, um
grande número de moléculas está se movendo coletivamente ou como agregado. Tal movimento, na presença de um
gradiente de temperatura, contribui para a transferência de calor.
Considere o escoamento de um fluido sobre a superfície aquecida da figura 5.9.

Distribuição da Distribuição da
velocidade u(y) temperatura T(y)

Superfície
aquecida
Figura 5.9: Desenvolvimento da camada limite na transferência de calor por convecção.

Uma consequência da interação entre o fluido e a superfície é o desenvolvimento de uma região no fluido através da
qual a sua velocidade varia entre zero, no contato com a superfície (y=0), e um valor infinito 𝑢∞ , associado ao escoamento
do fluido. Essa região do fluido é conhecida por camada limite hidrodinâmica ou de velocidade.
34 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
Além disso, se as temperaturas da superfície e do fluido forem diferentes, existirá uma região no fluido através da qual
a temperatura variará de TS, em y=0, até T, associada à região do escoamento afastada da superfície.
Se TS > T, transferência de calor por convecção se dará da superfície para o fluido em escoamento.
A transferência de calor por convecção pode ser classificada de acordo com a natureza do escoamento do fluido.

⎯ Convecção forçada: quando o escoamento é causado por meios externos, tais como: um ventilador, uma
bomba, ou ventos atmosféricos;
⎯ Convecção natural (livre): o escoamento é induzido por forças de empuxo, que são originadas a partir de
diferença de densidades (massas especificas) causadas por variações de temperatura no fluido.

A figura 5.10 ilustra esta classificação.


Escoamento devido às
forças de empuxo
Escoamento forçado

Componentes
quentes sobre placas
de circuitos
impressos

Figura 5.10: Processos de transferência de calor por convecção: (a) convecção forçada, (b) convecção natural.

Foi descrito o modo de transferência de calor por convecção como a transferência de energia ocorrendo no interior
de um fluido devido aos efeitos combinados da condução e do escoamento global do fluido. A energia que está sendo
transferida é a energia sensível, ou térmica interna, do fluido. Contudo, há processos de convecção nos quais existe também
a troca de calor latente. Essa troca de calor latente é geralmente associada a uma mudança de fase entre os estados líquidos
e vapor do fluido. Dois casos particulares de interesse são a ebulição e a condensação.
Por exemplo, na figura 5.11 (a) mostra a transferência de calor por convecção resultante da movimentação do fluido
induzida por bolhas de vapor geradas no fundo de uma panela contendo água em ebulição. Outro exemplo, é a condensação
de vapor d’água na superfície externa de uma tubulação por onde escoa água fria, figura 5.11 (b).

Gotas de
Ar úmido água

Água Fria
Bolhas
de vapor Água

Placa quente

Figura 5.11:(a) Ebulição e (b) Condensação.

Independentemente da natureza específica do processo de transferência de calor por convecção, a equação


apropriada para a taxa de transferência possui a forma:

𝑞" = ℎ(𝑇𝑆 − 𝑇∞ ) Eq. 5.8

Onde q”, o fluxo de calor por convecção (W/m²), é proporcional à diferença entre as temperaturas da superfície e do
fluido, TS e T, respectivamente. Essa expressão é conhecida como a lei do resfriamento de Newton, e o parâmetro h
(W/(m².K)) é chamado de coeficiente de transferência de calor por convecção.
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 35
Quando a equação 5.8 é usada, o fluxo de calor por convecção é considerado positivo se o calor é transferido a partir
da superfície (TS > T) e negativo se o calor é transferido para a superfície (T>TS). Contudo, se T>TS, não existe nada
que impeça a representação da lei de resfriamento de Newton por:

𝑞" = ℎ(𝑇∞ − 𝑇𝑆 ) Eq. 5.9

A tabela 5.2 são apresentados alguns valores para o coeficiente de transferência de calor por convecção.

Tabela 5.2: Valores típicos do coeficiente de transferência de calor por convecção.


h
Processo
(W/(m².K))
Convecção natural
Gases 2-25
Líquidos 50-1000
Convecção forçada
Gases 25-250
Líquidos 100-20.000

Exemplo 5: Você vivenciou um resfriamento por convecção se alguma vez estendeu sua mão para fora da janela de um
veículo em movimento ou a imergiu em uma corrente de água. Com a superfície de sua mão a uma temperatura de 30°C,
determine o fluxo de calor por convecção para (a) uma velocidade do veículo de 35 km/h no ar a -5°C, com um coeficiente
convectivo de 40 W/(m².K), e para (b) uma corrente de água com velocidade de 0,2 m/s, temperatura de 10°C e coeficiente
convectivo de 900 W/(m²K).

Exemplo 6: Um aquecedor elétrico encontra-se no interior de um longo cilindro de diâmetro igual a 30 mm. Quando água, a
uma temperatura de 25°C e velocidade de 1 m/s, escoa perpendicularmente ao cilindro, a potência por unidade de
comprimento necessária para manter a superfície do cilindro a uma temperatura uniforme de 90°C é de 28 kW/m. Quando
ar, também a 25°C, mas a uma velocidade de 10 m/s está escoando, a potência por unidade de comprimento necessária
para manter a mesma temperatura superficial é de 400 W/m. Calcule e compare os coeficientes de transferência de calor por
convecção para os escoamentos da água e do ar.
36 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
5.5 Radiação
A radiação pode ser definida como o processo pelo qual calor é transferido de um superfície em alta temperatura para
um superfície em temperatura mais baixa quando tais superfícies estão separados no espaço, ainda que exista vácuo entre
elas. A energia assim transferida é chamada radiação térmica e é feita sob a forma de ondas eletromagnéticas.
O exemplo mais evidente que podemos dar é o próprio calor que recebemos do sol. Neste caso, mesmo havendo
vácuo entre a superfície do sol (cuja temperatura é aproximadamente 5.500 °C) e a superfície da terra, a vida na terra
depende desta energia recebida. Esta energia chega até nós na forma de ondas eletromagnéticas. As ondas
eletromagnéticas são comuns a muitos outros fenômenos: raio-X, ondas de rádio e TV, micro-ondas e outros tipos de
radiações.
As emissões de ondas eletromagnéticas podem ser atribuídas a variações das configurações eletrônicas dos
constituintes de átomos e moléculas, e ocorrem devido a vários fenômenos, porém, para a transferência de calor interessa
apenas as ondas eletromagnéticas resultantes de uma diferença de temperatura (radiações térmicas). As suas características
são:
• Todos corpos em temperatura acima do zero absoluto emitem continuamente radiação térmica;
• As intensidades das emissões dependem somente da temperatura e da natureza da superfície emitente;
• A radiação térmica viaja na velocidade da luz (300.000 km/s).
Considere os processos de transferência de calor por radiação na superfície na figura 5.12(a). A radiação que é
emitida pela superfície tem sua origem na energia térmica da matéria delimitada pela superfície e a taxa na qual a energia
é liberada por unidade de área (W/m²) é conhecido como poder emissivo, E, da superfície. Há um limite superior para o poder
emissivo, que é determinado pela lei de Stefan-Boltzmann:

𝐸𝑏 = 𝜎 × 𝑇𝑆4 Eq. 5.10

na qual TS é a temperatura absoluta (K) da superfície e 𝜎 é a constante de Stefan-Boltzmann (5,67 x 10-8 W/(m²K)). Tal
superfície é chamada um radiador ideal ou corpo negro.
O fluxo térmico emitido por uma superfície real é menor do que aquele emitido por um corpo negro à mesma
temperatura e é dado por:
𝐸 = 𝜀 × 𝜎 × 𝑇𝑆4 Eq. 5.11

em que 𝜀 é uma propriedade radiante da superfície conhecida por emissividade. Com valores na faixa de 0 ≤ 𝜀 ≤ 1, essa
propriedade fornece uma medida da eficiência na qual uma superfície emite energia em relação ao corpo negro. Ela depende
fortemente do material da superfície e de seu acabamento.
Radiação pode também incidir sobre uma superfície a partir de sua vizinhança. A radiação pode ser oriunda de uma
fonte especial, como o sol, ou de outras superfícies às quais a superfície de interesse esteja exposta. Independentemente
da(s) fonte(s), designamos as taxas nas quais todas essas radiações incidem sobre uma área unitária da superfície por
irradiação, G.
Uma porção, ou toda a irradiação, pode ser absorvida pela superfície, aumentando dessa maneira a energia térmica
do material. A taxa na qual a energia radiante é absorvida, por unidade de área da superfície, pode ser calculada com o
conhecimento de uma propriedade radiante da superfície conhecida por absortividade, G. Ou seja,

𝐺𝑎𝑏𝑠 = 𝛼 × 𝐺 Eq. 5.12

em que 0 ≤ 𝛼 ≤ 1. Se 𝛼<1 e a superfície é opaca, porções de irradiação são refletidas. Se a superfície é semitransparente,
porções da irradiação podem também ser transmitidas.
Se a superfície for considerada uma para a qual 𝛼 = 𝜀 (uma superfície cinza), a taxa líquida de transferência de calor
por radiação saindo da superfície, expressa por unidade de área da superfície, é:
𝑞
"
𝑞𝑟𝑎𝑑 = = 𝜀𝜎(𝑇𝑆4 − 𝑇𝑉𝐼𝑍4
) Eq. 5.13
𝐴
Essa expressão fornece a diferença entre a energia térmica que é liberada devido à emissão de radiação e aquela
ganha devido à absorção de radiação.
Em muitas aplicações é conveniente expressar a troca líquida de calor por radiação na forma:

𝑞𝑟𝑎𝑑 = ℎ𝑟 𝐴(𝑇𝑆 − 𝑇𝑉𝐼𝑍 ) Eq. 5.14

na qual o coeficiente de transferência de calor por radiação hr é:

ℎ𝑟 ≡ 𝜀𝜎(𝑇𝑆 + 𝑇𝑉𝐼𝑍 )(𝑇𝑆2 + 𝑇𝑉𝐼𝑍


2
) Eq. 5.15
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 37
As superfícies da figura 5.12 podem também, simultaneamente, transferir calor por convecção para um gás
adjacentes. Para as condições da figura 5.12(b), a taxa total de transferência de calor saindo da superfície é, então:

𝑞 = 𝑞𝑐𝑜𝑛𝑣 + 𝑞𝑟𝑎𝑑 = ℎ𝐴(𝑇𝑠 − 𝑇∞ ) + 𝜀𝐴𝜎(𝑇𝑆4 − 𝑇𝑉𝐼𝑍


4
) Eq. 5.16

Figura 5.12: Troca por radiação: (a) em um superfície e (b) entre uma superfície e uma grande vizinhança.

Exemplo 7: Uma tubulação de vapor d’água sem isolamento térmico atravessa uma sala na qual o ar e as paredes se
encontram a 25°C. O diâmetro externo do tubo é de 70 mm, a temperatura de sua superfície é de 200°C e esta superfície
tem emissividade igual a 0,8. Quais são o poder emissivo da superfície e a sua irradiação? Sendo o coeficiente associado à
transferência de calor por convecção natural da superfície para o ar igual a 15 W/m²K, qual é a taxa de calor perdida pela
superfície por unidade de comprimento do tubo (q’)?

5.6 Mecanismos Combinados


Na maioria das situações práticas ocorrem ao mesmo tempo dois ou mais mecanismos de transferência de calor
atuando ao mesmo tempo. Nos problemas ligados a indústria, quando um dos mecanismos domina quantitativamente,
soluções aproximadas podem ser obtidas desprezando-se todos, exceto o mecanismo dominante. Entretanto, deve ficar
entendido que variações nas condições do problema podem fazer com que um mecanismo desprezado se torne importante.
Como exemplo de um sistema onde ocorrem ao mesmo tempo vários mecanismo de transferência de calor
consideremos uma garrafa térmica. Este recipiente fechado está cheio com café quente. Neste caso, podemos ter a atuação
conjunta dos seguintes mecanismos esquematizados na figura 5.13:

Frasco
plástico Invólucro
Invólucro Vizinhança
Espaço com ar
Frasco plástico

Figura 5.13: Mecanismos combinados de transferência de calor.

q1 : convecção natural entre o café e a parede do frasco plástico;


q2 : condução através da parede do frasco plástico;
q3 : convecção natural do frasco para o ar;
q4 : convecção natural do ar para a capa plástica;
q5 : radiação entre as superfícies externa do frasco e interna da capa plástica;
q6 : condução através da capa plástica;
q7 : convecção natural da capa plástica para o ar ambiente;
q8 : radiação entre a superfície externa da capa e as vizinhanças.
38 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.

Melhorias estão associadas com (1) uso de superfícies aluminizadas (baixa emissividade) para o frasco e a capa de
modo a reduzir a radiação e (2) evacuação do espaço com ar para reduzir a convecção natural.

5.7 Condução unidimensional em uma Parede Plana


Na condução de calor unidimensional em uma parede plana, a temperatura é uma função somente da coordenada x
e o calor é transferido exclusivamente nessa direção.
Na figura 5.14(a), uma parede plana separa dois fluidos, que se encontram a diferentes temperaturas.
A transferência de calor ocorre por convecção do fluido quente a 𝑇∞,1, para uma superfície da parede a 𝑇𝑆,1 , por
condução através da parede e por convecção da outra superfície da parede a 𝑇𝑆,2 para o fluido frio a 𝑇∞,2.

Figura 5.14: Transferência de calor através de uma parede plana. (a) Distribuição de temperaturas; e (b) Circuito térmico equivalente.

A distribuição de temperaturas na parede pode ser determinada através da solução da equação do calor com as
condições de contorno pertinentes.
Nota-se que a condução unidimensional em regime estacionário em uma parede plana sem geração de calor e com
condutividade térmica constante, a temperatura varia linearmente com x, ou seja, varia com de acordo com a espessura da
parede. Aplicando a lei de Fourier para determinar a taxa de transferência de calor por condução, tem-se:
𝑑𝑇 𝑘𝐴
𝑞𝑥 = −𝑘𝐴 = (𝑇 − 𝑇𝑠,2 ) Eq. 5.17
𝑑𝑥 𝐿 𝑠,1
Note que A é área da parede normal à direção da transferência de calor e, na parede plana, ela é uma constante
independente de x.

5.7.1 Resistência Térmica


Da mesma forma que uma resistência elétrica está associada à condução de eletricidade, uma resistência térmica
pode ser associada à condução de calor.
Definindo resistência como a razão entre um potencial motriz e a correspondente taxa de transferência, através da
equação anterior que a resistência térmica para a condução em uma parede plana é:

𝑇𝑠,1 − 𝑇𝑠,2 𝐿 Eq. 5.18


𝑅𝑡,𝐶𝑂𝑁𝐷 ≡ =
𝑞𝑥 𝑘𝐴

Uma resistência térmica pode também ser associada à transferência de calor por convecção em uma superfície. A
partir da lei do resfriamento de Newton, a resistência térmica para a convecção é, então,

𝑇𝑠 − 𝑇∞ 1 Eq. 5.19
𝑅𝑡,𝐶𝑂𝑁𝑉 ≡ =
𝑞𝑥 ℎ𝐴
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 39
O circuito térmico equivalente para a parede plana com condições de convecção nas duas superfícies é mostrada na
figura 5.14 (b). A taxa de transferência de calor pode ser determinada pela consideração em separado de cada elemento da
rede. Uma vez que qX é constante ao longo da rede, segue-se que:

𝑇∞,1 − 𝑇𝑠,1 𝑇𝑠,1 − 𝑇𝑠,2 𝑇𝑠,2 − 𝑇∞,2


𝑞𝑥 = = =
1/ℎ1 𝐴 𝐿/𝑘𝐴 1/ℎ2 𝐴

Em termos de diferença de temperaturas global, 𝑇∞,1 − 𝑇∞,2 , e da resistência térmica total, 𝑅𝑇𝑂𝑇 , a taxa de
transferência de calor pode também ser representada por:
𝑇∞,1 − 𝑇∞,2
𝑞𝑥 = Eq. 5.20
𝑅𝑇𝑂𝑇

Como as resistências condutiva e convectiva estão em série e podem ser somadas, tem-se que:
1 𝐿 1
𝑅𝑇𝑂𝑇 = + + Eq. 5.21
ℎ1 𝐴 𝑘𝐴 ℎ2 𝐴

Exemplo 8: O vidro traseiro de um automóvel é desembaçado pela fixação de um aquecedor em película, fino e transparente,
sobre a sua superfície interna. Aquecendo eletricamente este elemento, um fluxo térmico uniforme pode ser estabelecido na
superfície interna. Para um vidro com 4 mm de espessura, determine a potência elétrica, por unidade de área do vidro,
necessária para manter uma temperatura na superfície interna em 15°C, quando a temperatura do ar no interior do carro e
o coeficiente convectivo são T,i= 25°C e hi = 10 W/(m²K), enquanto a temperatura e o coeficiente convectivo no ar exterior
(ambiente) são T,e = - 10°C e he = 65 W/(m²K).

5.8 A Parede Composta


Circuitos térmicos equivalentes também podem ser usados em sistemas mais complexos, como, por exemplo, paredes
compostas. Tais paredes podem possuir uma quantidade qualquer de resistências térmicas em série e em paralelo, devido
à presença de camadas diferentes materiais.
Seja a parede composta, em série, mostrada na figura 5.15, a taxa de transferência de calor unidimensional para esse
sistema pode ser representado por:
𝑇∞,1 − 𝑇∞,4 Eq. 5.22
𝑞𝑥 =
∑ 𝑅𝑇𝑂𝑇
Onde 𝑇∞,1 − 𝑇∞,4 é a diferença de temperatura global e o somatório inclui todas as resistências térmicas. Logo:
𝑇∞,1 − 𝑇∞,4
𝑞𝑥 =
[(1/ℎ1 𝐴) + (𝐿𝐴 /𝑘𝐴 𝐴) + (𝐿𝐵 /𝑘𝐵 𝐴) + (𝐿𝐶 /𝑘𝐶 𝐴) + (1/ℎ4 𝐴)]

Figura 5.15: Circuito térmico equivalente para uma parede composta em série.

Em sistema compostos, é frequentemente conveniente o trabalho com um coeficiente global de transferência de calor,
U, que é definido por uma expressão análoga à lei do resfriamento de Newton. Assim:
40 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.

𝑞𝑥 ≡ 𝑈𝐴∆𝑇

Onde ∆𝑇 é a diferença de temperatura global. O coeficiente global de transferência de calor está relacionado à
resistência térmica total e, a partir das equações anteriores, verifica-se que UA=1/RTOT. Portanto, para a parede composto
da figura 5.16:
1 1
𝑈= = Eq. 5.23
𝑅𝑇𝑂𝑇 𝐴 [(1/ℎ1 ) + (𝐿𝐴 /𝑘𝐴 ) + (𝐿𝐵 /𝑘𝐵 ) + (𝐿𝐶 /𝑘𝐶 ) + (1/ℎ4 )]

Em geral, pode-se escrever:


∆𝑇 1 Eq. 5.24
𝑅𝑇𝑂𝑇 = ∑ 𝑅𝑡 = =
𝑞 𝑈𝐴

Exemplo 9: As paredes de uma geladeira são tipicamente construídas com uma camada de isolante entre dois painéis de
folhas de metal. Considere uma parede feita com isolante de fibra de vidro, com condutividade térmica ki = 0,046 W/(mK) e
espessura Li = 50 mm, e painéis de aço, cada um com condutividade térmica kp = 60 W/(mK) e espessura Lp = 3 mm. Com
a parede separando ar refrigerado a T,i= 4°C do ar ambiente a T,e = 25°C, coeficientes associados à convecção natural
nas superfícies interna e externa podem ser aproximados por hi = he = 5W/(m²K).

Exercícios
1. Uma parede de concreto, que tem uma área superficial de 10 m² e espessura de 2,5 cm, separa um local onde a
temperatura superficial da parede é 415°C. Determine a temperatura superficial externa da parede sabendo que a taxa de
transferência de calor é 3 kW e que a condutividade térmica da parede é 0,2 W/mK.
2. Informa-se que a condutividade térmica de uma folha de isolante extrudado rígido é igual a k=0,029 W/(mK). A diferença
de temperaturas medidas entre as superfícies de uma folha com 20 mm de espessura deste material é T 1 – T2 = 10 °C. (a)
Qual é o fluxo térmico através de uma folha do isolante com 2 m x 2 m? (b) Qual é taxa de transferência de calor através da
folha de isolante?
3. Qual é a espessura requerida para uma parede de alvenaria com condutividade térmica igual a 0,75 W/(mK), se a taxa de
calor deve ser 80% da taxa através de uma parede estrutural composta com uma condutividade térmica de 0,25 W/(mK) e
uma espessura de 100mm? A diferença de temperaturas imposta nas duas paredes é a mesma.
4. Um chip quadrado, com lado w = 5 mm, opera em condições isotérmicas. O chip é posicionado em um substrato de modo
que suas superfícies laterais e inferior estão isoladas termicamente, enquanto sua superfície superior encontra-se exposta
ao escoamento de um refrigerante a T= 15°C. A partir de considerações de confiabilidade, a temperatura do chip não pode
exceder a T=85°C.

Sendo a substância refrigerante o ar, com um coeficiente de transferência de calor por convecção correspondente de h =
200 W/(m²K), qual é a potência máxima permitida par o chip? Sendo o refrigerante um líquido dielétrico para o qual h = 3000
W/(m²K), qual é a potência máxima permitida?
5. Uma janela dupla possui duas placas de vidro, com 7 mm de espessura cada uma, que confinam uma camada de ar com
7 mm de espessura. A janela separa o ar da sala a 20°C do ar do ambiente externo a -10°C. O coeficiente convectio
associado à superfície interna (lado da sala) é de 10 W/(mK). Se o coeficiente convectivo associado ao ar externo (ambiente)
é de he = 80 W/(m²K), qual é a perda de calor através de uma janela que possua 0,8 m de altura por 0,5 m de largura?
Suponha que o ar entre as placas de vidro encontra-se estagnado (ka = 0,0245 W/mK).
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 41

6. Um aquecedor elétrico de cartucho possui a forma de um cilindro, com comprimento L = 200 mm e diâmetro externo D =
20 mm. Em condições normais de operação, o aquecedor dissipa 2 kW quando submerso em uma corrente de água a 20°C
onde o coeficiente de transferência de calor por convecção é de h = 5000 W/(m²K). Desprezando a transferência de calor
nas extremidades do aquecedor, determine a sua temperatura superficial TS. Se o escoamento da água for inadvertidamente
eliminado e o aquecedor permanecer em operação, sua superfície passa a estar exposta ao ar, que também se encontra a
20°C, mas no qual h = 50W(m²K). Qual é a temperatura superficial correspondente?
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 42

Anexo A – Propriedades Gerais


Tabela A.1 – Constante dos gases ideais e Massa específica

Tabela A.2 – Coeficiente de dilatação linear


Material 𝜶 (°C-1)
Alumínio 2,4 x 10-5
Latão 2,0 x 10-5
Prata 1,9 x 10-5
Ouro 1,4 x 10-5
Cobre 1,4 x 10-5
Ferro 1,2 x 10-5
Aço 1,2 x 10-5
Platina 0,9 x 10-5
Vidro 0,9 x 10-5
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 43

Tabela A.3 – Condutividade térmica


Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 44

Anexo B – Tabelas Termodinâmicas


Tabela B.1 – Propriedades termodinâmicas da água

Tabela B.1.1 – Água saturada (em função da temperatura)


Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 45
Tabela B.1.1 – Água saturada (continuação)
46 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
Tabela B.1.2 – Água saturada (em função da pressão)
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 47
Tabela B.1.2 – Água saturada (continuação)
48 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
Tabela B.1.3 – Vapor d’água superaquecido
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 49
Tabela B.1.3 – Vapor d’água superaquecido (continuação)
50 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
Tabela B.1.3 – Vapor d’água superaquecido (continuação)
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 51
Tabela B.1.4 – Água líquida comprimida
52 Capítulo 5 – Introdução a Transferência de Calor.
Tabela B.1.4 – Água líquida comprimida (continuação)
Capítulo 5 – Introdução à Transferência de Calor 53
Tabela B.2 – Propriedades termodinâmicas R-134a

Tabela B.2.1 – R-134a (em função da temperatura)

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