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The force that through the green fuse drives the flower
Drives my green age; that blasts the roots of trees
Is my destroyer.
Figura A1.1 Energia e trabalho em um sistema mecânico. (A) energia potencial armazenada na mola estendida realiza o trabalho
Um peso repousando sobre o chão está fixado a uma mola por meio de levantar o peso quando a mola se contrai.
de uma corda. (B) Ao puxar a mola, ela é colocada sob tensão. (C) A
Apêndice 1 • Energia e Enzimas A1-3
ou absorção de calor. Pode-se variar a quantidade de tra- Energia total absorvida pela folha =
balho exercido sobre a mola, até um determinado máximo, energia emitida pela folha + energia armazenada pela folha
usando pesos diferentes, e a quantidade de calor produzida
Observe que, embora a energia absorvida pela folha tenha
também variará. Porém, muito do trabalho experimental
sido transformada, a energia total permanece a mesma,
tem mostrado que, em condições ideais, a soma do traba-
conforme a primeira lei.
lho realizado e do calor liberado é constante e depende so-
mente do comprimento inicial e final da mola. É possível, A variação na energia interna de um
assim, imaginar uma propriedade – a energia interna da sistema representa o trabalho máximo que
mola –, com a característica descrita pela seguinte equação: ele pode realizar
U = Q + W (A1.2) A equivalência entre energia e trabalho deve ser quanti-
ficada recorrendo-se a “condições ideais”, isto é, pela exi-
Aqui Q é a quantidade de calor absorvida pelo sistema e W gência de que o processo seja realizado reversivelmente.
é a quantidade de trabalho realizada pelo sistema.* Na Fi- O significado de “reversível” em termodinâmica tem uma
gura A1.1, o trabalho é mecânico, mas poderia também ser conotação especial: o termo descreve condições nas quais
elétrico, químico ou de qualquer outro tipo. Portanto, U forças opostas são tão equilibradas que uma variação in-
é a quantidade líquida de energia introduzida no sistema, finitesimal em uma ou outra reverteria a direção do pro-
seja como calor, seja como trabalho; inversamente, tanto a cesso.** Nessas circunstâncias, o processo produz a quan-
execução de trabalho como a liberação de calor acarretam tidade máxima possível de trabalho. A reversibilidade
uma diminuição na energia interna. Não se pode especificar com essa conotação não é encontrada com frequência na
um valor absoluto para o conteúdo de energia; apenas mu- natureza, como no exemplo da folha. As condições ideais
danças na energia interna podem ser medidas. Observe que diferem tão pouco do estado de equilíbrio que qualquer
a Equação A1.2 aceita que calor e trabalho são equivalentes; processo ou reação exigiria um tempo infinito e, portan-
seu propósito é enfatizar que, em condições ideais, U de- to, não ocorreriam. Todavia, o conceito termodinâmico de
pende apenas dos estados inicial e final do sistema, e não reversibilidade é útil: se for medida a variação de energia
de como o calor e o trabalho estão repartidos. interna que um processo acarreta, obtém-se um limite su-
A Equação A1.2 é uma afirmação da primeira lei da perior para o trabalho que ele pode realizar; para qualquer
termodinâmica, que é o princípio de conservação de ener- processo real, o trabalho máximo será menor.
gia. Se um sistema específico não troca energia com seu No estudo de biologia vegetal são encontradas vá-
entorno, seu conteúdo de energia permanece constante; se rias fontes de energia – particularmente transformações
energia é trocada, a variação na energia interna será dada luminosas e químicas –, bem como uma diversidade de
pela diferença entre a energia ganha do entorno e aquela funções do trabalho, incluindo os trabalhos mecânico, os-
perdida para ele. A variação na energia interna depende mótico, elétrico e químico. O significado da primeira lei
somente dos estados inicial e final do sistema, nem da rota na biologia provém da certeza, meticulosamente estabe-
nem do mecanismo de troca de energia. Energia e traba- lecida pelos físicos do século XIX, de que os vários tipos de
lho são interconversíveis; mesmo o calor é uma medida da energia e trabalho são mensuráveis, equivalentes e, den-
energia cinética dos constituintes moleculares do sistema. tro de certos limites, interconversíveis. A energia é para a
Para colocar isso de maneira tão simples quanto possível, a biologia o que o dinheiro é para a economia: o meio pelo
Equação A1.2 estabelece que nenhuma máquina, incluin- qual os seres vivos obtêm bens úteis e serviços.
do as máquinas químicas que são conhecidas como vivas,
pode realizar trabalho sem uma fonte de energia. Cada tipo de energia é caracterizado por um
Um exemplo da aplicação da primeira lei ao fenô- fator capacidade e um fator potencial
meno biológico é o balanço energético de uma folha. As A quantidade de trabalho que pode ser realizada por um
folhas absorvem energia de suas adjacências de duas ma- sistema, seja mecânico, ou químico, é uma função do tama-
neiras: como radiação incidente direta do sol e como ra- nho do sistema. O trabalho pode sempre ser definido como
diação infravermelha do entorno. Alguma energia absor- o produto de dois fatores – força e distância, por exemplo.
vida pela folha é irradiada de volta para o ambiente como Um é um fator potencial ou intensidade, que independe do
radiação infravermelha e calor, enquanto uma fração da tamanho do sistema; o outro é um fator capacidade e é dire-
energia absorvida é armazenada, tanto como produtos tamente proporcional ao tamanho (Tabela A1.1).
fotossintéticos como na variação da temperatura foliar. Em bioquímica, a energia e o trabalho tradicional-
Desse modo, pode-se escrever a seguinte equação: mente têm sido expressos em calorias; 1 caloria é a quan-
tidade de calor necessária para elevar a temperatura de
1 g da água em 1ºC, especificamente, por exemplo, de
* A Equação A1.2 é mais comumente encontrada na forma U =
Q – W, que resulta da convenção na qual Q é a quantidade de
calor absorvida pelo sistema a partir do entorno e W é a quantidade ** Em bioquímica, a reversibilidade tem um significado diferente:
de trabalho realizada pelo sistema sobre o entorno. Essa convenção em geral, o termo se refere a uma reação cuja rota pode ser invertida,
afeta o sinal de W, mas não altera o significado da equação. frequentemente com um entrada (input) de energia.
A1-4 Apêndice 1 • Energia e Enzimas
sistema. Por outro lado, o arranjo ordenado dos átomos em sentido oposto forem iguais, não haverá alteração líquida
um cristal, com um lugar para cada um e cada um em seu na composição, e o equilíbrio prevalecerá.
lugar, corresponde a um estado de baixa entropia. Em zero A segunda lei tem sido expressa em muitas versões.
absoluto, quando todo o movimento cessa, a entropia de Uma versão impede a existência de máquinas moto-contí-
uma substância pura é igualmente zero. Essa afirmação é, às nuo: uma vez que a energia é, pela segunda lei, degradada
vezes, denominada terceira lei da termodinâmica. perpetuamente em calor e torna-se isotermicamente inútil
Uma molécula grande, uma proteína, por exemplo, (S > 0), o movimento contínuo requer uma entrada (input)
na qual muitos tipos de movimentos podem ocorrer, terá de energia do exterior. A versão mais célebre e, ao mesmo
quantidades consideráveis de energia armazenada dessa tempo, desconcertante, da segunda lei, foi fornecida por R.
maneira – mais do que uma molécula de aminoácido. Con- J. Clausius (1879):“A energia do universo é constante; a en-
tudo, a entropia da molécula de proteína será menor do que tropia do universo tende em direção ao máximo”.
a dos aminoácidos constituintes nos quais ela pode se dis- Como a entropia pode crescer sempre, gerada a partir
sociar, devido às restrições impostas aos movimentos desses de nada? A raiz da dificuldade é verbal, como Klotz (1967)
aminoácidos, já que eles são parte da estrutura maior. Qual- habilmente esclareceu. Tivesse Clausius definido a entro-
quer processo que leva ao relaxamento dessas restrições pia com o sinal oposto (correspondendo à ordem, em vez
aumenta a liberdade de movimento e, portanto, a entropia. do caos), sua tendência universal seria diminuir; então, se-
Essa é a tendência universal dos processos espontâne- ria óbvio que as variações espontâneas seguissem a dire-
os, conforme definido na segunda lei; é por isso que as va- ção que diminui a capacidade para variações espontâneas
liosas enzimas armazenadas no refrigerador tendem a de- subsequentes. Os solutos difundem-se de uma região de
compor-se e por que o gelo derrete na água. O aumento em maior concentração para outra de menor concentração; o
entropia quando o gelo se liquefaz na água é“compensado” calor flui de um corpo aquecido para um frio. Às vezes, es-
pela absorção de calor do entorno. Enquanto a variação lí- sas variações podem ser revertidas por um agente externo
quida na entropia do sistema mais seu entorno for positiva, para reduzir a entropia do sistema em consideração, mas
o processo pode ocorrer espontaneamente. Isso não signi- então esse agente externo deve mudar, de modo a reduzir
fica, necessariamente, que o processo ocorrerá: a taxa é, em sua própria capacidade para futuras mudanças. Em resu-
geral, determinada por fatores cinéticos independentes da mo, “a entropia é um índice de exaustão; quanto mais um
variação entrópica. Tudo que a segunda lei determina é que sistema tiver perdido sua capacidade para variação espon-
o destino das pirâmides é desintegrar-se em areia, enquanto tânea, quanto mais esta capacidade tiver sido exaurida,
a areia nunca irá se agrupar em uma pirâmide; a lei não diz maior é a entropia” (Klotz, 1967). Inversamente, quanto
quão rapidamente isso deve acontecer. mais distante um sistema está do equilíbrio, maior é sua
capacidade para mudar e menor sua entropia. Os seres vi-
Um processo é espontâneo se a ΔS do sistema e vos ocupam a última categoria: uma célula é o epítome de um
seu entorno for positiva estado que está distante do equilíbrio.
Não há nada místico na entropia – ela é uma quantidade
termodinâmica como outra qualquer, medida experimen- Energia livre e potencial químico
talmente e expressa em unidades de entropia. Um método
de quantificá-la é por meio da capacidade de calor de um Muitas transferências de energia que ocorrem em orga-
sistema, a quantidade de energia necessária para elevar a nismos vivos são químicas; necessita-se, portanto, de uma
temperatura em 1°C. Em alguns casos, a entropia pode ser expressão quantitativa para a quantidade de trabalho que
calculada a partir de princípios teóricos, embora apenas uma reação química pode realizar. Para esse propósito, as
para moléculas simples. Para os propósitos do livro, o que relações que envolvem a variação de entropia no sistema
importa é o sinal da variação na entropia, S: um processo mais seu entorno são inadequadas. Há necessidade de uma
pode ocorrer espontaneamente quando a S do sistema e função que não dependa do entorno, mas que, assim como
seu entorno é positiva; um processo para o qual a S é ne- S, alcance um mínimo sob condições de equilíbrio e, desse
gativa não pode ocorrer espontaneamente, mas o processo modo, possa servir tanto como um critério para a exequibi-
oposto pode; e, para um sistema em equilíbrio, a entropia lidade de uma reação como para a medição da energia dis-
do sistema mais seu entorno é máxima e a S é zero. ponível para a realização de trabalho a partir dela. A função
“Equilíbrio” é outra daquelas palavras familiares que empregada universalmente para esse propósito é a energia
é mais fácil usar do que definir. Seu significado cotidia- livre, abreviada como G em homenagem ao físico-químico
no indica que as forças atuando sobre um sistema estão do século XIX J. Willard Gibbs, que a introduziu.
igualmente equilibradas, de modo que não há tendência
ΔG é negativa para um processo espontâneo em
resultante para mudança; esse é o sentido no qual o termo
“equilíbrio” será utilizado aqui. Uma mistura de substân- temperatura e pressão constantes
cias químicas pode estar no meio de uma rápida intercon- Anteriormente, tratou-se da energia isotermicamente
versão, mas, se as taxas das reações em um sentido e no indisponível, ST. Energia livre é definida como a ener-
A1-6 Apêndice 1 • Energia e Enzimas
gia que é utilizável em condições isotérmicas, pela se- rante a fosforilação oxidativa, cuja G aparente é tão alta
–1 –1
guinte relação: quanto 67 kJ mol (16 kcal mol ). Claramente, a célula
deve realizar trabalho para tornar a reação total exergôni-
H = G + TS (A1.3)
ca. A ocorrência de processos endergônicos na natureza,
O termo H, entalpia ou conteúdo calórico, não é completa- portanto, implica que eles sejam acoplados a um segundo
mente equivalente a U, a energia interna (ver Equação A1.2). processo, exergônico. Grande parte da bioenergética celu-
Para ser exato, H é uma medida da variação total de ener- lar e molecular diz respeito aos mecanismos pelos quais o
gia, incluindo o trabalho que pode resultar de variações no acoplamento de energia é realizado.
volume durante a reação, enquanto U exclui esse trabalho. 0
(Um pouco adiante, será retomado o conceito de entalpia.) A variação na energia livre padrão, ΔG , é a
Entretanto, no contexto biológico, geralmente enfocam-se variação na energia livre quando a concentração
reações em solução, para as quais variações em volume são de reagentes e produtos é 1 M
desprezíveis. Para a maioria dos objetivos, então, Variações na energia livre podem ser medidas experimen-
talmente por métodos calorimétricos. Eles têm sido tabu-
U G + TS (A1.4)
lados de duas formas: como a energia livre de formação de
e um composto a partir de seus elementos e como a G para
G U – TS (A1.5) uma reação específica. É de extrema importância lembrar
que, por convenção, os valores numéricos se referem a um
O que torna essa uma relação útil é a demonstração de que,
conjunto específico de condições. A variação na energia livre
para todos os processos espontâneos a temperatura e pressão
padrão, G , refere-se a condições em que todos os reagentes e
0
constantes, G é negativa. Assim, a variação na energia livre é
produtos estão presentes a uma concentração de 1 M; em bio-
um critério de exequibilidade. Qualquer reação química que
química é mais conveniente empregar G ', que é definida
0
prossiga com uma G negativa pode ocorrer espontanea-
da mesma maneira, exceto que o pH é considerado como
mente; um processo para o qual a G é positiva não pode
7. As condições observadas no mundo real são passíveis
ocorrer, mas a reação pode prosseguir na direção oposta; e
de serem muito diferentes destas, especialmente quanto
uma reação na qual a G é zero está em equilíbrio, e não
às concentrações dos participantes. Para tomar um exem-
ocorrerá variação líquida. Para temperatura e pressão deter-
plo bem conhecido, G ', para a hidrólise de ATP, é cerca de
0
minadas, a G depende apenas da composição da mistura –1 –1
–33 kJ mol (–8 kcal mol ). No citoplasma, entretanto, as
de reação; por isso, a expressão alternativa “potencial quí-
concentrações reais de nucleotídeos são aproximadamente
mico” é especialmente apropriada. Novamente, nada é dito
3 mM ATP, 1 mM ADP, e 10 mM Pi. Como se pode ver, as
sobre a taxa, apenas sobre a direção. Se uma reação tendo
variações na energia livre dependem fortemente das con-
uma dada G prosseguirá, e em que taxa, é determinado
centrações, e a G para a hidrólise de ATP em condições
pela cinética, e não por fatores termodinâmicos.
fisiológicas, portanto, é muito mais negativa do que a G ',
0
Há uma relação estreita e simples entre a variação na –1 –1
aproximadamente –50 a –65 kJ mol (–12 a –15 kcal mol ).
energia livre de uma reação química e o trabalho que a
Desse modo, conquanto os valores da G ', para muitas reações
0
reação pode realizar. Desde que a reação seja reversível,
sejam facilmente acessíveis, eles não devem ser usados indiscri-
G = Wmáx (A1.6) minadamente como um guia do que acontece nas células.
Isto é, para uma reação se realizando em temperatura e O valor de ΔG é uma função do deslocamento da
pressão constantes, – G é uma medida do trabalho máxi- reação a partir do equilíbrio
mo que o processo pode realizar. Mais precisamente, – G A discussão precedente sobre a energia livre mostra que
representa o máximo trabalho possível, exclusivo de tra- deve haver uma relação entre G e a constante de equi-
balho pressão–volume, e, desse modo, é uma quantidade líbrio de uma reação: no equilíbrio, G é zero, e quanto
de grande importância em bioenergética. Qualquer pro- mais distante uma reação está do equilíbrio, maior é a G
cesso seguindo na direção do equilíbrio pode, em princí- e mais trabalho a reação pode realizar. A expressão quan-
pio, realizar trabalho. Pode-se, por conseguinte, descre- titativa dessa relação é
ver os processos nos quais a G é negativa como aqueles
G0 = –RT ln K = –2,3RT log K (A1.7)
“que liberam energia”, ou exergônicos. Inversamente,
para qualquer processo se afastando do equilíbrio, G é em que R é a constante dos gases, T a temperatura absolu-
positiva, e fala-se de uma reação “que consome energia”, ta e K a constante de equilíbrio da reação*. Essa equação é
ou endergônica. Naturalmente, uma reação endergônica
não pode ocorrer: todos os processos reais se movem em * N. de T. Na literatura físico-química sobre equilíbrio químico, em
direção ao equilíbrio, com uma G negativa. O conceito português, utiliza-se o termo constante de equilíbrio da reação (Kc)
para a razão entre a multiplicação das concentrações dos produtos
de reações endergônicas, apesar disso, é uma abstração (cada uma elevada ao seu respectivo coeficiente estequiométrico)
útil, pois muitas reações biológicas parecem se afastar do sobre a multiplicação dos reagentes (cada uma elevada ao seu res-
equilíbrio. Um exemplo excelente é a síntese de ATP du- pectivo coeficiente estequiométrico) de uma reação química.
Apêndice 1 • Energia e Enzimas A1-7
Energia livre
condições-padrão. Para as reações mostradas na equação A B
A+BC+D (A1.8)
a variação real na energia livre, G, é dada pela equação
(A1.9)
A pura B pura
Em outras palavras, o valor de G é uma função do afasta- cos; aqueles em que o calor é absorvido, como a fusão ou
mento da reação do equilíbrio. A fim de deslocar um sis- a evaporação, são referidos como endotérmicos. A oxida-
tema do equilíbrio, trabalho deve ser realizado sobre ele e ção da glicose a CO2 e água é uma reação exergônica (G
0
A variação na energia livre de uma reação de vras, o potencial-padrão redox é uma medida, em uni-
oxirredução é expressa como o potencial padrão dades eletroquímicas, da variação na energia livre de um
redox em unidades eletroquímicas processo de oxidação-redução.
Como as variações na energia livre, o potencial redox
Reações redox podem ser muito bem descritas em termos
medido em condições diferentes das condições-padrão
de sua variação na energia livre. Contudo, a participação
depende das concentrações das espécies oxidadas e re-
de elétrons torna conveniente seguir o curso da reação
duzidas, de acordo com a seguinte equação (é importante
com instrumentação elétrica e incentiva o uso de uma no-
observar a similaridade na forma com a Equação A1.9):
tação eletroquímica. Isso permite também a análise minu-
ciosa do processo químico em reações oxidantes e reduto-
ras separadas. Para a oxidação do ferro, pode-se escrever (A1.15)
As enzimas têm sido chamadas de “agentes da vida” Union of Biochemistry) com base na reação que ela cata-
– uma expressão bastante apropriada, pois elas controlam lisa. Além disso, muitas enzimas têm nomes populares ou
a quase totalidade dos processos vivos. Uma célula típica comuns. Assim, o nome popular rubisco refere-se à D-ri-
contém vários milhares de enzimas diferentes, que con- bulose-1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase (EC 4.1.1.39*).
duzem uma ampla diversidade de ações. As característi- A versatilidade das enzimas reflete suas propriedades
cas mais importantes são sua especificidade, que permite como proteínas. A natureza das proteínas permite tanto o
a elas distinguirem-se entre moléculas muito similares, e reconhecimento por uma enzima de seu substrato espe-
sua eficiência catalítica, que é bem maior do que a de ca- cífico como o aparato catalítico necessário para conduzir
talisadores comuns. A estereoespecificidade das enzimas diversas e rápidas reações químicas (Stryer, 1995).
é notável, permitindo a elas distinguirem-se não somen-
te entre enantiômeros (estereoisômeros espelhados), por Proteínas são cadeias de aminoácidos unidos por
exemplo, mas entre átomos ou grupos de átomos aparen- ligações peptídicas
temente idênticos (Creighton, 1983).
As proteínas são compostas por longas cadeias de ami-
Essa capacidade de discriminar entre moléculas seme- noácidos (Figura A1.5) unidas por ligações amida, co-
lhantes resulta do fato de que a primeira etapa na catáli- nhecidas como ligações peptídicas (Figura A1.6). As
se enzimática é a formação de um composto firmemente 20 diferentes cadeias laterais de aminoácidos dotam as
ligado, um complexo não covalente entre a enzima e o(s) proteínas de uma grande diversidade de grupos que têm
substrato(s): o complexo enzima-substrato. As reações propriedades químicas e físicas diferentes, incluindo gru-
catalisadas por enzimas exibem propriedades cinéticas in- pos hidrofílicos (polares) e hidrofóbicos (apolares), grupos
comuns que estão também relacionadas à formação desses polares carregados e neutros, e grupos ácidos e básicos.
complexos bastante específicos. Outra característica distin- Essa diversidade, junto com a relativa flexibilidade da li-
tiva das enzimas é que elas estão sujeitas a vários tipos de gação peptídica, a elas permite a tremenda variação nas
controle regulatório, variando desde efeitos sutis sobre a propriedades das proteínas, desde a rigidez e inativida-
atividade catalítica por moléculas efetoras (inibidoras ou ati- de de proteínas estruturais à reatividade de hormônios,
vadoras) à regulação da síntese enzimática e à degradação, catalisadores e receptores. O aspecto tridimensional da
pelo controle da expressão gênica ou pelo turnover proteico. estrutura proteica proporciona a discriminação precisa no
As enzimas são singulares na enorme intensifica- reconhecimento de ligantes, as moléculas que interagem
ção de taxas que elas proporcionam, ordens de grandeza com as proteínas, como mostrado pela capacidade das
maior do que aquelas efetivadas por outros catalisado- enzimas para reconhecer seus substratos e de anticorpos
res. As ordens típicas de aumento de taxas de reações para reconhecer antígenos, por exemplo.
catalisadas por enzimas em relação àquelas de reações Todas as moléculas de uma proteína específica têm a
não catalisadas correspondentes são 108 a 1012. Muitas mesma sequência de resíduos de aminoácidos, determi-
enzimas convertem cerca de milhares de moléculas de nada pela sequência de nucleotídeos no gene que codifica
substrato em produto em 1 s. Algumas convertem cerca aquela proteína. Embora a proteína seja sintetizada como
de 1 milhão! uma cadeia linear pelo ribossomo, após a liberação ela se
Diferente da maioria dos outros catalisadores, as dobra espontaneamente em uma forma tridimensional
enzimas funcionam à temperatura e à pressão atmos- específica, o estado nativo. A cadeia de aminoácidos é
férica ambientes e geralmente em uma estreita faixa de chamada um polipeptídeo. O arranjo tridimensional de
pH próxima à neutralidade (há exceções; p. ex., proteases átomos na molécula é referido como conformação. As
vacuolares e ribonucleases são mais ativas em pH 4 a 5). alterações na conformação não envolvem a ruptura de li-
Algumas enzimas são capazes de funcionar em condições gações covalentes. A desnaturação envolve a perda de sua
extremamente graves, como, por exemplo, as pepsinas, a forma tridimensional singular e resulta na perda da ativi-
enzima degradadora de proteínas do estômago, que têm dade catalítica.
um pH ideal por volta de 2,0, e a hidrogenase da arque-
As forças responsáveis pela forma de uma molécula
obactéria hipertermofílica (“afinidade extrema ao calor”)
de proteína são não covalentes (Figura A1.7). Essas in-
Pyrococcus furiosus, que oxida H2 a uma temperatura ideal
terações não covalentes incluem pontes de hidrogênio;
maior do que 95°C (Bryant & Adams, 1989). A presença
interações eletrostáticas (também conhecidas como liga-
dessas enzimas termoestáveis notáveis permite à Pyrococ-
ções iônicas ou pontes salinas); forças de van der Waals
cus crescer otimamente a 100°C.
(forças dispersivas), que são dipolos transientes entre
As enzimas são geralmente denominadas segundo átomos espacialmente próximos; e “ligações” hidrofóbi-
seus substratos pela adição do sufixo “-ase” – por exemplo, cas – a tendência de grupos apolares de evitar o contato
-amilase, malato desidrogenase, -glicosidase, fosfoenol- com água e, portanto, para associarem-se. Além disso,
piruvato carboxilase, peroxidase. Milhares de enzimas já
foram descobertas e novas têm sido encontradas todos os * O número EC (Enzyme Commission) indica a classe (4 = liase) e
dias. Cada enzima foi denominada de um modo sistemá- a subclasse (4.1 = clivagem carbono–carbono; 4.1.1 = clivagem da
–
tico pela União Internacional de Bioquímica (International ligação C–COO ).
A1-12 Apêndice 1 • Energia e Enzimas
COO - COO -
+
COO -
+
H3N C H H3N C H
COO - H3N
+
C H H C CH3
CH2
+
H3N C H CH CH2
CH
CH3 H3C CH3 H3C CH3 CH3
COO -
COO - COO -
+
+ + H3N C H
H3N C H H3N C H
CH2 COO -
COO - CH2 CH2 +
H CH2 H3N C H COO -
+
C
+
H2N CH2 S CH2 H3N C H
NH
H2C CH2 CH3 SH H
Prolina [P] Fenilalanina [F] Triptofano [W] Metionina [M] Cisteína [C] Glicina [G]
(Pro) (Phe) (Trp) (Met) (Cys) (Gly)
Asparagina [N] Glutamina [G] Serina [S] Treonina [T] Tirosina [Y]
(Asn) (Gln) (Ser) (Thr) (Tyr)
Lisina [K] Arginina [R] Histidina [H] Aspartato [D] Glutamato [E]
(Lys) (Arg) (His) (Asp) (Glu)
H C R N H
N H O C
O C H C R
Entre
– + – +
cadeias laterais NH2
CH2 OH O C CH2 + – + –
– + – +
Serina Asparagina
Figura A1.7 Exemplos de interações não covalentes em proteí- tivamente. As interações de van der Waals são interações dipo-
nas. As pontes de hidrogênio são interações eletrostáticas fracas lo transitórias de curto alcance. As interações hidrofóbicas (não
envolvendo um átomo de hidrogênio entre dois átomos eletrone- mostradas) envolvem a reestruturação do solvente água em volta
gativos. Em proteínas, as pontes de hidrogênio mais importantes de grupos não polares, minimizando a exposição da área super-
são aquelas entre ligações peptídicas. Interações eletrostáticas são ficial apolar ao solvente polar; essas interações são conduzidas
ligações iônicas entre grupos carregados positivamente e nega- pela entropia.
A1-14 Apêndice 1 • Energia e Enzimas
de uma grande classe de tiolproteases de plantas), o sí- As enzimas são proteínas catalisadoras
tio ativo encontra-se na junção de dois domínios (Figura altamente específicas
A1.9). Hélices, laços e folhas contribuem para a forma Todas as enzimas são proteínas, embora recentemente al-
tridimensional singular dessa enzima. guns pequenos ácidos ribonucleicos e complexos proteína-
As determinações da conformação de proteínas têm -RNA foram encontrados exibindo comportamento similar
revelado que há famílias de proteínas que têm dobras tri- a enzimas no processamento do RNA. As proteínas têm
4 6
dimensionais em comum, bem como padrões em comum massas moleculares que variam de 10 a 10 daltons, po-
de estrutura supersecundária, como --. dendo ser uma cadeia polipeptídica dobrada única (subuni-
Apêndice 1 • Energia e Enzimas A1-15
Fenda do
sítio ativo Uma enzima específica catalisará apenas um tipo de
reação química para somente uma classe de molécula – em
alguns casos, para apenas um composto em particular. As
enzimas são também muito estereospecíficas e não geram
subprodutos. Por exemplo, a -glicosidase catalisa a hidró-
lise de -glicosídeos, compostos formados por uma ligação
glicosídica à D-glicose. O substrato deve ter a configuração
anomérica correta: ele deve ser -, não -. Além disso, deve
ter a estrutura de glicose; nenhum outro carboidrato, como
xilose ou manose, pode atuar como substrato para a -gli-
cosidase. Por fim, o substrato deve ter a estereoquímica cor-
reta; nesse caso a configuração D absoluta. A rubisco (D-ri-
bulose-1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase) é a enzima mais
abundante do mundo e catalisa a adição do dióxido de car-
bono a D-ribulose 1,5-bifosfato, formando duas moléculas
de 3-fosfo-D-glicerato, a etapa inicial do ciclo C3 redutor do
carbono fotossintético. A rubisco tem especificidade muito
precisa pelo substrato carboidrato, mas ela também catalisa
Domínio 1 Domínio 2 uma reação oxigenase em que O2 substitui CO2, como foi
Figura A1.9 A estrutura da papaína, mostrando os dois domí- discutido mais profundamente no Capítulo 8.
nios e o sítio ativo inserido entre eles.
As enzimas reduzem a barreira de energia livre
entre os substratos e os produtos
dade ou protômeros) ou oligômeros de várias subunidades Os catalisadores aceleram a taxa de uma reação mediante
(oligômeros são geralmente dímeros ou tetrâmeros). Nor- redução da barreira de energia entre substratos (reagentes)
malmente, as enzimas têm somente um tipo de atividade e produtos, e não são eles próprios gastos na reação, mas
catalítica associada à mesma proteína; isoenzimas ou iso- são regenerados. Desse modo, um catalisador aumenta a
zimas são enzimas com função catalítica similar com dife- taxa de uma reação, mas não afeta a taxa de equilíbrio de
rentes estruturas e parâmetros catalíticos, codificadas por reagentes e produtos, pois as taxas da reação nas duas di-
genes diferentes. Por exemplo, várias isoenzimas diferentes reções são aumentadas na mesma proporção. É importante
foram encontradas para peroxidase, uma enzima de paredes perceber que enzimas não podem provocar a ocorrência de
celulares vegetais envolvida com a síntese de lignina. Uma uma reação não espontânea (energeticamente “ladeira aci-
isoenzima de peroxidase foi também localizada nos vacúo- ma”). Entretanto, muitas reações celulares energeticamen-
los. As isoenzimas podem exibir especificidade para tecidos te desfavoráveis prosseguem porque elas são acopladas a
e mostrar regulação do desenvolvimento. uma reação energeticamente mais favorável, geralmente
As enzimas frequentemente contêm um grupo pros- envolvendo a hidrólise de ATP (Figura A1.10).
tético não proteico ou cofator, necessário para a atividade
biológica. A associação de um cofator com uma enzima
depende da estrutura tridimensional da proteína. Uma A+B C ΔG = +4,0 kcal mol–1
vez ligado à enzima, o cofator contribui para a especifi- ATP + H2O ADP + Pi + H+ ΔG = –7,3 kcal mol–1
cidade da catálise. Exemplos típicos de cofatores são íons
metálicos (p. ex., zinco, ferro, molibdênio), grupos heme A + B + ATP + H2O C + ADP + Pi + H+ ΔG = –3,3 kcal mol–1
ou agrupamentos ferro-enxofre (especialmente em en-
zimas de oxidação-redução) e coenzimas (p. ex., nicoti-
namida adenina dinucleotídeo [NAD+/NADH], flavina A + ATP A – P + ADP
adenina dinucleotídeo [FAD/FADH2], flavina mononu- A – P + B + H2O C + H+ + Pi
cleotídeo [FMN] e piridoxal fosfato [PLP]). As coenzimas
são geralmente vitaminas ou derivadas de vitaminas e A + B + ATP + H2O C + ADP + Pi + H+
atuam como transportadoras. Por exemplo, o NAD+ e o
FAD transportam hidrogênios e elétrons em reações re- Figura A1.10 Acoplamento da hidrólise de ATP para impulsio-
dox, a biotina transporta CO2, e o tetra-hidrofolato car- nar uma reação energeticamente desfavorável. A reação A + B
rega fragmentos de um carbono. A peroxidase tem tanto C é termodinamicamente desfavorável, enquanto a hidrólise de ATP
para formar ADP e fosfato inorgânico (Pi) é termodinamicamente
heme como grupos prostéticos Ca2+ e é glicosilada; isto é,
muito favorável (tem uma grande G negativa). Por meio de inter-
ela contém carboidratos ligados covalentemente a cadeias mediários apropriados, como A-P, as duas reações são acopladas,
laterais de asparagina, serina ou treonina. Essas proteínas produzindo uma reação global que é a soma das reações individuais
são chamadas glicoproteínas. e tem uma variação de energia livre favorável.
A1-16 Apêndice 1 • Energia e Enzimas
Energia livre
complexos e intermediários, como complexos enzima-substrato e
enzima-produto. O estado de energia livre fundamental do com-
plexo enzima-substrato na reação catalisada por enzima pode ser Catalisada por enzima
maior do que aquela do substrato na reação não catalisada, e a
energia livre do estado de transição do substrato ligado à enzima
Energia livre
será significativamente menor do que na reação não catalisada cor-
de ativação
respondente.
Substrato
(A) (B)
D-Glicose
Sítio ativo
Figura A1.12 Alteração conformacional na hexoquinase, in- sítio ativo. Essa mudança configura o sítio de ligação para o segun-
duzida pelo primeiro substrato da enzima, D-glicose. (A) Antes da do substrato, ATP. Dessa maneira, a enzima evita hidrólise inútil de
ligação à glicose. (B) Após a ligação à glicose. A ligação de glicose ATP mediante proteção dos substratos do solvente aquoso. A reação
à hexoquinase induz uma mudança conformacional em que os dois global é a fosforilação da glicose e a formação de ADP.
domínios principais ficam juntos, próximo à fenda que contém o
Apêndice 1 • Energia e Enzimas A1-17
Inibida Inibida
Km
Intercepção 1 Inclinação =
do eixo x = – Vmáx
Km Intercepção Não inibida Não inibida
1
do eixo y = –
Vmáx
Figura A1.14 Diagramas duplo recíprocos de Lineweaver-Burk. cadeia lateral de histidina do sítio ativo. Esses compostos
Um gráfico de 1/v versus 1/[S] produz uma linha reta. (A) A reação são muito úteis nos estudos da mecânica de enzimas, mas
catalisada por enzima não inibida mostrando o cálculo de Km a partir eles têm uso prático limitado como herbicidas, devido a
da interceptação do eixo x e de Vmáx a partir da interceptação do eixo
sua reatividade química que pode ser prejudicial à planta.
y. (B) O efeito de um inibidor competitivo sobre os parâmetros Km e
Vmáx. O Km aparente é aumentado, mas a Vmáx não é alterada. (C) Um Os inibidores reversíveis formam ligações fracas, não
inibidor não competitivo reduz Vmáx, mas não tem efeito sobre o Km. covalentes com a enzima, e seus efeitos podem ser competi-
tivos, não competitivos ou mistos. Por exemplo, o herbicida
glifosato (Roundup®), de largo espectro amplamente uti-
tempo por molécula de enzima. Os valores do número de lizado, funciona inibindo competitivamente uma enzima-
rotações típicos variam de 102 a 103 s–1. -chave na biossíntese de aminoácidos aromáticos, a 5-enol-
piruvilchiquimato-3-fosfato (EPSP) sintase. A resistência
As enzimas estão sujeitas a vários tipos ao glifosato foi recentemente alcançada por engenharia
de inibição genética de plantas que são capazes de superexpressarem a
Qualquer agente que diminua a velocidade de uma rea- EPSP sintase (Donahue et al., 1995).
ção catalisada por enzima é chamado um inibidor. Os ini- INIBIÇÃO COMPETITIVA Inibição competitiva é a forma
bidores podem exercer seus efeitos de muitas maneiras mais simples e mais comum de inibição reversível. Ela ge-
diferentes. Em geral, se a inibição é irreversível, o com- ralmente se origina da ligação do inibidor ao sítio ativo com
posto é chamado inativador. Outros agentes podem au- uma afinidade similar ou mais forte do que a do substrato.
mentar a eficiência de uma enzima; eles são chamados Desse modo, a concentração efetiva da enzima é diminuída
ativadores. Inibidores e ativadores são muito importan- pela presença do inibidor, e a reação catalítica será mais len-
tes na regulação celular de enzimas. Muitos inseticidas e ta do que se não houvesse inibidor. A inibição competitiva
herbicidas agriculturalmente importantes são inibidores é em geral baseada no fato de que a estrutura do inibidor se
enzimáticos. O estudo da inibição enzimática pode forne- assemelha àquela do substrato; por isso, a forte afinidade
cer informação útil sobre os mecanismos cinéticos, a na- do inibidor pelo sítio ativo. A inibição competitiva também
tureza dos intermediários e complexos enzima-substrato, pode ocorrer em enzimas alostéricas, em que o inibidor se
o mecanismo químico de ação catalítico, bem como a re- liga a um sítio distante da enzima, causando uma alteração
gulação e o controle de enzimas metabólicas. Além disso, conformacional que altera o sítio ativo e impede a ligação
o estudo dos inibidores de potenciais enzimas-alvo é es- normal do substrato. Esse sítio de ligação é chamado sítio
sencial para a concepção racional de herbicidas. alostérico. Nesse caso, a competição entre o substrato e o
Os inibidores podem ser classificados como reversí- inibidor é indireta.
veis ou irreversíveis. Os inibidores irreversíveis formam A inibição competitiva resulta em um aumento aparen-
ligações covalentes com uma enzima ou a desnaturam. te no Km e não tem efeito sobre a Vmáx (Figura A1.14B). Por
Por exemplo, o iodoacetato (ICH2COOH) inibe irre- medição do Km aparente como uma função da concentração
versivelmente tiolproteases, como a papaína, mediante do inibidor, pode-se calcular o Ki, a constante de inibição,
alquilação do grupo –SH do sítio ativo. Uma classe de que reflete a afinidade da enzima pelo inibidor.
inibidores irreversíveis é a dos chamados marcadores de
afinidade ou agentes modificadores direcionados ao sítio INIBIÇÃO NÃO COMPETITIVA Na inibição não competi-
ativo, porque sua estrutura direciona-os ao sítio ativo. Um tiva, o inibidor não compete com o substrato pela ligação
exemplo é a clorometil tosila-lisina cetona (tosyl-lysine ao sítio ativo. Em seu lugar, ele pode se ligar a outro sítio
chloromethyl ketone, TLCK), que inativa irreversivelmente da proteína e obstruir o acesso do substrato ao sítio ativo,
a papaína. A parte tosila-lisina do inibidor se asseme- alterando, portanto, as propriedades catalíticas da enzi-
lha à estrutura do substrato e assim se liga ao sítio ativo. ma, ou ele pode se ligar ao complexo enzima-substrato
A parte clorometil cetona do inibidor ligado reage com a e, assim, alterar a catálise. A inibição não competitiva é
Apêndice 1 • Energia e Enzimas A1-19
Vmáx
Velocidade de transporte
E F G
A B C D
Vmáx H I J
2
Referências
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