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ISABELA SOUSA DE OLIVEIRA RA: 813975

INTRODUÇÃO

A energia é um componente fundamental para a gigantesca maioria dos processos que


ocorrem no planeta terra. A manutenção da sobrevivência de todos os organismos vivos
depende de sucessivas reações químicas que liberam, consomem ou armazenam energia.
A tecnologia, desde os seus primórdios, é completamente dependente de converter
diversas formas de energia em outras para que seja capaz de funcionar. Do movimento da
sua mão ao escrever até a complexa rede de circuitos que compõem o seu telefone, a
energia está em tudo.

Dentro dos exemplos citados, é notável a presença intrínseca das reações químicas
acompanhadas da produção de energia. A natureza das reações logicamente implica que
existe um processo energético envolvido, ligações são formadas e quebradas com gasto e
ganho de energia, podendo ser mais fracas ou mais fortes dependendo da energia a ser
despendida para quebrá-las. Átomos em si, são nuvens de interação eletrostática, uma
forma energética, com um núcleo denso de caráter positivo.

A parte da Química como ciência que tem como objetivo a compreensão da energia e das
suas transformações dentro de processos é conhecida como termodinâmica. Essa área de
estudo lança foco nas relações que existem entre trabalho, calor e energia no contexto
dos combustíveis e dos processos a vapor, por exemplo. A termoquímica, por outro lado,
enfoca a compreensão das transformações energéticas dentro do contexto de reações.

Antes de mergulhar diretamente na termodinâmica e termoquímica, é preciso compreender


as bases dos conceitos que serão estudados dentro desses assuntos, vamos começar
entendendo afinal, o que é energia?

1. Entendendo a energia e trocas energéticas

Em termos físicos, a energia é a capacidade de um sistema de realizar trabalho. Este, por


outro lado, é a energia utilizada para que um objeto se mova quando contra uma força. Em
termos matemáticos, o trabalho é o produto da força aplicada a um sistema pelo
deslocamento que ele realiza. A energia é o que torna esse deslocamento possível. O calor
pode ser entendido como a energia utilizada para alterar a temperatura de um objeto, mas
também como a diferença relativa de temperatura entre um sistema e sua vizinhança.
Iremos discorrer sobre o calor quando o abordarmos conceitos térmicos em si.

1.1 A Energia cinética e energia potencial

A energia cinética é a energia envolvida no movimento. Todo sistema que possui


movimento possui energia cinética, desde átomos em seus movimentos vibracionais e
rotacionais até gigantescos corpos celestes. Matematicamente, ela depende da massa e da
velocidade deste objeto. Dentro da Física, a energia cinética é estudada em áreas como a
cinemática, enquanto que na Química o foco é na cinética envolvida nos átomos e
moléculas .
A energia potencial, como o nome sugere, é uma energia armazenada com o potencial de
converter-se em outras formas de energia. Qualquer sistema possui energia potencial que é
convertida em outras formas energéticas. Uma ligação química, por exemplo, armazena
energia potencial em si que é liberada quando esta ligação é quebrada. Um peso suspenso
está propenso a sofrer um deslocamento pela força da gravidade, realizando trabalho, logo
possui energia potencial que pode ser convertida em cinética. É importante ressaltar que a
conversão de energia potencial em outras formas energéticas é intercambiável, ou seja,
reversível, que um processo ocorre.

Dentro das moléculas e átomos, a energia potencial com que estamos lidando é
principalmente a eletrostática, já que em ligações químicas nas moléculas, as forças
eletrostáticas entre cargas elétricas são o que permitem que elas existam. Como já
mencionado, uma ligação química possui energia potencial eletrostática dentro de si que é
liberada quando essa ligação se quebra. Reações químicas como a combustão, por
exemplo, consistem na quebra de ligações e rearranjo delas para a formação de produtos,
consequentemente, envolvem o consumo e liberação de energia, a energia química.
Quando acontece uma reação como a combustão exemplificada, essa energia química
torna-se energia térmica, liberada em forma de calor, como no motor de um carro.

1.2 Unidades de energia e sistema/vizinhança

No Sistema Internacional, a unidade de medida de energia é o Joule (J), matematicamente,


1 Joule significa que uma massa de 2kg em um movimento cuja velocidade é 1 metro por
segundo, possui uma unidade de Joule de energia que é capaz de realizar este trabalho.
Além do Joule, também existe a caloria e a quilocaloria, medidas menos associadas com o
movimento de um sistema e sim com a alteração da sua temperatura. Uma caloria é
definida como a quantidade de energia necessária para aumentar 1 grama de água em 1
grau Celsius. A relação entre Joule e caloria é a seguinte:

1 cal = 4,184 J

Ao discorrer sobre energia e trocas envolvidas em processos energéticos, mencionamos os


conceitos de sistema e vizinhança. Estes são termos utilizados para relativizar o objeto
estudado do meio em que se encontra para se compreender o direcionamento do fluxo
energético, o objeto de estudo sendo o sistema e seus arredores sendo a sua vizinhança.
Por exemplo, em uma panela com água fervente, se estamos estudando a conversão de
energia acontecendo na água, a sua vizinhança é a panela que serve de seu recipiente.

Existem diferentes tipos de sistemas dependendo das trocas de energia que eles podem
fazer com suas vizinhanças. Um sistema aberto troca massa e energia com sua vizinhança,
como um copo de água gelada deixado ao ar livre, que perderá massa de seu conteúdo
para o ar e trocará calor com o ambiente. Um sistema fechado apenas trocará energia com
a sua vizinhança, o copo de água se tornaria um sistema fechado se transferirmos a água
para uma garrafa propriamente fechada, apenas a diferença de temperatura entre a água
dentro da garrafa e a temperatura do ambiente estariam envolvidos em troca, uma troca
exclusivamente energética.
Um sistema isolado não troca massa ou energia com o sistema, sistemas isolados são
impossíveis em condições reais, mas podemos citar uma garrafa térmica de café como um
sistema teoricamente isolado.

2. Calor e trocas energéticas térmicas

Visualize-se em um dia quente de verão na praia, você entra no mar para refrescar seu
corpo do “calor” que está sentindo. Ao sair do mar, repentinamente, seu corpo se arrepia e
você é imediatamente acometido de uma sensação de “frio”. Entretanto, a temperatura ao
seu redor permanece a mesma, desde que você entrou na água. Por que isso acontece? A
resposta é: existem trocas de calor nessa situação.

Vamos analisar em etapas. Antes de entrar no mar, seu corpo estava quente, assim como o
ambiente ao seu redor, uma troca de energia ocorre entre o ambiente quente e você. O
calor sempre flui meio mais “quente” para o mais “frio”. Portanto, como o ambiente estava
mais quente do que a superfície da sua pele, você sente calor. Quando você entra na água,
a sua vizinhança se torna mais fria do que você, o sistema, portanto, você sente uma
sensação de frescor por estar perdendo energia na forma de calor para a água do mar até
entrar em equilíbrio térmico. Quando seu corpo, agora molhado, sai da água e volta para o
ambiente quente, seu corpo volta a receber energia do ambiente quente e a água recebe a
energia do seu corpo em seguida, essa energia a faz evaporar, este processo “rouba”
energia do seu corpo, fazendo com que você sinta “frio”.

O comportamento do calor e das transferência de energia que ele infere será melhor
explicado pelas Leis da Termodinâmica.

3. Primeira Lei da Termodinâmica

Entendemos que a energia existe e é inerente a um sistema e as forças e outras energias


potenciais de sua vizinhança, entretanto, como compreender as regras pelas quais essas
conversões operam? A mais importante delas é a Primeira lei da termodinâmica, que rege
que a energia de um sistema é conservada, sem ser criada ou destruída.

A “energia de um sistema” é a sua energia interna, definida pela soma de todas as


energias que existem um sistema, denotada por ΔU, em estudos de termodinâmica, o que
interessa é a variação que essa energia interna sofre, que pode ser determinada utilizando
a afirmação da Primeira lei.

Se a variação de energia interna for positiva, ou seja, se a sua energia ao fim do processo
for maior do que a energia no início dele, o sistema ganha energia da vizinhança. Se essa
variação for negativa, ou seja, menor no fim do processo do que no início, o sistema perde
energia para a vizinhança. Vamos exemplificar em um contexto químico.

Tratemos de analisar as variações de energia interna de uma determinada reação química.


Consideremos os reagentes e produtos um sistema em seu estado final e inicial. Nesta
reação, se ΔU for positivo, os produtos são mais energéticos que os reagentes, enquanto
que quando é negativo, o contrário ocorre.
3.1 Relacionando a energia interna com as trocas energéticas: calor e trabalho

Se a energia interna de um sistema é a soma de todas as energias que o afetam, podemos


logicamente inferir que a energia de um sistema é a soma dos processos de troca de
energia que ocorrem entre um sistema e sua vizinhança, afinal, segundo a primeira lei, a
energia é conservada nessas conversões. Além de calor e trabalho, em situações reais
também é necessário considerar a influência das trocas radioativas dentro de um sistema,
que também são contabilizadas dependendo da natureza da situação estudada. Portanto:

ΔE (energia interna) = Q (calor) + W (trabalho) + R (radiação)

Também podemos interpretar essa relação da seguinte maneira: a adição de trabalho, calor
e radiação sobre um sistema aumentam a sua energia interna. Da mesma maneira,
pensando no sentido contrário, quando o sistema adiciona trabalho, calor ou radiação sobre
sua vizinhança, a sua energia interna diminui, pois se transfere para sua vizinhança.

Existe uma denominação para processos que envolvem trocas de energia


sistema-vizinhança em que existe transferência de calor. Quando o sistema absorve calor,
ou seja, sua energia interna aumenta e é positiva, o processo que ocorre é endotérmico.
Quando o sistema libera calor para sua vizinhança, sua energia interna diminui e é negativa,
o processo que ocorre é exotérmico.

Além disso, a energia interna de um sistema é afetada por diversas variáveis que
expressam as suas condições em determinado momento do processo, como a
temperatura, pressão e quantidade de matéria. O volume também entra como variável
que afeta a energia interna, veremos posteriormente como ele está relacionado com a
quantificação de ΔU, para isso, precisamos introduzir o conceito de entalpia.

4. Entalpia e relações entre trabalho e volume

Matematicamente, a entalpia é uma função que envolve utilizar da energia interna das
variáveis de estado do sistema que a afetam de forma a quantificar como o trabalho está
relacionado com elas quando existem trocas de calor envolvidas. Entalpia é denotada como
H e se define da seguinte forma:

H = ΔE + PV (produto da pressão pelo volume)

Como definimos ao introduzir o conceito de trabalho, ele é definido pela capacidade de


realização de movimento de um sistema contra uma força por meio de conversão de
energia. Em termodinâmica, o “movimento” que um sistema realiza ou sofre está
relacionada com a alteração do seu volume, assim como a força que ele exerce. Por
exemplo, se considerarmos um sistema gasoso com um recipiente com êmbolo como sua
vizinhança, a pressão do êmbolo sobre o gás realiza trabalho no sistema, comprimindo seu
volume, enquanto este a devolve para a vizinhança ao expandir o seu volume. Quando a
pressão em um processo é constante, podemos relacionar o trabalho realizado com o
volume da seguinte maneira:

W = -PΔV (produto do negativo da pressão pela variação de volume)

Como a pressão é uma grandeza que sempre será um número positivo, o sinal dela é
negativo nessa relação para que exista uma conformidade com as relações estabelecidas
em relação aos significados de trabalho positivo e negativo.

A variação de entalpia também é interessante para análise das trocas de calor de um


processo. Se a entalpia quantifica as alterações que um fluxo de calor provoca na energia
interna e no estado de um sistema sob pressão constante, a sua variação ΔH irá indicar o
calor que esse sistema ganha ou perde sob pressão constante. Matematicamente, quando
ΔH é positivo, o sistema ganha calor, enquanto o contrário ocorre quando ΔH é menor do
que zero. Utilizamos o valor dessa variação de entalpia para estudar as características de
processos reativos, determinando se são exotérmicos ou endotérmicos e a energia na
forma de calor envolvida na formação de produtos, além de poder determinar a
espontaneidade de reações.

O calor específico e a capacidade calorífica são propriedades intrínsecas da substância que


forma o sistema estudado e não são de interesse para análise neste contexto, mas são
fatores que interferem no estudo das trocas térmicas que ocorrem em sistemas.

A área da Físico-química que quantifica as trocas de calor envolvidas em sistemas e as


variáveis envolvidas nestes processos é a calorimetria.

5. Sistemas gasosos

Apesar de possuírem propriedades químicas bastante diferentes, gases comportam-se de


maneira muito fisicamente similar, costumam ser formados de moléculas pequenas,
majoritariamente diatômicas ou monoatômicas, no caso dos gases nobres, além disso. os
átomos que compõem sistemas gasosos são ametais. Gases possuem algumas
propriedades físicas bastante específicas intrínsecas à sua natureza, por exemplo, eles
expandem-se espontaneamente dentro de um recipiente fechado, igualando o seu volume à
capacidade do recipiente que os contém. Quando submetidos a uma pressão, gases são
capazes de se comprimir, diminuindo o seu volume. Misturas gasosas sempre serão
homogêneas, a atmosfera terrestre, por exemplo, é uma mistura gasosa homogênea de
gases como nitrogênio, oxigênio e hidrogênio, etc.

As propriedades dos gases são explicadas pelo grande espaçamento entre suas moléculas,
quando pensamos nas moléculas gasosas ocupando o espaço, podemos concluir que um
gás é majoritariamente formado de espaço vazio “polvilhado” por moléculas pequenas
altamente espaçadas. Devido a essa distância, as moléculas comportam-se
independentemente. Quando falamos de gases, existem variáveis de estado que
precisamos levar em consideração para analisar o seu comportamento, vamos dar
destaque à pressão em sistema gasoso primeiro.
5.1 Pressão

Fisicamente, podemos entender a pressão como o quociente entre uma força e a área em
que ela age. Tratando-se de gases, eles irão exercer uma pressão sobre qualquer área em
que estejam em contato. No Sistema Internacional, a unidade de medida de pressão é o
Pascal (Pa), cuja definição é Newton por metro quadrado. Além do Pascal, existem outras
medidas de pressão que a relacionam de acordo com o contexto utilizado, como atmosfera
(atm), bar, libras (psi), torr, etc.

5.2 As Leis dos Gases

Quando tratamos de entender o estado de um gás, existem quatro variáveis que entram
como fundamentos para determinar estas condições: volume, temperatura, pressão e a
quantidade de gás ou quantidade de matéria. As relações entre cada variável são as Leis
dos Gases, e essas variáveis serão associadas a conceitos de trocas energéticas quando
discorrermos sobre elas.

A primeira lei dos gases relaciona as variáveis pressão e volume, a lei de Boyle, enuncia
que o volume que uma quantidade fixa de gás mantida sob uma temperatura constante é
inversamente proporcional à pressão, ou seja:

PV = constante ou V = k x 1/P

A segunda lei dos gases irá relacionar temperatura e volume, a lei de Charles, e determina
que o volume de uma quantidade fixa de um gás sob pressão constante é diretamente
proporcional à sua temperatura, ou seja:

V/T = constante

A mesma lógica aplica-se para a terceira lei, a lei de Avogadro, que rege que V/n
(quantidade de matéria) é igual a uma constante.

Unindo as leis dos gases, concluímos as relações entre todas as variáveis envolvidas em
transformações gasosas na equação de Clapeyron: PV = nRT

Essas são leis que regem o comportamento de gases ideais, em gases reais existem mais
fatores como as interações entre moléculas e fatores de transformação que afetam os
cálculos envolvidos na relação entre essas variáveis, que tratamos as mudanças como
infinitesimais, integrando os cálculos:
6. Transformações gasosas e a primeira lei da termodinâmica

As variáveis que determinam as condições de um gás também caracterizam os tipos de


transformações que eles realizam. Existe uma relação entre o sinal do trabalho realizado
em cada transformação e a variação de energia interna que as caracteriza. Tratando-se do
volume, os processos podem ser expansões, com aumento de volume, ou compressões,
com diminuição do volume.

Como definimos trabalho como dependente de deslocamento e força exercida sobre a


vizinhança ou pela vizinhança (trabalho positivo no primeiro caso, negativo no segundo),
vamos traduzir o conceito de realização de trabalho dentro do contexto de um sistema
gasoso, consideramos este “deslocamento” como a variação de volume, portanto, o
trabalho em uma transformação gasosa existe quando existe expansão ou compressão do
gás.

6.1 Transformação Adiabática

Nesse tipo de transformação, o sistema não cede nem recebe calor de sua vizinhança, na
prática, esse tipo de processo é a compressão ou expansão de um gás que acontece muito
rapidamente. Como não existe troca de calor ou radiação, Q = 0 e R = 0. Portanto, segundo
a primeira lei, a energia interna deste sistema é igual ao trabalho realizado, ΔU = W

6.2 Transformação Isobárica

O processo de compressão ou expansão que ocorre sob pressão constante, como o


aquecimento ou o resfriamento de um sistema sob a pressão atmosférica. Se a pressão é
constante, a energia interna dependerá da variação de volume e temperatura, positiva se
estes aumentarem e negativa se a variação de volume for negativa (compressão).

6.3 Transformação Isotérmica

Transformação sob temperatura constante, como a compressão ou expansão lenta de


gases, como o processo de encher a câmara de uma bicicleta com uma bomba. Existe
realização de trabalho neste sistema. Como a temperatura se mantém constante, o trabalho
é igual ao calor na expansão e igual ao inverso do calor na compressão do gás.

6.4 Transformação Isocórica

Processo de transformação em que o volume se mantém constante, ou seja, não existe


trabalho realizado no sistema, de forma que a variação de energia interna é completamente
dependente do calor

7. A termodinâmica e a espontaneidade de reações

Todos os processos de conversões energéticas acontecem em uma certa direção.


Compreendemos com a primeira lei que a energia envolvida neles é conservada e
sabemos, ao exemplo do calor, que a energia térmica flui do meio mais “quente” ao mais
“frio” mas como realmente podemos afirmar a direção de uma conversão energética. Nem
todos os processos de troca de energia podem ser revertidos, portanto existe uma regra
para o fluxo. Como podemos determinar o quão espontâneo um processo pode ser?

Um processo que acontece espontaneamente não precisa de nenhuma força ou mudança


de condição externa para que aconteça, enquanto processos não espontâneos são
incapazes de ocorrer sem uma interferência externa. Por exemplo, um gás expande-se
naturalmente no vácuo, mas é incapaz de comprimir-se sem interferência de força externa,
ou seja, o processo e alteração do volume de um gás é espontâneo em uma direção e
não não espontâneo na outra. Este é um comportamento bastante comum dos processos.

Condições como a temperatura e a pressão são muito importantes para que possamos
aferir a espontaneidade de um processo. As condições de estado do sistema são muito
influentes na direção da espontaneidade, por exemplo, um tablete de manteiga derrete ao
ser deixado fora da geladeira em um dia quente e pode voltar a endurecer, mas não se
submetido à mesma temperatura que o derrete, não é mesmo?

Para determinar a espontaneidade de um processo, precisamos compreender os caminhos


possíveis em que ele acontece. Existem processos reversíveis e irreversíveis. Os
primeiros envolvem sistemas que podem se restaurar para as condições que estavam ao
início do processo sem alteração externa, enquanto os irreversíveis são incapazes de
regressar às suas condições iniciais.

Um exemplo interessante de processo reversível é o motor ideal, em uma situação real o


calor envolvido na combustão dentro de um motor acaba não sendo integralmente
convertido em trabalho, pois será perdido para as vizinhanças do sistema. Entretanto, em
uma situação ideal, o motor é um processo reversível. Carnot, matemático e engenheiro
mecânico francês, concluiu, ao estudar sobre um motor ideal, que um processo reversível
converte 100% da sua energia em trabalho sobre a vizinhança.

Agora, o que é um processo realmente reversível? Na teoria, como o motor ideal de Carnot
funciona? Vamos pensar da seguinte maneira, as transferências de calor que acontecem no
processo de um motor com trocas reversíveis são infinitesimais, ou seja, as diferenças de
temperatura que ocorrem no sistema são muito próximas de zero, de forma que se existe
uma diferença infinitesimal de temperatura entre sistema e vizinhança, o calor flui de forma
a equilibrar essa diferença, independente da direção. Perceba que o processo reversível é
infinitesimalmente lento.

Entendendo a reversibilidade, podemos concluir que todos os processos espontâneos reais


serão irreversíveis, mas como prever a espontaneidade deles? Para isso precisamos
analisar a entropia.

8. Entropia

A entropia é uma grandeza que está associada com a aleatoriedade ou o grau de


distribuição de energia nas moléculas de um sistema, associando a variação da entropia
com as transferências energéticas relacionadas a temperatura, ou seja, ao calor, podemos
compreender o enunciado da Segunda Lei da Termodinâmica.
9. Segunda Lei da Termodinâmica

Se um processo é reversível, ou seja, ocorrem mudanças infinitamente pequenas em suas


condições de temperatura, não existe variação de entropia em seu universo porque a
variação de energia nas moléculas do sistema é infinitamente pequena. Entretanto, em
processos irreversíveis, a variação de entropia não é nula.

Como concluímos que todos os processos espontâneos são irreversíveis, podemos


enunciar a Segunda Lei da termodinâmica: em todos os processos espontâneos, ocorre
aumento da entropia do universo, que é a soma da entropia do sistema com a da
vizinhança.

Ou seja, como podemos determinar a espontaneidade de um processo? Determinando se


existe aumento da entropia do universo em que ele ocorre.

10. Entendendo a entropia a nível molecular

Entendemos por entropia a distribuição de energia nas moléculas, mas como isso realmente
acontece? O que acontece dentro das moléculas de um sistema num processo
espontâneo? Vamos tomar como exemplo o processo de expansão de um gás dentro do
vácuo. Os gases podem ser descritos como partículas em conjunto que estão em constante
movimento segundo a Teoria Cinético-molecular dos gases, tomando este conceito vamos
entender a expansão de um gás como suas partículas movendo-se aleatoriamente, de
maneira vibracional, rotacional e translacional por um maior volume de espaço.

Pensemos em um frasco contendo vácuo que possui dois compartimentos hermeticamente


isolados um do outro por um registro. No lado direito existe um mol de um gás. Abrimos o
registro que separa os compartimentos. Se existe um mol de gás dentro do recipiente,
existem 6 x 10²³ partículas ali dentro. Para cada partícula, a probabilidade de elas existirem
apenas em um dos dois lados do frasco é de ½ . Para n partículas, essa probabilidade é ½
elevada a n. Logicamente, ½ elevado a 6 x 10²³ é um número infinitamente pequeno. O que
isso significa macroscopicamente? A probabilidade de todas as partículas deste gás se
acumularem em apenas um lado do recipiente quando o registro se abre é nula! O gás irá
se expandir espontaneamente no vácuo para preencher todo o espaço do recipiente.

Agora, voltemos ao conceito de entropia como a aleatoriedade de um sistema. Ao abrir o


registro, como o gás espalha-se espontaneamente, existe um maior “grau de desordem” de
suas partículas dentro do recipiente, ou seja, existe aumento da sua entropia, ou seja, o
processo de expansão de um gás no vácuo é espontâneo segundo a Segunda Lei da
termodinâmica.

11. Microestados e Boltzmann

Os estudos de termodinâmica foram iniciados sem levar em conta o comportamento


microscópico da matéria. Como determina a mecânica quântica, quando trabalhamos com o
mundo microscópico na química, estamos trabalhando com probabilística devido ao
comportamento dos elétrons nos átomos e às consequências desta abordagem na
formação de compostos. A termodinâmica estatística é a responsável por utilizar de
conceitos estatísticos que lidam com situações envolvendo probabilidade e os aplica ao
estudo termodinâmico para permitir a compreensão de processos de troca de energia a
nível molecular.

Um dos conceitos importantes para a compreensão da termodinâmica a nível molecular são


os microestados. Tratemos cada partícula de gás em movimento aleatório como um
pequeno sistema no qual analisamos as posições e energia cinética. Em um mol de gás,
todas 6 x 10²³ partículas que existem nesse mol de gás estão em diferentes posições em
possuem uma certa energia cinética, o conjunto da situação de posição e energia deste mol
de moléculas em um dado instante é o microestado do sistema gasoso em análise. Em
outras palavras, o microestado é o arranjo microscópico específico dos componentes
moleculares ou atômicos de um sistema em um determinado instante que chamaremos de
estado termodinâmico.

Usando a estatística podemos delimitar o número de microestados de um sistema em um


dado estado termodinâmico e assim, podemos redefinir o conceito de entropia levando em
conta o comportamento molecular. Entropia é a quantidade de microestados que é
associada a um certo estado macroscópico do sistema. Matematicamente representado
por:
S (entropia) = k. ln . W (total de microestados do sistema em um instante)

Portanto, à medida que o número de microestados aumenta, a entropia do sistema


aumenta. Podemos associar este conceito com a ideia de grau de aleatoriedade, quanto
maior o número possível de arranjos para cada uma das partículas em um estado, maior
será a sua entropia. Finalmente, o aumento de temperatura no sistema irá aumentar a
provável velocidade das moléculas e aumentar a distribuição de energia entre elas,
consequentemente causando um maior número de microestados por estado termodinâmico,
consequentemente, levando de volta à definição nova de entropia, portanto: a entropia do
sistema irá aumentar conforme a sua temperatura também aumenta.

12. Terceira Lei da Termodinâmica

Agora que compreendemos o conceito de entropia a nível macroscópico e molecular,


podemos nos questionar a respeito de algo: o que acontece se a temperatura um sistema
for reduzida de tal maneira que os movimentos de suas moléculas sejam reduzidos a zero?
Sabemos que os movimentos moleculares estão associados com a temperatura de um
determinado sistema, já que a temperatura é a grandeza que expressa numericamente o
grau de agitação das moléculas de qualquer substância.

Sabemos também que o estado teórico em que uma substância chega a ter seus
movimentos completamente paralisados é o zero absoluto, que é igual a 0 K ou -273,15 ºC.
Além disso, podemos inferir que se um sistema não possui nenhum movimento molecular
em um determinado instante, a quantidade de microestados dela é reduzida a um único
microestado = W.
A terceira lei da termodinâmica enuncia que, considerando uma substância cristalina
perfeita, completamente pura, cuja temperatura é zero absoluto ou 0 K, a sua entropia
será S = 0.

Se a entropia do sistema é zero e só existe um microestado, todos os seus átomos e


moléculas estão perfeitamente estáticos e ordenados, considerando esse sistema como um
sólido cristalino puro e perfeito. À medida que a temperatura aumenta, ou seja, energia é
fornecida ao sistema para que suas partículas retornem a um estado de movimento, a
entropia começa a aumentar novamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acervo pessoal do professor (anotações em aula com base em slides)


ATKINS, Peter; PAULA, Julio de. Físico-Química. 9. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2012.
ATKINS, Peter; JONES, Loretta. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o
meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
BROWN, Theodore L. et al. Química: a ciência central. 13. ed. São Paulo: Pearson, 2016.

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