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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS


FÍSICA LICENCIATURA

DERICK ALLAN RIBEIRO DE SOUZA

ENTROPIA: O que é entropia e suas interpretações em diversas áreas

ALFENAS
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………2
2. GASES E TERMODINÂMICA …………………………………………………….2
2.1. Lei Zero da Termodinâmica…………………………………………………2
2.2. Primeira Lei da Termodinâmica…………………………………………….3
2.3. Gases ideais e propriedades………………………………………………….4
2.3.1. Propriedades e transformações……………………………………...5
2.4. Segunda Lei da Termodinâmica…………………………………………….9
2.4.1. Terceira Lei da Termodinâmica……………………………………10
3. A Entropia no mundo real………………………………………………………….10
3.1. Entropia em máquinas térmicas…………………………………………...10
3.2. Entropia na Estatística……………………………………………………...12
3.3. Entropia na Economia……………………………………………………..12
3.4. Entropia na Administração………………………………………………..12
3.5. Erros em relação a entropia………………………………………………..12
3.6. Entropia na Química……………………………………………………….13
3.7. Entropia na Biologia……………………………………………………….13
4. Conclusão…………………………………………………………………………..13
5. Referências…………………………………………………………………………13

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1. Introdução

A entropia é uma grandeza que mede o grau de desordem das partículas de um


sistema, em outras palavras, mede o grau de liberdade molecular dentro desse sistema, tendo
em vista o número de configurações possíveis que ele pode possuir. É o que explica as
interações de sistemas e suas vizinhanças (coisas ao redor que são capazes de interagir). Mas
além da Física, a entropia também tem usos e interpretações em diferentes campos, como a
química, biologia, economia, computação e artes, sendo um conceito amplamente difundido
no cotidiano. Porém muitas pessoas falam sobre esse assunto de maneira errada e com intuito
de usar um conceito científico para ludibriar outras pessoas. A entropia está em todos os
lugares, tanto cientificamente quanto no senso comum, por isso é um conceito importante de
se entender e difundir corretamente.

2. Gases e Termodinâmica

A termodinâmica estuda e analisa os fenômenos relacionados à temperatura e ao


calor, a energia térmica de sistemas. A temperatura está relacionada à nossa sensação de
quente e frio, o sorvete é frio e o café quente, e está no cotidiano de todas as pessoas. É uma
das 7 grandezas fundamentais do Sistema Internacional de Unidades (SI), cuja escala mais
usada é o Kelvin(K). Embora não exista uma temperatura máxima, existe uma mínima, o zero
absoluto, 0 K, momento em que praticamente todo movimento molecular cessa. Já o calor,
que geralmente é associado ao aumento de temperatura ou uma alta temperatura, é a energia
transferida de um corpo a outro por conta da variação de temperatura ou mudança de estado
físico, é medido em Joules ( J ) e é a forma de energia fundamental da termodinâmica. O
estudo dessas áreas foi fundamental para o avanço da ciência e da tecnologia, como a criação
de fornos microondas, para aquecermos a comida e resfriadores para a congelarmos, o estudo
do superaquecimento de motores, estudos do clima, criação de garrafas térmicas mais e mais
eficientes, observação de fenômenos como um cubo de gelo derretendo, derretimento para o
manuseio de metais, entre outras diversas coisas.

2.1. Lei Zero da Termodinâmica

“Dois sistemas em equilíbrio térmico com um terceiro sistema, estão em equilíbrio térmico
entre si.”

Um sistema termodinâmico é formado geralmente por um corpo, ou matéria dentro de


um recipiente. O material desse corpo, sua extremidade ou as paredes do recipiente, o estado
do sistema é alterado pois interage com o ambiente. Por exemplo, se colocarmos água dentro
de uma panela e levarmos ao fogo, as “paredes” da panela irão aquecer, e a água também, e
após isso levamos à geladeira, a água irá esfriar, a temperatura e estado da água é alterado
pela interação com esses ambientes. Quando dois sistemas, de temperaturas diferentes, estão
separados por uma parede diatérmica (boa condutora de calor) estão em contato térmico, após
observar por um tempo, é notável que esses dois sistemas estão na mesma temperatura e,
estando isolados, vão permanecer na mesma temperatura, isso é o equilíbrio térmico. O

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conceito de temperatura está amplamente relacionado ao equilíbrio térmico. Quando saímos
na rua descalços num dia de sol, muito quente, sentimos o chão queimar nossos pés e se
estivermos usando um chinelo não queimamos, isso se deve pois a sola isola nosso pé e não
permite a troca de calor, interrompendo assim o sistema de chegar ao equilíbrio térmico de
forma brusca. Agora consideremos um sistema com três corpos separados,como na imagem
abaixo, por paredes adiabáticas (não trocam calor), se substituirmos a parede do corpo 3 por
uma diatérmica, os corpos formarão um sistema entre si e irão realizar trocas de calor com o
corpo 3, até atingir o equilíbrio térmico, tanto que que no fim, todos estarão em equilíbrio.

Os 3 corpos estão separados por paredes adiabáticas, ao substituirmos a parede


que separa o corpo 3 dos demais, por uma parede diatérmica, o corpo 1 e 2 começam a trocar
calor com o 3. Após um tempo 1 estará em equilíbrio térmico com o 3 e o 2 estará em
equilíbrio térmico como o 3 também, com isso podemos afirmar que os corpos 1 e 2 também
estarão em equilíbrio térmico.

2.2. Primeira Lei da Termodinâmica

“O calor fornecido ou retirado de um sistema vai se resultar na realização de trabalho e


variação da energia interna do mesmo”

“Se a energia cinética e potencial são equivalentes a calor, é natural que o calor seja
equivalente a energia cinética e potencial.” Essa frase do médico alemão Julius Robert
Mayer, estudioso da natureza do calor, foi de suma importância para fundamentar e esclarecer
o ponto de que, naturalmente, o calor era uma forma de energia. E ele, como forma de
energia, se enquadra no conceito da conservação de energia, o qual diz que a energia não se
cria nem se destrói, porém se transforma. Um fluido homogêneo em equilíbrio térmico pode
ser determinado em função de diversas variáveis, como a pressão, o volume e a temperatura.
Nas experiências de James Prescott Joule, físico britânico, ele mantinha um fluido com o
volume constante, mantendo o estado do fluido determinado pela sua temperatura, sendo
assim passar de uma temperatura inicial até uma final significava passar de um estado inicial
para um estado final por meio de um trabalho adiabático (sem trocas de calor).
A primeira lei da termodinâmica está estritamente relacionada a esse trabalho
observado por Joule e o pensamento de calor como forma de energia de Mayer. Ela aplica os
conceitos da conservação de energia ao campo da termodinâmica, dizendo que a variação de
energia interna de um sistema se deve pela quantidade de calor que ele envolve e o trabalho

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que realiza. Figurando isso, pensemos em uma máquina a vapor, o vapor d’água que faz
máquina trabalhar, sendo assim ele produz e gasta energia proveniente de algum lugar ou
processo, sua energia interna, e isso se dá ou pelo aumento de temperatura do fluido ou pela
sua expansão, movendo os pistões e realizando trabalho. Porém, nos dois casos, a energia
interna vai se manter, obedecendo a conservação de energia. Assim podemos concluir que a
energia interna de um sistema está ligada ao trabalho e a quantidade de calor do processo,
relação que é: a variação de energia interna de um sistema termodinâmico é dada pela
diferença entre a quantidade de calor absorvida por ele e o trabalho realizado.
Expressando matematicamente temos:

∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
∆𝑈 = Variação de energia interna ( cal ou J)
𝑄 = Quantidade de calor
𝑄𝑉𝑜𝑙. 𝐶𝑡𝑒 = 𝑛 · 𝐶𝑣 · ∆𝑇
𝑄𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝐶𝑡𝑒 = 𝑛 · 𝐶𝑝 · ∆𝑇
𝑊 = Trabalho
𝑉𝑓
𝑊 = ∫ 𝑃𝑑𝑉
𝑉𝑖
O trabalho é o produto da pressão pela variação de volume.

Ao analisarmos essa variação de energia, vemos que ela depende do estado em que o
sistema se encontra e não do caminho necessário a chegar a esse estado. E ao analisarmos as
fórmulas, notamos que caso não haja mudança de temperatura, não haverá mudança de
energia interna, pois o fluido não receberá/cederá calor, ou irá ser comprimido ou expandir,
não realizando trabalho.

2.3. Gases ideais e propriedades

Gases são fluidos que não possuem forma definida, são de fácil compressão e tem
como característica serem expansíveis, ocupando sempre o volume total dos recipientes em
que se encontram. Com o estudo de diversos gases, se criou um “modelo” de gás ideal ou
perfeito, o qual se aproxima do comportamento dos gases reais. Esse modelo é sustentado por
algumas hipóteses levantadas, como: as moléculas, ou átomos, do gás são puntiformes,
obedecendo às leis do ponto material; as colisões entre as partículas constituintes do gás com
as paredes do recipiente em que se encontra são colisões elásticas, ou seja, conservam a
energia; a interação das partículas se dá por essas colisões. Na Física, ao estudarmos gases,
utilizamos o modelo, cujo comportamento se encaixa nessas hipóteses.
O que analisamos é o comportamento térmico desses gases considerando algumas
variáveis, como pressão, volume e temperatura. Cada estado de equilíbrio de um gás
relaciona e atribui valor para essas variáveis, sendo que esse gás sofre uma transformação,

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saindo de um estado inicial e indo para um final, que se dá pela variação dessas condições. A
equação geral dos gases relaciona essas variáveis e é descrita como:

𝑃𝑖·𝑉𝑖 𝑃𝑓·𝑉𝑓
𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
Como o gás se mantém em equilíbrio, o estado inicial deve ser igual ao final.
Como foi notado esse aspecto de equilíbrio, foi desenvolvida uma nova relação,
conhecida como equação de Clapeyron, na qual relaciona o produto da pressão pelo volume
sendo diretamente proporcional ao produto do número de mols do gás, uma constante e a
temperatura:
𝑃𝑉 = 𝑛𝑅𝑇
𝑛 = n° de mols
𝑅 = constante dos gases = 8,31 J/mol·K

2.3.1. Propriedades e transformações

Algumas dos processos dos gases são: expansão livre isotérmicas, isobáricas,
isovolumétricas e adiabáticas, sendo que significam, respectivamente: o gás se expande
livremente, a temperatura é constante, a pressão é constante, o volume é constante e não há
troca de calor. Podemos analisar a variação da energia nos casos.
A expansão livre é uma propriedade dos gases ideais, na qual é aplicado colocar um
gás em um recipiente de paredes incompressíveis e adiabáticas dividido por uma válvula que
liga a outro compartimento idêntico a esse, porém fazendo vácuo. Ao abrir essa válvula, o gás
vai naturalmente fluir para o vácuo, ocupando todos os dois recipientes por igual.

Expansão livre de um gás

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Uma transformação isotérmica ocorre numa temperatura constante, isto é, a
temperatura final e inicial do sistema são iguais. Ao aplicarmos na equação geral temos que:

𝑃𝑖·𝑉𝑖 𝑃𝑓·𝑉𝑓
𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
→ 𝑇𝑖 = 𝑇𝑓 → 𝑃𝑖𝑉𝑖 = 𝑃𝑓𝑉𝑓
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
𝑉𝑓
∆𝑈 = 𝑄 − ( ∫ 𝑝𝑑𝑉)
𝑉𝑖
𝑉𝑓
𝑛𝑅∆𝑇
𝑃 · 𝑉 = 𝑛 · 𝑅 · ∆𝑇 → ∫ 𝑉
𝑑𝑣
𝑉𝑖
𝑉𝑓
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑛𝑅∆𝑇 · 𝑙𝑛 𝑉𝑖
∆𝑇 = 0 → ∆𝑈 = 0 − 0, ∆𝑈 = 0
O produto da pressão pelo volume vai ser constante durante a transformação. E ao
analisar a expressão é possível concluir que, nesse caso, a pressão é inversamente
proporcional ao volume, se o volume aumenta, a pressão do gás diminui e vice-versa.
A energia interna de um processo isotérmico será 0, pois de acordo com a primeira lei
da termodinâmica, é necessária uma mudança de temperatura para que haja variação de
energia interna, logo ∆𝑈 = 0.

Esse é o diagrama da função isotérmica. A curva é chamada de isoterma, e é correspondente a


temperatura. É notável que nos pontos o estado está em equilíbrio, os valores da pressão e
volume variaram proporcionalmente. Como os dois pontos estão na mesma isoterma, não há
mudança de temperatura.

Outra transformação é a isobárica, que indica que a pressão do gás durante o sistema
se manteve constante. Ao colocarmos na equação geral:

𝑃𝑖·𝑉𝑖 𝑃𝑓·𝑉𝑓 𝑉𝑖 𝑉𝑓
𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
→ 𝑃𝑖 = 𝑃𝑓 → 𝑇𝑖
= 𝑇𝑓

Como a pressão vai se manter constante, as variações de volume e temperatura vão


ser diretamente proporcionais, se o volume do gás aumenta, a temperatura também vai
aumentar, e vice-versa. Nesse caso a variação de energia interna se dá pela equação:
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊

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∆𝑈 = 𝑄 − 𝑃 · ∆𝑉
∆𝑈 = (𝑛 · 𝐶𝑝 · ∆𝑇) − (𝑛 · 𝑅 · ∆𝑇)

Figura 2-3: O primeiro gráfico da transformação isobárica é caracterizado por uma linha reta,
a qual expressa que o sistema tem um valor constante da pressão no sistema, o segundo
mostra que somente o volume e a temperatura variam.

Também é possível acontecer uma transformação isovolumétrica, na qual o volume se


mantém o mesmo desde o estado inicial até o final. Sendo assim, ao analisarmos a equação
geral:
𝑃𝑖·𝑉𝑖 𝑃𝑓·𝑉𝑓 𝑃𝑖 𝑃𝑓
𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
→ 𝑉𝑖 = 𝑉𝑓 → 𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
O volume é constante, tendo variação apenas da pressão e da temperatura, sendo
assim, durante a transformação assim que um aumenta o outro também deve. Nesse caso, a
variação de energia interna será igual a quantidade de calor, pois o trabalho será 0.
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑃 · ∆𝑉
∆𝑉 = 0
∆𝑈 = 𝑄
∆𝑈 = 𝑛 · 𝐶𝑣 · ∆𝑇

Figura 2-4: No primeiro gráfico é visto que a transformação isobárica apresenta uma curva
vertical, mostrando que não há variação de volume, no segundo é visto que o aumento da
pressão e da temperatura são proporcionais. Ao observar o primeiro gráfico, é visto que é
𝑉𝑓
uma linha reta e como o trabalho é resultado da integral ∫ 𝑃𝑑𝑉, notando que a integral dá o
𝑉𝑖
valor de uma área sobre uma curva, esse valor nesse caso é nulo, resultando trabalho nulo.

A transformação adiabática ocorre quando não há troca de calor. Assim temos:

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𝑃𝑖·𝑉𝑖 𝑃𝑓·𝑉𝑓
𝑇𝑖
= 𝑇𝑓
A temperatura é constante, sendo assim a pressão inicial e o volume final são
diretamente proporcionais, assim como o volume inicial e a pressão final. Ao observar a
energia interna do processo, como não há troca de calor, a energia interna será o valor do
trabalho.
∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
𝑄= 0
∆𝑈 = 0 − ∆𝑊
𝑉𝑓
∆𝑈 =− ∫ 𝑃𝑑𝑉
𝑉𝑖

Figura 2-5: Há variação de pressão, volume e temperatura, porém não há trocas de calor com
o ambiente, nisso, a variação de energia interna será igual ao trabalho, ou a área sob a curva.

Pode ocorrer também uma transformação cíclica, na qual se sai de um estado de


equilíbrio, parte para outro e volta ao inicial. Nesses casos pode haver mais de um tipo de
transformação.

Figura 2-6: Nesse caso, de A→B é uma transformação isovolumétrica, isto é com volume
constante, de B→C ocorre um processo isobárico, com a pressão constante, de C→D outra
isovolumétrica e de D→A uma isotérmica, mantendo a temperatura constante. Por fim, o gás
retornou ao seu estado inicial, logo a variação de energia interna é nula.

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2.4. Segunda Lei da Termodinâmica
“Se um processo acontece em um sistema fechado a entropia do sistema aumenta se o
processo for irreversível e permanece constante se o processo for reversível.”

A primeira lei da termodinâmica demonstra que o calor é uma forma de energia e se


comporta de acordo com os princípios desse campo, como a conservação de energia. Ao
observar processos que se encaixam na primeira lei, podemos dizer que esses processos são
reversíveis, pois se invertêssemos a ordem temporal dos acontecimentos, ele aconteceria sem
impedimentos. Porém, em alguns casos não é bem assim, por exemplo, o atrito tende a frear
corpos, gerando calor, por que ao esfriar o ambiente, o corpo não tende a se movimentar
rapidamente? Analisando energeticamente, o sentido é que tudo seja perfeitamente reversível,
porém no cotidiano vemos que certas coisas não são reversíveis sem algumas mudanças no
ambiente, e para entender como esses processo se orientam na realidade se usa o conceito de
variação de entropia, ∆𝑆.
Todos os processos irreversíveis, que não voltam ao seu estado inicial sem alguma
mudança no ambiente, em um sistema fechado são acompanhados do aumento de entropia.
Isso quer dizer que a entropia só pode aumentar, não diminuir. Como por exemplo ao dirigir
um carro e bater em um poste, isso é um aumento da entropia, para o carro “desbater” e
desamassar sozinho teria de haver uma diminuição de entropia, o que não é possível. Logo é
notável que a entropia vai de sentido contrário à conservação de energia.
Para entender melhor o conceito, vamos analisar a expansão livre de um gás. Como é
visto na Figura 2-2, um gás isolado em um lado de um recipiente, ao ter liberdade, se expande
livremente, se distribuindo por todo ele. Isso é um processo irreversível, pois o gás não vai
voltar naturalmente a ocupar somente um lado. A entropia é uma propriedade de estado,
analisa o início e o fim de um processo. Também podemos definir a variação de entropia, a
diferença da entropia final pela inicial, de um sistema pela equação:
𝑓
𝑑𝑄
∆𝑆 = 𝑆𝑓 − 𝑆𝑖 = ∫ 𝑇
𝑖
Sendo assim, a entropia depende da quantidade de energia transferida na forma de calor e da
temperatura do sistema em Kelvin. Podemos relacionar a entropia com a primeira lei da
termodinâmica, na forma diferencial, para encontramos uma forma geral da equação da
variação de entropia, sendo:
𝑑𝐸𝑖𝑛𝑡 = 𝑑𝑄 − 𝑑𝑊
𝑑𝑄 = 𝑑𝐸𝑖𝑛𝑡 + 𝑑𝑊
𝑑𝑄 = 𝑛 · 𝐶𝑣 · 𝑑𝑇 + 𝑝 · 𝑑𝑉
𝑝 · 𝑉 = 𝑛 · 𝑅 · 𝑑𝑇
𝑛·𝑅·𝑇
𝑝= 𝑉
𝑛·𝑅·𝑇·𝑑𝑉
𝑑𝑄 = 𝑛 · 𝐶𝑣 · 𝑑𝑇 + 𝑉
𝑑𝑄 𝑛·𝐶𝑣·𝑑𝑇 𝑛·𝑅·𝑇·𝑑𝑉
𝑇
= 𝑇
+ 𝑉·𝑇
𝑓 𝑓 𝑓
𝑑𝑄 𝑛·𝐶𝑣·𝑑𝑇 𝑛·𝑅·𝑑𝑉
∫ 𝑇 =∫ 𝑇 + ∫ 𝑉
𝑖 𝑖 𝑖

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𝑓
𝑑𝑄 𝑇𝑓 𝑉𝑓
∫ 𝑇
= 𝑛 · 𝐶𝑣 · 𝑙𝑛( 𝑇𝑖
) + 𝑛 · 𝑅 · 𝑙𝑛( 𝑉𝑖
)
𝑖
Isso mostra como a variação de entropia necessita somente dos estados iniciais e finais de um
processo, não sendo preciso saber o que houve nesse meio tempo.
Essa variação de entropia é fundamental para o entendimento da termodinâmica e a
segunda lei. Podemos afirmar que um processo é reversível quando é possível fazê-lo voltar
ao mesmo ponto que iniciou, e irreversível quando não é possível voltar ao mesmo ponto do
início. A variação de entropia está totalmente ligada com essa definição, em um processo
reversível a variação de entropia é zero, permanece constante, e em um processo irreversível
ela é maior que zero, indicando que não permanece constante. Sendo assim, podemos resumir
a segunda lei da termodinâmica como:
∆𝑆 ≥ 0

2.4.1. Terceira lei da Termodinâmica

A Terceira lei da Termodinâmica foi formulada pelo alemão Walther Nernst, e diz que
quanto mais próximo do zero absoluto, menor será a entropia. Essa lei fundamentou um
ponto de referência absoluto para a definição da entropia.

3. A Entropia no mundo real

A entropia é um conceito fundamental da termodinâmica, porém é presente em outros


campos do conhecimento como a economia, química, biologia, administração, entre outros.
Vamos discorrer um pouco sobre cada uma delas.

3.1. Entropia em máquinas térmicas

O entendimento da termodinâmica foi fundamental para o avanço da industrialização,


pois possibilitou a criação de máquinas que auxiliaram no desenvolvimento tecnológico na
época. As máquinas térmicas são instrumentos que usam da energia do ambiente ou alguma
substância para realizar trabalho, operando por meio de ciclos termodinâmicos, chamados
tempos. É possível analisar o funcionamento geral das máquinas térmicas por meio do estudo
de uma máquina ideal, a qual todos os processos são reversíveis e não há perdas para o
ambiente. Um exemplo de máquina térmica ideal é a máquina de Carnot, idealizada pelo pelo
cientista francês N. L. Sadi Carnot, que utiliza calor para realizar trabalho. A máquina
funciona da seguinte maneira: a cada tempo é absorvido uma quantidade de calor por meio de
uma fonte a uma temperatura constante, fornecendo esse calor à uma outra fonte que tem uma
temperatura, também constante, menor que a primeira, supondo que a substância nesse meio
seja um gás, e que haja um êmbolo na lateral da máquina, ao absorver calor ele se expande,
realizando trabalho e empurrando o êmbolo, e enquanto resfria se comprime e o êmbolo volta
ao seu local de origem, com isso se repetindo a cada ciclo.

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Esquema de um ciclo de Carnot.

A entropia desse sistema, por ser reversível, é igual a 0. Sabendo que só há duas
transferências de energia, portanto duas variações de entropia, e observando que a quantidade
de calor e temperatura da fonte quente são maiores que da fonte fria, podemos relacionar:
∆𝑆 = ∆𝑆𝑞 + ∆𝑆𝑓
|𝑄𝑞| |𝑄𝑓|
∆𝑆 = 𝑇𝑞
− 𝑇𝑓
= 0, 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 é 𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙
|𝑄𝑞| |𝑄𝑓|
𝑙𝑜𝑔𝑜, 𝑇𝑞
= 𝑇𝑓

Como a fonte fria retira calor, sua variação de entropia é negativa, porém a razão entre
a quantidade de calor e a temperatura são igualmente proporcionais, provando a
reversibilidade do processo.
Mesmo sendo ideal, na prática a máquina de Carnot não é perfeita, pois não consegue
transformar toda energia que absorve em trabalho útil, ou seja, não é 100% eficiente. A
eficiência é outra propriedade mensurável das máquinas térmicas, a qual é medida pela razão
entre o trabalho realizado e o calor absorvido:
𝑊
ε= 𝑄𝑞

Porém, uma máquina térmica perfeita seria inviável pelo fato de ser necessário que a
fonte quente forneça energia infinita e a fonte fria não absorva nada, além de ter que estar
imune de perdas para o ambiente, assim garantindo um processo naturalmente reversível,
entretanto como isso tudo não é possível o processo se torna irreversível, necessitando de
uma ajuda externa para o funcionamento.
Ao analisar o ciclo de Carnot, nos deparamos com uma situação ideal, e isso nos dá
base para analisar situações reais, como é o caso de refrigeradores. Refrigeradores como a
geladeira ou o ar-condicionado estão presentes no cotidiano de diversas pessoas, são
máquinas que funcionam ao contrário de um ciclo de Carnot, utilizam trabalho para retirar
calor de uma fonte e passam para outra, a geladeira retira calor do compartimento onde estão
os alimentos e passa para o ambiente, contudo como há perdas no ambiente, o processo é
igualmente irreversível como o ciclo de Carnot, pelo fato de necessitar de realização de
trabalho para continuar o processo.

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3.2. Entropia na Estatística

A estatística é outro campo que utiliza dos conceitos da entropia para seus estudos,
pois é um conceito que pode ser considerado como o número de possibilidades possíveis de
um sistema, o que está amplamente ligado com esse campo. A mecânica estatística estuda
esse lado da entropia e dá resultados satisfatórios como a termodinâmica, podendo calcular
microestados possíveis de moléculas de gás em um sistema fechado. Sendo assim a entropia
na estatística trabalha com tais microestados de um sistema, calculando o grau de desordem
do mesmo. Nesse campo, ela é calculada pela equação:
𝑆 = 𝑘 · 𝑙𝑛 𝑊
Onde W é o número de microestados possíveis do sistema e k é a constante de
Boltzmann, que relaciona a energia cinética média das partículas de um gás com sua
temperatura.
Na Estatística, a entropia é utilizada para medir probabilidades e graus de incerteza
em diversos âmbitos, como modelagem de cidades, cálculos sobre a distribuição de
transporte, com dados financeiros, etc.

3.3. Entropia na Economia

Dentro da Economia, o conceito de entropia é utilizado na medida de desordem e grau


de ineficiência de um sistema financeiro. Usando do entendimento que a entropia é sobre a
degradação de energia em um sistema, relacionaram com a energia ligada à produção, sendo
ela um dos fatores da atividade econômica. Com isso, usam esse conceito para calcular as
probabilidades e fazer previsões sobre o desequilíbrio econômico e a capacidade do mercado
de se auto-ajustar, de modo que previnam grandes crises.

3.4. Entropia na Administração

Na área administrativa, utilizam a ideia de entropia como o grau de desordem de um


sistema fechado. Sendo assim, colocam a desorganização de uma empresa como a causa de
seus problemas, criando teorias organizacionais para melhorar a produtividade, e caso a
entropia do ambiente seja muito grande, o sistema se mostra ineficiente.

3.5. Erros em relação a Entropia

O uso da entropia na economia e na administração abriu a porta para novas


concepções sobre essa área da Física em campos financeiros e organizacionais, porém grande
maioria dessas concepções está errada. Muitos coaches se aproveitam da ideia de a entropia
ser sobre a desordem em um sistema e tentam aplicar no modo de se viver, porém se torna
algo mais psicológico do que científico. A ideia de entropia na sua vida gira em torno de que
suportar incertezas dentro de si e no seu entorno, e aprender superá-las, atingindo um novo
nível de consciência social e pessoal. Mas esses conceitos não passam de ideias sem
embasamento científico, o que as faz cair na área da pseudociência, dependendo do quanto a
pessoa acredita nisso.

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3.6. Entropia na Química

Na química a variação de entropia é usada para relacionar com propriedades de


reações, para classificá-las como espontâneas ou não. Calculando a diferença de entropia
entre os produtos e os reagentes de uma reação, caso haja uma variação positiva, seria uma
reação espontânea, caso seja negativa, não seria espontânea. Isso se baseia no entendimento
de que a entropia mede o quanto um sistema está em desordem, logo caso haja um nível alto
de desordem naturalmente, houve uma reação sem intervenção. Junto com ela, nesse mesmo
intuito, a química tem a entalpia, que é relacionada à energia interna de uma substância.

3.7. Entropia na Biologia

Na Biologia, a entropia se relaciona com o metabolismo e a ordem de um sistema. A


troca de energia entre os seres vivos e o ecossistema faz a entropia variar, criando uma
desorganização, que é “metabolizada” e encontra uma nova ordem para as coisas. A entropia
é necessária para a manutenção da ordem, pois é desse modo que a vida se mantém também.
Como exemplo disso pode-se observar a formação de um embrião, que passa por diversos
processos para se tornar um complexo ordenado que gera uma vida.

4. Conclusão

A entropia é um conceito fundamental em diversas áreas científicas e para a ciência


como um todo. Como diversos conceitos, ela infelizmente é usada como propaganda de
desinformação e como fomento de pseudociências, por isso é necessário uma boa divulgação
científica, para ajudar pessoas a não caírem nessas falácias. No mais, está intrínseca no nosso
cotidiano e nos ajudou a fazer grandes avanços tecnológicos, é fato que o estudo da entropia é
e foi fundamental para a ciência.

5. Referências

● https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/entropia-uma-grandeza-termodinamica.htm
● http://www.esalq.usp.br/lepse/imgs/conteudo_thumb/Entropia-dos-Seres-Vivos.pdf
● https://pt.wikipedia.org/wiki/Entropia
● HALLIDAY, D.; RESNICK, R;, WALKER, J. Fundamentos da física: Gravitação,
ondas e termodinâmica. 10. ed.
● NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica: Fluidos, oscilações e ondas, calor. 5.
ed. Disponível em: https://noic.com.br/wp-content/uploads/2021/05/Moyses_2.pdf
● https://www.manualdaquimica.com/fisico-quimica/entropia.htm
● https://wp.ufpel.edu.br/consagro/files/2012/01/CAETANO-Paulo-Mantey-Domingues
-Indicadores-ambientais-sint%C3%A9ticos-contribui%C3%A7%C3%B5es-da-Termo
din%C3%A2mica.pdf
● https://www.ecodebate.com.br/2010/06/14/economia-e-entropia-a-economia-do-futur
o-e-o-futuro-da-economia-artigo-de-marcus-eduardo-de-oliveira/

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● https://administradores.com.br/artigos/sua-vida-precisa-de-entropia
● https://merkatus.com.br/o-que-e-entropia/
● https://villadobem.com.br/viver_inutilmente/

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