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Operações Unitárias

Balanço de Energia em Processos Físicos e Químicos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Paulo Cezar Frangiosa

Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Balanço de Energia em
Processos Físicos e Químicos

• Formas de Energia;
• Equação Geral dos Balanços de Energia;
• Balanços de Energia em Sistemas Fechados sem Reação Química;
• Balanços de Energia em Sistemas Abertos sem Reação Química;
• Casos Especiais dos Balanços de Energia em Regime Permanente;
• Balanços de Energia em Sistemas em que Ocorre Reação Química;
• Transferência de Calor.


OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Identificar as formas de energia presentes em um sistema;
• Compreender os princípios básicos envolvidos na geração, utilização e transformação da
energia em suas diversas formas;
• Realizar o balanço de energia em sistemas fechados e abertos;
• Desenvolver o conceito de balanço de energia do ponto de vista macroscópico e microscópico.
UNIDADE Balanço de Energia em Processos Físicos e Químicos

Formas de Energia
O conceito de energia relaciona-se diretamente à capacidade de produzir trabalho.
A energia causa modificações na matéria, podendo ser irreversíveis em muitos casos.
De todas as formas de energia existentes, a mais utilizada é, sem dúvida, a energia
elétrica, cuja principal fonte provém das usinas hidrelétricas: a força da água é respon-
sável por sua geração. Outras formas de obtenção de energia devem ser mencionadas,
destacando-se a energia solar, nuclear e eólica. A própria energia elétrica pode se trans-
formar em outros tipos de energia ao chegar às residências ou em indústrias: energia
térmica, energia sonora e luminosa, energia mecânica etc.

Podemos dizer que a energia total de um sistema é composta basicamente por três
componentes:

Energia Cinética
Incropera (2008) nos ensina que:

Energia cinética é a capacidade de um corpo em movimento realizar trabalho.

A energia cinética é, pois, a capacidade de algum corpo em movimento realizar


trabalho, modificando o estado de movimento dos corpos ao seu redor ou mesmo defor-
mando-os. Parece claro imaginarmos que, quanto maior a velocidade e a massa de um
corpo, maior será a sua capacidade de realizar trabalho quando estiver em movimento.
Analogamente, podemos imaginar que um corpo que contém uma grande energia ciné-
tica irá requerer grande quantidade de energia para cessar o seu movimento.

A energia cinética pode ser obtida pela equação que segue:

m.v 2
Ec = (Eq. 1)
2
Onde:
• Ec: energia cinética (J);
• m: massa do corpo (kg);
• v: velocidade do corpo (m/s).

Energia Potencial
De acordo com Incropera (2008):

Energia potencial é uma forma de energia associada a um sistema onde ocorre


interação entre diferentes corpos, e relaciona-se com a posição que o determinado
corpo ocupa.

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Quando a energia potencial está relacionada a trabalhos que envolvem força, a ener-
gia armazenada nos corpos é chamada de energia potencial gravitacional; quando a
energia associa-se a uma força elástica, temos a energia potencial elástica. Dessa forma,
a energia potencial pode ser armazenada em um sistema físico, tendo a capacidade de
ser transformada em energia cinética: à medida que o corpo perde energia potencial,
ganha energia cinética ou vice-versa.

Energia Potencial Gravitacional (EPg)


É a energia que um objeto possui devido à sua posição em um campo gravitacional,
sendo medida pelo trabalho realizado pelo seu peso, quando se desloca de uma posição
inicial para outra (mais elevada que a inicial). Nesse ponto mais elevado, o objeto possui
maior energia potencial, que será convertida em energia cinética ao retornar à posição
de origem.
A energia potencial gravitacional pode ser obtida pela equação que segue:

EPg = m.g.h (Eq. 2)


Onde:
• EPg: energia potencial gravitacional (J);
• m: massa do corpo (kg);
• g: aceleração da gravidade (9,8 m/s2);
• h: distância do corpo em relação a um nível de referência (m).

Energia Potencial Elástica (EPe)


Quando falamos em corpo elástico, estamos nos referindo àquele que sofre deformação,
produzida por uma força externa, passando de uma posição inicial (não deformada) para
uma final (deformada), e retornando à posição inicial quando a força é liberada. A energia
potencial elástica está relacionada com o trabalho realizado por essa força elástica.

A energia potencial elástica pode ser obtida pela equação que segue:

k .x 2
EPe = (Eq. 3)
2
Onde:
• EPe: energia potencial elástica (J);
• k: constante elástica da mola (N/m);
• x: deformação sofrida pela mola (m).

Energia Interna
Qualquer molécula possui certa quantidade de energia interna armazenada no seu
interior. Assim:

A energia interna de um sistema é a soma das energias cinética e potencial, relacio-


nadas ao movimento dos átomos e moléculas que o compõem.

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UNIDADE Balanço de Energia em Processos Físicos e Químicos

Sendo diretamente proporcional à temperatura do corpo, quanto maior for sua tempe­
ratura, maior será sua capacidade em realizar trabalho. Além da temperatura, a energia
interna é função, também, de variáveis como pressão e volume. Para gases moleculares
monoatômicos, por exemplo, a energia interna depende exclusivamente do seu número de
mols (n) e da temperatura (T). Nesse caso em particular, a energia interna será dada por:

3nRT
U= (Eq. 4)
2
Onde:
• U: energia interna (J);
• n: número de mols (mols);
• R: constante universal dos gases perfeitos (8.31 J/mol.K);
• T: temperatura (K).

Equação Geral dos Balanços de Energia


A adequada utilização da energia nos processos industriais requer o entendimento dos
princípios básicos envolvidos na sua geração, utilização e transformação em suas diver­
sas formas. O conceito de balanço de energia, do ponto de vista macroscópico, asse-
melha-se muito ao conceito de balanço material macroscópico, estudado anteriormente.

Assim, podemos escrever uma equação geral, que traduz os balanços de energia em
processos industriais, como sendo:

A= E–S+G–C

Onde:
• A: Acúmulo de energia dentro do sistema;
• E: Entrada: energia transferida para o sistema;
• S: Saída: energia transferida do sistema;
• G: Geração: energia gerada no sistema;
• C: Consumo: energia consumida pelo sistema.

O transporte da energia através das fronteiras do sistema pode ocorrer de duas ma-
neiras: calor (Q) ou trabalho (Ƭ). Tais quantidades, quando presentes nas equações e
balanços de energia, representam as transferências líquidas de calor e trabalho, respec-
tivamente, entre o sistema e as vizinhanças.

A Primeira Lei da Termodinâmica trata da aplicação do princípio da conservação de


energia: a energia total de um sistema sempre se mantém constante, uma vez que ener-
gia não se perde, mas se transforma!

Matematicamente, a Primeira Lei da Termodinâmica pode ser escrita como:

ΔU = Q – Ƭ (Eq. 5)

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Onde:
• ΔU: variação da energia interna (cal ou J);
• Q: quantidade de calor (cal ou J);
• Ƭ: trabalho (cal ou J).

Calor (Q)
Uma quantidade de calor transferida para o sistema pode ser calculada a partir da
equação fundamental da calorimetria:

Q = mcΔT (Eq. 6)

Onde:
• Q: calor (cal ou J);
• m: massa (g ou kg);
• c: calor específico (cal/g°C ou J/kgK);
• ΔT: variação da temperatura (°C ou K).

Trabalho (Ƭ)
É uma grandeza física que mede a transferência ou transformação de energia nos
mais diversos sistemas físicos: quando um trabalho é feito sobre um corpo, parte da
energia que estava armazenada nesse corpo é transformada em outras formas de ener-
gia (cinética ou potencial, por exemplo). Algumas formas importantes de trabalho são
estudadas brevemente a seguir:

Força Não Paralela ao Deslocamento


O cálculo do trabalho exercido por uma força constante aplicada sobre um corpo é
dado por:

Ƭ = Fdcosθ (Eq. 7)

Onde:
• Ƭ: trabalho (J);
• F: força (N);
• d: deslocamento (m);
• θ: ângulo (°) entre o vetor da força aplicada e o vetor deslocamento.

Trabalho da Força Peso


Corresponde à quantidade de energia requerida para elevar um corpo de massa “m”
até uma altura “h” (em relação ao solo), em um local cuja gravidade vale “g”.

Ƭ = mgh (Eq. 8)

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Onde:
• Ƭ: trabalho (J);
• m: massa do corpo (kg);
• g: aceleração da gravidade (9,8 m/s2);
• h: altura (m).

Trabalho de Gases Perfeitos


Para transformações gasosas que ocorrem sob pressão constante (transformações
isobáricas), podemos escrever:

Ƭ = PΔV (Eq. 9)

Onde:
• Ƭ: trabalho (cal ou J);
• P: pressão (atm ou Pa);
• ΔV: variação de volume (m3 ou l).

Teorema do Trabalho e da Energia Cinética


Relaciona a quantidade de trabalho exercida sobre um corpo (ou sistema de corpos),
em função da variação de energia cinética resultante.

Ƭ = ΔEC = ΔECf - ΔECi, ou seja:

mv 2f mvi2
=
Τ − (Eq. 10)
2 2
Tabela 1
Grandeza Sinal Significado
+ Quando a temperatura do sistema aumenta.
ΔU
– Quando a temperatura do sistema diminui.
+ Sistema absorve calor da vizinhança.
Q
– Sistema cede calor para a vizinhança.
+ Expansão do sistema: realiza trabalho sobre o meio externo.
Ƭ
– Contração do sistema: recebe trabalho do meio externo.

Balanços de Energia em Sistemas


Fechados sem Reação Química
O balanço de energia é aplicado entre dois instantes específicos: o início e o final do
processo. Nesse caso, o acúmulo de energia do sistema nada mais é que a diferença entre
as energias dos estados final e inicial, no intervalo de tempo considerado. Assim teremos:

A = Ef – Ei

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Onde:
• A: acúmulo de energia dentro do sistema;
• Ef: energia final do sistema;
• Ei: energia inicial do sistema.
Para as energias transferidas entre o sistema e as vizinhanças, podemos escrever:

EPS – EDS= Q – Ƭ

Onde:
• EPS: energia transferida para o sistema;
• EDS: energia transferida do sistema;
• Q: quantidade de calor;
• Ƭ: trabalho.
Nos sistemas fechados, normalmente não ocorrem variações das energias potencial
e cinética, observando-se somente variações na energia interna deles (ΔU = Q – Ƭ : Pri-
meira Lei da Termodinâmica).
Para sistemas adiabáticos, ou seja, perfeitamente isolados, em que o sistema e as
vizinhanças estão na mesma temperatura (equilíbrio térmico), temos que:

Q = 0 (zero) → ΔU = – Ƭ (Eq. 11)

Balanços de Energia em Sistemas


Abertos sem Reação Química
Em sistemas abertos, a transferência de energia é acompanhada das transferências
de massa. Desta forma, a aplicação da equação “5” (ΔU = Q – Ƭ), restringe-se aos
processos estacionários (nos quais a massa contida no interior do sistema permanece
constante), de modo a ocorrerem apenas modificações de energia interna do sistema.

Industrialmente falando, os processos mais relevantes são aqueles que envolvem o esco-
amento permanente de fluído por meio de um ou mais equipamentos. Nesses processos,
utiliza-se a expressão mais geral da Primeira Lei da Termodinâmica, que representa o
balanço completo de energia, estudado anteriormente.

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Casos Especiais dos Balanços


de Energia em Regime Permanente
Tabela 2 – Balanços de energia em regime permanente
Situação Equação Observações
Variações da EP e EC desprezíveis em • ΔH: Variação de entalpia;
relação aos demais termos do ba- ΔH = Q – Ƭ • E : Energia potencial;
P
lanço energético. • E : Energia cinética.
C

Empregada na maioria dos processos de produção onde


Variações da EP e EC desprezíveis em sejam desprezíveis as energias potencial, cinética e o
relação aos demais termos do ba- trabalho mecânico (quando comparados com os valo-
ΔH = Q
lanço energético; não há entrada ou res dos termos de entalpias das correntes envolvidas e
saída de trabalho. da taxa de calor trocado entre sistema e meio externo).
Exemplos: torres de destilação, fornos e caldeiras.
Processo isoentálpico: não há mudança
de entalpia (transferência de calor com Um exemplo industrial típico do balanço de entalpias é
o meio exterior); nenhum trabalho é ΔH = 0 aquele que ocorre em torno de uma válvula de expan-
realizado e não há variação na energia são (ou válvula redutora de pressão).
cinética ou potencial do sistema.

Balanços de Energia em Sistemas


em que Ocorre Reação Química
Quando um processo industrial ocorre sem que aconteça qualquer reação química,
os balanços de energia são feitos a partir das entalpias das correntes que entram e saem
do sistema:

ΔH = ΣHS – ΣHE

Onde:
• ΔH: variação total de entalpia no sistema (kJ/mol);
• ΣHS: somatória das entalpias que saem do sistema (kJ/mol);
• ΣHE: somatória das entalpias que entram no sistema (kJ/mol).

Por outro lado, ocorrendo reação química durante o processo, as variações de ental-
pia devem contemplar essa quantidade de energia:

ΔH = ΔH(produtos) + ΔH°(reação) – ΔH(reagentes)

Determinação das Variações de Entalpia de Reação


Por entalpia (H) entende-se a quantidade de energia que se encontra nas substâncias,
podendo ser alterada quando ocorrem reações químicas: reações exotérmicas (liberam
calor) ou endotérmicas (absorvem calor).

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Os valores das entalpias podem ser obtidos por meio de tabelas apropriadas, softwares
ou, mais comumente, cálculos. Não é possível calcular a energia contida em uma subs-
tância em particular, mas a variação da entalpia (ΔH) mediante suas reações. O cálculo
da variação da entalpia é um procedimento matemático, que emprega as entalpias de
cada um dos participantes de uma reação química, determinando a quantidade de ener-
gia que foi absorvida ou liberada nesse processo.

Se considerarmos a reação hipotética que segue:

A+B→C+D

De acordo com a Lei de Hess, a variação da entalpia é a diferença entre a entalpia


final (Produtos) e a entalpia inicial (Reagentes):

ΔH = Hf – Hi → ΔH = ΣHp – ΣHr

Onde:
• ΔH: variação de entalpia da reação (kJ/mol);
• ΣHp: somatória das entalpias de todos os produtos;
• ΣHr: somatória das entalpias de todos os reagentes.

Se:
• ΔH > 0 → reação endotérmica: reagentes absorvem calor;
• ΔH < 0 → reação exotérmica: reagentes liberam calor.

Há vários tipos de entalpia. Os principais são:

Entalpia de formação: variação de entalpia que ocorre na formação de 1 mol de molé-


culas de determinada substância no estado padrão (25 °C e 1 atm), no estado alotrópico
mais estável. Exemplo: água.

H2 (g) + ½ O2 (g) → 1 H2O (l) ΔHf = –68,3 kcal/mol

• Entalpia de neutralização: calor absorvido na neutralização de 1 mol de OH– (aq)


com 1 mol de H+ (aq) em soluções aquosas e diluídas. Exemplo: água;

H+ (aq) + OH– (aq) → H2O (l) ΔH = –13,8 kcal/mol

• Entalpia de dissolução: observada na dissolução de 1 mol de soluto em solvente,


em quantidade suficiente para se obter uma solução diluída. Exemplo: gás clorídrico;

HCl(g) + H2O (l) → H3O+(aq) + Cl– (aq) ΔH = –18,0 kcal/mol

• Entalpia de combustão: refere-se ao calor absorvido na combustão total de 1 mol


da substância, em condições padrão (25 °C e 1 atm): ocorre entre um combustível
e um comburente. Exemplo: gás metano.

1 CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(l) ΔH = –212,8 kcal/mol

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Tabela 3 – Entalpias de mudança de estado para a água


Entalpia Definição Reação ΔH (kcal/mol)
Entalpia de Variação de entalpia na solidificação total de
H2O (l) → H2O(s) –1,7
solidificação 1 mol da substância, à pressão de 1 atm.
Entalpia de Variação de entalpia na condensação total de
H2O (v) → H2O(l) –10,5
condensação 1 mol da substância, à pressão de 1 atm.
Entalpia Variação de entalpia na fusão total de 1 mol
H2O (s) → H2O(l) +1,7
de fusão da substância, à pressão de 1 atm.
Entalpia de Variação de entalpia na vaporização total de
H2O (l) → H2O(v) +10,5
vaporização 1 mol da substância, à pressão de 1 atm.

Transferência de Clor
De acordo com Incropera (2008), uma maneira geral de se definir transferência de
calor é:

Transferência de calor (ou calor) é energia térmica em trânsito, em razão de uma


diferença de temperaturas no espaço.

Assim, existindo uma diferença de temperaturas em um meio (ou entre meios), haverá,
obrigatoriamente, transferência de calor. A Figura 1 mostra diferentes tipos de proces-
sos de transferência de calor:
• Condução: surge quando se observa um gradiente de temperatura em um meio
estacionário (sólido ou fluido): transferência de calor das partículas mais energéticas
para as menos energéticas;
• Convecção: refere-se à transferência de calor que ocorre entre uma superfície e um
fluido em movimento, quando se encontrarem em diferentes temperaturas;
• Radiação térmica: gerada pelo fato de que todas as superfícies, com temperatura
não nula, emitem energia na forma de ondas eletromagnéticas. Assim, na ausência
de um meio interposto participante, ocorre transferência de calor líquida, por radia-
ção, entre duas superfícies a diferentes temperaturas.

Figura 1 – Modos de transferência de calor: (a) condução; (b) convecção; (c) radiação
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 2

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Mecanismos de Transferência de Calor
Condução
Por condução entende-se a transferência de energia das partículas mais energéticas
para as menos energéticas de uma substância, como consequência das interações entre
partículas. Nos gases, essa energia está relacionada aos movimentos de translação alea-
tório, movimentos internos de rotação e de vibração das moléculas. Uma vez que tempe-
raturas mais altas estão associadas a energias moleculares mais altas, quando moléculas
vizinhas se chocam, uma transferência de energia das moléculas mais energéticas para
as menos energéticas deve ocorrer.

O mesmo tipo de raciocínio pode ser feito para os líquidos, considerando-se que as
moléculas estão mais próximas umas das outras e, consequentemente, as interações
moleculares são mais intensas e frequentes. Nos sólidos, o fenômeno da condução pode
ser atribuído à atividade atômica na forma de vibrações dos retículos.

Há uma infinidade de exemplos de transferência de calor por condução no nosso dia


a dia: a extremidade exposta de uma colher de metal, quando imersa em uma xícara de
chá quente, sofre aquecimento em virtude da condução de energia na colher; em um
dia frio, ocorre perda significativa de energia de uma sala aquecida para o ar externo,
devido à transferência de calor por condução ao longo da parede, que separa o ar do
interior da sala do ar externo.

É possível quantificar os processos de transferência de calor por meio de equações de


taxa apropriadas, através das quais se calcula a quantidade de energia sendo transferida
por unidade de tempo. Se considerarmos materiais sólidos, homogêneos e isotrópicos
(sem convecção) e efeito da radiação desprezível, a equação de taxa para condução tér-
mica é dada pela Lei de Fourier. A partir dos elementos da Figura 2, a equação da taxa
é escrita na forma:

ΔT T 1 –T 2
q"x = K =K (Eq. 12)
L L
Onde:
• q"x = fluxo térmico: taxa de transferência de calor na direção “x” por unidade de
área (W/m2);
• K: constante de condutividade térmica, uma característica do material da parede ou
meio condutor (W/mK);
• ΔT: diferença de temperatura entre as paredes interna e externa (T1 > T2, K);
• L: espessura da parede condutora (m).

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Figura 2 – Transferência unidimensional por condução: estado estacionário


Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 2

A taxa de transferência de calor por condução, ao longo de uma parede plana com
área “A”, será dada por:

qx = q"x × A (Eq. 13)

Onde:
• qx: taxa de transferência de calor por condução ao longo de uma parede plana com
área “A” (W);
• q"x = fluxo térmico: taxa de transferência de calor na direção “x” por unidade de
área (W/m2);
• A: área perpendicular à direção da transferência da superfície isotérmica (m2).
Exemplo
A parede de um forno industrial é construída com tijolo refratário com 0,15 m de
espessura, cuja condutividade térmica é de 1,7 W/(mK). Medidas efetuadas ao longo da
operação, em regime estacionário, revelam temperaturas de 1400K (parede interna) e
1150K (parede externa). Deseja-se saber qual a taxa de calor perdida em uma parede
que mede 0,5 m x 1,2 m.
Solução
Como a transferência de calor é por condução, o fluxo térmico pode ser determinado
por meio da lei de Fourier:

ΔT T1 – T2 1400 – 1150
=q"x = K
= → q"x 2833W m 2
=
L L 0,15

O fluxo térmico representa a taxa de transferência de calor, por meio de uma seção
de área unitária, e é uniforme (invariável) por intermédio da superfície da parede. Por-
tanto, a taxa da perda de calor ao longo da parede de área “A” será tal que:

qx = q"x x A → 2833 W/m2 x (0,5m x 1,2m) = 1700 W

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Condutividade Térmica
A condutividade térmica (ou constante de proporcionalidade de Fourier) é uma carac-
terística intrínseca do material. A partir da lei de Fourier (Equação 12), a condutividade
térmica associada à condução na direção “x” é definida como:

q"x
Kx = − (Eq. 14)
( ∂T / ∂x )
Como consequência da Equação 14, observa-se que, para dado gradiente de tempera-
tura, o fluxo térmico por condução cresce com o aumento da condutividade térmica. Em
termos gerais, pode-se afirmar que a condutividade térmica de um sólido é maior do que
a de um líquido, que, por sua vez, é maior do que a de um gás: quanto maior a distância
entre os átomos e moléculas presentes no material, menor será a condutividade térmica.
Isso se deve ao fato de que o menor contato entre as partículas dificulta o transporte de
energia térmica. Essa tendência pode ser claramente observada na Figura 3, que ilustra
faixas de condutividade térmica de diferentes tipos de materiais.

Figura 3 – Faixa de condutividade térmica de vários


estados da matéria a temperatura e pressão normais
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 40

Trocando Ideias...
Nos sólidos, os metais apresentam maiores valores de condutividade térmica, graças aos
elétrons livres que contribuem para a difusão da energia térmica. No outro extremo, os
sistemas utilizados para isolamento térmico têm como base matrizes porosas contendo
ar (como espumas de poliuretano ou fibras, por exemplo), por apresentarem valores de
condutividade térmica próximos aos dos gases!

A Figura 4 mostra a dependência da condutividade térmica com a temperatura, para


sólidos metálicos e não metálicos representativos.

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Figura 4 – Dependência com a temperatura


da condutividade térmica de sólidos selecionados
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 41

Os valores de condutividades térmicas são convenientemente utilizados quando as


dimensões físicas do material de interesse são relativamente grandes (o que reflete a
maioria dos problemas tradicionais de engenharia). Entretanto, para áreas da tecnologia
como a microeletrônica, por exemplo, as dimensões características dos materiais são da
ordem de micrômetros ou nanômetros. Nessas situações, estudos minuciosos devem ser
feitos para avaliar as possíveis modificações em “k”, que podem ocorrer na medida em
que as dimensões físicas ficam pequenas.

Convecção
Incropera (2008) nos ensina que a transferência de calor por convecção engloba
dois mecanismos distintos: transferência de energia em razão do movimento molecular
aleatório (difusão) e pelo movimento global (ou macroscópico) do fluido. Esse último
está associado ao fato de que, em qualquer instante, um grande número de moléculas
se move coletivamente, ou como agregados, contribuindo para a transferência de calor,
quando há um gradiente de temperatura.

Importante destacar a transferência de calor por convecção, que ocorre com o conta­
to entre um fluido em movimento e uma superfície, ambos a diferentes temperaturas.
A Figura 5 mostra o escoamento de um fluido sobre uma superfície aquecida, originando­
uma região no fluido por meio da qual a sua velocidade varia entre zero (no contato com
a superfície) e um valor finito “U∞”, associado ao escoamento. Tal região do fluido é a
camada-limite hidrodinâmica ou de velocidade.

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Figura 5 – Desenvolvimento da camada-limite na transferência de calor por convecção
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 4

Observa-se também que, se as temperaturas da superfície e do fluido forem diferen-


tes, haverá uma região no fluido na qual a temperatura variará de Ts (y = 0) até T∞, asso-
ciada à região do escoamento afastada da superfície: trata-se da camada-limite térmica.
Em qualquer caso, se Ts > T∞, uma transferência de calor ocorrerá por convecção, a
partir dessa superfície para o fluido em escoamento. Na verdade, o modo de transfe-
rência de calor por convecção é sustentado pelo movimento molecular aleatório e pelo
movimento global do fluido no interior da camada-limite.

Observa-se que na interface entre a superfície e o fluido (y = 0) a velocidade do


fluido é nula e o calor é transferido somente a partir desse mecanismo. Uma vez que
a espessura da camada-limite cresce à medida que o escoamento progride na direção
do eixo “x”, o calor conduzido para o interior dessa camada é arrastado na direção do
escoamento, sendo posteriormente transferido para o fluido que se encontra no exterior
da camada-limite.

A transferência de calor por convecção pode ser classificada, de acordo com a natu-
reza do escoamento do fluido, em:
• Convecção forçada: quando o escoamento é causado por meios externos, tais como
um ventilador, uma bomba ou ventos atmosféricos. Exemplo: ventilador empregado
para resfriar os componentes elétricos quentes em uma série de placas de circuito
impresso (Figura 6a);
• Convecção livre (ou natural): escoamento do fluido é induzido por forças de empuxo,
a partir de diferenças de massas específicas causadas por variações de temperatura no
fluido. Exemplo: transferência de calor observado nos componentes quentes de uma sé-
rie de placas de circuito impresso, dispostas verticalmente e expostas ao ar (Figura 6b).

Normalmente, a energia que está sendo transferida é a energia sensível (ou térmica
interna) do fluido. Entretanto, em alguns processos convectivos ocorre também troca de
calor latente, frequentemente associada a uma mudança de fase entre os estados líquido
e vapor do fluido, como ebulição (movimentação do fluido induzida por bolhas de vapor
geradas no fundo de uma panela contendo água em ebulição, por exemplo – Figura 6c)

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e a condensação (de vapor d’água na superfície externa de uma tubulação por onde
escoa água fria – Figura 6d).

Figura 6 – Processos de transferência de calor por convecção: (a) Convecção forçada;


(b) Convecção natural; (c) Ebulição; (d) Condensação
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 5

Independentemente da natureza do processo de transferência de calor por convec-


ção, a equação apropriada para a taxa de transferência pode ser escrita pela equação
conhecida como Lei do Resfriamento de Newton

q” = h (Ts – T∞) (Eq. 15)

Onde:
• q”: fluxo de calor por convecção (W/m2);
• h: coeficiente de transferência de calor por convecção (W/m2K);
• Ts: temperatura da superfície (K);
• T∞: temperatura do fluido (K).

O fluxo de calor por convecção é considerado positivo se o calor é transferido a partir


da superfície (Ts > T∞), e negativo se o calor é transferido para a superfície (T∞ > Ts).

Os valores de “h” são conhecidos, podendo-se utilizar valores típicos mostrados na


Tabela 4.

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Tabela 4 – Faixas de valores típicos do coeficiente de transferência de calor convectivo
Sistema h (W.m-2K-1)
Convecção natural
Gases 2 – 25
Líquidos 50 – 1000
Convecção Forçada
Gases 25 – 250
Líquidos 100 – 20.000
Convecção com mudança de fase
2500 – 100.000
Ebulição ou condensação
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 6

O coeficiente de transferência de calor por convecção, “h”, depende das condições na cama-
da-limite, as quais, por sua vez, são influenciadas pela geometria da superfície, rugosidade,
natureza e velocidade do escoamento do fluido, direção do escoamento em relação à super-
fície, além de uma série de propriedades termodinâmicas e de transporte do fluido.

Radiação
Radiação térmica é a energia emitida pela matéria que se encontra a uma tempera-
tura diferente de zero, seja no estado sólido, líquido ou gasoso. Independentemente da
forma da matéria, a emissão é atribuída a mudanças nas configurações eletrônicas dos
átomos ou moléculas que compõem a matéria.
Diferentemente dos modos de transferência de energia por condução ou convec-
ção, que requerem a presença de um meio material, a radiação não necessita dele, ao
contrário, a radiação ocorre mais eficientemente no vácuo, uma vez que sua energia é
transportada por ondas eletromagnéticas (ou fótons).
A radiação emitida por um objeto ocorre ao longo de sua superfície. A taxa na qual
essa energia é transferida denomina-se poder emissivo de superfície, ou simplesmente
“E”. A Lei de Stefan-Boltzmann faz previsão de um limite superior para esse poder
emissivo, de acordo com:

Eb = sT 4 (Eq. 16)

Onde:
• Eb: taxa de energia liberada por unidade de área (W.m–2);
• σ: constante de Stefan-Boltzmann (5,7.10-8 W/m2.k4);
• T: temperatura da superfície do corpo (K).
Quando uma superfície emite nesse limite superior, estamos nos referindo a um emissor
ideal – o corpo negro! Entretanto, a taxa de emissão de energia de radiação de superfícies
reais é menor do que aquela emitida por um corpo negro, considerando-se a mesma tem-
peratura. Dessa forma, introduziu-se na equação de Stefan-Boltzmann um termo conhecido
por emissividade, ε, que depende da superfície do material e de seu acabamento:

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UNIDADE Balanço de Energia em Processos Físicos e Químicos

Eb = esT 4 (Eq. 17)

Onde:
• ε = emissividade tal que: 0 ≤ ε ≤ 1 (adimensional). Se ε = 0: superfície perfeitamente
refletora (espelho perfeito); se ε = 1: superfície perfeitamente absorvedora (corpo
negro ideal).

Normalmente, temos informações sobre a área da superfície do corpo que está irra-
diando energia, “A”. Assim, a equação 17 pode ser convenientemente reescrita como:

P = eAsT 4 (Eq. 18)

Onde
• P: potência irradiada por um corpo quente (W);
• A: área da superfície do corpo irradiador (cm2, m2).

Figura 7a ilustra os processos de transferência de calor por radiação na superfície,


enquanto a Figura 7b mostra que a radiação pode também incidir sobre uma superfície
a partir de sua vizinhança, tal como o sol, ou de outras superfícies às quais a superfície
de interesse esteja exposta.

Figura 7 – Troca por radiação: (a) em uma superfície e


(b) entre uma superfície e uma grande vizinhança
Fonte: Adaptada de INCROPERA, 2008, p. 7

Independentemente da(s) fonte(s), designamos por “G” as taxas nas quais todas essas
radiações incidem sobre uma área unitária da superfície por irradiação (Figura 7a).

Uma parte ou toda a irradiação pode ser absorvida pela superfície, o que acarreta um
aumento da energia térmica do material. A taxa na qual a energia radiante é absorvida,
por unidade de área da superfície, pode ser obtida a partir da absortividade,“α”, que é
uma propriedade radiante da superfície:

Gabs = aG (Eq. 19)

Na resolução de problemas das áreas de química e engenharia, quando se fala em trans-


ferência de calor por radiação, líquidos podem ser considerados opacos, gases podem ser

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considerados transparentes e os sólidos podem ser opacos (os metais, por exemplo) ou
semitransparentes (como as películas de alguns polímeros e materiais semicondutores).

Uma situação interessante e frequente é a troca de radiação entre uma pequena super-
fície a temperatura “Ts” e uma superfície isotérmica vizinha muito maior, envolvendo
totalmente a menor (Figura 7b), como as paredes de um forno, cuja temperatura “Tviz”
seja diferente daquela da superfície contida no seu interior (Tviz ≠ Ts).

Se a superfície for tal que α = ε (uma superfície cinza), a taxa líquida de transferência
de calor por radiação saindo da superfície, expressa por unidade de área da superfície,
pode ser expressa por:

q
"
qrad = = ε En (ΤS ) − α G= εσ (Ts4 − Tviz4 )
A (Eq. 20)

Essa equação traduz a diferença de energia térmica liberada em função da emissão


de radiação e aquela ganhada devido à absorção de radiação!

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UNIDADE Balanço de Energia em Processos Físicos e Químicos

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Condução do calor na soldagem: fundamentos & aplicações
MACHADO, I. G. Condução do calor na soldagem: fundamentos & aplicações. Porto
Alegre: Imprensa Livre, 2000.

 Vídeos
Transferência de Calor – Condução
https://youtu.be/hTFCv23tDTY
Condução térmica, convecção e radiação | Termodinâmica | Física | Khan Academy
https://youtu.be/43JzOfjZpzw
Correntes de convecção
https://youtu.be/yYm4ITMQ1B4
Lei de Stefan-Boltzmann
https://youtu.be/8QcrwwCVgL8

 Leitura
Atlas Brasileiro de Energia Solar
https://bit.ly/2UJExkX
Análise da transferência de calor em paredes compostas por diferentes materiais
https://bit.ly/2UFRV9L
Secagem de bananas prata e d’água por convecção forçada
https://bit.ly/3rhMYjO
Secagem de fatias de abóboras (Cucurbita moschata, L.) por convecção natural e forçada
https://bit.ly/3rauYaW

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Referências
BARBOSA, G. P. Operações da indústria química: princípios, processos e aplicações.
São Paulo: Erica, 2015. (e-book)

BARCZA, M. V. Processos unitários orgânicos. Apostila UFBa, Texto Eletrônico,


Disponível em: <http://www.ifba.edu.br/professores/diogenesgaghis/TQ_Tecono-
logia%20Qu%C3%ADmica/Leitura%2004_Processos%20Unit%C3%A1rios%20
Org%C3%A2nicos.pdf>. Acesso em: 15/06/2020.

INCROPERA, F. P. et al. Fundamentos de transferência de calor e massa. 6. ed. Rio


de Janeiro: LTC, 2008.

ISENMANN, A. F. Operações unitárias na indústria química. 3. ed. Timóteo,


MG, 2016. Disponível em: <http://sistemas.timoteo.cefetmg.br/nos/_media/
bd:livro:quimica:operacoes_unitarias_04_2019.pdf>. Acesso em: 15/06/2020. (e-book)

LUCENA, P. S. et al. Promopetro. Disponível em: <http://www.laco.ufpe.br/ wp-con-


tent/uploads/2013/08/apostila_de_processos.pdf>. Acesso em: 10/01/2021.

MATOS, S. P. de. Operações unitárias: fundamentos, transformações e aplicações dos


fenômenos físicos e químicos. São Paulo: Erica, 2015. (e-book)

SCHMIDT, F. W.; HENDERSON, R. E.; WOLGEMUTH, C. H. Introdução às ciências


térmicas: termodinâmica, mecânica dos fluídos e transferência de calor. 2. ed. São Paulo:
Edgard Blücher, 1996-2004.

TERRON, L. R. Operações unitárias para químicos, farmacêuticos e engenheiros:


fundamentos e operações unitárias do escoamento de fluidos. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

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