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FENÔMENOS DE

TRANSPORTE

Cezar Augusto Schadeck


Equação da energia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as diversas formas de energia mecânica e o princípio de


conservação de energia, de Euler a Bernoulli.
 Calcular as eficiências de conversão de energia mecânica.
 Demonstrar a equação da energia pela variação de entrada e de saída
do sistema e o balanço da energia mecânica.

Introdução
A energia é uma quantificação do movimento de uma partícula qualquer; não
há uma definição para conceituá-la efetivamente. Contudo, ela é quantificada
por meio das maneiras em que se apresenta na natureza, como, por exemplo,
a energia em forma de trabalho. Dizemos que um corpo realizou trabalho
mecânico quando sofreu deslocamento em decorrência da aplicação de
uma força. A energia pode ser expressa através do calor: que é a interação
entre duas partículas, uma mais aquecida, transmitindo energia para a outra,
menos aquecida. As formas pelas quais a energia se manifesta podem, muitas
vezes, ser calculadas, e, no SI, a energia é medida em joules [J].
A energia contida em um sistema não pode ser perdida, e não falamos
que um sistema ganhou energia. O que acontece é que a energia pode ser
transmitida de um corpo para outro, dizemos, pois, que um corpo cedeu
ou dissipou energia para outro. A lei da conservação e do balanço de
energia entre duas partículas afirma que o somatório de todas as formas
energéticas entrando em um sistema devem ser iguais a todas as formas
energéticas saindo desse mesmo sistema. A forma de quantificar essa
igualdade é dada pela eficiência energética de um dispositivo ou sistema.
Neste capítulo, você conhecerá as diversas formas de energia me-
cânica e o princípio de conservação de energia, bem como aprenderá
a calcular as eficiências de conversão de energia mecânica. Além disso,
aprenderá a demonstrar a equação referente à entrada e à saída de
energia, isto é, a como calcular o balanço de energia mecânica.
2 Equação da energia

Formas de manifestação da energia mecânica


A energia mecânica é obtida por meio do movimento de uma partícula. Todos
os corpos que possuem movimento dissipam alguma forma de energia. A
energia se manifesta principalmente em forma de trabalho mecânico e de calor.
Não é possível ganhar ou perder energia, o que acontece é a transformação
de uma forma de energia em outra, ou ainda, da conservação da energia. No
SI, a energia é medida em joules [J].

Trabalho e energia cinética


Um corpo realiza trabalho quando uma força é aplicada sobre ele, deslo-
cando-o, e trabalho pode ser considerado uma forma de manifestação da
energia. Na equação 1, o trabalho, W, desenvolvido por uma partícula é o
produto da força aplicada, F, sobre ela e seu respectivo deslocamento, S
(BONJORNO et al., 2001).

W = ∫FdS (1)

Quando a força aplicada (Figura 1) gera um deslocamento do ponto 1 ao


ponto 2 da partícula, diz-se que algum trabalho foi realizado.

Figura 1. Trabalho realizado para movimentar


a partícula de 1 para 2.

Todavia, a energia em forma de trabalho pode também ser considerada


como a variação de energia cinética de um corpo. Observe a equação 2:

(2)
Equação da energia 3

(3)

em que:
m é a massa do corpo que será deslocada;
V é a velocidade tangencial da partícula;
ω é a velocidade angular da partícula.

A energia cinética, Ec, é a forma de energia dada em função do movimento


de uma partícula. Ela pode ser encontrada no movimento translacional (equa-
ção 2) ou no movimento rotacional (equação 3) de um corpo (BONJORNO
et al., 2001).

(4)

A equação 4 representa a variação de energia cinética entre dois pontos


arbitrários, chamados de ponto 1 e ponto 2, e pode ser igualada à equação 1.
Uma vez que trabalho é igual à energia cinética, tem-se:

(4.1)

Visto que houve deslocamento ocasionado pela aplicação da força, F,


para o corpo passar do ponto 1 para o ponto 2, dizemos que o corpo reali-
zou trabalho e, supondo que a velocidade no ponto 1 V1 = 0, houve também
variação da velocidade do objeto e, consequentemente, variação da sua
energia cinética.

Energia potencial gravitacional e conservação


da energia
Observe o corpo em queda na Figura 2. A energia potencial gravitacional é
a energia dissipada pelo corpo de massa, m, à medida que ele cai, fazendo
sua altura diminuir em relação a um referencial (MORAN; SHAPIRO, 2011).

Epg = mg(Z2 – Z1) (5)


4 Equação da energia

Figura 2. Corpo em queda livre e


variação da altura entre dois pontos.

A diferença entre as alturas no ponto 1, Z1, e no ponto 2, Z2, do corpo de


massa, m, sob a aceleração da gravidade é igual à variação da energia poten-
cial gravitacional dissipada pelo corpo (equação 5). Essa forma de energia é
chamada de potencial, pois a energia pode ser acumulada dentro do campo
gravitacional em que a partícula está contida.
Entretanto, a energia potencial gravitacional que está sendo dissipada pela
partícula à medida que ela cai em queda livre não pode ser perdida. Por isso,
dizemos que a energia gravitacional da partícula está sendo convertida em
energia cinética, ou seja, conforme a altura da partícula diminui, sua energia
potencial gravitacional também diminui, e, assim, a energia do sistema vai se
convertendo em energia cinética. Há, portanto, conservação de energia, com
a energia potencial gravitacional sendo transformada em energia cinética.
Suponha que, no ponto 1, a partícula encontra-se estática, com velocidade
inicial V1 = 0 e altura máxima. Conforme o corpo sai do repouso, sua altura
começa a diminuir, e a velocidade começa a aumentar, conservando a quan-
tidade total de energia do sistema. Há um ponto em que a energia potencial
gravitacional será igual à energia cinética do sistema, este é o ponto médio
entre as posições 1 e 2 (BONJORNO et al., 2001; MORAN; SHAPIRO, 2011).
Para calcular a energia mecânica, EM, do sistema:

EM = ∑∆Ec + ∑∆Epg = 0 (6)

A energia mecânica de um sistema é igual à soma da sua energia cinética


com a sua energia potencial. Reescrevendo a equação 6 e aplicando o conceito
de conservação da energia mecânica, tem-se que a energia mecânica no ponto 1
deve ser igual à energia mecânica no ponto 2, pois a energia total do sistema
permanece constante (se conserva), conforme a equação 6.2.
Equação da energia 5

∆Ec + ∆Epg = 0 (6.1)

(6.2)

(6.3)

Há, ainda, a energia em forma de calor, que é a forma de energia dada pela
interação entre dois corpos, ou seja, a passagem de energia de uma partícula
mais aquecida para uma partícula menos aquecida. O calor pode ser transferido
de três formas fundamentais: condução, convecção e radiação. A Primeira
Lei da Termodinâmica (equação 7) enuncia que o calor é igual à variação de
energia interna, ∆U, somada ao trabalho de um sistema:

Q = ∆U + W (7)

Equações de Euler e Bernoulli


Em fluidos, a conservação da energia, ou a variação da quantidade de mo-
vimento de uma substância, é dada pela equação de Euler, que prevê que a
variação da quantidade de movimento de um fluido é dada em decorrência da
força gravitacional e da força líquida da pressão (MORAN; SHAPIRO, 2011).
Euler aplicou a Segunda Lei do Movimento de Newton em uma partícula
fluida, obtendo a equação 8.

(8)

Essa equação é válida para escoamento ideal, ou seja, ao longo de uma


linha de corrente sem atrito, em que:

é a variação da pressão ao longo de uma linha de corrente;

é a variação da relação da trajetória vertical (em torno do eixo coor-


denado Z);

é a variação da velocidade ao longo da linha de corrente;

é a variação da velocidade pelo tempo.


6 Equação da energia

Para escoamentos em regime permanente (i.e., suas propriedades não


variam com o tempo), a equação 8 torna-se:

(8.1)

Em termos de derivadas totais, para escoamento incompressível (densidade


constante), ao integrar a equação 8.1, tem-se:

(9)

A equação 9, ou equação de Bernoulli, representa a energia mecânica


aplicada a um meio fluido e, portanto, é válida para escoamentos ideais nos
regimes permanente e incompressível. As parcelas dessa equação representam
as formas de energia, respectivamente, por pressão sobre o fluido ao longo
de uma distância, produzindo trabalho, uma parcela da energia potencial
gravitacional e outra parcela de energia cinética do fluido em escoamento
(FOX et al., 2018).
A equação 9 também pode ser escrita em termos do peso específico e
aplicada normalmente em escoamentos de gases, conforme a equação 9.1.

(9.1)

Se houver variação entre dois pontos da energia mecânica de um fluido


para um escoamento incompressível, a equação fica:

(9.2)

Balanço de energia mecânica e conservação


da energia
Para compreender o balanço de energia mecânica em um escoamento, considere
o bocal representado na Figura 3. Observe que o escoamento é dado ao longo
de uma linha de corrente horizontal, e, dessa forma, a equação de Bernoulli
pode ser aplicada desde que as condições para o escoamento sejam respeitadas:
Equação da energia 7

escoamento em regime permanente, fluido ideal e incompressível (ÇENGEL;


BOLES, 2013). O balanço de energia para a equação fica:

(9.3)

Com dois pontos quaisquer na linha de corrente, o balanço de energia é


aplicado, com a energia mecânica total do sistema sendo conservada.

Figura 3. Bocal para acelerar o escoamento com sentido


de linha de corrente indicada, representando as entradas
e saídas de fluido e o volume de controle (linha tracejada).

Independentemente do sistema, ao escoamento com pelo menos uma entrada


e saída de fluido pode ser aplicada a equação 9.3 de conservação de energia
mecânica. Exemplos típicos de escoamentos envolvem sifões, comportas,
medidores Venturi (Figura 4), entre outros.

Figura 4. Medidor Venturi com sentido de linha de corrente indicado.


Fonte: Cristine (2010, documento on-line).

Levando-se em consideração as perdas que ocorrem em escoamentos


reais, em que nem toda a energia fornecida na entrada de um sistema é igual
8 Equação da energia

à energia que sai dele, é possível calcular a eficiência energética, η, de um


sistema. A eficiência na conversão de energia mecânica é dada pela razão
entre a energia na saída do dispositivo e a energia fornecida na sua entrada,
conforme apresentado na equação 10.

(10)

Muitas vezes, a forma de energia para cálculo de eficiência é dada em


termos do trabalho ou da potência do dispositivo (p. ex., bombas, turbinas, etc.).

(10.1)

Para um sistema ideal, a eficiência, em termos de porcentagem, seria de


100%. Portanto, devido às perdas, esse valor é impossível de se atingir. Muitas
vezes, a eficiência adimensional é um número que varia entre 0 e 1.

Ar escoa em regime permanente e com baixa velocidade de um bocal horizontal, que


o descarrega para a atmosfera. Na entrada do bocal, a área é de 0,1 m2, e, na saída,
de 0,02 m2. Determine a pressão necessária na entrada do bocal para produzir uma
velocidade de saída de 50 m/s. Sabe-se que a pressão na saída do bocal é atmosférica,
e a densidade do ar nas condições apresentadas é ρ = 1,23 kg/m3.

Considerações:
1. escoamento em regime permanente;
2. escoamento incompressível;
3. escoamento sem atrito;
4. escoamento ao longo de uma linha de corrente e uniforme;
5. Z1 = Z2.
Equação da energia 9

Solução:
Aplicando o balanço de energia para o sistema e rearranjando a equação 9.3, tem-se
que:

Para descobrir a velocidade na entrada do bocal, aplica-se a equação da continuidade:


ρV1A1 = ρV2 A2
V1 = 10 m/s
Logo, a pressão na entrada do bocal será: P1 = 102,8 kPa.

BONJORNO, R. A. et al. Física completa. Porto Alegre: FTD, 2001.


ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
CRISTINE, E. Fenômenos de transporte I: aula teórica 11. [2010]. Disponível em: www.
hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/FTEletrica0/MaterialDisciplina/Aula11.pptx. Acesso em:
9 mar. 2019.
FOX, R. W. et al. Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
MORAN, M. J.; SHAPIRO, H. N. Princípios de termodinâmica para engenharia. 6. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2011.

Leituras recomendadas
BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. Rio de Janeiro: Pearson, 2008.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. 9. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2012. v. 1.
POTTER, M. C.; SOMERTON, C. W. Termodinâmica para engenheiros. 3. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2017. (Coleção Schaum).

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