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Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
• Tecnologia de Alimentos;
• Transformação e Comercialização
de Produtos Alimentares;
• Balanços de Massa e Energia em Processos de Alimentos;
• Classificação das Tecnologias de Processo;
• Fluxogramas de Produção.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Identificar as operações unitárias mais usadas na indústria de alimentos;
• Detalhar as tecnologias de processo relacionadas à indústria de alimentos: pré-tratamento,
separação, mistura, estabilização e conservação;
• Mostrar a relevância da transferência de calor na indústria de alimentos;
• Apresentar e discutir fluxograma de produção de produto alimentício.
UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
Tecnologia de Alimentos
Recorte Econômico
O setor de alimentos é um dos que mais impactam na geração de saldo positivo
na balança comercial brasileira. De acordo com dados da Associação Brasileira das
Indústrias de Alimentos (Abia), em 2017, houve um crescimento nominal da indústria
de alimentação de 4,6%, atingindo a cifra de R$ 642 bilhões (9,8% do PIB). Em 2018,
o setor de alimentos registrou um crescimento de 2,08% em faturamento, atingindo
R$ 656 bilhões (9,6% do PIB).
Figura 1 – 1º Produtor e Exportador (Suco de laranja) Figura 2 – 2º Produtor e 1ºExportador (Carne bovina)
Fonte: Freepik Fonte: Freepik
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Figura 5 – 2º Produtor e 1º Exportador (Açúcar) Figura 6 – 2º Produtor e 1º Exportador (Carne de aves)
Fonte: Freepik Fonte: Freepik
Durante esses três primeiros meses do ano de 2020, observou-se aumento de demanda
da soja em grãos, especialmente no mês de março. A carne bovina e de frango in natura
estão entre os principais produtos exportados (representando 44% do total de vendas
realizadas para o exterior).
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UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
Portanto, nesse cenário promissor para os próximos anos, há também grandes desa-
fios para as indústrias: as palavras de ordem são inovação e controle de qualidade.
Processo
De acordo com Tadini (2015), a arte de processar alimentos é conhecida desde os primei-
ros registros escritos. De fato, a habilidade de armazenar alimentos durante a colheita,
para posterior transporte e consumo, fez parte do desenvolvimento da civilização.
Em Síntese
As operações unitárias que se destacam na indústria alimentícia são: o escoamento de
fluidos; o processamento térmico; a evaporação; as operações englobando equilíbrio
entre fases (que incluem secagem, destilação, extração, absorção de gases, cristalização
e processos com membranas); as separações mecânicas (que incluem filtração, centrifu-
gação, sedimentação e peneiramento); a redução de tamanho e a agitação.
Energia perdida
Produtos
Operação Operação Subprodutos
Matérias- Operação
unitária unitária Perdas
primas unitária
anterior seguinte Energia
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O equipamento representado na caixa deve ser dimensionado de tal modo que, du-
rante o processo de transformação das matérias-primas em produtos, ocorra um mínimo
de perdas e gastos energéticos.
Para que uma inovação seja bem-sucedida, torna-se necessário conhecer em detalhes os
fundamentos envolvidos nos sistemas alimentares e nos processos relacionados: além das
propriedades de transporte, é imperativo que as reações que governam as operações de
processo e as taxas das mudanças induzidas sejam entendidas do ponto de vista químico,
físico e biológico.
Transformação e Comercialização
de Produtos Alimentares
Por sistema processador de alimentos entende-se um sistema de engenharia que
transforma matérias-primas em produtos prontos para o consumo, por meio de uma
série de operações unitárias.
De acordo com Trystram e Bimbenet (2002), são dois os tipos de plantas processa-
doras de alimentos:
• Operações unitárias clássicas das engenharias química e de alimentos, que englo-
bam o processamento de materiais a granel (como líquidos e partículas sólidas).
Incluem-se nesse grupo centrifugação, aquecimento/resfriamento em trocadores de
calor, destilação, moagem etc.;
• Operações que processam “produtos” como pizzas, bolos, peças de carne ou peixe
e produtos embalados (latas, garrafas etc.). Nesse grupo, estão deposição de frutas
sobre tortas, corte, moldagem, embalagem etc.
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UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
Consumo (Consumidores)
Distribuição (Comércio)
Processamento (Indústria)
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Grupo Operação Unitária Exemplos de Aplicação
• Enchimento; • Bebidas engarrafadas;
Embalagem • Selagem; • Alimentos enlatados;
• Ensacamento. • Saladas frescas.
Fonte: Adaptada de BERK, 2009
Berk (2009) destaca que, independentemente das operações unitárias envolvidas e sua
sequência, algumas características são comuns para todos os processos de alimentos:
• Os balanços de massa e de energia devem ser seguidos;
• Os fenômenos de transporte governam as trocas de matéria, quantidade de movi-
mento e/ou calor, entre as diferentes partes do sistema;
• O conhecimento das propriedades dos materiais envolvidos é essencial, incluindo-se
as reações químicas e biológicas;
• O papel da embalagem na engenharia e tecnologia de processos de alimentos é essencial;
• Nos últimos anos, a introdução de métodos avançados de medida e estratégias de
controle constituem significativos avanços na engenharia de processos de alimentos.
Σ a ma = Σ e me (Eq. 1)
Onde:
• ma = correntes que entram no sistema (afluentes);
• me = correntes que saem do sistema (efluentes).
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na Indústria de Alimentos
Vinhaça
Destilação
Cachaça (410 kg/dia)
São conhecidas três correntes, o que assegura que o sistema está determinado. As cor-
rentes conhecidas são:
• Garapa: 1000 kg · dia−1;
• Água: 500 kg · dia−1;
• Cachaça: 410 kg · dia−1.
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Na produção de manteigas salgadas, o cloreto de sódio é adicionado à nata como
uma solução aquosa contendo 30% (em massa) de sal. Supondo que a nata tenha um
teor inicial de umidade de 14% (em massa), e que a fração mássica de sal ao final do
processo deva ser de 1,2%, pergunta-se: qual a composição final da manteiga (teores
de gordura, umidade e sal)? Considerar que a nata contém somente gordura e água.
Nesse caso, a massa de sal total na manteiga também será 0,30 m, pois a salmoura
é a única fonte desse componente. Com isso:
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na Indústria de Alimentos
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Operação Definição Métodos/Exemplos
Aquecimento a uma temperatura elevada, em auto-
Papinhas de bebês, pescados enlatados, vegetais e
3. Esterilização claves, por minutos ou segundos, para destruição de
legumes enlatados, milho verde embalado a vácuo.
todos os microrganismos.
Radurização (dose de 1 a 5 kGy); radiciação (2,5 a 6 kGy) Controle do mofo em queijos e redução dos estragos
4. Radiação
e radapertização (10 kGy). que bactérias causam nas carnes.
Controle da
Umidade Remoção de 40% a 60% da água presente no alimento
Sucos concentrados.
via membranas, congelamento ou crioconcentração.
1. Concentração
Uvas, coco, ameixas, tâmaras, figos, damascos,
2. Secagem Teor final de umidade entre 8% e 10%.
peixes e carnes.
3. Desidratação Teor final de umidade entre 3% e 5%. Frutas secas.
Remoção de água por sublimação em condições de Hortaliças (verduras, legumes, batata), frutas, cere-
4. Liofilização temperatura (–30 °C) e pressão controladas. Umidade ais, leguminosas (feijão) e proteínas (carne, frango
residual de até 1%. e peixe).
Aditivo químico é toda substância sem poder nutri- • Para conservação: conservantes, acidulantes,
tivo, e tem por função conservar as características antioxidantes, umectantes, estabilizantes;
Aditivação
físicas, físico-químicas e organolépticas do alimento • Para melhora sensorial: aromatizantes, co-
ao longo do tempo. rantes e edulcorantes.
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na Indústria de Alimentos
Fluxogramas de Produção
Açúcar Mascavo, Rapadura e Mel
A cana-de-açúcar chegou ao Brasil por meio portugueses, muito provavelmente vinda
do sudeste da Ásia. Da Índia, veio a descoberta do açúcar preto – o açúcar mascavo –,
produto da cana-de-açúcar formado após o resfriamento do xarope a partir do caldo con-
centrado (conhecido como mel-de-engenho ou melado).
O processo produtivo (Figura 12) envolve a fervura do caldo, obtendo-se uma espuma
que, uma vez removida, deixa o caldo livre de impurezas. A seguir, o caldo concentrado
é aquecido sob agitação constante, até se atingir o ponto de cristalização. Uma vez cris-
talizado, o concentrado é colocado em fôrmas para secagem a vácuo ou fornos ao Sol.
Cana-de-açúçar
Lavagem e
Preparo Desfibramento
Fonte de energia
Bagaço Moagem
Papel Concentração
do caldo Engenho
Moldagem
Cristalização e secagem
Açúcar
Rapadura Mel
mascavo
Comercialização
e distribuição
O produto final tem alto valor energético (368,6 kcal para cada 100 g), contendo
características nutricionais interessantes, como minerais, proteínas e carboidratos.
Como consequência de sua elevada concentração de cálcio, o açúcar mascavo previne a
osteoporose, auxiliando na coagulação do sangue e, sendo rico em magnésio, fortalece
o sistema imunológico.
Queijo Muçarela
Entre todos os produtos derivados do leite, o queijo é um dos principais, quando o
assunto é produção e consumo. Como partes essenciais da cadeia produtiva do queijo
estão a excelência na produção e a segurança alimentar. O Brasil detém a tecnologia de
produção de vários tipos de queijos. Entretanto, o queijo muçarela tem importância de
destaque, haja vista estar entre os mais consumidos no País.
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Entende-se por queijo muçarela aquele que se obtém por filagem de uma massa
acidificada (produto intermediário obtido por coagulação de leite por meio de coalho
e/ou outras enzimas coagulantes específicas), adicionada ou não por bactérias lácticas
específicas. De acordo com a classificação estabelecida no “Regulamento Técnico Geral
para Fixação de Identidade e Qualidade de Queijos”, o queijo muçarela é de média, alta
ou muito alta umidade, e pode ser extragordo, gordo a semigordo.
A Figura 13 ilustra o fluxograma-base de produção do queijo tipo muçarela.
Coleta
Transporte em
carro-tanque PCC1 (B)
Recepção do
leite in-natura PCC2 (B,Q)
Pesagem
Filtração
Resfriamento
Coagulação
Corte
Mexedura/Aquecimento
Fermentação
Cloreto de sódio Filagem
Recebimento Moldagem/Enformagem
Secagem/Embalagem Estocagem
Estocagem
Transporte
Comercialização
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UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
cultivos de bactérias lácteas específicas, leite em pó, creme, cloreto de cálcio, caseinatos,
ácidos cítrico, láctico, acético ou tartárico, além de especiarias, condimentos e/ou outras
substâncias alimentícias.
Cerveja
Bebida conhecida há milênios, a cerveja é um produto obtido da fermentação do mosto,
preparado de cevada malteada, com adição de lúpulo por leveduras (Sacharomyces
cerevisae). Basicamente, em sua composição encontramos álcool, gás carbônico, car-
boidratos (glicose, maltose, dextrinas), minerais (cálcio, fósforo, enxofre), proteínas e
aminoácidos e vitaminas do complexo B.
Nas cervejarias, o produto é obtido por meio de operações unitárias de alta comple-
xidade, podendo ser sintetizadas em três etapas principais: infusão, cozimento e fermen-
tação. O diagrama de processo de uma planta processadora de cerveja é apresentado
na Figura 14, ilustrando, de maneira simples, todas as etapas de produção envolvidas:
do malte até o produto pronto nas prateleiras dos pontos de venda. O processo como
um todo opera no modo contínuo, entretanto duas etapas (a malteação e o cozimento
do mosto) são operações em batelada, sendo necessárias paradas obrigatórias nos res-
pectivos equipamentos.
Cevada Água
Malteação Fermentação/
maturação
Levedura + CO2
Levedura
Moagem
Filtração
da cerveja
Malte Aeração
Lúpulo do mosto
Cozimento
do mosto
Carbonatação CO2
Clarificação
do mosto Pasteurização
Resfriamento Envase
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mover a proteólise, seguido do aumento da temperatura (54 °C e 65 °C) para a
hidrólise do amido, e finalmente a temperatura de 70 °C, facilitando a separação
do mosto;
2. O mosto passa por um processo de aquecimento até a temperatura de ebulição,
após a adição do lúpulo, eliminando-se bactérias, fungos e leveduras;
3. Separação do mosto para retirada de partículas em suspensão e material coagulado;
4. Resfriamento a temperaturas entre 14 °C e 17 °C, quando se faz aeração e
dosagem do fermento;
5. Fermentação (entre 14 °C e 17 °C). Ao final do processo, um nível de pressão
de CO2 é mantido para garantir a efervescência da cerveja;
6. Remoção do fermento: o produto conhecido como cerveja verde é clarificado
e resfriado;
7. Maturação: a cerveja verde, clarificada e resfriada (até < 0 °C), é mantida nos
mesmos tanques, permitindo a maturação do sabor;
8. Filtração: garantindo uma cerveja brilhante e espumante durante toda sua vida
de prateleira;
9. Carbonatação: feita para correção da pressão de CO2, com posterior adição
de outros componentes (como caramelo), para realçar a cor;
10. Pasteurização: condições de pasteurização normalmente empregadas são 72°C
por 30s;
11. Envase: pode ser a granel ou em embalagens menores (latas ou garrafas).
Você Sabia?
A produção de cerveja envolve matérias-primas como malte, maltose, água própria para a
fabricação de cerveja, lúpulo e levedura (Sacharomyces cerevisae). O chope é basicamente
produzido de maneira similar à cerveja, diferenciando-se apenas pelo tipo de envase.
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UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
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Figura 15
Fonte: TADINI, 2015, p. 9
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática
FELLOWS, P. J. Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2019. (e-book)
Vídeos
Processamento de alimentos – Tecnologia de processamento de alimentos fábrica. Embutidos, Processamento
https://youtu.be/DKoo8JKqvrA
Máquinas de comida que estão em outro nível
https://youtu.be/lgmd3XPTuco
Máquinas e equipamentos para a indústria alimentícia que são surpreendentemente eficientes
https://youtu.be/g2-xY-6Tum8
Máquinas de alimentos e momentos de fabricação que surpreenderão você
https://youtu.be/HdKavlWRJUc
Leitura
Indústria de Alimentos 2030: Ações transformadoras em valor nutricional dos produtos,
sustentabilidade da produção e transparência na comunicação com a sociedade
https://bit.ly/3kAKWd1
Indústria de alimentos: entenda os riscos e oportunidades de empreender no setor
https://bit.ly/3eA0tGg
Dez empresas que controlam o mercado de alimentos no mundo
https://bit.ly/3eCTDzT
Formação de toxinas durante o processamento de alimentos e as possíveis consequências
para o organismo humano
https://bit.ly/3iom6KQ
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UNIDADE Operações Unitárias Aplicadas
na Indústria de Alimentos
Referências
BARBOSA, G. P. Operações da indústria química: princípios, processos e aplicações.
São Paulo: Erica, 2015. (e-book)
BERKI, Z. Food is life. In: Food process engineering and technology. Burlington:
Academic Press, 2009. cap. 1.
BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. rev. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
LUND, D. B. Food engineering for the 21st century. In: WELTI-CHANES, J.; BARBOSA-
-CÁNOVAS, G. V.; AGUILERA, J. M. (ed.). Food engineering for the 21st century.
Boca Raton: CRC Press, 2002. cap. 1.
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