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MÁQUINAS ELÉTRICAS

AULA 1

Prof. Samuel Polato Ribas


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, será estudado o transformador monofásico. Esse


equipamento é a base de todo o estudo de máquinas elétricas de corrente
alternada. Ele é o ponto de partida para o estudo de transformadores trifásicos,
motores de corrente alternada e geradores síncronos.
Nosso estudo se inicia com o princípio de funcionamento de
transformadores, mostrando como é possível a indução de tensão em uma
bobina, alterando o nível de tensão e, consequentemente, de corrente.
Na sequência, serão estudadas as características construtivas de
transformadores monofásicos. Veremos quais os materiais utilizados, quais as
características dos materiais, assim como a função de cada uma das partes.
Será estudada a diferença entre o transformador ideal e o transformador
real. Serão apresentados os circuitos equivalentes, bem como os diagramas
fasoriais para determinadas situações de funcionamento.
Por fim, serão abordados os ensaios a vazio e o ensaio a plena carga,
os quais são de extrema importância para determinar algumas características
do transformador, bem como aspectos de funcionamento.

TEMA 1 – PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

Para compreender o princípio de funcionamento do transformador


vamos analisar o transformador elementar, conforme mostrado na Figura 1. O
transformador elementar mostra o princípio de funcionamento do
transformador, duas bobinas de condutores elétricos, em um mesmo núcleo
com baixa relutância magnética.
O transformador elementar é ideal, ou seja, não são consideradas as
suas não-idealidades. As não-idealidades mais relevantes no transformador
são a resistência e a reatância do núcleo e dos enrolamentos. Como elas não
são consideradas, o transformador ideal consiste apenas do núcleo e dos
enrolamentos primário e secundário.
Na Figura 1, uma fonte de tensão V1(t) é aplicada ao enrolamento de N1
espiras. Isto dará origem ao fluxo magnético Φ(t), que induzirá uma tensão
V2(t) no enrolamento de N2 espiras. O enrolamento do transformador que é
alimentado pela fonte é chamado de enrolamento primário, e o lado onde a
carga está conectada é o lado secundário.
Figura 1 – Transformador elementar

Fonte: disponível em: <https://es.slideshare.net/jorgemunozv/transformadores-principales-


aspectos Slide 43>. Acesso em: 26 jan. 2020.

Ao conectar uma carga nos terminais do enrolamento N2, ela irá


absorver uma corrente I2(t). Esta corrente será induzida por meio da corrente
fornecida pela fonte I1(t). Este funcionamento só é possível devido à lei de
Faraday da indução. Esta lei estabelece que, se uma bobina com n espiras for
submetida a um fluxo magnético variante no tempo Φ(t), em seus terminais
será induzida uma tensão variante no tempo e(t). Matematicamente, pode ser
escrita como:
𝑑ϕ(t) (
𝑒(𝑡) = −𝑛
𝑑𝑡 1)
Da mesma forma, se uma tensão variante no tempo for aplicada a uma
bobina com n espiras dará origem a um fluxo magnético variante no tempo. Se
houver um caminho magnético para a propagação do fluxo, e neste caminho
estiverem duas bobinas, sendo que em uma delas seja aplicada uma tensão
variante no tempo, na outra bobina aparecerá uma tensão induzida variante no
tempo. Este é o princípio do transformador elementar.
Adaptando a equação (1) para o caso do transformador elementar
resulta em:
𝑑ϕ(t)
𝑉! (𝑡) = −𝑁! (
𝑑𝑡
𝑑ϕ(t) 2)
𝑉" (𝑡) = −𝑁"
𝑑𝑡

3
Como o caminho, o fluxo magnético é o mesmo para as duas bobinas,
então da equação (2) é possível escrever:
𝑑ϕ(t) 𝑉! (𝑡) 𝑉" (𝑡) (
=− =−
𝑑𝑡 𝑁! 𝑁" 3)
Ou ainda,
𝑉! (𝑡) 𝑁! (
=
𝑉" (𝑡) 𝑁" 4)
Ainda, tendo em vista o transformador ideal, não há perdas nos
enrolamentos nem no núcleo, portanto a potência fornecida pela fonte, S1, é a
mesma potência que será absorvida pela carga, S2. Em termos de valores
instantâneos:
𝑆! = 𝑆"
𝑉! (𝑡) ∙ 𝐼! (𝑡) = 𝑉" (𝑡) ∙ 𝐼" (𝑡) (
𝑉! (𝑡) 𝐼" (𝑡) 5)
=
𝑉" (𝑡) 𝐼! (𝑡)
Igualando a equação (4) à equação (5), resulta-se em:
𝑉! (𝑡) 𝑁! 𝐼" (𝑡) (
= =
𝑉" (𝑡) 𝑁" 𝐼! (𝑡) 6)
Escrevendo a equação (6) em função do valor eficaz de tensão e de
corrente, chega-se à relação de transformação k, dada por:
𝑉! 𝑁! 𝐼" (
𝑘= = =
𝑉" 𝑁" 𝐼! 7)
A equação (7) mostra que no transformador, a tensão é diretamente
proporcional ao número de espiras, e inversamente proporcional à corrente.
Vale ressaltar que esta relação de transformação só é válida para o
transformador ideal. A partir do instante em que as não idealidades dos
enrolamentos são inseridas no modelo, a relação de transformação muda,
podendo ser calculada de três maneiras diferentes como será visto a seguir.
No mundo real, não existem máquinas sem perdas. Consequentemente,
o mesmo princípio se aplica aos transformadores. Por ora, vamos trabalhar
somente com o núcleo do transformador sendo ideal. Nesse contexto, a Figura
2 apresenta um transformador com as não idealidades de seus enrolamentos
primário e secundário.

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Figura 2 – Transformador com as não idealidades dos enrolamentos

Fonte: disponível em: <https://es.slideshare.net/jorgemunozv/transformadores-principales-


aspectos Slide 43>. Acesso em: 26 jan. 2020.

Na Figura 2, V1 representa o valor eficaz da tensão da fonte, V2


representa a tensão eficaz aplicada à carga, E1 é o valor eficaz da tensão
aplicada ao enrolamento primário, E2 é o valor da tensão induzida no
enrolamento secundário, I2 é o valor eficaz da corrente da carga e I1 é a
corrente eficaz fornecida pela fonte. Z1 e Z2 representam as impedâncias dos
enrolamentos primário e secundário, respectivamente. Essas impedâncias são
compostas da resistência do condutor usado para o enrolamento, e por uma
reatância que é resultado da indutância da bobina que forma os enrolamentos.
Assim, quando aplicado a uma tensão alternada com uma determinada
frequência, a bobina passa a apresentar uma reatância indutiva. A soma da
resistência e da reatância da bobina forma a impedância. Na situação da
Figura 2, quando a corrente circular pelos enrolamentos, ocasionará uma
queda de tensão. Aplicando a Segunda Lei de Kirchhoff na malha do primário,
tem-se que:
(
𝑉! = 𝑍! 𝐼! + 𝐸!
8)
Portanto,
(
𝐸! = 𝑉! − 𝑍! 𝐼!
9)
Da mesma forma, aplicando a Segunda Lei de Kirchhoff na malha do
secundário tem-se que:

5
(
𝐸" = 𝑉" + 𝑍" 𝐼"
10)

E, consequentemente,
(
𝑉" = 𝐸" − 𝑍" 𝐼"
11)
Com base neste raciocínio, é possível explicar com clareza as relações
de transformação existentes em um transformador.
A primeira delas é a relação de transformação teórica. Fazendo uma
comparação direta entre os transformadores das Figuras 1 e 2, perceba que,
como o transformador da Figura 1 é ideal, então as tensões que ficam sobre os
enrolamentos são as tensões do primário e do secundário, em outras palavras
a tensão da fonte é igual à tensão aplicada ao enrolamento primário, e a tensão
sobre a carga é igual à tensão induzida no enrolamento secundário. No
transformador da Figura 2, isso não acontece, pois há uma queda de tensão
entre a tensão da fonte e a tensão aplicada ao enrolamento primário, e também
entre a tensão induzida no secundário e a tensão sobre a carga. Como relação
de transformação teórica é dada pela razão entre a tensão aplicada ao
enrolamento primário e a tensão induzida no secundário, para o transformador
da Figura 2 fica:
𝐸! 𝑁! (
𝑘# = =
𝐸" 𝑁" 12)
A segunda relação de transformação é a relação de transformação
prática dada pela razão entre a tensão aplicada pela fonte de alimentação e a
tensão aplicada à carga, ou seja:
𝑉! (
𝑘$ =
𝑉" 13)
Denomina-se relação de transformação prática porque em uma situação
real não há o acesso direto às tensões E1 e E2. O que é possível medir
diretamente em uma situação normal de funcionamento são as tensões V1 e
V2, por isso é chamada de relação de transformação prática.
Por fim, a relação de transformação de placa. Transformadores de
grande porte possuem uma placa de identificação com várias informações
relevantes para o seu funcionamento. Uma delas é a relação de transformação.
A relação de transformação de placa é dada por:

6
𝑉" ′ (
𝑘$%&'& =
𝑉" 14)
A definição da variável V2’ será explicada no estudo do circuito
equivalente do transformador.

TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS CONTRUTIVAS

Os transformadores são dispositivos adaptadores de níveis de tensão e,


consequentemente, níveis de corrente, compostos de duas ou mais bobinas
isoladas entre si. São formados, basicamente, por três partes constituintes:

• Bobinas: são constituídas de um material condutor de energia elétrica,


com a menor resistência possível. O material mais utilizado para a
construção de bobinas é o cobre. As bobinas devem ser isoladas
galvanicamente entre si, e do núcleo do transformador.
• Núcleo: é formado por um material ferromagnético, laminado, siliciado,
de grãos orientados e alta permeabilidade magnética. Sua principal
função é a de fornecer um caminho para a circulação do fluxo de
indução magnética, que é responsável pela indução da tensão no
secundário do transformador. Além disso, o fato de o núcleo ser
laminado auxilia na diminuição da formação de superfícies metálicas,
diminuindo as perdas por correntes parasitas.
• Carretel: construído de material isolante com alta capacidade de
isolamento. Tem como principal função alojar as bobinas e fornecer
isolação entre o núcleo e as bobinas do transformador.

Na prática um transformador com dois enrolamentos, pode ser


construído seguindo os seguintes passos:

• Enrolar o número de espiras da bobina do enrolamento primário em


torno carretel;
• Isolar o enrolamento primário utilizando um material adequado.
Normalmente é utilizado um papel isolante com alta capacidade de
isolação;
• Enrolar o número de espiras da bobina do secundário sobre o papel
isolante;
• Isolar o secundário com material adequado a fim de evitar o com o
núcleo;
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• Montar o núcleo do transformador com as lâminas passando por dentro
carretel de forma alternada (uma de cada lado), a fim de proporcionar
um caminho para a passagem do fluxo magnético.

Este método de construção refere-se a um transformador com núcleo


envolvente, como mostrado na Figura 3.

Figura 3 – Transformador de núcleo envolvente

Crédito: Magnon Almeida

Fonte: disponível em: <https://transfcav.com.br/?page_id=44>. Acesso em: 27 abr. 2020.

Chama-se núcleo envolvente devido ao fato de as bobinas serem


envolvidas pelas lâminas do transformador, ou seja, as lâminas ficam por fora
dos enrolamentos. Este tipo de construção é a mais utilizada em
transformadores monofásicos de baixa potência. Na Figura 4, é apresentado
um exemplo de lâmina do tipo EI. Este tipo de lâmina é a mais comum utilizada
em transformadores de núcleo envolvente.

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Figura 4 – Lâminas do tipo EI

Crédito: Magnon Almeida

Fonte: disponível em: <https://www.saladaeletrica.com.br/como-montar-um-transformador-


monofasico/>. Acesso em: 27 abr. 2020.

Existem casos em que o núcleo do transformador é envolvido pelos


enrolamentos. Neste caso, a construção é praticamente a mesma do
transformador elementar, com a diferença que as bobinas não são montadas
diretamente sobre o núcleo, mas sim sobre o carretel que é transpassado pelas
lâminas. Na prática, um transformador de núcleo envolvido, pode ser
construído adotando os seguintes passos:

• Enrolar a primeira metade do número de espiras da bobina do primário


em torno de um carretel;
• Enrolar a segunda metade do número de espiras da bobina do primário
em torno de outro carretel;
• Interligar o final de uma bobina com o início de outra, de modo que o
número de espiras seja somado, totalizando o número de espiras do
primário;
• Isolar as bobinas com um material adequado;
• Repetir o procedimento do primário para a bobina do secundário.
• Montar o núcleo do transformador com as lâminas passando por dentro
carretel a fim de proporcionar um caminho para a circulação do fluxo
magnético.

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Perceba que o procedimento requer mais atenção em relação ao
transformador de núcleo envolvente. No entanto, os transformadores de núcleo
envolvido são largamente utilizados em transformadores monofásicos de alta
potência e em transformadores trifásicos, principalmente pelo fato de se
conseguir reduzir o aquecimento nos enrolamentos. Um exemplo de
transformador de núcleo envolvido é mostrado na Figura 4.

Figura 4 – Transformador de núcleo envolvido

Crédito: Magnon Almeida

Fonte: disponível em: <http://www.polux.ind.br/transformadores-monofasicos/transformador-


monofasico-acima-3000va>. Acesso em: 27 abr. 2020.

Na Figura 5 é apresentada a lâmina UI, muito utilizada em


transformadores monofásicos com núcleo envolvido.

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Figura 5 – Lâmina do tipo UI

Crédito: Magnon Almeida

Fonte: disponível em: <https://www.indiamart.com/proddetail/ui-lamination-core-


7275182048.html>. Acesso em: 27 abr. 2020.

TEMA 3 – CIRCUITO EQUIVALENTE

Para compreender o circuito equivalente do transformador, é prudente


iniciar a análise da situação mais simples e então acrescentar gradativamente
os elementos que irão influenciar no funcionamento do transformador, até
chegarmos no circuito que melhor representa o funcionamento do
transformador.
Inicialmente, será considerado o transformador elementar com as não
idealidades dos enrolamentos, conforme a Figura 2. Considerando que o
transformador está operando a vazio, ou seja, sem carga, o circuito elétrico
equivalente é o que está mostrado na Figura 6.

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Figura 6 – Circuito equivalente do transformador a vazio, com as não
idealidades dos enrolamentos

Na Figura 6, não há carga conectada ao secundário, portanto, não há


corrente de carga e, consequentemente, a corrente fornecida pela fonte
também será nula. Sendo assim, não há queda de tensão nos enrolamentos,
portanto, a tensão da fonte é igual à tensão aplicada ao enrolamento do
primário, ou seja, V1 = E1. O mesmo acontece com o secundário, ou seja, E2 =
V2.
Ainda na Figura 6, r1 e r2 representam a resistência de dispersão dos
enrolamentos primário e secundário, respectivamente, e jx1 e jx2 representam
as reatâncias de dispersão dos enrolamentos primário e secundário,
respectivamente. Como a corrente que passa por eles é zero, então não
haverá queda de tensão sobre nenhum destes quatro elementos.
Note, ainda, que as tensões e correntes estão representadas com um
traço sobre elas. Diante desse ponto, todas as grandezas vetoriais serão
representadas desta forma.
Todo circuito equivalente pode ser representado por um diagrama
fasorial. Para o circuito da Figura 6, o diagrama fasorial é mostrado na Figura
7.

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Figura 7 – Diagrama fasorial do transformador a vazio

Note que as grandezas do secundário, representadas pelo subíndice 2,


são representadas com um defasamento de 180º em relação as grandezas do
primário, representadas pelo subíndice 1. Isso é feito por uma questão de
melhor representação do diagrama fasorial, já que se fossem representadas
todas do mesmo lado do digrama, como deveria ser, o desenho se torna muito
poluído, dificultando a visualização e o entendimento.
Em um transformador real, o núcleo também possui não idealidades.
Mesmo o núcleo sendo laminado, há a indução de correntes parasitas, que
causam aquecimento no núcleo. Se a corrente parasita gera calor, significa que
há uma resistência elétrica no núcleo, representada por rHF. Além disso, a
capacidade que o núcleo tem de permitir que o fluxo magnético percorra seu
caminho, acumulando energia e transferindo para o secundário, significa que
ele possui uma indutância, denominada reatância magnetizante, ou reatância
de magnetização, representada por xm. Inserindo estas não idealidades no
circuito equivalente do transformador da Figura 6, o resultado é o circuito
equivalente mostrado na Figura 8, que é o circuito do transformador real sem
carga.

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Figura 8 – Circuito equivalente do transformador real a vazio

Agora, a corrente fornecida pela fonte, se divide em Io, que é a corrente


do núcleo, ou corrente a vazio do transformador, e em I1’, que é a corrente do
enrolamento primário. A corrente Io é chamada de corrente a vazio, porque se
não há carga conectada no secundário, então a corrente I2 é zero, o que leva a
I1’ ser igual a zero, e consequentemente a corrente da fonte será igual a
corrente Io.
Ainda em relação a corrente Io, ela passa pela resistência e pela
reatância do enrolamento primário, gerando assim quedas de tensão nestes
elementos. Entretanto, como a corrente a vazio é entre 2% e 5% da corrente
nominal do transformador quando está a plena carga, a queda de tensão no
enrolamento primário a vazio é muito menos em relação à situação em que o
transformador está a plena carga. Note ainda, que a corrente Io se divide entre
a corrente necessária para suprir as perdas no núcleo, IHF, e a corrente
necessária para a magnetização do núcleo, Im. Além disso, a corrente I2 é zero,
portanto não ocorre queda de tensão no enrolamento secundário, o que leva a
conclusão que V2 = E2.
Levando em conta todas estas considerações, o circuito da Figura 8
pode ser representado por um diagrama fasorial, conforme mostrado na Figura
9.

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Figura 9 – Diagrama fasorial do transformador real a vazio

Na Figura 9, o ângulo θo, formado entre a corrente IHF e a corrente Im é o


ângulo do transformador a vazio, sendo o que seu cosseno, corresponde ao
fator de potência do transformador a vazio. Como é um ângulo que se
aproxima de 90º, o valor do seu cosseno, se aproxima de zero, o que nos leva
à conclusão que o fator de potência do transformador a vazio é próximo de
zero, e aumenta à medida que a carga se aproxima da nominal.
Por isso, todo transformador deve operar com a potência o mais próximo
possível da potência nominal, pois, à medida que a carga aumenta, o fator de
potência e o rendimento também aumentam. Ao ser conectada uma carga ao
transformador, o circuito equivalente da Figura 8 passa a ser representado
conforme o circuito da Figura 10.

Figura 10 – Circuito equivalente do transformador real com carga

Perceba que agora há uma carga com impedância ZL. Assim, o


secundário do transformador passa a fornecer a corrente I2 para a carga. Esta
corrente resultará em uma queda de tensão na resistência e na reatância do
enrolamento secundário, fazendo com que E2 e V2 tenham valores diferentes.

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O tipo de carga mais comum é com característica indutiva, porém,
também pode ter característica capacitiva, ou resistiva. Para cada tipo de
carga, o transformador possui um diagrama fasorial diferente, já que ao alterar
a característica da carga, se altera a característica das correntes, o que
influenciará o restante do circuito. Como o tipo de carga mais comum é com
característica indutiva, o diagrama fasorial do transformador nesta situação é
mostrado na Figura 11, tomando como base o circuito da Figura 10.

Figura 11 – Diagrama fasorial do transformador real a com carga indutiva

Na Figura 11, iniciamos a representação pela tensão induzida no


enrolamento primário E1, que dá origem ao fluxo magnético Φm, e
consequentemente à tensão induzida E2. Perceba que a tensão E1 está sendo
diretamente aplicada às não idealidades do núcleo do transformador, rHF e xm.
Sendo assim, a corrente IHF fica em fase com E1, já que rHF é um elemento
puramente resistivo, e Im fica atrasada de 90º graus em relação à tensão E1,
por ser uma corrente com característica puramente indutiva. Somando
vetorialmente IHF com Im, chega-se ao vetor da corrente Io. Por possuir uma
característica indutiva, a corrente do enrolamento primário, I1’, fica atrasada em
relação à tensão E1. Aplicando a lei de Kirchhoff das correntes, percebe-se que
I1 é a soma de Io com I1’. Portanto, somando estas correntes, chega-se ao vetor
da corrente I1. Perceba também que a corrente I1 passa pelas não idealidades
do enrolamento primário, causando uma queda de tensão em r1 e em jx1.
A queda de tensão em r1 está em fase com a corrente que dá origem a
ela. Já a queda de tensão em jx1 está 90º adiantada em relação à corrente que

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deu origem a ela. Note que ao se somar a tensão induzida no enrolamento
primário com as quedas de tensão das não idealidades dos enrolamentos,
chega-se ao valor da tensão aplicada pela fonte, V1, bem como a sua
representação no diagrama fasorial.
No lado secundário, a corrente I2 está 180º defasada em relação à
corrente I1’, lembrando que este defasamento é apenas para uma questão de
uma melhor representação do diagrama fasorial. A corrente I2 passará pelas
não idealidades do enrolamento secundário, e consequentemente resultará em
uma queda de tensão no enrolamento.
A queda de tensão sobre a resistência do enrolamento secundário r2
estará em fase com a tensão aplicada à carga V2. E a queda de tensão na
reatância do enrolamento secundário jx2 estará 90º adiantada em relação à
queda te tensão em r2. Como a carga é indutiva, a tensão sobre a carga V2,
deve estar adiantada em relação à corrente I2, e o ângulo θ2 formado entre elas
é o ângulo da carga, cujo cosseno é o fator de potência da carga. Somando a
tensão sobre a carga, com as quedas de tensão no enrolamento secundário,
chega-se ao vetor da tensão induzida no enrolamento secundário, E2.
Seguindo o mesmo raciocínio, podemos chegar ao diagrama fasorial do
transformador com carga resistiva, mostrado na Figura 12, e ao diagrama
fasorial do transformador com carga com característica capacitiva, mostrado na
Figura 13. Entretanto, deve-se ficar atento ao defasamento das correntes em
cada um dos casos.

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Figura 12 – Diagrama fasorial do transformador real a com carga resistiva

Figura 13 – Diagrama fasorial do transformador real a com carga capacitiva

No circuito da Figura 10, as grandezas do primário e do secundário


estão separadas devido a existência da isolação galvânica existente entre os
dois lados. Sendo assim, a análise do circuito torna-se mais complexa. Para
que seja possível realizar a análise do circuito equivalente do transformador
utilizando as técnicas clássicas de análise de circuitos elétricos, utiliza-se uma
técnica chamada de referenciação. A referenciação consiste em representar as
grandezas de um dos lados do transformador no outro lado, sem alterar as

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características do circuito. Para isso se utiliza a relação de transformação k. Ao
serem referenciadas as grandezas do primário para o secundário, do circuito
equivalente da Figura 10, é obtido o circuito elétrico da Figura 14.

Figura 14 – Circuito equivalente do transformador real com o secundário ao


lado primário

No circuito da Figura 14, as grandezas indicadas por linha (‘) são as


grandezas do secundário que foram referidas ao primário utilizando a relação
de transformação, com exceção de I1’. Para se obter o circuito da Figura 14
foram aplicadas as relações:
𝑟!" = 𝑘 ! ∙ 𝑟!

𝑗𝑥!" = 𝑘 ! ∙ 𝑗𝑥!

**** ***!
𝑉! ′ = 𝑘 ∙ 𝑉
(15)
****
𝐸 ***
! ′ = 𝑘 ∙ 𝐸!

*** 𝐼-!
𝐼! ′ =
𝑘

Por meio do circuito equivalente da Figura 14, podemos obter o circuito


equivalente simplificado do transformador. O circuito equivalente simplificado é
utilizado quando a corrente de magnetização do núcleo é desconsiderada. Em
transformadores bem projetados, bem construídos e que utilizam lâminas de
boa qualidade com elevada permeabilidade magnética, a corrente
magnetizante tem um valor que varia entre 2% e 5% da corrente nominal do
transformador. Além disso, a inserção de silício no aço das lâminas (aço-silício)
ajuda com que as perdas no núcleo sejam menores, havendo uma redução da

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corrente IHF. Dessa forma a corrente do núcleo do transformador, Io, pode ser
considerada desprezível. Neste caso, o circuito equivalente do transformador
fica como mostrado na Figura 15.

Figura 15 – Circuito equivalente do transformador desconsiderando a corrente


de magnetização

Analisando a Figura 15, percebe-se que as resistências e as reatâncias


de dispersão do primário e do secundário referida ao primário ficam em série,
portanto, podem ser associadas de modo a formar uma resistência equivalente
Re1, e uma reatância equivalente Xe1. Utiliza-se o subíndice e1 para evidenciar
que o secundário foi referido ao primário. Feita a associação em série, o
circuito equivalente fica como mostrado na Figura 16.

Figura 16 – Circuito equivalente do transformador simplificado

Como tratado até agora, as grandezas do secundário foram referidas ao


primário, porém é possível trabalhar com as grandezas do primário referidas ao
secundário. A inserção da isolação nos circuitos da Figura 17 e da Figura 18
melhoram o entendimento de como as referenciações são feitas e como o
circuito deve ser trabalhado.

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Figura 17 – Circuito equivalente do transformador simplificado referido ao
primário com isolação e desconsiderando a corrente de magnetização

Figura 18 – Circuito equivalente do transformador simplificado referido ao


secundário com isolação e desconsiderando a corrente de magnetização

Na Figura 17, finalmente aparece a tensão V2’. Para compreender o que


representa a tensão V2’, considere como exemplo um transformador que traz
em sua placa a seguinte inscrição: 100kVA e 13800/220V. Considerando o
transformador como abaixador, o valor de 220V é o valor da tensão aplicada à
carga, V2, quando circula a corrente nominal pelos enrolamentos. Já o valor de
13.800V é o valor da tensão do secundário multiplicado pela relação de
transformação com o secundário referido ao primário, ou seja, é igual a V2’. Já
o valor da potência de 100kVA significa que o secundário do transformador
fornece uma corrente I2 com uma tensão V2 igual a nominal, sendo que o
produto de V2 e I2 é igual a 100kVA.

TEMA 4 – ENSAIO A VAZIO E A PLENA CARGA

O ensaio a vazio, também chamado ensaio de perdas no ferro, ou


ensaio com transformador aberto, tem como principais objetivos a

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determinação das perdas no núcleo do transformador, os parâmetros do núcleo
e o fator de potência a vazio. O esquema de ligação do ensaio a vazio é
mostrado na Figura 19.

Figura 19 – Esquema de ligação do ensaio a vazio

O procedimento para realizar o ensaio consiste em elevar a tensão da


fonte variável gradativamente, de 0V até a tensão nominal do lado que está
sendo energizado, enquanto o outro lado do transformador permanece em
aberto ou com um voltímetro conectado. Quando o voltímetro do primário medir
um valor igual à tensão, são registrados os valores de V1 que corresponde a
tensão nominal do transformador Io, que corresponde a corrente consumida
pelo núcleo do transformador e Po, que corresponde a potência consumida pelo
núcleo.
Note que o os terminais energizados são X0 e X1, que corresponde ao
lado de baixa tensão do transformador. Embora qualquer um dos lados possa
ser energizado, normalmente opta-se pela energização do lado de baixa
tensão. Isso ocorre devido ao fato de esse tipo de ensaio normalmente ser
realizado em laboratório, onde é mais viável obter uma fonte de baixa tensão.
Como a corrente durante o ensaio é baixa e a tensão aplicada é igual à
nominal do lado de baixa tensão, normalmente a fonte não necessita de uma
potência elevada.
Como o secundário do transformador permanece aberto, a corrente I2 é
igual a zero, o que significa que não haverá perda no enrolamento secundário,
portanto, a tensão induzida no enrolamento E2 será igual a tensão que seria
aplicada a carga V2. Além disso, como a corrente que circulará pelo
enrolamento primário é baixa, pode-se desconsiderar a queda de tensão no
enrolamento. Dessa forma, o circuito considerado para os cálculos, após a
coleta dos dados é mostrado na Figura 20.

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Figura 20 – Circuito equivalente do transformador a vazio

Observando o circuito da Figura 20, nota-se que toda a corrente


fornecida pela fonte é para suprir as perdas ôhmicas do núcleo e para a sua
magnetização. Portanto, a potência que a fonte fornece é a potência absorvida
pelo núcleo.
Como toda a potência ativa fornecida pela fonte é para o núcleo, no
ensaio a vazio a potência registrada pelo wattímetro é a potência Po, a corrente
registrada pelo amperímetro é a corrente consumida pelo núcleo, Io, e a tensão
medida pelo voltímetro é a tensão nominal do lado energizado. Portanto, como
o transformador está a vazio, é possível calcular o fator de potência a vazio do
transformador que será representado por cosϴo. Matematicamente, é possível
calcular o fator de potência a vazio do transformador pela equação:
𝑃# (
𝑐𝑜𝑠𝜃# =
𝑉$ ∙ 𝐼 # 16)
Assim, como qualquer carga em corrente alternada, o transformador
também possui uma potência ativa, reativa e uma aparente, que podem ser
representadas pelo triângulo de potências. No transformador a vazio, o fator de
potência é igual ao cosseno do ângulo formado entre a tensão aplicada pela
fonte e a corrente absorvida pelo núcleo. Assim, conhecendo o fator de
potência do transformador que é o cosseno do ângulo ϴo, a potência reativa do
transformador a vazio, representada por Qo, pode ser calculada por:
(
𝑄( = 𝑉! ∙ 𝐼( ∙ 𝑠𝑒𝑛𝜃(
17)
Como pode ser observado no circuito da Figura 20, a corrente a vazio IO
é composta de duas parcelas. Estas parcelas são a corrente magnetizante,

23
representada por Im, e a corrente responsável por suprir as perdas ôhmicas no
núcleo IHF. A corrente IO, juntamente com a corrente Im e a corrente IHF, podem
ser representadas fasorialmente, como mostrado na Figura 21.

Figura 21 – Representação fasorial das correntes do núcleo de um


transformador

Perceba que de acordo com a Figura 21 é possível lançar mão das


relações trigonométricas, por meio do ângulo ϴo, e da corrente Io, para calcular
os valores de Im e IHF, que são dados por:
(
𝐼) = 𝐼( ∙ 𝑠𝑒𝑛𝜃(
18)
E,
(
𝐼*+ = 𝐼( ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃(
19)
Como se sabe, o núcleo do transformador é representado por uma
resistência rHF, responsável pelas perdas no núcleo, e uma reatância xm,
responsável pela magnetização do núcleo quando percorrida pela corrente Im.
Estes parâmetros podem ser calculados por meio da análise da Figura 20. Note
que a fonte de alimentação V1 fica diretamente aplicada cobre os componentes
que representam o núcleo. Perceba ainda que, conhecendo separadamente o
valor das correntes IHF e Im, é possível determinar a resistência e a reatância do
núcleo. É fácil notar que a corrente IHF é a corrente que circula pela resistência
do núcleo, e que a corrente de magnetização Im é a que circula pela reatância
magnetizante. Portanto, as componentes do núcleo podem ser determinadas
matematicamente por:
𝑉! (
𝑟*+ =
𝐼*+ 20)

24
E,
𝑉! (
𝑥) =
𝐼) 21)
Uma alternativa para o cálculo dos componentes xm e rHF é utilizando o
valor das potências ativa e reativa absorvidas pelo transformador a vazio.
Sabendo que resistência é responsável pelo consumo da potência ativa, e que
a reatância é responsável pelo consumo de potência reativa, a determinação
dos componentes do núcleo pode ser feita por:
𝑉!" (
𝑟*+ =
𝑃( 22)
E,
𝑉!" (
𝑥) =
𝑄( 23)
Analisando ainda o circuito da Figura 20, nota-se que o núcleo é
representado por rHF em paralelo com xm. Portanto, existe uma impedância
equivalente, representada por zφ que representa o núcleo como um todo. O
cálculo da impedância do núcleo pode ser feito por meio da associação
paralela de rHF com xm, dada por:
𝑟*+ ∙ 𝑗𝑥) (
𝑧, =
𝑟*+ + 𝑗𝑥) 24)
Na forma polar, a impedância do núcleo pode ser calculada com base na
equação:
𝑉! ∡0º (
𝑧, =
𝐼( ∡ − 𝜃( 25)
Já o ensaio a plena carga, também chamado de ensaio de curto-circuito,
ou ensaio de perdas no cobre, tem como principal objetivo determinar as
perdas nos enrolamentos do transformador e a impedância percentual do
transformador. O ensaio é realizado por meio da montagem do circuito
mostrado na Figura 22.

25
Figura 22 – Esquema de ligação do ensaio a plena carga

O procedimento para a realização do ensaio consiste em elevar


gradativamente a tensão da fonte de alimentação variável até o valor em que o
amperímetro conectado no lado energizado mostre o valor da corrente nominal
do lado de energizado. Quando isso ocorrer, devem ser registrados os valores
indicados no voltímetro, V1PC, que é chamada tensão de curto-circuito, a
corrente do amperímetro, I1PC, que é a corrente nominal do lado energizado e a
potência P1PC,ti, que é a potência consumida pelos enrolamentos referidos ao
lado de energizado, na temperatura em que o ensaio é realizado, também
chamada de temperatura ambiente.
Note que o lado energizado é o lado de alta tensão, indicado pelos
terminais H0 e H1. Embora qualquer um dos lados possa ser energizado, neste
ensaio costuma-se energizar o lado de alta tensão devido ao fato de a fonte de
alimentação ter que fornecer a corrente nominal. Como o lado de maior
corrente está diretamente curto-circuitado, a única impedância que limita a
corrente é a impedância dos enrolamentos, que é baixa, portanto, um pequeno
valor de tensão aplicada pela fonte é o suficiente para que o amperímetro
acuse o valor da corrente nominal.
Como a tensão aplicada pela fonte é muito pequena em relação ao valor
da tensão nominal do lado que está sendo energizado, a indução de fluxo
magnético no núcleo do transformador é pequena, o que resulta em uma
corrente Io muito pequena em relação à corrente nominal do transformador.
Dessa forma é admissível desprezar a corrente do núcleo, ou seja, considerar
IO igual a zero. Se Io é igual a zero, então significa que não existe corrente
circulando pelo núcleo. Assim, os seus componentes podem ser
desconsiderados, resultando no circuito mostrado na Figura 23.

26
Figura 23 – Circuito equivalente do transformador no ensaio a plena carga

Embora a tensão V1PC e a corrente I1PC sejam grandezas vetoriais, para


os cálculos relacionados ao ensaio a plena carga, o ângulo não é relevante,
portanto, elas serão representadas apenas por seu valor eficaz conforme
mostrado na Figura 10, e no decorrer deste tema.
Pelo fato de o núcleo ser desconsiderado, toda a potência absorvida
pelo transformador é consumida pelos enrolamentos.
Note que o circuito da Figura 23 é um circuito com duas impedâncias em
série. Como a impedância do secundário foi referida ao primário, a impedância
equivalente será referida ao primário. Após a associação das impedâncias, o
circuito resultante é o mostrado na Figura 24.

Figura 24 – Circuito equivalente reduzido do transformador no ensaio a plena


carga

Note que a resistência e a impedância são descritas com o subíndice


1PC,ti, que significa que estão referidas ao lado primário, assim como a
reatância, e ti, que significa temperatura inicial, ou seja, a temperatura em que
o ensaio foi realizado. Como se sabe a resistência, e consequentemente a
impedância variam com a temperatura.
Como mencionado anteriormente, um dos objetivos é o cálculo da
impedância percentual, que é um dado de placa do transformador. A
impedância é expressa em termos percentuais devido ao fato de que o ensaio
a plena carga pode ser realizado energizando o lado de alta ou de baixa
27
tensão. Se o ensaio for realizado energizando o lado de alta tensão, a
impedância do enrolamento de baixa tensão deve ser referida para o lado de
alta tensão. Já se o ensaio for realizado energizando o lado de baixa tensão, a
impedância do enrolamento do lado de alta tensão deve ser referida para o
lado de baixa tensão. Dessa forma, o resultado da impedância seria
dependente do lado do transformador que fosse energizado no ensaio.
Expressando a impedância em termos percentuais, este problema é eliminado.
A impedância percentual, aqui representada por Z (%), é, por definição, dada
pela relação entre a tensão aplicada no ensaio a plena carga e a tensão
nominal do lado energizado, multiplicado por cem. Matematicamente:
𝑉!$' (
𝑍(%) = ∙ 100
𝑉!-./ 26)
Teoricamente, é um cálculo simples e rápido de ser realizado. No
entanto, sabe-se que a resistência e a impedância dos enrolamentos
aumentam proporcionalmente à temperatura. Quando o transformador está a
plena carga, pelos enrolamentos estará circulando a corrente nominal, o que
resultará em um aumento da temperatura dos enrolamentos e
consequentemente uma alteração no valor da impedância percentual. Neste
ponto, vale ressaltar que todas as variáveis que apresentarem o subíndice tf
representam variáveis na temperatura de trabalho do transformador, também
chamada de temperatura final, ou temperatura de regime. Essa temperatura
depende da classe de isolamento do transformador. As classes de isolamento
estabelecidas pela ABNT são:

• Classe A: 105 ºC
• Classe E: 120 ºC
• Classe B: 130 ºC
• Classe F: 155 ºC
• Classe H: 180 ºC

Para o cálculo da impedância percentual levando em consideração a


temperatura de trabalho do transformador em primeiro lugar deve-se calcular a
resistência do enrolamento a plena carga na temperatura em que o ensaio foi
realizado. Esta resistência é indicada por R1PC,ti e é calculada por:
𝑃!$',1! (
𝑅!$',12 = "
𝐼!$' 27)

28
Também é preciso determinar o valor da impedância dos enrolamentos
do transformador na temperatura em que o transformador foi ensaiado. O valor
dessa impedância, representada por Z1PC,ti, é dado por:
𝑉!$' (
𝑍!$',12 =
𝐼!$' 28)
Sabe-se que a reatância pode ser calculada com base valores de
impedância e de resistência. Assim, conhecendo os valores de resistência e
impedância dos enrolamentos na temperatura inicial, é possível determinar o
valor da reatância dos enrolamentos, indicada por X1PC, por meio da equação:
(
" "
𝑋!$' = G𝑍!$',12 − 𝑅!$',12
29)
Note que a reatância não possui o subíndice ti, pois a reatância indutiva
não depende da temperatura, mas somente da indutância dos enrolamentos e
da frequência da fonte de alimentação, conforme mostra a equação:
(
𝑋!$' = 2 ∙ 𝜋 ∙ 𝑓 ∙ 𝐿
30)
Por outro lado, a resistência sofre alteração na medida em que ocorre a
circulação de corrente pelas bobinas do transformador. É possível conhecer o
valor da resistência do enrolamento do transformador na temperatura de
regime, conhecendo a sua classe de isolamento, por meio da equação:
234,5 + 𝑡3 (
𝑅!$',13 = 𝑅!$',12 ∙
234,5 + 𝑡2 31)
Nela, tf é a temperatura de trabalho do transformador, indicada pela
classe de isolamento.
Como a reatância do enrolamento não sofre alteração com a
temperatura, com o valor de X1PC e de R1PC,tf, é possível determinar a
impedância dos enrolamentos do transformador na temperatura de regime pela
equação:
(
" "
𝑍!$',13 = G𝑅!$' + 𝑋!$'
32)
Voltando a equação (26) que define a impedância percentual, e
substituindo V1PC pelo produto de Z1PC,ti e I1PC , obtido da equação (28) tem-se
que:
𝑍!$',12 ∙ 𝐼!$' (
𝑍(%) = ∙ 100
𝑉!-./ 33)

29
Multiplicando o numerador e o denominador da equação (33) pela
tensão nominal, e sabendo que o valor da corrente medida pelo amperímetro
no ensaio a plena carga é o valor da corrente nominal do transformador do lado
energizado, obtém-se o valor definitivo da impedância percentual em função a
temperatura, que é dado por:
𝑍!$',12 ∙ 𝑆-./ (
𝑍(%) = " ∙ 100
𝑉!-./ 34)
Em que SNOM é a potência nominal do transformador, dada em VA, e
matematicamente dada por:
(
𝑆-./ = 𝑉!-./ ∙ 𝐼!-./ = 𝑉!-./ ∙ 𝐼!$'
35)
Note que, assim, a impedância percentual é escrita em função de
variáveis que não dependem da temperatura (V1NOM e SNOM). Entretanto, esta
impedância percentual é válida para a temperatura em que o ensaio foi
realizado. Portanto, para conhecermos o valor da impedância percentual do
transformador na temperatura de acordo com a classe de isolamento, basta
corrigir os termos dependentes da temperatura para a temperatura
correspondente. Assim, tem-se que:
𝑍!$',13 ∙ 𝑆-./ (
𝑍(%) = " ∙ 100
𝑉!-./ 36)
Outro dado importante que pode ser calculado por meio de dados e
cálculos do ensaio a plena carga é o ângulo interno do transformador.
Matematicamente é dado por:
𝑋!$' (
𝜑 4 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 S T
𝑅!$',13 37)
E representa o ângulo formado entre a reatância dos enrolamentos e a
resistência deles na temperatura de regime do transformador. Esta é uma
grandeza importante no caso da operação de transformadores em paralelo.
Neste caso, os transformadores que serão ligados em paralelo devem ter o
mesmo ângulo interno.

TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO

Além de permitir a determinação dos parâmetros do circuito equivalente


do transformador, os resultados dos ensaios a vazio e a plena carga permitem
a determinação de parâmetros de funcionamento do transformador. Estes
30
parâmetros são relevantes para saber como o transformador irá se comportar
em função da carga que está conectado ao seu secundário.
Um destes parâmetros é a regulação de tensão. A regulação de tensão
do transformador é, por definição, a diferença entre a tensão no secundário
com o transformador a vazio e a plena carga. Matematicamente:
(
𝑅𝑒𝑔 = 𝐸" − 𝑉"
38)
Na prática, o mais comum é expressar a regulação em termos
percentuais. Para isso, é necessário antes determinar a regulação absoluta,
dada por:
𝐸" − 𝑉" (
𝑅𝑒𝑔&56 =
𝑉" 39)
Para obter a regulação percentual basta multiplicar a regulação absoluta
por 100, chegando a:
𝐸" − 𝑉" (
𝑅𝑒𝑔(%) = ∙ 100
𝑉" 40)
No entanto, na prática não há como realizarmos a leitura nem a medição
direta da tensão induzida no enrolamento secundário. Portanto, é usual
escrever a regulação percentual em função de dados que possam ser medidos
ou que estejam disponíveis na placa de identificação do transformador. Assim,
a regulação percentual é calculada em função do módulo da tensão aplicada
pela fonte e pela relação de transformação, tal que:
|𝑉V! | (
𝑘 − |𝑉V" |
𝑅𝑒𝑔(%) = ∙ 100 41)
|𝑉V" |
Em que:
(
𝑉V! = 𝑘 ∙ 𝑉" ∡0º + 𝐼!$' ∡𝜃" ∙ 𝑍!$',13 ∡𝜑′
42)
Na equação (42), o ângulo θ2 é o ângulo da carga, cujo cosseno será o
fator de potência da carga. Se a carga possuir característica indutiva, o ângulo
θ2 será negativo, se a carga possuir característica capacitiva ele será positivo,
e se a carga possuir característica resistiva ele será igual a zero.

31
A regulação percentual também pode ser expressa em função da
impedância percentual e da carga, conforme mostra a equação:
(
𝑅𝑒𝑔(%) = 𝑍(%) ∙ cos (𝜑 4 − 𝜃" )
43)
Como essa equação faz o uso da impedância percentual para a
determinação da regulação percentual, e esta é calculada levando em conta o
valor de tensão nominal, ela só é válida quando a tensão aplicada pela fonte de
alimentação é a nominal, que está indicada na placa do transformador.
Perceba que a situação em que ocorre a maior regulação percentual é
quando o ângulo interno do transformador 𝜑′ e o ângulo da carga θ2 são iguais.
Quando isso ocorrer, a diferença entre estes dois ângulos será igual a zero, o
que resultara em:
(
𝑅𝑒𝑔(%) = 𝑍(%)
44)
A máxima regulação de tensão é igual ao valor da impedância
percentual do transformador.
Outro aspecto de funcionamento indispensável para o funcionamento do
transformador é o valor da sua corrente de curto-circuito.
Considerando o transformador em regime permanente, ou seja, na
temperatura de trabalho, a corrente de curto-circuito pode ser determinada pela
análise do circuito da Figura 24, substituindo R1PC,ti por R1PC,tf e fazendo a
substituição de tensão V1PC pela tensão nominal. Somando a resistência na
temperatura de trabalho com a reatância dos enrolamentos, obtém-se o valor
da impedância na temperatura final, Z1PC,tf. Assim, o circuito a ser analisado é o
mostrado na Figura 25, na qual ICC representa a corrente de curto-circuito. No
caso do circuito em questão, é aplicada tensão nominal ao enrolamento
primário e, como só há a impedância dos enrolamentos limitando a corrente,
neste caso, circulará a corrente de curto-circuito.

Figura 25 – Circuito equivalente do transformador no caso de curto-circuito

32
Pela análise do circuito da Figura 25, pode-se escrever que:
𝑉!-./
𝐼'' = (45)
𝑍!$',13

No entanto, perceba que a equação da corrente de curto-circuito ICC está


escrita em função da impedância dos enrolamentos. Assim, como no caso da
impedância percentual, isso se torna um inconveniente. Portanto, é prudente
escrever a equação em termos de percentuais. Para isso, isola-se Z1PC,tf na
equação (36), o que resulta em:
"
𝑍(%) ∙ 𝑉!-./ (
𝑍!$',13 =
𝑆-./ ∙ 100 46)
Agora, substituindo a equação (46), na equação (45) tem-se:
𝑉!-./
𝐼'' = (
"
𝑍(%) ∙ 𝑉!-./
𝑆-./ ∙ 100 47)

Manipulando a equação (47) adequadamente, é possível chegar a:


100 ∙ 𝑆-./ (
𝐼'' =
𝑍(%) ∙ 𝑉!-./ 48)
Note que a equação agora é aplicável para qualquer um dos lados do
transformador, independente de qual deles é o primário, pois a tensão V1NOM é
a tensão do primário, e o primário é o lado energizado, ou seja, pode ser o lado
de alta ou baixa tensão. Portanto, as correntes de curto-circuito do lado de alta
e de baixa tensão podem ser expressas, respectivamente, por:
100 ∙ 𝑆-./ (
𝐼'',&# =
𝑍(%) ∙ 𝑉-./,&# 49)
E,
100 ∙ 𝑆-./ (
𝐼'',5# =
𝑍(%) ∙ 𝑉-./,5# 50)
Perceba que a impedância percentual tem um papel fundamental no
dimensionamento do sistema de proteção do transformador. De acordo com a
equação (48), a corrente de curto-circuito é inversamente proporcional a
impedância percentual, que está diretamente ligada ao valor da regulação
percentual do transformador. Quanto menor a impedância percentual, menor
será a regulação percentual, o que é bom para a carga. No entanto, maior será
a corrente de curto-circuito, o que resultaria em dispositivos de proteção com
atuação mais rápida e consequentemente custo mais elevado.

33
Por fim, vamos ver a definição matemática de um dos aspectos mais
importantes do transformador, o rendimento percentual. O rendimento
percentual de uma máquina é a relação entre a potência útil de saída pela
potência útil de entrada multiplicada por 100. No caso particular dos
transformadores, a potência útil de saída é a potência ativa da carga, e a
potência útil de entrada é a potência ativa que é repassada para a carga, mais
as potências de perdas no cobre e no ferro, ou seja, é a potência ativa que ele
absorve da fonte de alimentação. A potência de perdas no núcleo é
determinada no ensaio a vazio, e a potência de perdas no cobre no ensaio a
plena carga. Portanto, para a determinação do rendimento, são necessários
dados dos dois ensaios. Matematicamente, o rendimento percentual de um
transformador pode ser dado por:
𝑆-./ ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃" (
𝜂(%) = ∙ 100
𝑆-./ ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃" + 𝑃( + 𝑃!$',13 51)
Na equação (51), P1PC,tf corresponde a potência consumida pelos
enrolamentos quando o transformador já atingiu sua temperatura de trabalho,
definida pela classe de isolamento. Essa potência é calculada por:

"
(
𝑃!$',13 = 𝑅!$',13 ∙ 𝐼!$'
52)
Substituindo a equação (51) na equação (51) chega-se a:
𝑆-./ ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃" (
𝜂(%) = " ∙ 100
𝑆-./ ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃" + 𝑃( + 𝑅!$',13 ∙ 𝐼!$' 53)

FINALIZANDO

Nesta aula, foi apresentado o transformador monofásico, iniciando pelo


seu princípio de funcionamento e suas características construtivas. Também
foram estudados os ensaios a vazio e a plena carga, cujos resultados são de
extrema importância para determinar as perdas mais relevantes no
transformador, assim como algumas de suas características. Por fim, foram
abordados alguns aspectos de funcionamento do transformador, para saber
como será o seu comportamento em função da carga que está ligada a ele.

34
REFERÊNCIAS

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2013.

MOHAN, N. Máquinas elétricas e acionamentos: curso introdutório. Rio de


Janeiro: LTC, 2015.

UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto


Alegre: AMGH, 2014.

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