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Prática 8: Fenómeno de Indução Mútua

1. Objectivos
(a) Verificação experimental da lei de Faraday.
(b) Compreender o fenómeno de indução mútua.
(c) Determinar, pela lei de indução electromagnética de Faraday, a área efectiva de um solenoide.

2. Teoria

2.1.Fenómeno de indução electromagnética

A figura 1 mostra uma espira de material condutor ligado a um amperímetro. Como não existe uma fonte de
tensão no circuito, não há corrente. Entretanto, quando aproximamos da espira um íman em forma de barra, o
amperímetro indica a passagem de uma corrente. A corrente desaparece quando o íman pára. Quando
afastamos o íman da espira, a corrente torna a aparecer, no sentido contrário.

Figura 1: Processo de indução electromagnética.

Repetindo o experimento algumas vezes, chega-se às seguintes conclusões:


1) A corrente é observada apenas se existe um movimento relativo entre a espira e o íman, logo,
a corrente desaparece no momento em que o movimento relativo deixa de existir;
2) Quanto mais rápido o movimento, maior a corrente;
3) Se, quando aproximamos da espira o polo norte do íman, a corrente tem o sentido horário,
quando afastamos o polo norte a corrente tem o sentido anti-horário, nesse caso, quando
aproximamos da espira o polo Sul, a corrente tem o sentido anti-horário, e quando afastamos
da espira o polo Sul, a corrente tem o sentido horário.

A corrente produzida na espira é chamada de corrente induzida; o trabalho realizado por unidade de carga para
produzir essa corrente é chamado de força eletromotriz induzida; o processo de produzir a corrente e a força
eletromotriz recebe o nome de indução. Analisando as experiências feitas, Faraday verificou que surgia uma
corrente induzida sempre que havia variação de uma grandeza associada ao campo magnético, denominada
fluxo magnético.

Assim, foi enunciada a lei de Faraday que diz o seguinte:

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A força electromotriz induzida, 𝜀, em um circuito, é numericamente igual à taxa de variação temporal do fluxo
magnético através do circuito. A expressão matemática desta lei é:

𝑑Φ
𝜀=−
𝑑𝑡 (1)

O sinal negativo traduz a oposição que a corrente induzida oferece à variação do fluxo que a originou. No
caso de uma bobina de𝑁 espiras, a equação Erro! A origem da referência não foi encontrada. pode ser
escrita como

𝑑Φ
𝜀 = −𝑁
𝑑𝑡 (2)

onde Φ é o fluxo magnético.

Define-se fluxo magnético através de uma superfície plana, como o número de linhas de campo que
atravessam essa superfície. Dividindo qualquer superfície em elementos de área 𝑑𝐴 e para cada elemento,
⃗ normal à superfície do elemento.
determinamos 𝐵⊥, o componente de 𝐵

Figura 2: Fluxo do campo magnético através de um elemento de área

⃗ e a recta
De acordo com a figura 2, temos 𝐵⊥ = 𝐵 cos(𝜙), em que 𝜙 é o ângulo entre a direção de 𝐵
perpendicular à superfície. Em geral, esse componente varia de ponto a ponto sobre a superfície. Definimos o
fluxo magnético 𝑑Φ através da superfície como

⃗ ∙ 𝑑𝐴
dΦ = 𝐵⊥ 𝑑𝐴 = 𝐵 cos(𝜙) 𝑑𝐴 = 𝐵 (3)

A unidade no SI de fluxo magnético é o weber (𝑊𝑏). O fluxo magnético total através da superfície é a soma
das contribuições dos elementos de área individuais, ou seja:

⃗ ∙ 𝑑𝐴
Φ = ∫ 𝐵⊥ 𝑑𝐴 = ∫ 𝐵 cos(𝜙) 𝑑𝐴 = ∫ 𝐵 (4)

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2.2.Autoindução

⃗ . Esse campo determina o


Considere o circuito da figura 3, onde circula a corrente 𝐼, que origina o campo 𝐵
fluxo magnético Φ através da espira, denominado fluxo autoinduzido.

Figura 3: Fluxo magnético autoinduzido

Verifica-se, experimentalmente, que Φ𝑎 é diretamente proporcional à corrente 𝐼.

Φ𝑎 = L ∙ I (5)

O coeficiente 𝐿 depende da configuração do circuito e do meio no qual ele se encontra. Esse coeficiente é
denominado indutância do circuito. Na figura 3, mudando-se a posição do cursor no reóstato, variamos 𝐼 e,
por conseguinte, Φ𝑎 . Então, aparece uma 𝑓𝑒𝑚 induzidaε𝑎 no próprio circuito, que, por sua vez, é ao mesmo
tempo circuito indutor e circuito induzido. Esse é o fenômeno da autoindução. No intervalo de tempo 𝑑𝑡, tem-
se 𝑑Φ𝑎 = L ∙ dI e, pela lei da indução electromagnética, a 𝑓𝑒𝑚 auto-induzida é dada por:

𝑑I
ε𝑎 = −𝐿 (6)
𝑑𝑡

2.3.Indução mútua

A indução mútua tem a ver com a indução de uma corrente entre circuitos vizinhos. Faraday observou o
fenómeno da indução mútua quando colocou dois circuitos, primário e secundário, contendo duas bobinas,
perto um do outro. O circuito secundário não tinha qualquer gerador, sendo apenas constituído por um
condutor, uma bobina e um galvanómetro. O circuito primário tinha uma bobina e uma fonte de tensão que se
podia ligar ou desligar mediante um interruptor, como indica a figura abaixo:

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Figura 1: Indução mútua

Faraday verificou que quando ligava o circuito primário passava, momentaneamente, uma corrente no
secundário. O aparecimento de uma corrente no circuito secundário é uma consequência da lei de Faraday. De
facto, ao ligar o circuito primário, dá-se uma variação do fluxo magnético que se acompanha pelo
aparecimento de uma 𝑓𝑒𝑚 no secundário. Ao mesmo tempo, a corrente induzida no secundário origina um
campo magnético, cuja variação cria uma corrente induzida no primário. Quando a corrente do circuito
primário atinge um valor constante, o que acontece rapidamente, deixa de haver variação de fluxo e, por isso,
deixa de haver, também, corrente induzida no secundário. Quando se desliga o circuito primário, mais uma
vez há variação de fluxo e volta a aparecer, momentaneamente, uma 𝑓𝑒𝑚 induzida no secundário. Para
descrever momentaneamente a indução mútua de dois circuitos, consideremos, para isso, uma espécie 𝐸1 ,
percorrida por uma corrente 𝐼1 , e uma espécie 𝐸2 , colocada nas proximidades, como indicado na figura 4. A
⃗ , origina um fluxo Φ, na espira 𝐸1 e um fluxo Φ2
corrente 𝐼1 , ao criar um campo magnético autoinduzido, 𝐵
na espira E2 . A variação da corrente 𝐼1 , origina uma variação no fluxo Φ1 e Φ2 . Como consequencia, além
de uma corrente autoinduzida na espira 𝐸1 , surge uma corrente induzida 𝐼2 , na espira 𝐸2 , por surgir uma 𝑓𝑒𝑚
induzida.

𝑑Φ2
ε2 = − (7)
𝑑𝑡

⃗ é proporcional a 𝐼1 , também o fluxo que ele determina será proporcional a


Como foi referido, o valor de 𝐵
𝐼1 . Teremos, então, o fluxo Φ2 é proporcional a I1 . A constante de proporcionalidade designa-se por
indutância mútua e representa-se pela letra 𝑀.

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Φ2 = M ∙ I1 (8)

𝑑Φ2
Como ε2 = − , então, podemos escrever:
𝑑𝑡

dI1
ε2 = −M ∙ (9)
𝑑𝑡

A 𝑓𝑒𝑚 induzida ε2 , de acordo com a lei de 𝐿𝑒𝑛𝑧, tal como na auto-indução, opõe-se à sua causa. Se a espira
𝐸2 fosse percorrida por uma corrente variável, 𝐼2 , surgiria, devido à variação de 𝐼2 , uma corrente autoinduzida
em 𝐸2 e uma corrente induzida em 𝐸1 . Então, a 𝑓𝑒𝑚 em E1 é:

dI2
ε1 = −M ∙ (10)
𝑑𝑡

Enquanto, a auto indutância só depende da geometria do próprio circuito, esta constante, indutância mútua,
depende da configuração geométrica dos dois circuitos. A sua unidade no 𝑆𝐼 é o henry (𝐻), em homenagem
ao cientista Joseph Henry (1797 – 1878) que descobriu o fenômeno eletromagnético chamado indução
electromagnética ou auto-indutância e a indutância mútua. A auto indutância é dada por:

𝑀 = √𝐿1 ∙ 𝐿2 (11)

3. Material a utilizar
✓ Fonte de alimentação
✓ Solenóides: 𝐿1 = 46,5 𝑐𝑚; 𝑁1 = 300 𝑒𝑠𝑝; 𝐿2 = 22 𝑐𝑚; 𝑁2 = 310 𝑒𝑠𝑝 e 𝑑2 = 4 𝑐𝑚;
✓ Multímetro
✓ Condutores

4. Esquema Experimental e Princípio de Funcionamento


4.1. Esquema experimental.

A experiência é montada, conforme indica a figura 5:

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Figura 5: Determinação da área efectiva de um solenoide.

4.2.Princípio de Funcionamento

Para a determinação da tensão induzida, é necessário primeiro determinar o fluxo magnético na bobina de
prova, posicionada no interior do solenoide. A variação do fluxo com o tempo produz uma 𝑓𝑒𝑚 induzida que
será obtida pela lei de 𝐹𝑎𝑟𝑎𝑑𝑎𝑦, com sinal determinado pela lei de 𝐿𝑒𝑛𝑧. Para o solenoide primário, com 𝑛
espiras por unidade de comprimento, considerando este, longo e percorrido por uma corrente 𝐼, têm-se:

𝐵 = 𝜇0 𝑛𝐼 (12)

Neste caso, o campo magnético é produzido pelo solenoide maior. Sendo 𝐵constante no seu interior.
Considerando que a bobina de prova (solenoide menor) tenha 𝑁 espiras e área geométrica 𝐴, o fluxo magnético
será dado por:

Φ = N ∫ ⃗BdA
⃗ = N ∫ BdA cos(θ) (13)

Para θ = 0 teremos o fluxo máximo, que é o objectivo do nosso estudo. Considerando a corrente alternada
variável com o tempo, na forma: 𝐼 = 𝐼0 sin(2𝜋𝑓𝑡), teremos:

Φ = NA𝜇0 𝑛𝐼0 sin(2𝜋𝑓𝑡) (14)

Portanto, pela de Faraday, obtém-se:

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𝜀 = NA𝜇0 2𝜋𝑓𝑛𝐼0 cos(2𝜋𝑓𝑡) (15)

Como podemos observar da equação acima a 𝑓𝑒𝑚 é uma função cosseno. Para medir a 𝑓𝑒𝑚 Induzida com
um instrumento convencional, multímetro analógico ou digital, devemos tomar o valor máximo. Obtendo
assim:

𝜀0 = NA𝜇0 2𝜋𝑓𝑛𝐼0 (16)

Então, conhecendo 𝜀0 e 𝐼0 , obtém-se a área efectiva (NA) da bobina de prova. Sendo 𝑁2 = 310 𝑒𝑠𝑝 𝑒 𝑑2 =
4 𝑐𝑚, neste caso, o valor teórico de 𝑁2 𝐴2 é:

𝑁2 𝐴2 = 0,390 𝑚2 (17)

É esperado que se obtenha como resultado uma relação linear entre a 𝑓𝑒𝑚 induzida e a intensidade
de corrente que percorre as espiras do solenoide.

𝜀0 = 𝑎 + 𝑏𝐼0 (18)

4.3.Procedimento experimental

1. Montar o circuito de acordo com a figura 5;


2. Ligar a fonte de tensão e estabelecer aproximadamente 25 𝑉;
3. Posicionar a bobina de prova no centro do solenoide;
4. Variar o selector do reóstato, de modos a obter diferentes valores para a intensidade de corrente
eléctrica;
5. Para cada valor da intensidade de corrente, medir o valor da 𝑓𝑒𝑚 correspondente;
6. Anotar os valores medidos na tabela 12 e fazer o devido tratamento de dados;
7. No relatório, construir um gráfico em EXCEL da fem em função da intensidade da corrente.
Comparar a equação do gráfico com as equações (16) e (17) e daí determinar a área efectiva da
bobina de prova.

Tabela 1: Fem induzida em função do ângulo e da intensidade de corrente eléctrica.

𝑰 (𝑨)
𝜺 (𝑽)

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