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Transformadores

Autor: Julio Carlos Teixeira


Revisão: Álvaro Batista Dietrich

A) Princípio de funcionamento de transformadores

O objetivo desta prática é identificar os parâmetros do modelo de um transformador utilizando


dois ensaios: o ensaio em vazio e o ensaio em curto-circuito.

V1 V2

a) Em vazio b )em curto circuito


Figura 1: Esquema da montagem do trafo em vazio e em curto. O índice “1” indica o primário, e o
“2”, o secundário.

O trafo a ser utilizado possui 4 enrolamentos no primário (P1,P2,P3,P4) e 4 no secundário


(S1,S2,S3,S4). Cada enrolamento possui N espiras. A forma de conectar os enrolamentos define a
tensão e a potência do trafo . A tabela abaixo indica algumas conexões possíveis
Tabela 1: conexões e características do Trafo do laboratório
# Tipo de conexão* N1 (total em N2 (total em V1 V2 potência
série) série)
1 P1//P2//P3//P4 N N 110 110 Pnom
S1//S2//S3//S4
2 (P1+P2)//(P3+P4) 2N 2N 220 220 Pnom
(S1+S2)//(S3+S4)
3 P1+P2+P3+P4 4N 4N 440 440 Pnom
S1+S2+S3+S4
4 (P1+P2)//(P3+P4) 2N N 220 110 Pnom
S1//S2//S3//S4
5 (P1+P2) 2N N 220 110 Pnom/2
(S1//S2)
6 P1 N N 110 110 Pnom/4
S1
* P indica primário, S secundário; “+” indica ligação série, “//” indica ligação paralelo.

Justifique os valores da tensão e potência da tabela

Da lei de indução de Faraday, sabe-se que:

1
d d
e N
dt dt

Assim, se diversas bobinas estiverem submetidas ao mesmo fluxo, a tensão induzida total
será proporcional a N, número de espiras da bobina na qual se mede a tensão.

Supondo que a variação do fluxo seja senoidal

∅ = ∅𝑝𝑖𝑐𝑜 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔. 𝑡)
𝑑𝜆
𝑒= = 𝜔. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜 . 𝑐𝑜𝑠(𝜔. 𝑡)
𝑑𝑡
𝐸𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝜔. 𝑁. ∅̂.
2. 𝜋. 𝑓. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜
𝐸𝑒𝑓 = = 4,44 𝑓. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜
√2
A tensão (V) que será medida nos terminais da bobina depende da corrente que nesta
circula, pois

d
V  r.I 
dt

Tanto o primário do transformador como o seu secundário possuem resistência. Outro


fenômeno que ocorre é que nem todo o fluxo que passa no primário chega ao secundário (e vice-
versa).
Nestas condições, um modelo clássico para correlacionar tensões e correntes do primário
e secundário é baseado nas seguintes equações:

dI1 dI dI
V1  r1 .I1  Ld 1 .  Lm . 1  r1 .I1  Ld 1 . 1  E1
dt dt dt
dI
V2  r2 .I 2  Ld 2 . 2  E2
dt

V1  r1 .I1  jX d 1 .I1  E1
V2  r2 .I 2  jX d 1 .I 2  E2

N1
E2  E1
N2
Com Ld, sendo as indutâncias de dispersão, Lm a mútua entre os enrolamentos, E as f.e.m.
produzidas pelo fluxo mútuo, r as resistências dos enrolamentos. Os índices “1” e “2” representam
o primário e secundário, respectivamente.

Estas equações podem ser representadas de forma gráfica no circuito da figura 2. Na região verde
está o modelo estudado em cursos básicos de eletromagnetismo.

2
Figura 2: modelo típico de transformador

Deste circuito, pode-se calcular as correntes, potências etc., tanto no primário como no
secundário.
Para fins de modelagem de sistemas elétricos de potência em regime permanente de
trabalho, normalmente, o modelo é ainda mais simplificado: as grandezas são todas referenciadas1
a um dos lados da máquina (no caso, o transformador) e as indutâncias definem as reatâncias do
circuito na frequência de trabalho. O modelo resulta em um circuito como o da figura 3.

Fig.3. Modelo de trafo e equações para referenciar impedâncias, tensões e correntes.


X l1 R1 R2' X l' 2

I a  N1 / N 2
I1 Ic Im I 2' I2
E2' E 2'  aE2 ; I 2' 
V1 Rc Xm E2 a
R2'  a 2 R2 ; X l' 2  a 2 X l 2

Considerando o fato que o transformador é construído com material ferromagnético, não


há relação linear entre a corrente de magnetização e o seu fluxo. Desta forma, não há linearidade
entre as tensões e corrente em vazio. Se aplicarmos uma tensão senoidal no primário, a tensão do
secundário será praticamente 2senoidal, pois o fluxo será praticamente senoidal (o fluxo é a
integral da tensão E ~ V). Se o fluxo é senoidal, a densidade de fluxo “B” (fluxo por área de seção
transversal do Trafo) é também senoidal.
A partir de B, H pode ser determinado como indicado na figura 4. Lembrando que há uma
relação linear entre H e a corrente de magnetização, a curva da corrente de magnetização, quando
a tensão é senoidal, pode ser estimada graficamente.

1
O sobrescrito “linha”, R2’ e X2’ , é usado para indicar a referência ao outro lado do transformador.
2
O termo “praticamente” se aplica quando a queda de tensão nas resistências e nas indutâncias de dispersão é
desprezível. Na maior parte dos transformadores, em vazio, esta queda, geralmente, é menor que 0,1% da
tensão nominal.

3
Fig.4: curvas típicas de B e H quando o Trafo é alimentado com tensão senoidal.

Como seria a relação entre a tensão e corrente em carga constante, resistiva?

4
1. Relação de transformação e magnetização

Material utilizado:
 1 transformador (corpo de prova)
 1 osciloscópio de canais isolados, uma ponta de prova de tensão e outra de corrente
 1 variac (Para fins de segurança, ele deve ser alimentado pela rede de “127V”.)
 4 multímetros
 1 wattimetro alicate.
 1 fonte cc (para medir as resistências do trafo usando a lei de ohm).

A partir dos dados do transformador (trafo), preencha a tabela 2 a seguir.

Tabela 2: dados do transformador sob ensaio


Tensão nominal por bobina V
Potência Aparente nominal total VA
Frequência nominal Hz
Potência por par de bobinas * VA
Corrente nominal por bobina * A
Relação de espiras por par de bobinas Adimensional
N1/N2
*valor a ser calculado

Interligue apenas duas bobinas no primário (das quatro disponíveis3) e duas no secundário de
forma a obter 110 V no primário e 220 V no secundário. Considere como primário os terminais que
estão no lado próximo ao disjuntor do equipamento e, como secundário, o outro lado.

Meça o valor das resistências do primário e do secundário, usando a lei de ohm, preenchendo a
tabela 3. Mantenha sempre a corrente num valor bem menor que o nominal da bobina para evitar
aquecimento durante a medição. Neste caso, use uma corrente na ordem de 20% da nominal.

Tabela 3: tabela para determinação de R1 e R2


Grandeza Valor Unidade
ário
V1 (Vcc) V
I1 ário (Acc) A
R1 ohm
V2 ário (Vcc) V
ário
I2 (Acc) A
R2 ohm

Verifique se a relação entre R1 e R2 obedece ao previsto pelas equações de determinação de


resistências em série e em paralelo. Verifique também se é coerente com as equações da figura 3

3
A montagem fica muito confusa se forem utilizadas as quatro bobinas disponíveis de cada lado.

5
Utilize o osciloscópio de canais isolados e observe a corrente em vazio (I0) com a ponta de
prova de corrente em duas condições: tensão reduzida (0,3pu) (baixo fluxo) e tensão elevada
(1,1pu).
Anote as tensões eficazes aplicadas (V1) e as medidas (V2) e esquematize, no gráfico da terceira
coluna, a corrente observada. No gráfico, anote o valor de pico da corrente.

Gráfico 1: corrente experimental


V1 V2
Corrente de primário
(V) (V)
V~0,3 pu

V1 V2
______ ______

I0pico =
_____

V~1,1 pu

V1 V2
______ ______

I0pico =
_____

Qual a relação entre as tensões experimentais V1/V2 nos dois casos. Compare a relação entre V1 e
I0 nos dois casos: qual é maior? Justifique os resultados.
R:

6
Monte o circuito da figura 1.a e aplique tensão variável à entrada do transformador
utilizando um Variac. Preencha a tabela abaixo. Um dos pontos da tabela deve possuir um ponto
próximo da tensão nominal do transformador (Vnom=1 pu). Inicie as medições com tensões
inferiores a 20% e a aumente até cerca de 20% superiores ao valor nominal (de 0,2 a 1,2 pu).
Tabela 4: ensaio em vazio do Trafo
Número de espiras no wattímetro4 Nesp=_____
V1 (V) * V2 (V) * I1 (A) * Potência (W) V1/Vnom V2/V1
(V1pu) ~N2/N1

*meça com um multímetro o valor eficaz desta grandeza

4
O wattímetro do laboratório é feito para medir correntes elevadas. Assim, devemos usar várias espiras
(Nesp) para amplificar a potência medida de Nesp vezes.

7
Faça o gráfico de V2/V1 em função de V1pu
200

150
V2/V1

100

50

0
0 0,1 0,2
Vpu 0,3 0,4

Qual o valor mais provável para a relação V2/V1 a partir dos resultados obtidos? Justifique.

8
Trace a curva V2x I1.
Gráfico 2: curva de magnetização em vazio do Trafo.
200

150
E2 (V)

100

50

0
0 0,1 0,2 (A)
Imagnetização 0,3 0,4

Trace a curva E1 x Potência (E1=V2.N1/N2). Interpole os pontos obtidos por um modelo que
represente as perdas no Ferro por uma resistência (P=E12/Rfe). Encontre o melhor valor de Rfe que
interpole razoavelmente bem os resultados obtidos. Comente o resultado.
Gráfico 3: curva de perdas em vazio do Trafo.
200

150
Perdas no Ferro (W)

100

50

0
0 0,1 E0,2 0,3 0,4
1(V)

9
B) Determinando os parâmetros do transformador

O modelo proposto (figura abaixo) possui 6 parâmetros. Assim sendo, seriam necessárias 6
equações linearmente independentes para encontrar todos os parâmetros. Como mediremos
tensões e correntes, COM SUAS FASES, teremos, para cada equação que relaciona tensão com
corrente, a parte real e a parte imaginária. Dessa forma, só precisaríamos de 3 equações
complexas para identificar os 6 parâmetros.
Nas figuras abaixo são apresentados os modelos típicos para análise da relação entre a
corrente e a tensão do transformador. O modelo da direita é ainda mais simples que o da
esquerda. Nele se supõe que as resistências e as indutâncias de dispersão do primário são
suficientemente pequenas para não afetar o valor do fluxo mútuo.

Fig. 5 Modelos típicos de transformador

´ ´ ´ ´

a) Modelo clássico Modelo simplificado


Há várias formas de se obter o conjunto de equações necessário. Por exemplo,
experimentalmente, bastaria colocar 3 cargas diferentes e teríamos as 6 equações. Mostra-se que,
considerando os valores típicos desses parâmetros, a matriz resultante5 para solucionar o
problema ficaria mal condicionada, tornando a obtenção dos parâmetros sujeita a muitas
incertezas experimentais. Após quase uma centena de anos de desenvolvimento de métodos
experimentais, há normas técnicas aceitas internacionalmente6 que propõem os métodos de
ensaio.

Neste curso, vamos separar X1 de X2 (muitas normas não o fazem). Para tanto, optamos por
adotar algumas hipóteses construtivas: uma associada ao projeto do transformador e outra por
uma medição direta de um dos parâmetros.

a) Algumas hipóteses construtivas


a1) supondo que o fluxo disperso tanto do primário como do secundário passam por
caminhos semelhantes é possível dizer que

Xl1 ~ X’l2

5
Na verdade, conforme as escolhas, o sistema de equações seria não linear.
6
ABNT NBR NBR 5380

10
a2) Outras equações são obtidas simplesmente medindo-se a resistência do primário
em corrente contínua7.

R1 = R1medido ; R’2 = (N1/N2)2R2medido

Além destas equações teremos mais quatro, resultante de mais dois ensaios:

b) Transformador em vazio (vz)


Um ensaio em vazio, sem carga no secundário, é relativamente fácil de ser executado. Como
não há nenhuma potência transmitida, pode-se dizer que I2 é zero. Podemos dizer que o modelo
do transformador fica aproximadamente igual a

Xm = Vvz2/Qvz

Rfe ou Rc = Vvz2/Pvz

com Svz2= Pvz2 + Qvz2 e Svz= Vvz. Ivz

Para encontrar estes dois parâmetros, bastam as potências medidas: a parte reativa em
vazio (Qvz), a parte ativa (Pvz) ou a potência aparente Svz, além do fator de potência em vazio).

c) Transformador em curto-circuito (cc)


O ensaio de curto também é simples de ser realizado. Nesta situação, as correntes possuem
alto valor desmagnetizante (correntes de baixo fator de potência). Assim, o fluxo para correntes
próximas à nominal é relativamente pequeno. Por esta razão as perdas associadas ao fluxo podem
ser desprezadas. Dessa forma, uma boa aproximação para o modelo que estamos trabalhando
passa a ser o da figura a seguir.

e, portanto8, ou9
Xcc Rcc
X1+X2’=Xcc ~ Qcc / Icc2 Vcc/Icc = Zcc

R1+R2’=Rcc ~ Pcc2/ Icc2 Zcc= Rcc + jXcc

com Scc2= Pcc2 + Qcc2 e Xcc2 =Zcc2- Rcc2

Scc= Vcc. Icc

7
Esta equação supõe, de forma simplificada, que esta resistência normalmente é pouco dependente da
frequência de excitação e que os fluxos dispersos no estator produzem pouca variação das perdas associadas
ao parâmetro (veja a discussão de perdas suplementares, por exemplo, no capítulo de máquinas síncronas no
livro texto)
8
Observe que temos uma equação a mais. Já temos R1 e R2! Poderíamos usá-la para verificação.
9
Vamos usar estas equações pois o wattímetro do laboratório não mede bem PCC quando alimentado com as
reduzidas tensões deste ensaio. Assim precisamos usar as resistências medidas e a relação de transformação.

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Determinação dos parâmetros para as condições nominais

1.1. Ensaio em vazio

Recupere (ou calcule) as informações para a tensão nominal do ensaio já realizado (tabelas 3 e 4)
Vvz (~a tensão nominal) V
Ivz A
Pvz W
Qvz Var
N1/N2
R1medido 
R2medido 

Calcule as reatâncias e resistências equivalentes (Xm e Rfe) a partir das potências medidas.
Aproveite e calcule Rcc.

12
1.1. Ensaio em curto-circuito

Mantenha a montagem como no item anterior (110V/220V). Ponha o secundário em curto.


Todo o ensaio deverá ser realizado para tensões muito baixas (menores que 5 Vac). REGULE A
TENSÃO COM MUITO CUIDADO!
Aplique tensão variável (reduzida! Inicie-a em zero e aumente-a lentamente) à entrada do
transformador e preencha a tabela abaixo. Um dos pontos da tabela deve possuir um ponto
próximo da corrente nominal do transformador (Inom). Inicie as medições com correntes inferiores
a 20% e a suba até cerca de 130% de Inom (1,3 pu).
V1* I1* I2* I1/Inom (Ipu) I2/I1~N1/N2

*meça com um multímetro os valores eficazes das grandezas

Faça o gráfico de I1/I2 em função de I1pu


200

150
I1/I2

100

50

0
0 0,1 0,2
Ipu 0,3 0,4

13
Comente: qual a relação N1/N2 é mais provável (já medimos V1/V2 e I2/I1)?

Calcule os parâmetros e desenhe o circuito equivalente do transformador, com seus valores.

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