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Materiais e Processos de
Fabrico
2 semestre 2020/2021
02/05/2021
1. Introdução
Este trabalho teve como objetivo estudar um transformador monofásico. Realizou-se diversos
ensaios em vazio e em curto-circuito, com o objetivo de se estudar a variação das tensões,
correntes e potências. Em seguida determinou-se os parâmetros do esquema equivalente do
transformador (modelo de Steinmetz) e realizou-se um ensaio em carga e por último determinou-
se o seu respetivo rendimento.
Os transformadores reais não são ideais, isto é, há perdas nos enrolamentos e no núcleo e existem
também fluxos de dispersão nos enrolamentos. Os transformadores podem ser representados por
um esquema equivalente, dado pelo modelo de Steinmetz:
Estando o circuito secundário aberto a corrente no mesmo será nula, pelo que também não há
corrente no circuito primário a atravessar Rcc e Xcc. Deste modo a tensão na resistência 𝑅0 e na
indutância 𝑋0 é igual à tensão nominal. Sabendo a potência ativa 𝑃 e a potência reativa 𝑄
consumida no sistema é possível obter os seus valores:
𝑈𝑛2 𝑈𝑛2
𝑃= 𝑅0
↔ 𝑅0 = 𝑃
(6)
𝑈𝑛2 𝑈𝑛2
𝑄= 𝑋0
↔ 𝑋0 = 𝑄
(7)
A potência reativa obtêm-se calculando o módulo da potência aparente S e através da sua relação
com a potência ativa:
𝑆 = 𝑈1 𝑖1 (8)
𝑄 = √𝑆 2 − 𝑃2 (9)
No ensaio em curto circuito aplicou-se a tensão nominal ao circuito primário e tem-se o circuito
secundário em curto circuito:
Neste caso existe corrente em ambos os circuitos. Como os valores de 𝑋0 e 𝑅0 são muito
superiores aos restantes, a maior parte da corrente irá atravessar a resistência equivalente 𝑅𝑐𝑐 e
a indutância equivalente 𝑋𝑐𝑐. Sabendo a corrente nominal do primário 𝑖𝑛1 e as potências ativa 𝑃
e reativa 𝑄 obtêm-se então o valor de 𝑋𝑐𝑐 e 𝑅𝑐𝑐:
𝑖𝑛2
𝑖𝑛1 = 𝑛
(10)
𝑃
𝑃 = 𝑅𝑐𝑐𝑖𝑛1 2 ↔ 𝑅𝑐𝑐 = (11)
𝑖𝑛1 2
𝑄
𝑄 = 𝑋𝑐𝑐𝑖𝑛1 2 ↔ 𝑋𝑐𝑐 = (12)
𝑖𝑛1 2
Em seguida ligou-se uma carga variável R ao circuito secundário. Passando a carga R para o circuito
primário tem-se R’=n^2R.
ptot
η = 1 − 𝑝𝑡𝑜𝑡+𝑃𝑠𝑎𝑖𝑑𝑎 (13)
2. Material
• Transformador monofásico;
• Wattímetro;
• 4 Multímetros;
• Carga R variável.
Propriedades do transformador:
Rp=3Ω
Rs=2Ω
4- Ensaio em Vazio
4.1- Esquema de Ligações
4.2 Procedimento
U10 [V] I10 [A] P10 [W] Q10 [Var] U20 [V] U10 / U20
20.9 0.02 0.25 0.7 10.98 1.903
41 0.03 0.9 1.8 21.4 1.916
61 0.04 1.6 3.2 31.8 1.918
80.7 0.05 2.6 5 42.1 1.917
99.7 0.06 3.6 7 52.1 1.914
120.1 0.08 5 10 62.8 1.912
140.9 0.09 7 14 73.7 1.912
159.9 0.11 8 19 83.7 1.910
180 0.12 10 26 94.2 1.911
200 0.15 12 32 105.2 1.901
220 0.17 14 42 115.9 1.898
230 0.19 16 47 121.1 1.899
240 0.21 17 53 126.4 1.899
Esboços dos gráficos:
𝑼2𝟎=f(𝑼𝟏𝟎)
140
120 y = 0,5274x - 0,3737
100
U2𝟎 [V]
80
60
40
20
0
0 50 100 150 200 250 300
U𝟏𝟎 [V]
𝑷𝟏𝟎=f(U𝟏𝟎)
18
16 y = 0,0002x2 + 0,0139x - 0,0949
14
12
𝑷𝟏𝟎 [W]
10
8
6
4
2
0
0 50 100 150 200 250 300
U10 [V]
40
Q10 [VAr]
30
20
10
0
0 50 100 150 200 250 300
U10 [V]
5. Ensaio em Curto-Circuito
5.1- Esquema de ligação
5.2- Procedimento
U1cc [V] I1cc [A] P1cc [W] Q1cc [VAR] I2cc [V] I2cc/I1cc
0.7 0.06 0.05 0.01 0.12 2.000
1.57 0.15 0.3 0.1 0.3 2.000
2.45 0.25 0.7 0.2 0.51 2.040
3.18 0.33 1.2 0.2 0.64 1.939
4.2 0.42 2 0.3 0.85 2.024
5.18 0.53 2.8 0.4 1.01 1.906
5.78 0.59 3.5 0.5 1.14 1.932
6.95 0.71 5 0.7 1.36 1.915
Esboços dos gráficos:
I2cc =f(I1cc)
1,6
1,4 y = 1,8988x + 0,0197
1,2
1
I2cc [V]
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
I1cc [A]
P1cc =f(I1cc)
6
4
P1cc [W]
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
I1cc [A]
a)
Pelo ensaio em vazio e através das equações (6) a (9) obteve-se R0=3306,250Ω e X0=1300,71Ω,
ambos referidos ao circuito primário. Sabendo que, ao transportar estes elementos para o circuito
secundário o seu valor tem de ser dividido por n2, obtém-se R’’0= 826.5625Ω e X’’0= 325,178Ω.
Tabela 3: Ensaio em curto-circuito nas condições nominais
Pelo ensaio em curto circuito e através das equações (8) a (12) obteve-se os valores de Rcc e Xcc,
referidos ao primário, de 9.9187Ω e 1.1389Ω, respetivamente. Dividindo os seus valores por n2
obtém-se os seus valores referidos ao circuito secundário, tendo-se R’’cc=2.48Ω e X’’cc=0.285Ω.
Ensaio em vazio:
Tendo em conta o gráfico abaixo, a função U20 =f(U10 ) é definida linearmente, sendo que o declive
de aproximadamente 0.5 se apresenta tanto no modelo teórico como no modelo experimental, tal
como podemos observar em baixo:
Gráfico 7: Tensão no secundário em função da tensão no primário, valores teóricos a laranja e valores
experimentais a azul.
´
No ensaio em vazio, a tensão aplicada no primário é igual a tensão no enrolamento primário, pois
não existe corrente a passar por Rcc e Xcc, pelo que não há queda de tensão nestes elementos. O
1 1
declive esperado para o modelo teórico é 𝑛 = 1.907 = 0.524, pois para um transformador têm-se
𝑈1 𝑈1
a seguinte relação entre a tensão no primário e a tensão no secundário: = 𝑛 ⇔ 𝑈2 = .
𝑈2 𝑛
O fato de a equação obtida através das medidas realizadas ter uma ordenada na origem deve-se a
pequenas imperfeições nos equipamentos, como os multímetros utilizados devido à sua escala
(que para tensões altas não apresentam as casas decimais, pelo que se tê apenas uma tensão
aproximada), ou também estes podem estar mal calibrados.
O gráfico que se segue, de P𝟏𝟎=f(U𝟏𝟎), é do tipo 𝑦 = 𝑎𝑥2 + 𝑏𝑥, sendo neste caso o coeficiente b
causado pelas mesmas incertezas citadas anteriormente, quanto ao gráfico linear. Neste gráfico,
2 1 1 1
conforme a equação (6), temos como modelo teórico que 𝑃10 = 𝑅 𝑈10 , onde 𝑅0
= 3306,250 ≅
0
0.0003, bastante próximo da curva obtida experimentalmente.
Gráfico 8: Potência ativa no primário em função da tensão no mesmo. Valores teóricos a laranja e valores
experimentais a azul.
O gráfico de Q10=f(U10) é novamente do tipo 𝑦 = 𝑎𝑥2 + 𝑏𝑥, sendo que o coeficiente b retrata,
conforme anteriormente, a incerteza experimental. Neste gráfico, temos como modelo teórico
1 2 1
𝑄10 = 𝑥 𝑈10 , onde 𝑥0
≅ 0.0008, gerando uma curva próxima da obtida experimentalmente, tal
0
como podemos observar no gráfico 3:
Gráfico 9: Potência reativa no primário em função da tensão no mesmo. Valores teóricos a laranja e valores
experimentais a azul.
Ensaio em Curto-Circuito:
Tendo em conta a corrente I2cc em função de I1cc, temos como modelo teórico I2cc= n I1cc ↔ I2cc = 2
I1cc, devido às relações de corrente num transformador, portanto é espectável que os dois gráficos
fossem retas nas quais para cada valor da corrente no secundário corresponde aproximadamente
o número de espiras multiplicado da corrente no primário, e isso justifica o declive de
aproximadamente 2 nos resultados obtidos, tal como podemos observar abaixo:
Gráfico 10: Corrente no secundário em função da corrente no primário. Valores teóricos a laranja e valores
experimentais a azul.
O gráfico P1cc=f(I1cc) é do tipo 𝑦 = 𝑎𝑥2 + 𝑏𝑥 para os valores medidos. No caso do modelo teórico,
2
P1cc = 𝑅𝑐𝑐𝐼1𝑐𝑐 , onde 𝑅𝑐𝑐 = 9.9187 Ω. O facto de isto não se verificar para os valores medidos deve-
se, além das incertezas, ao facto de que na realidade existe uma pequena corrente a passar por R0,
⋃1 2
havendo também aqui potência ativa, igual a 𝑅0
.
No caso da potência reativa Q1cc em função da corrente I1cc, temos como modelo teórico 𝑄1𝑐𝑐 =
2
𝑋𝑐𝑐 𝐼𝑐𝑐 , onde 𝑋𝑐𝑐 = 1,1389 . A função obtida através das medições, é também do tipo 𝑦 = 𝑎𝑥2 +
𝑈2
𝑏𝑥, pois, além das incertezas, na realidade também há perdas na indutância X0, igual a 𝑋1 .
0
Gráfico 12: Potência aparente no primário em função da corrente no mesmo. Valores teóricos a laranja e
valores experimentais a azul.
7. Ensaio em carga
Esquema de Ligações:
Tendo em conta a condição de carga nominal com I2=1.36A, U2=117.7V e U1=230V; o sistema
equivalente; os valores de n, Rcc, Xcc, R0 e X0 determinados anteriormente e as equações abaixo,
obtêm-se os seguintes valores teóricos na tabela 4:
𝑈2 1 1 1 𝑈1
𝑅= 𝐼2
𝑍̅𝑒𝑞 = (𝑅0 + 𝑗𝑋0 + 𝑅𝑐𝑐+𝑗𝑋𝑐𝑐+𝑛2 𝑅)−1 𝐼̅1 = 𝑍̅𝑒𝑞 (17)
̅̅̅
𝑆1 = 𝑈1𝐼 ̅ ∗1 𝑃1 = 𝑅𝑒(𝑆̅1 ) 𝑄1 = 𝐼𝑚(𝑆̅1 )
Esboços dos gráficos teóricos e conclusões:
Gráfico 13: Corrente no secundário em função da corrente no primário. A reta representa os valores
teóricos e os pontos os valores experimentais obtidos.
Neste gráfico verifica-se que I1 e I2 são diretamente proporcionais, o que é explicado através da
relação linear entre as correntes no circuito primário e no circuito secundário dum transformador.
Pois quanto maior for a corrente I1 na entrada do circuito primário, maior será I’2 e consequente-
mente I2. O declive da função obtida através dos valores medidos é ligeiramente superior ao de-
clive teórico, o que se pode dever a incerteza e calibração dos instrumentos utilizados. A ordenada
na origem deve-se ao fato de que mesmo que a corrente I2 seja nula, continuará a haver corrente
a passar por R0, X0, pelo que I1= I0.
Também foi obtida uma relação polinomial quadrática entre a potência ativa, a potência reativa e
a corrente I1 no primário. Neste caso, temos que os valores da corrente variam para cada valor da
carga R variável. Tendo em conta o conjunto de equações 17, é possível calcular a potência apa-
rente total ̅̅̅
𝑆1,recorrendo à indutância equivalente 𝑍̅𝑒𝑞 de todos os componentes, e as potências
ativa 𝑃1 e reativa 𝑄1 em função de I1.
Podemos verificar que a potência reativa, 𝑄1, se mantém relativamente constante com o au-
mento da corrente, pois o valor da bobine também se mantém constante durante toda a ativi-
dade experimental.
Em relação a este gráfico, observamos que à medida que o valor da carga diminui, este provoca
um aumento de ambas as correntes de uma forma linear de acordo com a seguinte expres-
são: 𝑈 = 𝑅𝐼.
𝑛 = 2 = 𝐼2/𝐼1 ⇔ 𝐼2 = 2𝐼1
Gráfico 17: Variação da tensão do secundário em função da corrente no primário.
Tanto no modelo como nas medições observa-se que a queda de tensão no secundário diminui para maiores
valores da corrente no início do circuito primário, ou seja, à medida que aumentamos a corrente I1 a tensão
no secundário aproxima-se da nominal. Pois para maiores valores de I1 maior é a queda de tensão em R cc e
Xcc e consequentemente menor será diferença de potencial no enrolamento do primário. Como a tensão nos
dois enrolamentos estão relacionados pelo fator n, têm-se que a tensão no enrolamento secundário também
diminui.
Por fim, o rendimento deste transformador para cada valor de carga pode ser calculado pelo método das
perdas separadas, conforme equações (11) a (14).
Rendimento:
Analisando o gráfico acima podemos concluir que o rendimento do transformador aumenta para
maiores valores da corrente I2, tendendo a aproximar-se dum valor constante inferior a 1. Isto
porque para maiores valores da corrente I2 obtêm-se uma maior potência de saída, apesar de
U2 diminuir, e uma maior potência total consumida, pois a perdas aumentam com o quadrado
da corrente. No entanto, perto da potência total, como a perda no ferro é praticamente
constante devido a corrente I0, e a perda no cobre é relativamente pequena devido ao baixo
valor de resistência Rcc, estas perdas não aumentam tão significativamente como a potência de
saída. Por outro lado, a corrente I2 depende do valor da carga, sendo tanto maior quanto menor
for a carga. Deste modo o rendimento é inversamente proporcional à carga.
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