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Apontamentos de Psicologia da Cognição e Emoção

História do estudo da origem da espécie humana

Darwin (1859): Faz uma referência à origem das espécies, dizendo que os
humanos descendem de uma espécie de quadrúpedes (1871).
Huxley: Diz que temos mais semelhanças com os símios do que com os
macacos, atualmente, sabe-se que 99% dos nossos genes são semelhantes
aos dos chimpanzés
1. Estas duas ideias foram rejeitadas.
2. Foram aceites quando se considerou que o homem representava o
topo da escala evolutiva (descendente de macacos)
3. Atualmente rejeitadas novamente.

Origens humanas – 4 a 5 milhões de anos

Homo Erectus: Descobriu o fogo, existiram 1.8 milhões de anos a 50.000


Homem de Neanderthal: Já sepultavam os mortos, tinham um cérebro tão
grande quanto o nosso, mas um aparatus vocal rudimentar, tinham uma
cultura musteriense (estética e espiritualidade), existiram 300 a 30 mil anos
Homo Sapiens Sapiens (Sábio): Tinha um raciocínio abstrato e linguagem,
existiram há 100 mil anos e na Europa há 40 mil, já faziam pinturas nas
cavernas e construíam instrumentos de osso e pedra. Dividiram-se em dois
grupos, um em África e outro migrou. Migração como característica comum
e histórica do Homo Sapiens.
Agricultura e pecuária desde 7000 A.C (médio oriente)
Escrita ideográfica – 3000 A.C

“O tamanho do cérebro não é sinónimo de inteligência” – As redes neurais são


cada vez mais complexas, devido à estimulação dos bebés que começamos a fazer
muito cedo, o que faz com que eles tenham um maior número de aprendizagens, o
que não significa que o cérebro esteja sempre a crescer, porque isso não seria
viável.
Conceitos do universo dos afetos

Emoções: Manifestações afetivas com o mais alto nível de intensidade e caracteriza-


se por mudanças psicológicas, manifestações expressivas faciais, experiência
subjetiva típica, disposição para a ação numa determinada direção (aproximação,

ataque, fuga, rejeição, etc.). > são respostas fisiológicas, expressivas, subjetivas e
comportamentais. Tem 4 componentes:

1. Reações cognitivas – perceção, pensamento e memória estão envolvidos


na expressão emocional;
2. Reações afetivas – todas as emoções envolvem um estado positivo ou
um estado negativo.
3. Reações fisiológicas – associadas à libertação de hormonas: aumento do
ritmo cardíaco, da pressão arterial, alteração do metabolismo e dos
neurotransmissores cerebrais;
4. Respostas comportamentais – motivação para expressar os sentimentos
(comportamentos explícitos)

Porque é que as emoções se desenvolvem e como?

São modos especializados de operar moldados pela seleção natural para


ajustar os parâmetros fisiológicos, psicológicos e comportamentais do
organismo de modo a aumentar a sua capacidade e tendência para
responder adaptativamente a ameaças e a oportunidades.
1. Expressamos e reconhecemos diferentes tipos de emoções;
2. Algumas sobrepõem-se;
3. As diferenças entre emoções são mais uma questão de grau ou de
intensidade do que de tipo;
4. Algumas emoções parecem ser a combinação de outras (por exemplo:
desapontamento = tristeza + surpresa)

Processos cognitivos > Resolução de Problemas


As emoções são forças motrizes que nos levam a fazer uso das nossas
capacidades cognitivas – Motivação

Quais são as funções das emoções?

1. Adaptação e sobrevivência – O medo e o nojo alertam-nos para o perigo


e para o risco de contaminação;
2. Regulação – As emoções afetam a forma como percecionamos e
recordamos o mundo;
3. Comunicação – Transmitimos aos outros os nossos sentimentos/emoções
e as nossas necessidades.

Para António Damásio

Mente e cérebro interagem, não são entidades separadas (Erro de


Descartes)
Evidências de que a regulação homeostática envolve a interação
mente/corpo: A tristeza e a ansiedade alteram a regulação das hormonas
sexuais – mudanças no ciclo menstrual e no desejo sexual
Estruturas do cérebro mais antigas do ponto de vista evolutivo (tronco
cerebral, hipotálamo, amígdala e cíngulo) participam também na
homeostasia dos sistemas do corpo
O sistema nervoso está programado para responder a
aspetos/características do ambiente com valor significativo para a
sobrevivência do indivíduo
Nascemos dotados de mecanismos de regulação do organismo, de
dispositivos básicos para conhecer características dos estímulos do meio e
do ambiente social
Ao longo do desenvolvimento adquirem-se níveis adicionais de estratégias
para a sobrevivência: moldam o comportamento adaptando-o a um meio em
constante e complexa mudança
As características dos estímulos ambientais são recebidas pela amígdala
determinando uma resposta emocional que altera o processamento
cognitivo
Sensação da emoção em relação ao objeto que a desencadeou – perceção da
relação entre objeto e estado emocional: Estratégia de proteção alargada,
Aprendizagem, Previsão e Antecipação

A experiência emocional é um fenómeno multi-causal cuja compreensão exige a


consideração:

1. Acontecimentos ambientais
2. Avaliação cognitiva
3. Mecanismos cerebrais
4. Tomada de decisão
5. Possibilidades de Resposta/Comportamento
6. Avaliação das consequências dos comportamentos
As experiências emocionais conscientes são uma resposta cortical a uma
ativação sub-cortical
Os sentimentos são “tão cognitivos” como qualquer outra
imagem/ideia/representação e dependem do funcionamento cortical
Emoções primárias: Inatas, relacionados com o comportamento adaptativo. Rede
de circuitos do sistema límbico, em particular amígdala e cíngulo.

Emoções secundárias: Aprendidas no contacto com os outros e com a experiência.


Rede de circuitos do sistema límbico, em particular a amígdala, córtices pré-frontais:

1. Formam-se imagens (mentais) conscientes e organizadas num processo de


pensamento em relação a uma pessoa ou situação > O substrato neural
correspondente é um conjunto de representações que ocorrem em diversos
córtices sensoriais e de associação.
2. Redes do córtex pré-frontal reagem automática e involuntariamente a um
nível não inconsciente > Representações disposicionais (emparelhamento
entre a informação acerca das situações/experiências e as respostas
individuais); Disposições adquiridas não inatas
3. Resposta das disposições pré-frontais é comunicada à amígdala e ao cíngulo
anterior > Ativação do SNA; Envio de sinais ao corpo pelos nervos periféricos;
Envio de sinais ao sistema motor (Expressões faciais e expressão corporal;
ativação do Sistema Endócrino; Ativação dos núcleos neurotransmissores
que resultam em alterações mentais.

Emoções positivas: Alegria, felicidade, contentamento, calma e excitação

Emoções negativas: Tristeza, medo, raiva, ódio, desdém, frustração, angústia, culpa

Manifestações emocionais de longa duração

Estado de humor – Afeto positivo ou negativo


Temperamento – Características afetivas estáveis ao longa existência:
1. Neuroticismo: Afetos negativos como a ansiedade, a tristeza, a
insatisfação, ressentimento e pessimismo
2. Extroversão: Afetos positivos como o entusiasmo, alegria e
otimismo

Ambas existem na pessoa, mas escolhemos mais uma e rejeitamos mais a outra –
Fenómeno das preferências

Perspetiva neurobiológica das emoções – Ainda na perspetiva de António Damásio


Emoção – Conjunto de respostas psicofisiológicas dadas a determinados estímulos
ativadas sem deliberação consciente.

Sentimentos – Estado subjetivo que emerge das emoções face a determinado


objeto após a emoção ter passado por um processo cognitivo consciente.

Contextualização histórica – Descartes (1596-1650)

Questão da separação mente-corpo: Dualismo Cartesiano


A mente exerce apenas a função do pensamento , todos os demais processos
são as funções do corpo
Sentimentos como funções passivas (admiração, amor, ódio, desejo, alegria
e tristeza)

Contextualização histórica – Espinoza (1632 – 1677)

Monista – existe apenas o corpo e a sua ação;


Sentimentos como modificadores do estado do sujeito;
Sentimentos básicos: Alegria, tristeza e desejo

Contextualização histórica – Darwin (1809 – 1882)

Universalidade das expressões faciais;


Emoções como prazer, afeto, júbilo (alegria), dor, cólera, espanto –
Expressadas de forma semelhante entre animais e humanos.

Contextualização histórica – W. James (1842 – 1910)

Experiência emocional constante;


Reações a emoções provocam sentimentos;
Emoções são sentidas de forma diferente.

Evolução biológica das emoções

Turner (2003) diz-nos que as capacidades emocionais dos seres humanos


ocorreram devido a transformações no cérebro;
No decorrer da evolução natural, as respostas comportamentais adaptativas
foram moldadas por seleção de comportamentos e por processos
emocionais;
A seleção, para além de ter produzido um animal capaz de utilizar as
emoções para comunicar significado e as controlar, fez também com que
conseguissem gerar um amplo e diversificado leque de estados emocionais;
Darwin – As expressões das emoções são fundamentais nos animais
(homem) pois vão provocar atração, interações, mantendo-os unidos, o que
é necessário para uma reprodução bem sucedida.
Algumas das emoções vêm da predisposição genética, embora a sua
expressão seja socialmente aprendida.
Diferentes estímulos > Diferentes emoções; um mesmo estímulo > pode
gerar diferentes reações

A expressão é gerada pela emoção? vs. A emoção é gerada pela expressão?

A grande maioria das emoções acaba por gerar expressões, como quando
sentimentos vergonha e a nossa cara mostra esta mesma vergonha. Contudo, se eu
não estiver mesmo envergonhada, a minha expressão também espelha isso mesmo,
que é o que acontece com alguns atores, querem mostrar determinada emoção,
mas por vezes não conseguem transmitir-nos isso, a não ser que eles estejam
mesmo a sentir esta emoção.

Processo de formação de uma emoção

Emissão de um estímulo > Captação pelos nossos sentidos > Através dos neurónios
sensoriais é levado até ao SNC > impulsos elétricos são transformados em respostas

Estas respostas vão agir sobre:

1. Sistema nervoso autónomo;


2. Sistema motor (expressões faciais);
3. Sistema endócrino;
4. Regiões do telencéfalo.

Assim, a formação de uma emoção


Quais são os componentes de uma emoção?

Causas (Eventos) – Uma causa é um acontecimento que está associado ao


início da emoção e que mantém o processo emocional em andamento.
1. As emoções estão relacionadas com os eventos que acontecem aos quais
chamamos objetos / causas.
2. É necessário haver um envolvimento, uma afiliação (ou mesmo diferença de
estatuto) nas relações sujeitas a processos emocionais.

Exemplo: “Estou zangada porque me ignoraste quando cheguei à tua festa. Mas
fiquei ainda mais zangada porque as pessoas notaram, pela história da nossa
relação eu não merecia isso, etc.

Avaliação (Appraisal) – As emoções implicam ter uma perspetiva sobre os


eventos – gostar ou não gostar, tomar algo como crítica ou elogio (Positiva
ou negativa)
Mudanças fisiológicas – Quando estamos emocionados o nosso corpo reage
de alguma forma: suores frios ou “calores”, taquicardia, etc.
Tendências de ação – De acordo com as sensações corporais, sentimos
muitas vezes impulsos para agir de certa forma quando estamos
emocionados.
Expressão ou exibição – Podemos sorrir, franzir as sobrancelhas, baixar a
cabeça, abrir os braços, etc.; Podemos fazer movimentos faciais e corporais
que expressem aos outros aquilo que estamos a sentir. > O contexto social é
muito importante para a compreensão das expressões emocionais.
Regulação – Muitas vezes procuramos fazer alguma coisa para modificar e
regular os diferentes aspetos dos episódios emocionais; modificar as nossas
reações corporais, expressões, as nossas avaliações, os eventos, etc.; >
Regular os nossos processos emocionais.

Fizeram uma entrevista, agora estão à espera ansiosamente, eternamente…um


toque de telefone quebra o silêncio, o vosso coração bate mais rápido e vocês
agarram o telefone. “Tenho o prazer de lhe comunicar...”, começa a voz do outro
lado “que o emprego a que se candidatou é seu”. Uma onda de energia trespassa o
vosso corpo, um sorriso invade a vossa face – Era este o vosso sonho há tanto
tempo! Como interpretam esta noticia, o que significa para vocês , as vossas
respostas corporais/fisiológicas, a vossa expressão facial, como se preparam para
reagir, como se sentem.

Todos estes elementos em cascata, cada um influenciando o outro, é aquilo


que forma uma emoção;
A nossa linguagem quotidiana – fiquei satisfeito – refere-se só à forma como
sentimos a emoção influencia o nosso estado afetivo;
Mas emoção não é um estado ou um sentimento, é mais a manifestação dos
processos de interpretação interligados, reações corporais e expressão;
Uma emoção não é instantânea, mas também não é um estado prolongado
como o humor, é mais um episódio breve de mudanças sincronizadas na
mente e no corpo.

Assim:

1. Causa: Ter conseguido o emprego; Intensificação: Ser o emprego de sonho;


2. Avaliação: Positiva;
3. Mudanças fisiológicas: Taquicardia, rubor;
4. Tendências de ação: Gritar, pular
5. Expressão: Sorriso
6. Regulação: Controlar-se até desligar o telefone e depois uma explosão de
alegria

Definição de Emoção – Scherer (2005): Um episódio de modificações inter-


relacionadas e sincronizadas nos estados de todos ou na maior parte dos cinco
subsistemas do organismo, em resposta à avaliação de um evento (estímulo
externo e interno), como relevante para os interesses do organismo.

Componentes

1. Componente cognitiva (Avaliação)


2. Componente neurofisiológica (sintomas corporais)
3. Componente motivacional (tendência de ação)
4. Componente de Expressão motora (expressão facial e vocal)
5. Componente sentimento subjetivo (experiência emocional)

O que distingue as emoções de outros estados?

1. Foco no evento – As emoções são geralmente desencadeadas por eventos


estímulos, externos ou internos.
2. Dirigidas pela avaliação – O acontecimento desencadeador e as suas
consequências têm que ser relevantes para os grandes interesses do
organismo. As emoções são assim detetoras de relevância.

O foco no evento e a avaliação estão interligados, destacando a função adaptativa


das emoções, ajudando a preparar reações comportamentais apropriadas aos
eventos.

3. Sincronização da resposta – De acordo com a importância do evento, todos


ou quase todos dos subsistemas do organismo devem contribuir para a
preparação da resposta. A resultante massiva mobilização de recursos deve
ser coordenada, um processo que pode ser descrito como sincronização da
resposta.
4. Rapidez das modificações – Os eventos e a avaliação mudam rapidamente,
muitas vezes por novas informações ou reavaliações, mudando também a
resposta emocional.
5. Impacto comportamental – As emoções preparam tendências de ação
adaptativas com as suas motivações subjacentes. Têm assim um forte efeito
no comportamento, consequência da emoção, muitas vezes interrompendo
o comportamento atual e gerando novas ações. Assim, o componente
expressivo motor tem um forte impacto na comunicação e na interação
social.
6. Intensidade – Dada a importância das emoções para a adaptação
comportamental, podemos assumir que a intensidade dos padrões de
resposta e a correspondente experiência emocional é relativamente alta
(distingue emoções/humor).
7. Duração – Inversamente à mobilização massiva das respostas e
sincronização dos subsistemas, a duração é relativamente curta para não
sobrecarregar os recursos do organismo e permitir a flexibilidade
comportamental. Em contraste, um humor de baixa-intensidade pode ser
mantido durante períodos mais longo de tempo sem efeitos adversos.

Emoções e outros estados – O que é que distingue uma emoção de outros estados
mentais e corporais que experimentamos?

A emoção é um episódio breve que rapidamente sincroniza as nossas


mudanças mentais para que possamos reagir da melhor forma à situação
diante de nós, ao mesmo tempo que informa os outros das nossas
intenções;
Contrasta com o nosso humor – um prolongado estado mental cuja causa
pode ter ocorrido há horas, dias ou até há semanas atrás – estados afetivos
mais prolongados.
Contrasta com a personalidade - um conjunto de traços duradouros que
predizem a nossa tendência para nos comportarmos de uma determinada
forma.
Na fadiga, que descreve os nossos níveis de energia, mentais e físicos, a
nossa vontade e capacidade para agir.
Emoções, humor e fadiga têm todos um estado de afeto que as carateriza.

Contudo, é a breve duração de uma emoção, a sua sincronização, o papel da


interpretação, e as funções que serve que, em conjunto, distinguem uma emoção
de outros estados de afeto.

Core affect (estados de afeto nucleares)


Estes estados enquadram-se num espaço bidimensional cujos eixos são
agradabilidade e ativação que fazem parte das emoções, do humor, do
ânimo, da disposição.
Afeto é um termo mais geral.
Estímulos externos (ambientes agradáveis, acontecimentos negativos)
Estímulos fisiológicos (ingestão de cafeína, calmantes)

Estas mudanças são subjetivamente percebidas – qualidade afetiva do estímulo


(sentir-se mal, bem, enérgico, relaxado, etc.).

O saber emocional

Interação social e saber emocional

1. As emoções emergem muitas vezes no seio de situações sociais;


2. As manifestações faciais, vocais ou outras podem ter um caracter público
afirmado (choro e sorriso do bebé) que suscitam respostas definidas pelo
meio social;
3. As crianças aprendem uma emoção a partir de uma emoção observada
noutro (aprende a modular, a transformar ou inibir as suas próprias
respostas emocionais).

Cultura e saber emocional


1. A cultura preocupa-se em constituir regras, ordens e quadros que modulem
as manifestações das emoções definindo os limites que não permitem
colocar em perigo a vida comum.

Comunicação social e saber emocional

1. Os indivíduos comunicam e partilham as suas experiências emocionais;


2. Constata-se que, em geral, os fenómenos emocionais não são guardados em
segredo, mas sim as circunstâncias particulares que o caracterizam
(atribuição da causa a si próprio, sentimentos de vergonha, de culpa).
3. Constata-se igualmente (processo de partilha secundário) que as pessoas
partilham “largamente” as experiências emocionais de outros que confiaram
nelas. Este fenómeno ocorre porque a experiência emocional do outro
suscita um estado emocional no sujeito que é ouvinte.

Organização do saber emocional

1. Experiências realizadas mostram que as experiências emocionais particulares


se aproximam mais ou menos de protótipos emocionais.
2. A compreensão da vida emocional de cada individuo deve apelar à parte
idiossincrática do seu saber emocional, parte que deriva do conjunto da sua
experiência emocional pessoal e passada.

Impacto dos afetos sobre os processos cognitivos

Afeto e tratamento da informação:

1. Estado de humor positivo – muda a forma como o sujeito trata a informação


– acelera as performances cognitivas e aumenta o grau de impulsividade o
que provoca mais rapidez nas decisões e maior eficácia na realização das
tarefas.
2. Estado de humor negativo – abordagem analítica, sistemática e esforço (o
sujeito tenta pôr-lhe fim o mais depressa possível).

Afeto e atenção: Os processos atencionais sofrem um forte impacto provocados


pela emoção dado que tudo se focaliza sobre o objeto da emoção (ruminação
mental)
Afeto e memória:

1. Efeitos de congruência – cada estado emocional constitui um laço específico


num quadro mnésico e quando uma emoção se produz os elementos da
situação na qual se produz entram em associação.
2. Efeitos de memória flash – perante uma emoção forte os detalhes subsistem
durante muito tempo pois a própria emoção foi aprendida numa situação de
forte impacto emocional (assassinato do presidente Kennedy).
3. Efeitos de centalidade – em casos de forte emoção as pessoas podem
lembrar-se com grande acuidade do que viram, no entanto, a memória
funcionará sempre melhor em situações neutras.

Afeto e relações interpessoais: O humor positivo conduz a um maior otimismo e


sociabilidade:

1. Maior iniciativa de interação social;


2. Experimentação de sentimentos mais positivos em relação aos outros;
3. Menos agressividade;
4. Maior cooperação;
5. Mais capazes de fazer confidências.

Os sentimentos

Aristóteles: Considerou as emoções como manifestações da alma, constituindo a


sua fração não racional, dado ser um produto de manifestação psicofísica que
interfere nos juízos dos indivíduos, sendo vista como uma faceta importante da
existência relacionada com os estados de dor e prazer.

Descartes: Apresentava uma clara dicotomia entre mente e emoção. Concebia a


mente, o cérebro e o corpo como entidades separadas, pelo que a alma (razão
pura) seria independente do corpo e das emoções.

Darwin: Transição da conceção de emoção como algo relacionado com a alma para
uma visão da emoção como tendo essencialmente um cariz biológico. A emoção
consistiria num produto da evolução (herança evolutiva) sendo inata, biológica e
não adquirida, correspondendo a movimentos expressivos típicos com expressão
universal e função adaptativa.

Hume: Considerava que existiam emoções específicas de aprovação e


desaprovação, suscitadas pela contemplação de determinados objetos e dirigida
para esses objetos.

James: Considerava a emoção como resultante da sensação e, também, da


perceção das reações e transformações corporais do individuo (reconhecimento
das alterações fisiológicas) face a um estímulo, acentuando os processos
fisiológicos como uma característica central da emoção.

Frijda: Descreve a emoção como respostas a acontecimentos importantes para o


sujeito, com prontidão para a ação e existência e interesse, estrutura de significado
situacional, realidade aparente e tendência para a moderação ou inibição da
resposta. Anteriormente, considera que a emoção se encontra alicerçada nas
particularidades do sujeito (história pessoal e interação com o ambiente) sendo
caracterizada como um estado mental intencional que comporta uma função
sinalizadora, direcionada para um objeto e propensa para a ação, sendo necessária a
existência de um objeto intencional que determine se um dado acontecimento é
favorável ou não.

Freud: Define o afeto de formas e sentidos variados e distintos, considerando-o


como emoções e sentimentos, energia ou excitação e processo de dispêndio de
energia que se relaciona com o corpo e as pulsões. Dessa forma, associa a emoção à
energia (refluxo motor determinado por descargas de energia que acontecem no
aparelho psíquico do individuo), considerando o afeto como um estado subjetivo
complexo que inclui, primeiramente, determinadas descargas motoras e de
excitação sensorial e, após isso, sentimentos de dois tipos, ou seja, perceções das
ações motoras que aconteceram e sensações diretas de prazer e desprazer.

Damásio: As emoções constituem-se como instrumentos de avaliação sobre as


situações e o meio, funcionando como ferramentas adaptativas e são elas que, em
interação com os processos cognitivos, assumem um maior peso na nossa
capacidade de tomar decisões. Nesse contexto, a emoção descrita como a fusão de
um processo mental avaliativo, simples ou complexo, com respostas dispositivas
orientadas maioritariamente para o corpo (que determinam o estado emocional) e
também dirigidas ao cérebro, ocasionando alterações mentais adicionais. Os
sentimentos seriam, assim, a experiência das mudanças associadas às imagens
mentais de uma dada situação pelo que a emoção se encontra intimamente
associada à memória, ou seja, ao contexto em que é adquirida na experiência
individual.

Sentimento ≠ Emoção

Para Damásio o termo sentimento deve ser usado para a experiência mental da
emoção enquanto se utiliza o termo emoção para o conjunto de reações orgânicas
aos estímulos externos, observáveis na sua maioria. Todas as emoções suscitam
sentimentos, mas nem todos os sentimentos são originados por emoções. Os
sentimentos causados pelas emoções são chamados de “sentimentos de emoções”
e os sentimentos que não são gerados pelas emoções são designados de
“sentimentos de fundo”, originados em estados corporais e não emocionais
(conscientes e mais frequentes). Assim, o sentimento comporta dois estados, um
que pode ser representado inconscientemente e o outro que é consciente,
portanto, percebido pela pessoa.

Correspondem à sobreposição das alterações do estado do corpo com as


imagens mentais de alguma coisa (pessoa, acontecimento, lugar…);
Estímulo – reações corporais – ideias que acompanham (fase mental);
“Ter um sentimento é estar-se afetado por ele, padecê-lo no momento em
que o objeto o provoca”
Alterações nos processos cognitivos induzidas por substâncias
neuroquímicas, Ex.: Estados corporais negativos que se repetem com
frequência ou estado corporal negativo persistente que leva ao aumento da
proporção de pensamentos negativos.
Os sentimentos, em particular a dor e o prazer são os fenómenos humanos
menos compreendidos.

O objetivo da homeostasia (coleção de processos que governam a vida


momento a momento) é produzir um estado melhor que neutro, ou seja,
bem-estar.

H
o
m
e
o
s
t
a
s
i
a

Emoções – São públicas (alinhadas com o corpo, desenrolam-se no teatro do


corpo); regulam os mecanismos mais básicos da vida. De fundo > Temperamento >
Manifestações subtis de movimentos do corpo ou expressão facial (lassidão,
entusiasmo, diferente de humor); Primárias > medo, zanga, nojo, surpresa, tristeza
e alegria; Sociais > simpatia, compaixão, embaraço, vergonha, culpa, orgulho,
ciúme, culpa, inveja, gratidão, admiração e espanto, indignação e desprezo.

Sentimentos – São privados (alinhados com a mente (desenrolam-se no teatro da


mente); regulam os mecanismos de nível mais alto da vida; são íntimos (estado
interior – como provar que um sentimento existe e é verdadeiro?)

Os sentimentos estão divididos em quatro grupos

1. Sentimentos praxis – centram-se na relação homem/natureza


2. Sentimentos intelectuais – inseparáveis das atividades cognitivas e
expressam a relação do homem com as suas ideias
3. Sentimentos morais – expressam as relações sociais no qual o homem
valoriza as atuações dos homens e das suas próprias
4. Sentimentos estéticos – expressam a relação do homem com a vida

Sentimentos de fundo – causadas, por exemplo, por um esforço físico intenso, pelo
remoer de decisões complicadas de tomar ou pela ansiedade em relação a um
acontecimento agradável/desagradável que nos espera. Temos como exemplos o
bem-estar/mal-estar, a calma/tensão, a estabilidade/instabilidade, o
equilíbrio/desequilíbrio, a harmonia/discórdia, a fadiga, a excitação e o entusiasmo.

As emoções são manifestações orgânicas percebidas por mudanças


comportamentais efémeras e imprevisíveis, uma reação afetiva imediata a um
estímulo, com duração relativamente curta e que precedem os sentimentos.

Os sentimentos são mais psíquicos (cognitivos) e menos orgânicos do que as


emoções, são um estado subjetivo mais permanente, provêm das emoções, são
menos intensos e mais controlados, dependem da representação simbólica. São
uma experiência mental e privada de uma emoção.

Quais são as semelhanças entre uma emoção e um sentimento?

São dirigidas a um objeto, a avaliação é igual, existe a propensão em


agir em relação a esse objeto e é latente / disposicional vs. acentuada / manifesta /
imediata.
Quais são as diferenças entre uma emoção e um sentimento?

A durabilidade, a intensidade e a privacidade.

A amizade

Pode ser definida como um sentimento que engloba diferentes emoções e


onde as interações ocorrem quer por motivações afetivas, quer por via
racional.
Subjacente a ela estão interesses e experiências em comum, aceitação,
compreensão, ajuda mútua, confiança, ausência de reprovações mútuas ou
desilusões recíprocas.
É algo universal, independentemente da idade, do sexo, da classe social ou
cultura.
Os amigos são descritos como pessoas de quem gostamos e com quem
queremos fazer coisas.
É também um sentimento complexo, onde se cruzam diferentes emoções.
Remete para uma uniformidade de interesses, de projetos, de experiências e
flui através do confronto de opiniões, emoções, bem como da comunicação
de acontecimentos pessoais e até mais íntimos.
Pressupõe uma confiança que leva ao abandono das defesas que
habitualmente utilizamos para a nossa proteção.
Existe uma relação clara entre as relações de amizade e a felicidade.

A paixão

Caracterizada por um conjunto de impulsos associados à atração física, ao


romance e ao ato sexual, que envolve o desejo, o pensamento obsessivo
sobre a pessoa amada, a idealização e a adoração.
A paixão liberta oxitocina, testosterona, dopamina e feniletilamina
Os neurotransmissores levam a impulsos sexuais que dirigem a nossa
conduta em direção à reprodução > Isto ocorre quando surgem os estímulos
ideais > Assim surgem as respostas fisiológicas.
Ao fim de algum tempo estes sintomas começam a desaparecer pois o corpo
cria resistência a estes sintomas.
Luxúria > Desejo ardente por sexo > A substância mais associada é a testosterona
(aumento da libido – desejo sexual);

Atração > Amor no estágio de euforia, envolvimento emocional e romance > Faz
libertar altos níveis de dopamina e norepinefrina (noradrenalina): ligadas à
inconstância, exaltação, euforia, e a falta de sono e de apetite; Faz libertar baixos
níveis de serotonina: tendo em vista a ação da serotonina na diminuição de fatores
libertadores de gonadotrofinas pela hipófise, quanto mais serotonina menos
hormonas sexuais.

Ligação > Atração que evolui para uma relação calma, duradoura e segura > Faz
libertar oxitocina (associada ao aumento do desejo sexual, orgasmo e bem-estar
geral) e vasopressina (ADH), associada à regulação cardiovascular, atuando no
controlo da pressão sanguínea.

O amor

É o mais completo e articulado dos sentimentos humanos, que se exprime


em múltiplas formas e graus de intensidade, e compõe-se de toda uma gama
de emoções, virado como é para objetivos diversos, tais como um parceiro,
um progenitor, um filho ou ainda um ideal;
A função do amor é manter relacionamentos próximos;
O amor romântico é demasiado complexo para refletir uma única emoção
com base biológica e evolucionária;
Existe um padrão de emoções de amor que são básicos para : Evolução
humana, Adaptação afetiva, Mentalidade humana e Desenvolvimento
normativo.
Não é uma emoção > É uma complexa mistura de emoções associadas a
pensamentos particulares e uma tendência para querer-se aproximar do ser
amado.

Estruturas cerebrais na formação das emoções

As estruturas envolvidas na emoção interligam-se fortemente mas nenhuma


delas é exclusivamente responsável por um determinado estado emocional
(embora algumas contribuam mais que outras).
Amígdala: Pequena estrutura em forma de amêndoa, situada dentro da região
antero-inferior do lobo temporal que se interconecta com o hipocampo, os núcleos
septais, a área pré-frontal e o núcleo dorso-medial do tálamo; Essas conexões
garantem o seu papel relevante na mediação e controlo das atividades emocionais
de ordem maior como a amizade e o amor, as exteriorizações do humor e,
principalmente, nos estados de medo e ira e na agressividade; A amígdala é
fundamental para a autopreservação, por ser o centro identificador do perigo,
gerando medo e ansiedade que levam a situações de alerta (prontidão para se
evadir ou lutar); A lesão da amígdala faz, entre outras coisas, com que o individuo
perca o sentido afetivo na perceção de uma informação externa, como a visão de
uma pessoa conhecida. Ele sabe quem está a ver, mas não sabe se gosta ou não da
pessoa.

Hipocampo: Está particularmente envolvido nos fenómenos da memória, em


especial, na formação da memória a longo prazo. Quando o hipocampo é destruído
nada mais é gravado na memória (o individuo esquece, rapidamente, a mensagem
recém recebida); Um hipocampo intacto possibilita comparar as condições de uma
ameaça atual com experiências passadas similares, o que permite escolher qual a
melhor opção a ser tomada para garantir a sua preservação.

Fórnix: É uma região do cérebro (abaixo do corpo caloso) constituída por um feixe
de fibras altamente mielinizadas (substância branca) do telencéfalo. Tem a forma de
um C e a sua principal função é transmitir sinais. Especificamente, conecta o
hipocampo ao hipotálamo e o hemisfério direito ao hemisfério esquerdo; algumas
investigações mostraram que a relação dessa estrutura com o hipocampo pode
desempenhar um papel importante nos processos de memória. Alguns autores
consideram-no parte do sistema límbico.

Giro para-hipocampal: É uma substância cinzenta do córtex cerebral, região do


cérebro que envolve o hipocampo e faz parte do sistema límbico. Desempenha um
papel importante na codificação e recuperação de memórias (memória de curto e
longo prazo) e evocação de imagens visuais; Surge, por norma, dificuldade em
detetar o sarcasmo; Anomalias podem indicar esquizofrenia, doença de Alzheimer e
esclerose hipocampal.
Tálamo: O núcleo dorso-medial conecta-se com as estruturas corticais da área pré-
frontal e com o hipotálamo. Os núcleos anteriores ligam-se aos corpos mamilares no
hipotálamo (e, através destes, via fónix, com o hipocampo) e ao giro cingulado,
assim parte do circuito de Papez; Lesões ou estimulações estão relacionadas com
alterações da reatividade emocional, no homem e nos animais. No entanto, a
importância desses núcleos na regulação do comportamento emocional
possivelmente decorre, não de uma atividade própria, mas das conexões com
outras estruturas do sistema límbico.

Hipotálamo: É uma parte do encéfalo relacionada com várias funções do organismo.


Está localizado sob o tálamo e é considerado o elo integrador entre o sistema
nervoso e o sistema endócrino; tem amplas conexões com as áreas do prosencéfalo
e do mesencéfalo. Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o
prazer e a raiva, enquanto a parte mediana parece mais ligada à aversão, ao
desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável; de um modo geral, a sua
participação é menor na génese do que na expressão (manifestações sintomáticas)
dos estados emocionais. Quando os sintomas físicos da emoção aparecem, a
ameaça que produzem, retorna, via hipotálamo, aos centros límbicos e destes, aos
núcleos pré-frontais aumentando mediante um mecanismo de feedback negativo
(ansiedade), podendo chegar a gerar um ataque de pânico; A lesão dos núcleos do
hipotálamo interfere com diversas funções vegetativas e com alguns dos chamados
comportamentos motivados, como a regulação térmica, sexualidade,
combatividade, fome e sede.

Giro cingulado (cíngulo): Situado na face medial do cérebro, entre o sulco cingulado
e o corpo caloso (principal feixe nervoso ligando os dois hemisférios cerebrais); Há
ainda muito por conhecer sobre a função o giro, mas sabe-se que a sua parte frontal
coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Esta
região participa, ainda, na reação emocional à dor e na regulação do
comportamento agressivo; A ablação do giro cingulado (cingulectomia) em animais
selvagens, domestica-os totalmente. A ablação de uma simples secção de um feixe
desse giro (cingulotomia), interrompendo a comunicação neural do circuito de
Papez, reduzindo o nível de depressão e de ansiedade préexistentes.
Tronco cerebral: É a região responsável pelas "reações emocionais". As estruturas
consistem numa massa concentrada de neurónios secretores de norepinefrina; A
parte das estruturas mais primitivas participam nos mecanismos de alerta, vitais
para a sobrevivência, mas também na manutenção do ciclo vigília-sono; Outras
estruturas do tronco cerebral, como os núcleos dos pares cranianos (nervos),
estimuladas por impulsos provenientes do córtex e do estriado (formação
subcortical), respondem pelas alterações fisionómicas dos estados afetivos:
expressões de raiva, alegria, tristeza, ternura, etc.

Área tegmental ventral (ATV): Na parte mesencefálica (superior) do tronco cerebral


existe um grupo compacto de neurónios secretores de dopamina - área tegmental
ventral - cujos axónios vão terminar no núcleo accumbens, (via dopaminérgica
mesolímbica); A descarga espontânea ou a estimulação elétrica dos neurónios desta
região produzem sensações de prazer, algumas delas similares ao orgasmo;
Indivíduos que apresentam por defeito genético redução no número de receptores
das células neurais dessa área tornam-se incapazes de se sentirem recompensados
pelas satisfações comuns da vida e procuram alternativas "prazerosas" atípicas e
nocivas como, por exemplo, alcoolismo, cocainomania, compulsividade por
alimentos doces e pelo jogo desenfreado.

Septo: A área septal situa-se na zona anterior do tálamo onde estão localizados os
centros do orgasmo (quatro para a mulher e um para o homem); Esta região
relaciona-se com as sensações de prazer em particular as associadas às experiências
sexuais.

Área Pré-frontal: A área pré-frontal compreende toda a região anterior não motora
do lobo frontal; Desenvolveu muito durante a evolução dos mamíferos, sendo
particularmente extensa no homem e em algumas espécies de golfinhos; Não faz
parte do circuito límbico tradicional, mas as suas intensas conexões bidirecionais
com o tálamo, amígdala e outras estruturas subcorticais, explicam o importante
papel que desempenha na génese e, especialmente, na expressão dos estados
afetivos; Quando ocorre lesão do córtex pré-frontal o indivíduo perde o senso das
suas responsabilidades sociais, bem como a capacidade de concentração e de
abstração; Em alguns casos, a pessoa mantém intactas a consciência e algumas
funções cognitivas, como a linguagem mas deixa de conseguir resolver problemas,
mesmo os mais elementares. Quando se praticava a lobotomia pré-frontal, para
tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, os pacientes entravam em estado de
“letargia afetiva", deixando de evidenciar quaisquer sinais de alegria, tristeza,
esperança ou desesperança. Nas suas palavras ou atitudes não se vislumbravam
qualquer resquício de afetividade.

Os neurotransmissores

Sempre que sentimos algo (alegria, tristeza, raiva), o nosso corpo passa por
mudanças fisiológicas e químicas (sudorese, ritmo cardíaco acelerado,
expressões faciais, etc.) que determinam respostas comportamentais que
envolvem vários processos que se interligam e que incluem alguns órgãos, o
sistema límbico e os neurotransmissores.

O que são?

São como mensageiros que viajam por todo o nosso corpo, comunicando-se
uns com os outros, para transmitir sinais. Formados no cérebro, cada
neurotransmissor possui uma função diferente e uma localização específica
sem a qual os estímulos emocionais não seriam possíveis.
São responsáveis pela comunicação entre os neurónios, podem ser
libertados através do córtex motor, do tronco cerebral ou do sistema límbico
(principal área responsável pelas nossas emoções).

Como funcionam?

Comunicam uns com os outros através de um pequeno espaço entre


neurónios – sinapse. A sinapse conduz a mensagem de um neurónio para
outro – neurotransmissão. Quando um sinal elétrico chega ao final de um
neurónio dispara vesículas (pequenas bolsas) que contêm os
neurotransmissores.
O conteúdo dessas vesículas, os neurotransmissores, movem-se em direção
às células vizinhas que contêm recetores com as quais se podem ligar
desencadeando mudanças celulares.

O papel dos neurotransmissores

Os neurotransmissores podem ser classificados consoante a sua função.


Podem atuar como mensageiros inibitórios (que nos podem deixar mais
calmos) ou excitatórios (que nos podem deixar mais agitados).
É possível afirmar que os neurotransmissores moldam, de muitas maneiras, a
forma como vivemos a vida e quem somos.

Os principais Neurotransmissores

Neurotransmissores são substâncias classificadas em diferentes grupos de


acordo com a sua constituição química. A acetilcolina foi o primeiro
neurotransmissor a ser identificado em 1914 pelo fisiologista inglês Henry
Dale, e desde então, já se catalogaram mais de 100 substâncias diferentes.

Dopamina (Neurotransmissor do prazer): Está associada a sentimentos de prazer e


satisfação. Também está associada ao vício, ao movimento e à motivação. Os
sentimentos de satisfação causados pela dopamina podem tornar-se desejados e,
para satisfazer isso, a pessoa repetirá comportamentos que levam à libertação de
dopamina. Esses comportamentos podem ser naturais, como na alimentação e na
atividade sexual, ou antinaturais, como na dependência de drogas; A sinalização da
dopamina é essencial para o sistema de recompensa do cérebro, influenciando o
individuo a repetir comportamentos que levam à sua libertação. Mais uma vez,
estes podem ser naturais como na alimentação e na atividade sexual, ou
patológicos, como na dependência de drogas e jogos; Alterações ao nível da
dopamina podem ser encontradas em quadros de depressão, ansiedade, baixa
capacidade de memorização, de concentração e, até mesmo, na doença de
Parkinson (insuficiência) e na esquizofrenia (excesso).

Noradrenalina (norepinefrina > Neurotransmissor da concentração e alerta): É um


neurotransmissor que afeta a atenção e as ações de resposta. Influencia o humor, a
ansiedade, o sono e a alimentação; mantém a atenção e o corpo em alerta durante
o dia (vigília) e durante o sono os seus níveis diminuem. Também está envolvida na
resposta de “luta ou fuga” como a adrenalina e com processos cognitivos de
aprendizagem, criatividade e memória; possui como uma das principais funções
aumentar a energia química no organismo para dar respostas rápidas em situação
de stress. O seu efeito no corpo é contrair os vasos sanguíneos para aumentar o
fluxo sanguíneo; Insuficiência de noradrenalina pode determinar o aumento da
ansiedade, instabilidade emocional e depressão. Utilizada na prática médica como
potente agente reversor da hipotensão arterial (portanto é um hipertensor) em
casos de hipotensão grave, como consequência de infeções disseminadas (sepsis).
Por exemplo, pacientes diagnosticados com TDAH (Transtorno do Déficit de
Atenção com hiperatividade) costumam receber medicamentos prescritos para
ajudar a aumentar os níveis de noradrenalina no cérebro.

Serotonina (Neurotransmissor do Humor e Bem-estar): Está relacionada com a


sensação de bem-estar e felicidade e os nossos níveis são afetados pelo exercício e
pela exposição à luz solar. Também ajuda a regular o equilíbrio do humor, ciclo do
sono e a digestão; regula o ciclo do sono, juntamente com a melatonina e, também,
os movimentos intestinais; Baixos níveis de serotonina têm sido associados à
depressão, ansiedade, irregularidade no humor, enxaquecas e perturbação disfórica
pré-menstrual (TPM). Os níveis de exercício e exposição a luz solar também podem
ter efeitos positivos nos níveis da produção de serotonina.

Adrenalina (ou Epinefrina), (Neurotransmissor da Fuga ou Luta): Libertada pelas


glândulas supra-renais que ficam em cima dos rins é uma hormona produzido em
situações de elevada intensidade emocional ou de alto stress; estimula o aumento
da frequência cardíaca, contrai os vasos sanguíneos e dilata as vias aéreas para
aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos e o oxigénio para os pulmões. Isso
leva a um aumento da força física e melhora o estado de alerta; é crucial na nossa
resposta de sobrevivência de Luta ou Fuga.

Oxitocina (Neurotransmissor do Amor): É uma hormona produzida pelo hipotálamo


e armazenada na hipófise posterior (neuro-hipófise) tendo como função, para além
de desenvolver apego e empatia, promover as contrações musculares uterinas,
reduzir o sangramento durante o parto, estimular a libertação do leite materno,
produzir parte do prazer do orgasmo e modular a sensibilidade ao medo (do
desconhecido); também é usada como medicamento para facilitar o parto.

Acetilcolina (ACh), (Neurotransmissor da Aprendizagem): É o principal


neurotransmissor envolvido no pensamento, na aprendizagem e na memória
afetando o sistema cardiovascular, o sistema excretor, o sistema respiratório e o
sistema muscular; é um neurotransmissor de caráter excitatório, que pode agir
tanto em sinapses neuronais quanto em placas motoras que enviam sinais para os
músculos (ativação da ação muscular); Tem como principais funções a vasodilatação
(dilatação das veias, o que faz com que o sangue corra mais depressa nas veias),
Redução da frequência cardíaca a partir da diminuição da contração do coração,
Aumento de secreções (salivação e sudorese), Relaxamento intestinal, Contração
de músculos, Auxílio na cognição (aprendizagem e memória) dado que facilita a
comunicação das células cerebrais (smart bar); Os danos nas áreas do cérebro que
produzem acetilcolina têm sido associados aos deficits de memória que surgem, por
exemplo, na doença de Alzheimer.

Endorfinas (Neurotransmissores da dor e da euforia): As endorfinas são uma


variedade de compostos, cuja secção biologicamente ativa é formada a partir de
longas cadeias de múltiplos aminoácidos (peptídeos opióides endógenos).
Desempenham um papel importante na resposta do corpo à inibição da dor.
Também foram analisadas pelo seu papel no prazer; São libertadas no cérebro
durante a dor, o exercício, a excitação e a atividade sexual, produzindo uma
sensação de bem-estar ou até de euforia. Pelo menos 20 tipos de endorfinas foram
identificados em seres humanos. Certos alimentos como o chocolate e alimentos
apimentados podem estimular a libertação de endorfinas; existem muitas pesquisas
sobre a libertação de endorfinas no orgasmo, na ingestão de alimentos apetitosos e
no desporto (ex.: maratonistas). As endorfinas também foram estudadas como uma
maneira de ajudar no tratamento da ansiedade e da depressão através do exercício;
O termo “endorfinas” atualmente é usado livremente em referência a todos os
peptídeos endógenos com atividade semelhante a opióides com propriedades
semelhantes a morfina (múltiplas funções que vão da cessação da dor e analgesia à
euforia).
GABA – ácido y-aminobutírico (Neurotransmissor da Calma): O GABA é o principal
neurotransmissor inibitório do cérebro. O seu papel é acalmar os nervos do sistema
nervoso central. Também contribui para o controlo motor e a visão; Altos níveis de
GABA melhoram o foco mental e o relaxamento, enquanto níveis baixos podem
causar ansiedade. Também têm sido associados à epilepsia. Os medicamentos para
tratar a epilepsia geralmente agem aumentando os níveis de GABA no cérebro.

Glutamato (Neurotransmissor da Memória e Aprendizagem): O glutamato é o


neurotransmissor excitatório mais comum no cérebro envolvido em funções
cognitivas como a aprendizagem e memória. Também regula o desenvolvimento
cerebral e a criação de ligações nervosas; Em grandes concentrações (excesso)
torna-se tóxico para os neurónios podendo matá-los como em situações em que
ocorram danos cerebrais ou derrames.

Melatonina (Hormona da escuridão): Pode ser considerada um neurotransmissor


pela sua ação cronobiológica, ou seja, temporizar ou sincronizar diferentes funções
do organismo. Coordena a ritmicidade biológica > é um “tradutor neuroendócrino”
do ciclo claro-escuro; Mesmo não possuindo uma ação direta sobre as emoções
como os neurotransmissores anteriormente descritos pode afetar diretamente as
nossas emoções se existirem problemas ao nível da regulação do sono.

Substância P: O peptídeo (biomolécula que resultam do processamento de


proteínas e podem possuir na sua constituição 2 ou mais aminoácidos) está
presente em neurónios centrais e apresenta-se em alta concentração nos gânglios
sensoriais dos nervos espinais. A sua libertação é disparada por estímulos dolorosos
intensos. Modula a resposta neural à dor e ao u humor, as náuseas e vómito pela
ativação dos recetores localizados no tronco encefálico.

O que é um desequilíbrio químico no cérebro?

Costuma-se dizer que alguns distúrbios mentais, como a depressão e


ansiedade, são causados por um desequilíbrio químico no cérebro. Essa
hipótese é chamada de hipótese do desequilíbrio químico ou teoria do
desequilíbrio químico.

Como podemos evitar uma insuficiência de neurotransmissores?


Há algumas formas de estimular a produção de neurotransmissores
potenciando um estilo de vida mais saudável.
1. Exercício físico – Melhora o fluxo de nutrientes para o cérebro e aumenta os
níveis de dopamina, serotonina e noradrenalina.
2. Alimentação equilibrada – Refeições ricas em nutrientes como tirosina,
ácidos gordos como ômega 3 e 6, também conhecidos como vitamina F (não
produzidos pelo corpo humano) e aminoácidos presentes em frutas,
legumes, peixes e ovos elevam os níveis de dopamina.
3. Saúde intestinal – A nossa flora intestinal regula e influencia quase todas as
hormonas no nosso corpo, incluindo tireoidianos, estrogénio e a melatonina.
Alguns destes têm conexão direta com funções vitais do nosso corpo na
produção de neurotransmissores.
4. Meditação – Melhora o foco, aumenta a capacidade de concentração e eleva
os níveis de dopamina no corpo.
5. Ouvir música – Ativa o sistema de recompensa e, consequentemente, a
libertação de dopamina e causando bem-estar.

Notas

Luminosidade e sono – A inexistência e/ou baixa exposição à luz solar e a


falta de exercício físico interfere com o nosso ciclo do sono. Isto justifica, em
parte, a possibilidade das insónias durante o confinamento; Os indivíduos
com graus diferenciados de cegueira, devido à má perceção de
luminosidade, têm dificuldade em produzir melatonina, responsável pela
iniciação do sono (que advém da serotonina) tendo que recorrer a
medicação.
O equilíbrio dos neurotransmissores é suficiente? – É importante salientar
que é difícil um equilíbrio dos neurotransmissores quando a harmonia com o
que sentimos está comprometida. É fundamental investirmos num estado de
equilíbrio, pois este permite um controlo das nossas emoções de forma a
propiciar o surgimento de bons sentimentos e, consequentemente, bons
comportamentos; com o propósito de atingir um estado de equilíbrio é
aconselhável, sempre que necessário, recorrer a um psicólogo como ação
preventiva e de manutenção para assegurar um bom estado geral de saúde
do corpo e da mente.

Teoria das emoções

Aristóteles – Tinha uma perspetiva filosófica da emoção na antiguidade grega.


Considerava que era uma fração não racional, ou seja, produto de manifestação
psicofísica que interfere com o juízo dos indivíduos. Acredita na relação entre corpo
e mente.

Identifica e descreve uma série de emoções (paixões) que são fundamentais


para a produção de um discurso persuasivo: ira, calma, amizade, inimizade,
temor, confiança, vergonha, desvergonha, amabilidade, piedade, indignação.
Divide a alma em três espécies de coisas: Paixões (apetites, cólera, medo,
audácia, inveja, alegria, amizade, ódio, desejo, emulação, compaixão, e de
um modo geral os sentimentos que são acompanhados de dor ou
sofrimento; Faculdades (aquelas coisas em razão das quais dizemos que
somos capazes de sentir as paixões, ou seja, a faculdade de encolerizarmos,
magoar-nos ou compadecer-nos; Disposições (as coisas em razão das quais a
nossa posição em relação às paixões é boa ou má. Ex.: Em relação à cólera a
nossa posição é má se a sentirmos de modo violento ou de um modo muito
fraco e boa se a sentirmos moderadamente.

Descartes – Tinha uma perspetiva filosófica da emoção na antiguidade grega.


Considerava uma clara dicotomia entre a razão e a emoção, assim o corpo e a mente
seriam entidades separadas.

Os fenómenos mentais não são físicos ou a mente e o corpo são distintos e


separáveis. A mente (substância não física) envolve consciência e
autoconsciência e é distinta do cérebro que é a sede da inteligência.

Espinoza – Distingue emoção de paixão, sendo a experiência da paixão uma


experiência que reduz a probabilidade de sobrevivência, ou seja, pode causar um
comportamento não adaptativo e deve ser aproveitada pela razão, pois os
pensamentos e comportamentos guiados pela razão conduzem à nossa
sobrevivência. A paixão não estaria ligada a nenhum pensamento específico,
contrariamente às emoções.

Considera que nos podemos melhorar a nós mesmos esclarecendo as ideias


por meio da sua análise de controlar racionalmente as nossas paixões, o que
se assemelha muito à psicanálise de Freud.
Espinoza começou por emoções básicas, como prazer e dor e mostrou como
até 48 emoções adicionais poderiam derivar das interações entre essas
emoções básicas e várias situações encontradas na vida.

Darwin – Tinha uma perspetiva biológica no século XIX. Considerava a emoção como
um produto da evolução (inata, biológica e não adquirida), universais que teriam
função adaptativa (Herança evolutiva/Cariz biológico).

As emoções são consideradas fenómenos reflexos da filogénese


A evolução é “descender com modificações”, a ideia de que as espécies
mudam ao longo do tempo, dão origem a novas espécies – embora
compartilhem um ancestral comum.
Cada emoção tem graus diferentes de intensidade. Por exemplo, a raiva tem
a fúria, ódio, raiva, etc. No entanto, não estabelece diferenças fisiológicas em
cada uma dessas famílias de emoções.
As expressões faciais são manifestações das emoções. Por exemplo,
fotografias e gravuras para exemplificar contrações musculares da face, bem
como posturas corporais que denotam determinadas emoções.
Existem semelhanças entre homens e animais. Por exemplo, gravuras de
cães em posição de ataque onde se observa que a expressão é muito
semelhante à expressão de raiva nos seres humanos.
As expressões faciais das emoções básicas são universais, mas existem
gestos e posturas exclusivamente culturais – resultados que vão de encontro
aos estudos atuais.

James – Tinha uma perspetiva psicológica no século XIX. Considerava os


sentimentos como sensações subjetivas e prévias das emoções que seriam
desencadeados por estímulos ambientais. Existiria, assim, uma reação prévia à
tomada de consciência. Teoria periférica

As emoções são respostas fisiológicas automáticas em presença de


determinadas situações;
É precisamente o reconhecimento desses sintomas (pelo cérebro) que gera
a emoção, ou seja, as sensações físicas são a emoção.

Cannon – Teoria central. Refutou James. As reações fisiológicas e a experiência


emocional são simultâneas. O erro essencial da teoria Cannon foi considerar a
existência de um “centro” inicial (o tálamo) para a emoção.

As emoções são provocadas por descargas hormonais (adrenalina) no


organismo que provocam aceleração cardíaca e respiratória e o aumento da
pressão arterial. Assim existe um sistema central subcortical que suscita uma
ativação generalizada do organismo e o centro da emoção procura
descodificar os estímulos ameaçadores.

Freud - Tinha uma perspetiva psicológica no século XX. Considerava a existência de


uma relação entre corpo-mente, bem como o prazer-desprazer. Desta forma, a
emoção seria energia relacionada com o corpo e as pulsões e os sentimentos um
estado subjetivo complexo.

Frijda – Tinha uma perspetiva culturalista no século XX. Considerava a história


pessoal e a interação com o ambiente, assim, a emoção seria uma resposta a
acontecimentos importantes para o sujeito em função de estrutura de significado
situacional, ou seja, dependeriam do contexto.

Damásio – Adota uma perspetiva neuropsicológica no século XXI. A emoção seria


um processo mental (corpo e cérebro), assim, existiria uma relação entre o
processo emocional e o comportamento, bem como uma reação prévia à tomada
de consciência. No entanto, ele já distingue a emoção de sentimento.

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