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JUSTIÇA

RESTAURATIVA
CONTRA O BULLYING
Uma estrutura alternativa para
a solução de conflitos

ELISÂNGELA CORREIA
ELISÂNGELA CORREIA
ADVOGADA FALANDO DE BULLYING

JUSTIÇA RESTAURATIVA CONTRA O BULLYING

Sumário

Capítulo 1: Introdução ao fenômeno bullying (Pág. 3)


1.1 O que é bullying e qual a origem da sua identificação
1.2 Tipos de bullying
1.3 Do bullying ao cyberbullying
1.4 Consequências psicossociais das práticas de bullying e cyberbullying
1.5 Estatísticas sobre o bullying nas escolas

Capítulo 2: A Lei e as práticas de bullying e cyberbullying (Pág. 10)


1.1 As práticas do bullying caracterizadas no Código Penal
1.2 Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA
1.3 Lei de combate ao bullying (lei nº 13.185/2015)

Capítulo 3: Justiça Restaurativa: um novo olhar sobre o conflito


(Pág. 16)
1.1 Conceito de Justiça Restaurativa e sua origem
1.2 Princípios Fundamentais da Justiça Restaurativa
1.3 O que se busca com a Justiça Restaurativa

Capítulo 4: Relevância da Justiça Restaurativa e estratégias para a


sua implementação nas escolas (Pág. 20)
1.1 Envolvimento de todos os membros da comunidade escolar
1.2 Responsabilidade dos envolvidos nas práticas de bullying
1.3 O diálogo como ferramenta de transformação

Capítulo 5: Combatendo o bullying e criando um ambiente escolar


seguro (Pág. 27)
1.1 Educação com valores voltados a promoção de uma cultura de paz
1.2 Criação e desenvolvimento de programas de combate ao bullying
1.3 O papel da família e da escola no enfrentamento do bullying

Considerações Finais (Pág. 30)


Reflexões sobre o bullying e o cyberbullying no Brasil e no mundo

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CAPÍTULO 1

Introdução ao fenômeno bullying

1.1 O que é bullying e qual a origem da sua identificação

O bullying é um problema social que afeta milhares de crianças e adolescentes em


todo o mundo. É um fato cuja origem está na disposição humana, o que faz dele uma
prática que fomenta reiterados atos de violência que trazem implicações danosas à
honra, à imagem e à integridade de suas vítimas, configurando assim a violação de um
dos maiores Princípios Constitucionais, o da dignidade humana, direito fundamental
assegurado pela nossa Carta Magna.

Com origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão, bullying é um
termo que traduz o desejo consciente e deliberado que um indivíduo ou mais têm de
maltratar outra pessoa, colocando-a em situação de tensão, constrangimento e
humilhação.

Alguns países utilizam-se de outros termos para conceituar tais práticas. Sem
tradução em português, o Brasil adotou, então, o termo bullying para conceituar esses
comportamentos.

As primeiras pesquisas sobre bullying foram desenvolvidas em 1970, por Dan Olweus,
professor de Psicologia da Universidade de Bergen, Noruega, que iniciou um projeto
de pesquisas sobre os problemas com o bullying nas escolas. Em 1980, ele
desenvolveu o primeiro estudo científico sobre o tema, ficando conhecido como
pioneiro e fundador da pesquisa sobre os problemas causados pelo bullying.

Frequentemente e erroneamente tratado como uma situação inofensiva, uma


brincadeira de criança, bullying é um problema mundial, um fenômeno que consiste em
práticas de agressões reiteradas de ordem física ou verbal, intencionais e injustificadas
que causam à vítima grande dor, humilhação e o sentimento de discriminação e
exclusão social.

O bullying pode ocorrer em qualquer contexto social: em casa, entre vizinhos, nas
universidades e até mesmo nos locais de trabalho. Porém, maior incidência desse
fenômeno é reconhecida nas escolas, independentemente de serem públicas ou
particulares.

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Pode-se dizer que isso ocorre porque a escola é um local onde se encontra
grande concentração de crianças e adolescentes e, geralmente é a primeira
comunidade conhecida de uma criança, ou seja, seu primeiro ambiente social fora
do convívio familiar, portanto, é na comunidade escolar que surgem as diferenças
de características físicas, cor, raça, religião, forma de criação e personalidade. A
recusa de aceitação dessas diferenças, sempre notória e abrangente, caracteriza
o início do bullying.

1.2 Tipos de bullying

De acordo com estudiosos, os preconceitos e as práticas discriminatórias são as


raízes mais comuns do bullying, e os principais alvos são aqueles que não se
enquadram nos padrões valorizados: geralmente são pessoas “gordas” ou
“magricelas”, desengonçadas, aquelas que usam aparelhos ortodônticos, coletes
ortopédicos, óculos e, ainda, aqueles que têm características mais tímidas,
introvertidas, maior dificuldade para conversar e expressar suas opiniões.

A educadora e estudiosa do fenômeno bullying no Brasil, Cleo Fante entende que:


“A constatação dessas diferenças faz surgir conflitos interpessoais de
convivência, e os métodos utilizados para solucioná-los são aqueles
aprendidos nas vivências experienciadas no modelo educativo a que o
educando foi submetido, que é expresso pela imposição de autoridade
e pelo emprego de vários tipos de atitudes e linguagem violenta para
fazê-lo obedecer.”

Antes de adentrarmos nos tipos de bullying é importante estabelecer o entendimento


de que o bullying não é um conflito isolado entre crianças e adolescentes. Trata-se,
obrigatoriamente, de uma intimidação sistemática, de atos reiterados de violência que
se materializam das seguintes formas:
bullying verbal: envolve insultos, apelidos pejorativos, xingamentos e ameaças
verbais;
bullying físico: envolve agressões físicas diretas como: chutes, pontapés, socos,
beliscões, puxão de cabelo, empurrões;
bullying material: envolve os atos de furtar, subtrair, consumir e destruir os
pertences de outrem;
bullying psicológico: envolve a manipulação emocional da vítima com
intimidações, chantagens, perseguições, afetando diretamente o estado de espírito
da vítima;
bullying moral: é a prática que envolve a difamação, calúnia e injúria, de
disseminar rumores sobre sobre a vítima;

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bullying social: é a prática de


ignorar, excluir e isolar uma pessoa;
Os atos ocorrem em um
bullying sexual: é caracterizado ambiente nomeado de
pelas práticas de assediar, induzir/ ciberespaço, daí
ou abusar de uma pessoa;
denomina-se o bullying
E por fim, o bullying virtual, que será virtual como
tratado a seguir. cyberbullying

1.3 Do bullying ao cyberbullying O apego crescente das crianças e


adolescentes aos aparelhos
É indiscutível que o surgimento da eletrônicos e às redes sociais tem as
internet e o avanço tecnológico tornado potenciais vítimas de condutas
proporcionaram a sociedade maior violentas e criminosas que acarretam
facilidade ao acesso à informação, à consequências negativas, muitas
comunicação e a possibilidade em vezes, irreversíveis.
solucionar problemas sem a necessidade
de sair do conforto de casa, entretanto, Com o fenômeno chamado bullying
propiciou também a evolução da ilicitude. não foi diferente, os atos de violência
Atos criminosos que antes eram que antes eram praticados somente no
praticados apenas no mundo real, hoje ambiente físico, mais cristalino no
também podem ser facilmente praticados escolar, passaram a ser disseminados
no mundo virtual. virtualmente.

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Os atos ocorrem em um ambiente nomeado de ciberespaço, daí denomina-se o


bullying virtual como cyberbullying.

Tiago de Lima Ribeiro define cyberbullying como:


“Um conjunto de atos agressivos reiterados, ocorridos em espaços
virtuais de interação e dispositivos de tecnologia, praticados por um
ou mais indivíduos contra outrem, em posição de detrimento e
sujeição em relação ao agressor.“

O cyberbullying ocorre através da tecnologia, como redes sociais, mensagens


instantâneas e e-mails. Os agressores usam essas plataformas para espalhar
rumores humilhantes, compartilhar fotos constrangedoras ou alteradas ou ainda
enviar mensagens ameaçadoras para suas vítimas.

Nesse aspecto, as agressões de ordem física são excluídas, presente apenas as de


ordem psicológica, moral e emocional.

No entanto, o alcance das ofensas infligidas às vitimas de cyberbullying é


infinitamente maior, haja vista que as redes sociais permitem a propagação dessas
ofensas para além do espaço físico, ultrapassando os limites do ambiente escolar,
como acontece com o bullying. Em outras palavras, as humilhações sofridas pelas
vítimas, tem um potencial alcance global, tanto quanto sua extensão são também as
sequelas, algumas não dão a vítima sequer o direito à reparação de sua vida normal.

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Destaca-se, porém, que as


consequências não sobrevêm apenas às
vítimas destas práticas, mas também,
sobre quem as pratica, pois, têm-se as
ações de bullying e cyberbullying por atos
reiterados de violência. Tais aspectos
serão explorados a seguir

1.4 Consequências psicossociais


das práticas de bullying e
cyberbullying

As práticas de bullying e cyberbullying


podem ser um tanto quanto complexas,
considerando que compreendem vários
atores: a vítima ou vítimas, o agressor ou
agressores e os espectadores, aqueles
que não sofrem, no entanto, se omitem por
receio de se tornarem também vítimas do
opressor.

Durante muito tempo o bullying foi tratado como uma brincadeira, atos inofensivos
praticados por crianças e adolescentes nas escolas, mas com o passar do tempo foi
se observando que não se trata de uma mera brincadeira e sim, uma ofensa ao outro,
à sua dignidade, pois se indivíduos se divertem enquanto outro sofre (por ser o objeto
da diversão), não é brincadeira e sim violência.

As pessoas mais propensas a serem vítimas desses atos são as crianças e os


adolescentes que não “se enquadram” nos padrões dos demais, e são geralmente os
mais tímidos, que tem maior dificuldade em se relacionar com grupos; aqueles que
têm uma deficiência física ou mesmo as de ordem psíquica e intelectual, que possuem
maior dificuldade em acompanhar os demais.

Muito comum ainda são as diferenças de ordem religiosa, de cor, raça, opção sexual
ou estilo de vida. Os bullies, como são chamados os que praticam esses atos, agem
de maneira intencional, repetitiva e com o único intuito de ferir e subjugar a vítima,
reduzindo drasticamente sua capacidade de defesa.

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Em contrapartida, a vítima começa a apresentar sintomas sutis, quase imperceptíveis


pela família e pela comunidade escolar, pois muitas vezes são tomados como atitudes
normais ao universo infanto-juvenil como, o desejo de não querer ir à escola ou
desleixar dos estudos.

Porém, são sintomas que devem ser observados com cuidado, visto que a atitude
antes tratada como “normal” vai se agravando ao passo que a criança ou adolescente
apresenta o desejo constante de mudar de escola, chega em casa com seus materiais
estragados, livros rasgados, seus pertences subtraídos, roupas rasgadas e até
mesmo com marcas de agressão física pelo corpo.

As consequências do bullying são graves e duradouras. O recrudescimento desses


sintomas pode acarretar o isolamento, distúrbios alimentares, depressão, ansiedade,
agressividade, baixa autoestima e desejos de autodestruição ou vingança, e em casos
mais extremos, quando a criança ou adolescente vítima resolve reagir às agressões
acaba por cometer suicídio ou mesmo homicídio, praticando um crime de ordem
reacionária.

Além dos impactos psicológicos e emocionais já mencionados, os atos de violência


relacionados ao bullying também acarreta impacto na saúde física das vítimas. Muitas
vezes, as agressões físicas resultam em lesões graves que requerem tratamento
médico. O estresse constante causado pelo bullying pode levar a problemas de sono,
distúrbios alimentares e até mesmo doenças crônicas.

1.5 Estatísticas sobre o bullying nas escolas

As estatísticas sobre o bullying nas escolas são alarmantes e revelam a extensão


desse problema social. De acordo com pesquisas recentes, 1 em cada 3 estudantes
são vítimas de bullying em todo o mundo.

No Brasil, os números também são preocupantes. Segundo dados de uma pesquisa


sobre violência escolar realizada nos dias 9 e 10 de maio do presente ano no Brasil
pelo DataSenado, revelou em uma audiência pública que 6,7 milhões de estudantes
sofreram algum tipo de violência na escola nos últimos doze meses. Quando a
violência é relacionada as práticas de bullying, o percentual de vítimas é de 33%.

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Segundo Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), um percentual superior a


40% dos estudantes adolescentes admitiram ter sofrido bullying. De acordo com o
IBGE, o Brasil é um dos países com maiores índices de violência escolar, sobretudo
pelo bullying, que consiste em um conjunto de violências que se repetem ao longo de
um período.

Quase sete milhões de


estudantes sofreram
algum tipo de violência
na escola. 33% deles
apontaram violência
relacionada ao bullying.

Esses números podem


ser ainda maiores, uma
vez que muitos casos
não são denunciados ou
registrados oficialmente.

Esses números mostram que o bullying é um problema generalizado que afeta


crianças e adolescentes em todas as regiões do país.

É importante destacar que essas estatísticas podem ser ainda maiores, uma vez
que muitos casos não são denunciados ou registrados oficialmente, e ainda, há
muitos profissionais da área da educação que têm dificuldades em reconhecer e
diferenciar o bullying dos demais tipos de violência, o que torna ainda mais
dramática a situação para as vítimas.

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CAPÍTULO 2

A Lei e as práticas de bullying e cyberbullying

1.1 As práticas do bullying caracterizadas no Código Penal

As práticas de bullying e cyberbullying não tem tipificação no Código Penal Brasileiro,


mas os atos intrínsecos nessas condutas são crimes que se encontram descritos em
sua parte especial. O título I, em seu capítulo I trata dos crimes contra a vida da
pessoa humana, no caso mais extremo, as práticas de bullying e cyberbullying podem
levar a vítima ao suicídio, caracterizando aqui o crime de induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio e em outro extremo pode a vítima vir a cometer o homicídio de seu
opressor ou opressores.

Já o capítulo II do mesmo título prevê os crimes contra a integridade física da pessoa


humana, classificando graus de lesão corporal imprimida contra a vítima, outro ato
visível nas práticas abordadas no presente estudo.

O diploma legal cuida ainda em seu capítulo V dos crimes contra a honra da pessoa
humana caracterizados como calúnia, difamação e injúria. Ainda, em seu capítulo VI,
prevê os crimes que ferem a liberdade individual da pessoa humana, compreendidos o
constrangimento ilegal e a ameaça.

Em uma breve análise, chega-se a conclusão de que é incontestável que todos os


atos tipificados na lei penal brasileira como crime estão presentes nas práticas de
bullying e cyberbullying. Sendo assim, é possível considerar que quem os pratica
comete vários crimes, tão logo estigmatizado de delinquente, agressor, e em casos
mais graves, até mesmo de criminoso.

Cumpre salientar, porém, que embora o bullying e o cyberbullying sejam práticas


delituosas que alcançam o universo dos adultos é reconhecido que a maior incidência
dessas práticas acontece irrefutavelmente no ambiente escolar, envolvendo em ambos
os lados pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, ou seja, geralmente
vítima e agressor tem a mesma idade.

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Educadora e uma das pioneiras nos estudos do bullying, Cleo Fante, através de
pesquisas realizadas pelo professor Dan Olweus, considera que:

É grande a relação entre o bullying e a criminalidade. Acompanhando o


desenvolvimento de um grupo de alunos, com idades compreendidas entre 12 e
16 anos, que foram identificados como agressores no fenômeno bullying, o
pesquisador constatou que a 60% deles havia sido imputada uma condenação
legal antes que completassem 24 anos de idade.

Diante desse panorama em que vítima e infrator são coetâneos – normalmente


participantes do mesmo círculo social como é o caso do ambiente escolar – sob a
condicionante de serem penalmente inimputáveis e, especialmente por estarem em
desenvolvimento psíquico, físico e intelectual, tem-se nesses casos o dever de
aplicação de tratamentos diferenciados dos impostos aos adultos. Dentro de tais
circunstâncias, Zaffaroni conclui que:

As medidas que se aplicam aos menores que realizam condutas típicas não são
penas. A pena tem por objetivo a prevenção especial, como meio de prover a tutela
dos bens jurídicos. De sua parte, o direito penal do menor pretende tutelar, em
primeiro lugar, o próprio menor. O direito penal do menor pretende ter caráter tutelar
porque o menor é um ser humano em inferioridade de condições, devido a seu
incompleto desenvolvimento físico, intelectual e afetivo. Trata-se, pois, de um direito
que aspira a ser “formador” do homem.”

Desse modo, visando a aplicação de um tratamento diverso, que vá de encontro à


proteção das crianças e adolescentes envolvidos nos casos de bullying e
cyberbullying, crucial a utilização de legislação especial, como é o caso do Estatuto da
Criança e do Adolescente e da Lei de combate ao bullying, nº 13.185/2015, discorridas
a seguir.

1.2 Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Toda criança e adolescente, sem distinção, goza de direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana. Esses direitos foram instituídos na Constituição Federal de 1988 e
prevê que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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À luz da Carta Magna surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Criado em julho


de 1990, o “ECA”, como é comumente conhecido, preconiza que todas as crianças e
os adolescentes gozam de direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
qualquer prejuízo ou discriminação.

O referido Estatuto preza pela proteção integral da criança e do adolescente e,


quando se fala em integralidade, compreende-se que mesmo quando a criança ou o
adolescente cometem atos contrários à lei devem ser resguardados, com seus direitos
assegurados.

Cumpre destacar que essa proteção tem fundamento Constitucional e doutrinário.


Para tanto, é necessário retornar rapidamente na história.

Em 1926, foi publicado no Brasil o primeiro Código de Menores (Decreto nº 5.083),


qual cuidava dos menores em situação de abandono. Sem embargo, um ano depois
foi substituído pelo Decreto nº 17.943-A, conhecido como Código Mello Mattos. O
referido código previa que o destino dos menores deveria ser decidido pelo juiz,
nascendo assim, uma lei protecionista, porém, centralizadora.

Em 1943, no entanto, foi instituída uma Comissão Revisora do Código Mello Mattos,
que após análise percebeu que era necessário formatar um código misto, voltado aos
aspectos jurídicos e sociais. O projeto foi influenciado pelos movimentos pós Segunda
Guerra Mundial, que em prol dos Direitos Humanos, levou a ONU a publicar, entre
outros, a Declaração dos Direitos da Criança, cuja evolução originou a doutrina da
Proteção Integral, insculpida no artigo 227 da nossa Constituição Federal vigente.

Segundo Andréa Amin:

Podemos entender que a doutrina da proteção integral é formada por um


conjunto de enunciados lógicos, que exprimem um valor ético maior,
organizada por meio de normas independentes que reconhecem criança e
adolescente como sujeitos de direito.

Destarte, a Constituição de 1988, instituída sob o Estado Democrático de Direito,


fundada no princípio da Dignidade da Pessoa Humana, trouxe a criança e o
adolescente para o centro de suas atenções.

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Para assegurar tal garantia, a lei aplica Medidas de Proteção que levam em conta
suas necessidades pedagógicas, visando o fortalecimento do seu vínculo familiar e
comunitário, fomentando a prioritária proteção dos direitos de que crianças e
adolescentes são titulares.

Dentre as medidas estabelecidas no “ECA”, há prerrogativa às autoridades


competentes de determinarem que seja encaminhada aos pais, a criança e o
adolescente que vier a cometer qualquer ato contrário à lei e que coloque em risco
sua própria segurança e integridade ou de seus pares; determinar a inclusão destes
em programas de apoio; acompanhamento temporário ou mesmo em programas
oficiais de promoção da família, da criança e do adolescente.

Nos casos mais graves, a lei sublinha como Prática de Ato Infracional “toda conduta
descrita como crime ou contravenção penal” e para tais atos, as determinações são
para aplicação de Medidas Socioeducativas que vão de advertência à internação em
estabelecimento socioeducacional. O Estatuto da Criança e do Adolescente,
entretanto, é claro ao determinar que a intervenção estatal, por intermédio das
autoridades competentes deve ser determinada ante a supremacia do interesse
superior da criança e do adolescente, atendendo prioritariamente seus direitos.

Cabe ressaltar que à época da constituição do Estatuto da Criança e do Adolescente,


em 1990, as práticas de bullying e cyberbullying eram pouco ou quase nada
difundidas no Brasil. Como já mencionado anteriormente, eram atos tratados
erroneamente como “brincadeira de criança”. Porém, com o avanço social e
tecnológico que permitiu a entrada da internet em toda a sociedade e,
consequentemente com o aumento da violência nas escolas de todo o mundo, essas
práticas passaram a ser melhor observadas e tem despertado o interesse de
especialistas em comportamento humano e social como psicólogos, sociólogos e
pedagogos, profissionais que lidam diretamente com a educação e os conflitos
comportamentais vivenciados na sociedade.

A comunidade jurídica brasileira tem explorado o assunto com certa timidez, pois
muitos são os imbróglios que envolvem essa prática. Apesar disso, é visível o
despertamento para os seus aspectos jurídicos e o entendimento de que se trata de
um problema social, pois deriva de atos humanos, além de que, já é considerado pela
comunidade internacional como problema de saúde pública. Desse modo, na busca
por combatê-lo foi sancionada a lei de combate à intimidação sistemática (bullying).

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1.3 Lei de combate ao bullying (lei nº 13.185/2015)

Em 06 de novembro de 2015, foi promulgada a Lei nº 13.185 que institui o Programa


de Combate à Intimidação Sistemática (bullying).

Segundo a lei, essa prática de intimidação sistemática se caracteriza pelos atos de


violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação
e, ainda, comentários reiterados e apelidos pejorativos, ameaças por quaisquer
meios, expressões preconceituosas, isolamento social consciente e premeditado,
entre outros atos que causem sofrimento e angústia à vítima.

Neste enfoque, a Lei conceitua bullying e cyberbullying do seguinte modo:


Artigo 1º, §1º. “No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação
sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e
repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo,
contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando
dor e angústia à vitima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes
envolvidas. ”

Artigo 2º, parágrafo único. “Há intimidação sistemática na rede mundial de


computadores (cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são
próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o
intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.”

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Embora o bullying seja uma prática que atinge a sociedade de uma forma geral,
maior incidência é percebida na comunidade escolar entre crianças e adolescentes.

Em atenção a essa particularidade, o legislador pensou a referida lei como forma


de regulamentar legalmente o combate a essas condutas propondo a utilização de
ações educativas e pedagógicas como maneira de conscientizar crianças,
adolescentes, comunidade escolar e toda a sociedade de que as práticas de
bullying e cyberbullying são atos de violência e devem ser combatidos.

O objetivo da lei é a criação de programas que visem o combate a essas práticas


em toda a sociedade assegurando o envolvimento de todos, inclusive das vítimas e
dos agressores, bem como de seus familiares e as comunidades a que estes
pertencem.

Nessa mesma linha, foram promulgadas ainda, a Lei nº 13.277/2016 que institui o
dia 7 de abril como o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola.
A data simboliza o trágico massacre ocorrido no dia 07 de abril em escola de
Realengo, no Rio de Janeiro. Em 2018, foi sancionada a Lei nº 13.663/2018, que
tem como objetivo a promoção de medidas de conscientização, prevenção e
combate a todos os tipos de violência nas escolas, especialmente o bullying.

É palpável o aumento dos esforços despendidos pela comunidade social,


pedagógica e jurídica que juntas visam o combate a estas práticas de forma
educativa. E quando se fala em combate às práticas de bullying e cyberbullying de
forma educativa e pedagógica, entende-se pela responsabilização consciente dos
agressores, que ocorre de maneira contrária à punição; a valorização da vítima
buscando, tanto quanto, for possível o restabelecimento do seu status quo e;
consequentemente, a restauração das relações afetadas no caso concreto.

É nesta proposta que se apresenta como alternativa eficaz e contínua a prática da


Justiça Restaurativa, a ser aplicada no ambiente escolar de forma multidisciplinar
trazendo para o centro do problema todos os seus envolvidos: vítima, agressor,
suas respectivas famílias e a comunidade em que estão inseridos, bem como a
comunidade escolar e autoridades competentes.

Passemos, pois, a compreensão da proposta da Justiça Restaurativa e a relevância


da sua aplicação no combate às práticas de bullying e cyberbullying nas escolas.

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CAPÍTULO 3
Justiça Restaurativa: um novo olhar sobre o conflito

1.1 Conceito de Justiça Restaurativa e sua origem

O conceito da Justiça Restaurativa é caracterizado pela proposta da participação


ativa de todos os interessados em uma determinada ofensa ou dano: vítima, ofensor,
suas respectivas famílias e a comunidade a que pertencem. O intento maior aqui é o
de criar espaço para o diálogo e a compreensão mútua, visando com isto a
valorização da vítima e de suas necessidades, bem como a conscientização do
ofensor responsabilizando-o de seus atos, não de forma punitiva, mas, educativa e
socialmente inclusiva.

Howard Zehr, pioneiro nos estudos da Justiça Restaurativa a conceitua da seguinte


forma:

“Justiça Restaurativa é uma abordagem que visa promover justiça


e que envolve, tanto quanto possível, todos aqueles que têm
interesse numa ofensa ou dano específico, num processo que
coletivamente identifica e trata os danos, necessidades e
obrigações decorrentes da ofensa, a fim de restabelecer as pessoas
e endireitar as coisas na medida do possível.”

A Justiça Restaurativa surgiu nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos e
Canadá num impulso de corrigir algumas das fraquezas existentes no tradicional
sistema jurídico criminal ocidental e, ao mesmo tempo, apropriar-se de suas
qualidades para construir uma justiça equilibrada, comprometida com as necessidades
da vítima e a responsabilização do ofensor.

Essa estrutura nasceu da necessidade e do esforço de se repensar as necessidades


que o crime reproduz e o papel de seus envolvidos no ato lesivo, pois diferentemente
do sistema tradicional de justiça penal, que com olhar retributivo busca o equilíbrio das
coisas através da punição do infrator, a Justiça Restaurativa busca equilibrar as coisas
trazendo para o centro da discussão todos os afetados pelo crime cometido e os
danos por ele causados, quais sejam, vítima, ofensor e a comunidade em que vivem.

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Reportando-nos mais uma vez às palavras de Zehr:

“A Justiça Restaurativa expande o círculo dos interessados no processo (aqueles que


foram afetados ou têm uma posição em relação ao evento ou caso) ampliando-o para
além do Estado e do ofensor a fim de incluir também aqueles diretamente vitimados e
os membros da comunidade.“

Com essa expansão, a Justiça Restaurativa tem por finalidade ressignificar a forma
como o crime é visto – como uma chaga que viola pessoas e relacionamentos –
assim como, o papel de todos os seus envolvidos.

Neste sentido, Zehr explica o crime como:

“uma violação de pessoas e relacionamentos. Ele cria a obrigação de corrigir os erros.”

1.2 Princípios Fundamentais da Justiça Restaurativa

A Justiça Restaurativa é uma abordagem que busca promover a responsabilização, o


diálogo e a reparação em casos de conflito ou violência. Essa abordagem se baseia
em princípios fundamentais que são essenciais para sua eficácia.

Um dos princípios fundamentais da Justiça Restaurativa é a responsabilização. Isso


significa que os envolvidos no conflito devem ser responsabilizados por seus atos.
No contexto do bullying, isso implica na conscientização dos agressores, de que eles
devem assumir a responsabilidade por seu comportamento prejudicial e entender o
impacto negativo que causaram na vítima.

Outro princípio importante é o diálogo. Através do diálogo, as partes envolvidas no


conflito têm a oportunidade de expressar seus sentimentos, necessidades e
preocupações. O diálogo também permite que as vítimas sejam ouvidas e tenham
sua voz valorizada. Ao promover o diálogo entre agressores e vítimas, a Justiça
Restaurativa busca criar um espaço seguro para que ambas as partes possam
compartilhar suas perspectivas e trabalhar juntas para encontrar soluções.

Além disso, a reparação é outro princípio fundamental da Justiça Restaurativa. A


reparação envolve tomar medidas concretas para corrigir o dano causado pelo
bullying. Isso pode incluir pedidos de desculpas sinceros e compensações materiais.

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A aplicação desses princípios fundamentais da Justiça Restaurativa no combate


ao bullying pode ter um impacto significativo, uma vez que sua abordagem prioriza
a conscientização e a responsabilização.

Diferentemente do sistema tradicional de justiça penal, que com olhar retributivo


busca o equilíbrio das coisas através da punição do infrator, a Justiça Restaurativa
busca equilibrar as coisas trazendo para o centro da discussão todos os afetados
pelo crime cometido e os danos por ele causados, quais sejam, vítima, ofensor e a
comunidade em que vivem.

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1.3 O que se busca com a Justiça Restaurativa

A Justiça Restaurativa, envolve vítima, ofensor e comunidade no esforço conjunto de


buscar soluções para a reparação do dano, a restauração das relações e segurança
para todos.

Cura para as vítimas, num Oportunidade ao ofensor de

X
senso de recuperação, corrigir seus atos fazendo a
numa forma de fechar o coisa certa, estimulando-o à
ciclo. A vítima deveria reparação do dano por ele
voltar a sentir que a vida causado à vítima e à
faz sentido e que ela está comunidade afetada.
segura e no controle.

O escopo central da Justiça Restaurativa é “acertar as coisas”. Para isto, é


necessário definir e separar os pontos principais envoltos nessa busca. O primeiro
deles é o da valorização e o empoderamento da vítima, mantendo o foco em seus
direitos e necessidades, tencionando a cura desta.

Quando uma pessoa sofre um ato de violência, se sente fragilizada, sem controle de
sua propriedade, do seu eu, de sua dignidade, enfim, se sente sem controle da
própria vida. Neste caso, a “cura” aqui explicitada não significa que o seu status quo
retornará ao seu estado perfeito, entretanto, dará a vítima um olhar de esperança
trazendo a ela um novo sentido, uma nova perspectiva.

O segundo ponto, e não menos importante, é dar ao ofensor a oportunidade de


corrigir seus atos fazendo a coisa certa, estimulando-o à reparação do dano por ele
causado à vítima e à comunidade afetada. Isso implica em uma responsabilização
consciente e não apenas em sua punição.

"O ofensor deveria ser incentivado a mudar. Ele ou ela deveriam


receber a liberdade de começar a vida de novo. A cura abarca um
senso de recuperação e esperança em relação ao futuro."

Roward Zehr

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CAPÍTULO 4
A Relevância da Justiça Restaurativa e estratégias para a sua
implementação nas escolas

1.1 Envolvimento de todos os membros da comunidade escolar

Alcançada a compreensão de que a Justiça Restaurativa nasceu a partir de limitações


da justiça criminal, que não raro, causa nas vítimas, nos ofensores e na própria
sociedade a sensação de que suas reais necessidades não são efetivamente
atendidas, cumpre adentrar agora na sua importância para o combate do bullying e do
cyberbullying.

Atualmente, suas práticas têm sido utilizadas por algumas comunidades na aplicação
de crimes mais violentos como agressão, estupro, morte causada por embriaguez ao
volante e mesmo homicídio. No entanto, a Justiça Restaurativa está ultrapassando os
limites do sistema criminal, alcançando escolas, universidades e instituições religiosas.

Nas últimas décadas, o bullying tem sido um tema bastante discutido e preocupante
entre os educadores ao redor do mundo. Em vários países, esses profissionais, com o
apoio de instituições públicas e privadas, trabalham pelo desenvolvimento de
programas que visam o combate e a intervenção deste mal que aflige muitos
estudantes desde a tenra idade.

No Brasil, o tema violência tem sido alvo de grande preocupação entre a comunidade
educacional que tem se mobilizado para a criação de projetos e programas
tencionando a diminuição da violência explícita, no entanto, poucos são os programas
que incluam o bullying em discussão nas escolas.

É de suma importância a implantação de um programa de combate e intervenção ao


bullying nas escolas. Contrapartida, sua implementação deve trazer a toda
comunidade escolar a conscientização da gravidade do problema.

Nesse aspecto, a premissa da Justiça Restaurativa é de grande valia: qual seja, “a


única forma de obtenção de sucesso na redução do bullying é a cooperação de
todos os envolvidos: alunos, professores, gestores e pais.”

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A obrigação primária de corrigir as coisas No entanto, o que torna a aplicação da


é de quem causou o dano, porém, a Justiça Restaurativa no contexto escolar
comunidade pode exercer um papel uma estratégia eficaz para combater o
importante, responsabilizando-se pela bullying é a sua abordagem, que envolve
vítima – ajudando no seu processo de toda a comunidade escolar - alunos,
cura – e, pelo próprio ofensor, auxiliando- pais, professores e funcionários - na
o para que logre êxito no cumprimento de resolução dos conflitos e na promoção
suas obrigações. de um ambiente seguro e acolhedor.

O envolvimento de todos os membros da comunidade escolar é essencial para


implementar com sucesso a justiça restaurativa nas escolas. Isso inclui alunos, pais,
professores e funcionários, todos desempenhando um papel ativo na promoção de um
ambiente escolar seguro e acolhedor.

“É crucial que todos os membros da comunidade escolar


estejam alinhados e comprometidos com a
implementação da Justiça Restaurativa.”

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Os alunos são os principais beneficiários da Justiça Restaurativa, pois são eles que
muitas vezes sofrem com o bullying. É importante envolvê-los no processo desde o
início, dando-lhes voz e espaço para expressarem suas preocupações e
experiências. Isso pode ser feito por meio de círculos restaurativos, onde os alunos
têm a oportunidade de compartilhar suas histórias e ouvir as perspectivas dos outros.
Esses círculos promovem a empatia e ajudam a construir relacionamentos saudáveis
entre os estudantes.

Os professores, por sua vez, são fundamentais na implementação da justiça


restaurativa nas escolas. Eles devem receber treinamento adequado sobre essa
abordagem e como aplicá-la em sala de aula. Os educadores podem incorporar
práticas restaurativas em sua rotina diária, como círculos de paz ou reuniões de
classe para resolver conflitos. Eles também devem estar atentos aos sinais de
bullying e agir prontamente para intervir e apoiar as vítimas.

Os funcionários da escola, como diretores, orientadores e assistentes sociais


também têm um papel importante a desempenhar na implementação da justiça
restaurativa. Eles podem fornecer suporte emocional às vítimas de bullying, ajudá-las
a lidar com as consequências do bullying e encaminhá-las para os recursos
adequados. Além disso, os funcionários da escola podem trabalhar em estreita
colaboração com os educadores para desenvolver políticas e procedimentos que
promovam a Justiça Restaurativa.

Os pais também desempenham um papel crucial na implementação da Justiça


Restaurativa nas escolas. Eles devem ser informados sobre o conceito e os
benefícios dessa abordagem, para que possam apoiar seus filhos nesse processo.
Os pais podem participar de reuniões escolares, workshops ou grupos de discussão
para aprender mais sobre a Justiça Restaurativa e como aplicá-la em casa,
desempenhando também o papel de colaboradores na criação de estratégias contra
o bullying.

Todos devem entender que o bullying é inaceitável e que têm um papel essencial a
desempenhar na prevenção e no combate a essa forma de violência.

Desse modo, a participação direta e ativa dos cidadãos fortalece a comunidade, pois
cria-se assim, um novo olhar sobre a vítima, o ofensor e o fato, dando a cada
interessado a oportunidade de entender as necessidades de ambos, bem como os
motivos que ocasionaram o dano.

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“A Justiça Restaurativa, envolve vítima, ofensor e


comunidade no esforço conjunto de buscar soluções
para a reparação do dano, a restauração das relações
e segurança para todos.”

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1.2 Responsabilidade dos envolvidos nas práticas de bullying

A responsabilização dos envolvidos no bullying é uma parte fundamental da Justiça


Restaurativa nas escolas. Em vez de simplesmente punir os agressores, essa
abordagem busca promover a conscientização sobre as consequências de suas ações
e incentivá-los a assumir responsabilidade por seu comportamento.

Uma forma eficaz de promover essa responsabilização é a prática de círculos


restaurativos. Nesses círculos, as vítimas, os agressores e outros membros da
comunidade escolar se reúnem para discutir o incidente de forma segura e respeitosa.
O objetivo é permitir que todos expressem seus sentimentos, compartilhem suas
perspectivas e trabalhem juntos para encontrar soluções.

Durante esses círculos, os agressores são incentivados a refletir sobre suas ações e
a considerar o impacto negativo que causaram nas vítimas. Eles são convidados a
assumir a responsabilidade pelo seu comportamento e a tomar medidas para reparar o
dano causado. Isso pode incluir pedir desculpas sinceras, restituições por danos
materiais causados e até mesmo participar de programas de educação sobre bullying.

"Os círculos restaurativos são uma forma eficaz de


trazer ao ofensor o senso de responsabilidade
pelos atos cometidos."

Além disso, é importante envolver os pais dos agressores nesse processo de


responsabilização. Os pais devem ser informados sobre o comportamento de seus
filhos e incentivados a apoiá-los na mudança de atitude. Eles podem ser
convidados a participar de sessões individuais ou em grupo com outros pais para
discutir estratégias eficazes para lidar com o bullying.

A responsabilização também deve se estender à comunidade escolar como um


todo. Todos devem considerar sua responsabilidade coletiva em criar um ambiente
seguro e acolhedor.

Isso significa que todos devem estar dispostos a intervir quando testemunharem
casos de bullying, relatarem incidentes às autoridades competentes e apoiarem as
vítimas.

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"Todos devem considerar sua responsabilidade coletiva


em criar um ambiente seguro e acolhedor"

1.3 O diálogo como ferramenta de transformação

O diálogo é uma ferramenta poderosa para promover a transformação na Justiça


Restaurativa. Ele permite que as vítimas sejam ouvidas, que os agressores assumam
a responsabilidade por suas ações e que todos trabalhem juntos para encontrar
soluções.

A comunicação expressa pelo diálogo é essencial para construir empatia e


compreensão entre as partes envolvidas no bullying. Ela permite que as vítimas
expressem seus sentimentos, compartilhem suas experiências e se sintam validadas.
Ao mesmo tempo, dá aos agressores a oportunidade de ouvir o impacto de suas
ações nas vítimas e refletir sobre seu comportamento.

As partes podem trabalhar juntas para encontrar soluções criativas e construtivas


para lidar com o bullying. Isso pode incluir a criação de programas de conscientização
sobre o bullying, a implementação de medidas preventivas, como campanhas
educativas ou grupos de apoio, ou até mesmo a realização de atividades acessórias
como projetos voluntários ou comunitários.

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"O diálogo é parte fundamental da Justiça


Restaurativa"

É importante ressaltar que o diálogo e os componentes não são processos


lineares. Eles bloqueiam o tempo, a paciência e o comprometimento de todas as
partes envolvidas. No entanto, quando implementadas de forma eficaz, elas podem
levar a uma transformação positiva tanto para as vítimas quanto para os
agressores.

O envolvimento de todos os membros da comunidade escolar, a responsabilização


dos envolvidos no bullying e o uso do diálogo e das ações acessórias como
ferramentas de transformação são elementos essenciais para implementar com
sucesso a Justiça Restaurativa nas escolas.

O diálogo é a
ferramenta de
transformação
mais importante
do ser humano.

Essa abordagem não apenas ajuda a lidar com casos individuais de bullying, mas
também promove uma cultura escolar mais inclusiva, empática e respeitosa. Ao
adotar a Justiça Restaurativa, podemos trabalhar juntos para criar um ambiente
seguro e acolhedor para toda comunidade escolar.

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CAPÍTULO 5
Combatendo o bullying e criando um ambiente escolar
seguro

1.1 Educação com valores voltados a promoção de uma cultura de


paz

A educação voltada à valores e à promoção da empatia é fundamental para prevenir


o bullying e criar um ambiente seguro na escola. Essas abordagens visam
desenvolver nos alunos habilidades sociais, emocionais e éticas que os ajudarão a se
relacionar de forma saudável com os outros.

Em suma, são estratégias fundamentais para prevenir, não apenas o bullying e o


cyberbullying, mas todos os tipos de violência no ambiente escolar, criando um local
seguro e desejável de se estar.

Uma maneira eficaz de promover a educação voltada para um ambiente de paz é a


implementação de programas de educação socioemocional nas escolas. Esses
programas fornecem aos alunos ferramentas para lidar com suas emoções, resolver
conflitos e desenvolver habilidades de comunicação assertiva.

Vale a lembrança da importância de se envolver os pais nesse processo educacional.


Os pais desempenham um papel fundamental na formação dos valores de seus filhos
e podem fortalecer as mensagens transmitidas na escola. É importante que os pais
sejam informados sobre as atividades e programas implementados na escola, para
que possam apoiar e complementar o trabalho realizado pelos professores.

Além disso, é essencial que os professores tenham modelos de comportamento


positivos e empáticos. Eles devem demonstrar empatia com seus alunos, ouvir suas
preocupações e oferecer suporte emocional quando necessário. Os professores
também podem incorporar a educação voltada para a paz em suas aulas, por meio de
discussão sobre ética, respeito e responsabilidade.

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1.2 Criação e desenvolvimento de programas de combate ao


bullying

O desenvolvimento de programas eficazes de combate ao bullying é essencial para


combater o bullying nas escolas. Esses programas devem ser abrangentes,
envolvendo todos os membros da comunidade escolar - alunos, pais, professores e
funcionários.

Estes programas devem começar com a conscientização sobre o problema do


bullying e suas consequências. Os alunos devem ser informados sobre o que é o
bullying, os seus diferentes tipos e como identificar situações de bullying. Isso pode
ser feito por meio de palestras, workshops e atividades educativas.

É importante também ensinar aos alunos estratégias para lidar com o bullying. Eles
devem aprender a se defender de forma assertiva, buscar ajuda quando necessário e
apoiar seus colegas que estão sendo alvo de bullying. A criação de um ambiente
seguro e acolhedor é fundamental. E isso pode ser alcançado por meio da
implementação de políticas claras contra o bullying, que estabelecem as
consequências para os agressores e oferecem suporte às vítimas.

Ressalte-se ainda que os programas de combate ao bullying devem ser adaptados às


necessidades específicas de cada escola. Cada comunidade escolar tem suas
próprias características e desafios, portanto, é essencial que os programas sejam
flexíveis e personalizados.

1.3 O papel da família e da escola no enfrentamento do bullying

Os pais desempenham um papel crucial na prevenção do bullying. Eles devem estar


atentos aos sinais de que seus filhos estão sendo vítimas ou praticando bullying. É
importante que os pais conversem abertamente com seus filhos sobre o tema,
incentivando-os a relatar qualquer situação de bullying que esteja acontecendo.

Além disso, os pais podem apoiar as iniciativas da escola para prevenir o bullying.
Eles podem participar de reuniões escolares, colaborar com os professores e
promover discussões em casa sobre o tema. Os pais são os primeiros responsáveis
por ensinar valores de respeito, empatia e tolerância aos seus filhos, ajudando-os a
desenvolver habilidades sociais saudáveis.

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Os professores também desempenham um papel fundamental na prevenção do


bullying. Eles devem estar atentos às dinâmicas sociais na sala de aula e intervir
prontamente quando identificarem situações de bullying. Eles podem promover
atividades educativas sobre o tema, estimular a empatia entre os alunos e criar um
ambiente inclusivo onde todos se sintam seguros.

Além disso, é importante que eles ofereçam apoio emocional aos alunos que sofrem
com o bullying. Eles devem ouvir suas preocupações, oferecer conselhos e
encaminhá-los para profissionais especializados quando necessário. Afinal, os
professores também trabalham em parceria com os pais, compartilhando informações
e buscando soluções conjuntas para prevenir o bullying.

Por fim, cumpre salientar que as demais equipes pedagógicas e funcionários da


escola também desempenham um papel importante na prevenção do bullying. Eles
devem estar atentos às dinâmicas sociais entre os alunos, observando qualquer
comportamento inadequado ou agressivo. Os funcionários intervirão prontamente
quando identificarem situações de bullying, oferecendo suporte às vítimas e aplicando
as consequências decorrentes dos agressores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reflexões sobre o bullying e o cyberbullying no Brasil e no
mundo

O bullying já é considerado um problema de saúde pública mundial, que acontece


com muito mais frequência no ambiente escolar e afeta em grande maneira crianças e
adolescentes do mundo todo. A partir dessa perspectiva, surgiu então, a necessidade
e a importância de um estudo mais aprofundado acerca dessa problemática.

O avanço da tecnologia e o acesso facilitado das redes levou à evolução do


fenômeno bullying para o cyberbullying, que são os atos reiterados de violência
inseridos no ciberespaço, realizados através de dispositivos móveis e telemáticos.

Além disso, explorou a extensão da repercussão de sua prática no ambiente virtual e


as graves consequências psicológicas que as vítimas carregam ao longo da vida,
acarretando danos, muitas vezes, irreparáveis.

Ante a análise realizada, observa-se a estrita relação do bullying e do cyberbullying


com o crime e restou comprovado que essas práticas, mesmo não sendo tipificadas
no Código Penal Brasileiro são considerados atos atentatórios contra a vida e a
dignidade da pessoa humana, pois tratam-se de ações que violam a honra, a imagem,
a integridade física e psíquica das vítimas.

Foram abordadas também as peculiaridades dos atores dessas práticas, pessoas em


condição de desenvolvimento, aprofundando os aspectos legais a serem impostos a
quem as pratica, sem desconsiderar suas particularidades.

Sendo assim, conclui-se, que a punição não é o melhor caminho para a solução desta
problemática, sendo aplicadas as prerrogativas existentes no Estatuto da Criança e do
Adolescente, bem como lei especial, visando a proteção integral e o interesse maior
da criança e do adolescente.

Desse modo, a aplicabilidade da Justiça Restaurativa como alternativa de prevenção


e combate ao bullying e ao cyberbullying nas escolas, apresenta grande relevância
para esse contexto.

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Pois diferentemente do cenário apresentado na justiça tradicional que se


preocupa com “quais leis foram infringidas” e “por quem”, buscando
consequentemente sua punição, a Justiça Restaurativa se preocupa com os danos
e suas causas. Suas práticas trazem para o centro do problema todos os
envolvidos: vítima, ofensor, suas famílias e a comunidade a que pertencem,
visando assim, a busca conjunta de soluções equânimes para todos.

Desse modo, diante do aumento significativo da violência nas escolas e a grande


quantidade de crianças e adolescentes que tem adoecido emocionalmente devido
às consequências dessa violência, a Justiça Restaurativa propõe a construção de
uma sociedade solidária, acolhedora e cooperativa, com um olhar voltado para a
desconstrução da violência e a construção da paz.

Por fim, é fundamental que as escolas tenham políticas claras e consistentes


contra o bullying. Essas políticas devem ser comunicadas de forma clara a todos
os membros da comunidade educativa e devem incluir procedimentos para
denunciar casos de bullying, investigar denúncias e tomar medidas disciplinares
adequadas.

Promover uma cultura de paz e respeito nas escolas requer um compromisso


contínuo por parte de todos os envolvidos. É um trabalho árduo, mas essencial
para garantir que todas as crianças e adolescentes tenham acesso a uma
educação segura e inclusiva.

Assim, nas palavras do saudoso Nelson Mandela:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela


cor de sua pele, por sua origem ou ainda
pela sua religião. Para odiar, as pessoas
precisam aprender, e se podem aprender a
odiar, elas podem ser ensinadas a amar. ”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SZEHR, Howard. Justiça Restaurativa. Ed. rev. e atual., São Paulo, Palas Athena, 2015.

ZEHR, Howard. Trocando as Lentes: Um novo foco sobre o crime a justiça. São Paulo, Palas
Athena, 2008.
aqui.

RIBEIRO, Thiago de Lima. O Direito aplicado ao cyberbullying: honra e imagem nas redes
sociais. 1ª Ed. Curitiba: Intersaberes, 2013.

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade, Et. al. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: Aspectos teóricos e práticos. 8ª Ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2015, p. 53.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.
7ª Ed. Campinas: Verus, 2012.

ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Fontes, Limites e Relações do Direito Penal. In: Direito penal e
direito do menor. Manual de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 11ª Ed., rev. e atual., São
Paulo, Revista dos Tribunais, 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 65, de 13 de julho de 2010. Altera a


denominação do Capítulo VII do Título VIII da Constituição Federal e modifica o seu art. 227,
para cuidar dos interesses da juventude. República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 julho
2010.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 1940.

BRASIL. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à


Intimidação Sistemática (Bullying). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
6 nov 2015.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobreo Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 13 julho 1990.

CÂMARA LEGISLATIVA. Lei 13.277, de 29 de abril de 2016. Disponível em:


<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2016/lei-13277-29-abril-2016-782955-
publicacaooriginal-150206-pl.html>. Acesso em 29 ago 2018.

SENADO NOTÍCIAS. Disponível em: http://www.ebc.com.br/infantil/2015/07/21-das-criancas-ja-


foram-vitimas-de-agressoes-online-revela-pesquisa>. Acesso em: 01 dez 2023.

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SOBRE A AUTORA

Elisângela Correia da Silveira Fonseca é advogada, inscrita na OAB/PR,


subseção de Curitiba. Pós graduada em Direito de Família e Sucessões, com
atuação especializada em Direito Sucessório. Idealizadora do Projeto
“Falando de Bullying”, realiza palestras em escolas e empresas privadas
desde 2018, levando as consequências jurídicas e psicossociais das práticas
de bullying e cyberbullying. Coautora do artigo “O bullying e os direitos
fundamentais”, publicado pela Revista Boni Juris, Ano 34 #675 ed.
abr/maio2022.

@elisangelacorreia.advogada

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