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RESTAURATIVA
CONTRA O BULLYING
Uma estrutura alternativa para
a solução de conflitos
ELISÂNGELA CORREIA
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ADVOGADA FALANDO DE BULLYING
Sumário
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CAPÍTULO 1
Com origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão, bullying é um
termo que traduz o desejo consciente e deliberado que um indivíduo ou mais têm de
maltratar outra pessoa, colocando-a em situação de tensão, constrangimento e
humilhação.
Alguns países utilizam-se de outros termos para conceituar tais práticas. Sem
tradução em português, o Brasil adotou, então, o termo bullying para conceituar esses
comportamentos.
As primeiras pesquisas sobre bullying foram desenvolvidas em 1970, por Dan Olweus,
professor de Psicologia da Universidade de Bergen, Noruega, que iniciou um projeto
de pesquisas sobre os problemas com o bullying nas escolas. Em 1980, ele
desenvolveu o primeiro estudo científico sobre o tema, ficando conhecido como
pioneiro e fundador da pesquisa sobre os problemas causados pelo bullying.
O bullying pode ocorrer em qualquer contexto social: em casa, entre vizinhos, nas
universidades e até mesmo nos locais de trabalho. Porém, maior incidência desse
fenômeno é reconhecida nas escolas, independentemente de serem públicas ou
particulares.
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Pode-se dizer que isso ocorre porque a escola é um local onde se encontra
grande concentração de crianças e adolescentes e, geralmente é a primeira
comunidade conhecida de uma criança, ou seja, seu primeiro ambiente social fora
do convívio familiar, portanto, é na comunidade escolar que surgem as diferenças
de características físicas, cor, raça, religião, forma de criação e personalidade. A
recusa de aceitação dessas diferenças, sempre notória e abrangente, caracteriza
o início do bullying.
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Durante muito tempo o bullying foi tratado como uma brincadeira, atos inofensivos
praticados por crianças e adolescentes nas escolas, mas com o passar do tempo foi
se observando que não se trata de uma mera brincadeira e sim, uma ofensa ao outro,
à sua dignidade, pois se indivíduos se divertem enquanto outro sofre (por ser o objeto
da diversão), não é brincadeira e sim violência.
Muito comum ainda são as diferenças de ordem religiosa, de cor, raça, opção sexual
ou estilo de vida. Os bullies, como são chamados os que praticam esses atos, agem
de maneira intencional, repetitiva e com o único intuito de ferir e subjugar a vítima,
reduzindo drasticamente sua capacidade de defesa.
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Porém, são sintomas que devem ser observados com cuidado, visto que a atitude
antes tratada como “normal” vai se agravando ao passo que a criança ou adolescente
apresenta o desejo constante de mudar de escola, chega em casa com seus materiais
estragados, livros rasgados, seus pertences subtraídos, roupas rasgadas e até
mesmo com marcas de agressão física pelo corpo.
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É importante destacar que essas estatísticas podem ser ainda maiores, uma vez
que muitos casos não são denunciados ou registrados oficialmente, e ainda, há
muitos profissionais da área da educação que têm dificuldades em reconhecer e
diferenciar o bullying dos demais tipos de violência, o que torna ainda mais
dramática a situação para as vítimas.
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CAPÍTULO 2
O diploma legal cuida ainda em seu capítulo V dos crimes contra a honra da pessoa
humana caracterizados como calúnia, difamação e injúria. Ainda, em seu capítulo VI,
prevê os crimes que ferem a liberdade individual da pessoa humana, compreendidos o
constrangimento ilegal e a ameaça.
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Educadora e uma das pioneiras nos estudos do bullying, Cleo Fante, através de
pesquisas realizadas pelo professor Dan Olweus, considera que:
As medidas que se aplicam aos menores que realizam condutas típicas não são
penas. A pena tem por objetivo a prevenção especial, como meio de prover a tutela
dos bens jurídicos. De sua parte, o direito penal do menor pretende tutelar, em
primeiro lugar, o próprio menor. O direito penal do menor pretende ter caráter tutelar
porque o menor é um ser humano em inferioridade de condições, devido a seu
incompleto desenvolvimento físico, intelectual e afetivo. Trata-se, pois, de um direito
que aspira a ser “formador” do homem.”
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Em 1943, no entanto, foi instituída uma Comissão Revisora do Código Mello Mattos,
que após análise percebeu que era necessário formatar um código misto, voltado aos
aspectos jurídicos e sociais. O projeto foi influenciado pelos movimentos pós Segunda
Guerra Mundial, que em prol dos Direitos Humanos, levou a ONU a publicar, entre
outros, a Declaração dos Direitos da Criança, cuja evolução originou a doutrina da
Proteção Integral, insculpida no artigo 227 da nossa Constituição Federal vigente.
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Para assegurar tal garantia, a lei aplica Medidas de Proteção que levam em conta
suas necessidades pedagógicas, visando o fortalecimento do seu vínculo familiar e
comunitário, fomentando a prioritária proteção dos direitos de que crianças e
adolescentes são titulares.
Nos casos mais graves, a lei sublinha como Prática de Ato Infracional “toda conduta
descrita como crime ou contravenção penal” e para tais atos, as determinações são
para aplicação de Medidas Socioeducativas que vão de advertência à internação em
estabelecimento socioeducacional. O Estatuto da Criança e do Adolescente,
entretanto, é claro ao determinar que a intervenção estatal, por intermédio das
autoridades competentes deve ser determinada ante a supremacia do interesse
superior da criança e do adolescente, atendendo prioritariamente seus direitos.
A comunidade jurídica brasileira tem explorado o assunto com certa timidez, pois
muitos são os imbróglios que envolvem essa prática. Apesar disso, é visível o
despertamento para os seus aspectos jurídicos e o entendimento de que se trata de
um problema social, pois deriva de atos humanos, além de que, já é considerado pela
comunidade internacional como problema de saúde pública. Desse modo, na busca
por combatê-lo foi sancionada a lei de combate à intimidação sistemática (bullying).
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Embora o bullying seja uma prática que atinge a sociedade de uma forma geral,
maior incidência é percebida na comunidade escolar entre crianças e adolescentes.
Nessa mesma linha, foram promulgadas ainda, a Lei nº 13.277/2016 que institui o
dia 7 de abril como o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola.
A data simboliza o trágico massacre ocorrido no dia 07 de abril em escola de
Realengo, no Rio de Janeiro. Em 2018, foi sancionada a Lei nº 13.663/2018, que
tem como objetivo a promoção de medidas de conscientização, prevenção e
combate a todos os tipos de violência nas escolas, especialmente o bullying.
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CAPÍTULO 3
Justiça Restaurativa: um novo olhar sobre o conflito
A Justiça Restaurativa surgiu nas décadas de 1970 e 1980 nos Estados Unidos e
Canadá num impulso de corrigir algumas das fraquezas existentes no tradicional
sistema jurídico criminal ocidental e, ao mesmo tempo, apropriar-se de suas
qualidades para construir uma justiça equilibrada, comprometida com as necessidades
da vítima e a responsabilização do ofensor.
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Com essa expansão, a Justiça Restaurativa tem por finalidade ressignificar a forma
como o crime é visto – como uma chaga que viola pessoas e relacionamentos –
assim como, o papel de todos os seus envolvidos.
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X
senso de recuperação, corrigir seus atos fazendo a
numa forma de fechar o coisa certa, estimulando-o à
ciclo. A vítima deveria reparação do dano por ele
voltar a sentir que a vida causado à vítima e à
faz sentido e que ela está comunidade afetada.
segura e no controle.
Quando uma pessoa sofre um ato de violência, se sente fragilizada, sem controle de
sua propriedade, do seu eu, de sua dignidade, enfim, se sente sem controle da
própria vida. Neste caso, a “cura” aqui explicitada não significa que o seu status quo
retornará ao seu estado perfeito, entretanto, dará a vítima um olhar de esperança
trazendo a ela um novo sentido, uma nova perspectiva.
Roward Zehr
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CAPÍTULO 4
A Relevância da Justiça Restaurativa e estratégias para a sua
implementação nas escolas
Atualmente, suas práticas têm sido utilizadas por algumas comunidades na aplicação
de crimes mais violentos como agressão, estupro, morte causada por embriaguez ao
volante e mesmo homicídio. No entanto, a Justiça Restaurativa está ultrapassando os
limites do sistema criminal, alcançando escolas, universidades e instituições religiosas.
Nas últimas décadas, o bullying tem sido um tema bastante discutido e preocupante
entre os educadores ao redor do mundo. Em vários países, esses profissionais, com o
apoio de instituições públicas e privadas, trabalham pelo desenvolvimento de
programas que visam o combate e a intervenção deste mal que aflige muitos
estudantes desde a tenra idade.
No Brasil, o tema violência tem sido alvo de grande preocupação entre a comunidade
educacional que tem se mobilizado para a criação de projetos e programas
tencionando a diminuição da violência explícita, no entanto, poucos são os programas
que incluam o bullying em discussão nas escolas.
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Os alunos são os principais beneficiários da Justiça Restaurativa, pois são eles que
muitas vezes sofrem com o bullying. É importante envolvê-los no processo desde o
início, dando-lhes voz e espaço para expressarem suas preocupações e
experiências. Isso pode ser feito por meio de círculos restaurativos, onde os alunos
têm a oportunidade de compartilhar suas histórias e ouvir as perspectivas dos outros.
Esses círculos promovem a empatia e ajudam a construir relacionamentos saudáveis
entre os estudantes.
Todos devem entender que o bullying é inaceitável e que têm um papel essencial a
desempenhar na prevenção e no combate a essa forma de violência.
Desse modo, a participação direta e ativa dos cidadãos fortalece a comunidade, pois
cria-se assim, um novo olhar sobre a vítima, o ofensor e o fato, dando a cada
interessado a oportunidade de entender as necessidades de ambos, bem como os
motivos que ocasionaram o dano.
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Durante esses círculos, os agressores são incentivados a refletir sobre suas ações e
a considerar o impacto negativo que causaram nas vítimas. Eles são convidados a
assumir a responsabilidade pelo seu comportamento e a tomar medidas para reparar o
dano causado. Isso pode incluir pedir desculpas sinceras, restituições por danos
materiais causados e até mesmo participar de programas de educação sobre bullying.
Isso significa que todos devem estar dispostos a intervir quando testemunharem
casos de bullying, relatarem incidentes às autoridades competentes e apoiarem as
vítimas.
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O diálogo é a
ferramenta de
transformação
mais importante
do ser humano.
Essa abordagem não apenas ajuda a lidar com casos individuais de bullying, mas
também promove uma cultura escolar mais inclusiva, empática e respeitosa. Ao
adotar a Justiça Restaurativa, podemos trabalhar juntos para criar um ambiente
seguro e acolhedor para toda comunidade escolar.
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CAPÍTULO 5
Combatendo o bullying e criando um ambiente escolar
seguro
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É importante também ensinar aos alunos estratégias para lidar com o bullying. Eles
devem aprender a se defender de forma assertiva, buscar ajuda quando necessário e
apoiar seus colegas que estão sendo alvo de bullying. A criação de um ambiente
seguro e acolhedor é fundamental. E isso pode ser alcançado por meio da
implementação de políticas claras contra o bullying, que estabelecem as
consequências para os agressores e oferecem suporte às vítimas.
Além disso, os pais podem apoiar as iniciativas da escola para prevenir o bullying.
Eles podem participar de reuniões escolares, colaborar com os professores e
promover discussões em casa sobre o tema. Os pais são os primeiros responsáveis
por ensinar valores de respeito, empatia e tolerância aos seus filhos, ajudando-os a
desenvolver habilidades sociais saudáveis.
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Além disso, é importante que eles ofereçam apoio emocional aos alunos que sofrem
com o bullying. Eles devem ouvir suas preocupações, oferecer conselhos e
encaminhá-los para profissionais especializados quando necessário. Afinal, os
professores também trabalham em parceria com os pais, compartilhando informações
e buscando soluções conjuntas para prevenir o bullying.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reflexões sobre o bullying e o cyberbullying no Brasil e no
mundo
Sendo assim, conclui-se, que a punição não é o melhor caminho para a solução desta
problemática, sendo aplicadas as prerrogativas existentes no Estatuto da Criança e do
Adolescente, bem como lei especial, visando a proteção integral e o interesse maior
da criança e do adolescente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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aqui.
RIBEIRO, Thiago de Lima. O Direito aplicado ao cyberbullying: honra e imagem nas redes
sociais. 1ª Ed. Curitiba: Intersaberes, 2013.
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade, Et. al. Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: Aspectos teóricos e práticos. 8ª Ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2015, p. 53.
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.
7ª Ed. Campinas: Verus, 2012.
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direito do menor. Manual de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 11ª Ed., rev. e atual., São
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BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 1940.
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