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Delton Ricardo Soares Meirelles
Giselle Picorelli Yacoub Marques
Fabiana Alves Mascarenhas
Valter Eduardo Bonanni Nunes
(organizadores)
Série
Mediação e seus desdobramentos
na contemporaneidade
1ª edição
Niterói
2013
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Comissão Científica
Fabiana Marion Spengler (UNISC) Gilvan Luiz Hansen (UFF)
Humberto Dalla B. de Pinho (UERJ/UNESA) Delton Ricardo Soares Meirelles (UFF)
Comissão Executiva
Giselle P. Yacoub Marques (PPGSD/UFF) Gabriel Lima de Almeida (UFF)
Juliana Barbosa Torres (PPGSD/UFF) Vitor Cadorin (PPGSD/UFF)
Tânia Márcia Kale (PPGSD/UFF) Fabiana Alves Mascarenhas (PPGSD/UFF)
Solange Machado Blanco (UFF) Esther Benayon Yagodnik (PPGSD/UFF)
Francis Noblat (PPGSD/UFF) Mariana Paganote Dornellas (UFF)
Apoio
CDD 341.46
ii
AGRADECIMENTOS
iii
financiamento de alguns pesquisadores participantes do seminário. Deixamos
registrado nosso agradecimento.
Aos professores e alunos, membros das comissões científicas e
organizadora, e todos os participantes do evento, agradecemos pelo empenho e
colaboração essenciais à realização e sucesso deste trabalho.
iv
APRESENTAÇÃO
v
ÍNDICE
1
A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL NO NÚCLEO DE PRÁ-
TICA JURÍDICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ATRAVÉS
DA EXTENSÃO ACADÊMICA 136
Esther Benayon Yagodnik
Cristiana Vianna Veras
2
PSICANÁLISE: UM RECURSO PARA A MEDIAÇÃO?*
Flávia Gallo
Isabela Dantas
Julio Mafra
Lia Amorim
De nos Antecedents
*
Este artigo contou com a colaboração de Ana Lúcia Ligiero, Fátima Tremura, Olga Almeida e Regina Guariglia.
1
Escola Letra Freudiana fundada em 20/08/1981 a partir do desejo de trabalhar a letra de Freud e de Lacan,
articulando uma prática a um saber textual.
3
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
2
AMORIM, Lia et al., “Mediação e Psicanálise” in Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro – Doutrina e Jurisprudência, Rio de Janeiro: Ed. Espaço Jurídico, 2012, p. 391/394.
3
Jornada 2011 – Ética e Psicanálise: Efeitos D’Escola, realizada pela Escola Letra Freudiana nos dias 03 e
04/12/12, no South American Copacabana Hotel.
4
MAFRA, Julio et al., “Escansão na Mediação – Fala, Conflito, Escuta”, apresentado na Jornada de 2012 da
Escola Letra Freudiana. Publicação aprovada na edição de 2013 da Revista da Escola.
5
Jornada 2012 – Dimensões da Causa na Psicanálise: Ética e Política, realizada pela Escola Letra Freudiana nos
dias 07 e 08/12/12, no South American Copacabana Hotel.
4
PSICANÁLISE: UM RECURSO PARA A MEDIAÇÃO?
FLÁVIA GALLO
ISABELA DANTAS
JULIO MAFRA
LIA AMORIM
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A Mediação adotada pelo TJRJ segue o modelo Tradicional-Linear de Harvard, que estabelece cinco estágios no
procedimento de mediação. Essa teoria fundamenta-se na mediação “passiva”, onde não existe intervenção direta
do mediador, que apenas exerce o papel de facilitador do diálogo entre as partes litigantes. O modelo de Harvard
prevê a utilização de técnicas para se alcançar o objetivo principal da mediação que, neste caso, é a construção de
um acordo.
7
O modelo transformativo situa o acordo como uma possibilidade, trabalhando os interesses e as necessidades
das partes, o que viabiliza a restauração dos laços afetivos e uma efetiva mudança subjetiva a posteriori. Esse
modelo não valoriza as posições cristalizadas na demanda, mas o conflito, privilegiando o aspecto emocional,
afetivo, financeiro, psicológico e legal, inclusive.
8
A versão original do Projeto de Lei trazia a exigência de que o mediador fosse inscrito nos quadros da OAB. No
entanto, com o Relatório e o Substitutivo apresentados em 24/10/10, prevaleceu o entendimento no sentido de
dispensar este requisito.
5
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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PSICANÁLISE: UM RECURSO PARA A MEDIAÇÃO?
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ISABELA DANTAS
JULIO MAFRA
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Quando se inaugura o século XXI, os psicanalistas, reunidos na Sorbonne, no ano 2000, nos Estados Gerais da
Psicanálise (2003), reafirmam as posições freudianas ao defender “a autonomia de sua disciplina em relação a
todas as formas de psicoterapia hoje praticadas” e “sua independência em relação aos poderes públicos e a uma
regulamentação pelo Estado, seja ela qual for, e mesmo que pelo viés das psicoterapias ditas relacionais”.
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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Para Michel Foucault, “o sexo em Sade é sem norma, sem regra intrínseca que possa ser formulada a partir de
sua própria natureza; mas é submetido à lei ilimitada de um poder que, quanto a ele, só conhece sua própria lei
[...]”.
8
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ISABELA DANTAS
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Não precisamos lutar fisicamente contra o governo, mas sim não apoiá-lo, nem
deixar que ele o apóie estando você contra ele. [...] Deixemos que cada homem
faça saber que tipo de governo mereceria seu respeito e este já seria um passo na
direção de obtê-lo. (THOREAU, 2011)
11
Extimidade é a modulação que faz Lacan ao incluir o Real no Simbólico – o que chamou de “Realmente
simbólico”, lugar da mentira e da ilusão – e ao trazer o Simbólico para dentro do Real – o que chamou de
“Simbolicamente real”, lugar da angústia que, ao contrário da mentira, não engana. Assim, tanto no Real, quanto
no Simbólico há um elemento excluído, mas que, entretanto, está dentro. A extimidade é a modulação que torna
interna essa exclusão, uma intimidade exterior.
12
Gujarati é a língua que Ghandi acreditava poder tornar-se a língua oficial da Índia.
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
III. Utopias
[...] a ordem da escola não é constituída para lhes permitir tocar punheta nas
melhores condições. Penso, contudo, que olhos de analistas podem decifrar o que
percorre um certo campo de sonho que chamam, isso é significativo, de utopia.
Tomem, por exemplo, Fourier [...]. Ele nos mostra suficientemente a que distância
o que se chama de progresso social se situa em relação ao que quer que seja que
seria feito na perspectiva, não digo de abrir todas as comportas, mas simplesmente
de pensar uma ordem coletiva qualquer em função da satisfação dos desejos.
(LACAN, 1960).
Fourier propõe uma nova ordem para a civilização [...]. Ele avalia as forças em
presença na realidade física e revela, no fim, Tanatos como razão e motor do viver
do homem, entre a primeira e a segunda morte. [...] ‘Ela é exigência radical para
demonstrar a carceralidade do desejo, a incomunicabilidade das almas em refutar a
lei’. Demonstrar e refutar, talvez esteja aí a paixão da qual Freud fica mais livre”.
(PERRIER, 1978)
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[...] que demanda move o sujeito que chega à mediação grávido de afetos?
Objetivamente, é a demanda de que o outro, no caso, o Judiciário, resolva seu
conflito, ou seja, ele acredita em um saber sobre seu direito. O mediador ao dizer
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
‘não sou juiz, nada sei do litígio’ [...] desconstrói a demanda inicial e lança a
pergunta: Che vuoi?”. (MAFRA, 2012)
Assim, podemos pensar que uma mediação bem sucedida seria, talvez,
aquela que tivesse por consequência uma passagem de um “implicar com” a um
“implicar-se”, ou seja, da implicância à implicação. E para isso não há regra.
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FLÁVIA GALLO
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O NÚCLEO DE MEDIAÇÃO E PESQUISA DE RIO DAS
PEDRAS: A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO
EXTRAJUDICIAL COMO MEIO DE ADMINISTRAÇÃO DE
CONFLITOS EM UMA FAVELA CARIOCA
1
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a terminologia aglomerados subnormais
abrange as diversas formas de ocupação do solo de forma: ilegal, fora dos padrões urbanos ou com precária oferta
de serviços públicos.
2
Apesar da falta de infraestrutura e do crescimento desordenado destas áreas o IBGE não as considera como
aglomerados subnormais, supostamente pelo fato de serem áreas inicialmente cedidas pela Prefeitura através de
instrumento formal (cessão de uso), entretanto, não explicita os motivos de sua exclusão do Censo 2010. Dentre
as áreas excluídas estão as localidades do Rio das Flores, Rio Novo e São Bartolomeu.
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL COMO MEIO DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS EM UMA
FAVELA CARIOCA
CLÁUDIA FRANCO CORRÊA
IRINEU CARVALHO DE OLIVEIRA SOARES
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A Associação de Moradores e Amigos de Rio das Pedras – AMARP gerencia organizadamente o sistema de
compra e venda dos imóveis da comunidade, contando inclusive com um “cartório” para o registro das vendas de
lajes, moradias e estabelecimentos comerciais de Rio das Pedras.
4
“[...] os mecanismos de subordinação política são lubrificados por uma rica sociabilidade, baseada na
reciprocidade horizontal, e em uma estratificação sócio espacial que situa o morador da favela em um território
hierarquizado, tanto pela escala econômica como pela de prestígio social. Além disso, como já salientado, ela
também envolve seus moradores em um sistema de controle social local, que regula os contratos e os conflitos de
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
vizinhança. Fundado em uma moralidade que varia de lugar para lugar, esse sistema de controle social tende a
reduzir o contato dos moradores das favelas com o mundo dos direitos, expondo-os a autoridades locais pré-
jurídicas, que, nem por isso, deixam de erguer diques de proteção em face do individualismo bruto reduzido ao
estado de natureza.” BURGOS, Marcelo Baumann (org). A utopia da comunidade: Rio das Pedras, uma favela
carioca. 2ª edição. Rio de Janeiro. : PUC-Rio: Loyola, 2002, p. 29.
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL COMO MEIO DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS EM UMA
FAVELA CARIOCA
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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5
MARSHALL, T. H., Cidadania e Classe Social. Leituras sobre cidadania. Editor: Walter Costa Porto. Senado
Federal, Ministério da Ciência e Tecnologia – MTC e Centro de Estudos Estratégicos - CEE: Vol. I, Brasília,
2002.
6
CARVALHO, José Murilo de. A cidadania no Brasil. O longo caminho. 14ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011.
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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Título executivo extrajudicial é um documento particular constituído fora do Judiciário, assinado pelos
contratantes e por duas testemunhas. Tal documento deve conter objeto líquido, certo e exigível e está previsto no
artigo 585, inciso II, do Código de Processo Civil.
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL COMO MEIO DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS EM UMA
FAVELA CARIOCA
CLÁUDIA FRANCO CORRÊA
IRINEU CARVALHO DE OLIVEIRA SOARES
das partes evitando que elas entrem no jogo de rateio de posições, o que
dificultaria o trabalho do mediador de reestabelecer o diálogo entre elas.
Concentrando-se nos interesses das partes o mediador pode auxiliá-las mais
facilmente a buscarem opções de ganhos mútuos, pois elas se tornam aliadas na
procura da resolução do conflito e, consequentemente, buscam a satisfação de
ambas, objetivo primordial da mediação. Antes que as partes se concentrem
nesta busca, deve ser eleito um critério objetivo a ser utilizado na formulação de
propostas de acordo, como por exemplo, o direito de laje para divergências
sobre o mercado imobiliário da favela de Rio das Pedras, a média do valor de
um produto oferecido em diversos sites de venda de bens usados em uma
partilha extrajudicial etc. Trata-se de um acordo consensual sobre os parâmetros
que servirão de base para a administração do conflito.
Encontrada uma opção que satisfaça a ambas as partes o mediador pergunta
se elas aceitam a opção formulada como solução da contenda apresentada e em
caso de resposta positiva é digitado o termo de mediação. O termo será lido em
voz alta pelo mediador na frente das partes e das testemunhas e, posteriormente,
assinado por todos. Para evitar a ocorrência de erros o mediador pergunta as
partes se foi detectada alguma falha no termo e se tudo o que foi escrito está em
conformidade com o que foi acordado. Caso aconteça alguma modificação o
termo será lido novamente antes da assinatura.
Conclusão
23
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Referências bibliograficas
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL COMO MEIO DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS EM UMA
FAVELA CARIOCA
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IRINEU CARVALHO DE OLIVEIRA SOARES
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
WEINGARTNER, Lis. Mediação é escolha alternativa para a resolução de conflitos. Revista Justilex,
ano VII, nº 76, abr. 2009.
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A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UMA ALTERNATIVA A
INTERNAÇÃO DO ADOLESCENTE INFRATOR
Amanda Apelfeld
Márcia Adriana Oliveira Fernandes
Introdução
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INFRATOR
AMANDA APELFELD
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
[…] as prisões mesmas foram criadas como alternativas mais humanas aos
castigos corporais e à pena de morte. O encarceramento deveria atender às
necessidades sociais de punição e proteção enquanto promovem a reeducação de
ofensores. Uns poucos anos depois de sua implementação, as prisões tornaram-se
sede de horrores e nasceu o movimento de reformulação da prisão. (ZEHR, 2008)
É preciso buscar novos caminhos, tendo em vista que não é por meio da
estratégia pedagógica do sofrimento e do “bom adestramento” que se alcançará
a responsabilização do desviante. É preciso pensar em novas estratégias de
política criminal para lidar com o crime, violências e suas consequências de
maneira menos violenta.
Em termos teóricos, pode-se dizer que os fins propostos para a pena
privativa de liberdade são: ressocializar e reintegrar o indivíduo na sociedade.
Todavia, o que realmente interessa é a sua aplicabilidade e eficácia concreta.
Sendo assim, os fins ideais da privação da liberdade estão sendo deixados de
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visitá-los, para poder ter acesso a sabão, pasta de dente e papel higiênico. Não
podemos esquecer que, a imundice é tão grande que tanto os internos como os
funcionários ficam a mercê de doenças contagiosas. E, por incrível que pareça
quem contrai a sarna, fica sem nenhum tratamento médico.
No que diz respeito às práticas disciplinares abusivas por funcionários dos
centros de detenção de jovens, é indispensável expor que há práticas de
espancamento reiteradas que podem ser visíveis ou não, através de cortes e
contusões aparentes no corpo dos internos, bem como, abusos verbais
frequentes. Desta forma, as ofensas podem ser meramente verbais como
xingamentos de “bandidos”, “marginais”, “vagabundos” e “demônios”.
Segundo o relatório sobre o Panorama Nacional: A Execução das Medidas
Socioeducativas, produzido pelo CNJ, a violência física sofrida pelos jovens
durante a execução da medida de internação é preocupante, posto que
“todos jovens entrevistados em conflito com a lei, 28% declaram ter sofrido algum
tipo de agressão física por parte dos funcionários, 10%, por parte da Polícia Militar
dentro da unidade de internação e 19% declararam ter sofrido algum castigo físico
dentro do estabelecimento de internação”.
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Contudo, em vez de discutir o que está errado, acham que é melhor manter os
adolescentes por mais tempo internados.
O artigo 228, da CRFB/88 dispõe que “são penalmente inimputáveis os
menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial ”. Para
tanto, ao expressar o texto constitucional que os menores de dezoito anos são
inimputáveis, se caracteriza em uma garantia constitucional do adolescente
responder, de acordo com a lei especial, que é o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei no. 8069/90). Logo, consagra-se uma congruência entre a
Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Desse modo, a redução da maioridade penal não poderia ocorrer, tendo em
vista que a cláusula pétrea proíbe a deliberação de proposta que tenha o objetivo
de mitigar os direitos e garantias individuais, já adquiridos e incorporados ao
patrimônio jurídico das crianças e adolescentes, com fulcro nos artigos 227 e
228, ambos da CRFB/88.
Cumpre registrar que, no artigo 1o, da Convenção de Direitos da Criança, a
qual o Brasil é signatário, determina que “para efeitos da presente Convenção
considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de
idade, […]”, confirmando os 18 (dezoito) anos como marco da maioridade
penal.
Além disso, não é possível esquecer que, conforme foi demonstrado
anteriormente, os fins propostos pela lei se dissociam bastante dos efeitos reais
das unidades de internação. Sendo assim, é incoerente aumentar o tempo de
cumprimento da medida socioeducativa de 3 (três) para 8 (oito) anos, tendo em
vista que o próprio Estado tem demonstrado que as medidas não são capazes
promover um tratamento melhor aos adolescentes.
36
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UMA ALTERNATIVA A INTERNAÇÃO DO ADOLESCENTE
INFRATOR
AMANDA APELFELD
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
III.i. Conceito
[...] um processo para envolver, tanto quanto o possível, todos aqueles que têm
interesse em determinada ofensa, num processo que coletivamente identifica e
trata os danos, necessidades e obrigações decorrentes da ofensa, a fim de
promover o restabelecimento das pessoas e endireita as coisas, na medida do
possível. (ZEHR,2012)
37
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
38
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UMA ALTERNATIVA A INTERNAÇÃO DO ADOLESCENTE
INFRATOR
AMANDA APELFELD
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UMA ALTERNATIVA A INTERNAÇÃO DO ADOLESCENTE
INFRATOR
AMANDA APELFELD
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
41
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
pela comunidade e evitar que cometa novos atos infracionais. É um modelo que
valoriza o diálogo para que se construa o respeito mútuo às necessidades
pessoais, tanto de indivíduos que estão em desenvolvimento quanto da vítima,
buscando restaurar relacionamentos de forma horizontal, visto que, para se
obter a justiça deve-se partir da premissa que estamos tratando de pessoas, cujos
sentimentos, traumas e garantias dos direitos humanos devem ser tratados com
a devida consideração para se alcançar soluções não-violentas, e, consequências
mais favoráveis do que as atingidas pela falta de efetividade do sistema de
justiça penal juvenil.
Por fim, embora a experiência das práticas restaurativas em Porto Alegre
seja bem pontual em relação ao seu momento e âmbito de aplicação a certos
atos infracionais juvenis, o sistema restaurativo está se aprimorando cada vez
mais, para tornar viável a ampliação da sua área de atuação e, especialmente,
ultrapassar os obstáculos encontrados com a resistência social e institucional
embasadas pelo modelo de justiça criminal retribucionista.
Considerações finais
42
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UMA ALTERNATIVA A INTERNAÇÃO DO ADOLESCENTE
INFRATOR
AMANDA APELFELD
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
Referências bibliográficas
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Andrade (coord.). Curso de Direito da Criança e do Adolescente: Aspectos Teóricos e Práticos, 6ª.
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BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: Causas e Alternativas. São Paulo:
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43
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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f >. Acesso em: 17 mai. 2013.
44
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR
DA CIDADANIA
Introdução
45
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
sociais, reconhecendo que não pode gerir todas as demandas que lhe são
apresentadas.
O terceiro que intervém deve ser um mediador neutro e imparcial capaz de
estimular, sistematicamente, a comunicabilidade e a conscientização dos
sujeitos envolvidos. Com o fomento à racionalização das relações humanas, os
indivíduos começam a sentir mais confiança em si mesmos, para realizarem as
suas próprias escolhas, do que no aparato estatal - que não deixará de ter sua
importância para casos de incomunicabilidade irreversível e outros diversos.
A mediação visa à satisfação mútua dos interessados e, para tanto, deve ser
bem incentivada por focar em proporcionar oportunidades de comunicação e
aprendizado para as partes e, inclusive, para o mediador, que só tem a ganhar e
se orgulhar com as experiências vividas e os êxitos logrados com a sua
participação.
Além de ser facilitadora do diálogo – sua principal característica motivadora
-, a mediação corresponde a uma intervenção mais célere e menos onerosa.
Mais célere, pois não apresenta os entraves do aparato estatal e menos onerosa
por não necessitar da contratação de um advogado e por não necessitar de
custas para impulsioná-la, já que o seu combustível é a vontade de interagir
objetivando o bem comum: o diálogo facilitado e apaziguador em uma
sociedade com os conflitos relacionais em ebulição.
O presente artigo pretende discorrer sobre como a mediação é capaz de
desenvolver, na sociedade atual, com a soma de forças – em que não só o
Estado é detentor da capacidade de dissolver conflitos – mas de várias outras
pessoas engajadas e interessadas, para um mesmo fim: explorar a mediação
como forma de pacificação dos conflitos.
46
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
47
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
II. Princípios
Segundo Aristóteles, princípio era uma fonte, uma causa de ação, tornando-
se um freio dos fenômenos sociais. Já Cícero, analisando o conjunto de
1
(ROGOWSKI, 2013). Disponível no site http://lapisfilosofico.blogspot.com.br/2013/04/queridos-amigosnobres-
pares-tenho.html. Acesso em 10 de maio de 2013.
48
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
2
(GABRIEL, 2007). Disponível no site http://jusvi.com/colunas/29789#0.1_01000013. Acesso em 10 de maio
de 2013.
3
(KALIL, 2006). Disponível no site http://www.mediarconflitos.com/2006/07/caractersticas-e-princpios-da-
mediao.html. Acesso em 10 de maio de 2013.
49
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
50
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
O juiz exerce o poder jurisdicional, enquanto que as partes são atingidas pelos seus
efeitos, particularmente pelos efeitos da decisão final, que constitui a expressão
mais importante do exercício do poder pelo juiz. É evidente que esse poder deve
ser legítimo. Porém, a questão da legitimidade da decisão não é algo pacífico.
4
(MARINONI, 2006). Disponível no site http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/Luiz%20G%20Marinoni(8)%
20-%20formatado.pdf. Acesso em 21 de maio de 2013.
51
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
5
Idem.
6
Idem.
7
(DALLA, 2009) Disponível em: <http://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20090318
000023.pdf>. Acesso em 21 de maio de 2013.
52
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
8
(TORRES, 1993).
9
(BOBBIO, 2000).
53
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Para tanto, defende ele, precisa que faça primeiro uma revolução interior;
que conheça na prática a mediação para se tornar um bom mediador; que
entenda a mediação como uma forma alternativa de intervenção nos conflitos e
não, unicamente, para desafogar as prateleiras dos cartórios.
Há também a relevância da posição do jurista Humberto Dalla12, que é a
favor da mediação incidental ou judicial13, em duas hipóteses: ou o juiz, ele
próprio, conduz o processo, funcionando como um conciliador ou designando
um auxiliar para tal finalidade (artigos 331 e 447 do CPC); ou as partes
solicitam ao juiz a suspensão do processo, pelo prazo máximo de seis meses,
10
Maria de Nazareth Serpa afirma que um dos aspectos-chave da mediação é que incorpora o uso de um terceiro
que não tem nenhum interesse pessoal no mérito das questões. O terceiro interventor serve, em parte, de árbitro
para assegurar que o processo prossiga efetivamente sem degenerar em barganhas posicionais ou advocacia
associada. (SERPA, 1999).
11
(NEIVA, 2009). Disponível no site <http://www.gerivaldoneiva.com/2009/11/mediacao-popular-uma-
alternativa-para.html>. Acesso em 10 de maio de 2013.
12
(DALLA, 2012).
13
A mediação incidental ou judicial ocorre quando já existe um processo judicial em curso e a mediação prévia é
realizada antes da instauração de um processo judicial e pode ser judicial ou extrajudicial.
54
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
para a efetivação das tratativas de conciliação fora do juízo (artigo 265, inciso
II, c/c § 3º, também do CPC).
Entretanto, nas duas hipóteses, terá havido a movimentação da máquina
judicial (apresentação da petição inicial, recolhimento de custas, despacho
liminar positivo, citação do réu, prazo para contestação, diligências cartorárias,
resposta do réu e designação de audiência prévia, sem contar com os inúmeros
incidentes processuais que podem tornar mais complexa a relação processual),
o que poderia ter sido evitado.
Deste modo, defende que as partes deveriam ter a obrigação de demonstrar
ao juízo que tentaram, de alguma forma, buscar uma solução consensual para o
conflito - algum tipo de comunicação, como o envio de uma carta ou e-mail,
uma reunião entre advogados, um contato com o “call center” de uma empresa
feito pelo consumidor; enfim, qualquer providência tomada pelo futuro
demandante no sentido de demonstrar ao juiz que o ajuizamento da ação não foi
a sua primeira alternativa.
Ideia que parece perfeitamente plausível, já que o enfoque da mediação é
exatamente a postura mais célere, mais individualizada, mais informal e menos
burocrática e, a conscientização de que a possibilidade de um acordo
satisfatório existe e ocorreu, porém não logrou êxito. E, assim, a parte
demandante decidiu buscar a solução no Judiciário, encarado como ultima
ratio, que pode atuar, inclusive, como auxiliar da mediação, dependendo do
nível de inclinação, comprometimento e atuação dos juízes, auxiliares da justiça
e a disponibilidade do aparato estatal.
Ainda, em outro artigo14 do acima citado magistrado Gerivaldo Neiva, este
defende a criação de instâncias locais de mediação de conflitos domésticos e
familiar, para impedir que os mesmos se tornem litígio15, num cenário atual e
desanimador de crescente violência à mulher no país.
Todavia, a advogada e professora Lisiane Lindenmeyer Kalil não concorda
que juiz e mediação possam andar juntos – pois geraria confusão com os
princípios práticos e éticos da mediação - criticando a expressão “juiz
mediador”:
[...] a função dos mediadores não pode ser identificada com o termo “juiz
mediador”. Esse último diz respeito a alguém com capacidade de deliberação, que
até pode seguir alguns princípios da mediação, mas, na medida em que profere
14
(NEIVA, 2011). Disponível no site <http://www.calilanoticias.com/2011/03/juiz-de-direito-de-conceicao-do-
coite-ba-defende-instancias-de-mediacao-como-prevencao-contra-violencia-domestica.html>. Acesso em 10 de
maio de 2013.
15
Uma questão do Poder Judiciário e que a Delegacia de Polícia crie um Departamento de Violência Contra a
Mulher com livros e armários para registro e geração de relatórios, entre outras, que possam subsidiar a dimensão
social do problema. (NEIVA, 2011).
55
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
16
(KALIL, 2006). Disponível no site <http://www.mediarconflitos.com/2006/09/mediao-e-seus-mitos-parte-
i.html>. Acesso em 10 de maio de 2013.
17
O Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA) apresenta recomendações
interessantes a respeito: A Mediação transcende à solução da controvérsia, dispondo-se a transformar um
contexto adversarial em colaborativo. É um processo confidencial e voluntário, onde a responsabilidade das
decisões cabe às partes envolvidas. Difere da negociação, da conciliação e da arbitragem, constituindo-se em uma
alternativa ao litígio e também um meio para resolvê-lo.
56
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CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
18
(CONJUR, 2013). Disponível no site <http://ccapb.blogspot.com.br/2013/02/oab-estuda-incluir-mediacao-em-
exame-de.html>. Acesso em 10 de maio de 2013.
57
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Conclusão
19
Idem.
58
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR DA CIDADANIA
CIBELE CARNEIRO DA CUNHA MACEDO SANTOS
RAQUEL RIBEIRO DE REZENDE
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59
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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TORRES, Ricardo Lobo. A Legitimidade Democrática e o Tribunal de Contas. Revista de Direito
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60
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO
DA NR 12: UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE
OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E RELAÇÕES
DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO
Introdução
Este ensaio visa a dar sequência à análise iniciada em 2012, sobre o sistema
público de mediação de conflitos trabalhistas2. Parte-se, desta vez, da tentativa
de enfocar, sob novas perspectivas, a questão do protagonismo estatal na oferta
de modelos de composição de conflitos oriundos das relações de trabalho. Esse
novo olhar revela que a adjudicação desses conflitos pelo Estado é fenômeno
que se relaciona com a forma pela qual o Direito do Trabalho se consolidou no
Brasil, e com a constitucionalização dos direitos sociais. Do mesmo modo, a
análise dos fundamentos da nossa estrutura sindical também auxilia a
compreensão desse fenômeno, na medida em que o modelo de origem do nosso
sistema de representações classistas, de caráter corporativista, não foi capaz,
mesmo com as ordens constitucionais que advieram após o Estado-Novo, de
criar nesses entes coletivos uma identidade realmente forte e alheada da figura
do Estado.
1
Ministério do Trabalho e Emprego.
2
A partir do ensaio intitulado “Primeiras Linhas Sobre a Mediação Pública de Conflitos Trabalhistas:
descortinando as Mesas Redondas”, apresentado pelo autor por ocasião do I CONINTER, em setembro de 2012.
61
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
3
Mesa de Entendimento é um processo de negociação, conduzido no âmbito do Sistema de Inspeção do Trabalho
(Instrução Normativa nº 23/2001). Sua natureza discricionária e linear, que deixa à mostra o perfil coativo do
processo, faz das Mesas de Entendimento bem menos que um autêntico modelo de composição consensual de
conflitos.
62
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
LUIZ FELIPE MONSORES DE ASSUMPÇÃO
4
A expressão “laborcentrismo” tomada aqui num sentido diferente do adotado por Acário (2009), que ilustra uma
economia cujas riquezas são produzidas e multiplicadas pela relação trabalho x consumo, em contraposição ao
“monecentrismo”, ou monetização da economia, cenário no qual as riquezas se concentram no sistema financeiro.
Utilizo, aqui, esta criativa expressão para sintetizar o conjunto de argumentos que elevam o trabalho como uma
“categoria sociológica fundamental” (OFFE, 1989).
5
Em Instituições de Direito do Trabalho (SÜSSEKIND et al).
63
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
6
Conforme a Lei 10.192/2001, oriunda da Medida Provisória nº 1.035/1995.
64
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
LUIZ FELIPE MONSORES DE ASSUMPÇÃO
7
Como seria o caso da sucessão de empregadores (CLT, art. 10 e 448).
8
Pode-se exemplificar a tendência da jurisprudência em rejeitar a tese do pedido de demissão, quando a hipótese
de terminação contratual for controversa.
65
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
9
Seria o caso, por exemplo, do controle de legalidade dos acordos e convenções coletivas.
10
No âmbito coletivo, seria o caso de invocar o princípio da vedação do retrocesso dos direitos sociais. No âmbito
individual, a dignidade da pessoa humana.
11
Admitindo-se a polissemia de sentidos atribuídos à mediação, o que se deseja aqui é distingui-la
metodologicamente de outras formas de atuação do terceiro imparcial, seja como conciliador, ou como árbitro.
66
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
LUIZ FELIPE MONSORES DE ASSUMPÇÃO
12
Isto é visível, por exemplo, no caso das greves. Mesmo no âmbito administrativo, é possível a instauração da
Mesa Redonda de ofício, por iniciativa do próprio Ministério do Trabalho.
13
Citado por Athos Gusmão Carneiro, em artigo intitulado A Conciliação no Novo Código Civil, disponível em:
http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1015391/DLFE-51740.pdf/REVISTA3046.pdf. Acesso em: agosto
de 2012.
67
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
14
(CLT, arts. 36 a 39). Na verdade, pode-se dizer que o rito administrativo é que inspirou o judicial.
15
Inspetor do Trabalho é a designação clássica dos agentes de inspeção do trabalho. Atualmente, acompanhando
a nomenclatura padronizada aplicada às outras expressões da inspeção federal, o Inspetor do Trabalho é
denomina Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT).
68
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
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UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
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UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
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19
Informações constantes da dissertação de mestrado do autor, intitulada “Os reflexos do dissídio coletivo
'consensual' nas negociações coletivas: uma análise do desempenho negocial de sindicatos e empresas da região
sul-fluminense do Rio de Janeiro, antes e depois da EC nº 45”, defendida no âmbito do PPGSD/UFF. Trabalho
ainda não publicado.
20
Trata-se da comparação entre o banco de dados de mesas redondas, da GRTE/VR, criado em 2001, com as
estatísticas divulgadas pela Secretaria de Relações de Trabalho (disponível em: <http://portal.mte.gov.br/
data/files/FF8080812B62D40E012B6F1DAFC36A53/est_4934.pdf>), limitadas a 2008.
74
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
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MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
21
Finalizar, aqui, significa cumprir integralmente o cronograma de adequação negociado com o Ministério do
Trabalho e Emprego.
76
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
LUIZ FELIPE MONSORES DE ASSUMPÇÃO
Considerações finais
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78
AS MESAS REDONDAS E O CUMPRIMENTO NEGOCIADO DA NR 12:
UMA EXPERIÊNCIA DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE INSPEÇÃO DO TRABALHO E
RELAÇÕES DO TRABALHO, NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
LUIZ FELIPE MONSORES DE ASSUMPÇÃO
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JUSTIÇA RESTAURATIVA: REFLEXÕES SOBRE CRIME,
CASTIGO E NOVOS PARADIGMAS PARA O SISTEMA DE
JUSTIÇA CRIMINAL
Introdução
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JUSTIÇA RESTAURATIVA: REFLEXÕES SOBRE CRIME, CASTIGO E NOVOS PARADIGMAS
PARA O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
1
Disponível em <www.prisonstudies.org>, consultado em 10/06/2012.
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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JUSTIÇA RESTAURATIVA: REFLEXÕES SOBRE CRIME, CASTIGO E NOVOS PARADIGMAS
PARA O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
E, para assegurar essa harmonia cabe ao Poder Judiciário aplicar a lei àqueles
que violarem a ordem estabelecida. Nesse contexto, a Lei simboliza a ideia de
segurança jurídica, eis que é aplicada a todos indistintamente e de forma
equânime. Além disso, a noção de segurança jurídica é reforçada pela
compreensão de que a Lei será aplicada ao caso concreto por um julgador
imparcial. A Lei é axiologicamente neutra e todo o jogo de interesses existente
no processo legislativo é desconsiderado.
É fácil perceber, desde uma perspectiva crítica, que tais argumentos cedem
facilmente ao contato com a realidade. Não é possível olvidar os fins reais do
Direito Penal enquanto “centro de estratégia de controle social das sociedades
contemporâneas”(SANTOS, 2006). O processo de criminalização primária
atribuiu a determinadas condutas o status de crime. A conduta não é
ontologicamente criminosa, mas é adjetivada como tal em razão de motivos
políticos, sociais, culturais e econômicos. Como esclarece Batista (2011) o
crime não é produto da natureza, mas algo construído pelas sociedades.
Assim, ao longo da história da humanidade é possível perceber as diferentes
formas de lidar com o crime e a punição. O trajeto percorrido entre as penas
corporais e de morte até a instituição da pena privativa de liberdade como
principal resposta para o crime foi longo e cruel. Assiste razão a Ferrajoli
(2005) quando afirma que a história das penas é mais sangrenta que a história
dos crimes. Esclarece o autor que o Direito Penal é uma técnica de repressão
que se manifesta através de restrições sobre os indivíduos desviantes e também
sobre os não desviantes. Daí a necessidade de justificar os custos causados.
Por isso, entende-se que a prisão representou um avanço e “humanização”
na forma de punir. Paulatinamente a pena de prisão passou a ocupar um lugar
de destaque entre as sanções, sendo considerada a principal das penas. De
acordo com Zehr
As prisões mesmas foram criadas como alternativas mais humanas aos castigos
corporais e à pena de morte. O encarceramento deveria atender às necessidades
sociais de punição e proteção enquanto promovem a reeducação de ofensores. Uns
poucos anos depois de sua implementação, as prisões tornaram-se sede de
horrores e nasceu o movimento de reformulação da prisão. (2009)
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Nesse sentido impende concordar com Sica (2002) quando afirma que “a
evolução do pensamento humano e a conformação do conceito de Estado
Democrático de Direito passaram a exigir do Direito Penal mais do que
vingança pública, a mera expiação da culpa, ou ainda, sua duvidosa eficácia
dissuasória.”
Ao analisarmos os custos/benefícios, tão ao gosto da ideologia capitalista,
da onda punitiva (WACQUANT, 2003) conclui-se com Pallomolla (2009) que
a ideia de retribuição não traz benefícios para a sociedade e tampouco para o
infrator, adulto ou adolescente. Além disso, a falência não é somente da pena
privativa de liberdade, mas do sistema de justiça criminal.
Em última analise, essa funcionalidade do sistema de justiça criminal
evidencia o fracasso da política criminal adotada. De um lado, as opções são
limitadas às políticas repressoras (“lei e ordem”). O criminoso é visto como um
inimigo da sociedade, motivo pelo qual não é merecedor de direitos
(ZAFFARONI, 2007). O que muda de acordo com o tempo e lugar são os
critérios utilizados para determinar quem são os inimigos3 (terroristas,
traficantes, imigrantes etc.).
Do outro lado, estão as políticas pautadas na utilização racional do Direito
Penal (Direito Penal Mínimo e Garantismo Penal). O Direito Penal, e, em
última instância, a pena privativa de liberdade, devem ser utilizados com
parcimônia. O criminoso, desde que respeitadas as garantias penais e
processuais constitucionais, deverá sujeitar-se a sanção, cuja preferência é pela
pena privativa de liberdade, isto é, o criminoso adquire o status de inimigo com
direitos.
Como se percebe, inobstante aos alertas doutrinários sobre a falta de
legitimidade da pena de prisão, essa forma de punir e causar sofrimento ao
criminoso continua sendo a pedra angular dos sistemas de Justiça Criminal.
Entretanto, o problema não se resume somente à falência da pena privativa de
liberdade. O que precisa ser questionado é o próprio paradigma retributivo. Por
que punir? Para que punir? Não estamos respondendo à violência do crime com
a violência da pena? A pena é uma resposta satisfatória para a vítima e para o
criminoso?
O processo e a pena não possuem um caráter prospectivo. O foco é o
passado: provar que o delito ocorreu e que o acusado foi o seu autor para, ao
final, aplicar uma pena. Quanto a esse aspecto a atividade jurisdicional
restringe-se às provas coletadas nos Autos de Prisão em Flagrante, pois, a
maioria dos processos criminais ocorre com a prisão do suposto autor no
momento, ou logo após, a prática do ato delitivo. Somem-se a essas provas
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PARA O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
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PARA O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
apropriadas para o caso, esse não é o momento mais oportuno para a utilização
dos procedimentos restaurativos.
Segundo a pesquisa acima referida os critérios utilizados para selecionar os
casos são: admissão da autoria pelo adolescente, identificação da vítima, e não
se tratar de fato análogo a homicídio, latrocínio, estupro e conflitos familiares.
Além desses, constitui requisito para participar do programa a aceitação
voluntária dos envolvidos.
Atualmente o programa ampliou suas fronteiras para a comunidade, para o
Judiciário e também nas escolas, não estando limitado ao universo jurisdicional.
Conforme esclarece Santos, D., ( 2012) em 2010, a partir de uma iniciativa do
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, inserida no projeto “Justiça
para o Século XXI”, teve inicio o projeto Justiça Restaurativa Juvenil na
comunidade. Em determinados casos os adolescentes infratores são
encaminhados para as Centrais de Práticas Restaurativas.
Para Aguinsky e Brancher (2004) a adoção de práticas restaurativas no
âmbito da execução da medida sócio-educativa tem como paradigma a redução
de danos:
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Considerações finais
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JUSTIÇA RESTAURATIVA: REFLEXÕES SOBRE CRIME, CASTIGO E NOVOS PARADIGMAS
PARA O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
MÁRCIA ADRIANA OLIVEIRA FERNANDES
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MEDIAÇÃO LABORAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS
HISTÓRICOS PARA EFETIVAÇÃO DE DIREITOS
Introdução
95
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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DIREITOS
CLARISSE INÊS DE OLIVEIRA
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DIREITOS
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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MEDIAÇÃO LABORAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS HISTÓRICOS PARA EFETIVAÇÃO DE
DIREITOS
CLARISSE INÊS DE OLIVEIRA
que somente o Estado, detentor da coerção, pode fazer valer o ajuste entre as
partes.
Tendo em vista à proximidade física com o Ministério do Trabalho e
Emprego da cidade do Rio de Janeiro, situado no bairro do Centro, a uma
quadra da Faculdade e, ainda, a orientação daquele órgão de encaminhar as
pessoas para Núcleos de Prática Jurídica, a demanda diária de pessoas em busca
de orientação jurídica supera a casa das dezenas.
Vale citar o exemplo da assistida M.A.S. que procurou o escritório modelo
narrando que trabalhou por mais de vinte anos na residência de uma médica,
onde viu crescer os filhos de sua patroa que atualmente residem em outros
lugares.
Com as recentes notícias divulgada pela mídia acerca dos novos direitos do
empregado doméstico, a assistida procurou orientação para saber como
proceder, já que sequer possuía carteira de trabalho registrada.
Em verdade, nem mesmo os direitos mais básicos dos domésticos,
anteriormente previstos na CLT, foram respeitados no caso em exame. E a
possibilidade de ausência de êxito em uma ação judicial, dada à frequência ao
trabalho em até três dias por semana, poderia ensejar a improcedência do
pedido de reconhecimento do vínculo empregatício, ante o entendimento
consolidado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 1ª. Região através da
Súmula 19, de que o labor doméstico exercido em até três vezes por semana
não configura o reconhecimento do vínculo.
A assistida trabalhou na casa da Patroa por mais de vinte anos e permanecia
trabalhando. De cinco anos para cá, passou a trabalhar três vezes por semana,
pois a Patroa já morava sozinha.
A assistida viu os filhos da Patroa crescerem, saírem de casa e a exigência
de um trabalho contínuo, de segunda a sexta feira, não se fez mais necessária.
Com a idade avançando, buscava uma aposentadoria impossível, dada a
ausência de contribuições.
A proposta da mediação foi levada à assistida, mas o receio foi de tal monta
que foi precedido de um pedido para avaliar a questão. A possibilidade de vir a
ser dispensada de vez pesava na balança desfavoravelmente.
Em outro caso, a assistida C.M.O. demonstrou ânimo de tentar a mediação
antes do ajuizamento da demanda. Contudo, o contato com a Patroa não
permitiu o desenrolar da tentativa, recebendo a proposta da mediação com a
resposta de uma promessa de interposição de todos os meios e recursos cabíveis
na esfera judicial.
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Conclusões
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DIREITOS
CLARISSE INÊS DE OLIVEIRA
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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105
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS
SENSÍVEIS A DIFERENTES FORMAS DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
Introdução
1
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 25 de
outubro de 2012.
106
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
2
Tradução livre: “Una característica del Estado de derecho democrático y social es que no niega o reprime
conflictos existentes y busca generar las decisiones pertinentes a través de procedimentos institucionalizados y
transparante.” Evaluación de La ley de Mediación y Conciliación – Despúes Del primer año de vigência. Pág. 5.
3
O Laboratório é coordenado pela Cristiana Vianna Veras (professora de prática jurídica da Faculdade de Direito
da UFF) e desenvolvido por uma equipe permanente composta por dois alunos bolsistas de extensão, tendo
também como integrantes alunos de direito inscritos no estágio curricular obrigatório que ao longo do curso
demonstram interesse. Profissionais e alunos de outras áreas do conhecimento, como Psicologia e Serviço Social,
também podem participar.
107
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
I. Forma de trabalho
I.i. Capacitação
108
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
I.iv. Sessões
4
Importante salientar que no Laboratório trabalhamos com a diferenciação do instituto da mediação e da
conciliação a partir do papel do mediador. Desta forma, na mediação, o mediador não deve sugerir soluções para
o caso nem tampouco negociar uma solução com base em concessões mútuas, mas facilitar a comunicação das
partes, o que pode ser feito a partir de perguntas que levem a uma reflexão. Na conciliação, o conciliador deve,
juntamente com as partes, apresentar soluções para o conflito, demonstrando os benefícios do acordo. Neste caso,
a solução adotada é fruto de uma negociação, que pressupõem concessões das partes.
109
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
II.i. Caso 1
110
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
II.ii. Caso 2
5
Visando manter o sigilo das informações, utilizaremos a inicial de nomes fictícios para relatar os casos
concretos.
111
MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA
A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Na primeira sessão realizada, em julho de 2012, com a Sra. E., assistida que
procurou o CAJUFF, apresentamos a proposta do Laboratório e a mesma
demonstrou interesse em participar, sendo, porém, relevante para ela a chancela
de seus pais.
Foi marcada uma segunda sessão, que ocorreu em agosto de 2012. Nesta
sessão, estavam presentes a Sra. E. e seus pais, restando demonstrada a
necessidade de participação da rede social da interessada, os quais apoiaram a
proposta apresentada.
Passou-se, então, a tentar obter contato com a irmã T., para convidá-la a
participar de uma reunião. Não se logrou êxito, porém, em fazer contato seja
por meio telefônico, envio de e-mails, nem mesmo via correios.
Como a proposta do Laboratório reside no resgate da autonomia das partes
e como uma das envolvidas não se mostrava colaborativa à iniciativa, não
restou outra solução senão o encaminhamento do caso para a solução judicial.
II.iii. Caso 3
112
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
I.iv. Caso 4
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Conclusão
114
A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Referências Bibliográficas
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www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20090318000023.pdf>. Acesso em: 12
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A EXPERIÊNCIA DO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS SENSÍVEIS AS DIFERENTES FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E SEU IMPACTO NA PRÁTICA JURÍDICA
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CRIME, PUNIÇÃO E FORMAS NÃO VIOLENTAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Introdução
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O fato é que o sistema penal conta com uma “cifra negra”, na qual se
incluem os crimes de “colarinho branco”. Esta criminalidade oculta não é
computada nas estatísticas e se assim fosse demonstraria que ao contrário do
que a criminologia positiva entende que a criminalidade não privilégio de uma
parcela da população predestinada, mas que o crime ocorre em toda a sociedade
com muito mais frequência do que se imagina. Trata-se de um sistema seletivo
no qual se pune as pessoas em função do lugar que ocupam na sociedade e não
em função da conduta praticada.
Em pesquisa realizada em 1993/1994 (WACQUANT, 2008) sobre o Estado
e o funcionamento do sistema penal apontou um crescimento extraordinário na
população carcerária e, sobretudo, que a maior parte das pessoas aprisionadas
eram negras e provenientes do gueto americano. A partir desta constatação o
pesquisador passou a estudar o gueto e pôde comprovar que a estrutura da
cadeia assemelhava-se em muito à estrutura dos guetos, principalmente quanto
às características da população: desviantes, perigosos e dependentes.
Esse é o legado do capitalismo que exaltamos – a equiparação formal das
pessoas, que provoca a sua desigualdade substancial, fazendo com que o Direito
(re)produza regras voltadas predominantemente para um grupo determinado de
indivíduos que detém o poder
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IV. Princípios
A Justiça Restaurativa tem como idéia propulsora que o infrator aja para
reparar o mal que causou, atendendo às necessidades de todas as partes. Para
isso o modelo se divide em três pilares essenciais, sendo o primeiro deles a
delimitação do dano causado, para que se possa dar uma resposta à vítima, seja
concreta, seja representativa.
Além da vítima, é preciso atender às necessidades do ofensor e da
comunidade, partindo do pressuposto de que o crime abala sim - e de forma
significativa - aquele que o cometeu o delito. Por isso é preciso destinar atenção
às suas necessidades e descobrir os motivos que o fizeram agir de forma
ofensiva aos bens de terceiros.
Recentemente o Rio de Janeiro viveu uma desagradável experiência
conhecida como “massacre de Realengo”. À época a mídia, cooptada, rotulou
Wellington Menezes de Oliveira, o autor dos disparos, como um “monstro”.
Não obstante ao enorme sentimento de pesar, não é possível afirmar que
Wellingtontenha sido um “monstro”. Testemunhos de pessoas próximas à ele
esclareceram que foi ex aluno da escola Tarso da Silveira, onde por longos anos
foi vítima de bulling por parte de seus colegas, e que em certa ocasião,
inclusive, foi jogado na lixeira pelos outros alunos da escola. Em razão disso,
muito provavelmente, Wellington desenvolveu sérios traumas que nunca foram
tratados e assim, tornou-se um homem doente, o que, provavelmente, fez com
que ele agisse da forma que agiu.
Fatos como estes nos demonstram a premente necessidade de tratar as
pessoas como seres humanos que vão além de uma rotulação entre o bem e o
mal, porque somos todos um misto de sentimentos que determinam quem
somos em um determinado momento de nossas vidas e este status não é
permanente.
A reparação do dano passa, em primeiro lugar, pela obrigação do autor
reparar as consequências do seu ato, responsabilizado-o (e não punido) pelo que
fez. Esse processo significa fazer o infrator entender o dano, de forma a
estimulá-lo a deixar de seguir este caminho em oportunidades futuras, por meio
de uma obrigação exequível e não um castigo.
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V. Práticas restaurativas
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Dentre os 139 casos estudados nos anos de 2005 e 2006, 95 casos foram de
roubo, 11 de furto, 7 de tráfico de drogas, 6 de latrocínio, etc. Destes, obteve-se
acordo restaurativo em 92,7% dos casos e houve cumprimento integral em
75,6%. Quanto à estes, houve apenas 21% de reincidência, índice bastante
inferior à taxa nacional da justiça criminal.
O que se constata, é que em Porto Alegre, a Justiça Restaurativa encontra
dificuldade em substituir o modelo de justiça tradicional evitando a medida
socioeducativa, mas é preciso frisar que ainda não há dados estatísticos para
comprovar esta afirmação.
Os operadores da Justiça Restaurativa no âmbito de execução das medidas
sócio-educativas afirmam que o que ela pode acelerar o processo de empatia do
ofensor, que quanto maior seja a infração por ele cometida, maior será seu grau
de distanciamento para com o ordenamento, e assim, maior será a sua privação
de liberdade plenamente justificada. Na medida em que a Justiça Restaurativa
faz com que a “ficha caia mais rápido” a proporcionalidade entre ação e
reprimenda pode atuar com menor incidência.
Há um aspecto positivo a ser ressaltado – o fato de que nos três modelos
analisados a prática restaurativa está vinculada ao judiciário. No entanto,
tratam-na como modelo complementar e não alternativo à justiça tradicional, o
que representa um ponto negativo.
Considerações finais
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A MEDIAÇÃO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA CONTEMPORANEIDADE
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A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL NO
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSE ATRAVÉS DA EXTENSÃO
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mediação extrajudicial atinge sua finalidade sem estar maculada por possíveis
vetores de poder.
Nesse contexto, a mediação é alternativa de resolução extrajudicial de
conflitos, de forma adequada, ultrapassando o modelo adversarial característico
das disputas jurídicas. Centra-se não no embate entre as partes, mas no
consenso dialogado através da prática da argumentação e do entendimento,
tidas como uma forma de reflexão do agir comunicativo. Trata-se de um projeto
social baseado na dignidade e retomada de responsabilidade, na medida em que
permite a participação social através da reflexão individualizada dos conflitos e
para além da busca de soluções, ainda que não jurídicas, porém práticas.
Na esteira do que foi dito ao longo do presente artigo sobre a questão da
legitimidade das decisões tomadas a partir de medidas conciliatórias é mister
ressaltar, primeiramente, a diferença categorial entre os termos aceitação e
aceitabilidade, nas acepções de Jürgen Habermas, quando estuda a teoria do
agir comunicativo.
Habermas relaciona a simples aceitação com o aspecto positivo do direito,
onde há a diminuição do risco de dissenso, inerente ao agir comunicativo,
porém por possuir o seu fundamento de indisponibilidade exclusivamente numa
razão superior, coloca em xeque a questão da legitimidade das normas e, por
consequência, a participação do indivíduo no processo de construção de tensões
que pautem as dinâmicas sociais através do agir comunicativo.
Diante deste impasse, importante se faz levar em consideração a
aceitabilidade como parte do processo de atribuir legitimidade às normas que
tiveram uma gênese baseada num processo de edição e intensa discussão.
Neste sentido: “[...] o modo de validade do direito aponta, não somente para
a expectativa política de submissão à coerção, mas também para a expectativa
moral do reconhecimento racionalmente motivado de uma pretensão de
validade normativa, a qual só pode ser resgatada através da argumentação”
(HABERMAS,
Com isto, é latente a necessidade de se criar um novo paradigma que seja
para além da forma jurídica procedimental (como sustentam as variantes do
positivismo) e do conteúdo moral imutável dado a priori (como sustentam as
diferentes variantes do jusnaturalismo). Tal paradigma daria, então, o equilíbrio
necessário entre a inevitável tensão entre as racionalidades de cunho
dominatório e emancipatório que coexistem na sociedade.
Nesta altura do artigo preferimos nos ater ao aspecto emancipatório contido
no processo de mediação, o que está intimamente relacionado à manutenção da
autonomia do indivíduo como indicativo de um estado democrático de direito
pautado nos direitos humanos. Esta emancipação promovida pela mediação vai
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da República. Brasília: SEDH/PR, 2010.
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Explica Jürgen Habermas (2010, p.155/156): “eu entendo a ‘liberdade comunicativa’ como a possibilidade –
pressuposta no agir que se orienta pelo entendimento – de tomar posição frente aos proferimentos de um
oponente e às pretensões de validade aí levantadas, que dependem de um reconhecimento intersubjetivo. [...]
Liberdade comunicativa só existe entre atores que desejam entender-se entre si sobre algo num enfoque
performativo e que contam com tomadas de posição perante pretensões de validade reciprocamente levantadas”.
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Por mais utópico que isto possa parecer, nas circunstâncias em que se
encontra a sociedade e temendo seus rumos, a mediação é proposta como um
mecanismo de transformação da própria realidade social e da prática da
cidadania, favorecendo a concretização dos direitos humanos.
Com efeito, compreendida como ação dirigida aos protagonistas dos
conflitos sociais, a mediação propicia a abertura de um amplo debate sobre os
antagonismos existentes no próprio seio da sociedade, possibilitando o diálogo
e ampliação da compreensão das partes, transformando-se a situação adversarial
em uma situação de cooperação, promovendo assim, o acesso à Justiça na sua
forma mais eficaz, que é o gerenciamento e, possível, solução efetiva do
conflito, resposta tão almejada pela sociedade e pelo próprio Direito.
A partir desses dados e constatações, após aprovação das três ações, ambas
se encontram em fase de implementação e desenvolvimento e recebe adeptos e
contribuições relevantes a cada dia, tanto por parte dos graduandos, pós-
graduandos e docentes, como também por parte da sociedade e dos mediandos.
Dessa forma, incentivam-se práticas sensíveis para resolução dos conflitos
no CAJUFF, a partir de uma prática diferenciada, mas complementar ao atual
ensino adversarial e litigioso. Os objetivos principais são verificar a
possibilidade de uma nova proposta de ensino da prática jurídica, baseada na
cooperação e no resgate da cidadania e responsabilidade dos envolvidos no
litígio, além de analisar a implementação da mediação como método alternativo
e adequado de resolução de conflitos no âmbito do núcleo de prática jurídica da
Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, analisando
descritivamente os resultados decorrentes de tal proposta.
Conclusão
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por meio do entendimento gerado pelo procedimento, poderão buscar uma real
pacificação do conflito.
O consenso legitimado pelos mediandos, ausentes as figuras do vencedor e
do vencido, com a possibilidade de uma relação social equilibrada
posteriormente. O procedimento de mediação como instrumento transformador
de relação adversarial em relação colaborativa, facilitando o descortinar de
soluções criativas e proporcionando aprendizado e esclarecimento das partes
para, inclusive, prevenção de futuros conflitos.
Como decorrência lógica da mudança estrutural da nossa sociedade e da
ampliação do conceito de acesso à justiça, para permitir a coexistência de meios
alternativos de resolução de controvérsias, é fundamental a mudança de
paradigmas do ensino jurídico no Brasil.
É imprescindível que seja incluído, como parte da formação do bacharel em
Direito, futuro jurista e operador, seja por ação extensionista ou mesmo pela
inclusão curricular, formas de administração de conflitos sem a necessidade de
judicializá-los.
Assim, sugere-se que o ensino jurídico se adeque a esse novo enfoque,
sobretudo para possibilitar o caminho evolutivo e o acompanhamento da
sociedade com as práticas coexistenciais de resolução de conflitos, evitando a
falência de instituições e do próprio sistema do Direito.
E este é o grande objetivo deste estudo e principalmente das três ações de
extensão acadêmica: permitir, a partir de construções teóricas interdisciplinares,
o contato real de discentes, docentes e sociedade civil a conflitos que possam
atingir seu fim através da resolução alternativa, sem que seja necessário recorrer
ao Poder Judiciário.
Referências bibliográficas
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CASELLA, Paulo Borba; SOUZA, Luciane M. de (coord.) Mediação de conflitos. Belo Horizonte:
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