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13/12/2021 10:54 Revista Educação Pública - Bullying e cyberbullying: atualizações científicas sobre um tema que não pode ser

íficas sobre um tema que não pode ser ignorado pelos professores

ISSN: 1984-6290
B3 em ensino - Qualis, Capes
DOI: 10.18264/REP

Bullying e cyberbullying: atualizações científicas sobre um tema que não pode


ser ignorado pelos professores

Isabel Cristina Weisz


Licenciada e mestra em Língua Portuguesa (PUC-SP), pedagoga com múltiplas especializações, pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento e da
Aprendizagem (PUC-RS)

Enfocando conceituações psicológicas científicas atuais, o presente texto é uma síntese de importantes trabalhos que foram realizados pelo
grupo de pesquisa Relações Interpessoais e Violência – Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais (RIVI), da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, coordenado pela professora doutora Carolina Lisboa. Nele, buscamos trazer conhecimentos que, de maneira prática e
objetiva, habilitem os profissionais de ensino a enfrentar esse transtorno presente na realidade escolar.

Bullying: conceituação e breve histórico


Segundo Lisboa et al.(2010), bullying é uma violência sistemática que acontece no dia a dia da escola, culminando em rejeição e exclusão social.
Essa violência pode ser manifestada de forma verbal, física ou relacional. Com o surgimento e popularização das novas tecnologias, o bullying
extrapolou os limites do ambiente físico da escola: os agressores (chamados bullies) passaram a enviar e-mails e mensagens eletrônicas com
ofensas. Tal prática é chamada de cyberbullying.

Como nós professores sabemos, bullying é uma nomenclatura relativamente recente para uma prática que sempre esteve presente nas escolas
em maior ou menor grau. Em um passado não tão remoto, o bullying em ambiente escolar era praticamente ignorado por professores, diretores
e pais. Nesse cenário, não era raro existir professores que praticavam bullying contra alunos, dando-lhes apelidos pejorativos, levando os
mesmos a se tornarem alvo de chacota de toda a turma. Quando uma criança se queixava com os pais de que isso estava ocorrendo com ela, a
resposta obtida era: “Ignore, que a brincadeira perde a graça e eles param”. Essa atitude dos pais era comum, pois, devido a fatores diversos,
situados principalmente nos âmbitos culturais e políticos (tendo em vista a censura que sofriam os meios de comunicação), as questões
tangentes à psicologia (como relações interpessoais, sexualidade, problemas emocionais, agressão doméstica) não eram abordados e discutidos
nas mídias de massa. Indivíduos que se mostrassem aborrecidos ou deprimidos por essas questões eram tidos como “fracos”. As crianças,
especialmente os meninos, eram também assim rotulados. Se o bullying escolar se manifestasse por meio de violência física, o conselho que se
recebia era “bater também”. Para o zeitigeist da época, era melhor ter um filho agressor do que um filho agredido. Às crianças e adolescentes
que eram vítimas, não havia outro remédio além de suportar e sofrer em silêncio as humilhações e agressões coletivas. Muitos são os adultos
que ainda hoje guardam lembranças tristes, marcas profundas desse doloroso e demorado período de suas vidas.

Essa situação começou a mudar pela ação de fatores externos ao meio escolar propriamente dito. A democratização política do país, alcançada
com grande esforço e mobilização do povo, aos poucos foi cristalizando um novo cenário cultural popular. As mídias passaram gradativamente a
ter maior liberdade para tratar de todos os assuntos e, consequentemente, as questões psicológicas entraram em pauta com grande interesse do
público. As agressões em geral, antes praticamente “institucionalizadas” passaram a ser discutidas e repudiadas. Começaram a ser criadas leis de
proteção aos seres mais frágeis da sociedade (crianças, idosos, pessoas portadoras de deficiência, animais, etc.). O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que entrou em vigência em 1990, é fruto dessa efervescência sociocultural.

De maneira conjunta ao ECA, foram criados os conselhos tutelares e, consequentemente, a maneira de se educar crianças e adolescentes passou
a ser repensada tanto na esfera doméstica quanto na escolar. Nesse novo cenário, todas as violências físicas/psíquicas praticadas contra eles se
tornaram objeto de investigação e penalidade.

Porém, o bullying, por se tratar de uma agressão praticada por crianças ou adolescentes contra crianças ou adolescentes, é uma questão
especialmente preocupante que demanda um trabalho sério e multidisciplinar (professores, diretores de escola, psicólogos e pais), pois suas
consequências podem ser graves, reverberando inclusive em suicídios ou ataques, como foi o lamentável caso do conhecido “Massacre de
Realengo”. O protagonista desse trágico episódio tinha 23 anos de idade e foi aluno da escola que foi seu alvo. Em carta, ele alegou ter sido
vítima de bullying nela. Segundo apurações da polícia, o atirador de fato agiu sozinho e não fazia parte de grupos extremistas. (Bernardo, 2021).
Essa é uma contundente comprovação do fato de que nunca temos como avaliar quais serão as últimas consequências da prática do bullying.

As emoções por trás do bullying


Para entendermos o motivo pelo qual o bullying existe, devemos recorrer aos estudos das emoções humanas no campo da Psicologia.

Em seus importantes estudos empíricos sobre emoções humanas no início dos anos 1970, o psicólogo norte-americano Paul Ekman identificou
as seis emoções básicas presentes em todo o gênero humano. São elas: alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e surpresa (Ekman, 2011).

Tais emoções foram se desenvolvendo ao longo da evolução do Homo Sapiens. Esse conjunto de emoções garantiu a sobrevivência da espécie,
pois sua principal função é adaptar o ser humano a contextos diversos, desencadeando reações, tais como aproximação, fuga, luta, repulsa etc.
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Nesse sentido, a raiva é uma emoção adaptativa, isto é, ela também é usada como forma de adaptação ao meio: não é prudente discutir ou
mesmo se aproximar de um indivíduo que está expressando raiva. Ela está por traz do comportamento de violência exibido pelos “valentões”
que, em geral, praticam a famoso axioma do senso comum que afirma que “o ataque é a melhor defesa”. É evidente que há questões
psicológicas que subjazem à escolha desse comportamento violento como forma de adaptação ao meio. As pesquisas realizadas pelo RIVI
demonstraram que os praticantes de bullying ou cyberbullying também sofrem com a violência; eles apresentam sintomas depressivos. Em
contrapartida, suas vítimas se tornam mais agressivas. Elas desenvolvem a chamada “agressividade reativa”.

Destarte, há um perfil identificado nos processos de bullying, que é chamado vítima-agressor. Nele, a criança pode ser vítima no colégio e
agressor em outros ambientes (como na escolinha de futebol que frequenta ou no condomínio onde mora) ou vice-versa; agressor em um
ambiente e vítima em outro (Wendt et al., 2014).

Como se trata de um processo dinâmico com muita raiva e agressividade envolvidas, os agressores temem vir a se transformar em vítimas, uma
vez que os comportamentos de retaliação e vingança são comuns neste quadro. No caso do cyberbullying, essa vingança é ainda mais comum,
pois o agredido pode criar um perfil falso e se tornar um agressor. As vítimas que se tornam agressoras tendem a ficar muito ansiosas, pois elas
estão constantemente alternando tais papéis.

Em termos psicológicos, há possibilidade de ocorrer grandes prejuízos na construção do Eu (chamado self em Psicologia) das crianças que se
tornam vítimas-agressoras. Isso se dá porque é necessário um determinado grau de convicção enquanto o indivíduo está no processo de
construção de sua identidade. Por conseguinte, quando se oscilam papéis muito distintos em termos de consequência e colocação social (em um
determinado momento a pessoa é vítima e no outro é agressor), há impactos na formação do self, além do aumento da agressividade.

Dentro deste tópico, salientamos ainda que uma particularidade que torna o bullying ou o cyberbullying tão comuns na infância e adolescência é
a ausência de controle dos impulsos. Isso se deve ao fato de que, nessa fase da vida, a área pré-frontal do cérebro, que é responsável por
diversas funções inibitórias, ainda se encontra em desenvolvimento. Esse desenvolvimento se completa logo após a segunda década de vida, por
volta dos 21, 22 anos de idade. Sem contar com tal maturidade e levados pela impulsividade, os educandos não conseguem fazer uma estimativa
do impacto de seus comportamentos no curto, médio e longo prazo. Soma-se a isso o fato de que esse período de desenvolvimento é
caracterizado pela ausência do senso de empatia. A possibilidade de se colocar no lugar do outro, sabendo que “ele não sou eu” ainda está
sendo construída uma vez que ainda não estão presentes todos os recursos cerebrais (cognitivos e emocionais) para, verdadeiramente, sentir
empatia. Infelizmente, as tecnologias não favorecem o progresso da empatia porque não se está vendo o rosto (com as expressões faciais que
demonstram suas emoções) da outra pessoa durante uma interação. Por isso, há sempre a possibilidade de bloqueá-la ou desligar o celular;
enfim, sair de uma situação sem nem ao menos tentar entender “o outro lado”. Neste sentido, mesmo quando ainda não haja capacidade
biológica na criança é importante começar a estimular nela o desenvolvimento da empatia; nós nascemos com a capacidade de sermos
empáticos, porém, se ela não for desenvolvida, nunca o seremos.

O bullying e o ambiente escolar


No tópico anterior, elucidamos a origem do bullying na raiva/agressividade que são condições inatas das complexas emoções humanas. Agora,
trataremos um pouco também do caráter social coletivo envolvido no tema bullying.

O bullying é um processo grupal. Ele tem relação com a formação de identidade, principalmente na adolescência. Observamos que nossos
alunos tendem a formar grupos por afinidades de interesses e comportamentos. Assim, surgem “comunidades” diversas como o grupo dos que
são populares, o dos esportistas, o dos nerds, o das “patricinhas”, o da turma do fundão etc. Cada adolescente escolhe e espera ser aceito por
um destes grupos. Com este comportamento, ele está “testando”, tentando encontrar um “rótulo” que imagina que melhor categorize a sua
personalidade ainda em formação. Ser rejeitado por esses grupos a partir de práticas de bullying (geralmente em virtude de alguma
característica física, de desigualdade social, de identidade de gênero ou de traço de personalidade) causa um sofrimento proveniente do
isolamento e da depressão. A consequência mais imediata é a baixa autoestima sucedida da queda de rendimento escolar. O educando perde o
interesse pelos estudos e por qualquer tipo de interação social.

Nesse panorama, em seus estudos em campo, Lisboa e equipe criaram o termo “clima escolar”. Ele está associado aos conceitos organizacionais
da escola (sua hierarquia e suas normas de funcionamento) e a existência de bullying dentro delas. Uma das pesquisas revelou que 64% dos
alunos relataram que os atos de cyberbullying iniciaram na escola, tendo os colegas de turma como agressores. Essas agressões continuaram
acontecendo simultaneamente no ambiente escolar e na web.

Nessa mesma linha de estudos, outras pesquisas demonstraram que há maior ocorrência de cyberbullying em escolas particulares do que em
escolas públicas. Segundo a pesquisadora, é possível que isso ocorra porque os estudantes das escolas particulares têm maior acesso às
cibertecnologias e permaneçam mais tempo indoor, isso é, dentro de espaços fechados, como é o caso dos condomínios de casas e
apartamentos residenciais. Desse modo, eles praticariam mais cyberbullying por não estarem envolvidos em outras atividades, principalmente as
que acontecem ao ar livre.

As especificidades do cyberbullying
No tópico anterior vimos que o cyberbullying surge inicialmente no ambiente escolar. Neste viés, a continuação do estudo comprovou que,
embora essa agressão se dê em um ambiente virtual, o “clima escolar” de uma instituição de ensino tem uma participação na manifestação dela.
Isso explica o motivo pelo qual há maior ocorrência de bullying em algumas escolas do que em outras. Portanto, a escola deve ser uma das
primeiras interessadas em sanar esse problema assim que dele tomar conhecimento. Aqui ressaltamos que as vítimas de bullying tendem a não
relatar tais agressões aos pais ou responsáveis por receio de que esses suspendam seu uso das TIC. Porém, os danos psíquicos do bullying e do
cyberbullying são reais, graves e perduram no longo prazo, como vimos anteriormente. Logo, pais e profissionais de ensino devem estar atentos
a mudanças no comportamento do educando e buscar dialogar imediatamente sobre possíveis problemas que ele esteja vivenciando.

As informações disponibilizadas nos próximos parágrafos foram obtidas a partir de dados da pesquisa Cyberbullying e estratégias de coping
(Malmann, 2016)

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A ciberagressão (ou cyberbullying) é a ação de causar um dano intencional a uma vítima, por meio de dispositivos tecnológicos em espaços
virtuais, ou seja, o agressor utiliza o computador, ou o celular, para ameaçar, agredir ou humilhar alguém.

 As formas mais comuns de cyberbullying detectadas pelo estudo foram:

Postagem de comentários ofensivos e chacotas em redes sociais;


Uso de perfis falsos para intimidar a vítima;
Violação de dados para acesso a e-mails e afins.

Nessa fase da pesquisa, detectou-se que o envolvimento em cyberbullying está relacionado com baixa autoestima, raiva e maior expressão da
agressividade.

Quanto à questão da agressividade, um importante dado obtido foi a constatação de que a maior participação no cyberbullying era feita por
meninas/adolescentes (do sexo feminino) tanto como agressoras, quanto vítimas conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1: Percentuais de meninos e meninas por grupo de envolvimento

  Não envolvidos Agressores Vítimas Vítimas-agressores

  N (%) N (%) N (%) N (%)

Feminino 47 (17,2) 17 (6,2) 21 (7,7) 48 (17,6)

Masculino 68 (24,9) 11 (4,0) 13 (4,8) 48 (17,6)

Total 115 (42,0) 28 (10,3) 34 (12,2) 96 (35,2)

Fonte: Malmann, 2016

Segundo a pesquisa, isso se dá porque a agressividade masculina é mais exteriorizada por questões biológicas, sociais e culturais, enquanto a
agressividade feminina é muito sutil; ela se expressa de modo mais relacional e verbal. A pesquisa apontou que a prevalência do cyberbullying é
no período da adolescência. Nessa fase, as agressões se tornam mais sofisticadas. Assim, no cyberbullying, as estratégias de coping mais comuns
foram:

Autocontrole: está relacionado com passividade, em não agir, não tomar o controle da situação. Essa estratégia pode ser boa (por
possivelmente evitar novas agressões) e ruim (pode gerar características internalizantes);
Suporte social: estratégia protetiva que consiste em pedir ajuda para resolver o problema;
Fuga/Esquiva: fugir do que está acontecendo, negar a realidade. Tem maior tendência de gerar depressão, ansiedade, baixa autoestima;
Vítimas-agressores: são vítimas em um ambiente e agressores em outro;
Confronto: tendem a atacar, revidar. Há risco de revitimização.

Duas outras características que, segundo os estudos de Lisboa, distinguem o bullying do cyberbullying são a audiência e o anonimato.

No bullying tradicional, a audiência, ou seja, as pessoas que presenciam a vítima sofrendo humilhações, é limitada às pessoas que estão
fisicamente presentes no local em que elas ocorrem. No caso do cyberbullying, a audiência é toda a web. Não há limite de tempo ou espaço para
que qualquer pessoa no mundo tenha acesso a essas ofensas. A vítima não tem onde se refugiar (em sua casa, seu quarto etc.) para ficar, ao
menos temporariamente, distante da agressão: esses atos estão publicados na internet e a exposição é diuturna, enquanto uma providência -
como acionar a Delegacia de Crimes Virtuais - não for efetivamente tomada.

Naquilo que se refere ao anonimato, para o agressor, é fácil criar perfis falsos para ultrajar sua vítima em uma rede social. Embora a vítima saiba
a origem desses insultos, ela não tem como provar absolutamente nada, a menos que busque atendimento no órgão legal responsável por
averiguar esse tipo de crime. Em outras palavras, as sanções referentes ao cyberbullying dependem de investigação profissional e, por
conseguinte, requerem tempo para serem aplicadas – tempo este em que a vítima continua sendo agredida mesmo após tomar as providências
que lhe cabia.

As informações aqui expostas não têm a pretensão de esgotar um tema tão vasto e intrincado quanto o bullying/cyberbullying. Nosso objetivo
foi colocar o tema em pauta ao trazer dados de pesquisas realizadas em escolas brasileiras enfocando questões de saúde psíquica de nossos
alunos. A seguir, apresentaremos orientações (obtidas nos estudos citados) para a ação de professores e profissionais de ensino no manejo de
situações de cyberbullying.

Ações preventivas e de combate ao cyberbullying


Quanto aos pais/responsáveis:

Vigiar excessivamente ou proibir o uso da internet não são estratégias eficazes. Isso traz para a criança ou adolescente a ideia de que algo
tão invasivo quanto um controle externo das atitudes dos outros é algo adequado. Restringir pode ser eficaz a curto prazo, mas negar ao
jovem o acesso à Internet pode ter repercussões mais sérias. Nesse caso, o melhor recurso é o diálogo
Letramento digital: pais e responsáveis devem procurar conhecer o atual universo digital para poder oferecer uma orientação quanto
àquilo que é ou não benéfico na rede.

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Uso de softwares de controle parental. Conforme explicado no primeiro item, os pais devem evitar lançar mão de recursos de controle.
Porém, se o diálogo não for suficiente e eles decidirem instalar programas de controle de conteúdo no computador e/ou celular, os jovens
devem ser avisados em um diálogo sincero e aberto, para que eles não se sintam espionados ou traídos.
Denunciar: Muitas cidades possuem delegacias de crimes virtuais. A ONG Safer Net Brasil também conta com peritos para auxiliar nas
investigações. Endereço do site: https://new.safernet.org.br/

Quanto aos alunos:

Educação: professores e demais profissionais de ensino devem informar à criança ou adolescente a respeito dos riscos presentes na
internet e das consequências dos atos nela praticados.
Tempo de uso da internet: muitos estudos sugerem que maior exposição à internet conduz a um maior envolvimento com cyberbullying.
Assim, o planejamento de uma rotina alternativa, por meio de treino em habilidades sociais, pode ser eficaz.
Monitorar o aparecimento de sintomas: comunicar aos pais sempre que forem detectados casos de queda de rendimento em
aprendizagem, presença de ansiedade ou traços de depressão.
Promover pesquisas, projetos e outras ações na escola com o tema “etiqueta virtual”.

Considerações finais
Ao longo deste trabalho falamos da questão da raiva (emoção humana), sua manifestação em forma de violência como modo de comunicação e
a reverberação desses fatores no fenômeno atualmente conhecido como bullying e sua versão virtual, o cyberbullying. Esperamos com ele ter
trazido esclarecimentos e diretrizes aos educadores em face a ocorrências dessa natureza.

Encerramos nosso trabalho com um excerto de O erro de Descartes (1996, p. 254), do célebre neurologista português António Damásio, radicado
nos Estados Unidos, à guisa de reflexão:

Em um nível prático, a função atribuída às emoções na criação da racionalidade tem implicações em algumas das questões com que nossa
sociedade se defronta atualmente, entre elas a educação e a violência. Não é este o local para uma abordagem adequada dessas questões, mas
devo dizer que os sistemas educativos poderiam ser melhorados se se insistisse na ligação inequívoca entre as emoções atuais e os cenários de
resultados futuros, e que a exposição excessiva das crianças à violência na vida real, nos noticiários e na ficção audiovisual desvirtua o valor das
emoções na aquisição e desenvolvimento de comportamentos sociais adaptativos. O fato de tanta violência gratuita ser apresentada sem um
enquadramento moral só reforça sua ação dessensibilizadora.

Referências
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https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/409. Acesso em: 15 abr. 2021.

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Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56657419. Acesso em: 12 abr. 2021.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). (2010). Cartilha Bullying: justiça nas escolas. 2010. Disponível em:
https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/cnj/cartilha_bullying.pdf . Acesso em: 15 abr. 2021.

COLOMBIER, Claire et al. A violência na escola. São Paulo: Summus, 1989.

LAZARUS, R. S.; FOLKMAN, S. Stress, appraisal, and coping. New York: Springer, 1984.

DAMASIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras. 1996.

EKMAN, Paul. A linguagem das emoções. Trad. Carlos Zslak. Lisboa: Lua de Papel, 2011.

MALMANN, Caroline Louise. Cyberbullying, estratégias de coping e esquemas iniciais desadaptativos em adolescentes. Porto Alegre: PUCRS. 2016.
Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/6587. Acesso em 12 abr. 2021.

SOUZA, Sidclay; BEZERRA, Simão; VEIGA, Ana Margarida; CAETANO, Ana Paula. Cyberbullying: percepções acerca do fenômeno e das estratégias
de enfrentamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 27, nº 3, 2014. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/188/18831844020.pdf. Acesso em:
15 maio 2021.

SPOSITO, Marilia. A instituição escolar e a violência. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 104, 1998. Disponível em:
http://publicacoes.fcc.org.br/index.php/cp/article/view/717/733. Acesso em: 15 maio 2021.

WENDT, Guilherme; LISBOA, Carolina. Compreendendo o fenômeno do cyberbullying. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 22, nº 1, 2014.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2014000100004. Acesso em: 15 abr. 2021.

WENDT, Guilherme Welter; CAMPOS, Débora Martins de; LISBOA, Carolina Saraiva de Macedo. Agressão entre pares e vitimização no contexto
escolar: bullying, cyberbullying e os desafios para a educação contemporânea. Cadernos de Psicopedagogia, v. 8, nº 14, 2010. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-10492010000100004. Acesso em: 14 abr. 2021.

Publicado em 03 de agosto de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

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WEISZ, Isabel Cristina. Bullying e cyberbullying: atualizações científicas sobre um tema que não pode ser ignorado pelos professores. Revista Educação Pública, v. 21, nº 29, 3 de
agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/29/bullying-e-cyberbullying-atualizacoes-cientificas-sobre-um-tema-que-nao-pode-ser-
ignorado-pelos-professores

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