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DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM: DISLEXIA

Ana Lucia Evangelista Dorigon 1

RESUMO

As dificuldades de aprendizagem quando persistem por um longo tempo, são


motivos de preocupações de muitos pais, professores e dos próprios alunos,
pois a criança acaba tomando consciência de seu problema, mesmo sem ter
um diagnóstico, o que acaba piorando a situação. A mesma sente-se
inferiorizada com relação aos demais alunos, sem saber o verdadeiro motivo
de tantos erros, embora sejam muito inteligentes. Estas são considerações
relevantes para esse enfrentamento, sendo necessário seu entendimento
para melhor compressão e assim atuar de maneira mais eficiente em prol do
aluno. Esse artigo por meio de pesquisa bibliográfica teve por objetivo
compreender o distúrbio de aprendizagem denominado dislexia, quais
profissionais especializados devem fazer o tratamento terapêutico e os
procedimentos mais indicados por especialistas para ser aplicado em sala de
aula, auxiliando o professor na escolha da metodologia mais adequada e
facilitadora para o ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Dislexia, Distúrbio de Aprendizagem, Procedimentos.

1 INTRODUÇÃO

Por vivermos atualmente um momento cada vez mais intenso de luta


pelos direitos a igualdade social e a educação para todos. Serão abordados
neste estudo alguns aspectos relacionados às dificuldades de aprendizagem
apresentada pelos alunos que possuem um quadro de Dislexia, como também
identificar quais procedimentos pedagógicos é mais apto para serem
desenvolvidos com os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem
referentes à leitura e à escrita. Com intuito de contribuir para melhorar esta
realidade, este artigo também realizará reflexões sobre a formação dos
professores para garantir um bom desenvolvimento dos procedimentos
pedagógicos no ambiente escolar e com isso se obter os melhores resultados
com os alunos que apresentam dificuldades referentes à leitura e a escrita,

1
Graduação em História, Especialização em Psicopedagogia Institucional pela Instituição
Faculdade de Educação São Luís, Jaboticabal, São Paulo, Brasil. E-mail
analuciadorigon@hotmail.com. Orientador: Danilo Martins Fontes.
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especificamente os diagnosticados como disléxicos, para que assim não


comprometa o processo de ensino aprendizagem bem como a construção/
reconstrução do conhecimento, sendo que essa formação específica se faz
necessária para o bom desempenho de uma educação inclusiva para as
pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) e a escola realize
o papel de agente mediador para essa modificação tão necessária.
A fim de atingir os objetivos propostos para o desenvolvimento deste
estudo a pesquisa se pautará em referências bibliográficas de livros,
periódicos, artigos, revistas, teses, dissertações que tratam da temática em
questão, os quais podem auxiliar no entendimento para compreensão da
dislexia e quais procedimentos são mais adequados, também buscarei
embasamento teórico com relações ao aluno e ao ensino-aprendizagem,
observando autores como: Lyon (1995), Mousinho (2004), Zorzi (2003),
Jardini (2006) entre outros.
A inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais na
rede regular de ensino tem sido um assunto muito discutido na atualidade,
sem levar em consideração que isso requer professores com conhecimento e
formação específica capazes de promover a aprendizagem e participação de
todos. Nesse sentido, buscar o conhecimento a respeito do assunto e
procurar intervir de maneira apropriada é uma necessidade, isto porque,
quando nos referimos ao processo de ensino-aprendizagem supomos que
para ensinar é necessário adquirir conhecimentos, ou seja, aprender a
dominar os saberes necessários à realização do trabalho docente. Assim
discutimos e analisamos algumas possibilidades de se trabalhar com alunos
que necessitam de uma atenção específica.
O debate em torno de uma sociedade inclusiva e de uma escola que
inclua efetivamente seus alunos tomou uma nova direção, a partir 1990 com a
Declaração de Jomtien (1990) que se fundamenta em uma educação como
direito fundamental de todos, homens e mulheres, de todas as idades, no
mundo inteiro. Entende-se que a educação pode contribuir para a conquista
de uma sociedade melhor.
Em 1994, a Declaração de Salamanca (1994) propôs a inclusão social
juntamente com a Convenção sobre os Direitos da criança. Assim, foi
proposta a inclusão de todos os indivíduos que apresentam ou venham a
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apresentar uma necessidade educacional especial. De acordo a resolução


CNE/ CEB nº 2000 instituiu-se às Diretrizes Curriculares para a Educação
Especial Básica.

Art. 2º Por Educação Especial, modalidade de educação escolar,


entende-se um processo educacional que se materializa no âmbito
de uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos
e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos,
substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a
educação formal e promover o desenvolvimento das potencialidades
dos educandos que apresentam necessidades educacionais
especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica.
(BRASIL, 1996, p. 1).

A inclusão do aluno disléxico na escola, como pessoa portadora de


necessidade educacional especial, está garantida e orientada por diversos
textos legais e normativos, assim cabe as instituições governamentais e
educacionais seu cumprimento.

2 O CONCEITO DE DISLEXIA

No decorrer dos anos, muitos estudos se realizaram a fim de se ter


uma definição objetiva, sobre a Dislexia, em 2003, conforme Cabussú, a
Associação Internacional de Dislexia adaptou a seguinte definição:

Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem


neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência
correta na leitura e por dificuldade na habilidade de
decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam
tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem
que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas
consideradas na faixa etária (CABUSSÚ, 2009).

Às vezes, nos deparamos com alunos que apresentam dificuldade em


ler, ou seja, trocam letras e até mesmo palavras. Talvez esta criança possa
estar apresentando indicações de dislexia (cuja origem da palavra advém do
grego “dis” = (dificuldade); “lexia” = Linguagem), que se caracteriza como
uma falta de habilidade na área da leitura, escrita e soletração (Associação
Nacional de Dislexia).
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Entender como ocorre à aprendizagem e a causa de muitas pessoas


inteligentes terem dificuldades em seu aprendizado é um desafio que a
Ciência vem se dedicando através de pesquisas e obtendo muitas conquistas
nos últimos dez anos, as quais têm trazido respostas significativas sobre o
que é Dislexia. Ainda mais com o avanço tecnológico, com destaque ao apoio
da técnica de ressonância magnética funcional.
Ciasca (2003) elaborou um texto sobre Distúrbio de Aprendizagem
(DA), que reflete um pouco sobre o difícil ato de aprender e como a
aprendizagem se dá e se desenvolve. A autora acredita que a aprendizagem
pode ser definida como um processo evolutivo e constante que implica uma
sequência de modificações observáveis e reais no comportamento do
indivíduo (físico e biológico) e no meio que o rodeia. Para a autora:
O cérebro humano é um sistema complexo, que estabelece
relações com o mundo que o rodeia. São duas as suas
especificidades: a primeira é referente às vias que levam, da
periferia ao córtex, informações provenientes do mundo
exterior; a segunda diz respeito aos neurônios. São estas
características que permitem determinar áreas motoras,
sensoriais, auditivas, ópticas, olfativas, etc., estabelecendo
noções exatas e ricas no aprendizado. (CIASCA, 2003, p. 4)

Ciasca (2003) conclui que dentro dos distúrbios específicos de


aprendizagem a “Dislexia é, teoricamente, o mais comum. Porém na prática o
que se vê com maior freqüência é, sem dúvida, o distúrbio generalizado de
leitura, escrita e raciocínio matemático”. (CIASCA, 2003, p. 6-7). Sendo
assim, dominar a leitura e a escrita corresponde a um dos fatores básicos
para a garantia do desenvolvimento escolar, pois é a partir dessas
capacidades que se assentarão as futuras aprendizagens.
Mousinho (2003) explica que um dos motivos de alunos inteligentes
não conseguir ter um bom rendimento acadêmico pode estar relacionado aos
distúrbios de aprendizagem. Neste sentido, é fundamental esclarecer o que é
dislexia. Segundo a autora caracteriza-se como:

[...] um transtorno ESPECÍFICO de leitura; um funcionamento


peculiar do cérebro para o processamento da linguagem; um
déficit linguístico, mais especificamente uma falta de
habilidade no nível fonológico; uma dificuldade específica para
aprendizagem da leitura bem como para reconhecer, soletrar e
decodificar palavras. Podemos também incluir a presença de
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dificuldades visuais, auditivas, problemas emocionais,


distúrbios neurológicos ou dificuldades socioeconômicas como
origem do transtorno. (MOUSINHO, 2003, p. 26).

A leitura é uma atividade complexa e não um processo natural.


Portanto, é necessário compreendermos tudo o que é preciso para lermos
bem. No entanto, os disléxicos “têm alterações básicas que prejudicam as
atividades de análise, fundamentais para a leitura, apesar de apresentarem
facilidade nas tarefas de construção”. (MOUSINHO, 2003, p. 27).
Para Lyon (1995, p. 1), a dislexia é:

Um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio


específico de origem constitucional caracterizado por uma
dificuldade na decodificação de palavras simples que, como
regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico.
Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a
outras dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um
resultado de distúrbios de desenvolvimento geral nem
sensorial. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em
diferentes formas de linguagem freqüentemente incluindo,
além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e
de soletração.

De acordo com a AND (Associação Nacional de Dislexia) no que diz


respeito à dificuldade em relação à leitura e à escrita, podemos nos deparar
com uma incapacidade específica de aprendizagem.

Um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura,


escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior
incidência nas salas de aula. Pesquisas realizadas em vários
países mostram que entre 05% e 17% da população mundial é
disléxica. (AND, 2010, s/p).

Ao apontarmos o conceito de dislexia pelos autores já citados


verificamos que se trata de um distúrbio que não pode ser caracterizado
como resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição
sócio-econômica ou baixa inteligência. Na verdade, ela tem sido vista como
uma dificuldade na aquisição da leitura e da escrita por apresentar alterações
no padrão neurológico.
Embora as dificuldades de aprendizagem tenham se tornado focos de
pesquisas mais intensas nos últimos anos, elas ainda são pouco entendidas
pelo público em geral. Então, algumas das dificuldades apresentadas pelas
crianças no ambiente escolar podem ser resultados desta falta de
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informações acerca das dificuldades de aprendizagem, que muitas vezes,


apresentam enganos, até mesmo por parte de professores e profissionais da
educação.
De acordo com Santos (1986) a Dislexia não é considerada uma
doença, na verdade se apresenta como um funcionamento peculiar do
cérebro para os processamentos linguísticos. O disléxico tem dificuldade para
associar o símbolo gráfico, as letras, com o som que elas representam, e
organizá-los, mentalmente, numa sequência temporal.
Zorzi (1998, p. 13) acredita: “Que as alterações no processo de
aquisição da escrita podem privar a criança de ter acesso a uma série de
conhecimentos, fato que acarreta dificuldade em sua evolução escolar o que
acaba causando danos evidentes tanto no plano afetivo quanto social”.
De acordo com Capovilla e Capovilla (2000), há basicamente duas
rotas para a leitura: a fonológica e a lexical. De forma que “a realidade
psicológica desse modelo de dupla rota tem sido demonstrada de maneira
basicamente extensa por meio de observações clínicas e de estudos
experimentais com base nos leitores” (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000, p.
12).
A dificuldade em reconhecer e entender precisamente os códigos
linguísticos, o fato de não identificar palavras familiares, mesmo com
inteligência normal e condições adequadas em seu meio e no ensino, levam
muitos pais encaminhados pela escola e professores a buscar um
atendimento especializado que possa contribuir na aprendizagem da criança,
pois é uma dificuldade que a criança tem e precisa ser compreendida, para
que as pessoas e a própria criança saiba lidar com a situação.
Para Cabussú (2009) “A dislexia é um transtorno neurológico crônico,
tendo o disléxico que conviver com os sintomas para o resto da vida. Trata-se
de um distúrbio específico de aprendizagem que se caracteriza por uma
demora na aquisição da leitura e da escrita. Muitas situações estressantes
interferem na vida e influenciam no seu desempenho e futuro acadêmico e
social”. Sendo assim, é muito importante que a criança seja submetida a
exames da modalidade de imagens ou testes específicos de processamento
auditivo, para um diagnóstico mais preciso, o qual servirá de instrumento
para o tratamento adequado.
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Como percebemos não é tão simples compreender a dislexia e o que


acontece na cabeça da criança quando ela não consegue aprender, mas a
busca pela maneira correta de ajudá-la pode ser um caminho para o sucesso
no seu futuro acadêmico e na vida pessoal.

3 DISLEXIA: DISTÚRBIO OU DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM?

Esses termos são comumente usados como sinônimos e não sabemos


diferenciá-los, nos apoiamos em Paes (2009), Zorzi (2003), para
compreendê-los. Ao ser matriculado em uma instituição escolar, cria-se uma
grande expectativa da criança, da família e dos professores em torno da
aprendizagem e se espera que o aluno adquira habilidades e aprenda.
Conforme Paes (2009, p. 34)

As habilidades escolares são aquelas que se espera de


alguém que frequenta uma escola, quando comparadas com a
maioria do grupo qualificado por idade e competências
estabelecidas pelas políticas educacionais vigentes. As
habilidades escolares mais exploradas são aquelas
relacionadas à linguagem oral e escrita, com o cálculo
matemático e com a coordenação motora. Todas essas
habilidades guardam estreita relação com a maturidade do
sujeito, com o funcionamento dos órgãos sensoriais e sistemas
envolvidos, bem como com o processo por meio dos quais
foram desenvolvidas.

Conforme Zorzi (2003, p.1) os problemas de aprendizagem


apresentados por crianças em idade escolar não fica restrito somente no
Brasil, é uma questão mundial. Para melhor explicar as causas das
dificuldades é necessário conseguir separar os verdadeiros e os falsos
distúrbios, sendo assim, Zorzi considera que a criança inserida na escola
pode ser encaixada em diversas categorias, evidenciando cinco delas:

1. Aquelas que tiveram a oportunidade de constituir


conhecimentos importantes a respeito da linguagem escrita por
terem convivido, desde muito cedo e em situação extra-
escolar, com pessoas que lêem e escrevem e terem tido
acesso a textos escritos.
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2. Crianças que, embora tenham tido chances de interagir com


a linguagem escrita por viverem em ambientes nos quais esta
forma de comunicação está presente, não chegaram,
principalmente por questões ligadas ao interesse, a construir
conhecimentos significativos. [...]. Isto nos leva a crer que,
nem sempre, a oportunidade garante a aprendizagem, mesmo
quando o aprendiz possa ter boas condições cognitivas e
lingüísticas para tanto.
3. Crianças que, principalmente por viverem em condições
sociais e econômicas pouco favoráveis, acabam tendo muitas
restrições em termos de oportunidades para aprender fatos
relativos à linguagem escrita.
4. Crianças com graus variáveis de reais dificuldades de
aprendizagem, porque apresentam alterações de alguma
ordem em seu desenvolvimento, como é o caso das
deficiências sensoriais, da deficiência mental, dos distúrbios
motores, dos distúrbios neurológicos e comportamentais [...].
5. Devemos ainda acrescentar aquelas crianças que, embora
não se encaixem nas categorias anteriores de deficiências
mais conhecidas e abrangentes, também apresentam
dificuldades para aprender a ler, escrever e realizar cálculos,
caracterizando os chamados transtornos (ou distúrbios) de
aprendizagem [...] (ZORZI, 2003, p.1).

Conforme o autor a criança se enquadra nessas cinco categorias de


distúrbio é o maior desafio para os profissionais que trabalham com crianças
que tem dificuldade de aprendizagem, sendo que essas possuem
Necessidades Educacionais Especiais, como é o caso de quem se enquadra
na categoria 4 e 5, isto porque.Na categoria 1 são crianças sem nenhum
problema de aprendizagem, o trabalho da escola é dar continuidade ao
processo já iniciado antes do ingresso na escola. Na categoria 2 é trabalhar
com a motivação para que a criança encontre sentido ao estudar. Já na
categoria 3: A escola precisa perceber as particularidades envolvidas na
dificuldade desse aluno e mediar o conhecimento, proporcionar oportunidade
da criança interagir com a leitura e escrita.
Ao classificar a criança por categoria Zorzi (2003) difere distúrbio do
não-distúrbio, esclarecendo que no distúrbio as informações são processadas
de forma diferente porque o “cérebro trabalha ou é estruturado de forma
diferente”. Para ele distúrbio não pode ser confundido com Déficit de atenção,
como o TDA/H (Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade), muito
menos por deficiência: mental, visual, auditiva, física, emocional, nem
autismo e também não ocorre por falta de oportunidade ou falhas no ensino.
Embora ele concorde que muitas vezes a o Distúrbio de aprendizagem pode
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estar junto com o TDA/H. O que ele chama de comorbidades. Na dislexia,


mais da metade dos casos não é pura.
Para esse mesmo autor os transtornos de aprendizagem “estão
acompanhados de falta de motivação, imaturidade e problemas
comportamentais”.
Como percebemos as dificuldades de aprendizagem podem ocorrer por
diferentes fatores, Paes (2009, p.35) apresenta que:

[...] as dificuldades de aprendizagem são aquelas que


impedem ou dificultam o desenvolvimento ou aquisição de
determinado tipo de conhecimento. Elas têm a ver com a
maturidade biopsicossocial do indivíduo, as deficiências e
falhas do sistema de ensino e as limitações do ministrante.
Podem ser temporárias ou permanentes, variam em graus e
podem ter diferentes origens.

Para diferenciar distúrbio de dificuldade é preciso atentar ao fato de


que no processo de alfabetização, quando a leitura e escrita são formalmente
apresentadas à criança normalmente aparecem às dificuldades mesmo com a
criança que não é disléxica, essa pode apresentar os sinais e sintomas que
aparecem em disléxicos, mas com uma diferença, conforme o tempo passa e
o aluno avança na aprendizagem e essas dificuldades tendem a desaparecer,
já para os disléxicos quanto mais o tempo passa maior é a falta de
compreensão. Muitos tipos de erros podem ser percebidos ao realizar a
leitura e a escrita:

1. Confusão entre letras simétricas: p e q, n e u, d e b, g e q:


mandon (por mandou), deder (por beber), bringuedo (por
brinquedo), foquete (por foguete), espuerda (por esquerda).
2. Confusão entre letras de formas vizinhas: J e g, m e n:
Gegum (por jejum), nas (por mas), moite (por noite).
3. Confusão entre letras foneticamente semelhante: T e d, p e
b, g e c, equivalendo à consonância “que”: turante (por
durante). Tinda (por tinta), popre (por pobre), ceco (por
cego), gomida (por comida).
4. Inversão da ordem das letras de uma sílaba: Pal (por pla).
5. Inversão da ordem das sílabas numa palavra. Quando a esta
espécie de erro, não a temos encontrado. Temos achado
apenas inversões que diríamos parciais: Aeoplano (por
aeroplano), Camer (por Carmen).
6. Leitura e escrita em espelho: So (por os), hi (por ih).
7. Substituição de uma palavra por outra de significado
aproximado ou metonímica: A roseira era debaixo (por ficava
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debaixo), soltou o ratinho (por salvou o ratinho).


8. Omissão de letras, sílabas ou palavras: Giado (por guiado),
entrando (por encontrando), se espraiou caprichosa (por se
espraiou em voltas caprichosas), pagou carro corrida (por
pagou o carro e a corrida).
9. Repetição de palavras: Alfabeto Alfabeto é...
10. Adição de letras, sílabas ou palavras: Fiaque (por fique),
aprendendendo (por aprendendo), retarilho (por retalho),
monte de que se elevava (por monte que se elevava).
11. Substituição de uma palavra por outra: Cecília (por Clícia),
colatelabores (por colaboradores), obrigado (por aborrecido).
12. Omissão de uma palavra numa frase quando a criança
simplesmente a ignora ou não a tenta ler, dizendo que não o
sabe fazer, ou hesita por demais na leitura dela, acabando
por não a ler (recusa).
13. À leitura, dificuldade, sempre igual, em decifrar uma mesma
palavra, como se o esforço anterior não tivesse contribuído
para nenhuma facilidade mnésica. (SANTOS, 1986, p. 8-9)

Conforme Santos, (1986) esse conjunto de erros não se encontram


todos em um mesmo disléxico, e os erros de um disléxico não são os
mesmos de outro, e até mesmo os erros variam de acordo com a
circunstância e idade.
As dificuldades de aprendizagem podem ser por motivos variados, no
entanto, nós focaremos no distúrbio específico da leitura e escrita, a dislexia.
No tópico a seguir discutiremos as principais características desse distúrbio
de aprendizagem.

4 AS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NOS CASOS DE DISLEXIA

Cada aluno tem habilidades e dificuldades diferentes uns dos outros,


por isso as abordagens, intervenções terapêutica também precisam ser
analisados de acordo com as especificidades de cada criança . Os
profissionais especializados que realizam o diagnóstico e tratamento são
fonoaudiólogos, geralmente em equipe multidisciplinar com psicólogos,
psicopedagogos, neurologistas e pedagogos.
No Brasil, atualmente, a Associação Nacional de Dislexia (AND) se
apresenta como ponto de apoio às famílias e disléxicos. Seu público
constituído de disléxicos de todas as idades, familiares, professores,
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profissionais da área educacional e clínica, podem contar com orientações


direcionadas, diagnósticos e encaminhamentos, cursos, de maneira científica.
Por meio de intervenções pedagógicas adequadas, as crianças disléxicas
poderão desenvolver estratégias que compensarão suas dificuldades,
facilitando-lhes a vida acadêmica.
O disléxico pode viver normalmente, o que ele precisa é aprender a
lidar com esse distúrbio. Durante o ensino regular, não se recomenda que
este fique fora do ambiente escolar e nem mesmo que fiquem em classes
especiais, pois:

O diagnóstico de dislexia traz quase sempre indicação para


acompanhamento específico em uma ou mais áreas
profissionais (fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia...),
de acordo com o tipo e nível de dislexia constatado. Assim
sendo, a escola procura assegurar, desde logo, os canais de
comunicação com o(s) profissional (is) envolvido(s), tendo em
vista a troca de experiências e de informações.
Todos os professores que trabalham com a classe sabem que
tal aluno é disléxico e o próprio também sabe disso. Quanto
aos colegas, deixamos a critério do aluno: se ele quiser contar
para os companheiros, que o faça; se ele quiser que nós o
auxiliemos a contar para eles, nós o fazemos; se ele não
quiser falar disso com terceiros, ninguém o fará. Dessa forma,
temos alunos que já passaram por várias séries sem terem
chamado a atenção dos colegas e sem terem sentido a
necessidade de revelar-se, assim como há aqueles que o
fazem sem cerimônia. (BRAGGIO, 2006, p. 19).

A inclusão do aluno disléxico na escola, como pessoa com necessidade


educacional, está amparada por diversos textos legais e normativos. A Lei
9.394, de 20/12/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), por exemplo,
prevê que a escola o faça a partir do artigo 12, inciso I, no que diz respeito à
“elaboração e à execução da sua Proposta Pedagógica”; e ainda no inciso V,
do mesmo artigo, “diz que a escola deve prover meios para a recuperação
dos alunos de menor rendimento (BRASIL, 1996)”.
No que diz respeito à incumbência dos docentes encontra-se no artigo
13 que são eles que devem “zelar pela aprendizagem dos alunos” e assim
estabelecer “formas de recuperação para os alunos de menor rendimento”
completa o inciso IV do mesmo artigo. (BRASIL, 1996)
De acordo com o que está previsto em lei, os professores devem estar
compromissados com a prática pedagógica e tem por função inserir os alunos
12

com dificuldades educacionais no ambiente de ensino-aprendizagem, fazendo


com que estes não sejam excluídos.
Conforme Felix (2012) a intervenção do disléxico acaba se tornando um
processo prolongado e o sucesso do tratamento depende da atuação do
profissional, pois envolve uma equipe de apoio, que inclui família, escola,
professores particulares e acompanhamento psicopedagógico.
Sabemos que não há uma única forma para se trabalhar com alunos
disléxicos, na verdade precisa-se de mais tempo e mais ocasiões para a
troca de informações, além de uma equipe multidisciplinar que faz o
diagnóstico e orientações sobre os procedimentos que se deve ter, pois há
especificidades, os disléxicos são pessoas com características e dificuldades
únicas.
Para Cabussú (2009) apud Felix (2012) os disléxicos quando atendidos
adequadamente conseguem chegar a bons resultados, na visão da
psicopedagogia a sugestão de tratamento deve utilizar dois métodos de
alfabetização: método multissensorial e o método fônico.
O método multissensorial desenvolvido pela italiana Drª. Maria
Montessori (1870-1952), estudiosa responsável pela criação de vários objetos
manipuláveis usados até hoje, apresenta vantagens porque a criança aprende
pela estimulação dos sentidos. Outro método, o fônico possui exercícios
fonoarticulatórios que auxiliam a desenvolver habilidades necessárias à
alfabetização como: memória e percepção auditiva, consciência fonológica,
percepção e memória visual, orientação têmporo-espacial, coordenação
visomotora, e esquema corporal.
Essas são áreas que precisam ser trabalhadas nos alunos,
principalmente quando a criança é disléxica, porém na maioria das vezes, o
professor que está em contato com o aluno não utiliza esse método, por
desconhecimento.
O método fônico é utilizado dentro de consultórios com fonoaudiólogos
e psicopedagogos. É um tratamento caro que a maioria dos alunos brasileiros
com problemas de aprendizagem não tem acesso pelo baixo poder aquisitivo.
Existem trabalhos científicos que demonstram resultados positivos quanto ao
uso desse método. Vale ressaltar os excelentes resultados do trabalho da
fonoaudióloga e doutoranda em pediatria Renata Savastano Ribeiro Jardini
13

em colaboração com a pedagoga e psicopedagoga Patrícia Thimóteo de


Souza, divulgado na revista de Atualização Científica Pró-Fono com o método
das boquinhas, baseado no método fônico.
Renata Jardini e sua equipe têm divulgado a metodologia fono-vísuo-
articulatória, ou seja, método das boquinhas, pelo Brasil, com treinamentos a
professores da rede pública e privada, e isso pode contribuir para que os
alunos recebam pelo menos um atendimento básico dentro da sala de aula,
pois está ao alcance dos professores, os quais mesmo sem os
conhecimentos na área da fonoaudiologia, mas com a aprendizagem da
técnica, podem estimular seus alunos na aprendizagem.

Não acreditamos que possa haver um método alfabetizador


infalível, em que os insucessos não existam tampouco uma
metodologia totalmente contra-indicada. A parceria aqui
proposta, de um trabalho paralelo e integrada entre
fonoaudiólogo e pedagogo, tendo a metodologia das
Boquinhas como base, tem sido um referencial teórico para
que a alfabetização, bem como a correção das trocas
específicas de letras, possa ser obtida em curto espaço de
tempo, com consistência e segurança, podendo manter e dar
continuidade à escolaridade dos casos de distúrbios da leitura
e escrita.(JARDINI; SOUZA - Alfabetização e reabilitação dos
distúrbios de leitura/escrita por metodologia fono-vísuo-
articulatória. Pró-Fono, 2006).

Em conformidade com o tipo de método, Santos (1986, p. 43):


“Diagnosticada a dislexia, a criança em alfabetização deve ser transferida de
onde esta se venha fazendo pelo método global para a escola que adote
outro, mais fonético [...]”. Como podemos perceber é fundamental a
compreensão do distúrbio, o tratamento realizado por especialista e a
intervenção pedagógica para o desenvolvimento do aluno disléxico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo por meio de estudos bibliográficos buscou diferentes


autores para definir a dislexia, mesmo sabendo que não existe uma definição
única, embora todos os autores concordem que é uma dificuldade crônica de
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leitura e escrita, relacionada a alterações no funcionamento do cérebro.


Ressaltamos a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) como ponto de apoio
as famílias de crianças disléxicas e demais profissionais envolvidos na área
da educação; também encontramos um excelente trabalho da Associação
Nacional de Dislexia.
O objetivo do trabalho foi identificar procedimentos pedagógicos
adequados para trabalhar com alunos que apresentam dificuldades referentes
à leitura e a escrita especificamente diagnosticado como dislexia, para que o
professor possa aplicar em sua prática. O que nem sempre é fácil porque o
ramo da pedagogia é bastante amplo, e o professor não tem o conhecimento
específico para lidar com a situação, agindo muitas vezes pela intuição.
Dentre as possibilidades de trabalho em sala de aula, sem a pretensão
de acharmos que essa seja a única maneira, encontramos em trabalhos
acadêmicos como sugestão o método multissensorial e o método fônico com
bons resultados, e ao alcance do professor, desde que tenha boa vontade e
receba a capacitação por fonoaudiólogos ou psicopedagogos, que são
profissionais especializados nessa área, os quais podem orientar como
proceder nesses casos. No entanto, como já dissemos o avanço na
aprendizagem depende de uma equipe, escola, família, especialistas e do
próprio aluno. Isto requer compreensão e comprometimento dos envolvidos
para desmistificar o conceito de que os dislexos são limitados e com poucas
possibilidades educacionais.
Vale à pena enfatizar que a responsabilidade da escola quanto à
inclusão social, no fundo, possibilita uma nova organização social capaz de
garantir a plena cidadania de todos os segmentos que a integram. Assim,
quando se faz referência a possibilidade da escola, no Brasil, contribuir
juntamente com uma boa formação dos educadores será o ponto de partida
para o combate a exclusão social não se pode deixar de levar em conta que
tal situação só será modificada quando questões de ordem social, política e
econômica forem equacionadas Essa importante batalha só será eficaz
quando os governos, numa ação de colaboração forem efetivamente capazes
de estabelecem políticas globais que favoreçam a inclusão social para todo o
cidadão em todo o segmento.
15

REFERÊNCIAS

Associação Nacional de Dislexia. Disponível em:


<http://www.andislexia.org.br/ >. Acesso em: 02/09/2016.

BRAGGIO, Mario Angelo. A Inclusão do Disléxico na Escola. 2006. Disponível


em <www.dislexia.org.br/material/estudantes/inclusao_dislexico.doc > Acesso
em 05/09/2016.

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