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Introdução
A professora não só não admite a resposta como correta, como também entende
que encerra uma certa rebeldia do aluno. Quatro anos mais tarde, quando
recordava a história a esse menino, ele a interrompeu dizendo: “Que problema
mais bobo; claro que ele não poderá escrever!”.
A realidade do dia-a-dia oferece-nos exemplos como esse, que são uma amostra
de que, às vezes, a escola não está favorecendo o desenvolvimento do
pensamento mas, antes, a aprendizagem de mecanismos e de respostas auto-
máticas sem sentido; mais ainda, fatos como o anterior mostram que a capa-
cidade de dar respostas inteligentes é truncada por causa da forma de intervir
do professor quando os alunos não dão a “resposta esperada”.
No entanto, “aprender a pensar” é um dos argumentos mais repetidos ao longo
da história para justificar a necessidade de aprender matemática, embora não o
único. Porque pensar é uma das atividades centrais da pessoa, mesmo que o
ser humano, além de pensar, também seja capaz de sentir, de crer, de amar, de
brincar, de contemplar, de atuar... E, ainda que pensar não seja patrimônio
exclusivo de nenhuma ciência, a matemática é uma matéria adequada para se
exercitar na arte de pensar e para tentar melhorá-la.
Isso exige a criação, na sala de aula, de uma atmosfera que propicies confiança
de cada aluno em suas próprias capacidades de aprendizagem, que não quer
dizer que às vezes não se sintam frustrados, desanimados os fracassados, mas
que apesar disso mantenham uma fé arraigada em sua capacidade de resolver
problemas; um ambiente onde haja prazer com o desafios e com os problemas
e onde se avaliem os processos e os progressos dos alunos e não apenas as
respostas; onde os alunos saibam discernir o que é ou não importante, confiem
em seus próprios critérios e não temam estar enganados ou mudar de visão;
onde sejam capazes de examinar mais de um ponto de vista para abordar um
problema, formulem perguntas pertinentes sejam cuidadosos ao fazer
generalizações, revisem suas próprias crenças e não tenham medo de dizer “não
sei”.
Perguntamo-nos: Por que esses erros acontecem? Por que alguns alunos
especialmente capacitados dão respostas pobres, quando não ingênuos Levar
pet chutar bolas mergulhar-nos em um estado de perplexidade ou levar-nos a
“chutar bolas pra fora” se nossa visão da matemática e da educação matemática
não nos leva a perguntar: “Por acaso não basta saber matemática?”.
A leitura dessas propostas por aqueles que, dia após dia, enfrentam desafio de
ensinar matemática a jovens e adolescentes pode provocar distintas reações,
sentimentos e perguntas, que passam obviamente pelo filtro de suas próprias
crenças sobre a matemática, seu ensino e sua aprendizagem Também pode
levá-los a confrontar suas práticas, constata da as vezes distância entre o que
gostariam de fazer e o que realmente podem fazer com alguns alunos reais em
uma aula real.
Contudo, gostaríamos que este livro não terminasse no Capítulo 5, que este não
fosse seu final, que tivesse muitos finais, tantos quantos professores de
matemática (interessados em promover em seus alunos a capacidade de pensar,
de se fazer perguntas, de enfrentar a resolução de problemas, de enfrentar,
crítica e criativamente, os desafios que a sociedade apresenta) o tenham lido.
Para “escrever” os seguintes capítulos, damos algumas pistas sobre o “texto” e
o “contexto”.
São muitas as pessoas que tornaram possível a existência deste trabalho escrito.
Gostaríamos de mencionar isso, nestas páginas, junto com nosso mais sincero
agradecimento.
Agradecimentos especiais a José Carrillo e a Antoni Llaveria, os primeiros
leitores de nosso manuscrito, por sua minuciosa revisão e por suas valiosas
sugestões e contribuições. Naturalmente também a Claudi Alsina, pelas precisas
e amáveis palavras do prólogo.
Dedicamos este livro ao pai de Antoni, falecido quando faltava um pouco para
que pudesse lê-lo. “Discreto sempre, nunca se queixou pelas muitas horas que
este trabalho lhe roubou. Pelo contrário, nosso dia-a-dia em sua felicidade. Ele
não poderá lê-lo, mas está nele”.