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https://novaescola.org.br/conteudo/16472/letramento-matematico-leva-
alunos-para-alem-dos-calculos
Matemática
“Quero que as crianças aprendam a investigar os números e as relações entre eles e não
simplesmente que resolvam contas de forma mecânica e decorem a tabuada sem
compreendê-la”, diz Mariana de Gouvêa, professora do 1º ano da EE Brasilio Machado, na
capital paulista. A maneira com que a educadora expõe a forma como trabalha tem tudo a ver
com uma diretriz importante descrita na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): o letramento
matemático.
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“Ele sabe fazer cálculos aproximados para descobrir o quanto de juros está embutido em um
pagamento a prazo e tem segurança para dizer se o resultado de uma conta é razoável ou
não”, explica Luciana Tenuta, formadora de professores e assessora da rede municipal de
Educação de Belo Horizonte. Claudia Siqueira, diretora do Instituto Sidarta, em São Paulo,
completa: pessoas letradas em Matemática fazem uso da função utilitária da disciplina e
também sabem lidar com reflexões puramente matemáticas.
Esse jeito de enxergar e ensinar a disciplina, com todos esses objetivos, soa familiar? De fato, o
letramento matemático não é uma novidade e tem tudo a ver com o que Constance Kamii, Guy
Brousseau, Susana Wolman e outros estudiosos da didática da área defendem há tempos: o
saber matemático vai muito além do cálculo e está diretamente relacionado à construção do
raciocínio e à argumentação. A ideia de letramento, porém, não aparecia com esse nome em
documentos oficiais, como os Parâmetros Nacionais Curriculares (PCNs). Antes, eram usados
termos como numeramento, numeracia ou alfabetização matemática. Cristiane explica: “Na
Base, o letramento é claramente declarado uma aprendizagem essencial que deve nortear
currículos e propostas pedagógicas. Na prática, a escola deve proporcionar condições didáticas
para a turma raciocinar, usar conceitos e ferramentas para dizer, explicar e predizer
matematicamente dentro e fora da sala de aula”.
“Nem sempre a Matemática na escola é pauta de reflexão, está mais só para constatação. E isso
precisa mudar”, diz. Jo Boaler, no livro Mentalidades Matemáticas (Editora Penso), escreve:
“Quando meus alunos me pedem ajuda, tenho todo o cuidado para não fazer o raciocínio
matemático para eles”. Na obra, Jo explica a importância de não decompor os problemas para
a turma, de modo a facilitá-los, subtraindo a demanda cognitiva. Defende que não ajudar os
estudantes é, com frequência, o melhor que pode ser feito por eles. Prefere incentivar a turma
a desenhar o problema, buscar outros recursos para tentar visualizar a questão e, então,
solucioná-la. Ela também recomenda o uso em sala de aula de tarefas matemáticas de
mentalidade de crescimento para abrir espaço para o aprendizado (confira suas características
abaixo), em vez das atividades estreitas e procedimentais, que simplesmente exigem a
realização de um cálculo.
Na sala de aula de Mariana, na EE Brasilio Machado, esse jeito de explorar Matemática está nos
detalhes. Está, por exemplo, no calendário exposto no quadro e usado pelos alunos para
contar quantos dias faltam para determinado evento. Está também na sequência numérica que
serve de apoio até que eles se apropriem dela por completo e na priorização da via de
resolução de problemas - uma das formas privilegiadas, de acordo com a BNCC, para
desenvolver o letramento (saiba mais no quadro abaixo). Sem reduzir a Matemática à
memorização, Mariana reforça a essência da disciplina e do aprimoramento do raciocínio
lógico.
Investigação
O aluno é estimulado a buscar padrões na Matemática e organizar
textos sobre isso. Para tal, usa-se especulação. Por exemplo: o que
acontece com um número quando é multiplicado por 10 ou 100? E se
for um número decimal?
Projetos e modelagem
Ao estudar um tema significativo com a turma, uma grande pergunta
norteia o projeto, cujo produto final é feito com base nos conteúdos
explorados. Na modelagem, aprende-se a construir modelos para
resolver uma situação matemática apoiando-se em exemplos já
conhecidos.
Embora possa parecer que lançar mão de contextos da vida real seja imperativo para tornar os
alunos letrados em Matemática, alto lá! Situações cotidianas, que façam sentido para os alunos
são bem-vindas, mas não podem ser as únicas. “Existem contextos intrínsecos à Matemática e
eles devem aparecer nas aulas desde o primeiro ano do Ensino Fundamental”, explica Luciana.
A tabela de Pitágoras, por exemplo, coloca em cena contextos puramente matemáticos. “Como
saber o resultado de 7 vezes 8 investigando outras colunas que não a desses números? Posso
usar a do 5 e do 2, por exemplo: 5 vezes 8 (40) mais 2 vezes 8 (16)”, explica.
3. Organizar debates para que o grupo discuta estratégias de resolução: quais são mais adequadas?
Fonte: Introdução ao Estudo das Situações Didáticas - Conteúdos e Métodos de Ensino, Guy Brousseau. Editora
Ática