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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PARA
PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Autora: Dougherthy Portela de Oliveira Silva 1

Orientador: Rudolph dos Santos Gomes Pereira 2

RESUMO

A dificuldade na resolução de problemas tem sido, ao longo do tempo, uma grande preocupação para
os professores de matemática. Os alunos lêem, mas não conseguem fazer a interpretação do
enunciado e traduzi-lo para linguagem matemática. Não conhecem os significados dos símbolos
matemáticos e assim não conseguem resolver os problemas trazidos a eles. O artigo apresenta o
trabalho realizado com professores de matemática, do ensino fundamental - anos finais e ensino
médio, com o objetivo de buscar uma forma de auxiliá-los para que possam assim ajudar seus alunos
a diminuir a dificuldade na resolução de problemas, e consequentemente, obterem mais sucesso em
seus estudos. Através de encontros realizados com professores, ficou claro que os mesmos acham
adequado o uso do esquema apresentado por Polya e também que o trabalho em grupo, quando feito
de forma correta, pode ajudar os educandos na resolução de problemas. Após análise do trabalho
realizado chegou-se a um consenso que problemas relacionados com o cotidiano dos alunos são
umas das formas de torná-los mais interessantes e atraentes, facilitando sua resolução.
Palavras-chave: Análise. Interpretação. Resolução de Problemas.

INTRODUÇÃO

O que tenho observado3 durante minha atuação no magistério é que uma das
dificuldades encontradas para a realização do trabalho do professor é o fato de que
muitos alunos não conseguem retirar do enunciado dos problemas dados para a sua
resolução. Conseguem resolver os algoritmos separadamente, mas têm dificuldade
com a interpretação, antes de efetuar os cálculos os educandos precisam entender e
compreender a situação apresentada, uma vez que só assim conseguirá resolvê-la
corretamente, como esclarece Dante “É muito comum que os alunos saibam efetuar
todos os algoritmos (as “continhas” de adição, subtração, multiplicação e divisão),
conheçam muitas fórmulas, mas não consigam resolver um problema que envolva
um ou mais desses algoritmos ou fórmulas” (2010, p. 9). Desta forma, compreende-

1Professora PDE 2013 de Matemática. Graduada em Licenciatura em Ciências com habilitação em


Matemática e Química. Especialização em Didática e Metodologia do Ensino.
2 Professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná – CCP.
3 Neste caso e em outros momentos do artigo, o verbo está na primeira pessoa para destacar aspectos da

trajetória profissional da primeira autora.


se que não basta apenas fazer as operações básicas, é preciso saber quando usá-
las.

Diante desta situação, dividi minhas angústias com os professores com os


quais trabalho e percebi que estas dificuldades não era só minha, então, partimos
para uma reflexão através de estudos de textos, a fim de tentar encontrar algumas
soluções para este problema.

ASPECTOS TEÓRICOS

Para uma melhor análise das dificuldades na resolução de problemas


podemos nos remeter a Dante:

Sendo a matemática uma área do conhecimento voltada para o raciocínio


lógico e de direta relação com a vida cotidiana das pessoas (usamos
matemática quando fazemos compras, quando administramos nossa renda
familiar, quando atravessamos ruas e avenidas, quando localizamos um
prédio etc.), sua metodologia de ensino deve valorizar os pensamentos e
questionamentos dos alunos por meio da expressão de suas ideias. Daí a
necessidade de explorar a oralidade em matemática, estimulando os alunos
a expressarem suas estratégias diante de uma questão (2010, p. 18).

No entanto, alguns alunos não querem resolver os problemas de matemática,


pois às vezes está fora de sua realidade, sem significado Smole e Diniz, alegam “[...]
para que a aprendizagem ocorra ela deve ser significativa e relevante, sendo vista
como compreensão de significados, possibilitando relações com experiências
anteriores, vivências pessoais e outros conhecimentos” (2001, p. 16). Isso exige
uma reflexão dos profissionais da área, para que a matemática ensinada na sala de
aula passe a se relacionar com o cotidiano e isso se torna possível através de
problemas bem elaborados, e que ao tratar de questões próximas ao aluno e
fazendo isso de forma interessante vai levá-lo a desejar buscar as respostas, pois
um dos objetivos do ensino de matemática de acordo com Dante “[...] é fazer o aluno
pensar produtivamente e, para isso, nada melhor que apresentar-lhe situações-
problema que o envolvam, o desafiem e o motivem a querer resolvê-las“ (2010, p.
18).

O professor pode assegurar um espaço para debate sobre o problema


apresentado, como propõe Diniz:
[...] podemos verificar que o aluno, enquanto resolve situações-problema,
aprende matemática, desenvolve procedimentos e modos de pensar,
desenvolve habilidades básicas como verbalizar, ler, interpretar e produzir
textos em matemática e nas áreas do conhecimento envolvidas nas
situações propostas. Simultaneamente, adquire confiança em seu modo de
pensar e autonomia para investigar e resolver problemas (2001, p. 95).

O professor tem a incumbência de mediar à resolução de problemas, e


colocar aos alunos questionamentos que os levem a encontrar os caminhos para
isso.

Com relação a esta prática, Polya explica que:

O estudante deve adquirir tanta experiência pelo trabalho independente


quanto lhe for possível. Mas se ele for deixado sozinho, sem ajuda ou com
auxílio insuficiente, é possível que não experimente qualquer progresso. Se
o professor ajudar demais, nada restará para o aluno fazer. O professor
deve auxiliar, nem demais nem de menos, mas de tal modo que ao
estudante caiba uma parcela razoável de trabalho (2006, p. 1).

Em virtude das dificuldades em resolver as questões o educando pode


desanimar e não querer mais tentar. O professor deve valorizar cada pequeno
avanço, fazendo com que entendam que os erros podem ocorrem são naturais e
são, também, etapas do aprendizado. Se houver continuidade do trabalho,
certamente haverá aprendizagem, sendo que o professor poderá, facilmente,
perceber a satisfação do aluno quando consegue resolver problemas sozinhos.

Parafraseando Polya, propõe-se um esquema que pode auxiliar o estudante


quanto à resolução de problemas. Ele é apresentado em quatro etapas:

a) Compreensão do problema: nesta fase inicial para compreender o


problema o aluno precisa fazer algumas perguntas como: qual é a
incógnita? Quais são os dados?
b) Estabelecimento do plano: nessa etapa é necessário encontrar
problemas auxiliares ou similares se os não conseguirem resolver da
forma como está. É preciso estabelecer um plano para a resolução.
c) Execução do plano: verificar cada passo e executar o plano escolhido.
d) Retrospectiva: revisar a solução que foi obtida e verificar se é possível
o mesmo resultado resolvendo-se de uma maneira diferente. Por fim
utiliza-se o método em outro problema (2006, p. XIX e XX).
Esses passos indicados por Polya (2006) são muito importantes para os
professores de matemática que trabalham com a metodologia de resolução de
problemas, nele as soluções vão sendo construídas, pois a mesma não está clara no
início e não pode ser feita por um único caminho.

É importante lembrar também àqueles que utilizam, ou pretendem utilizar o


método, que, embora existam as etapas, elas não precisam ser consideradas como
algo pronto, ao contrário, elas são importantes auxílios, mas podem sofrer
alterações. Como Dante nos elucida:

É claro que essas etapas não são rígidas, fixas e infalíveis. O processo de
resolução de um problema é algo mais complexo e rico, que não se limita a
seguir instruções passo a passo que levarão à solução, como se fosse um
algoritmo. Entretanto, de modo geral elas ajudam o solucionador a se
orientar durante o processo (2010, p. 29).

Se o professor planeja e organiza bem as atividades os alunos vão


desenvolvendo as suas habilidades e usando diversas estratégias para encontrar a
resposta, algumas dessas táticas podem ser próprias, outras indicadas pelo
professor e quando estiverem em grupos pode ser decidida entre os membros do
mesmo. O professor apenas observa e dá algumas ideias se solicitado pelos alunos.
Assim como enfatiza Dante:

Os alunos devem ser encorajados a fazer perguntas ao professor e entre


eles mesmos, quando estão trabalhando em pequenos grupos. Assim, eles
vão esclarecendo os pontos fundamentais e destacando as informações
importantes do problema, ou seja, vão compreendendo melhor o que o
problema pede e que dados e condições possuem para resolvê-lo (2005, p.
31).

O trabalho em grupo é uma maneira de incentivar os educandos e permitir


que os mesmos questionem, façam tentativas, descobrindo junto com os colegas
maneiras diferentes de encontrar soluções para os problemas, pois a matemática
tem que ser entendida, não memorizada.

Embora o trabalho em grupo seja muito importante, o professor não deve abrir
mão da realização do trabalho individual, conforme Menezes:

É claro que nem tudo deve ser feito de forma coletiva, pois são igualmente
essenciais a exposição do professor e tarefas individuais de crianças e
jovens, mas é preciso compor esses momentos articulando com coerência
as ações pessoais e coletivas (2009).
Assim, em grupos ou sozinhos os estudantes vão adquirindo segurança e
muitas vezes tendo sucesso em suas escolhas, o professor deve sempre motivar e
incentivar, cuidando também para que o clima da sala de aula seja propício ao
aprendizado significativo. De acordo com Krulik e Reys:

Os professores querem que seus alunos tenham segurança e sucesso ao


resolver problemas. A motivação é um dos muitos fatores que contribuem
para a segurança e o êxito. Uma criança que não quer resolver um
problema, provavelmente não irá resolvê-lo! Os professores devem
selecionar ou inventar problemas que sejam interessantes para os alunos.
Um clima propício e alegre é decisivo para o êxito no ensino de resolução
de problemas (1997, p. 151).

Dante alerta que:

Ensinar a resolver problemas é uma tarefa mais difícil do que ensinar


conceitos, habilidades e algoritmos matemáticos. Não é um mecanismo
direto de ensino, mas uma variedade de processos de pensamento que
precisam ser cuidadosamente desenvolvidos pelo aluno com apoio e
incentivo do professor (2010, p. 36).

Apesar desta dificuldade, o educando precisa entender a importância e a


aplicabilidade, não só para a escola, como também para a vida prática, o que,
certamente, o ajudará a tornar-se uma pessoa autônoma. A respeito disso, Smole e
Diniz complementam “[...] que ele desenvolva seu senso crítico, seu espírito de
investigação e sua autonomia na resolução de problemas, tornando-se um indivíduo
capaz de enfrentar, observar, discutir e deduzir os desafios, perseverando na busca
de caminhos para possíveis soluções” (2001, p. 120).

Outra contribuição importante para a questão da resolução de problemas é a


de Krulik e Reys onde apresentam sugestões práticas para ajudar professores e
estudantes a entender que os esquemas prontos e inflexíveis devem ser
esquecidos, para que estejam abertos para surpresas que possam acontecer no
decorrer do trabalho. Os autores defendem a construção de respostas e não a
simples confirmação das mesmas previamente estabelecidas. De acordo com os
autores:

Fazer com que os alunos se envolvam completamente com a resolução de


problemas é uma forma de dar-lhes experiências valiosas nos processos da
matemática, mas isso significa que precisamos arriscar um pouco da
segurança de saber antecipadamente como a aula transcorrerá ou quais
serão as soluções. Os alunos estão acostumados a encontrar a matemática
na forma acabada. A resolução de problemas é matemática em elaboração
(1997, p. 218).
Além disso, acreditam ainda que o professor que gosta de resolver problemas
com entusiasmo muitas vezes pode levar seus alunos também a gostar das
atividades. Eles dizem:

O entusiasmo de um professor pela resolução de problemas é quase


sempre contagiante. Os alunos que vêem seus professores entusiasmados
ao resolver problemas que os intrigam tendem a desenvolver sua própria
curiosidade natural e participar avidamente dos problemas do professor.
(KRULIK; REYS 1997, p. 232).

Na sala de aula, quando o aluno for resolver problemas ele precisa ser
incentivado para desenvolver sua criatividade, fazendo suas próprias anotações. E,
por registros entendem-se também os conhecimentos que os educandos já
possuem.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica contemplam esta colocação


quando afirmam que “O professor deve considerar as noções que o estudante traz,
decorrentes da sua vivência, de modo a relacioná-las com os novos conhecimentos
abordados nas aulas de Matemática” (PARANÁ, 2008, p. 70).

Muitos alunos possuem uma forma de raciocínio inerente ao contexto em que


vivem situação esta muito evidenciada, por exemplo, em estudantes residentes na
zona rural, os quais auxiliam os pais nas compras e vendas. Este conhecimento se
respeitado e aproveitado pelo professor em suas aulas, que ajudarão o aluno a
transformar o conhecimento empírico em conhecimento científico.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

A implementação do projeto de intervenção pedagógica ocorreu através de


discussões junto aos professores de matemática. Como já dito, o objetivo do
trabalho é o de buscar alternativas para tentar sanar algumas dificuldades dos
alunos em relação à resolução de problemas. Considerando que os educandos já
tenham conhecimentos prévios das quatro operações básicas, a tarefa que se
propõe é dar significado ao ato de realizar estas operações na resolução de
problemas e conseguir analisar, interpretar, escolher uma estratégia, argumentar e
resolver situações-problema em diferentes contextos sociais e encontrar um
significado para chegar a uma melhor solução.
Foram realizados 5 (cinco) encontros nas dependências do Colégio Estadual
Antonio Carlos Gomes – Ensino Fundamental e Médio, no município de Nova Santa
Bárbara, tendo a participação de 13 professores onde foram apresentados alguns
textos para leitura, discussão e solicitado a elaboração de relatórios para uma
posterior análise.

É importante salientar que não foram explicitados sequencialmente os relatos


dos 13 professores que participaram da implementação do projeto de intervenção
pedagógica, devido ao fato de que em alguns momentos a ideia central abordada
era a mesma já apontada por outro professor. Portanto, para demonstração e
análise do relato, foram elencados os textos que melhor evidenciavam os conceitos
e práticas discutidos nos encontros.

Um dos textos escolhidos para estudo foi o “Como se resolve um problema”


de Luiz Roberto Dante, extraído do livro “Didática da resolução de problemas de
matemática” (DANTE, 2005, p. 22-29), O texto descreve passo a passo o esquema
proposto por Polya (2005) que são quatro as etapas para resolução de problemas:
compreender o problema; elaborar um plano; executar o plano e fazer um
retrospecto ou verificação.

Após a leitura os professores fizeram relatos de suas práticas em sala de


aula, revelando quais formas ou métodos usam para a resolução de problemas.
Seguem alguns deles:

Professor 1: O método do Polya, no meu entendimento, é enriquecedor e


indispensável para a resolução de problemas matemáticos, deve ser colocado em
prática em sala de aula, e será válido se, e somente se o aluno estiver envolvido em
cada passo, pois, se o problema for resolvido sem reflexão, não há aprendizado.

Professor 2: Costumo utilizar a metodologia de resolução de problemas no


desenvolvimento de praticamente todos os conteúdos. Percebo grande dificuldade
por parte dos alunos em compreender o que deverão calcular e em estabelecer
métodos de resolução. Os alunos, na sua maioria, não se mostram persistentes,
desistindo com facilidade, quando consideram o problema difícil ou trabalhoso.
Professor 3: O professor pode motivar os alunos e propiciar um espaço de debate
sobre o tema proposto, o trabalho em equipe auxilia no que tange ao levantamento
de hipóteses e proporciona a compreensão do problema que é o primeiro passo
apontado por Polya. O segundo passo, que é estabelecer um plano, também é
beneficiado se os alunos trabalharem juntos. Já a execução é interessante que seja
individual, para posteriormente compararem e discutirem sobre o resultado obtido,
que caracteriza o quarto passo apresentado pelo autor.

Professor 4: Cada etapa tem sua importância isolada e o conjunto forma a essência
da matemática, que propicia o desenvolvimento do raciocínio lógico. Quando o aluno
se habitua a trilhar estas etapas a resolução ocorre espontaneamente, e o processo
pode ser reutilizado para resolver problemas semelhantes. Quando o problema
possui um nível baixo de dificuldade pode ser resolvido mentalmente e sem reflexão,
neste caso, encontramos resistência por parte do aluno em formalizar o processo
resolução, conforme o nível de dificuldade aumenta, o aluno se perde e já não sabe
resolver. Essas etapas devem ser seguidas na resolução de problemas desde os
mais simples até os mais complexos.

Professor 5: O ensino da matemática via resolução de problemas produz uma


aprendizagem significativa que promove o conhecimento lógico da matemática.
Possibilita desenvolver capacidades e atitudes do aluno. O aluno é mais eficiente se
aprender a maximizar as suas capacidades. Quando consegue desenvolver a
autoconfiança, o espírito crítico e a livre iniciativa. O método heurístico de Polya é
uma metodologia eficaz de ensino, pois os alunos assimilam o conteúdo de forma
mais prazerosa, tornando as aulas de matemática mais produtivas.

Professor 6: [...] para resolver um problema o professor precisa mostrar opções e


caminhos e estes serão organizados individualmente para se obter a resposta de
acordo com a pergunta. Mesmo sem conhecer esse método antes, trabalho assim
com meus alunos de 4 ano do ensino fundamental e o resultado é positivo, alguns
demoram mais para assimilar o escrito ao pensamento real de cada situação, mas
no geral dá certo.

Como se nota nos trechos citados, a aceitação da proposta de trabalho


abarcada neste projeto de intervenção pedagógica pelo grupo de professores foi
geral, os que já conheciam e utilizam acham que é adequado e os que ainda não
conheciam aprovaram mesmo sabendo que exige do professor muita paciência e
persistência, pois não é fácil fazer com que os alunos trabalhem seguindo esses
passos, considerando-se que leva muito tempo para que eles se acostumem. Mas
depois de se habituarem é muito importante sempre usá-lo em todos os tipos de
problemas, desde os mais simples até os mais complexos. Incentivar nossos alunos
a lerem o enunciado e mostrar que precisam retornar várias vezes não somente
para verificar se todas as informações foram utilizadas, mas se a resposta
encontrada atende às questões trazidas pelo problema.

É importante lembrar que as quatro etapas sugeridas por Polya (2005)


constituem um método de se pensar em como resolver um problema e não uma
estratégia, pois não descreve os passos para a resolução. Este método não é
somente para os estudantes, mas também para o professor que ajudará o aluno a
refletir e a construir a solução gradativamente, a partir daquilo que ele já conhece.

Outro texto discutido com o grupo de professores foi “Aventurando-se pelos


caminhos da resolução de problemas” de Peggy A. House, extraído do livro
”Resolução de problemas na matemática escolar” (KRULIK; REYS, 1997, p. 218-
234). A leitura possibilitou discussões e reflexões necessárias a possíveis mudanças
quanto ao tratamento das resoluções de problemas. Foi possível saber dos
professores se gostam de trabalhar em grupos com os alunos e, quando usam essa
estratégia como eles reagem em relação aos colegas? Qual o comportamento dos
mesmos dentro do grupo?

Para tornar os problemas mais interessantes Polya alega: “O problema deve


ser bem escolhido, nem muito difícil nem muito fácil, natural e interessante, e um
certo tempo deve ser dedicado à sua apresentação natural e interessante” (2006, p.
5).

Nesse sentido foi unânime a opinião dos professores ao lerem o texto:


“Aventurando-se pelos caminhos da resolução de problemas” de Peggy A. House
(1997) e em seguida, participaram da discussão em relação aos trabalhos em
grupos, quando realizados pelos alunos, explicitando que acreditam que há mais
colaboração, respeito, responsabilidade entre os estudantes, havendo, no entanto,
uma ressalva, é necessário haver compromisso por parte dos mesmos, onde todos
participem da resolução de problemas.
Os relatos de alguns professores participantes estão transcritos a seguir:

Professor 2: O trabalho em grupos de alunos é proveitoso e produtivo quando todos


os integrantes participam da atividade proposta. Acredito que a divisão em grupos
favorece a aprendizagem, na medida em que os alunos podem trocar ideias,
complementando assim suas linhas de raciocínio. [...] A reação dos alunos em
relação ao trabalho em grupos normalmente é boa. A maioria vê esse tipo de
trabalho como uma possibilidade de troca de ideias para a resolução dos trabalhos,
porém, há aqueles que consideram o trabalho em grupo mais cômodo, por optarem
pela divisão das tarefas ou por esperarem que os outros integrantes resolvam por si
só as atividades propostas, isso, infelizmente, desvia a intenção do trabalho e os
resultados esperados não são alcançados.

Professor 7: [...] é o trabalho em grupo que considero importante pelo fato que um
aluno pode ajudar o outro a entender o que está sendo proposto e para as aulas de
Matemática parece ser um instrumento ainda mais eficaz se, como foi dito antes, se
houver comprometimento dos alunos. No trabalho em grupo eles podem entender o
que está sendo proposto em um problema se eles tentarem explicar um para o
outro. Eu acredito que se torna mais fácil aprender com a ajuda de alguém até
porque algum item que não foi percebido por um, pode ter sido percebido pelo outro
e desta forma trabalhando juntos eles poderão entender e solucionar o problema em
questão. Mas é claro que esta estratégia não funciona para todos os grupos ou para
todos os membros do mesmo, se determinado aluno não estiver empenhado, este
trabalho será perdido porque não o alcançará, deve haver comprometimento e
desejo de aprender.

Professor 8: Penso ser produtivo o trabalho em grupo, normalmente os alunos


resolvem os problemas e discutem o resultado. Interessante mesmo é quando
chegam a resultados diferentes, pois, cada um defende sua ideia e juntos encontram
o erro. Quanto ao comportamento dos alunos, infelizmente, nem todos tem a mesma
disposição e interesse na resolução de problemas.

Professor 9: Considero importante o trabalho em grupo, mas admito que há o lado


positivo e o negativo. No grupo, até mesmo o aluno tímido tem chance de se soltar e
perguntar o que não entendeu em vista de que falam a mesma “língua” e
conseguem se entender com mais facilidade. O lado negativo é a falta de
compromisso de alguns que não colaboram para a realização do trabalho e
conseguem a nota “nas costas” dos outros.

Professor 10: Os alunos deixam para um ou outro colega responderem as questões.


Para o trabalho em equipe funcionar é preciso que o professor ou um líder do grupo
estabeleça o que cada participante deve fazer.

Professor 11: O trabalho em grupo pode ser interessante, desde que os alunos não
se dispersem, pois, quando o problema não é interessante para eles, acabam por
conversar e atrapalhar o bom andamento da aula. Antes de montar os grupos é
preciso que os alunos já estejam motivados para a resolução do problema. Para
chamar a atenção e proporcionar a disposição e interesse, acredito que o principal
caminho seja a contextualização.

Quanto ao trabalho em grupo quando realizado pelos alunos, os professores


concordam que é fundamental eles demonstrarem comprometimentos, pois a troca
de informações entre eles ajuda os que têm dificuldades.

Quanto ao próximo assunto abordado: “Situações desafiadoras relacionadas


com o cotidiano do aluno tornam-se mais interessante”, os professores evidenciaram
a pertinência do trabalho com situações desafiadoras para uma aprendizagem
significativa. Quanto a este tema os professores relataram que:

Professor 2: Acredito que problemas interessantes são aqueles que apresentam


situações não abstratas para os alunos. Quando o aluno consegue ver relação entre
a situação problema que lhe foi apresentada e situações de sua vida real, a
compreensão acontece de maneira mais rápida e a resolução se torna mais fácil. Os
problemas devem exemplificar situações concretas e que sejam da vida cotidiana.
Devemos elaborar problemas que estejam de acordo com a idade, série, profissão,
local de residência, ou seja, que consistam em situações que os alunos estejam
acostumados a vivenciar, para que eles possam entender o que foi apresentado e o
que se espera que eles saibam resolver.

Professor 3: Outros métodos utilizados para a resolução de problemas podem ser a


representação com material concreto ou a dramatização da situação-problema,
porém, o método apresentado por Polya é mais eficiente para o aprendizado,
principalmente quando o aluno consegue compreender e reutilizar em problemas
semelhantes.

Professor 4: Os problemas são mais interessantes quando estão contextualizados,


associados ao cotidiano do aluno, ou a algo que ele conhece ou já ouviu falar.

Professor 8: A contextualização é uma forma de tornar os problemas mais


interessantes para os alunos, é bem mais atrativo solucionar um problema quando o
enunciado é familiar.

Professor 11: Outras formas de se resolver um problema seria por tentativa e erro,
por dedução ou por representação com material concreto. De qualquer forma há
necessidade de análise do resultado e de reflexão sobre os cálculos utilizados.

Professor 12 Para tornar o problema interessante para os alunos é necessário a


contextualização e a significância, é preciso que as atividades estejam relacionadas
com o concreto e com assuntos do cotidiano. Há que se tomar cuidado para não
banalizar os conteúdos, pois, o concreto neste caso, não se restringe ao tocável, e
sim a relação com algo que o aluno já conhece.

Professor 13: De forma que os alunos sintam prazer em realizar um trabalho. Isso
significa partir da realidade, ou seja, do contexto sócio-cultural que eles estão
inseridos.

Portanto, lendo os relatos dos professores percebe-se uma concordância que


problemas desafiadores, relacionados com o cotidiano e que os trabalhos em grupo
quando bem explorados podem levar os alunos a se tornarem independentes e
capazes, Smole e Diniz complementam expondo:

“[...] que trabalhando com diferentes explorações e reformulações,


buscando desenvolver o interesse pelo problema, explorando sua
linguagem, incentivando e desafiando nossas crianças, estamos
contribuindo para que elas sejam muito mais autônomas e capazes de
enfrentar os problemas propostos sem medo ou receios” (2001, p.149).

Em síntese, é possível mudar nossa forma e visão de trabalhar com resolução


de problemas, tornando-os mais atrativos, desafiadores tanto para os alunos como
para o professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Junto com o grupo de professores foram realizados 5 (cinco) encontros com


várias discussões para tentar encontrar formas de como tornar os problemas
apresentados aos alunos mais interessantes e com situações mais desafiadoras,
levando-os a se interessarem em resolvê-los. Neste sentido, a colaboração e
contribuição dos professores através da revelação de suas práticas foram muito
valiosas para o desenvolvimento deste trabalho.

Os textos de alguns autores apresentados nas discussões nos mostraram


algumas mudanças de metodologias e estratégias, para assim minimizar as
dificuldades na resolução de problemas, pois um dos objetivos desse trabalho é
fazer com que os alunos tenham a capacidade de traduzir situações-problema para
a linguagem matemática e consequentemente saber os significados dos símbolos
matemáticos chegando a uma resposta.

Por fim, considera-se, com base nas observações realizadas a partir das
reflexões dos professores, que o método de Polya (2005) poderá ser eficaz e
interessante, para a resolução de problemas e no trabalho em grupo, se bem
direcionado poderá ser válido e produtivo, que problemas desafiadores e
contextualizados tornam as aulas mais interessantes e motivadoras, que deve haver
uma mudança de metodologias e estratégias para tentar sanar as dificuldades dos
alunos em relação à resolução de problemas.

REFERÊNCIAS

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Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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S., DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.

DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de matemática. 12.


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______. Formulação e resolução de problemas de matemática: teoria e prática.


São Paulo: Ática, 2010.
DINIZ, Maria I. Resolução de problemas e comunicação. In: SMOLE, K. S., DINIZ,
M. I. Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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POLYA, George. A arte de resolver problemas. Tradução e adaptação de Heitor


Lisboa de Araújo. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.

STANCANELLI, Renata. Conhecendo diferentes tipos de problemas. In: SMOLE, K.


S., DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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