Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
'10.37885/221110958
RESUMO
É um fato conhecido que muitos alunos quando se deparam com o estudo da Matemática
encontram dificuldades de aprendizagem. Na Educação de Jovens e Adultos (EJA), especial-
mente, observa-se que o aluno quer ver a aplicação imediata do que está aprendendo. Em ou-
tras palavras, os alunos da EJA aprendem o que tem sentido, significado e preferencialmente
uma utilidade. Com estas considerações iniciais formula-se a seguinte pergunta:
A resolução de problemas como metodologia de ensino é uma alternativa para tornar
as aulas de matemática mais significativas e atrativas?
Ser professor não é uma tarefa tão simples como muitos acreditam. Tampouco é fácil
ministrar aulas de Matemática, sendo esta uma disciplina que boa parte dos alunos têm
aversão, pois a julgam difícil. O desempenho insatisfatório, pouco interesse, reprovações
e a passividade dos alunos são alguns indicativos das muitas dificuldades relacionadas ao
processo de ensino e aprendizagem de Matemática. Diante do exposto nos ficam os ques-
tionamntos sobre: Por que os alunos têm dificuldade em aprender Matemática? Qual é a
relação entre dificuldade de aprendizagem, falta de motivação e passividade dos alunos em
aulas de Matemática? O que fazer para alterar este quadro?
Quando nos deparamos com estudantes da EJA, percebemos que as dificuldades tam-
bém são de grande proporção. Precisamos, no entanto, mais do que entender, compreender
o olhar destes educandos acerca dessa disciplina tão temida, e como essa visão pode ter
contribuído para histórias frustradas de escolarização.
Tem sido difícil trabalhar com a realidade de alguns alunos das escolas públicas. Muito
mais difícil então, tem sido trabalhar com Jovens e Adultos, pois é indispensável valorizar e
considerar os saberes matemáticos desses sujeitos. Para Ausubel (1968) uma aprendiza-
gem significativa é caracterizada pelas interações entre os conhecimentos prévios e os que
estão sendo apresentados, ao passo que essas interações ocorrem de maneira substantiva,
não-literal e não-arbitrária. A aprendizagem é dita significativa quando uma nova informação
(conceito, ideia, proposição…) adquire significados a partir de uma espécie de ancoragem
em aspectos relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, com determinado
grau de clareza, estabilidade e diferenciação. Na aprendizagem significativa o indivíduo tem
condição de reaprender, o que já foi estudado, de maneira relativamente rápida. Ou seja,
o fato da aprendizagem ser significativa não quer dizer que o aluno nunca esquecerá do
que aprendeu, mas, que o esquecimento não será total. Caso o esquecimento seja de tal
forma que remeta a ideia de nunca ter aprendido aquele conteúdo, muito provavelmente a
aprendizagem tenha acontecido de maneira puramente mecânica.
Nesta hora nos sentimos desafiados a buscar novas estratégias e práticas pedagógicas
estabelecendo a relação entre teoria e prática efetivando, assim, o processo de produção
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
33
do conhecimento, com base nas experiências e vivências dos alunos, assegurando, prefe-
rencialmente, a dialogicidade e a reflexão em sala de aula.
Conhecer as tendências e metodologias do ensino da Matemática é algo indispensável
para os educadores, pois, com elas poderemos imprimir mais qualidade ao nosso ensino.
Dentre muitas metodologias de ensino, a resolução de problemas tem sido objeto de estudo
de muitos pesquisadores devido às potencialidades que ela oferece. Contudo, a resolução
de problemas, se bem trabalhada, de maneira investigativa e desafiadora pode ajudar no
processo educativo. É preciso então conhecer a história e o seu surgimento, para, então,
compreender qual é o real objetivo de utilizá-la para o ensino da Matemática.
Trabalhar com a resolução de problemas, enquanto metodologia de ensino pode pro-
porcionar ótimos resultados, levando-se em conta as habilidades em trabalhar com o co-
nhecimento matemático. É fundamental que o professor estimule a participação dos seus
alunos nas atividades, pois, assim, é possível superar a visão linear, alienada e alienante da
Matemática e do seu ensino na medida em que os estudantes são interativamente envolvidos
em discussões teóricas relativas a situações reais, sobre as quais eles têm o que falar na
direção da produção de novas interpretações e explicações, pela intermediação essencial de
novas linguagens, teorias e saberes disponibilizados pelo professor. Sendo uma construção
humana, portanto histórica, ela se dá com o desenvolvimento de conceitos no confronto com
dados experimentais e com ideias cotidianas, em situação real, pela compreensão conceitual
do que está além das aparências e das primeiras impressões.
Por isso, a situação experimental, a prática, a experimentação, jamais deve ser es-
quecida na ação pedagógica. Com essa abordagem, o que se pretende é levar o aluno a
compreender e a reconhecer a natureza do conhecimento científico como uma atividade
humana que, possui um caráter provisório, limitações e potencialidades, necessitando, pois,
ser abordado em suas implicações na sociedade e em situações/ambientes diversificados.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
34
Ainda Bicudo (2005, p.34) relata que na educação Matemática, entendido como inter-
subjetividade, o aluno é sujeito participante, intelectualmente, e não objeto do ato educativo.
Essa Educação Matemática é um caminhar no qual as representações do aluno, acerca da
Matemática e da sociedade, ditam também a direção a ser seguida e que, portanto, não
comporta a priori, nenhuma sequência de passos rígidos.
Ao falarmos em problemas lembramos daqueles que nos eram apresentados enquan-
to alunos onde não precisávamos dispor de muita análise para obter a resposta, porém, o
que acreditamos ser uma situação problema, aquela em que o aluno necessita concentra-
ção, persistência e criatividade além dos conhecimentos matemáticos, para conseguir uma
resposta coerente.
Fazer com que o aluno seja participativo na construção de seu conhecimento pode ser
uma das alternativas para que nossos alunos tenham mais ânsia em aprender, que tenham
sede de enriquecer-se intelectualmente.
Na EJA, como já se tem falado há muito tempo, é fundamental que as aulas de mate-
mática sejam as mais próximas possíveis da realidade dos alunos. É antagônico levantar
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
35
uma bandeira de que a EJA tem sua peculiaridade e mesmo assim continuarmos a ministrar
aula da mesma forma que para os currículos normais.
Desta forma, quem sabe, poderemos melhorar o ensino da matemática para que ela
deixe de ser amedrontadora muitas vezes responsável pela grande evasão escolar, princi-
palmente na modalidade EJA.
É importante ressaltar ainda que um problema é composto pela ideia principal, pelo
processo de resolução, que se caracteriza pelas operações a serem realizadas, como também
das indagações obtidas em torno do conhecimento matemático, além da resolução propria-
mente dita. Convém, no entanto, discutir os procedimentos pelos quais, deve-se seguir para
ter sucesso ao resolver problemas. Nesse contexto, Brito (2010, p.26), compreende que o
processo de resolução de problemas passa por: “representação, planejamento, execução e
monitoramento”. Do mesmo modo, Polya (1994, p.04), ao escrever sobre os procedimentos
pelos quais se pode resolver um determinado problema, subdividiu estes, em quatro fases:
“compreender o problema, estabelecer um plano, executar o plano e fazer o retrospecto da
resolução completa”.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
36
Quando o professor leva para seus alunos, uma lista de exercícios de fixação, mui-
tas vezes mesmo sem saber, ele está trabalhando com questões matemáticas e não pro-
blemas matemáticos.
São exemplos de questões matemáticas:
a) João tem 5 maçãs e comeu 3. Quantas maças não foram comidas por João?
b) A idade de uma pessoa, acrescentada de 5 anos resulta em 20 anos. Qual a idade
da pessoa?
5– 3 = 2
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
37
Evidentemente, para a resolução deste problema, além de possuir conhecimentos da
Matemática (de lógica matemática, inclusive) precisamos ter “algo a mais” como: interpretação
e compreensão do problema, desafiar-se, investigar, criar estratégias e assim por diante.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
38
A educação como um todo precisa se tornar um lugar onde todas as partes consigam
contribuir na construção do conhecimento. A Educação Matemática por sua vez, precisa
se tornar mais atrativa, despertando no aluno a vontade de aprender e instigando-o a de-
monstrar seu conhecimento já construído para resolver determinadas situações problemas
que podem ser reais ou fictícias. O que vai determinar isso será o andamento da turma no
conteúdo proposto. Os PCN’s enfatizam ainda que
... o ensino de Matemática prestará sua contribuição à medida que forem ex-
ploradas metodologias que priorizem a criação de estratégias, a comprovação,
a justificativa, a argumentação, o espírito crítico, e favoreçam a criatividade,
o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvi-
mento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios.
(BRASIL, 1997, p.26).
É evidente que a todo o momento precisamos fazer escolhas, optar pelo que parece
mais importante no momento sem deixar de pensar no que pode acontecer em detrimento
da nossa escolha. De certa maneira, essa postura de decisão é a mesma adquirida ao tra-
balharmos a resolução de problemas nas aulas de Matemática, pois, percebe-se um envol-
vimento maior dos educandos até mesmo na discussão do que foi realizado e do porquê ter
sido realizado de tal maneira, justificando seu pensamento e suas estratégias de resolução,
tornando assim nossos alunos, pessoas mais participativas, críticas e independentes.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
39
apenas uma ponte que faz a ligação entre as mesmas, mas sim algo que realize um feedback
para a construção de um saber sólido e de qualidade. De acordo com Júlia Borin:
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
40
Visualizar a educação de jovens e adultos levando em conta a especificidade e
diversidade cultural dos sujeitos que a ela recorrem torna-se, pois um caminho
renovado e transformador nessa área educacional.
Tanto se fala que a Educação de Jovens e Adultos tem suas especificidades, mas,
na prática vemos pouco disso acontecer. Observamos professores replicando de maneira
semelhante (ou igual) na educação regular e é nesses deslizes que acabamos perdendo
os alunos que verdadeiramente estão naquele ambiente justamente para aprender, mas,
que pararam a muitos anos de estudar e sentem dificuldades. Por outro lado, a EJA come-
ça a assumir uma característica muito diferente da qual foi criada, ficando em sala de aula
aqueles alunos que estavam fora da idade normal para o ensino regular, mas que muitas
vezes não estão interessados em aprender passando a “atrapalhar” em um lugar que sem-
pre foi sinônimo de interesse e dedicação. Manter a diversidade, sobretudo de idades, que
acontecem em uma turma de EJA tem sido o grande desafio para os professores dessa
modalidade e evidentemente, bem fortemente para os professores de matemática. Para
Arbache (2001, p. 19)
Estar preparado para trabalhar com novas metodologias de ensino tem sendo um dos
grandes desafios para o educador. Certamente esse deixa um estado de conforto e passa
a assumir um estado de inquietação devido às inúmeras possíveis dificuldades que podem
acontecer na resolução dos exercícios.
Sabe-se que educar é muito mais que reunir pessoas numa sala de aula e
transmitir-lhes um conteúdo pronto. É papel do professor, especialmente do
professor, especialmente que atua na EJA, compreender melhor o aluno e sua
realidade diária. Enfim, é acreditar nas possibilidades do ser humano, bus-
cando o crescimento pessoal e profissional. Deste modo, o professor estará
auxiliando de maneira mais efetiva o processo de reingresso dos alunos às
turmas de EJA. (FERREIRA, 2008, p.9)
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
41
em turmas de EJA. Quando trabalhamos com problemas investigativos, deixamos os alunos
trabalharem de igual para igual, onde o mais novo, que está mais próximo dos conteúdos,
justamente porque a pouco frequentava uma turma regular, pode auxiliar aqueles alunos
com mais idade que por ventura sentirão mais dificuldades nos conteúdos matemáticos em
si, mas que geralmente tem um melhor raciocínio lógico devido a sua bagagem cultura e
experiências de vida.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
42
cada educando a trabalhar suas possíveis limitações e entender de que maneira irá chegar
a um resultado a situação problema. Por muitas vezes o resultado que o aluno chega, não é
o correto, mas cabe aos momentos de socialização, fazer a ligação entre o raciocínio lógico
de cada participante e o conteúdo a ser desenvolvido ou abordado.
Quando falamos em investigação matemática e resolução de problemas, e do signifi-
cado que traz às aulas de matemática, percebemos que é possível fazer uma aula voltada
aos interesses dos alunos tão especiais, que são ou alunos de EJA. É importante conhecer
esses alunos e seus perfis, logo, se tornarão mais agradáveis e menos temidas as aulas
de matemática e chegando ao objetivo de não permitir que o aluno desista de estudar por
motivos pedagógicos.
Breves Considerações
Neste momento se faz necessário que nós educadores pensemos mais a respeito da
educação que estamos proporcionando/desenvolvendo. É importante reflitamos se é o me-
lhor que podemos fazer àqueles que querem aprender, ou até mesmo para motivar aqueles
que não estão interessados.
Certamente, trabalhar com alunos que querem aprender é muito mais fácil. É o que
praticamente todo educador deseja. Porém, essa não é a realidade da maioria das escolas.
Precisamos parar de idealizar uma escola perfeita e entender a que temos.
De fato, temos a responsabilidade com a educação de nossos alunos, devido a es-
colha que fizemos e para tanto não podemos deixar de nos preocupar com as dificuldades
enfrentadas pela educação. Por fim, acreditamos que fazer uso das diferentes metodologias
de ensino é uma das possíveis soluções para amenizar tais dificuldades, sobretudo, no
ensino da Matemática para a Educação de Jovens e Adultos. Concomitantemente a isso,
evidencia-se a importância do uso da resolução de problemas para e ensino e aprendizado
de Matemática, todavia porque essa metodologia convida o aluno a participar ativamente
das aulas, transformando esse aluno em um cidadão crítico e participativo. Que estabelece
relações fundamentais para a disciplina, tendo discernimento das possíveis respostas ao
problema e dos caminhos que poderá seguir para chegar à solução do problema.
Logo, é possível afirmar a grande importância da resolução de problemas como me-
todologia de ensino, seja ela para o ensino regular ou da EJA. Pois, essa realmente pode
transformar as aulas de matemática, deixando-as mais atrativas e significativas, onde todos
os envolvidos são agentes do processo educativo.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
43
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D.P. Educational psychology - a cognitive view. New York: Holt, Rinehart
and Winston. 685p. 1968.
RAMOS, M.G. Educar pela Pesquisa é Educar para a argumentação, in; Pesquisa na
Sala de Aula. p. 47: Tendências em novos tempos. Roque de Moraes, Valderez Marina
do Rosário Lima (Orgs.). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2OO2, 316P.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
44
SCHLIEMANN, A. CARRAHER, T. CARRAHER, D. Na vida Dez, na Escola Zero. São
Paulo. Editora Afiliada, 14ª edição. 2006, 182 P.
Educação, Linguagem e Sociedade em Pesquisa - ISBN 978-65-5360-256-4 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br
45