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METODOLOGIAS PARA

APRENDIZAGEM ATIVA

Mariana Pícaro Cerigatto


Conceitos e Estratégias
dos processos de ensino e
de aprendizagem: alguns
aspectos para reflexão
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Apontar as concepções didáticas do ensino tradicional e da Escola


Nova.
„„ Reconhecer estratégias pedagógicas que evidenciem os aspectos
basilares da aplicação de metodologias para a aprendizagem ativa.
„„ Identificar os elementos dos processos de ensino e aprendizagem de
metodologias para a aprendizagem ativa nos contextos presencial
e on-line.

Introdução
As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) dissolveram
fronteiras entre os espaços virtual e físico, criando espaços híbridos de
conexões. Nestes, surgem novas formas de ensinar e aprender, sustentadas
por uma diversidade de tecnologias e de suas ferramentas e linguagens
midáticas, que possibilitam a interação e a atuação do aluno como pro-
tagonista e autor de conteúdos, estabelecendo assim novas relações
com a aprendizagem e a construção do conhecimento.
Nesse contexto, surgem também novas concepções didáticas e estra-
tégias de ensino–aprendizagem que valorizam metodologias mais ativas
e superam abordagens educacionais centradas na fala do professor, na
leitura de livros e na passividade do estudante.
Neste capítulo, você irá compreender as principais mudanças de
concepções didáticas, desde a Escola Nova até os dias atuais, entrará
em contato com algumas estratégias pedagógicas que contemplam as
2 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

metodologias ativas, assim como identificará e relacionará elementos


basilares de ensino–aprendizagem e a interatividade, tanto no ensino
presencial quanto no on-line.

Concepções didáticas
A reinvenção da educação é um assunto bastante discutido, assim como no-
vas concepções de aprendizagem, trazidas especialmente pelo cenário das
tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs). No entanto, o
cenário contemporâneo foi impulsionado por movimentos educacionais de
grande importância histórica.

O termo TICs é muito conhecido por representar as tecnologias da informação e da


comunicação; no entanto, é importante registar que, atualmente, surge um novo
conceito: tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs). A modificação
tem se dado devido à aplicação de elementos digitais. Isso significa que, embora os
termos TICs e TDICs ainda sejam utilizados como sinônimos, existe uma pequena
distinção conceitual.
O conceito de TICs expressa a convergência entre a informática e as telecomunicações,
além do agrupamento de ferramentas computacionais e meios telecomunicativos,
como a televisão, o rádio, a internet, os vídeos, entre outros, desde que facilitem a
difusão das informações. Quando se trata especificamente das TDICs, estas englobam
tecnologias mais avançadas, como a digital. Conforme apontado por Kenski (2012,
p. 43), com a tecnologia digital “[...] é possível processar qualquer informação, o que
provocou mudanças radicais na vida das pessoas, principalmente no que se refere à
comunicação instantânea e busca por informações”.

A experiência com metodologias ativas em sala de aula — desde a educação


básica até o ensino superior — se caracteriza pela “[...] inter-relação entre
educação, cultura, sociedade, política e escola, sendo desenvolvida por meio
de métodos ativos e criativos, centrados na atividade do aluno com a intenção
de propiciar a aprendizagem [...]” (ALMEIDA, 2018, p. 12). Por mais que haja
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 3

relação entre metodologias ativas e tecnologias digitais, essa concepção é


anterior ao advento das TDICs.
O aluno como ser ativo faz parte da concepção pedagógica do movimento
denominado Escola Nova, que foi um divisor em relação às metodologias
tradicionais. A Escola Nova representou uma alteração marcante em abor-
dagens que colocavam o aluno em posição passiva no processo de ensino e
aprendizagem: o aprendizado costumava ser centralizado na figura do professor
e a escola focava no ensino. A proposta desse movimento se contrapõe ao
ensino tradicional pois coloca o aluno no centro do processo, enfatizando a
necessidade de seu protagonismo durante a aprendizagem.
No final do século XIX, o questionamento da tradição pedagógica começa
a ganhar destaque, ressaltando e privilegiando a atividade do aluno, compre-
endida como mola propulsora da aprendizagem.
O Quadro 1 demonstra as principais diferenças entre a didática tradicional
e a Escola Nova.

Quadro 1. Principais características da didática tradicional e da Escola Nova

Didática tradicional Escola Nova

Conteúdos São conhecimentos e Os conteúdos são


valores sociais acumulados estabelecidos a partir
ao longo do tempo das experiências vividas
e repassados como pelos estudantes, frente às
verdades absolutas. situações-problemas. Não
é focada majoritariamente
em conteúdo e se preocupa
com a participação
democrática. O professor
possui autonomia com
a escolha curricular.

Metodologia Exposição verbal e Os métodos são por meio


demonstração do de experiências, pesquisas
conteúdo por meio de e solução de problemas
modelos estabelecidos. com base na ideia de
O conhecimento aprendemos fazendo.
prévio do estudante é
desconsiderado. O discente
aprende por meio de
seu próprio esforço.

(Continua)
4 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

(Continuação)

Quadro 1. Principais características das diferentes abordagens pedagógicas

Didática tradicional Escola Nova

Relação O professor é o centro do O professor atua


professor– processo. A autoridade como auxiliar no
-aluno do professor exige uma desenvolvimento do
atitude receptiva do aluno. aluno. O aluno é o centro
Cabe ao aluno assimilar do processo, e não o
o conteúdo. O aluno era professor. O estudante
visto como um pequeno deve ser motivado para
adulto que deveria ser a aprendizagem.
instruído para assimilar
o conteúdo proposto.

Processo de A aprendizagem é O processo de


aprendizagem mecânica, sem considerar aprendizagem é orientado
as especificidades da idade pelos interesses e pelas
ou do próprio estudante. curiosidades dos alunos.
A aprendizagem ocorre
pela motivação e pela
estimulação de problemas
para se buscar soluções e
respostas. A escola propõe
a autoaprendizagem.
O aluno deve ter uma
postura ativa no processo.

Papel da escola Preparação intelectual Nessa vertente, o papel


e moral dos estudantes da escola é se organizar
para assumir seu papel na de forma a retratar, na
sociedade. Reprodução medida do possível, a
da cultura para sua vida real. Os conteúdos
manutenção. Crença no de ensino são construídos
poder da escola de garantir diante de experiências,
igualdade social e, dessa descobertas, convivências
forma, corrigir o fenômeno e pela motivação e
da marginalidade. estimulação de problemas.
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 5

O movimento Escola Nova teve como principais pensadores William James,


John Dewey e Édouard Claparède, que passaram a argumentar e a dar maior
valor à experiência e ao desenvolvimento da autonomia do aluno (Figura 1).
Essa concepção está ligada ao paradigma educacional construtivista, que tem
como um de seus principais autores Piaget (1970), criador da teoria chamada
epistemologia genética, ou psicogenética, cuja explicação considera que, desde
o nascimento, o indivíduo constrói o conhecimento. Assim, formaliza-se uma
concepção construtivista da formação da inteligência a partir das ideias de
Piaget (1970).

Figura 1. Dentro das novas concepções de aprendizagem, ligadas ao construtivismo, o


aluno tem autonomia e é autor de sua própria aprendizagem, construindo o conhecimento
de maneira colaborativa.
Fonte: Jacob Lund/Shutterstock.com.

John Dewey propunha, dentro da concepção da Escola Nova, que apren-


demos fazendo, o que remete a uma postura mais ativa em experiências edu-
cacionais. Dewey (1959) defendeu a educação significativa dentro de um
processo que reconstrói e reorganiza a experiência do educando. Juntamente
a esse processo, princípios de iniciativa, originalidade e cooperação passaram
a ser mais valorizados.
6 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

No Brasil, os princípios da Escola Nova foram inseridos em 1882 por Rui Barbosa. John
Dewey foi uma das principais referências para que o movimento se desenvolvesse no país.
Em 1932, com a publicação do Manifesto dos pioneiros da educação nova, durante o
governo de Getúlio Vargas, se consolidava a visão de um segmento da elite intelectual
que vislumbrava a transformação social por meio da educação. Redigido por Fernando
de Azevedo, junto a outros 26 intelectuais — entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio
Peixoto, Roquette Pinto e Cecília Meireles —, representou um marco para o ponto de
partida de um projeto de renovação educacional do país. Dentre as principais bandeiras
defendidas pelo manifesto, estava a busca por uma escola pública, laica, obrigatória
e acessível a todas as classes sociais.

Com a Escola Nova, as práticas pedagógicas passaram a priorizar ex-


periências centradas na aprendizagem, que valorizavam a participação do
aprendiz em atividades que estimulam a curiosidade, engajam os alunos em
situações-problemas e vivências práticas na construção de conhecimento.
O trabalho em colaboração e o desenvolvimento da autonomia nas tomadas
de decisão também convergem com as ideias da Escola Nova, que preza por
uma pedagogia dinâmica que considera o processo de ensino e aprendizagem
extremamente complexo e não linear. Assim, é necessário que haja ações di-
recionadas para que os alunos possam se aprofundar e ampliar os significados
elaborados mediante sua participação.

Escolanovismo, Paulo Freire e TDICs


As diretrizes do escolanovismo estão intrinsicamente ligadas a Freire (1996),
que posteriormente desenvolveu princípios para uma educação dialógica,
participativa e conscientizadora. Para Freire (1996), a educação precisa pro-
blematizar a realidade, buscar compreender os fenômenos e as situações para
que, assim, possa partir para atitudes que provoquem a transformação. A
problematização seria um caminho para instigar a curiosidade e envolver o
aluno em situações reais, levando-o a agir sobre essa realidade, ultrapassando
a ideia de ensino como mera transmissão de conhecimento.
Atualmente, com as TDICs, muitos métodos associados às metodologias
ativas foram desenvolvidos, capazes de colocar os alunos como autores e
protagonistas de sua aprendizagem. A sala de aula invertida, a aprendizagem
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 7

por projetos, o ensino híbrido, o design thinking e a criação de jogos são


alguns exemplos.
As metodologias ativas, além de representarem uma alternativa pedagó-
gica capaz de proporcionar ao aluno a capacidade de transitar de forma mais
autônoma dentro de seu próprio percurso de aprendizagem, pode ser um
caminho para que ele desenvolva habilidades úteis para seu futuro, sabendo
gerar respostas para problemas e conflitos dos campos profissional e social.

É válido ressaltar que o papel do professor é importante nessas abordagens. Por mais
que o foco esteja no aluno, é o docente que vai planejar e elaborar novos métodos,
considerando as novas concepções pedagógicas e o contexto histórico, sociocultural,
político e econômico em que vivemos.
As metodologias ativas dependem da autonomia que o professor tem para criar
atividades com potencial de promover a experiência e a aprendizagem válidas para
os estudantes. Isso reforça o quão importante é desenvolver ações na formação
de professores, inicial ou continuada, que explorem o potencial das metodologias
aliadas ao contexto contemporâneo de tecnologias e mídias. Vale ainda ressaltar que
o desenvolvimento de metodologias ativas dentro do paradigma construtivista deve
se associar a reflexões sobre a relação entre prática e teoria e a integração dessas
metodologias no currículo escolar.

Estratégias pedagógicas para a aplicação de


metodologias ativas
Desenvolver metodologias ativas com o apoio das TDICs requer estratégias
pedagógicas que considerem a reinterpretação de concepções e princípios,
tendo em vista um novo contexto. Adotar metodologias ativas não se resume
a recorrer a regras precisas e fáceis de reproduzir em sala de aula, mas de-
mandam esforços de criação e reconstrução de atividades didáticas, tendo
como referência métodos bem fundamentados que são ressignificados em
cada cenário. Ou seja, a aplicação das metodologias ativas não é estática.
Integrar as TDICs e as metodologias ativas a processos educativos supõe
interação com o currículo, o que vai além de identificar listas de temas de
estudos previstos.
8 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

Existe uma variedade de estratégias metodológicas a serem utilizadas no


planejamento das aulas, considerando que as metodologias ativas estão ligadas
a uma concepção do processo de ensino e de aprendizagem que valoriza a
participação dos alunos em sua construção, as diferentes formas a partir das
quais eles podem se envolver com seus objetos de estudo para que aprendam
melhor, dentro de seu próprio ritmo, tempo e estilo.
Em meio a isso, ao recorrer a estratégias que visam à aplicação de metodo-
logias ativas, é essencial que se reflita sobre como essas metodologias podem
realmente favorecer o engajamento dos alunos, assim como as possibilidades
de integração dessas propostas ao currículo.
Conforme observa Moran (2018), as metodologias predominantes no en-
sino ainda seguem um caráter dedutivo: em um primeiro momento, há a
transmissão do conhecimento do professor, sendo que depois o aluno deve
usar esse conhecimento em situações mais específicas. Esse tipo de aprendi-
zagem por meio de transmissão não está totalmente descartado e ainda tem
sua importância. No entanto, a aprendizagem por meio de questionamentos
e experimentações pode levar o aprendiz a uma compreensão mais ampla e
mais profunda. Assim, é notável a combinação entre metodologias ativas em
contextos híbridos, que unam as vantagens das metodologias indutivas e dedu-
tivas. Assim, “[...] os modelos híbridos procuram equilibrar a experimentação
com a dedução, invertendo a ordem tradicional: experimentamos, entendemos
a teoria e voltamos para a realidade (indução–dedução, com apoio docente)
[...]” (MORAN, 2018, p. 27–28).
Neste sentido, dois conceitos devem ser levados em consideração para o
desenvolvimento de estratégias de aprendizagem nos dias de hoje: a apren-
dizagem ativa e a aprendizagem híbrida.
Já sabemos que as metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do
aluno em todas as etapas do processo educacional, com orientação e supervisão
do professor. Já a aprendizagem híbrida supõe a flexibilidade, a mistura e o
compartilhamento de espaços e tempos, assim como atividades, materiais,
técnicas e tecnologias que compõem esse processo ativo.
Dessa maneira, aprendizagens por experimentação, em que o aluno cria
e é autor de conteúdos, são estratégias muito válidas para a aplicação de
metodologias ativas de aprendizagem, que podem ser diversas: sala de aula
invertida, aprendizagem por jogos, projetos, entre outros.
A sala de aula tradicional deve virar um espaço privilegiado de criação
colaborativa e de busca de soluções empreendedoras, que possibilite que
estudantes e professores aprendam a partir de desafios, jogos, experiências
e situações-problemas, com recursos variados e mais acessíveis, desde as
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 9

tecnologias básicas até as mais avançadas (MORAN, 2018). As estratégias


devem focar no estímulo à criatividade, à assumir riscos, tomar decisões em
conjunto e aprender com os colegas.
Tradicionalmente, essas estratégias têm sido implementadas por diversos
meios. A seguir, são apresentados alguns exemplos desses tipos de estratégias,
de acordo com Valente (2018).

„„ A aprendizagem baseada em projetos (project-based learning —


PBL): é uma estratégia de ensino que coloca os alunos em contato com
tarefas, atividades, missões e desafios para desenvolver um projeto ou
um produto (Figura 2). Este tipo de aprendizagem estimula o trabalho
colaborativo ao integrar diferentes conhecimentos dos indivíduos que,
juntos, vão atuar para concluir o projeto final. Desenvolve competências
como trabalho em equipe, protagonismo e pensamento crítico.

Figura 2. A estratégia baseada em projetos é uma boa forma de colocar as habilidades


de cada aluno em evidência na elaboração de um produto final. Eles podem projetar, por
exemplo, uma maquete de uma praça para a cidade, considerando que há poucos espaços
verdes naquela localidade.
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com.

„„ A aprendizagem por meio de jogos (game-based learning — GBL):


a aprendizagem baseada em jogos (Figura 3) é uma ótima estratégia de
ensino para a implantação de metodologias ativas, pois pode desenvolver
habilidades socioemocionais, auxiliar no desenvolvimento cognitivo
10 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

geral e fazer relações, de maneira lúdica, entre o ambiente do jogo e o


conhecimento acadêmico. Os alunos são motivados a atingir determi-
nados objetivos, sozinhos ou em equipes, ao se engajarem no universo
do jogo. As tecnologias são boas formas de exercitar essa estratégia pelo
fato de possibilitarem a imersão do educando em ambientes 3D, em que
o indivíduo se sente totalmente imerso no cenário e interage com ele.

Figura 3. Jogos on-line de interpretação de personagens para multijogadores (massively


multiplayer on-line role-playing game, ou MMORPG), são meios de conectar estudantes a
outros jogadores para gerar a solução de problemas em equipe, em universos 3D que
fazem com que os alunos se concentrem e voltem todas as atenções para o jogo. Mesmo
que não tenham sido criados para fins educacionais, é possível adaptar jogos populares de
código aberto para objetivos pedagógicos. É possível, ainda, simular situações por meio
de jogos em que os alunos assumem personagens em uma narrativa.
Fonte: Gorodenkoff/Shutterstock.com.

„„ O método do caso ou discussão e solução de casos (teaching case):


partindo de casos reais de organizações ou situações, o objetivo dessa
estratégia é colocar os alunos como tomadores de decisões. Os alunos
devem elaborar e defender soluções e planos de ação para os problemas
centrais de cada caso.
„„ A aprendizagem em equipe (team-based learning — TBL): apren-
dizagem baseada em times ou equipes remete a uma estratégia que
procura criar oportunidades para trabalhos em grupo. Essa abordagem é
geralmente direcionada para turmas com muitos alunos, com formação
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 11

de pequenos grupos de aprendizagem entre cinco a sete membros. Uma


das ideias que fundamentam o TBL é o fato de que os alunos envolvidos
nos grupos se preparem previamente para as aulas, uma vez que podem
ser lançados desafios para os grupos antes, durante ou após as aulas.

Segundo Valente (2018), há ponderações sobre a implantação dessas aborda-


gens. Em muitos casos, podem surgir dificuldades de adequar essas estratégias
aos conteúdos curriculares previstos. Além disso, quando há salas com um
grande número de alunos, torna-se difícil para o professor seguir à risca esses
modelos. Falta de infraestrutura e de apoio da gestão também são fatores que
podem desmotivar a aplicação dessas estratégias.

Você já parou para pensar sobre o significado da expressão metodologia ativa? Me-
todologia é uma palavra que vem do grego e é composta por três termos: metá
(através), hodós (caminho) e logos (ciência, arte, tratado). Assim, metodologia pode ser
compreendida como um tratado, um ordenamento e uma disposição sobre o caminho
através do qual se busca algo. Não se pode usar metodologia como sinônimo de
método, que significa somente o caminho através do qual se busca algo. Além disso,
metodologia de ensino também não pode ser entendida como a reunião de métodos
e de técnicas de ensino. A metodologia de ensino vai além de se usar um método
ou uma técnica: ela traça um norteamento, fundamentada em orientações racionais.
A metodologia acrescida da palavra ativa remete ao vocábulo ação, considerando
a atividade do aprendiz. Assim, a metodologia ativa se faz promotora da experiência
da qual resulta a aprendizagem em que o aluno ocupa uma posição não passiva,
construindo o conhecimento com iniciativa, dentro de uma postura proativa.

A interatividade nos contextos presencial e


on-line em metodologias ativas
Como visto anteriormente, a aprendizagem ativa e a aprendizagem híbrida
são conceitos fundamentais que caracterizam o processo de ensino e apren-
dizagem contemporâneos.
Vamos abordar a aprendizagem híbrida que supõe a combinação e o com-
partilhamento de espaços e de tempos, assim como atividades, materiais,
técnicas e tecnologias.
12 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

Tendo como elemento primordial a interatividade para um processo de


ensino e aprendizagem ativo, vamos explorar algumas situações presenciais
e on-line nas quais a interatividade é elemento fundamental.
Na metodologia da sala de aula invertida, os alunos têm acesso ao conteúdo
da aula (orientação para a atividade, textos, palestras), previamente dispo-
nibilizado em um ambiente virtual de aprendizagem, o que requer conexão
com a internet. Assim, a escolha por esses modelos permite o atendimento
personalizado e singular aos alunos, a possibilidade de estudo prévio e o
trabalho colaborativo, mediados pela tecnologia.
De acordo com Christensen, Horn e Staker (2013), o ensino híbrido con-
duz a um programa de educação formal, combinando atividades presenciais
e on-line, com o objetivo de estender espaços de ensino e aprendizagem. É
entendido como uma sala de aula ampliada e dinâmica, levando em conta
que os indivíduos aprendem em ritmos diferentes e têm necessidades de
aprendizagem específicas.
O ensino híbrido permite que os alunos aprendam “[...] a qualquer momento,
em qualquer lugar, em qualquer caminho, em qualquer ritmo [...]” (HORN;
STAKER, 2015, p. 10). Dessa forma, encontramos exemplos de modelos de
ensino híbrido, como rotação, sala de aula invertida, entre outros.
Na dimensão da educação híbrida, chama a atenção o fato de haver di-
ferentes maneiras de se ensinar e de se apropriar do conhecimento, mas se
destaca o trabalho colaborativo, mediado pelas TDICs, em que a interatividade
é elemento fundamental.
No entanto, o uso das tecnologias e mídias digitais não irá promover mo-
mentos interativos e colaborativos automáticos, seja presencialmente ou virtu-
almente: é preciso aliar as TDICs ao ensino híbrido de forma estratégica. Uma
boa forma de fazer isso é por meio de situações-problema, que abrangem os
conceitos desenvolvidos por Vygotsky (1998). O autor nos apresenta o conceito
de zona de desenvolvimento proximal, que se refere à distância entre aquilo
que o aluno pode fazer sozinho (zona de desenvolvimento real) e o nível de
competência que ele alcança ao resolver um problema, com o auxílio de outros
colegas ou do professor. Assim, para a criação da zona de desenvolvimento
real, é necessário que se criem situações de conflito em que o estudante possa
intervir com propostas de soluções e tomada de decisões.
Dessa forma, oportunizar aos estudantes, em momentos presenciais, o
contato com problemas mais complexos, cuja resolução se dê de forma cola-
borativa, é ideal para o processo de ensino e aprendizagem, sendo a sala de
aula híbrida um dos caminhos possíveis.
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 13

Sala de aula invertida


Um exemplo que ilustra bem o hibridismo na educação, considerando as
estratégias de ensino anteriormente expostas, é a metodologia de sala de aula
invertida ( flipped classroom).
A sala de aula invertida é uma metodologia ativa que faz a inversão do
espaço escolar tradicional e tem se apoiado na utilização das TDICs.
De maneira geral, em uma aula convencional, o professor é o responsável
por transmitir a informação ao aluno. Este, por sua vez, deve estudar o material
que foi transmitido ou realizar alguma atividade/exercício sobre o conteúdo
para reforçar o que foi aprendido, após a aula. Na abordagem da sala de aula
invertida, o aluno estuda o conteúdo antes da aula presencial. O encontro
entre alunos e professores se torna um espaço de aprendizagem ativa, em que
há questionamentos, discussões e atividades práticas, geralmente em grupo.
O professor busca não apenas expor o conteúdo, mas também trabalhar as
dificuldades dos alunos.
Embora antiga, essa metodologia ganhou bastante espaço na era digital,
especialmente em cursos semipresenciais. Na ocasião, os alunos estudam o
conteúdo em um ambiente on-line, antes de frequentar a aula presencial, que
passa a ser o momento para trabalhar os conteúdos já vistos. Nestas aulas
presenciais, o professor irá mediar atividades práticas, de caráter colaborativo
e interativo, que podem envolver resolução de problemas e projetos, discussão
em grupo ou práticas laboratoriais.
Esse modelo pedagógico favorece condições para que o aluno construa
seu conhecimento em qualquer ambiente e a qualquer momento por meio de
dispositivos móveis, tendo acesso a conteúdos midiáticos diversos que servem
como material de estudo.
Assim, há interatividade nos dois momentos: presencial e on-line.

„„ No momento virtual, os alunos estudam os assuntos que serão traba-


lhados em sala de aula, usando as TDICs. Eles interagem com vídeos,
podcasts, apostilas, e-books, sites, notícias e participam de fóruns com
colegas e professores para sanar dúvidas.
„„ No momento presencial, os alunos são colocados em situações-problema,
como jogos, estudos e soluções de caso ou produção de projetos. Eles
irão usar o conhecimento que já aprenderam virtualmente para interagir
com os outros colegas e com outras tecnologias.
14 Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão

Assim, com a sala de aula invertida, percebemos que os alunos deixam


seu papel limitado de apenas receber conteúdos como ouvintes passivos e
passam a atuar como alunos ativos no processo de ensino e de aprendizagem.
Além disso, o aluno se torna sujeito no contexto do aprendizado, se engaja
em atividades práticas e colaborativas em grupo e acaba interagindo mais
com o professor, que não apenas expõe o conteúdo, mas assume o papel de
mediador e orientador, reforçando a importância do aluno nesse processo de
ser ativo e autor de seu próprio aprendizado, um dos princípios norteadores
de metodologias para aprendizagem ativa.

Em uma sala de aula de ensino médio, na disciplina de geografia, o professor planeja


uma aula com o objetivo de refletir sobre o processo de desmatamento da Amazônia
e pede que os alunos proponham planos de ação contra a destruição da floresta. Para
isso, foram seguidos os passos listados abaixo.
„„ Partindo do estudo do desmatamento na Amazônia e a extinção de espécies da
fauna e da flora, o professor indica aos alunos os seguintes materiais de estudo
dentro de uma proposta híbrida: virtualmente, os alunos terão que ler artigos
on-line sobre o tema, escritos por especialistas, assistir a vídeos no Youtube que
mostrem cenas de desmatamento e trocar ideias com militantes ou organizações
ligadas à causa da Amazônia em redes sociais.
„„ No momento presencial, cada aluno deve levar para a sala de aula os pontos que
estudou e o que aprendeu com os diálogos que estabeleceu on-line.
„„ A partir dessa discussão, o professor irá mediar a formação de grupos para que os
alunos, em conjunto, elaborem um projeto de revitalização da Amazônia, conside-
rando a preservação da fauna e da flora e a punição para ações de desmatamento.
„„ Por meio de tecnologias e mídias digitais, os alunos irão propor planos de ação reais
para colocar o projeto em prática. Ao final, terão que gravar um vídeo expondo
seus projetos, que serão divulgados em um blog de autoria coletiva, de acesso
aberto, e em comunidades de preservação da Amazônia.
Observe que vários aspectos foram contemplados nessa atividade: o modelo híbrido
de sala de aula, as metodologias ativas, a interatividade com as TDICs e conteúdos
diversos, assim como especialistas no caso e a aprendizagem colaborativa. Colocamos
na prática determinadas estratégias de ensino, como a aprendizagem baseada em
projetos e a aprendizagem em equipes, partindo de uma situação real e conflituosa.
Conceitos e Estratégias dos processos de ensino e de aprendizagem: alguns aspectos para reflexão 15

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