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RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE ESTÁGIO


BÁSICO I EM PSICOLOGIA

EXPERIENCE REPORT ON BASIC STAGE I IN PSYCHOLOGY

Matheus Linhares Ciamma- RESUMO


ricone
O presente artigo tem como objetivo relatar a experiência de um
Discente do curso de psicologia. aluno do 7º semestre de psicologia na disciplina de estágio supervisio-
nado I vivenciada em um hospital de doenças infecciosas. Trata-se de
Karla Corrêa Lima Miranda um relato de experiência de um estagiário do 7° semestre de Psicolo-
gia da Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO). O
Doutora em Saúde Comunitária
(UFC), Mestre em Saúde Pública estágio ocorreu num hospital referência em doenças infectocontagiosas
(UFC), Psicóloga (UNIFOR), atuan- e a proposta do estágio foi realizar uma territorialização de um campo,
do na Clínica. Docente do curso de observar, escutar, entrevistar para propor uma intervenção no “locus”.
psicologia (FAMETRO). Coordena Nesse sentido, a experiência também possibilitou um primeiro contato
grupo de Estudos e Pesquisa em Psi- na posição de um saber ainda não experimentado, fato esse gerador de
canálise na faculdade metropolitana angústia, pois o inesperado nos convoca a sairmos da posição confortável
grande Fortaleza- GEPPSI. de sala de aula, para enfrentarmos o desconhecido retomando conheci-
mentos trabalhados em disciplinas prévias. Enfim, movido pelo desejo de
saber e saber fazer continuo minha empreitada de aprender desejando e
em deixar a desejar.

Palavras-chave: Relato de experiência. Escuta. Lugar do saber. Estágio


básico.

ABSTRACT

This article aims to report the experience of a student of the 7th semes-
ter of Psychology in the subject of supervised internship I lived in a hospital
of infectious diseases. This is an experience report of a trainee of the 7th
semester of Psychology at Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza
(Fametro). The internship occurred in a reference hospital in infectious dis-
eases and the proposal of the internship was to carry out a territorialization
of a field, to observe, to listen, to interview to propose an intervention “in
locus”. In this sense, experience also enabled a first contact in the position of
a knowledge not yet experienced, a fact that generates anguish, because the
unexpected calls us to leave the comfortable position of classroom, to face
the unknown resuming knowledge worked in previous disciplines. At last,
moved by the desire to know and to know how to do, I continue my task of
learning by wishing and letting wish.

Keywords: Experience report. Listening. Position of knowledge. Basic in-


ternship.

Revista Diálogos Acadêmicos, Fortaleza, v. 6, n. 1, jan./jun. 2017.


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Ouvir, para Freud, tornou-se mais do que uma tou os inúmeros setores, nos instruindo sobre
arte, tornou-se um método, uma via privilegiada
para o inconsciente, à qual os pacientes lhe da- as práticas trabalhadas em cada setor, assim
vam acesso (GAY, p. 80, 1989). como o público a que se destina o atendimen-
to, já que iríamos atuar em setores distintos.
1 introdução O estágio foi realizado em um hospital
referência em doenças infecciosas na cidade de
a O processo de ensino aprendizagem tem Fortaleza - CE. O referido hospital conta com
r nos remetido a constantes reflexões acerca do 150 leitos de internação, um pronto atendimen-
t cenário atual de atuação dos futuros profissio- to que atende 1500 pessoas ao dia, uma Unida-
i nais e os aspectos que envolvem o processo de de Terapia Intensiva, um hospital dia e um
g formativo, visto que, cotidianamente, docentes ambulatório que atende 800 pacientes por dia.
o e discentes dos cursos de graduação vivenciam O local no qual fomos locados foi o am-
s situações singulares e dificuldades no ato de bulatório, hospital dia, sala de espera dos con-
ensinar. sultórios, pediatria e recepção. Cada estudante
Nos cursos de graduação, os novos fato- elegeu um campo para que pudesse fazer seus
res presentes na vida universitária podem ter atendimentos, cabendo ao mesmo ser respon-
uma interferência positiva ou negativa, depen- sável pelos atendimentos de um determinado
dendo de cada estudante, pois o processo de setor ao qual foi designado, tendo como foco o
aprendizagem acontece de maneira singular e, treino/refinamento da escuta profissional.
para se sentir implicado em vivenciar experi- Após reconhecimento do território,
ências significativas e adquirir novos conheci- deu-se início os atendimentos no campo. Pos-
mentos, é preciso existir motivação intrínseca teriormente, a partir da escuta dos pacientes,
e estímulos externos que tenham sentido e associaríamos os atendimentos ao estudo te-
significado para o estudante, ou seja, tudo isso órico (livros e artigos) para que pudéssemos,
passa por uma metodologia participativa e até através das supervisões, relatar a vivência ex-
mesmo criativa (BARROS et al, 2015). perimentada nos atendimentos. Assim, pode-
O presente estudo tem como objetivo re- mos eleger a supervisão como o meio de rela-
latar a experiência de um aluno do 7º semestre tar os casos com uma devolutiva embasada nos
de psicologia na disciplina de Estágio Supervi- estudos prévios ao longo dos sete semestres e
sionado I, vivenciada em um hospital de doen- das leituras recomendadas pela orientadora.
ças infecciosas. O método avaliativo da disciplina con-
sistiu em duas etapas, a primeira tendo os que-
2 Os primeiros contatos com o sitos de pontualidade, assiduidade, compro-
Estagio metimento e devolutiva dos casos atendidos
com as devidas associações teóricas e a criação
de um projeto de intervenção a partir das de-
O primeiro contato que o estudante que mandas observadas dos pacientes e/ou profis-
entrará em posição de estagiário se fez em sala sionais da instituição.
de aula, com momentos de instrução, expli- O segundo consistirá na aplicação do
cação e formalização de rotinas, fluxos, res- projeto, sendo avaliado por métodos observa-
ponsabilidades, bem como o planejamento dos de condução e comprometimento do esta-
das atividades que serão desenvolvidas pelo giário com o que foi proposto, além da articu-
estagiário, seu dever ético e devolutivas. Nesse lação teórica e devolutiva em supervisão.
momento, foi apresentada a “carta de serviços
sobre estágios e serviços-escola” disponibiliza- 3 As atividades desenvolvidas
da pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) no campo
Em um segundo momento, fomos a
campo para reconhecimento do território,
sendo guiados pela supervisora, que apresen- Nossos atendimentos e supervisões ocor-

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riam uma vez por semana, sendo uma semana sentava ou permanecia em pé ao lado de um
de atendimento e outra de supervisão dos casos paciente escutando tudo que lhe era dito e logo
atendidos,cadaqualcomduraçãodequatrohoras. solicitavam um momento para que pudessem
A princípio, fomos locados em setores relatar algo e, assim, possibilitávamos momen-
diferentes, tais como ambulatório, hospital dia, tos para todos fossem atendidos.
consultórios, recepção e pediatria, para que Posteriormente, a cada caso atendido,
pudéssemos abranger o máximo de pacientes encontrava um local para que pudesse anotar
distintos, consequentemente, teríamos uma algumas observações acerca dos casos acolhi-
maior possibilidade de intervenções distintas dos, fazendo associações com a teoria para
entre nós, além de diferentes escutas. que, no dia da supervisão, pudesse comparti-
Sabendo que o propósito do estágio bási- lhar a experiência e relatar os casos, contudo,
co I em psicologia é proporcionar um primei- respeitando o sigilo e anonimato do paciente.
ro contato do estudante com o campo de atu- Partindo dos casos atendidos no hospi-
ação do psicólogo, além do intuito de treinar tal e das orientações por nossa supervisora,
a escuta através dos atendimentos dos pacien- foi possível começar a elaborar meios de in-
tes, pudemos perceber como a ida ao campo tervenções que contemplassem as demandas
torna-se essencial na formação acadêmica do observadas, oriundas da escuta dos pacientes
estudante de psicologia. Independente da área atendidos. A partir dos atendimentos feitos
de atuação ou da abordagem escolhida pelo aos pacientes e profissionais da instituição de
estudante, o futuro profissional de psicologia saúde a qual se destinou o estágio, comecei a
fará uso da escuta como ferramenta principal me aproximar da prática da psicologia, saindo
de seu atendimento. apenas do campo teórico para poder vislum-
O trabalho do psicólogo diferencia-se brar a práxis do psicólogo em ação, não mais
dos demais profissionais das instituições de como observador e sim como atuante, lidando
saúde, pois destacamos como objeto de aten- diretamente com o público.
dimento o próprio sujeito e sua história, com Em todos os setores nos quais fui alo-
um “olhar” para o seu sofrimento. Proporcio- cado, houve o movimento de ser colocado na
namos ao paciente um outro que o escute, o posição de saber perante um outro, que em
escute para além da sua situação de doente. sua maioria acatavam essa posição me dando,
É nesse âmbito que nós estudantes de também, esse lugar. É oportuno ressaltar como
psicologia fomos a campo, disponibilizando coisas aparentemente simples e de menor im-
um atendimento aos usuários da instituição portância têm, inicialmente, grande influência
que desejavam falar e serem escutados. Em em ser colocado nessa posição. Refiro-me ao
cada setor que fomos alocados, abordávamos fato de usar o jaleco, pois, além das pessoas
os sujeitos nos apresentando como estagiários as quais atendíamos, quando havia necessi-
de psicologia que estavam realizando um tra- dade de deslocar de um lugar para outro no
balho de atendimento aos pacientes e profis- hospital, era comum que se dirigissem a nós
sionais da referida instituição, que teria como para tirar dúvidas diversas. Aqui percebo que
intuito criar um espaço para que esse sujeito esse lugar de investimento na minha imagem
pudesse falar das suas experiências, daquilo aparece de uma ordem narcísica a mim, pois
que o angustia, o incomoda, enfim, aquilo que existe um outro que deposita a fantasia da sua
deseja falar. Os atendimentos eram realizados “cura” endereçada a mim. Esse narcisismo é
no local onde o paciente se encontrava, ou seja, de uma ordem secundária que, de acordo com
em cadeiras das salas de espera, em tratamento Freud (1914), busca um retorno de “comple-
medicamentoso ou em pé esperando ser cha- tude” há muito tempo perdida com o seu pri-
mado para os consultórios. Nesses momentos, meiro objeto de amor (a mãe) e que, de uma
acolhíamos o paciente em seus relatos. Os de- certa forma, se atualiza quando se é colocado
mais pacientes ao redor mostravam-se curio- em um local “fálico” para o outro.
sos à imagem daquele sujeito de jaleco que se Os atendimentos foram se desenvolven-

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do nos respectivos setores, os quais propor- ção e nem opera no mensurável, assimr se dis-
cionavam um ganho mútuo entre paciente e tanciando do modelo das ciências modernas/
estagiário, pois possibilitava ao paciente um medicina (ERLICHE; ALBERTI, 2008).
momento de um outro que “sabe” o escute, ao Os atendimentos em campo nos propor-
mesmo tempo que proporcionava um treino cionaram um primeiro momento, perceber
da ferramenta “escuta” do estudante. Poste- que a escuta é um momento de extrema deli-
a riormente, os relatos dos atendimentos eram cadeza, que um Outro vivenciando uma an-
r trabalhados em supervisão, permitindo, as- gústia, um sofrimento se mobiliza em busca de
t sim, que o estudante juntasse a teoria à prática ajuda, a compartilhar algo que é somente dele,
i supervisionada, assim, nos permitindo refletir que não diz respeito a ninguém, mas que pre-
g e formular questões sobre propostas de ativi- cisa de um Outro que sirva de “suporte”, que
o dades de intervenção que permitissem ao mes- o escute sem julgar. Segundo Freud (1912), a
s mo tempo comtemplar as demandas observa- escuta está atrelada ao conceito de inconscien-
das nos atendimentos, como refinar a escuta te, pois é a partir do discurso do paciente que
psicológica. o analista tem “acesso” à realidade psíquica do
analisando. Ele elabora dois conceitos para que
4 O que me foi possível ocorra essa escuta analítica, sendo eles a aten-
ção flutuante que, de acordo com Roudinesco
Ansiamos pela prática em psicologia, e Plon (1998), “é um termo para designar a re-
pelo atendimento, aplicar o que estudamos gra técnica segundo a qual o psicanalista deve
ao longo de sete semestres, enfim chegamos à escutar seu paciente sem privilegiar nenhum
prática, e eis o nosso maior desafio, colocar-se elemento do discurso deste e deixando que sua
frente a um outro que demanda um cuidado, própria atividade inconsciente entre em ação”,
que não está exemplificado em livro algum. e a associação livre, que consiste em deixar que
Como ele vai se portar frente ao nosso atendi- o paciente fale o que lhe ocorrer em mente,
mento, está diante de nós um sujeito que não sem a interferência do analista.
sabemos quem é e nem o que deseja. Podemos, então, conjecturar que o psi-
Diante desse momento, nos sentimos cólogo não ouve, ele escuta, pois o ato de escu-
frágeis e vulneráveis nos achando desprepa- tar, segundo o Michaelis (Moderno Dicionário
rados. Segundo Figueiredo (2009), “na au- da Língua Portuguesa), é prestar atenção para
sência de uma compreensão mais abrangente ouvir; dar atenção a; ouvir, sentir, perceber ou
e profunda do nosso espaço de dispersão, ex- ainda aplicar o ouvido com atenção para per-
perimenta-se um sutil mal-estar que poderia, ceber (Novo Aurélio). É essa a habilidade que
ocasionalmente, converte-se em episódios de diferencia o profissional de psicologia, habili-
angústia”. O referido autor nos demonstra o dade essa que o estagiário de psicologia vai a
que pode advir da angústia, digo, as defesas campo para treinar/refinar.
provenientes da angústia que não permitem A cada artigo ou livro lido, sinto que mi-
que o psicólogo em formação tenha acesso às nha base teórica se refina, entretanto, percebo
experiências que são proporcionadas na atua- a necessidade de um Outro que demonstre ca-
ção em campo. Essas defesas acabam limitando minhos para aquisição de novas habilidades e
o estudante a ficar preso a um saber que acha aptidões ou até mesmo uma apuração dos atri-
que sabe, e como consequência não se permite butos que já venho desenvolvendo nesses três
experimentar as transformações que podem anos e meio de graduação.
surgir do movimento de construir e descons- É nesse momento que se faz mister a su-
truir em forma reflexiva o que é a formação pervisão, pois nela elencamos a teoria com a
em psicologia. Diferente de outros saberes, a prática, duas das três condições de formar-se
psicanálise parte do saber não saber perante analista, para que possamos treinar/refinar a
um outro, não é algo da ordem da memoriza- nossa escuta, além de outras habilidades ne-
cessárias para atender às necessidades dos

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pacientes. De acordo com Saraiva e Nunes teger o aparelho psíquico de algo da ordem do
(2007), a supervisão provê ao aluno devoluti- perigo. Assim como no complexo de castração
vas sobre a seu desempenho, assim como pro- (Freud, 1901-1905), no qual a angústia gera o
porcionando um resguardo ao estudante, pois recalcamento do sentimento de amor do me-
o supervisor (a) dá subsídios para o estagiário nino perante a mãe, frente a um terceiro ame-
quando o mesmo encontra-se em confusão ou açador e que, posteriormente, acha outras for-
dificuldades diante de casos atendidos, possi- mas sublimadas de vivenciar a “completude”
bilitando alternativas no atendimento ou indi- do objeto de amor perdido. O estudante em
cando leituras para que o aluno busque formas formação tem que achar um meio de manejar
de aperfeiçoamento. essa angústia gerada frente aos atendimentos
Tais supervisões também proporcionam no estágio, a fim de achar outros meios que ali-
ao supervisionado uma característica própria, viem esse desprazer. A angústia, então, torna-
que através do supervisor é possibilitado, pois -se uma energia que movimenta o “motor” em
este fornece ao supervisionado meios para que busca da realização do desejo do estudante em
ele desenvolva as suas habilidades e técnicas, formação.
para que, posteriormente, ele possa manejá-
las distintamente para melhor atender aos seus 5 Considerações finais
pacientes, de acordo com a necessidade de
cada um (SOUZA; TEIXEIRA, 2004). Considerando a proposta inicial do es-
Nosso ambiente de estágio, como já su- tágio de treinar a escuta, a experiência pro-
pracitado, é uma instituição de saúde pública porcionada no local em questão foi de grande
com atendimentos de doenças infecciosas, dito valia. O fato de ser uma instituição de saúde de
isso, vale ressaltar que nosso campo de atua- nível terciário implica num grande número de
ção é muito distante do que se espera de um pacientes com demandas a serem trabalhadas,
setting analítico. Não fazemos uso de salas cli- tanto biológicas como psicológicas, bem como
matizadas e com acústica favorável para uma o entrelaçamento dessas duas demandas.
sessão de análise ou psicoterapia, entretanto, É notória a necessidade de mais estudos
não se pode desprezar os conteúdos ricos em de campo na graduação de psicologia, pois so-
discursos que nos foram proporcionados pe- mente a teoria não é suficiente para abranger
los pacientes que se dispunham a falar. Assim a necessidade que encontramos na vivência
como Freud, nossos atendimentos começaram prática, o que se descobre tardiamente na aca-
nos “corredores” do hospital, com todas as di- demia. Entretanto, as situações diversas que
ficuldades que dele possam advir, mas essa é a experienciei em campo me proporcionaram
prática do profissional de psicologia que vai a um olhar diferenciado para as possibilidades
campo para buscar o seu aperfeiçoamento. que podem surgir no meu futuro profissional,
Ocasionalmente, sou tomado pela mis- vivências que teoria nenhuma poderia me pro-
tura de sentimento de prazer e desprazer em por em suas palavras escritas. A importância
relação ao modo de atender o sujeito, pois fan- das supervisões para “despertar” um caminho
tasiamos que esse momento será pleno e reali- alternativo nos atendimentos mostrou-se mui-
zado sem dificuldades. to mais do que o imaginado, ao meu ver é um
Atendemos em um “setting” improvisa- subsídio ao qual posso recorrer em momentos
do, sem condições de uma escuta idealizada. de dúvidas na prática e na teoria, é uma Outra
Onde é da nossa competência fazer o sujeito voz que possibilita uma conjectura distinta da
falar, e não temos como garantir ou prever anterior elaborada acerca de um caso.
essa fala, essa não previsão é geradora de an- O estágio básico me possibilitou a apli-
gústia que se torna presente na formação do cação das teorias que venho lendo e relendo no
profissional de psicologia. A angústia, segun- intuito de aperfeiçoamento profissional, que,
do Freud (1926), é anterior ao recalque, essa enfim, coloquei em prática, essa que mostra-se
como mecanismo de defesa do ego para pro-

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sempre maior do que o imaginado, porém não GAY, P. F. Uma vida para nosso tempo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
é algo da ordem do destrutivo, acredito que es-
sas dificuldades e surpresas que podem surgir
ao longo da jornada de um acadêmico sejam MICHAELIS. Moderno Dicionário da língua
portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.
benéficas, pois me demonstraram o quanto br/moderno-portugues>. Acesso em: 02 maio 2017.
não conhecemos o suficiente e que a jorna-
a da de um psicólogo sempre será de estudos e NOVO dicionário Aurélio da língua portuguesa.
r práticas, buscando um aperfeiçoamento, esse Disponível em: <http://dicionario-aberto.net/dict.pdf>.
Acesso em: 02 maio 2017.
t se inscrevendo a partir do desejo, desejo esse
i que “move” o aparelho psíquico, faz sonhar,
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de
g dormir e acordar, como Freud (1900) nos re- psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
o mete em a interpretação dos sonhos, “o pen-
s samento, afinal de contas, nada mais é que um SARAIVA, Lisiane Alvim; NUNES, Maria Lucia Tiellet.
substituto de um desejo alucinatório e é por si A supervisão na formação do analista e psicoterapeuta
próprio evidente que os sonhos têm de ser re- psicanalítico. Estud. Psicol., Natal, v. 12, n. 3, p. 259-
268, dezembro de 2007. Disponível em: <http://www.
alizações de desejo, uma vez que nada mais, a scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
não ser o desejo, pode colocar nosso aparelho 294X2007000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em
02 maio 2017.
mental em movimento”.
SOUZA, Márcia Michele de; TEIXEIRA, Rita Petrarca.
referências O que é ser um “bom” psicoterapeuta?. Aletheia,
Canoas, n. 20, p. 45-54, dez. 2004 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Carta de arttext&pid=S1413-03942004000200006&lng=pt&nrm
serviços de estágios e serviços-escola. Disponível em: =iso>. Acesso em: 02 maio 2017.
<http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/09/
carta-de-servicos-sobre-estagios-e-servicos-
escola12.09-2.pdf>. Acesso em: 09 maio 2017.

ERLICH, Hilana; ALBERTI, Sonia. O sujeito entre


psicanálise e ciência. Psicol. rev., Belo Horizonte
, v. 14, n. 2, p. 47-63, dez. 2008 . Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1677-11682008000200004&lng=pt&nrm
=iso>. Acesso em: 05 jun. 2017.

FIGUEIREDO, Luiz Claudio Mendonça. Revisitando


as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e
discursos psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2009.

FREUD, S. A interpretação dos sonhos. São Paulo:


Companhia das letras, 2016 (Obras completas, v. 4).

______. Introdução ao narcisismo, ensaio sobre


a metapsicologia e outros textos. São Paulo:
Companhia das letras, 2016 (Obras completas, v. 12).

______. Recomendações aos médicos que exercem a


psicanálise. In: ______. Obras psicológicas completas
de Sigmund Freud edição standard brasileira. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.

______. Inibições, sintomas e ansiedade. In ______.


Edição standard brasileira das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,
1996.

Revista Diálogos Acadêmicos, Fortaleza, v. 6, n. 1, jan./jun. 2017.

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