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PARNAÍBA - PIAUI
2022
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PARNAÍBA - PIAUI
2022
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SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO GERAL
O Estágio Supervisionado II foi uma experiência que proporcionou a vivência do
exercício profissional em situações reais, de forma integrada aos conhecimentos estudados no
decorrer do curso de Psicologia, como aponta Del Prete, Del prete e Meyer (2007), tendo por
base os princípios éticos e legais da profissão, com supervisão da professora Ana Catarina
Correia Mesquita, todas as terças, das 15 às 19 horas, tendo como orientação a abordagem
Psicanalítica. A escolha por tal abordagem se deu a partir das concepções adquiridas sobre o
ser humano e seu funcionamento psicodinâmico e pulsional, (LIMA, 2010). Os horários de
atendimento foram disponibilizados e efetivados tendo em vista os melhores horários para
cada aluno, a fim de evitarem-se atrasos e faltas durante os atendimentos, bem como choques
de horário no uso das salas. O presente relatório de estágio é parte da disciplina de Estágio
Supervisionado II - do 9º Bloco, período 2022.1, que tem por objetivo contemplar todo o
aparato teórico e prático utilizado e aprendido no decorrer do mesmo, bem como conferir nota
para a graduação do curso de Psicologia. Ao todo, o estágio compreende 200 horas, com 120
horas de prática, 40 horas mínimas de supervisão, 20 horas para confecção de relatório e 20
horas para amostra dos relatórios, no formato banner.
A escolha da clínica psicoterápica surgiu como interesse devido o contato com a a fala
dos professores, sua experiência em atendimentos, bem como a vontade pessoal em
proporcionar aos clientes que a partir de suas ressignificações e singularidades, eles poderiam
ter um melhor ajustamento diante de um processo ou demanda pessoal, (POMPEIA;
SAPIENZA, 2011). Cada atendimento, acolhimento, triagem, supervisão e troca pessoal com
os companheiros de estágio foi crucial no fomento da formação profissional e na relação
crítico-reflexiva da profissão, (SANTOS; NÓBREGA 2017). Por intermédio desses
mecanismos o desenvolvimento da ética e postura profissional pôde ser complementado,
assim como a identidade profissional e as perspectivas sobre o funcionamento da
integralidade do ser humano, enquanto ser biopsicossócioespiritual, (RUDNICKI;
CARLOTTO 2007). Características simples acerca da marcação de horários, a falta de
pacientes e o retorno de outros, foram outros conhecimentos adquiridos sobre a prática
psicoterápica e suas nuances. Vale ressaltar que o acolhimento, empatia e respeito as
características pessoas de cada pessoa, foram fundamentais para que os clientes se sentissem
confortáveis a falar e expressarem-se no setting, (GONÇALVES, 2016).
O sentimento que estágio proporcionou foi o de maior responsabilidade, sendo ela
pessoal e profissional, (DIEGUEZ, 2019). O local de prática foi a clínica-escola, onde haviam
quatro salas de atendimento, para adultos e adolescentes, às quais contavam com poltronas,
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como um dos tipos de neurose, (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998). Nesse sentido, foi
postulado que o psiquismo reprime ou tenta manter no inconsciente as representações
traumáticas, memórias ou vivências e, nessa operação, são produzidas mudanças
perceptíveis, sejam elas físicas ou psicológicas, configurando o mecanismo que permite a
expressão do conteúdo inconsciente, (CONTE, 2004).
Após tais descobertas e o fracasso de Freud em acessar o inconsciente pela a hipnose,
ele constituiu o método da livre associação de ideias, meio pelo qual seria atingido com maior
facilidade os elementos que estavam em condições de liberar os afetos, as lembranças e as
representações, (HERRMANN, 2014). A partir disso, Freud salienta que o ato de escutar ao
paciente, que associa livremente, deve ocorrer de forma aberta e livre de todo tipo de pré-
concepções construídas em sua própria história, juntamente com a necessidade de desprender-
se das concepções teóricas ou ideais a respeito das formas corretas ou erradas do paciente em
conduzir seu processo, (FREUD, 1996). Com isso, deve-se buscar manter uma abertura ao
que pode emergir como algo novo e diferente, em cada relação em que se envolve, mantendo
sempre uma atenção flutuante, (KERN; LUZ, 2017). Tendo por base, tal abertura, Freud
concebeu que o psicanalista, ou aquele que atua na psicoterapia analítica deve embasar-se em
um tripé, contemplando a análise pessoal, a supervisão e o estudo teórico, fatores os quais
propiciam atualmente a formação de diversos alunos em Psicologia, (FREUD, 1976).
A Psicanálise na prática clínica apresenta modificações desde os trabalhos iniciais de
Freud, já que, muitos autores pós-freudianos contribuíram com acréscimos e reorganizações,
conforme as novas necessidades do ser humano, contextualizadas aos aspectos culturais,
(ZIMERMAN, 2004). Birman, (1994) afirma que a experiência psicanalítica possibilita
muitas formas de atender, desde que nesta diversidade sejam reconhecidas as condições
epistemológicas e éticas para a construção do espaço analítico, ou seja, uma abordagem
focada na fala, na escuta, e regulada pelo impacto da transferência. É importante salientar,
que a Psicanálise na clínica abarca tal diversidade, pois ela considera as diferentes formas em
que se apresenta o funcionamento psíquico para a escuta analítica, (KERN; LUZ, 2017).
Portanto, a Psicanálise clínica torna-se um poderoso método psicoterápico baseado na
investigação e na interpretação dos conteúdos manifestos, mecanismos de defesa, da
transferência e da energia pulsional, que percorre o aparelho psíquico, (LAPLANCHE;
PONTALIS, 1992).
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2. MARCO TEÓRICO
2.1 PSICANÁLISE
A teoria Psicanalítica, formulada por Sigmund Freud no início do século XX é uma
abordagem terapêutica que, através de diversos mecanismos, busca entender o sofrimento
psíquico dos pacientes que a buscam, sendo a partir desses que Freud pôde conceber os
conceitos ligados à constituição do psiquismo humano, (CELES, 2016). Dito isso, a
psicanálise esteve vinculada inicialmente aos estudos das psiconeuroses, mais
especificamente da histeria, na qual Freud pressupôs um diálogo entre o psíquico e o
somático, (AMORIM, 2010). Freud concluiu, por intermédio desses estudos, que além da
consciência havia outra lógica que operava na psiquê humana, onde alguns conteúdos
permaneciam não revelados ao sujeito: o inconsciente, (FREUD, 1996). Assim, para a
Psicanálise os conteúdos de ordem mental seriam considerados como conscientes ou
inconscientes, explicando as constantes “falhas de memória” e sintomas físicos sem
explicação fisiológica, tais achados permitiram a Freud criar duas teorias do aparelho
psíquico, a primeira e segunda tópicas, (LIMA, 2010).
Na primeira teoria do aparelho psíquico ou primeira tópica, Freud clivou a mente em
inconsciente, pré-consciente e consciente, onde o inconsciente, seria uma instância psíquica
em que o paciente sabe da existência, mas não sabe o seu conteúdo. O inconsciente não segue
uma lógica linear, mas atemporal e dialético, onde contrários coexistem, estruturando-se pela
fala e sendo a fonte da energia libidinal, (FREUD, 1987). O pré-consciente seria uma
instância independente, como as demais, responsável por armazenar as informações que não
estão na consciente naquele exato momento, mas podem ser acessadas sempre que necessário,
sem dificuldades, (ZIMERMAN, 2004). O consciente é, em primeiro lugar, um termo
puramente descritivo, que determina uma percepção mais imediatista e que remete ao seu
estado de atenção e vivências, ou seja, alguns elementos podem estar conscientes, por hora e
posteriormente sumirem da consciência, (CARLONI, 2016). Tal ideia apresenta que um
estado consciente é, caracteristicamente, muito transitório, tendo em vista, por exemplo,
vivências que são conscientes e após um momento não mais, embora assim possam tornarem-
se novamente, em certas condições que são facilmente ocasionadas, (FREUD, 1996).
Outro conceito de extrema importância, concebido nesse primeiro momento foi o de
energia libidinal, o qual, Freud aponta como a energia erótica que possibilita a vida, assim
como a energia que está na fronteira entre o psíquico e o somático, (FREUD, 2003). O criador
da Psicanálise salientou que utilizar-se desta energia para fins socialmente aceitos, resulta em
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sublimação, além de complementar que é a libido quem une os homens para fins reprodutivos,
(WINOGRAD, 2004). Em seguida, devido seu primeiro modelo não explicar alguns
fenômenos psíquicos, Freud desenvolve a segunda teoria do aparelho psíquico ou segunda
tópica, na qual ele dividiu a estrutura psíquica em id, ego e superego, (ZIMERMAN, 2004). O
id é a fonte de energia pulsional (libido), sendo ele inconsciente e regido pelo Princípio do
Prazer, já o ego faria a mediação entre os desejos do id, as impossibilidades da realidade
externa e as interdições do superego, (LIMA, 2010). Esse último está ligado ao Principio de
Realidade, por meio do qual o homem torna-se um ser civilizado e social, possuindo uma
parte consciente e outra inconsciente. Por fim, o superego, o qual é o herdeiro do complexo de
Édipo e introjeções morais dos pais, ele acusa os desejos do id, antes mesmo que cheguem à
consciência, (LAENDER, 2005).
As três instâncias são distintas, mas não são separadas, na verdade são
interdependentes em uma relação dialética, possuindo a mesma natureza e atuando em
conjunto, produzindo, na estrutura psíquica, uma síntese que compõem a subjetividade
humana, (CARLONI, 2016). Esse complexo mecanismo demonstra o valor da psicanálise
enquanto abordagem terapêutica, pois torna o homem um ser psicodinâmico, social e que tem
uma experiência pessoal atrelada ao seu contexto vivencial, (CELES, 2016). Portanto, a
definição do fazer clínico psicanalítico é a interpretação e muitos outros métodos, os quais são
percebidos através da atenção flutuante e da função-espelho, as quais implicam na ab-reação
daquilo que o paciente associa dentro do setting analítico, (SIMONI; BENETTI;
BITTENCOURT, 2018). Nessa escuta, o discurso do analisando é tomado na subjetividade do
analista, que por sua vez, traz à tona, aquilo que esta oculto aos ouvidos e percepções do
paciente, devido seus mecanismos de defesa (HERRMANN, 2006). Desse fazer clínico, a
interpretação vale-se do poder de modificação sobre o discurso individual para que se
ampliem as possibilidades de ressignificação do paciente, flexibilizando-lhe as próprias
defesas e significações, (HERRMANN, 2014).
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• Sexo: Feminino
• Queixa principal: Comportamentos agressivos e ansiedade na ausência da mãe
• Hipótese diagnóstica: Ansiedade de Separação diante do abandono do pai.
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3º Atendimento: Nessa sessão M. S. chegou bastante animada, porém ela falou que não
gostaria de conversar, ela queria brincar um pouco e se divertir. Nesse momento foi percebido
certa resistência da criança (ZIMERMAN, 2004). Mantendo sua proposta, iniciaram as
brincadeiras, mas ao passo em que brincava, M. S. sempre comunicava algo. Isso denota o
caráter terapêutico da ludoterapia (MARTELLI et al. 2000). Durante esse processo ela
revelou que sentia-se um pouco zangada com o pai, pois ele não ajudava sua atual esposa em
casa. M. S. parecia estar buscando motivos para sentir raiva do pai, (LEANDER, 2005). Ela
ressaltou ainda, que essa era a única raiva que sentia em relação a ele, mas após um
questionamento (HERRMANN, 2006), ela revelou que se sentia culpada pelo abandono do
pai e talvez ela nunca descubra se isso é verdade ou não. Entretanto, enquanto brincava ela
revelou seu anseio em conversar com ele sobre esse assunto e questioná-lo sobre a verdade
(BRITO; FREIRE, 2015). Dando continuidade, ela revelou que durante a semana se sentiu
bastante ansiosa em relação à mãe e algumas promessas que ela havia lhe feito. Sempre que a
mãe de M. S. dizia que elas iriam para um certo lugar, seja daqui algumas semanas, dias ou
horas, a menina sentia palpitações fortes e ficava bastante tempo questionando sua mãe se já
era hora de ir (CASTILLO et al. 2000). Após a devolução acerca dessa ansiedade
(ZIMERMAN, 2004), ela reconheceu sua ansiedade e trabalhou algumas formas de enfrentá-
la e desviar seu foco para outra atividade, além de manter o controle da respiração. Ao fim da
sessão ela fez um desenho do estagiário, agradeceu e se despediu.
4º Atendimento: ao entrar na sala a criança já falou que não gostaria de falar muito e apenas
gostaria de brincar, expressando alta resistência em comunicar-se, (HERRMANN, 2006).
Decorrente disso ela pegou vários brinquedos e falou muito pouco enquanto brincava
(SILVA; BARROSO, 2017). Quando falava sobre algo analisável ela fugia dos
questionamentos e com uma leve regressão infantilizada expressava: “não quero falar sobre
isso” (OLIVEIRA, 2009). Sendo assim, fomos brincando por muito tempo até que ela revelou
que não estava se sentindo tão bem, pois havia falado algo à mãe de forma grosseira, mas não
disse o conteúdo expresso à mãe (ALMEIDA, 2003). Ao fim da sessão ela se despediu e
agradeceu por poder brincar com o estagiário. Aquilo havia sido significativo pra ela, que
posteriormente combinou que na sessão da semana que vem poderia brincar e conversar,
(HERRMANN, 2014).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se então, que dentro das mais diversas vivências que foram proporcionadas
pelo estágio supervisionado II, pode-se compreender e trazer toda a teoria adquirida durante
os períodos vivenciados no curso de Psicologia, além do fato de apreender o quão
maravilhoso é o ser humano e toda a sua capacidade de ressignificar as mais traumáticas
vivências. Conectar-se com demandas que foram chegando no setting, através de triagens,
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plantões e pacientes de psicoterapia, assim como poder vivenciar todas as características que
perpassam o processo de psicoterapia continuada, a ludoterapia e a própria vontade de
conhecer e iniciar cada terapia, foram experiências inimagináveis que serão levadas para os
futuros campos de trabalho. Ao lado da supervisora, cada dúvida, intervenção ou proposta era
uma oportunidade em melhorar enquanto profissional e desenvolver um olhar acurado acerca
do ser humano que se põe diante do terapeuta, a fim de ser ouvido e compreendido em cada
uma de suas esferas pessoais. Utilizar a Psicanálise em cada sessão, valendo-se dos
conhecimentos desenvolvidos por Freud e autores posteriores foi algo muito significativo,
pois muito se falava sobre sua não praticidade dentro do setting, o que comprovadamente não
se sustentou diante do feedback dos pacientes atendidos durante o decorrer desse estágio.
Muito do que os professores expressavam em sala se fez valer na prática, como por
exemplo, a ansiedade em querer saber como é o paciente e ele em querer saber como é o
terapeuta. Vale ressaltar, que também evidenciaram-se outras questões como faltas,
desistências, resistências, entre outros mecanismos de defesa, os quais, ao longo do processo
da psicoterapia, foram sendo “vencidos”, ressignificados, a fim da ab-reação do cliente. Essa
abordagem teórica tem a incrível capacidade de perceber tais processos, que outrora estavam
inconscientes e através das devolutivas daquele que inclina-se para ouvir trazer uma nova
perspectiva para quem o busca. A Psicologia torna-se um sonho realizado. Cada momento na
clínica-escola será um ponto de recordação para se fazer um melhor profissional. Pois, é
através daquilo que se aprende e da humildade em reconhecer que pouco sabe, que o
profissional em Psicologia se faz. Além disso, manter-se se atualizado sobre os mais novos
estudos, fazer a análise pessoal e estar em supervisão, são, sem dúvidas as peças fundamentais
para que esse profissional esteja apto para proporcionar a melhor escuta, o melhor
acolhimento e a melhor consideração aqueles que o buscam.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA. C. Ausência Paterna e o Impacto na Mente Criança. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2016.
ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. 11. ed. São Paulo:
Loyola, 2003
CELES, L. A. Psicanálise é trabalho de fazer falar, e fazer ouvir. Psychê, v. 9, n. 16, p. 25-48,
2005.
DAMIANI, C. C.; COLOSSI, P. M. A ausência física e afetiva do pai na percepção dos filhos
adultos. Porto Alegre: Pensando Famílias, v. 19, n. 2, p. 1-16, 2015.
DEL PRETTE, G.; DEL PRETTE, Z. A. P.; MEYER, S. B. Psicoterapia com crianças ou
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Psicologia, vol. 24, n. 3, pp. 306-314, 2007.
FARATE, C. Psicanálise com limites, psicanálise ilimitada. Lisboa: Fenda Edições, 2012.
FREUD, S. Sobre o ensino da psicanálise nas universidades. In: Edição Standard Brasileira
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p. 217- 220, 1976.
MUZA, G. M. Da proteção generosa à vítima do vazio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.