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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
GERÊNCIA DE ESTÁGIOS
gest@prograd.ufal.br - (82) 3214-1083

Relatório parcial de estágio curricular em Psicologia Clínica

Maceió
2019
Dados do Estagiário
Nome: Anderson Samuel da Silva Melo
Registro Acadêmico: 13211327
Curso e Período: Psicologia/9º período

Dados do Local de Estágio


Empresa: Serviço de Psicologia Aplicada - SPA. Instituto de Psicologia/Universidade Federal de
Alagoas - UFAL. Campus A. C. Simões, Av. Louviral Melo Mota, S/N, Tabuleiro do Martins,
Maceió, Alagoas. (82) 3214- 1344.
Supervisor: Cleyton Sidney de Andrade
N° de registro: CRP-15/4184

Período de Estágio
Início:12/11/2018 Término: 23/04/2019
Jornadas de trabalho: 20 horas semanais.
Total de horas: 300 horas em 2018.2

Maceió
2019
1. Introdução

O presente relatório contempla dados básicos de identificação do aluno e carga horária


distribuída e é apresentado a partir das atividades que serão realizadas. Os objetivos norteiam as
práticas de modo a alinhar expectativas, teoria e prática; destacando que se parte de um referencial
teórico psicanalítico. Ao mesmo tempo, a bibliografia na qual os estagiário se baseou corroborara
na formação teórica, que se refletiu na prática clínica do estagiário.

2. Atividades desenvolvidas

A psicologia clínica como área de estágio foi escolhida a partir do interesse pessoal do
aluno pela clínica psicanalítica lacaniana, área de estudo e prática que vem se robustecendo há
décadas. O Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Alagoas é um espaço que
proporciona ao discente uma oportunidade ímpar de, ao mesmo tempo, desenvolver habilidades de
escuta clínica – notadamente, no cotidiano dos atendimentos e nas supervisões dos casos clínicos –
e proficiências relacionadas à articulação com a Rede de Atenção Psicossocial, uma vez que
encaminha, recebe encaminhamentos de outras instituições públicas de saúde mental e com estas
se relaciona.

Com o intuito de alinhar teoria e prática, as atividades desenvolvidas no serviço têm


suporte da supervisão, que se orienta por princípios psicanalíticos promovendo discussão teórica a
partir dos estudos lacanianos, bem como uma discussão dos casos clínicos acolhidos e atendidos
no SPA pelos estagiários. Desse modo, a formação teórica do aluno se constrói em paralelo às
atividades realizadas na clínica, com respaldo dos momentos de supervisão que permitem elucidar
questões teóricas, práticas e éticas que surgem no decorrer do estágio, especialmente por se tratar
da primeira experiência prática na área clínica. Os casos clínicos demandam preparação prático-
teórica ao tempo em que colaboram para a formação do aluno no período do estágio.

A partir de uma perspectiva lacaniana, o pressuposto teórico se concentra em um


inconsciente estruturado como uma linguagem. De acordo com Nasio (1993)¹, o inconsciente se
revela em um ato que surpreende e ultrapassa o que o analisante fala - dizendo mais do que
pretendia, trazendo sua verdade. Para que haja o reconhecimento do inconsciente na fala do
analisante, é necessária uma dinâmica diferente de reconhecimento por parte do analista, pois é de
grande relevância para o inconsciente que o analista/estagiário consiga perceber que existe um
inconsciente, que o coloca à prova muitas vezes e precisa ser (re)conhecido.
Nesse sentido, a prática clínica no SPA é pensada, pelo estagiário, enquanto um espaço
onde a escuta clínica possibilita a análise psicanalítica, a qual, segundo Arita (2012)²
parafraseando Délia Elmer, se baseia em ouvir os ditos que não vão sem o dizer. No momento em
que a verdade do paciente é trazida e percebida pelo analista que reconhece o inconsciente através
da escuta analítica. Assim, é de suma importância que haja uma articulação entre a ‘escuta’ e a
‘escuta analítica’ na prática clínica, que se refina nos “ditos que não vão sem o dizer”.1

Consequentemente, a clínica é atravessada por princípios éticos que são inerentes à prática
do estagiário e devem estar delimitadas na clínica, seja pelo Código de Ética Profissional do
Psicólogo, seja pela ética da psicanálise. A primeira, trata de um código de conduta comum a todos
profissionais da psicologia, elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia, enquanto a segunda
trata de permitir ao sujeito o reconhecimento de seu desejo (ANDRADE JÚNIOR, 2007)³, sendo
importante a articulação dos dois. Para a clínica, uma reflexão sobre as posições que são dadas ao
analista e analisante é importante:

Ao propor uma ética da psicanálise, Lacan sustenta esta


prática na escuta do desejo pelo analista. E, ao analisante,
lança-lhe o desafio: “agiste conforme o desejo que te habita”?
(ANDRADE JÚNIOR, 2007, p. 194)

3. Suporte teórico para a solução de problemas


A condução da prática tomou como referencial teórico as produções de psicanalistas
membros da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Internacional de Psicanálise
(AIP). Serviram de base para a realização do estágio, principalmente, os seminários de Lacan,
além de trabalhos de outras áreas de conhecimento, como a filosofia, a antropologia e a linguística.
Duas obras foram tomadas como orientadoras primeiras da prática do estagiário: Lacan
Elucidado: palestras do Brasil, de Jaques-Allain Miller, e Introdução à leitura de Lacan, de Joël
Dor.

4. Conclusão

1 NASIO, Juan-David. Segunda Lição: o inconsciente. In: Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1993.
²ARITA, Anete. O que escuto é por ouvir. Escola Freudiana de Psicanálise, 2012. Disponível em: <
http://www.escolaletrafreudiana.com.br/wp-content/uploads/2012/06/12_oQueEscutoEporOuvir.pdf>
³ ANDRADE JÚNIOR, Moisés. O desejo em questão: ética da psicanálise e desejo do analista. Pshychê, São Paulo, n.
21, 2007.
A formação acadêmica em psicologia na UFAL foi essencial para a condução do estágio no
que se refere à ética profissional e à interdisciplinaridade, indispensável para qualquer serviço em
saúde. As questões específicas da teoria psicanalítica foram sanadas pelas supervisões de área e
pelos estudos pessoais. A supervisão local foi de capital importância para a viabilidade do estágio,
uma vez que deu o suporte necessário no que concerniu também à ética profissional e ao
tratamento das questões burocráticas.
Sem dúvida, o que se destacou na experiência de estágio foi o embate entre os discursos
psicanalítico, universitário e psiquiátrico, acepção de Jaques-Alain Miller (1997), à qual
acrescento o discurso oficial, isto é, aqui, particularmente, o conjunto de crenças que baseia
práticas de grande abrangência. Chamo atenção especialmente para o discurso psiquiátrico, uma
vez que é ele quem condensa os discursos oficial (aquele de quem detém o poder de financiar ou
determinar cortes orçamentários ao Serviço de Psicologia Aplicada, enquanto órgão federal) e o
discurso universitário. Estes dois últimos discursos, no que se refere à conjuntura brasileira,
tendem a uma lógica “producionista”, neologismo ao qual recorro para nomear uma posição
subjetiva que reclama o “retorno” do investimento público, os resultados terapêuticos, os artigos
“científicos” publicados em escala industrial, os prêmios Nobel, para ser exagerado. Mas o
discurso psicanalítico lacaniano tende mais à elaboração e à construção/atribuição de sentido à fala
do analisante - o que faz com que a visão do analista agigante o que para os discursos “oficial”,
universitário e psiquiátrico é microscópico -, ademais, sem muitas ambições terapêuticas.

Aliás, o psicanalista sabe melhor do que ninguém que


a questão aí é ouvir a que “parte” desse discurso é
confiado o termo significativo, e é justamente assim
que ele opera, no melhor dos casos: tomando o relato
de uma história cotidiana por um apólogo que a bom
entendedor dirige suas meias-palavras, uma longa
prosopopéia por uma interjeição direta, ou, ao
contrário, um simples lapso por uma declaração muito
complexa, ou até o suspiro de um silêncio por todo o
desenvolvimento lírico que ele vem suprir. (LACAN,
1998, p. 253).

Nesse sentido, o papel que me propus desempenhar foi o do provocador, aquele que “faz
tempestade com um copo d’água”, pois há tempestade, aquele que “vê chifre em cabeça de
cavalo”, pois há ali chifres, ou sentido no aparente nonsense. Mas, efetivamente, não fui capaz de
“ver” nada, senão ouvir. A escuta minuciosa e tecnicamente “curiosa” possibilitou o desvio de mal-
entendidos.
5. Bibliografia

DUNKER, Christian. Mal-estar, sofrimento e sintonia: uma psicopatologia do Brasil entre muros.
São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.

FREUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relato em autobiografia:


(“O Caso Schreber”): artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das
Letras, 2010.
LACAN, Jaques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

MILLER, Jacques-Alain. Lacan Elucidado: palestras do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

______. O osso de uma análise + O inconsciente e o corpo falante. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

______. Perspectiva dos escritos e outros escritos de Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

QUINET, Antonio. As 4 + 1 condições de análise. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

ZIZEK, Slavoj. Como ler Lacan. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2010.
De acordo com

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