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aprendem?
A psicogênese da língua escrita: o que mudou quando esta
pesquisa foi publicada?
Miruna Kayano Genoino
Como as crianças
aprendem?
A psicogênese da língua escrita: o que mudou quando esta
pesquisa foi publicada?
Miruna Kayano Genoino1
"Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo
conjunto de palavras, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser
interpretado para poder ser avaliado. Essas escritas infantis têm sido consideradas,
displicentemente, como garatujas, "puro jogo", o resultado de fazer "como se" soubesse
escrever. Aprender a lê-las - isto é, a interpretá-las - é um longo aprendizado que requer
uma atitude teórica definida."
(Emilia Ferreiro, 1991, p. 17)
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analisando as escritas infantis e entrevistando as crianças para conhecer o que
pensavam sobre o sistema de escrita, puderam perceber que havia muito mais a ser
conhecido do que, meramente, analisar métodos de ensino padronizados.
A publicação do livro "Psicogênese da língua escrita" (1979), resultado desta
investigação, provocou, então, uma verdadeira revolução no que se pensava e se
conhecia sobre alfabetização até aquele momento, já que trouxe a necessidade de
analisarmos as crianças e seu processo construtivo de escrita, e não os métodos e
as formas uniformizadas de ensinar os sons da língua. Renovadas ao longo dos
anos, as descobertas da psicogênese já foram validadas em crianças de diferentes
línguas além do espanhol, como o italiano, o português e até mesmo o inglês, e hoje
em dia são um aporte fundamental a qualquer professor alfabetizador que busque
uma alfabetização plena - isto é, que vá além da escrita de palavras sem sentido,
em busca de uma escrita e uma leitura real, que possa ser usada dentro e fora da
escola.
Ainda que a contribuição de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre as
hipóteses das crianças em relação à escrita (pré-silábica, silábica, silábico-alfabética
e alfabética) até alcançarem a escrita convencional tenha ganhado maior relevância,
é importante destacar que essas autoras apresentaram outra conclusão muito
importante, que é a necessidade de compreender que no percurso da alfabetização
a criança atravessa três grandes momentos conceituais, ou seja, aprende três
diferentes e importantes conceitos sobre a língua escrita, que serão essenciais para
seu avanço alfabetizador.
Estes momentos conceituais são: a diferenciação que a criança percebe e
compreende que existe entre a escrita e o desenho, o estabelecimento de critérios
de diferenciação entre as escritas (palavras diferentes precisam ser escritas de
jeitos diferentes) e a fonetização da escrita, ou seja, a compreensão da relação
entre a palavra falada e a representação gráfica usada para escrever. Ainda que
estes conceitos possam parecer bastante "óbvios" para quem já é alfabetizado,
representam importantes conquistas cognitivas para o sujeito em processo de
alfabetização, pois permitem que ele/ela compreenda melhor como é o
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funcionamento de um sistema - o de escrita - bastante complexo para quem ainda
não o dominou.
Por meio de situações significativas de leitura e de escrita, e através das
intervenções cuidadosamente planejadas por professores e professoras, as crianças
vão se apropriando destes conceitos, e expressam este saber por meio das
hipóteses de escrita, que são a forma provisória, mas muito importante, pela qual a
criança vai cada vez mais entendendo a organização de nosso sistema de escrita,
aproximando-se, com isso, de forma ativa e consciente, da escrita convencional.
Não uma escrita feita por meio de repetições, e sem decisões próprias, mas sim
uma escrita autoral, com consciência, e que permitirá que esta criança escreva com
propriedade e qualidade tudo aquilo que deseja.
Conhecer a psicogênese da língua escrita é um processo desafiador para o
educador, mas que permitirá realizar uma alfabetização muito diferente daquela
pensada por meio de métodos repetitivos e mecanizados, nos quais todos realizam
o mesmo, ao mesmo tempo. Nas palavras de Emilia Ferreiro (1994, p. 9), é
importante conhecer o que já se sabe hoje em dia sobre o que colocar em prática
para uma alfabetização plena:
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f. quando, por fim, se assume que a diversidade de experiências dos alunos permite
enriquecer a interpretação de um texto e ajuda a distinguir entre “a escrita exata”
e “o sentido pretendido”; quando a diversidade de níveis de conceituação da
escrita permite gerar situações de troca, justificativas e conscientização que não
dificultam, mas facilitam o processo; quando assumimos que as crianças pensam
sobre a escrita (e nem todas pensam a mesma coisa ao mesmo tempo).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1991. (Col.
Polêmicas do nosso tempo).
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