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Entidades de defesa de direitos1
Contribuição da ABONG à discussão do Art.3°da LOAS
Brasília 09/08/2005
Mesmo com o advento do Estado nacional, quando o setor público absorve e passa a regular e
gerir políticas de proteção ao trabalho e outras proteções sociais voltadas a setores sociais
específicos (maternidade, infância, adolescência, idosos, deficientes, etc), o campo assistencial
permaneceu configurado por um hibridismo entre Estado e Sociedade Civil, com hegemonia de
atuação do setor privado, notadamente de caráter confessional.
Essa configuração histórica, foi realimentada pelo recorrente status do social, em geral e da
assistência, em particular, como campos secundários ou residuais da atuação pública. O Estado
abdica, assim, de uma atuação direta, e a transfere, por diferentes mecanismos, às entidades
sociais que atuam no campo do atendimento direto às populações mais fragilizadas.
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Elaborado por Alexandre Ciconello e Ana Maria Quiroga, para discussão na reunião do Fórum Nacional de
Assistência Social, Brasília- agosto/ 2005
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Desde meados dos anos 80, amplia-se a privatização desses dois campos, com a criação e ampliação de sistemas
privados de assistência à saúde, e, a partir dos anos 90, com os sistemas privados (complementares ou não) de
previdências privadas.
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1938- Criação do CNSS (Conselho Nacional de Serviço Social), extinto em 1993- pela LOAS -sendo substituído pelo
atual CNAS
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Durante a retomada do processo de democratização, o país viveu um importante crescimento das
associações civis4 e de surgimento de novos formatos organizativos dos movimentos sociais.
Assim, tanto cresceu enormemente, em todo o pais, o número de associações representativas do
interesses de diferentes setores sociais (moradores urbanos, trabalhadores rurais; movimentos
pela igualdade racial; movimento de mulheres, movimentos anti-discriminação; etc ) como
aumentaram as pressões por maior participação social nos processos deliberativos e de controle
social das políticas públicas do estado democrático.
O processo constituinte de 88, de alguma forma, respondeu a esses dois tipos de demandas,
para inúmeros campos de atuação do social, com ênfase no campo assistencial.
Assim, o texto constitucional , em seu artigo 204, Inciso II, sobre a assistência social , prescreve a
“ participação da população por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis”. Objetiva-se com isso estruturar uma ação
social debatida e negociada, mais próxima do cidadão.
Por outro lado, expandiram-se e diversificaram -se os Conselhos, como instancias idealmente
configuradoras de um novo agir político de partilha de decisões e poderes institucionais. Desta
forma, “os conselhos, além das atribuições estabelecidas ao nível de formulação e
implementação de políticas públicas, são também fóruns públicos de captação de demandas e
pactuação de interesses específicos dos diversos grupos sociais que integram as áreas, além de
forma de ampliar a participação de segmentos com menor acesso ao aparelho de estado”.
( Avritzer,2005:26)
O antigo modelo já atuante na área da Assistência Social, expande-se agora para outras áreas
sociais (saúde, meio ambiente, políticas urbanas, etc) e, nos anos seguintes à Constituição de 88,
leis orgânicas especificas passaram a regulamentar o direito constitucional à participação nos
conselhos deliberativos, de composição paritária, entre representantes do Poder Executivo e
Instituições da Sociedade Civil.
1. A assistência passa a ser concebida como uma política pública de direito do cidadão e
dever/ responsabilidade do estado, superando a histórica condição de filantropia e
beneficência operada pela sociedade civil; (art. 1°);
A regulamentação do Art. 3° da LOAS, que ora se processa, tem uma dimensão de clarear o
campo associativo da assistência social, distinguindo as entidades que mais diretamente lhe
digam respeito, das que apenas tangencialmente o integram. Ao mesmo tempo, essa
regulamentação deve acolher as mudanças operadas no campo associativo brasileiro de forma
a atualizá-lo e sintonizá-lo com os avanços, na perspectiva da incorporação à cidadania de
segmentos sociais antes apenas “objeto” das ações assistenciais.
Neste sentido, deve-se considerar ainda outros importantes fenômenos e processos vivenciados
na sociedade brasileira nos últimos anos:
Aumento geral do associativismo no Brasil que, em pouco mais de 5 anos (entre 1996 e
2002), teve um aumento de 157,0% de fundações privadas e associações sem fins
lucrativos 5
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Fonte: “As Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil”-IBGE/IPEA/ABONG/GIFE - Rio de
Janeiro, 2004. Segundo esse estudo ( pág. 43), as entidades e associações sem fins lucrativos no Brasil passaram de
107.332, em 1996, para 275.895, em 2002.
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Segundo o estudo indicado (IBGE/IPEA/ABONG/GIFE), enquanto a Entidades de Assistência Social tiveram um
significativo aumento de 131,1% nesses 5 anos (1996-2002), as entidades de Desenvolvimento e Defesa de Direitos,
apresentaram o seguinte quadro:
Classes de entidadesAumento 1996/2002Assistência Social131,1Defesa de Direitos Geral302,7Associação de Moradores337,0Centros e
Assoc.Comunitárias334,7Defesa de Direitos de Grupos e minorias203,9Outras formas de Desenv. Defesa de Direitos117,4
Fonte: Op. Cit., pág 44
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O Grupo de Institutos Fundações Empresas (GIFE), entidade representativa do Movimento de Responsabilidade Social
Empresarial, indica que 56% das entidades a ele vinculadas, se constituíram a partir da década de 1990.
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Segundo os dados do CNAS- Coord. de Política- existiam no Brasil: 3912 CMAS, em 1998 e 4245 CMAS em 1999.A
partir de 2000 as estatísticas passam a incluir, ao lado dos Conselhos, a existência de Fundos e Planos Municipais. Tem-
se assim, 4105 municípios, em 2001;4671 em 2002 e 4.838 municípios com CMAS, em dezembro de 2004.
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3. As entidades de defesa de direitos e sua presença no campo da assistência social
Como conjunto integram um movimento maior de entidades ”da sociedade civil voltadas para a
promoção da cidadania, pela luta contra a exclusão e todas formas de desigualdades, pelo
fortalecimento dos movimentos sociais e formação de suas lideranças, além da defesa de direitos
coletivos e o pleno exercício de novos direitos incentivando e subsidiando a participação popular
na formulação e implementação de políticas públicas” (Durão, A especificidade das ONGs, -
ABONG/2001).
Tomando como base sua atuação social em geral e no campo da assistência, em particular,
poder-se-ia definir essas entidades como:
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FASFIL- IBGE/IPEA/IBGE/ABONG ( 2004).As entidades classificadas neste estudo como de Assistência Social, 56%
(18.190 em 32.249 no total) surgiram igualmente pós 1991.
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Essa listagem de ações e perspectivas foi obtida a partir de uma pesquisa entre as entidades/ONGs associadas à
ABONG em agosto de 2005.
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VI. Assessoria política e técnica para movimentos, organizações e grupos populares (de
usuários) para o fortalecimento de seu protagonismo e na capacitação para a
participação nas esferas político- sociais pertinentes;
VII. Assessoria administrativa e de gestão para organizações populares e de usuários;
VIII. Promoção da presença dos usuários nos espaços e processos de participação e de
representação política.
IX. Estímulo a vida associativa, a organização e institucionalização de grupos sociais;
X. Promoção da defesa de direitos já estabelecidos através de distintas formas de ação e
pressão na esfera política e no contexto da sociedade;
XI. Reivindicação da construção de novos direitos fundados em novos conhecimentos e novos
padrões de atuação reconhecidos nacional e internacionalmente;
XII. Desenvolvimento, sistematização e difusão de projetos inovadores de inclusão cidadã que
possam apresentar soluções alternativas a serem incorporadas nas políticas públicas;
XIII. Proposição de alternativas ao modelo de desenvolvimento e à situação de exclusão e
vulnerabilidade a que são submetidos os grupos sociais beneficiários da política de
assistência social;
XIV. Proposição de novas condições de atendimento aos grupos sociais beneficiários da
política;
XV. Elaboração e acompanhamento de proposições legislativas relacionadas a política de
assistência social;
XVI. Monitoramento da elaboração do orçamento e da execução orçamentária da seguridade
social;
XVII. Fortalecimento e participação em redes e fóruns da sociedade civil relacionados à
assistência social e participação em outras articulações, subsidiando diálogos com outros
movimentos sociais, bem como a interlocução desses espaços com o executivo, legislativo e
judiciário;
XVIII. Realização de cursos, encontros, palestras, seminários, oficinas, voltadas para o
avanço da política de assistência social enquanto afiançadora de direitos sociais;
XIX Contribuição para o aprimoramento dos mecanismos de participação popular;
XX. Apoio à formulação de propostas e nos processos organizativos e de luta dos movimentos
sociais;
XXI. Análise crítica da gestão municipal, estadual e federal da política pública assistenciais;
XXII. Estímulo ao desenvolvimento sustentável das comunidades e a geração de renda.
XXIII. Apoio e assessoramento a iniciativas de governos que promovam a democratização da
gestão e de suas políticas;
XXIV. Intervir no debate público e dinamizar processos de formação que se proponham a
ampliar para lideranças sociais e para o conjunto da sociedade a agenda de disputas pela
exigibilidade de direitos.
XXV. Responsabilização do Poder Público no desenvolvimento de políticas de caráter
universal que efetivem direitos previstos na Constituição e na LOAS;
XXVI. Realização de outras ações de interesse público condizentes com a perspectiva de
ampliação de uma sociedade mais democrática, justa e igualitária.
Sem dúvida as entidades de defesa de direitos têm como sujeitos prioritários de seus estudos,
ações e mobilizações políticas, um ou vários setores sociais, neles incluídos, usuários da
assistência. Essa proximidade e maior identificação com determinado (s) público(s) não as torna
entretanto, uma entidade de usuários, no sentido de “falar por” ou “poder representa-los”, nas
esferas político- institucionais. Isto não significa ausência de posicionamento: elas manifestam-se
e atuam, em nome próprio mas em aberta e transparente defesa dos grupos sociais sujeitos
de sua atuação.
Por outro lado, hoje tem-se cada vez mais grupos organizados, institucionalizados ou não, de
usuários e beneficiários da assistência social reunidos em torno de identidades e perspectivas de
lutas comuns.
Desta forma, se nem todas as entidades de defesa de direitos são entidades de usuários, quase
todas as entidades de usuários tem como perspectiva a defesa de direitos, mesmo que essa
dimensão não esteja configurada institucionalmente.
Bibliografia: