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Alfredo Ribeiro Neto, Larissa Ferreira David Romão Batista e Roberto Quental Coutinho
ABSTRATO
Estudos com foco nas vulnerabilidades urbanas devido às cheias dos rios precisam da construção de mapas de risco e definição de áreas potenciais de inundação. O objetivo
deste artigo é descrever o desenvolvimento de uma metodologia para mapeamento de riscos de cheias fluviais e mapear áreas susceptíveis a inundações em escala municipal.
A área de estudo é o município de Ipojuca – Pernambuco com área de 527,11 km2 e população de 80.637 habitantes. A primeira metodologia utiliza a simulação hidrológico-
hidráulica para o baixo curso do rio Ipojuca utilizando os modelos HEC-HMS e HEC-RAS. A vazão calculada no modelo chuva-vazão é utilizada como entrada para o modelo
hidráulico, para simular o perfil da superfície da água no rio. Isso permite calcular a profundidade da água e a velocidade do fluxo, elementos-chave para a definição de indicadores
de perigo. Os resultados do modelo hidráulico foram utilizados para gerar os indicadores de perigo: profundidade da água, velocidade do fluxo, combinação de profundidade e
velocidade, carga de energia, força e intensidade do fluxo (velocidade do fluxo x profundidade da água). A outra metodologia busca identificar áreas com potencial de inundação
considerando todo o território do município. Índice topográfico da região e uma matriz de custo de distância (que utiliza declividade e drenagem) são as variáveis auxiliares para a
determinação deste mapa. Ambas as variáveis usam o modelo de terreno digital. A análise de risco é essencial para o planejamento e intervenção em áreas susceptíveis a
inundações. Ambas as caracterizações de perigo e vulnerabilidade são necessárias para avaliar o risco. Os resultados do estudo em Ipojuca podem ser utilizados para a
caracterização do perigo.
RESUMO
Estudos de vulnerabilidade de cidades à inundações presentes no mapeamento de perigo e das áreas com potencial para inundação. O objetivo do artigo é desenvolver metodologia
para mapeamento de indicadores de perigo e áreas inundáveis na escala de município. A área de estudo é o município de Ipojuca no Estado de Pernambuco com área de 527,11
km² e uma população de 80.637 habitantes. A primeira metodologia consiste na simulação hidrológi ca-hidráulica para o baixo curso do rio Ipojuca com uso dos modelos HEC-
HMS e HEC-RAS. A vazão gerada no modelo hidrológico do tipo chuva-vazão é utilizada como entrada do modelo hidráulico que simula o perfil da linha d'água no rio para a região
de interesse. Com o perfil da linha da água, pode-se determinar a profundidade e a velocidade da água, que são elementos chave para a definição de indicadores de perigo. Com
os resultados do modelo hidráulico, geraram-se seis indicadores de perigo: profundidade da água, velocidade do fluxo, combinação profundidade e velocidade, carga de energia,
força do fluxo e intensidade (velocidade x profundidade). A outra metodologia procura identificar as áreas inundáveis de todo o território do município. Para isso, faça-se uso do
índice topográfico da região e de uma matriz de custo de distância (que utiliza declividade e hidrografia), todos calculados com o modelo digital do terreno.
A análise de risco é essencial para o planejamento e intervenção em áreas sujeitas a inundações. Para se avaliar o risco, é necessária a caracterização do perigo e da
vulnerabilidade. Os resultados do estudo em Ipojuca podem ser utilizados para a caracterização do perigo principalmente.
Ribeiro Neto et al.: Metodologias para geração de mapas indicadores de perigo e áreas propensas a
inundações: município de Ipojuca/PE.
áreas propensas em escala municipal. Essas informações podem ser 1300 mm. O relevo com superfícies retrabalhadas de vales profundos
utilizadas no planejamento da expansão da ocupação do solo em é constituído basicamente por morros na região litorânea (MAS
documentos como cartas geotécnicas e planos diretores de drenagem CARENHAS et al., 2005). A Figura 1 mostra a localização do
urbana, principalmente em municípios pressionados pelo processo município de Ipojuca em Pernambuco e o limite da bacia do rio
de crescimento populacional e urbanização, como é o caso de Ipojuca. Ipojuca cobrindo uma área de 3.435,34 km2 . A Figura 2 destaca a
Este estudo foi desenvolvido por meio de convênio entre o bacia hidrográfica do rio Ipojuca considerada na simulação hidrológica,
Ministério das Cidades e o GEGEP/UFPE no projeto “Elaboração abrangendo uma área de 474,23 km2 .
de cartas geotécnicas de aptidão à urbanização do município de
Ipojuca na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco” (COUTINHO,
2014).
METODOLOGIA
Área de estudo
Modelo Digital de Terreno (DTM) O modelo hidrológico HEC-HMS consiste na discretização e delimitação da
área em sub-bacias, determinando o comprimento do maior curso d'água,
A altimetria da área de estudo é necessária para delimitar as sub- comprimento do rio principal e diferença de cota entre o ponto mais distante
bacias para modelagem hidrológica, caracterizar a geometria do rio Ipojuca do maior curso d'água e a saída do sub -bacia. Essa informação
e gerar um mapa das áreas sujeitas a inundações. Dois tipos de dados de
altimetria foram usados. é usado para calcular o tempo de concentração de cada sub-bacia
A caracterização da geometria do rio Ipojuca foi baseada no DTM, usando a equação de Kirpich (TUCCI, 1998):
produzido com dados do Condepe/Fidem na escala 1/25.000, juntamente (1)
3 0,385
com levantamentos de campo. O DTM resultante tem uma resolução ÿ eu ÿ
t c57 ÿÿ
1
espacial de cinco metros.
H
O outro DTM é resultado do Shuttle Radar ÿÿÿ ÿÿÿ
corrigidos pelo INPE, denominados Topodata, também foram reamostrados L é o comprimento do maior curso d'água em km H é
para resolução de 30 metros, permitindo um melhor aproveitamento das a diferença de nível
0,1124 entre os pontos mais alto e mais baixo
ÿ
1423,97 T
informações (VALERIANO et al., 2009). O Topodata DTM foi utilizado como da bacia em metros i (2) t 21 ÿ Para o processo de
ÿ
ÿ
entrada para a discretização das sub-bacias e cálculo da declividade e delineamentoÿ de
0,7721
bacias hidrográficas, foi utilizado o
índice topográfico. Topodata com um medidor de 30 metros resolução. Nas operações
foi utilizado o pacote de geoprocessamento ArcGIS 10.1 juntamente
com a extensão ArcHydro 2.0 (MAIDMENT, 2002). A Figura 3 mostra
Energy
em sub-bacias
head = yáreas
+ v2/2g (3) aindicadas
área simulada com discretização
simulação hidrológica (cujas estão entre parênteses). Essas simulações
precisam do Indicador de projeto para força de fluxo = y. v2 (4)
O HEC-HMS (Sistema de Modelagem Hidrológica) (FELD precipitação como entrada para o período de retorno selecionado, que, para MAN, 2000)
simula a transformação da precipitação em escoamento superficial neste estudo, foi de 100 anos.
Intensidade
naturais e e =processos
v. y de propagação (5)
controlados (eg rios e canais com estruturas hidráulicas). O modelo HEC-
HMS é composto pelos seguintes componentes: i) cálculo das perdas simulação hidráulica
(interceptação na vegetação e na superfície do solo); ii) separação do fluxo
O modelo hidrodinâmico HEC-RAS (USACE, 2012) ; iii) fluxo de base, e iv) propagação do fluxo do rio. Os parâmetros facilitam a simulação de vazões em
canais naturais (rios) ou ÿ ÿ IT ln artificiais (por exemplo, canais de irrigação). Este software permite relacionados a esses métodos são a área da sub-bacia,
a ÿ
O modelotempo
eu
Preissmann = (Cell-MinValue)/(MaxValue-MinValue)
7
US National Resources Conservation Center, para determinar o hidrograma esquema de diferença finita implícita de quatro pontos (BRUNNER, 2010).
de projeto no trecho em estudo. Na simulação de fluxo permanente, o modelo calcula o perfil da superfície
As atividades de pré-processamento dos dados de entrada para o da água, resolvendo a equação de energia usando a Cellnorm = (MaxValue-
Cell)/(MaxValue-MinValue) 8
Figura 3 – Esquema de vazões de entrada no HEC-RAS: QET é a vazão máxima obtida a partir da análise estatística do Eng.
Tabocas série; QET-EM é a vazão incremental máxima da área entre Eng. Tabocas e Eng. Maranhão obtido da HEC-HMS e
QEM-FOZ é a vazão incremental máxima da área entre Eng. Maranhão e a foz, obtidos com o HEC-HMS
Ribeiro Neto et al.: Metodologias para geração de mapas indicadores de perigo e áreas propensas a inundações:
município de Ipojuca/PE.
Método de Passo Padrão. A simulação neste estudo foi feita em regime Maranhão porque sua série é muito curta para uma análise estatística.
permanente e a condição de contorno a jusante é a opção “Profundidade A Tabela 1 mostra os valores de vazão da Figura 3 referentes à
Normal” calculada pela equação de Manning. recorrência de 100 anos.
Por se tratar de um modelo unidimensional, as variáveis hidráulicas
como profundidade e velocidade da água referem-se a condições
Tabela 1 – Vazões de entrada no modelo HEC-RAS
médias na seção transversal.
Os dados de entrada do modelo HEC-RAS são pré- Fluxo Valor (m3 /s)
processados no pacote ArcGIS 10.1. A extensão HEC-GeoRAS, também
QET 413,73
desenvolvida pelo USACE, permite a representação do canal principal
do rio e das margens do rio, além das seções transversais das quais
QET-EM 873,00
serão retiradas as características geométricas por meio do DTM.
O modelo hidrodinâmico HEC-RAS foi simulado no trecho
QET + QET-EM 1286,73
entre a calha do Engenho Maranhão e a foz do rio (~30 km). A condição
limite a montante deve ser a vazão na estação EngenhoTabocas 340,50
QEM-FOZ
(39360000) mais a contribuição lateral entre Eng. Tabocas e Eng.
Maranhão (ver Figura 3). Além disso, a descarga incremental no trecho
entre Eng. O Maranhão e a foz também tiveram que ser determinados. Após a simulação de fluxo permanente com o modelo HEC-
Em ambos os casos, a descarga incremental foi calculada com o modelo RAS, mapas de área inundada foram preparados para o período de
HEC-HMS. retorno de 100 anos. Para avaliar se os mapas produzidos são
consistentes com eventos passados, foi feito um levantamento de
A série de dados de vazões do medidor de vazão do Engenho campo para identificar diferentes pontos referentes aos limites da área
Tabocass foi utilizada para definir a vazão máxima anual neste trecho afetada pela enchente de junho de 2010. Foram levantados dezoito
para diferentes períodos de retorno. Foi utilizada a série, disponível no pontos ao longo do rio Ipojuca, com maior destaque para a região do
banco de dados da Agência Nacional de Águas, de janeiro de 1967 a município de Ipojuca. Os pontos foram identificados com a ajuda dos
dezembro de 2006. A série fornece 38 valores anuais de vazão máxima moradores dos locais atingidos.
diária. A função de distribuição de Gumbel foi adequada para calcular a Utilizando a série temporal da vazão do córrego Engenho
vazão correspondente ao período de retorno de 100 anos. Isso não foi Tabocas , confirmamos que a enchente de junho de 2010 teve um
feito para o Engenho período de retorno de aproximadamente 150 anos, com vazão registrada de 441
Figura 4 – Pontos identificados como limite da área alagada no evento junho de 2010 (em verde) e mapa produzido no ArcGIS
correspondente a Tr = 100 anos
ce, para possibilitar a determinação não só da área e perímetro úmido, mas O próximo passo foi combinar os mapas de uso da terra e grupos de
também do desnível longitudinal do leito do rio. Por este motivo, foi realizado um solos para definir o valor do parâmetro CN. Os EUA
levantamento altimétrico para determinar o nível de referência da estação O Boletim Técnico 55 do Departamento de Agricultura (USDA, 1986) apresenta
hidrográfica do Engenho Maranhão (mostrado na Figura 3). Pode-se determinar tabelas que relacionam os valores de CN com as classes resultantes da
a elevação do nível zero no córrego e, conseqüentemente, a elevação da seção combinação dos mapas de uso da terra e grupos de solos.
transversal em relação ao nível do mar. Nas áreas de água e mangue, o valor de CN é 100, assumindo que
nestas classes toda chuva causa escoamento superficial. A área das classes é
Além da estação Engenho Maranhão, foi necessário levantar outras utilizada como fator de ponderação para chegar ao CN final em cada sub-bacia
duas seções transversais para melhor representação da geometria e da (os valores variam entre 58,5 e 68,5).
declividade do fundo do rio, conforme mostra a Figura 2.
TI ln ÿ ÿ
ÿ
6
ÿ
descrito por Porto Alegretg(2005). ÿOÿ ÿ chamado método de blocos alternados
Intensidade = v.y (5)
eu
Ribeiro Neto et al.: Metodologias para geração de mapas indicadores de perigo e áreas propensas a inundações:
município de Ipojuca/PE.
A Tabela 2 mostra qual indicador tem maior influência sobre os 0,6 e 1,2 metros e 0,6 e 1,2 m/s. Os dois mapas foram reclassificados
danos causados aos diferentes tipos de uso da terra (KREIBICH et al., 2009). atribuindo um valor de 1, 2 e 3 para profundidades de 0-0,6 m, 0,6-1,2 m e
acima de 1,2 m, respectivamente, e para velocidades de fluxo de 0-0,6 m/s,
Segundo Wright (2008), inundações com profundidade de água 0,6-1,2 m/ s e acima de 1,2 m/s, respectivamente. Para a profundidade da
superior a 0,60 metros ou velocidade de fluxo superior a 1,2 m/s resultam em água, o valor (0,60 m) e o dobro desse valor foram adotados como limiares
perigo definitivo para as pessoas. Esses valores foram usados para o rio para definição das classes. No caso da velocidade do fluxo, optou-se por
Ipo juca como base para definir três níveis de severidade da enchente usar o limite (1,2 m/s) e
relacionados à profundidade da água e à velocidade do fluxo. A Figura 5 sua metade. Esses limiares constituem uma classe com um equilíbrio bem
mostra os histogramas com valores simulados para profundidade da água e distribuição de frequência, conforme mostrado na Figura 5.
velocidade de fluxo na área de estudo, juntamente com os valores dos limiares: Um procedimento semelhante foi adotado para definir o limiar
Tabela 2 – Influência dos diferentes indicadores de perigo sobre os danos causados pelas inundações (adaptado de Kreibich et al, 2009)
Tipos de danos
Pa de impacto Danos estruturais
Danos estruturais Perdas monetárias em Perdas monetárias para Interrupção e duração
rametros
de edifícios
em estradas edifícios residenciais infraestrutura rodoviária do negócio
residenciais
ds dos demais indicadores da Figura 5. Segundo Kreibich et al. (2009), os matriz pode ser obtida em ESRI (2016).
valores que representam um aumento significativo dos danos na região Os mapas usados para identificar áreas propensas a inundações
atingida pela enchente são de dois metros para a queda de energia (Eq. 3), têm diferentes faixas de variação nos valores. Para superar essa característica
2 m3 /s2 para a força de fluxo (Eq. 4) e 1,5 m2 /s para a intensidade (Eq. 5). e permitir a combinação posterior desses mapas, eles foram normalizados
A Tabela 3 apresenta os limiares utilizados para definir as classes de para que a escala final indique que quanto mais próximo o pixel estiver de 1,
periculosidade baixa, média e alta para os indicadores adotados. mais suscetível a área é alagável, e quanto mais próximo de 0, menos
suscetível.
A equação 7 é utilizada para normalizar os valores do índice
Tabela 3 – Limiares de indicadores para construir um mapa de perigo topográfico (o aumento do valor da variável original indica maior
suscetibilidade a inundações).
Indicador Baixo Médio Alto
Profundidade da água (m) 0-0,60 0,60-1,20 > 1,20 Cellnorm = (Cell-MinValue)/(MaxValue-MinValue) (7)
Velocidade de fluxo (m/s) 0-0,60 0,60-1,20 > 1,20
Cabeça de energia (m) 0-1,0 1,0-2,0 > 2,0 A equação 8 é utilizada para normalizar os valores da matriz de
0-1,0 1,0-2,0 > 2,0 custos de distância (o aumento do valor da variável original indica menor
Força de fluxo (m3 /s2 )
suscetibilidade).
Intensidade (m2 /s) 0-0,36 0,36-1,50 > 1,50
0,385
ÿ eu3 ÿÿ Cellnorm = (Max Value-Cell)/(Max Value-MinValue) (8)
t c57
Definição das áreas propensas a
ÿÿ 1
H inundações ÿ ÿÿÿ
ÿ
onde
A segunda metodologia adotada fornece uma visão geral do Cellnorm é o valor normalizado
município de Ipojuca no que diz respeito à sua suscetibilidade a inundações. Cell é o valor original do pixel
Indicadores físicos são usados para ajudar a explicar em termos numéricos Max Valueé o pixel com valor mais alto
a extensão desse grau de suscetibilidade. Estudos realizados em outros Min Valueé o pixel com menor valor
países foram tomados como referência, 1423,97
0,1124 T
ÿ
com indicadores como uso do solo, tipo de solo, cobertura do solo, (2)
eu ÿ Pesos iguais foram usados para combinar os dois
t 21 ÿ
declividade, ÿ 0,7721 proximidade
ÿ de cursos d'água, acúmulo de vazão e mapas.
elevação do solo (PRADHAN, 2009; SANTANGELO et al., 2011; MORAES
et al., 2014).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na aplicação ao município de Ipojuca, as áreas propensas
a inundações
definidas
topográfico
queda com foram
de energiaa =índice
Indicador y de
+ v2/2g
força com
de fluxo
dois=mapas:
y. v2 (3)
mapa de perigo
(4)
matriz de custos de distância. Seis indicadores de perigo foram usados: profundidade da água,
velocidade do fluxo, combinação de profundidade e velocidade, cabeça de energia,
Intensidade = v. y (5)
O índice topográfico do Topmodel hidrológico (BEVEN et al., força e intensidade do fluxo. A Figura 6 mostra um mapa com o indicador de
2012) representa o potencial de saturação de um ponto da bacia. Esta é profundidade da água.
uma função do acúmulo de fluxo O indicador definido pela combinação da profundidade da água e
e inclinação no ponto. velocidade do fluxo é um raster com pixels que variam de 1 a 9. Uma nova
ÿÿ
um eu
ÿ reclassificação foi feita para ter um mapa com valores 1, 2 e 3. O valor é
TI lnÿ ÿ ÿ
ÿ
(6) 6 obtido fazendo a aritmética média das classes de profundidade e velocidade.
tg eu
ÿÿÿ
Quando o resultado é fracionado (por exemplo, (3 + 2 ÷ 2 = 2,5), adota-se o
valor imediatamente acima (neste exemplo, o valor resultante seria 3). A
onde Tabela 4 mostra como é definido o resultado da combinação para gerar o
7
Cellnorm = (Cell-MinValue)/(MaxValue-MinValue) IT é o mapa de indicadores de perigo como pode ser visto na Figura 7.
índice topográfico; ai é a área de drenagem acumulada a ,
montante em m2 tgbi é o gradiente topográfico dado pela Tabela 4 - Combinação de mapas de profundidade de água e velocidade de fluxo
inclinação de Cellnorm = (MaxValue-Cell)/(MaxValue- 8
MinValue)
graus. o terreno em
O segundo mapa utilizado - a matriz de custo de distância - dá a Profundidade Velocidade Combinação de Perigo 1
cada pixel um valor de custo de deslocamento para a hidrografia e o pondera 1 1 Baixo
2 1 2 Médio
com o valor do relevo do terreno. O custo tem relação direta com o desnível
3 1 2 Médio
do terreno e com a distância até o rio ou canal. O custo pode representar a
1 2 2 Médio
suscetibilidade a inundações, pois quanto menor o custo, mais fácil de
2 2 2 Médio
acumular água. O resultado da operação será uma matriz em que cada
3 2 3 Alto
célula contém o valor do menor custo de distância entre o ponto e o curso
1 3 2 Médio
d'água. Esta operação foi feita no pacote ArcGIS 10.1. Detalhes sobre o
2 3 3 Alto
cálculo do custo da distância 3 3 3 Alto
Ribeiro Neto et al.: Metodologias para geração de mapas indicadores de perigo e áreas propensas a
inundações: município de Ipojuca/PE.
Figura 6 – Mapa de indicadores de perigo por inundação para o período de retorno de 100 anos: profundidade da água nos níveis baixo (0-0,60 m), médio (0,60-1,2
m) e alto (> 1,2 m)
Figura 7 – Mapa de indicadores de perigo por inundação para o período de retorno de 100 anos: combinação de profundidade e velocidade de fluxo
Figura 8 - Mapa de indicadores de perigos decorrentes de inundações para o período de retorno de 100 anos: Intensidade do indicador
Para os últimos três indicadores, a álgebra de mapas foi usada Equação 7, onde o aumento do valor da variável original indica um aumento
para chegar ao resultado desejado. Assim como nos primeiros indicadores do nível de propensão a inundações (Figura 9).
de perigo, três classes foram definidas de acordo com o valor do indicador Para a matriz de custos de distância, o método utilizou como
conforme mostrado na Tabela 3. O mapa resultante do indicador variáveis a declividade do terreno e a proximidade de cursos d'água. O
“intensidade” (Eq. 5) é fornecido na Figura 8. custo da distância foi normalizado pela aplicação da Equação 8, onde a
diminuição do valor da variável original indica maior nível de propensão a
Definição de áreas propensas a inundações inundações (Figura 10).
Por fim, o mapa das áreas propensas a inundações foi obtido
O índice topográfico foi normalizado de acordo com adotando-se uma média ponderada dos valores normalizados do índice
topográfico e da matriz de custo de distância. Ambos os valores tiveram
peso igual a 0,5. Os valores resultantes foram agrupados em três classes
propensas a inundações com igual intervalo de variação: baixo, médio e
alto. A Figura 11 ilustra o mapa com o método adotado onde as classes
baixa e média são combinadas
(branco) para diferenciar da classe altamente propensa a inundações (verde).
Figura 9 – Índice topográfico normalizado A área correspondente à classe de risco alto é muito semelhante
nos diferentes mapas produzidos com os indicadores. No entanto, uma
diferença significativa é encontrada entre
as classes de risco médio e baixo. Isso se deve à escolha
do limite inferior que define a separação dessas duas classes. Os testes
podem ser realizados com outros valores limite para profundidade da água
e velocidade do fluxo.
Uma similaridade razoável também é encontrada entre quatro
mapas de indicadores de perigo: profundidade da água, velocidade do
fluxo, profundidade-velocidade combinada e intensidade. A escolha de um
ou outro indicador pode seguir as orientações fornecidas por Kreibich et al.
(2009), que relacionam tipos de danos (prédios e estruturas rodoviárias,
danos financeiros, interrupção de negócios e assim por diante) aos
indicadores de perigo. Nesta análise do município de Ipojuca, o indicador
de lâmina d'água é uma boa escolha, pois o uso do solo é predominantemente
residencial, associado a uma infraestrutura viária.
A profundidade da água também foi o indicador adotado por Monteiro e
Kobiyama (2013) quando áreas de risco de inundação no município de
Ilhota (SC) e por Masood e Takeuchi (2012) e Gain et al. (2015) para
determinar índices de risco em Dhaka, capital de Bangladesh.
Ribeiro Neto et al.: Metodologias para geração de mapas indicadores de perigo e áreas propensas a inundações: município de
Ipojuca/PE.
Figura 11 – Mapa resultante da aplicação do método de identificação de áreas propensas a inundações no município de Ipojuca
Área inundada do rio Ipojuca para um período de retorno de 100 anos (Tr = 100 planejar a expansão da ocupação do solo, visando reduzir danos e prejuízos para
anos) obtida a partir do modelo HEC-RAS. Nota-se uma razoável proximidade a população e poder público em decorrência de desastres naturais (COUTINHO,
entre o resultado do modelo hidráulico e a área propensa a inundações. Assim 2014). Nos casos em que as áreas já estão ocupadas, por exemplo, em parte do
como outras abordagens, a metodologia aplicada a Ipojuca se mostrou eficaz na centro do município de Ipojuca, o resultado pode ser útil para definir as medidas
identificação de áreas propensas a inundações usando o DTM como informação necessárias para enfrentar eventos potencialmente danosos.
básica. Moraes e cols. (2014) testaram técnicas de cálculo para acumulação de
fluxo e associaram isso ao potencial de inundação do terreno. O modelo HAND, No Brasil, poucos estudos envolvem mapeamento para avaliar danos
desenvolvido por Nobre et al. (2011) para definir classes relacionadas ao nível potenciais causados por enchentes. Os detalhes espaciais dos indicadores de
freático, tem sido utilizado para identificar áreas susceptíveis a inundações perigo são uma ferramenta valiosa para a gestão do risco de inundação, uma vez
(NOBRE et al., 2016; SCHLAFFER et al., 2012; SILVA et al., 2013). que o mapa fornece uma avaliação mais direta e rápida do que outros métodos.
No estudo, chamou a atenção a vazão de pico simulada na área de
estudo quando comparada com a vazão gerada no alto e médio rio Ipojuca. Para
reduzir as incertezas,
precisaríamos fazer uma avaliação mais detalhada do
CONCLUSÕES regime de chuvas intensas nos cursos superior, médio e inferior do rio Ipojuca
para verificar a influência do clima nas magnitudes dos eventos pluviométricos.
A análise de risco é essencial para o planejamento e intervenção em Além disso, a adequação dos métodos usados no modelo HEC-HMS precisa ser
áreas propensas a inundações. Conforme enfatizado anteriormente, para avaliada
avaliação de risco é necessário caracterizar tanto o perigo quanto a no que diz respeito à sua aplicação em bacias hidrográficas próximas que possuam
vulnerabilidade. Os resultados do estudo de Ipojuca podem ser usados séries de vazões para comparação.
principalmente para caracterizar o perigo. Isso poderia auxiliar, por exemplo, na No entanto, a comparação entre a área inundada e um levantamento
elaboração de cartas geotécnicas para identificar as áreas mais propícias à de campo mostrou um desempenho adequado de ambos os modelos usados para
ocupação no município. As cartas geotécnicas são essenciais para representar os processos hidrológicos e hidráulicos.
Vale ressaltar que as metodologias desenvolvidas e aplicadas COUTINHO, RQ (Coord.). Elaboração de cartas geotécnicas de oferta à
no município de Ipojuca podem ser reproduzidas em outros municípios urbanização no município do Ipojuca, localizado na Região Metropolitana
do Brasil. A metodologia de mapeamento de áreas propensas a do Recife, Estado de Pernambuco. Ministério das Cidades Projeto
inundações pode ser particularmente útil para regiões com falta de GEGEP/UFPE, Relatório Técnico Final, 2014.
dados hidrográficos (nível d'água, vazão, batimetria), onde o uso de
modelagem hidrodinâmica é difícil. Em geral, o fator mais limitante que ESRI.ArcGIS Help Library.2016. Disponível em: <http://
pode ser considerado para a adoção dos métodos atualmente é a resources. arcgis.com/en/help/main/10.1/index.html#/
disponibilidade de um levantamento altimétrico para caracterização do How_the_cost_ distance_tools_work/009z00000025000000/>. Acessado
relevo em rios impactados por eventos de inundação. fevereiro de 2016.
RECONHECIMENTOS GAIN, AK; MOJTAHED, V.; BISCARO, C.; BALBI, S.; GIUPPONI, C.
Uma abordagem integrada de avaliação de risco de inundação na parte
Este estudo foi financiado pelo Ministério das Cidades no oriental da cidade de Dhaka. Riscos Naturais, v. 79, n. 3, pág. 1499-1530,
âmbito do convênio firmado com a Universidade Federal de Pernambuco 2015.
através do Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e
Desastres (GEGEP), processo 23076.044645/2012-18, projeto GOERL, RF; KOBIYAMA, M.; PELLEIN, JRGM Proposta metodológica
“Elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à urbanização do para mapeamento de áreas de risco a inundação: Estudo de caso do
município de Ipojuca na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco”. município de Rio Negrinho – SC. Boletim de Geografia, v. 30, n. 1, pág.
81-100, 2012.
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Prefeitura de Ipojuca pelo IBGE. Censo Demográfico 2010 – CIDADES. Disponível em: http://
apoio prestado no trabalho de campo e à equipe do GEGEP, que www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php . Acesso: 05 de novembro de 2015.
contribuiu com este estudo.
KREIBICH, H.; PIROTH, K.; SEIFERT, I.; MAIWALD, H.; KUNERT, U.;
SCHWARZ, J.; MERZ, B.; THIEKEN, A.
REFERÊNCIAS H. A velocidade do fluxo é um parâmetro significativo na modelagem de danos
causados por enchentes? Riscos Naturais e Sistema Terrestre. Ciências, v. 9, p.
Vulnerabilidade ADGER, WN. Mudança Ambiental Global, v.16, n. 3, 1679-1692., out. 2009.
pág. 268-281, 2006.
LAVELL, A.; OPPENHEIMER, M.; DIOP, C.; HESS, J.; LEMPERT, R.;
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