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RESUMO - Em função do crescente número de áreas contaminadas, que comprometem a qualidade dos aquíferos e constituem riscos
à saúde humana, torna-se imprescindível o estabelecimento de instrumentos para o planejamento e gestão do uso do solo, visando à
proteção das águas subterrâneas contra a poluição. Por esse motivo, o objetivo deste trabalho foi desenvolver e aplicar,
experimentalmente, uma proposta metodológica para estimar o perigo de contaminação das águas subterrâneas. Portanto, foram
selecionados, ponderados e integrados os fatores vulnerabilidade natural à contaminação e o uso e cobertura do solo, com suporte da
Avaliação Multicritério (AMC) e técnicas de geoprocessamento operadas em ambiente SIG. A área teste escolhida para aplicar este
novo modelo foi o aquífero Rio Claro, situado no município de Rio Claro/SP. Como resultado, 72% da área de estudo foi classificada
com alto perigo de contaminação, onde predominam atividades com potencial de contaminação significativo, como a área urbano-
industrial e cultivos de cana-de-açúcar e de cítricos, que juntos representam 65% da superfície total. Devido à robustez do produto
gerado, simplicidade conceitual e à praticidade na utilização, o sistema de avaliação proposto poderá desempenhar um papel importante
na definição de áreas prioritárias para a proteção das águas subterrâneas.
Palavras-chave: Aquífero Rio Claro. Perigo. Suporte à decisão. AHP. Geoprocessamento.
ABSTRACT - Due to increase in the number of contaminated areas, which compromise the groundwater quality and constitute risks
to human health, it is essential to establish instruments for land use planning and management, aiming at the groundwater protection
against pollution. For this reason, the aim of this work was to develop and apply, experimentally, a methodological proposal to assess
the contamination hazard of groundwater. Therefore, natural vulnerability to contamination and land use and cover factors were
selected, weighted and integrated, with support of Multicriteria Evaluation (MCE) and geoprocessing techniques operated in GIS
environment. Located in the Rio Claro municipality, São Paulo State, Brazil, the Rio Claro aquifer was chosen to apply this new
evaluation model. As result, 72% of the study area was classified as high contamination hazard, where activities with significant
contamination potential predominate, such as industrial urban areas and sugar cane and citrus crops, which together represent 65% of
total surface. Due to robust result, conceptual simplicity and practical use, the proposed evaluation system may perform an important
role in defining priority areas for groundwater protection.
Keywords: Rio Claro Aquifer. Hazard. Decision Support. AHP. Geoprocessing.
INTRODUÇÃO
Em função do crescente número de áreas minação das águas subterrâneas devem ser
contaminadas, que comprometem a qualidade conduzidos, na medida em que permitem estimar
das águas subterrâneas e constituem riscos à áreas mais sensíveis à poluição, além de
saúde humana, torna-se imprescindível o viabilizarem a identificação e a sistematização de
estabelecimento de instrumentos para o fontes com maior potencial de contaminação.
planejamento e gestão do uso do solo, visando à Desse modo, é possível planejar melhor a
proteção dos aquíferos contra a poluição. instalação e a operação de empreendimentos poten-
Portanto, trabalhos com enfoque na estimativa cialmente nocivos aos aquíferos, destacando
da vulnerabilidade natural e perigo de conta- regiões prioritárias para o delineamento e
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implementação de um conjunto de medidas trabalho e às situações que o modelo de avaliação
protetivas para as águas subterrâneas (Braga et adotado se propõe a compreender.
al., 2018). Contudo, ainda não há um consenso sobre a
Conceitualmente, o termo “vulnerabilidade importância relativa entre os fatores vulnera-
natural” é definido como sendo a suscetibilidade bilidade natural e fontes de contaminação, cuja
de um aquífero ser afetado por uma carga interação varia em função das características
contaminante aplicada na superfície do terreno, geológicas e hidrogeológicas da área, inclusive
sendo determinada pelas características intrín- das propriedades físico-químicas do contami-
secas dos estratos acima da zona saturada (Foster nante ou grupo de contaminantes. Ademais, a
& Hirata, 1988). Atualmente, o termo “perigo de definição das classes de perigo deriva sempre do
contaminação” tem o mesmo significado de julgamento subjetivo e empírico de especialistas,
“risco de contaminação”, que expressa o podendo ocasionar certo grau de imprecisão,
resultado da interação entre a carga poluente interpretações distorcidas da realidade e falhas na
antrópica e a vulnerabilidade natural à contami- apropriação dos resultados.
nação do aquífero (Foster et al., 2006). Nesse sentido, a estruturação da estimativa do
Devido à relevância do tema, nos últimos anos perigo no contexto da Avaliação Multicritério
diversas pesquisas têm sido desenvolvidas para (AMC) pode tornar o processo decisório menos
avaliar o perigo de contaminação das águas subjetivo e mais preciso, conduzindo a um
subterrâneas, podendo ser citados os trabalhos de método de estimativa com maior robustez, a fim
Foster et al. (2006), Albuquerque Filho et al. de obter resultados mais consistentes.
(2011), Iritani et al. (2013), Meira et al. (2014), Perante o exposto, o objetivo deste trabalho
Kazakis & Voudouris (2015), Entezari et al. foi desenvolver e aplicar, experimentalmente,
(2016), Sullivan & Gao (2017), Jenifer & Jha uma proposta metodológica para estimar o perigo
(2018), Kumar & Krishna (2019) e Çil et al. (2020). de contaminação das águas subterrâneas.
Grande parte destas pesquisas concentraram Portanto, foram selecionados, ponderados e
seus esforços na proposição de esquemas de integrados os fatores vulnerabilidade natural à
classificação do potencial de contaminação de contaminação e o uso e cobertura do solo, com
fontes pontuais e difusas, estabelecendo suporte da Avaliação Multicritério (AMC) e
conceitos e pressuposições básicas que devem técnicas de geoprocessamento operadas em
ser adaptadas à área sob análise, aos objetivos do ambiente SIG.
ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo representa um fragmento da conglomerados e de sedimentos argilosos. A
Formação Rio Claro, com superfície total de espessura máxima é da ordem de 40 metros,
aproximadamente 95 km². Localiza-se no predominando valores entre 25 metros e 30 metros
município de Rio Claro, no centro-leste do (Zaine, 1994).
Estado de São Paulo, entre as coordenadas UTM No que se refere às relações de contato, a
232692 – 243646 W e 7512521 – 7535805 S Formação Rio Claro assenta-se em discordância
(Figura 1). sobre os argilitos e siltitos da Formação Corum-
Quanto ao contexto geológico (Figura 2), a bataí, no município de Rio Claro/SP (Melo,
área de estudo situa-se na porção nordeste da 1995).
Bacia Sedimentar do Paraná, onde ocorrem rochas O Aquífero Rio Claro é uma unidade hidro-
sedimentares e vulcânicas das eras: Paleozoica geológica constituída por sedimentos pouco com-
(Subgrupo Itararé, formações Tatuí, Irati e solidados da Formação Rio Claro, apresentando
Corumbataí), Mesozoica (Formação Pirambóia e extensão local, superfície descontínua e livre, cuja
Intrusivas Básicas) e Cenozoica (Formação Rio recarga ocorre por toda a sua extensão, diretamente
Claro e Coberturas Indiferenciadas) (IG, 1986). através da infiltração das precipitações. A rede
A Formação Rio Claro apresenta como hidrográfica local atua como zonas de descarga do
características marcantes: fraca litificação e aquífero Rio Claro, as quais, geralmente, situam-se
profunda alteração pedogenética, espesso solo próximas ao contato do aquífero com o aquitardo
arenoso e domínio de litotipos arenosos, esbran- subjacente, constituído pela Formação Corumbataí
quiçados, amarelados a avermelhados, variando de (DAEE, 1981; Oliva, 2006).
areia fina a grossa, com intercalação de camadas de Chang et al. (2005) determinaram valores de
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condutividade hidráulica para a zona saturada Para o aquífero Rio Claro, a razão anual entre a
situados entre 10-2 cm/s e 10-4 cm/s, atribuindo à recarga e a precipitação foi estimada em 13%
Formação Rio Claro excelente permo-porosidade. (Chang & Nogueira, 2015).
ÁREAS AGROSSILVOPASTORIS
Uso e Cobertura Índice Justificativas
Culturas Temporárias (Arroz, Além de comprometer a qualidade da recarga (aplicação de agrotóxicos), os cultivos
Feijão, Soja, Trigo, Alho, Batata, 0,85 irrigados elevam as taxas totais de infiltração (recarga artificial), disponibilizando
Cebola, entre outras) constantemente mais água para o transporte de poluentes para o aquífero.
Em extensas áreas de monocultura, há intensa utilização de agroquímicos e a lixiviação
Culturas Semiperenes
(Cana-de-Açúcar)
0,75 destas substâncias para o aquífero pode ser alta, caso a cultura seja desenvolvida em
locais de clima úmido, com solos delgados e bem drenados.
Nos cultivos perenes, menores quantidades de nutrientes e agrotóxicos contidos no solo
Culturas Perenes (Cítricos, Café,
são transferidas aos aquíferos por lixiviação, quando comparados à agricultura sazonal,
Seringueira, Cacau, Uva, Algodão, 0,60 pois há menos perturbação e aeração do solo e a plantação possui necessidades mais
etc.)
contínuas de nutrientes.
Em linhas gerais, áreas de reflorestamentos e sistemas agroflorestais podem utilizar
Silvicultura (Reflorestamentos e
Cultivos Agroflorestais)
0,50 quantidades menores de agrotóxicos, quando comparados aos cultivos tradicionais e,
por isso, geram carga contaminante reduzida.
O armazenamento e consumo de fertilizantes para o plantio de pastagens também podem levar
Pastagens 0,40 à contaminação das águas subterrâneas, especialmente onde tais compostos forem armazenados
de forma inadequada e aplicados em demasia.
Figura 3 - Proposta de classificação do uso e cobertura do solo em função do potencial de contaminação Fonte: Adaptado
de Foster et al. (2006), Gomes (2008), Ribeiro et al. (2001), Albuquerque Filho et al. (2011), Iritani et al. (2013) e COST
620 (2003).
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ESPAÇOS ABERTOS COM POUCA OU NENHUMA COBERTURA VEGETAL
Uso e Cobertura Índice Justificativas
Solo Exposto para o Plantio Ainda que diminuta, uma parcela dos agroquímicos aplicados em cultivos anteriores
0,50
Agrícola fica retida no solo, podendo ser carreada para as águas subterrâneas pelas chuvas.
SUPERFÍCIES NATURAIS
Uso e Cobertura Índice Justificativas
Florestas, Matas Ciliares, Campos Em superfícies naturais, não são desenvolvidas atividades com potencial para
0,00
Naturais e Áreas Úmidas contaminar os aquíferos.
CORPOS DE ÁGUA
Uso e Cobertura Índice Justificativas
Cursos D'água, Lagos, Lagoas e Assume-se que, em massas d'água e/ou cursos d'água não poluídos, é impossível
0,00
Represas ocorrer atividades potencialmente poluidoras.
Figura 3 (Continuação) - Proposta de classificação do uso e cobertura do solo em função do potencial de contaminação
Fonte: Adaptado de Foster et al. (2006), Gomes (2008), Ribeiro et al. (2001), Albuquerque Filho et al. (2011), Iritani et
al. (2013) e COST 620 (2003).
Figura 4 - Mapa de uso e cobertura do solo da área de estudo (Fonte: Adaptado de SMA & IG, 2016).
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Tabela 1 - Escala fundamental de Saaty.
Expressão Importância
Justificativa
Numérica Comparativa
1 Igualmente Os dois critérios contribuem igualmente para o objetivo.
26
Classes de Uso do Solo - Nível II
Cultura Temporária
24 Cursos D'Água, Lagos, Lagoas e Represas
Área Úmida
22 Extração Mineral
Reflorestamento
20
Loteamento
18 Campo Natural
Espaço Verde Urbano
Frequência (%)
16 Solo Exposto
Mata
14 Grande Equipamento
Pastagem
12
Cultura Semiperene
10 Cultura Perene
Área Edificada
8
Figura 8 - Frequência relativa das classes de uso e cobertura do solo – nível II de abstração.
Figura 9 - Frequência relativa das classes de perigo de contaminação do aquífero Rio Claro.
Tabela 3 - Tabulação cruzada entre as classes de perigo de contaminação e de uso e cobertura do solo (nível III de abstração).
Perigo de Classe de Uso e Frequência
Contaminação Cobertura do Solo Relativa (%)
Cítricos 24,55
Cana-de-Açúcar 18,74
Edificações Horizontais,
Densidade de Ocupação Alta, 15,84
Alto Estágio de Ocupação Consolidado e Ordenamento Urbano Muito Alto
Edificações Horizontais,
Densidade de Ocupação Alta, 9,40
Estágio de Ocupação Consolidado e Ordenamento Urbano Alto
Indústria 8,60
Pasto Limpo 53,24
Moderado
Solo Exposto para Plantio Agrícola 21,53
Mata 83,79
Nulo/Baixo Campo Natural 9,09
Área Úmida 4,75
Cítricos
Cana-de-
Açúcar
Alto
Edificações
Horizontais,
Densidade de
Ocupação Alta,
Estágio de
Ocupação
Consolidado e
Ordenamento
Urbano Alto
Edificações
Horizontais,
Densidade de
Ocupação Alta,
Estágio de
Ocupação
Consolidado e
Ordenamento
Urbano Muito
Alto
Figura 10 - Exemplos da distribuição do perigo entre as classes de uso e cobertura do solo, nível III de abstração.
Indústria
Alto
Cemitérios
Cemitério
São João
Batista
Mineração
Pasto Limpo
Moderado
Solo Exposto
Para Plantio
Agrícola
Figura 10 – (Continuação) - Exemplos da distribuição do perigo entre as classes de uso e cobertura do solo, nível III de
abstração.
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Uso e
Perigo de Ortofoto
Cobertura Exemplo
Contaminação IGC (2010)
do Solo
Mata
Campo
Nulo/Baixo Natural
Área Úmida
Figura 10 – (Continuação) - Exemplos da distribuição do perigo entre as classes de uso e cobertura do solo, nível III de
abstração.
Com base na análise da distribuição do perigo avaliados e monitorados, devido à intensa
de contaminação entre as classes de uso e utilização de defensivos agrícolas e de
cobertura do solo (Tabela 3), as áreas com alto fertilizantes nitrogenados em áreas naturalmente
perigo concentram-se principalmente em locais muito vulneráveis à contaminação.
de cultivo de cítricos e de cana-de-açúcar, Nesse sentido, é crescente a preocupação com
representando 43% do total.Nos últimos anos, a fertirrigação dos canaviais por vinhaça, que é
houve uma grande expansão do setor um efluente da fabricação do etanol, a partir da
sucroalcooleiro na região centro-sul do Brasil, destilação fracionada do caldo fermentado da
em detrimento de outras culturas como laranja e cana-de-açúcar. Caso seja aplicada corretamente,
café (IBGE, 2015). No município de Rio a vinhaça proporciona várias melhorias nas
Claro/SP, os canaviais ocupam cerca de 30% da condições do solo, tais como: o aumento da
superfície total (INPE, 2019). Deste percentual, fertilidade (contém significativas concentrações
metade está inserida na área de estudo (SMA & de nitrogênio, fósforo e potássio), do teor de
IG, 2016). Segundo o zoneamento agroambiental matéria orgânica e da disponibilidade de água.
para a cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, a Entretanto, face à dimensão do problema da
área de estudo apresenta aptidão edafoclimática aplicação excessiva deste efluente e da ausência
favorável a este tipo de cultivo. Porém, existem de controle sobre a disposição nos solos, a
algumas restrições ambientais, destacando-se, vinhaça tem se tornado uma ameaça constante à
dentre elas, a alta vulnerabilidade natural à qualidade das águas subterrâneas.
contaminação das águas subterrâneas (SMA & Por isso, a CETESB (2006) estabeleceu, por
SAA, 2008). Portanto, os possíveis impactos na meio da norma P4.231/06, os critérios e
qualidade do aquífero Rio Claro devem ser procedimentos para o armazenamento, transporte
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e aplicação da vinhaça nos solos do Estado de contaminadas (São Paulo, 2017).
São Paulo. Segundo esta norma, para que a Tal como ocorre na maior parte do Brasil, no
fertirrigação transcorra de modo seguro e eficaz, município de Rio Claro os cemitérios estão
é necessária a caraterização tanto do solo quanto totalmente integrados à área urbana, devido à
da vinhaça, possibilitando o cálculo da dosagem ausência de planejamento ambiental pretérito
máxima permitida. Por estas razões, deve haver desta atividade, que por sua vez, está
cautela na aplicação da vinhaça como profundamente atrelado a questões histórico-
biofertilizante em áreas de recarga de aquíferos culturais e religiosas. Por isso, surgiu a
livres, como é o caso das regiões canavieiras necessidade de regulamentação dos aspectos
assentadas sobre o aquífero Rio Claro. essenciais relativos ao processo de licenciamento
No contexto urbano, as edificações ambiental de cemitérios, materializados na
horizontais, com densidade de ocupação alta, Resolução CONAMA nº 335/03 (Brasil, 2003).
estágio de ocupação consolidado e ordenamento No cemitério municipal São João Batista,
urbano entre alto e muito alto correspondem a situado na área urbana do município de Rio
25% das áreas com alto perigo de contaminação. Claro, não existem medidas mitigadoras e de
Na prática, esta porção do tecido urbano abriga monitoramento ambiental, com vistas à proteção
uma vasta gama de atividades potencialmente das águas subterrâneas. Em um estudo sobre
poluidoras, sobretudo os postos de combustíveis, métodos geoelétricos aplicados ao diagnóstico
que representam 71% das áreas declaradamente ambiental e subsuperficial desta área, Xavier et
contaminadas, tanto no Estado de São Paulo al. (2018) relacionou os baixos valores de
como no município de Rio Claro/SP (CETESB, resistividade elétrica a locais possivelmente
2019). contaminados por necrochorume, sobretudo em
Além disso, devem ser consideradas as regiões de ocupação mais antiga, datadas da
questões relativas ao saneamento básico construção do cemitério, no século XIX.
municipal, tais como: a coleta, o transporte e o Portanto, é necessário que o monitoramento nesta
tratamento de esgotos domésticos, incluindo a área seja constante, pois além de oferecer alto
manutenção/troca de redes coletoras obsoletas e perigo de contaminação às águas subterrâneas
o gerenciamento de resíduos sólidos em áreas exploradas em poços circunvizinhos, há indícios
urbanas muito consolidadas (Francisco, 2018). de que já constitua uma área contaminada.
As indústrias representam cerca de 9% das Quanto às regiões de extração mineral, estas
áreas com alto de perigo de contaminação e, foram classificadas com alto perigo de
segundo a CETESB (2019), das 31 áreas contaminação. Na área estudo, a atividade
declaradas como contaminadas no município de minerária é caracterizada pela exploração de
Rio Claro, apenas 5 são referentes a atividades areia em cava, cujo principal mercado
industriais, que se relacionam principalmente ao consumidor são os setores industrial e construção
setor químico (fabricação de resinas e de fibras civil. A mineração de areia apresenta menor
de vidro). potencial gerador de cargas contaminantes em
Entretanto, acredita-se que este número deva comparação com a exploração de metais, carvão
ser bem maior, tendendo a aumentar devido a e petróleo, pois se trata de um bem mineral não
ações rotineiras de fiscalização e de metálico, quase sempre constituído por
licenciamento ambiental. Portanto, é substâncias não perigosas e inertes.
imprescindível que o controle e o monitoramento Todavia, deve ser considerada a carga
ambiental sejam intensificados, sobretudo, no poluente gerada por eventuais vazamentos de
Distrito Industrial do município. óleos, graxas e combustíveis do maquinário
Os cemitérios representam apenas 0,2% das utilizado para a escavação, desmonte e lavagem
áreas com alto perigo de contaminação. Nos do minério, inclusive os materiais empregados
últimos anos, a maior preocupação quanto aos para a recuperação ambiental da área. Conforme
cemitérios é a possibilidade de contaminação dos Mechi & Sanches (2010), grandes cavas de
aquíferos pelo necrochorume, configurando um extração de areia por desmonte hidráulico,
problema ambiental e de saúde pública. A próximas a centros urbanos, têm sido aterradas
respeito disto, a Resolução SMA nº 10/2017 com resíduos inertes provenientes de entulho da
definiu os serviços de sepultamento como sendo construção civil, cuja adequação vem sendo
uma atividade potencialmente geradora de áreas contestada em face da ausência de controle da
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qualidade desses resíduos, que podem conter superfície freática e diminuindo a capacidade de
substâncias não inertes e, eventualmente, degradação dos contaminantes ao longo do perfil
perigosas, podendo contaminar as águas geológico. No caso da área de estudo, o
subterrâneas e colocar em risco a saúde humana. monitoramento dos processos de extração e
Além destes fatores, este tipo de mineração beneficiamento da areia deve ser ainda maior,
pode tornar o aquífero ainda mais vulnerável à visto que estas atividades se desenvolvem em
contaminação, uma vez que há a remoção da porções altamente vulneráveis da Formação Rio
zona não saturada, quase sempre expondo a Claro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alta vulnerabilidade do aquífero Rio Claro partir de uma avaliação minuciosa que poderá
impõe muitas restrições quanto ao uso e redefinir as categorias de perigo, com o propósito
ocupação do solo. Por isso, o exercício de de identificar áreas prioritárias. Devido ao caráter
atividades com significativo potencial poluidor regional da escala de mapeamento das fontes de
deve ser planejado e gerenciado com muita contaminação, o mapa gerado exibe um quadro
cautela pelos gestores públicos municipais. geral, que forçosamente implica na utilização
Em relação a isso, o enfoque deve ser o deste produto como reconhecimento preliminar
monitoramento ambiental de práticas agrícolas, da distribuição espacial do perigo. Logo, o nível
indústrias e de postos de combustíveis, que por de detalhamento oferecido pelo método proposto
sua vez, constituem a maior parte das áreas estará atrelado à escala de apresentação dos
declaradas contaminadas no município. Além dados de entrada, sobretudo das fontes de
disso, atividades econômicas com impacto local contaminação.
devem ser acompanhadas pelos órgãos Ainda que uma determinada área apresente
ambientais de controle, mesmo que sejam de perigo de contaminação elevado, este também
menor porte, como por exemplo, oficinas depende das ações de gerenciamento e controle
mecânicas, ferros-velhos e lava-rápidos. das cargas poluidoras geradas em cada atividade
Embora comparações não possam ser ou empreendimento. A título de exemplo, áreas
estabelecidas, pois não existem contribuições industriais que, a princípio, foram classificadas
anteriores no que se refere à estimativa do perigo com alto perigo de contaminação, podem ter seus
de contaminação do aquífero Rio Claro índices reduzidos, caso sejam adotadas medidas
empregando outros modelos de avaliação, o para prevenir a contaminação das águas
produto gerado apresentou resultados subterrâneas.
consistentes, considerando a alta vulnerabilidade A propósito, recomenda-se a integração dos
natural e o potencial de contaminação das fontes índices atribuídos às fontes de contaminação a
existentes na área de estudo. fatores de redução, cuja finalidade será refletir as
É importante destacar que os índices condições físicas e operacionais de cada
provenientes do modelo de avaliação proposto empreendimento, ou seja, as medidas de
poderão ser investigados com mais detalhe em manutenção e segurança que possam repercutir
cada local, sobretudo naqueles onde o perigo é na proteção do aquífero Rio Claro contra a
alto (áreas urbano-industriais e minerações), a poluição.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Departamento de Geologia Aplicada, do Instituto de
Geociências e Ciências Exatas – IGCE/UNESP pelo suporte técnico e à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo auxílio financeiro na forma de
concessão de bolsa de estudo.
REFERÊNCIAS
ABRELPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS CARVALHO, A.M.; IKEMATSU, P.; CAVANI, A.C.M.
DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Avaliação do perigo de contaminação do Sistema Aquífero
Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2018/2019. São Guarani em sua área de afloramento do Estado de São Paulo
Paulo: ABRELPE, 2019. Disp. em: <https://www.migalhas decorrente das atividades agrícolas. Águas Subterrâneas, v.
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