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Geotech Geol Eng (2018) 36:599–610 https://


doi.org/10.1007/s10706-017-0303-z

NOTA TÉCNICA

Análise de Estabilidade em Encostas Urbanas: Estudo


de Caso de um Deslizamento Antropogênico em São José dos
Campos, Brasil

Rodolfo Moreda Mendes . Marcio Roberto Magalhães de Andrade .


Celso Aluí´sio Graminha . Carla Correa Prieto . Frederico Fernandes de Ávila .
Pedro Ivo Mioni Camarinha

Recebido: 3 de março de 2017 / Aceito: 12 de julho de 2017 / Publicado online: 14 de julho de 2017
Springer International Publishing AG 2017

Resumo Este trabalho apresenta os fatores naturais e 1. Introdução


antropogênicos de um evento de deslizamento de terra na
cidade de São José dos Campos, Brasil. Ao utilizar a análise As encostas em ambientes urbanos são frequentemente perturbadas
de estabilidade aliada ao fluxo transitório em solo não por processos antrópicos, como cortes, aterros sanitários,
saturado, verificou-se que um alerta precoce para o evento vazamentos em tubulações e descarte de águas residuais. A
seria inviável apenas com o uso de dados pluviométricos, determinação de limites críticos para deslizamentos de terra urbanos
dadas as mudanças antrópicas locais no terreno. A precipitação em sistemas de alerta precoce depende do escasso conjunto de dados de eventos.
não foi o principal fator desencadeante do deslizamento, Uma alternativa é a modelagem numérica de limiares para
levando em consideração as características locais, como o escorregamentos urbanos, dada a adequada caracterização
alto trecho vertical, vazamento de caixa d'água e sobrecarga das condições de contorno e forças motrizes.
sobre a encosta. Considerando que condições semelhantes Ao investigar os mecanismos de desencadeamento de
são encontradas na maioria das áreas de escorregamentos deslizamentos de terra, o uso de um modelo de fluxo transiente
no Brasil, a modelagem numérica que integre tais drivers, bem acoplado à análise de estabilidade de taludes é ideal se o
como o monitoramento de chuvas, umidade do solo e sucção processo dominante for o fluxo lateral de água subterrânea (Li et al.
do solo, é uma ferramenta promissora para o estabelecimento 2015). Nesse caso, é importante ter um modelo hidrológico
de limites para escorregamentos em sistemas de alerta precoce. calibrado tanto com as medições in situ quanto com as
condições de contorno, ou seja, a caracterização do perfil do
Palavras-chave Deslizamentos induzidos Ações solo a partir dos parâmetros geotécnicos (Huang et al. 2015).
antrópicas Análise de estabilidade, áreas de risco Encostas urbanas O software Geo-Slope utilizado neste estudo é um modelo
Solos residuais insaturados matemático que integra tanto o fluxo de água subterrânea
quanto a estabilidade de taludes. O módulo Seep/W (Geo-
Slope 2012b) utiliza análise numérica discreta para calcular o
processo de infiltração, resolvendo a equação de Darcy de
forma implícita para condições de escoamento saturado e não
saturado. O resultado é a determinação da pressão da água
RM Mendes (&) MRM de Andrade CA Graminha CC
Prieto FF de Ávila PIM Camarinha Centro Nacional de nos poros (negativa ou positiva) e os padrões de movimento
Monitoramento e Alerta Prévio de Desastres Naturais no meio poroso.
(CEMADEN/MCTIC), Estrada Doutor Altino Bondesan, 500,
Parque Tecnológico, São José dos Campos, SP 12247-016, Brasil
Os resultados do módulo Seep/W podem ser utilizados
e-mail: rodolfo.mendes@cemaden.gov.br
diretamente no módulo Slope/W (Geo-Slope 2012a), um
modelo de análise de estabilidade de taludes que utiliza

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de diferentes métodos para calcular o fator de segurança (por o risco de deslizamento de terra no mesmo bairro do evento
exemplo, Fellenius, Bishop, Janbu, Spencer, Mor genstern- relatado neste trabalho (Bairro dos Freitas). À época do
Price, Corps of Engineers). Geo-Slope tem sido usado em relatório de 2014, foram identificadas 16 áreas de risco de
taludes artificiais e naturais na Europa, para deslizamentos de deslizamento (Fig. 1), além de 45 casas na mesma região,
terra rasos, deslizamentos de terra rotacionais, fluxos de terra, um aumento acentuado no número de casas sob risco.
deslizamentos, avalanches de detritos e fluxo de detritos Segundo Valerio Filho et al. (2014), os deslizamentos rasos
(Casagli et al. 2006; Pagano et al. 2010; Camera et al. 2014 ; predominam na área, em geral associados a intervenções
Nocentini et al. 2015; Cascini et al. 2015); na Ásia/Oriente antrópicas em encostas.
Médio, para falhas rasas, fluência e barragens de terra A cidade de São José dos Campos está atualmente sendo
(Moharrami et al. 2015; Li et al. 2015; Huang et al. monitorada por 10 pluviômetros automáticos mantidos pelo
2015; Liu 2015; Nourani et ai. 2016); e na América do Sul, Cemaden. A distribuição dos pluviômetros em relação às
para deslizamentos de terra rasos (Dykes e Welford 2007). áreas de risco de deslizamento mapeadas em 2014 (Fig. 1)
indica que algumas áreas não são monitoradas em um nível ideal
Este artigo descreve os aspectos físicos, antropogênicos distância ao considerar a topografia local, ou seja, dentro de
e geodinâmicos de um evento de deslizamento de terra em um raio de 1–1,5 km (Fisch et al. 2007). Para a análise atual,
São José dos Campos, estado de São Paulo, Brasil. O evento o pluviômetro 7 (Bairro dos Freitas) foi o mais próximo (1.107
aconteceu no dia 05 de março de 2016 02:30 GMT (23:30 m), seguido pelos pluviômetros 8 (Buquirinha, 2.943 m) e 5
hora local) na rua Servidão 2-B, no bairro dos Freitas, e (Chácara Boa Vista, 3.313 m). A cidade também é monitorada
resultou em quatro vítimas. A cidade de São José dos Campos por um radar meteorológico (banda S), localizado na cidade
não estava sendo monitorada quanto a deslizamentos no de São Roque, a 130 km de São José dos Campos.
momento do evento pelo Cemaden (Centro Nacional de
Monitoramento e Alerta Prévio de Desastres Naturais), que De acordo com Álvares et al. (2013), a cidade é
atualmente atende mais de 1.000 municípios no Brasil. No caracterizada por um clima oceânico sem estação seca na
entanto, mesmo que a cidade tivesse sido monitorada na parte sul, enquanto a parte norte apresenta um verão
época, análises posteriores revelaram que a atual infraestrutura temperado. A precipitação média anual é de 1437 mm, sendo
de pluviômetros da região não seria adequada para prever o janeiro o mês mais chuvoso (média de 249 mm). No entanto,
evento de 5 de março. Este trabalho destaca a importância do os dados de diferentes pluviômetros sobre a cidade mostram
uso de novas tecnologias e modelagem integrada na avaliação um desvio significativo da média anual (Fig. 2a), com 1.912
da estabilidade de taludes em áreas de risco monitoradas pelo mm na parte norte, 1.309 mm na parte sudeste e
Cemaden. aproximadamente 1.592 mm próximo à área do evento de
deslizamento.
Segundo Seluchi e Chou (2009), as chuvas sobre a região
são influenciadas por sistemas climáticos de grande escala e
2. Materiais e métodos sinóticos, como a passagem de frentes frias e o estabelecimento
da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Além
A maioria das áreas sob risco de deslizamento de terra no disso, eventos de chuva convectiva durante o verão (novembro
Brasil está localizada nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste. a março) contribuem para aumentar a água do solo e perturbar
Um total de 34.210 áreas sob risco de deslizamento de terra a estabilidade do talude.
foram identificadas por órgãos federais com o objetivo de O terreno da cidade é composto por duas feições
minimizar as perdas humanas e materiais associadas a esse geológicas diferentes, com predominância de terreno rochoso
processo geológico. No Brasil, de 1991 a 2012 (CEPED 2013), cristalino composto por rochas ígneas e metamórficas na
ocorreram 699 deslizamentos de terra, distribuídos entre as parte norte. Na parte sul o terreno é caracterizado por material
regiões: Sudeste (80%), Sul (14%), Nordeste (5%) e demais sedimentar na faixa sudoeste-nordeste, associado à
regiões (1%). proximidade do Rio Paraíba do Sul (Fig. 2b). A topografia é
caracterizada por montículos, morros e serras (Morra da
Áreas sob risco de deslizamento foram identificadas em Mantiqueira) sobre a área com rochas magmáticas e
São José dos Campos em 2005 e 2014 (IPT/CEDEC 2005; metamórficas, ao norte, e planícies, morros e planícies
Valerio Filho et al. 2014). Os resultados do relatório de 2005 litorâneas sobre a área sedimentar no
indicaram a existência de uma casa sob

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Fig. 1 Local do evento no Bairro dos Freitas (círculo amarelo), locais das amostras de solo (círculo laranja), pluviômetros automáticos (triângulos) e
tonalidades vermelhas para áreas sob risco de deslizamento em São José dos Campos

o sul. Os dados de altimetria (Fig. 2c) mostram a correlação estações. As imagens de radar mostram dois eventos de
entre as características geológicas e geomorfológicas, chuva: o primeiro—10 mm—entre 18h15 e 18h35 (GMT),
resultando em áreas com alta suscetibilidade à ocorrência em 5 de março de 2016, com duração de 20 min, e o
de deslizamentos, principalmente sobre as regiões com segundo—10 mm—entre 21h20 e 21h45 (GMT), com
rochas magmáticas e metamórficas. Além disso, algumas duração de 25 min (Fig. 3). Assim, segundo o radar, a
áreas de risco de deslizamento estão localizadas em precipitação acumulada no dia do evento foi de 20 mm. Os
encostas sobre a formação geológica sedimentar. pluviômetros 5 e 8 registraram 1,97 e 0,0 mm,
A análise dos registros pluviométricos foi feita a partir de respectivamente, enquanto o pluviômetro 7 registrou 58,34
dados das estações meteorológicas mais próximas ao evento mm. Devido à discrepância do pluviômetro 7, esta estação
de deslizamento (medidores pluviométricos 5, 7 e 8, Fig. 1). não foi utilizada na análise. As somas diárias de chuva do
Inicialmente, as precipitações totais de fevereiro e março de pluviômetro 8 (Fig. 4) foram utilizadas na análise de fluxo
2016 foram comparadas entre as estações para verificar sua transiente e estabilidade devido à proximidade com o local
correlação espacial e temporal. Os registros no pluviômetro 7 do evento de deslizamento.
do Bairro dos Freitas não foram consistentes com a pluviosidade A caracterização geotécnica baseou-se na inspeção in
totais derivados do radar e dos outros situ do perfil do solo após

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Fig. 2 Mapas de precipitação anual (a), rochas e estruturas geológicas (b) e altimetria (c). (IPT/CPRM 2014; CPRM 2006; IBGE 1973)

Fig. 3 Imagens do radar meteorológico (CAPPI a 3 km) indicando a trajetória das chuvas (em mm) sobre a região no dia do evento (5 de
março de 2016) às 18h20 (esquerda) e 19h00 (direita)

e exame tátil. Foram identificadas as seguintes orientação do perfil na encosta, bem como sua
camadas de solo: (i) camada H1 – solo superficial morfologia, resultando em camadas mais profundas no
resultante da pedogênese com profundidade de 0,6 m; topo do morro e camadas rasas na parte inferior da
(ii) camada H2 – solo residual maduro, relativamente encosta. Não foi observado afloramento de água
homogêneo sem a estrutura original da rocha-mãe, subterrânea na encosta durante a inspeção de campo.
com profundidade de 5,0 m; e (iii) camada H3 – solo O perfil do solo descrito neste estudo possui as
jovem ou residual saprolítico com profundidade superior mesmas características geológicas, geotécnicas e
a 5,0 m, resultante de alterações na camada rochosa geomorfológicas do perfil do solo descrito por Mendes
e ainda com a estrutura da rocha mãe. As mudanças (2014), Mendes e Valerio Filho (2015), reproduzido na
Fig. 5. Assim, os mesmos parâmetros geotécnicos
nas profundidades das camadas do solo estão diretamente relacionadas

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Fig. 4 Precipitação diária acumulada para pluviômetro 8 (Buquirinha) de 4 de fevereiro a 4 de março

Fig. 5 a Perfil do solo em São José dos Campos descrito em Mendes e Valerio Filho (2015); b perfil do solo representativo do evento de
deslizamento de terra no Bairro dos Freitas

desses estudos foram utilizados aqui, a fim de evitar as caracterização geotécnica: textura do solo, massa
demoradas e dispendiosas análises geotécnicas de específica do grão, massa específica do solo, limites de
amostras de solo. O local de amostragem do solo nesses Atterberg (plasticidade e limites de liquidez). Os testes
estudos está marcado na Fig. 1. A amostragem nesses foram realizados seguindo a Associação Brasileira de
estudos incluiu sam de solo perturbado e não perturbado Normas Técnicas (ABNT). Os resultados dos testes são
ples. Os seguintes testes foram realizados durante a mostrados na Tabela 1 e na Fig. 6.

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Tabela 1 Parâmetros geotécnicos representativos do perfil do solo de escorregamento utilizado na infiltração insaturada e análise de estabilidade
(Mendes e Valerio Filho 2015; Mendes 2014)

Camada Profundidade Tamanho do grão (%) USCS Específico em massa Eficaz Eficaz Hidráulico Poro inicial
no solo amostra peso (kN/m3 ) coesão fricção interna condutividade pressão da água
(m) Areia Argila (c0 ) (kPa) (kPa)
perfil ângulo (/0 ) () (m/dia)

H1 0,5 56 18 27 SM 17 10 33 0,25 -10


H2 3,0 36 8 57 CL-ML 18 15 35 0,10 -15
H3 6,5 57 34 9 SM 19 21 37 1.13 -20

placa (para sucção entre 100 e 1500 kPa). o


funções de condutividade hidráulica (Fig. 7) foram estimadas
a partir do SWRC e ajustadas com o modelo de
Van Genuchten (1980).

3 Resultados e discussão

O deslizamento de terra ocorreu em 5 de março de 2016


por volta das 02:30 (GMT), segundo a Defesa Civil,
Rua Servidão 2B, Bairro dos Freitas,
São José dos Campos. A área de construção foi
estimado em 170 m2 , em um lote de 500 m2 . o
Fig. 6 Curvas de retenção de água no solo representativas do
área está localizada na base de um morro de 55 m de altura e
perfil de solo de deslizamento de terra usado na análise de infiltração insaturada
inclinação média de 40 graus. Uma inclinação de corte de 6-7 m
Os parâmetros de coesão efetiva (c0 ) e foi feito na parte inferior onde a casa foi construída

ângulo de atrito interno efetivo (/0 ) foram obtidos (Fig. 8a,b). Assim, o terreno tinha dois níveis, um
a partir de ensaios de cisalhamento direto saturados, usando onde a casa estava localizada e outra acima do
amostras com 60 mm de lado e 25 mm de altura. o cortada com a inclinação original do morro. De
as amostras estavam em seu estado natural, sendo imagem, fica claro que a área logo acima do corte
encosta teve uso antrópico significativo, como banana
representativas dos horizontes de solo H1, H2 e H3. Todas as amostras foram
saturado e com tensão normal de 25, 50 e 100 kPa árvores e um tanque de água (Fig. 8c–e). Outro aspecto
aplicado durante 24 h. Os deslocamentos verticais foram agravante é a existência de uma rua na parte superior
registrados durante este período e após a estabilização. o limite do terreno, o que contribuiu para o fluxo de
velocidade constante de 0,033 mm/min foi aplicada a todos água da chuva sobre a encosta. O deslizamento ocorreu
amostras. após uma ruptura no talude de corte, liberando uma massa de
Os valores iniciais de pressão da água dos poros (sucção) solo sobre a casa na parte inferior da encosta.
utilizados nas análises de fluxo foram obtidos a partir de água Embora o solo mobilizado tenha sido estimado em
sensores de potencial (modelo MPS-2 Potencial Dielétrico 80 m3 no dia da visita ao local (7 de março), o
Sensor) instalado em profundidades de 0,6, 1,5 e 3 m no solo valor estimado no dia do evento foi de
perfil de São José dos Campos, de 12-Jan-2012 a aproximadamente 30 m3 . A razão é que um acúmulo
12-Jan-2013 (Mendes 2014; Mendes e Valerio chuvas tardias de 90 mm provocaram vários deslizamentos de terra
Filho 2015). O local de amostragem foi localizado a no mesmo bairro 24 h após o evento principal,
aproximadamente 4 km da área de deslizamento descrita neste incluindo a área descrita neste estudo. Em suma, o
estudar. evento principal foi em 5 de março, deslizamentos de terra adicionais

As curvas de retenção de água no solo (SWRC, Fig. 6) ocorreu em 6 de março, e a visita ao local foi em março
foram calculados usando dois métodos: (i) placa de sucção 7º. As principais características ambientais e antrópicas
(para sucção entre 0,1 e 75 kPa) e (ii) pressão observados no local foram:

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Fig. 7 Funções de condutividade hidráulica obtidas do SWRC e ajustadas com o modelo matemático de Van Genuchen

Fig. 8 Local do evento de deslizamento. a, b imagens anteriores ao evento mostrando o corte na encosta e a caixa d'água ao fundo (imagens do Google
Street View); c vista do deslizamento; d localização do tanque de água; e localização do tanque de água

1. Topografia caracterizada por montículos – talude com 3. Uma casa com baixo padrão de construção, ou seja, feita
perfil vertical convexo, terço inferior com declividade de sem supervisão técnica, classificada antes como de
40º com substrato geológico de gnaisse máfico rico em alto risco (Valério Filho et al. 2014);
feldspato e pobre em quartzo, resultando em um
material argiloso e siltoso intemperizado; 2. Perfil do A modelagem da estabilidade e percolação consistiu em
solo classificado como Latossolo e Cambissolo (Embrapa primeiramente caracterizar a geometria do talude, o talude
2013): camada H1 – composta por solo residual com de corte e as condições geológico-geotécnicas no local após
material orgânico, profundidade de 0,6 m; camada H2 – a visita de campo (Fig. 9a). Essas características foram
B horizonte Latossolo (textura argilosa-siltosa) com então aproximadas quando aplicadas ao modelo numérico
profundidade de 5,0 m; camada H3 – solo saprólito (Fig. 9b). O trabalho de modelagem foi dividido em duas
(textura arenosa siltosa), expondo rocha mole partes: (1) análise de infiltração insaturada transitória; (2)
intemperizada, com profundidade superior a 5,0 m; análises de estabilidade juntamente com os resultados

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Fig. 9 Geometria do talude,


condições geológicas e geotécnicas
utilizadas na análise de infiltração e
estabilidade: a condições originais; b
condições simplificadas para o modelo
numérico

da etapa anterior. Para a análise de percolação, considerou-se existência de muros de contenção sem sistema de drenagem
a precipitação acumulada nos 31 dias anteriores (Fig. 4), bem em ambas as situações.
como um vazamento acima do talude de corte, no local da caixa Os resultados de fluxo transiente não saturado para o 31º dia
d'água de 1000 l. Neste caso, foi considerado um vazamento são apresentados na Fig. 11 para dois casos: considerando
linear e progressivo conforme SABESP (1993, 2016, Tabela 2), apenas a precipitação acumulada (A); e chuva e vazamento (B).
ou seja, foram utilizados vazamentos de 0,5, 1,0 e 1,5 m3 /dia Pode-se observar que a distribuição da poropressão ao longo do
seguindo talude é semelhante em ambos os casos, exceto no topo do
Recomendação da SABESP. O vazamento foi considerado na talude de corte (caso B), onde é evidente a poropressão positiva,
análise de infiltração após o 16º dia e aumentou progressivamente associada ao vazamento na caixa d'água.
até o 31º dia.
Foi utilizado um modelo numérico 2D (Geo-Slope 2012b) Em seguida, o fator de segurança (FS) para o talude foi
com elementos quadriláteros (23.272 nós e 17.615 elementos). estimado a partir da modelagem de percolação transiente
As condições de contorno (Fig. 10) foram definidas de acordo acoplada à ferramenta de análise de estabilidade (Geo-Slope
com observações de campo na área de deslizamento e condições 2012a). Todas as análises de estabilidade foram realizadas
de contorno utilizadas por Rahardjo et al. (2007). A carga total considerando a teoria do equilíbrio estático de forças e momento.
aplicada no segmento ''i-j'' e ''k-l'' deveu-se às condições naturais Os FS foram calculados utilizando os parâmetros de coesão
do lençol freático observadas no local efetiva (c0 ) e ângulo de atrito interno efetivo (u0 ), obtidos a
partir do método de Morgenstern-Price, que considera superfícies
investigações. Além disso, há continuidade dos corpos d'água a de ruptura circulares e não circulares. Em relação ao peso da
montante e a jusante dos segmentos ''k–l'' e ''i-j'', respectivamente, caixa d'água, foi considerada uma carga constante uniformemente
no qual o segmento ''i-j'' está conectado a um corpo de água de distribuída ao longo do talude de corte.
cabeça constante. As condições de contorno ''sem fronteira de
fluxo'' usadas nos segmentos ''f–g'' e ''h–i'' representam a A carga foi de 10 kN/m2 ou 1,0 tf/m2 (para um tanque de água
de 1000 l).

Tabela 2 Percolação para diferentes tipos de vazamento em tubulações, torneiras ou caixas d'água utilizadas na modelagem (SABESP 1993, 2016)

Tipo de vazamento Descrição Infiltração (m3 /dia)

Tubos Um tubo com furo de até 2 mm 3.2

Torneiras Uma torneira aberta com gotejamento de até 4 mm 0,5

Tanque de água Sistema de válvula de bóia com defeito para controle automático do nível de água (transbordamento) 4,0–6,0

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Fig. 10 Geometria da
inclinação e condições de
contorno usadas na análise
de infiltração transiente não saturada

Fig. 11 Resultados de percolação transitória insaturada: distribuição da pressão da água dos poros no 31º dia considerando apenas a precipitação
acumulada; b igual a (a), com a inclusão de infiltração do tanque de água vazando

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Duas formas para a superfície de ruptura podem ser


vistas na Fig. 12a, b, com FS de 1,405 e 0,961 para ambos
os casos testados, respectivamente. A superfície associada
a FS de 0,961 está de acordo com o processo de ruptura
observado na inspeção de campo do evento de deslizamento.
Uma região de poropressão positiva pode ser vista na Fig.
12b (delimitada pela linha azul tracejada), indicando uma
provável saturação do solo nesta região causada pelo
vazamento na caixa d'água.
Quando o fator de segurança (FS) é plotado ao longo
do tempo (Fig. 13) fica claro que o efeito da chuva
acumulada (curva marrom claro) não levaria à instabilidade
Fig. 13 Resultados da análise do fator de segurança considerando as
do terreno no 31º dia de simulação, pois o FS não cai influências naturais e naturais mais antrópicas no talude
abaixo de 1,4. Ao considerar o efeito do vazamento (curva
verde), o FS cai significativamente (de 1,56 para 1,12), mas essas simulações e não influenciou a ruptura devido ao
não o suficiente para atingir o valor de ruptura do talude seu valor inferior quando comparado com o peso do solo
(FS \1,0). Deve-se notar que o peso do tanque de água no talude. Finalmente, quando todos os fatores são
(Carga) foi incluído no considerados (curva azul claro), o FS não diminui

Fig. 12 Resultados da análise de estabilidade após o 31º dia: a considerando apenas a precipitação acumulada; b considerando forçantes naturais
e antrópicas (precipitação, vazamento e sobretaxa no talude)

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significativamente até o 20º dia de simulação, quando a aqui têm incertezas associadas principalmente relacionadas
influência do vazamento no topo do talude de corte se aos parâmetros geotécnicos utilizados na percolação
torna importante. Neste ponto da simulação, o vazamento transitória e estabilidade do talude. Para isso, recomenda-
gradual crescente (Q = 0,5, 1,0 e 1,5 m3 /dia) causa uma se que estudos futuros sejam realizados utilizando métodos
diminuição contínua do FS até que o valor crítico de ruptura probabilísticos e análises de estabilidade com parâmetros
seja atingido no 26º dia para uma infiltração de Q = 1,0 geotécnicos da área local.
m3 / dia. O valor de FS não se altera significativamente A abordagem utilizada neste estudo é especialmente
quando Q = 1,5 m3 /dia, mantendo um valor abaixo da relevante para o Brasil quando se considera que muitas
linha de ruptura de FS\1,0, indicando que o vazamento áreas de risco em todo o país são intensamente povoadas
associado à ruptura foi da ordem de 1,0–1,5 m3 /dia. e sob a influência de diferentes mudanças antrópicas na
Assim, a queda acentuada da FS no 26º dia provavelmente paisagem natural. Por fim, tendo em vista que o principal
está associada tanto à precipitação acumulada (57 mm) desencadeador do deslizamento foi um vazamento em uma
quanto ao vazamento da caixa d'água (1,0–1,5 m3 /dia) caixa d'água, é fundamental que os órgãos governamentais
durante o período. Assim, o trabalho de modelagem suporta realizem campanhas de educação e fiscalização de áreas
a hipótese de que o evento de deslizamento de terra em 5 de risco para minimizar a influência antrópica em futuras
de março de 2016 não foi associado apenas à precipitação ocorrências de eventos semelhantes de deslizamento.
acumulada, mas sim causado por uma combinação de
Agradecimentos Os autores agradecem à Defesa Civil de São José dos Campos
precipitação acumulada e o vazamento sobre o talude de
pelo apoio nas atividades de campo e a Jojhy Sakuragi pela interpretação dos
corte que contribuiu para a instabilidade do terreno. dados de radar meteorológico.

4 Resumo e Conclusões
Referências
Os resultados apresentados neste estudo corroboram a
Alvares CA, Stape JL, Sentelhas PC, Gonçalves JLM, Sparovek G (2013) Mapa
hipótese de que a ocorrência do deslizamento de terra no
de classificação climática de Köppen para o Brasil.
dia 5 de março de 2016 não pode ser atribuída apenas à Meteorol Z 22(6):711–728. doi: 10.1127/0941-2948/2013/ 0507
precipitação acumulada no dia do evento ou nos 31 dias
anteriores. A partir das análises sobre infiltrações transitórias Camera CAS, Apuani T, Masetti M (2014) Mecanismos de ruptura em taludes em
terraços: o caso Valtellina (norte da Itália). Deslizamentos de terra 11:43–
e estabilidade do terreno, percebe-se que o deslizamento
54. doi:10.1007/s10346-012- 0371-3
foi associado a uma combinação de fatores, como a
precipitação acumulada, o talude de corte em um terreno Casagli N, Dapporto S, Ibsen ML, Tofani V, Vannocci P (2006)

com grande inclinação e a sobrecarga no talude de corte Análise do mecanismo de desencadeamento de deslizamento de terra
durante a tempestade de 20 a 21 de novembro de 2000, no norte da Toscana.
causada por a presença de um vazamento em um tanque
Deslizamentos de terra 3:13–21. doi:10.1007/s10346-005-0007-y
de água (Fig. 13). Assim, a influência antrópica sobre o Cascini L, Ciurleo M, Nocera S (2015) Reconstrução da profundidade do solo
terreno teve um impacto crítico na probabilidade de para a avaliação da suscetibilidade a deslizamentos de terra rasos em
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Ao considerar os registros históricos precários de


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ferramentas de modelagem que combinem influências Geológico do Brasil, São Paulo, mapa, escala 1:750.000 (em português)
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obtidos neste estudo podem ajudar a calibrar adequadamente
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a rede de monitoramento geotécnico do Cemaden
norte dos Andes, Equador: implicações para o desenvolvimento da forma
( pluviômetros automáticos e sensores de umidade do solo) da terra em cadeias montanhosas úmidas e tectonicamente ativas.
e, dessa forma, melhorar a precisão dos alertas precoces Deslizamentos de terra 4:177-187. doi:10.1007/ s10346-006-0076-6
de deslizamentos. Vale lembrar que os resultados apresentados

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