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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-77863610006
Artigo
Recebido em: 24 de Setembro de 2019 - Revisado em: 17 de Julho de 2020 - Aceito em: 1 de Setembro de 2020
Resumo
Séries pluviométricas obtidas entre 1910 e 2016 em onze localidades da região de Catolé do Rocha, Estado da Paraíba,
Brasil, foram analisadas com o objetivo de traçar um melhor perfil climático da região. Para tanto, o Índice de Anomalia
de Chuvas (IAC) juntamente com ferramentas estatísticas foram utilizados. Os resultados obtidos sugerem que as varia-
bilidades nas chuvas, nos padrões de umidade, assim como nos períodos normais, úmidos, secos, e seus extremos, estão
em conexão com os anos de El Niño e La Niña. O regime pluviométrico foi caracterizado por irregularidades com uma
tendência significativa de decréscimo de chuvas no período considerado. A distribuição de probabilidade Logística
representa de forma adequada as chuvas da região, com o p-valor de 0,994 para um nível de significância de 0,05.
Palavra-chave: ENOS, variabilidade climática, distribuição de probabilidade.
Climatologicamente, os principais sistemas produ- e Temperatura da Superfície do Mar (TSM) dos Oceanos
tores de chuvas sobre o Estado da Paraíba são a Zona de Pacífico tropical e Atlântico tropical, com destaque para os
Convergência Intertropical (ZCIT) e os Vórtices Ciclôni- trabalhos realizados anteriormente por Azevedo e Silva
cos em Ar Superior (VCAN), os quais induzem chuvas (1994), Santos et al. (2017), Da Silva et al. (2010), Mar-
representativas sobre a região e são responsáveis por cuzzo et al. (2011) e Da Silva et al. (2012).
aproximadamente 80% do total precipitado entre os meses Tendo em vista toda essa problemática, o presente
de fevereiro e maio, abrangendo praticamente todo o setor estudo tem como objetivo analisar a climatologia da chuva
centro-oeste do Estado da Paraíba (Molion e Bernardo, que ocorre na microrregião de Catolé do Rocha, quanto à
2002). Em um segundo período de chuvas tem-se a atua- influência da variabilidade espaço-temporal das chuvas.
ção de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL). Os DOL's Com base no IAC apontar para diagnosticar possíveis
favorecem a ocorrência de chuvas sobre todo o setor leste mudanças no panorama pluviométrico na região e avaliar
do Estado, principalmente na faixa litorânea. Tal sistema as fases do ENOS em relação a essas mudanças.
contribui com a ocorrência de aproximadamente 70% do
total precipitado sobre a região entre os meses de abril e 2. Material e Métodos
julho (AESA 2016).
A variabilidade da chuva é fundamental, uma vez 2.1. Área de estudo
que possibilita detectar tendências ou alterações climáticas
em variadas escalas, além de compará-las (Marcuzzo e A microrregião de Catolé do Rocha apresenta clima
Goularte, 2012). Esses estudos são realizados tendo como tropical, predominando o semiárido no interior, com mé-
base alguns índices, a exemplo o Índice de Anomalia de dias térmicas elevadas (em torno de 27 °C) e chuvas
Chuva (IAC), desenvolvido por Rooy (1965) com a finali- escassas e irregulares (menos de 800 mm por ano). A mi-
dade de caracterizar e monitorar a variabilidade espaço- crorregião de Catolé do Rocha é composta por onze muni-
temporal da chuva de uma região e de classificar as mag- cípios: Belém do Brejo do Cruz, Bom Sucesso, Brejo do
nitudes de anomalias de chuvas positivas e negativas. Cruz, Brejo dos Santos, Catolé do Rocha, Jericó, Lagoa,
Dessa forma, esse índice permite a comparação entre as Mato Grosso, Riacho dos Cavalos, São Bento, São José do
condições atuais e as séries históricas em consonância Brejo do Cruz (Fig. 1).
com a intensidade dos eventos.
2.2. Descrição dos dados
O IAC tem se tornado uma ferramenta fundamental
devido a sua simplicidade para análise das chuvas, para a Os dados utilizados foram cedidos pela Superin-
determinação da qualidade das anomalias (Sanches et al., tendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e
2014). Além disso, o IAC necessita apenas de dados plu- Agência Nacional de Águas (ANA). O período de estudo
viométricos e é de fácil estimativa, diferente de outros corresponde a 107 anos (1910 a 2016). Adotou-se um
índices, tais como: Índice de Severidade de Seca de Pal- conjunto de critérios para o preenchimento dos dados, com
mer (PDSI), proposto por Palmer (1965), Índice de Seca método de regressão linear que consiste em utilizar re-
de Bhalme & Mooley (BMDI), proposto por Bhalme e gressões lineares simples ou múltiplas para o preenchi-
Mooley (1980), entre outros. mento de falhas, tentando assegurar um período temporal
O IAC permite realizar comparações do regime plu- de análise. De acordo com as recomendações da OMM
viométrico de determinado local a partir de uma série de (Organização Mundial de Meteorologia), o cumprimento
dados históricos com as condições atuais de chuva e tam- do período de registro dos dados deve ser igual ou superior
bém é utilizado para a caracterização da variabilidade a 30 anos. Além disso, utilizou-se os dados de 11 postos
espaço-temporal da chuva na região de estudo (Araújo et pluviométricos e foram calculadas as estatísticas descriti-
al., 2007; Marcuzzo e Goularte, 2012; Sanches et al., vas (média, valor máximo, mínimo, variância, coeficiente
2014). Segundo Sanches et al. (2014), a utilização do IAC de assimetria e de curtose). Para a confecção dos mapas,
tem se revelado uma ferramenta importante na avaliação utilizou-se o software Quantum GIS (QGIS).
de anomalias extremas. A Tabela 1 apresenta as principais informações geo-
No NEB, Ribeiro (2016) destaca que o modo de va- gráficas dos municípios que compõem a microrregião de
riabilidade climática El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é um Catolé do Rocha.
dos principais eventos atmosféricos responsáveis pelos
extremos de secas e chuvas nessa região. Oliveira Junior 2.3. Índice de anomalia de chuva (IAC)
et al. (2012) constataram que eventos fortes de ENOS (El O IAC avalia o desvio da precipitação, em relação à
Niño e La Niña) mostraram padrões de períodos secos e condição normal. Esse método procura analisar a frequên-
chuvosos para as regiões de Alagoas quando comparados cia em que ocorrem os anos secos e chuvosos e a intensi-
com eventos moderados de ENOS. dade desses índices a partir de um grau de severidade e
O IAC tem sido utilizado para avaliar o comporta- duração, com base nas seguintes formulações Eq. (1) e
mento das precipitações em relação à influência do ENOS Eq. (2):
Caracterização da Chuva da Microrregião de Catolé do Rocha no Estado da Paraíba Baseada em Estatística Aplicada 99
Tabela 3 - Estatística descritiva dos dados pluviométricos da microrregião de Catolé do Rocha no período de 1910 à 2016.
Meses Mín Máx 1° Quartil Mediana 3° Quartil Média DP CC CA
Jan 4,2 273,8 70,8 92,1 115,3 96,1 44,5 3,42 1,14
Fev 26,7 299,4 104,0 132,2 166,9 135,9 49,9 0,49 0,31
Mar 64,5 479,2 167,8 203,6 233,5 208,1 74,7 3,23 1,35
Abr 55,0 376,9 147,2 178,7 210,1 185,0 64,4 1,39 0,87
Mai 2,9 310,7 80,5 104,5 137,1 110,2 52,5 2,15 1,01
Jun 6,5 125,2 30,3 43,5 61,0 48,2 26,0 0,69 0,90
Jul 0,0 76,9 16,2 23,1 28,8 24,0 12,9 3,23 1,17
Ago 0,0 80,2 7,3 12,5 21,8 15,9 14,5 7,16 2,18
Set 0,0 16,3 1,2 2,8 4,5 3,4 3,2 4,46 1,83
Out 0,0 67,2 4,3 8,1 13,0 10,4 10,6 10,91 2,90
Nov 0,0 67,8 6,4 11,6 19,9 14,7 12,2 4,49 1,83
Dez 1,5 85,6 14,9 24,8 35,4 27,5 17,0 1,59 1,11
DP = Desvio padrão; CA = Coeficiente de assimetria; CC = Coeficiente de curtose, as unidades são medidas em mm.
Figura 4 - Índice de Anomalia de Chuva (IAC) para a série da Microrregião de Catolé do Rocha (1910-2016) e Índices de ENOS no período de 1908 à 2017.
tiveram uma boa correspondência com a componente do liaram as precipitações anuais em Alegrete-RS (1928-
fenômeno ENOS. 2009) por meio do IAC e concluíram que os anos con-
Todos os anos considerados pelo IAC como “umi- siderados chuvosos tiveram correlação com o La Niña. Já
dade baixa” tiveram uma correspondência satisfatória com os anos secos, que deveriam estar sob efeito da El Niño,
a componente positiva do fenômeno ENOS. O uso do IAC não apresentaram boa correspondência.
em pesquisas científicas vem propiciando resultados sig- Na cidade de Blumenau-SC, a aplicação do IAC,
nificativos, de modo que este tem sido uma importante por Fonseca (2016), no período de 1941 a 2015, permitiu
ferramenta de análise das chuvas (Sanches et al., 2014). A identificar que os valores positivos e negativos apre-
Tabela 6 apresenta a correspondência do fenômeno ENSO sentam uma forte relação com o fenômeno ENOS.
aos anos analisados pelo IAC nessa caracterização. Alguns anos, como 2008, o qual apresentou uma das
O fenômeno El Niño apresenta uma relação de causa maiores precipitações pluviométricas na região, estavam
e efeito com as secas que ocorrem no semiárido nordes- sob a ação da La Niña. O autor associou tal fato à união
tino, uma vez que nos anos de El Niño, observa-se uma de um bloqueio atmosférico e VCAN, o que provocou
diminuição na chuva da região. Sanches et al. (2014) ava- aumento de chuva.
104 Caracterização da chuva da microrregião de Catolé do Rocha no estado da Paraíba baseada em estatística aplicada (Melo e Lima)
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