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ANÁLISE HIDROCLIMÁTICA DA REGIÃO DE SÃO JOÃO DO CARIRI-PB

Article · January 2015


DOI: 10.12722/0101-756

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4 authors, including:

Paulo Roberto Megna Francisco Daris Correia Dos Santos


Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Universidade Federal da Paraíba
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Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.30, n.2, p.59-65, 2015.
ISSN - 0101-756X - DOI: http://dx.doi.org/10.12722/0101-756X.v30n02a01

ANÁLISE HIDROCLIMÁTICA DA REGIÃO


DE SÃO JOÃO DO CARIRI-PB
Raimundo M. de Medeiros1, Daris C. dos Santos2, Paulo R. M. Francisco3 & Manoel F. Gomes Filho4

RESUMO
Para a prática de ações voltadas para a prevenção dos recursos naturais faz-se necessário levantar as informações hidrológicas,
climatológicas, agroclimáticas e agroecológicas. Este estudo teve o objetivo de realizar uma análise do clima e das disponibilidades
dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos do município de São João do Cariri, estado da Paraíba. Para a caracterização
climática foram utilizados dados meteorológicos climatológicos e estimados pelo método de Thornthwaite & Mather. As analises
dos comportamentos das distribuições das precipitações foram realizadas utilizando-se da série no período de 1911-2011.
As temperaturas foram estimadas pelo método de regressão linear múltipla, pelo software Estima_T e aplicados tratamentos
estatísticos para eliminação de falhas e distorções. O balanço hídrico foi estimado através do software Balanços Hídrico do
Brasil. A classificação encontrada foi a de Köppen do tipo BSh semiárido quente, com chuvas de verão, entre 300 a menos de 600
mm mm/ano com temperatura média anual inferior a 26 oC. A temperatura média anual de 24,0 ºC, a mínima anual de 19,5 ºC,
a máxima anual de 30,8 ºC; a umidade relativa do ar média anual de 64,0%, a evaporação média anual oscila de 2,8 a 93,3 mm
com taxa anual de 426,3 mm/ano, a evapotranspiração anual de 1.216,4 mm e suas oscilações mensais fluem entre 77,4 – 124,2
mm/mês. A insolação total anual de 2.193,1 horas/ano e suas flutuações mensais entre 120,0 – 220,1 horas/mês.

PALAVRAS-CHAVE: recursos hídricos, balanço hídrico, variabilidade climatológica

HYDROCLIMATIC ANALYSIS OF THE REGION


OF SÃO JOÃO DO CARIRI-PB
ABSTRACT
To practice actions for the prevention of natural resources it is necessary to elicit information from hydrological, climatic, agro-
climatic and agro-ecology. This study aimed to perform an analysis of climate and availability of surface and underground water
resources of the municipality of the ray tracing model, state of Paraíba. To characterize climate data were used meteorological
and climatological estimated by Thornthwaite & Mather. The analysis of the behavior of the precipitation distributions were
performed using the series for the period 1911-2011. Temperatures were estimated by multiple linear regression method, the
software Estima_T and applied statistical methods to eliminate flaws and distortions. The water balance was estimated using
the software Hydric Balance of Brasil. The Köppen is BSh type semiarid hot, with summer rainfall, between 300 and less than
600 mm/year with an average annual temperature below 26 oC. The average annual temperature is 24.0 ºC, the minimum annual
temperature is 19.5 ºC, the maximum annual temperature is 30.8 ºC, the relative humidity annual average is 64.0%, the average
annual evaporation ranges 2.8 to 93.3 mm and its annual rate is 426.3 mm/year equal to the amount of annual precipitation,
evapotranspiration year is 1,216.4 mm and its swings monthly flow between 77.4 to 124.2 mmmonth. The annual total sunshine
is 2193.1 hoursyear and their monthly fluctuations occur between 120.0 to 220.1 hrs/month.

KEY WORDS: water resources, water balance, climatological variability

1
Doutorando em Meteorologia/PPGM, UFCG, Campina Grande - PB, Av. Aprígio Veloso, 882, CEP 58109-970, email: mainarmedeiros@gmail.com
2
Mestranda em Meteorologia/PPGM, UFCG, Campina Grande - PB, Av. Aprígio Veloso, 882, CEP 58109-970, e-mail: dariscorreia@gmail.com
3
Pesquisador DCR CNPq/Fapesq- Universidade Federal da Paraíba, UFPB, email: paulomegna@gmail.com
4
Prof. Adjunto Dsc. Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas, UFCG, Campina Grande – PB, email: mano@dca.ufcg.edu.br
60 Raimundo M. de Medeiros et al.
INTRODUÇÃO Os estudos do monitoramento do clima, inicialmente
voltados para a previsão do tempo, meteorologia e zoneamento
O clima é definido como sendo o conjunto de condições agroclimático, passaram nos anos recentes a incorporar
meteorológicas (insolação, nebulosidade, temperatura do ar, os temas ligados às mudanças climáticas globais, eventos
pressão atmosférica, ventos (direção e velocidade), umidade extremos, visando o entendimento do sistema terrestre com
relativa do ar, precipitação pluviométrica), características do profundidade. Neste sentido, estudos sobre o comportamento
estado médio da atmosfera em um dado ponto da superfície das variáveis climáticas locais, trazem uma contribuição
terrestre. O clima também exerce grande influência sobre o importante, porque as atividades humanas têm modificado
ambiente, atuando como fator de interações entre componentes o ambiente, resultando em notáveis modificações no fluxo
bióticos e abióticos. O clima de toda e qualquer região, situada de energia, dentro do sistema climático regional, mas com
nas mais diversas latitudes do globo, não se apresentam com as reflexos globais (Barret & Curtis, 1992).
mesmas características em cada ano (Soriano, 1997). Portanto este estudo se constitui em uma análise do clima
Em região de clima de áreas próximas contrastantes, de um e das disponibilidades dos recursos hídricos superficiais e
lado chuvoso do outro semiárido, como o Nordeste do Brasil subterrâneos do município de São João do Cariri no estado da
(NEB) e em especial o estado da Paraíba, o monitoramento Paraíba.
da precipitação, principalmente, durante o período chuvoso
é muito importante para tomada de decisões que tragam MATERIAL E MÉTODOS
benefícios para a população. Um bom monitoramento da
precipitação pluviométrica é uma ferramenta indispensável A área de estudo compreende o município de São João do
na mitigação de secas, cheias, enchentes, inundações e Cariri com extensão de 654,29 km², localizado no Planalto
alagamentos (Paula et al., 2010). Dentre os elementos do da Borborema, estado da Paraíba, estando sua sede entre as
clima de áreas tropicais, a precipitação pluviométrica é o coordenadas geográficas 07°23’27’’(S) e 36°31’58’’(W),
que mais influencia a produtividade agrícola (Ortolani & limitando-se com os municípios de Gurjão, Boa Vista,
Camargo, 1987), principalmente nas regiões semiáridas, Cabaceiras, São Domingos do Cariri, Caraúbas, Coxixola,
onde o regime de chuvas é caracterizado por eventos de curta Serra Branca e Parari (Figura 1).
duração e alta intensidade (Santana et al., 2007), em função O principal rio é o Taperoá de regime intermitente, área com
disto a sazonalidade da precipitação concentra quase todo o relevo suave ondulado, altitudes predominantemente entre 400
seu volume durante os cinco a seis meses no período chuvoso m e drenagem voltada para o leste favorecendo temperaturas
(Silva, 2004). amenas (<260C) (Francisco, 2010). Com déficit em recursos
Os inventários de recursos climáticos para fins de hídricos, o município tem como principal reservatório o Açude
zoneamento agrícola e estudos de produtividade de plantas, dos Namorados, que conforme a AESA (2011) tem capacidade
baseiam-se primariamente na quantificação de condições para acumular 2.218,980 m³, e outros reservatórios segundo
de temperatura e umidade, obtidas em estações terrestres de a CPRM (2005) os açudes de Baixo, do Pereira, da Serra,
monitoramento. Além dessas informações, o conhecimento Forquilha, do Escondido e da Maniçoba.
das precipitações pluviométricas é indispensável para se O clima segundo a classificação de Köppen é do tipo
compreender e controlar o ciclo natural da água, devido Bsh (semiárido quente), com chuvas apresentando uma forte
aos fluxos de massa e energia a ela associados. O impacto variação na distribuição espacial, temporal e interanual, e
econômico e social resultante está ligado às consequências de uma estação seca que pode atingir 11 meses (Varejão-Silva et
suas manifestações externas, como inundações, alagamentos, al., 1984). Conforme Souza (2008), a abrangência do Cariri
enchentes, cheias e secas, desestabilização de encostas, Oriental possui média pluviométrica variando de 400 a 500
épocas secas e por envolver necessidades crescentes de mm ano-1.
conhecimento do comportamento da água no planejamento A vegetação é do tipo caatinga hiperxerófila e de acordo
do desenvolvimento da economia energética, rural e urbana com Sousa et al. (2007), as espécies mais encontradas são:
(Huntzinger & Ellis, 1993).
Vem surgindo nas últimas décadas, um grande interesse
sobre a climatologia e suas aplicações sobre o ponto de vista
global e as suas variações espacial e temporal, resultante da
conscientização de que a atuação humana vem exercendo uma
influência poderosa sobre as camadas baixas da atmosfera,
através de práticas que promovem um aquecimento global
(efeito estufa) e da descoberta do impacto da atividade humana
sobre a camada de ozônio, situada sobre as regiões polares e
suas adjacências.
Recentemente muitos são os estudos sobre informações
hidrológicas, climatológicas, agroecológicas e agroclimáticos
destinados à criação de modelos cognitivos extrapolados em
modelos de bacias ou microbacias hidrográficas que levam em
conta, os estudos agroclimáticos, a topografia, declividade do Fonte: Adaptado de IBGE (2009)
terreno, solos e cobertura vegetal. Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.
Revista Educação Agrícola Superior - v.30, n.2, p.59-65, 2015.
Mês efetivo de circulação deste número: dezembro/2015.
Análise hidroclimática da região de São João do Cariri-PB 61
marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.), jurema preta
(Mimosa tenuiflora Willd. Poiret.), pereiro (Aspidosperma
pyrifolium Mart.), catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul),
angico (Anadenanthera columbrina Vell. Brenan), aroeira
(Myracrodruon urundeuva Allemão) e cactáceas diversas.
A área em estudo tem sua geologia relacionada a formações
rochosas de embasamento cristalino de idade Pré-Cambriana,
mais precisamente do período Pré-cambriano Indiviso, entre as
quais merecem ressaltar as do complexo Gnáissico-Migmatítico
(pEgn), com destaque para os gnaisses de fina xistosidade ou
gnaisses de grão fino (rochas intermediárias entre migmatitos
heterogêneos e actinitos) e as rochas Gabróides, que são
escassas neste complexo, apresenta no município um corpo
intrusivo na forma de bossa circular constituindo-se de rochas
básicas (melanogabros), granodioritos e granitos (Dantas & Fonte: Adaptado de Paraíba (2006)
Cáula, 1982). Figura 3. Mapa de bacias hidrográficas do Estado da Paraíba.
Por se encontrarem numa unidade geológica cristalina, os
solos são pedregosos, poucos profundos, portanto de difícil uma área total 12.385,64 km2 e que representa 21,9% de toda a
permeabilidade, o que facilita o escoamento superficial e a área territorial do estado (IBGE, 1995), sendo responsável pelo
lixiviação da matéria orgânica e dos minerais presentes nas abastecimento hídrico de aproximadamente 350.000 habitantes
rochas. Conforme PARAÍBA (2006), os solos que ocorrem na cidade de Campina Grande (Medeiros & Medeiros, 2000).
com maior frequência são os Neossolos Litólicos Eutróficos, Nas sub-bacias, a do Rio Taperoá e Alto Curso do Rio Paraíba,
Luvissolo Crômico vértico, Planossolo Solódico e Neossolo observam-se características climáticas muito semelhantes entre
Regolítico Eutrófico (Figura 2). si. De acordo com o clima da região, o ciclo pluviométrico
se mostra curto e irregular, tanto espacialmente, quanto
temporalmente, resultado de um clima predominantemente
semiárido.
As vazões dos poços são bastante modestas, ou seja,
inferiores a 3,25 m3/h para rebaixamento do nível da água
de 25 metros, com capacidade específica 47% inferior a 0,13
m3/h/m, em média. Além disso, as águas do subsolo são, em
geral, salinizadas com valores totais de sais dissolvidos-TSD
variando de 500 a 35.000 mg/l (CPRM, 1983). Nesta região
predominam rochas cristalinas, ou seja, gnaisses, xistos,
migmatitos, granitos, quartzitos entre outras, apresentando,
em geral, um potencial hidrogeológico muito fraco, pois os
aquíferos estão restritos às zonas fraturadas. Essa deficiência
está relacionada diretamente com as condições de ocorrência e
Fonte: Adaptado de Paraíba (2006)
circulação das águas subterrâneas, que é agravada em função
Figura 2. Solos da área de estudo.
das características do clima semiárido que provoca taxas
Bacia hidrográfica e águas subterrâneas e superficiais elevadas de salinidade nas águas.
O município de São João do Cariri encontra-se inserido nos
domínios da bacia hidrográfica do Rio Paraíba, parte na sub- Balanço hídrico climatológico
bacia do Rio Taperoá e parte na região do Alto Paraíba. Seus No Nordeste do Brasil (NEB), em especial na região
principais tributários são: os rios Gurjão, Soledade, Taperoá, da semiárida nordestina, e especial a área de estudo que
Serra Branca e os riachos: da Caatinga, da Telma, do Mulungu, frequentemente enfrenta os problemas da seca e estiagens
da Catingueira, Cachorro, do Afogado, das Marias Pretas, da prolongadas dentro do período chuvoso, estas condições se
Capoeira do Justino, das Cobras, do Saco, Pau da Ponta, Mateus, tornam ainda mais graves (Nobre & Melo, 2001). Devido a
Fundo, Quixaba, do Formigueiro, da Cachoeira, do Milho, do grande demanda atual por recursos hídricos, faz-se necessário
Damásio, do Badalo, Boa Ventura, do Farias, Olho d’ Água, o conhecimento do ciclo da água, principalmente das variáveis
Algodoais, Macambira, Algodoeiros, Forquilha, do Bento, dos de precipitação e evapotranspiração (Horikoshi, 2007). Assim,
Avelós, do Cantinho, do Jirau, do Agave, dos Mares, Gravatá, de acordo com (Camargo, 1971; Horikoshi, 2007), para saber
Ipueirinha, da Cachoeirinha, das Cacimbas, do Curralinho, do se uma região apresenta deficiência ou excesso de água ao
Boi e Salgadinho. Os principais corpos de acumulação são: o longo do ano, é necessário comparar dois termos contrários
Açude Público Namorado e as lagoas: de Baixo, do Pereira, da do balanço, a precipitação (responsável pela umidade para
Serra, Forquilha, do Escondido e da Maniçoba. o solo) e a evapotranspiração que utiliza essa umidade do
A bacia hidrográfica do Açude Epitácio Pessoa (Figura 3) solo. Segundo (Pereira et al., 2002; Horikoshi, 2007), a
está contida na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba cobrindo água disponível para o consumo e uso do homem pode ser
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Mês efetivo de circulação deste número: dezembro/2015.
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quantificada pelo balanço hídrico climatológico, em que fica de São João do Cariri e utilizou a série no período de 1911-
evidente a variação temporal de períodos com excedente e com 2011.
deficiência hídricas, permitindo, dessa forma, o planejamento As temperaturas foram estimadas pelo método de regressão
agrícola. linear múltipla, pelo software Estima_T (Cavalcanti et al.,
O planejamento hídrico é a base para se dimensionar 2006) Aos dados de precipitação dos municípios foram
qualquer forma de manejo integrado dos recursos hídricos, aplicados tratamentos estatísticos para eliminação de falhas e
assim, o balanço hídrico permite o conhecimento da necessidade distorções. O balanço hídrico foi estimado através do software
e disponibilidade hídrica no solo ao longo do tempo. O balanço Balanços Hídrico do Brasil (Sentelhas et al., 2008).
hídrico como unidade de gerenciamento, permite classificar o
clima de uma região, realizar o zoneamento agroclimático e RESULTADOS E DISCUSSÃO
ambiental, o período de disponibilidade e necessidade hídrica
no solo, além de favorecer ao gerenciamento integrado dos A Tabela 1 demonstra as flutuações mensais dos elementos
recursos hídricos e também a viabilidade de implantação e meteorológicos, precipitação histórica; precipitação máxima
monitoramento de sistemas de irrigação ou drenagem numa absoluta e precipitação mínima absoluta; temperaturas médias;
região. (Lima & Santos, 2009). mínimas e máximas; umidade relativa do ar; insolação total;
Thornthwaite (1948) e Thornthwaite & Mather (1955), evapotranspiração potencial; evaporação real; deficiência
elaboraram um sistema de contabilidade para obter os déficits
hídrica e excedente hídrico para o município estudado.
e/ou excessos de água, a que denominaram balanço hídrico.
O período chuvoso inicia-se no mês de janeiro com chuvas
Neste balanço o solo é um “depósito”, a precipitação é a
de pré-estação e prolonga-se até o mês de julho, tendo como
“entrada” e a evapotranspiração representa a “saída”. Partindo-
trimestre mais chuvoso os meses de fevereiro, março e abril,
se de uma capacidade de água disponível (CAD) apropriada
tem um índice pluviométrico anual médio de 426,2 mm com 91
ao tipo de planta cultivada, produz resultados úteis para a
anos de observação estão representados na Figura 4, os meses
caracterização climatológica da região e informa sobre a
distribuição das deficiências e excessos de precipitação, do com menores índices pluviométricos ocorrem entre agosto a
armazenamento de água no solo, tanto na escala diária como novembro. Os sistemas provocadores de chuvas na região são
mensal. as formações dos aglomerados convectivos de mesoescala,
a Zona de Convergência Intertropical e a contribuição dos
Análise climática Vórtices Ciclônicos.
O estudo foi realizado através do levantamento dos As condições climáticas pluviométricas da região
principais elementos do clima, da pluviometria, da classificação apresentam em seu ciclo anual períodos seco e chuvoso,
climática, do balanço hídrico e dos recursos hídricos sendo o período seco mais longo e intercalado por um período
superficiais e subterrâneos do município de São João do de chuvas muito curto e irregular. A estação seca, em geral,
Cariri. Para a caracterização climática foram utilizados dados estende-se por cerca de oito meses do ano em períodos normais,
meteorológicos climatológicos de precipitação, temperatura ou às vezes mais longos em períodos de estiagem.
média, máxima e mínima, umidade relativa, insolação, O mês de julho é registrado a menor temperatura média de
evaporação e evapotranspiração pelo método de Thornthwaite 21,8 ºC e nos meses de dezembro a janeiro as mesmas oscilam
& Mather (1948; 1955). entre 25,0 e 25,1ºC, nos demais meses a temperatura média
As analises dos comportamentos das distribuições das flutua entre 22,1 a 23,4ºC, Figura 4. Os meses de menores
precipitações ao longo dos meses do ano e entre anos foram temperaturas mínimos ocorrem entre julho e agosto com
realizadas utilizando-se, do posto pluviométrico do município 17,6ºC e os meses de dezembro a abril a temperatura mínima

Tabela 1. Elementos climáticos calculados, observados e estimados para a área de estudo


Parâmetros/Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
Temperatura máxima 32,4 31,8 31,2 30,5 29,3 28,2 27,9 29,1 30,6 32,2 32,9 33,0 30,8
Temperatura mínima 20,6 20,6 20,5 20,3 19,6 18,6 17,7 17,7 18,7 19,5 20,1 20,6 19,5
Temperatura média 25,3 25,0 24,6 24,3 23,5 22,5 22,1 22,4 23,4 24,4 25,0 25,4 24,0
Amplitude térmica 11,8 11,2 10,7 10,2 9,7 9,6 10,2 11,4 11,9 12,7 12,8 12,4 11,2
Umidade relativa do ar 62,0 65,0 67,0 66,0 69,5 70,0 70,3 62,0 59,0 58,0 57,0 62,0 64,0
Intensidade do vento 1,6 1,4 1,5 1,0 2,4 2,0 1,8 1,9 2,0 1,8 1,6 1,7 1,7
Direção do vento NE NE NE NE NE-SE NE-SE NE-SE NE NE-SE NE-SE NE-SE NE-SE NE-SE
Evaporação 33,3 59,8 93,3 88,6 54,8 34,5 23,8 9,9 2,8 6,0 6,7 12,8 426,3
Evapotranspiração 119,6 107,9 113,7 104,2 95,8 80,4 77,4 81,2 90,1 107,7 114,2 124,2 1216,4
Insolação total 220,1 200,0 199,9 174,2 173,2 150,1 120,0 149,7 182,2 210,5 215,2 198,0 2193,1
Nebulosidade 0,61 0,64 0,71 0,71 0,70 0,70 0,70 0,50 0,21 0,11 0,19 0,21 0,59
Precipitação máxima 280,8 338,9 449,0 477,6 409,7 188,1 98,6 99,4 25,8 237,0 167,0 126,1 2898,0
Precipitação mínima 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Precipitação histórica 33,3 59,8 93,3 88,6 54,8 34,5 23,8 9,9 2,8 6,0 6,7 12,8 426,3
Desvio padrão da precipitação 50,8 63,4 89,2 83,6 55,4 34,2 23,1 18,1 6,1 29,3 20,1 32,7 506,0
Deficiência hídrica 86,4 48,2 20,4 15,6 41,0 45,9 53,6 71,2 87,4 101,8 107,5 111,4 790,4
Excedente hídrico 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Adaptado de Medeiros (2007).

Revista Educação Agrícola Superior - v.30, n.2, p.59-65, 2015.


Mês efetivo de circulação deste número: dezembro/2015.
Análise hidroclimática da região de São João do Cariri-PB 63

Figura 4. Precipitações pluviométricas médias, máximas e mínimas absolutas mensais (mm) e temperaturas mensais média,
máxima e mínima do ar (oC)

oscila entre 20,2 a 20,6ºC. A temperatura máxima ocorre nas relativas menores são setembro, outubro e novembro e sua
faixas de 21,6 a 22,6ºC entre os meses de setembro a abril. oscilação varia entre 56,0 a 60%, a umidade relativa do ar
Os dados de quantificação da Insolação são necessários anual no município de São João do Cariri é 64% (Figura 5B).
para o desenvolvimento de estudos Agrometeorológico A evapotranspiração (ETP), fenômeno de transferência de
(ramo da meteorologia aplicada que investiga respostas água e de calor para a atmosfera, é um importante parâmetro
dos organismos vivos ao meio atmosférico), cujo objetivo para se relacionar à dinâmica da atmosfera ou o clima do
busca obter uma melhor integração dos cultivos agrícolas Nordeste já que, nestas regiões, a taxa de evapotranspiração
aos recursos climáticos. Particularmente o seu efeito sobre o é alta, causando adaptações do solo e da cobertura vegetal
comportamento do desenvolvimento vegetal no que se refere (SILVA, 1977). As temperaturas na região nordeste são
à fotossíntese, evapotranspiração, fisiologia de plantas e elevadas, a umidade relativa do ar é baixa e as precipitações
desenvolvimento de pragas e doenças. pluviométricas são inferiores a evapotranspiração potencial
Mais recentemente, o dado sobre Insolação vem sendo caracterizando um acentuado déficit hídrico.
avaliados com grande interesse quanto a seus efeitos adversos A evaporação (EVR) e evapotranspiração (ETP) foram
sobre plantas, animais e seres humanos, causados pela radiação estimadas a partir da fórmula de Thornthwaite & Mather (1955),
ultravioleta em função da redução da camada de ozônio (Barret por ser uma das equações que melhor explica o fenômeno no
& Curtis, 1992). semiárido paraibano. Observar-se na Figura 6 a variabilidade
Devido à sua posição geográfica, os raios solares incidem
quase diretamente sobre a microbacia hidrográfica da área
estudada durante todo o ano. A quantidade de insolação que
atinge a superfície do solo mínima apresenta valores médios
mensais oscilando entre 120,0 a 174,2 horas/meses ocorrendo
entre os meses de abril a agosto, já nos meses de setembro a
março ocorrem as maiores incidências de isolação a superfície
com flutuação variando de 182,2 a 220,1 horas/meses. O mês
de julho (120,0 hora/mês) é o de baixa insolação e o mês de
janeiro (220,1 hora/mês) e de alta insolação no município de
São João do Cariri (Figura 5).
A umidade relativa do ar média mensal oscila ao longo
do ano em conformidade com a cobertura da nebulosidade. O Figuras 6. Valores da precipitação histórica,
trimestre mais úmido ocorre nos meses de maio, junho e julho evapotranspiração média mensal; evaporação real média
com flutuação entre 69,0 a 70,3%, os meses com umidades mensal de São João do Cariri

Figura 5. Insolação total média mensal (a) umidade relativa do ar média mensal (b) da área em estudo
Revista Educação Agrícola Superior - v.30, n.2, p.59-65, 2015.
Mês efetivo de circulação deste número: dezembro/2015.
64 Raimundo M. de Medeiros et al.
da evapotranspiração mês a mês para o município estudado, As águas subterrâneas não são suficientes e também não
e ETP mínima ocorrem nos meses de maio a setembro com apresentam qualidade satisfatória para uso doméstico e para
flutuação entre 77,4 a 95,8 mm/mês, ao passo que os meses outros fins. No entanto, a agricultura praticada é a de cerqueiro,
de outubro a abril os índices evapotranspirados elevam-se pois o uso da água subterrânea é restrito para fins agrícolas, por
significativamente com flutuação entre 104,2 (abril) a 124,2 isso não permite uma exploração mais eficiente desse recurso.
(mm/mês) em dezembro. A evaporação mínima ocorre nos Esse quadro mostra a necessidade da intervenção do poder
meses de agosto a dezembro com flutuações entre 2,8 mm/ público para a implementação de uma política de gestão, de
mês (setembro) a 12,8 mm/mês em dezembro. Já os meses forma que a população desta área possa desfrutar desse recurso
de janeiro a julho a variabilidade da EVR apresenta-se com de forma sustentável.
grandes oscilações fluindo de 26,8 mm/mês (junho) a 93,3 Apresentando, em geral, um potencial hidrogeológico muito
mm/mês em março. fraco, pois os aquíferos estão restritos às zonas fraturadas. Essa
A Figura 6 mostra o Balanço hídrico climático, para o deficiência está relacionada diretamente com as condições de
município de São João do Cariri no período de 1911-2011. ocorrência e circulação das águas subterrâneas, que é agravada
Observa-se que o regime de chuvas anual, com uma estação em função das características do clima semiárido que provoca
seca bem definida, associado à má distribuição das chuvas taxas elevadas de salinidade nas águas.
durante a estação chuvosa e à pobreza de nutrientes dos solos, Sugerem-se construções de cisternas caseiras para a
em geral, exige alto nível técnico para a produção agrícola. captação das águas das chuvas, visando uma melhoria da
São João do Cariri tem uma média pluviométrica anual
qualidade da água para o consumo humano.
de 426,3 mm com 100 anos de observação pluviométrica, sua
evapotranspiração potencial e aproximadamente quatro vezes
AGRADECIMENTOS
o valor dos índices pluviométricos, a evaporação real segue
os índices de chuvas, ocorrem deficiência hídrica em todos os
Os autores agradecem a CAPES e ao CNPq/Fapesq pela
meses do ano e não ocorrem excedentes hídricos.
concessão de bolsa de estudo e pesquisa.

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CONCLUSÕES
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O diagnóstico concretizado neste estudo representa uma 2004.
aproximação das potencialidades da área estudada, em termos DANTAS, J. R. A & CAULA, J. A. L. Estratigrafia e
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seca bem definida, associado à má distribuição das chuvas de informações geográficas. Dissertação de Mestrado.
durante a estação chuvosa (fevereiro a junho) e a pobreza de Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da
nutrientes dos solos, em geral, exigem alto nível técnico para Paraíba. Areia, 2010.
a produção agrícola, sendo recomendável a adoção de práticas HORIKOSHI, A. S.; FISCH, G. Balanço Hídrico Atual e
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