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Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
Bernadete Radin 1, Ronaldo Matzenauer 2, Ricardo Wanke de Melo 3, Marcos Silveira Wrege 4, Silvio Steinmentz 5
1, 2
Pesquisador(a), Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária - SEAPI, Porto Alegre, RS, bernadete-
radin@agricultura.rs.gov.br; ronaldo-matzenauer@agricultura.rs.gov.br ; 3Prof., Faculdade de Agronomia - UFRGS,
Porto Alegre, RS, ricardo.wanke@ufrgs.br; 4Pesquisador, Embrapa Florestas, Colombo, PR, marcos.wrege@embrapa.br;
5
Pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS silvio.steinmetz@embrapa.br
ABSTRACT
The knowledge of the volume of precipitation occurred in a region is so important as the knowledge of its temporal
distribution. The objective of this paper was to quantify the seasonal occurrence of precipitation in the regions of Rio
Grande do Sul State, Brazil. Monthly data of 28 meteorological stations were used from January 1961 to December 2010,
belonging to the monitoring networks of the SEAPI/RS and the INMET/MAPA. The results showed that rainfall
distribution is approximately uniform between the four seasons of the year, being higher in spring, with 27% of the annual
total, followed by summer with 25%, and autumn and winter with 24% each, considering the average of all regions. This
distribution, however, is different within each of the analyzed regions.
Keywords: variability, climatic risks, rain.
cada região e em cada bacia hidrográfica (Andrade dezembro de 2010, provenientes da Secretaria da
e Neri, 2011; Soares et al., 2014). Agricultura, Pecuária e Irrigação - SEAPI/RS e do
O estado do Rio Grande do Sul se destaca 8º Distrito de Meteorologia, do Instituto Nacional
pela produção agropecuária e o seu PIB (Produto de Meteorologia - INMET/Ministério da
Interno Bruto) é diretamente influenciado pelo Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os dados
desempenho das safras agrícolas. A variabilidade foram analisados quanto à completude, existência
nos rendimentos das culturas tem sido diretamente de erros e consistência. As falhas, sempre que
influenciada pela variabilidade interanual dos existentes, foram corrigidas pelo método de
elementos meteorológicos, principalmente pela triangulação ponderada (Tubelis e Nascimento,
precipitação pluvial (Berlato e Fontana, 1999). O 1980).
Estado localiza-se no sudeste da América do Sul, e A soma da precipitação dos meses de
está sujeito à atuação de forçantes climáticas de dezembro-janeiro-fevereiro (verão), março-abril-
diversas escalas espaço-temporais, tais como os maio (outono), junho-julho-agosto (inverno) e
padrões de variabilidade climática El Niño setembro-outubro-novembro (primavera) foi
Oscilação Sul, Oscilação Antártica e Oscilação utilizada para fazer a análise sazonal de cada uma
Decadal do Pacífico (Britto et al., 2008). das estações. Após, os dados foram agrupados
O conhecimento do volume de dentro de cada região ecoclimática (Figura 1 e
precipitação ocorrido em cada região é tão Tabela 1). Como não haviam estações
importante quanto sua distribuição temporal. O meteorológicas na região da Encosta Inferior da
objetivo deste trabalho foi quantificar a ocorrência Serra do Nordeste, os dados de precipitação não
sazonal da precipitação pluvial nas diferentes foram analisados naquela região.
regiões Ecoclimáticas do Rio Grande do Sul. Inicialmente foram identificadas quais as
regiões com maiores volumes de precipitação
Material e métodos pluvial anual. Posteriormente, dentro de cada
Foram utilizados dados mensais de 28 região, foi analisado o padrão sazonal de
estações meteorológicas do Estado do Rio Grande distribuição da precipitação pluvial e, então,
do Sul, agrupados em doze (12) regiões calculados os desvios da precipitação em relação à
ecoclimáticas, conforme classificação de Maluf e média do período estudado.
Caiaffo (2001), no período de janeiro de 1961 até
8
7 9
2
12
5
3 4
11 10
Figura 1. Regiões Ecoclimáticas do Rio Grande do Sul: 1. Alto e Médio Vale do Uruguai; 2. Baixo Vale do
Uruguai; 3. Campanha; 4. Depressão central; 5. Litoral Norte; 6. Litoral Sul; 7. Missioneira; 8. Planalto Médio;
9. Planalto Superior Serra do Nordeste; 10. Grandes Lagoas; 11. Serra do Sudeste e 12. Encosta inferior da
Serra do Nordeste. Adaptado de Maluf e Caiaffo (2001).
Tabela 1. Regiões ecoclimáticas, estações meteorológicas e respectivas coordenadas geográficas.
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Longitude Altitude
Região Ecoclimática Município Latitude (S)
(O) (m)
Alto e Médio Vale do Iraí 27º11’45” 53º14’01” 227
Uruguai Santa Rosa 27º05’09” 54º26’41” 330
Baixo Vale do Uruguai São Borja 28º39’44” 56º00’44” 99
Bagé 31º20’13” 54º06’21” 216
Quarai 30º23’17” 56º26’53” 100
Campanha Santana do Livr. 30º53’18” 55º31’56” 210
São Gabriel 30º20’27” 54º19’01” 109
Uruguaiana 29º45’23” 57º05’12” 69
Cachoeirinha 29º57’03” 51º07’25” 5
Porto Alegre 30º01’53” 51º01’53” 10
Depressão Central
Santa Maria 29º41’25” 53º48’42” 138
Taquari 29º48’15” 51º49’30” 76
Maquiné 29º40’49” 50º13’56” 32
Litoral Norte
Torres 29º20’34” 49º43’39” 43
Rio Grande 32º01’44” 52º05’40” 8
Litoral Sul
Santa Vitória do 33º31’14” 53º21’47” 6
Palmar
Ijuí 28º23’17” 53º54’50” 448
Missioneira
São Luiz Gonzaga 28º23’53” 54º58’18” 254
Cruz Alta 28º38’31” 53º36’34” 473
Planalto Médio Erechim 27º37’45” 52º16’33” 760
Júlio de Castilhos 29º13’26” 53º40’45” 514
Passo Fundo 28º15’39” 52º24’33” 678
Bom Jesus 28º40’08” 50º26’29” 1.048
Planalto Superior e Serra do
Cambará do Sul 29º02’55” 50º08’56” 905
NE
Caxias do Sul 28º08’31” 50º59’12” 840
Veranópolis 28º56’14” 51º33’11” 705
Região das Grandes Lagoas Pelotas 31º45’00” 52º21’00” 7
Serra do Sudeste Encruzilhada do Sul 30º32’35” 52º31’20” 420
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2000
1805 1802
1770 1748
a a a a 1591 1570 1566
1518 1449
Precipitação pluvial anual (mm)
1500 b b b bc 1386
bc
cd 1250
d
Alto e Médio Vale do Uruguai
1000
Depressão Central
Serra do Sudeste
Planalto Superior
Grandes Lagoas
Planalto Médio
500
Litoral Norte
Missioneira
Campanha
Litoral Sul
0
Figura 2: Distribuição da precipitação pluvial anual nas Regiões Ecoclimáticas do Estado do Rio Grande do
Sul, RS. Fonte de dados FEPAGRO/SEAPI e INMET no período de 1961-2010. Médias seguidas pelas
mesmas letras não diferem significativamente entre si pelo teste de Tuckey ao nível de 5% de probabilidade.
Os maiores valores de precipitação médios outono e inverno, as quais não diferem entre si. O
estacionais foram verificados na região do Alto e mesmo ocorre com as regiões Missioneira e do
Médio Vale do Uruguai, Planalto Superior e região Planalto Médio. O maior valor de precipitação,
Missioneira, com valores de 520mm e 514mm nos nessa época do ano, é atribuído a formação dos
dois últimos casos, respectivamente, durante a Complexos Convectivos de Mesoescala (Britto et
primavera. Os menores volumes estacionais foram al., 2006). Segundo os autores, durante a
observados no Litoral Sul durante a primavera e na primavera, o Rio Grande do Sul é regularmente
Campanha e no Baixo Vale do Uruguai durante o invadido por ventos de noroeste e sudoeste,
inverno, com 289mm, 275mm e 295mm, ocorrendo frequentes formações de Complexos
respectivamente. Convectivos de Mesoescala (CCM’s). Isso é
Durante a estação do verão, a maior média corroborado por Velasco e Fritsch (1987), os quais
foi na região do Planalto médio, com 472mm, concluem que estes sistemas são responsáveis por
seguida do Litoral Norte, com 465mm e Alto e significativa parcela da precipitação pluviométrica
Médio Vale do Uruguai com 457mm. O outono, na primavera, que ocorre no noroeste do Rio
apresentou média sazonal de precipitação entre Grande do Sul, acarretando em índices
311mm no Litoral Sul até 450mm no Baixo Vale pluviométricos mais elevados neste período em
do Uruguai. São Luiz Gonzaga (Missioneira) e Cruz Alta
No inverno, na média, a região da Serra do (Planalto Médio). Provavelmente a distribuição
Sudeste é a que apresentou a maior precipitação, espacial das chuvas nestas áreas ocorre em função
438mm. Na região do Alto e Médio Vale do da dinâmica atmosférica contribuindo para maior
Uruguai, chove mais na primavera, sendo produção de chuvas.
estatisticamente superior as estações do verão,
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Precipitação (%)
30 30
a a a a ab
b b b b b b b
20 b b b 20
c
10 10
0 0
P V O I P V O I P V O I P V O I
Precipitação (%)
Precipitação (%)
30 30
a a
a a a a
a a b b
20 a a b b b 20
b
10 10
0 0
P V O I P V O I P V O I P V O I
Precipitação (%)
Precipitação (%)
30 30
a a a
a a a a ab ab
20 a b 20
b
10 10
0 0
P V O I P V O I P V O I
O Planalto Superior apresenta a maior caracteriza como uma parcela de ar com elevadas
média na primavera, mas não difere do verão. A temperaturas e umidade na superfície, no entanto,
menor precipitação sazonal ocorre no outono. sofre persistente subsidência causada pelo
No Litoral Norte é no verão que ocorre o Anticiclone Permanente do Atlântico Sul,
maior volume de precipitação, diferindo ocasionando tempo instável próximo ao litoral e
estatisticamente das demais estações do ano. dificultando a entrada de frentes frias, nessa
Segundo Britto et al. (2006) na parte nordeste do estação do ano.
Estado o verão é mais chuvoso, em função das No Baixo Vale do Uruguai e na Campanha,
chuvas convectivas associadas a sistemas observa-se tendência de maior precipitação no
atmosféricos, como a Zona de Convergência do outono. Segundo Britto et al. (2006) é nesta estação
Atlântico Sul. Também para esta região do Estado, que as massas Tropicais Continentais tornam-se
Britto et al. (2008) verificaram, em séries históricas mais ativas, quando ocorrem os bloqueios
de 1968 a 1998, que estações pluviométricas atmosféricos, fazendo com que as frentes polares
instaladas nos municípios de Torres e Bom Jesus fiquem estacionadas ao sul do Rio Grande do Sul,
tiveram seus valores máximos de precipitação causando maiores volumes nessas regiões.
pluvial nos meses de verão, com 415 mm e 486 No Planalto Superior, o outono apresenta
mm, respectivamente. menor valor de precipitação, e, apesar de não ter
Segundo Gross e Cassol (2015), o Rio apresentado diferença estatística, também se
Grande do Sul, no verão, sofre predominantemente observam menores valores de precipitação no
a ação da Massa Tropical Marítima, a qual se outono no Planalto Médio, Serra do Sudeste e
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Desvio da precipitação durante a primavera (mm)
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Baixo Vale do Uruguai Missioneira Serra do Sudeste
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Litoral Norte Litoral Sul Campanha
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Depressão Central Grandes Lagoas
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1960 1970 1980 1990 2000 2010 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Figura 4. Desvio da precipitação pluvial durante a primavera nas regiões ecoclimáticas do Rio Grande do Sul
(1961-2010).
Durante a primavera (Figura 4) as maiores anos o Estado estava sob a influência do El Niño,
anomalias positivas foram nos anos de 1963, 1997, que segundo Berlato e Fontana (2003), ocorrem,
2002 e 2009, para a maioria das regiões. Nesses em geral, anomalias positivas de precipitação
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Desvio da precipitação durante o verão (mm)
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Baixo Vale do Uruguai Missioneira Serra do Sudeste
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Litoral Norte Litoral Sul Campanha
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Depressão Central Grandes Lagoas
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1960 1970 1980 1990 2000 2010 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Figura 5. Desvio da precipitação pluvial durante o verão (mm) nas regiões ecoclimáticas do Rio Grande do
Sul (1961-2010).
No outono, os maiores desvios positivos ou foram no ano de 1972 (Figura 7), podendo-se
negativos de precipitação pluvial foram em concluir que, neste ano, tenha sido o inverno mais
diferentes anos (Figura 6), como isso pode-se chuvoso do estado do Rio Grande do Sul dentro do
inferir que, os sistemas que atuam sobre o Estado, período analisado neste trabalho.
nessa época do ano, são mais localizados.
Os maiores desvios de precipitação pluvial
observados no inverno na maioria das regiões
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Desvio da precipitação durante o outono (mm)
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Litoral Norte Litoral Sul Campanha
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Depressão Central Grandes Lagoas
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1960 1970 1980 1990 2000 2010 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Figura 6. Desvio da precipitação pluvial durante o outono (mm) nas regiões ecoclimáticas do Rio Grande do
Sul (1961-2010).
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600 Alto e Médio Vale do Uruguai Planalto Médio Planalto Superior
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Desvio da precipitação durante o inverno (mm)
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Baixo Vale do Uruguai Missioneira Serra do Sudeste
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Litoral Norte Litoral Sul Campanha
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Depressão Central Grandes Lagoas
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Figura 7. Desvio da precipitação pluvial durante o inverno (mm) nas regiões ecoclimáticas do Rio Grande do
Sul (1961-2010).
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