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XVI SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE

15º SIMPÓSIO DE HIDRÁULICA E RECURSOS HÍDRICOS DOS PAÍSES


DE LÍNGUA PORTUGUESA

ANÁLISE DE TENDÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO TOTAL MENSAL POR UM


MÉTODO INOVADOR NO MUNICÍPIO DE RECIFE, PERNAMBUCO

Jonas Onis Pessoa 1; Anderson Matheus de Sousa Lima 2; Ruan Oliveira Fernandes 3; Artur Paiva
Coutinho 4 & Anderson Luiz Ribeiro de Paiva 5

RESUMO – Um dos desafios mais complexos do ponto de vista ambiental, social e econômico deste
século são os impactos causados pelas mudanças climáticas em todo o mundo. Por isso, torna-se
urgente pesquisar e desenvolver ferramentas que permitam conhecer as tendências de
hidrometeorologias futuras e mecanismos institucionais para adaptar-se às mudanças. Neste contexto,
o presente estudo tem como objetivo principal avaliar as tendências no comportamento da
precipitação mensal total na cidade do Recife. Para tanto, aplicou-se na série história de 57 anos de
dados pluviométricos da estação localizada no Curado/Recife os métodos tracionais de Mann-Kendall
e Estimador de Sen, bem como a Análise Inovadora de Tendências proposta por Sen. Os resultados
revelaram que tendências decrescentes foram observadas em 1 dos 12 meses analisados na série
histórica do posto pluviométrico, enquanto nenhum mês mostrou tendência crescente, para o teste de
tendência MK. Os resultados do método inovador indicaram que tendências crescentes foram
observadas em 7 dos 12 meses, enquanto 5 meses mostraram tendências decrescentes, em relação ao
pico de precipitação total mensal. De acordo com as baixas precipitações totais mensais, 2 meses
tiveram tendência de aumento enquanto 6 meses apresentaram tendência decrescente.

ABSTRACT – One of the most complex environmental, social and economic challenges of this
century is the impacts caused by climate change around the world. Therefore, it is urgent to research
and develop tools that allow us to know the trends of future hydrometeorologies and institutional
mechanisms to adapt to the changes. In this context, the main objective of this study is to evaluate
trends in the behavior of total monthly precipitation in the city of Recife. To do so, the 57-year
historical series of rainfall data from the station located in Curado/Recife were applied, the traditional
methods of Mann-Kendall and Sen's Estimator, as well as the Innovative Trend Analysis proposed
by Sen. The results revealed that decreasing trends were observed in 1 of the 12 months analyzed in
the historical series of the pluviometric station, while no month showed an increasing trend, for the
MK trend test. The results of the innovative method indicated that increasing trends were observed
in 7 of the 12 months, while 5 months showed decreasing trends, in relation to the peak of monthly
total precipitation. According to the low monthly total rainfall, 2 months showed an increasing trend
while 6 months showed a decreasing trend.

Palavras-Chave – Eventos extremos; análise de tendências inovadora; chuva.


1
) Doutorando do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil - PPGEC (Recursos Hídricos), Universidade Federal de Pernambuco - UFPE,
Avenida da Arquitetura, s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, CEP: 50740-550, jonas.pessoa@ufpe.br
2
) Mestrando do PPGEC/UFPE (Recursos Hídricos), Av. da Arquitetura, s/n, Cidade Univ., Recife/PE, CEP: 50740-550, anderson.mlima@ufpe.br
3
) Mestrando no Mestrado Profissional em Rede, Gestão e Regulação de Recursos Hídricos, vinculado a UFPE, ruanfernandes40@gmail.com
4) Professor do Núcleo de Tecnologia, do Centro Acadêmico do Agreste, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental –

PPGECAM/UFPE, e do PPGEC/UFPE, Campus Agreste. arthur.coutinho@ufpe.br


5) Professor do Dept. Engenharia Civil e Ambiental – DECIV, do PPGECAM e PPGEC, UFPE, Av. da Arquitetura, s/n. Cidade Universitária, Recife,

PE, anderson.paiva@ufpe.br.
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1 - INTRODUÇÃO

As variações de precipitação estão diretamente relacionadas com os eventos extremos e são um


fator chave para entender um clima em mudança (WU et al., 2022). Deste modo, identificar
precisamente as tendências de precipitação, bem como entender se essas mudanças são abruptas ou
graduais contribui para a gestão eficiente e eficaz dos recursos hídricos (SEN, 2012).
Dentro desta perspectiva, Silva et al. (2017) destacam a análise de tendências de séries
históricas de precipitações como uma ferramenta que auxilia na avaliação das consequências das
mudanças climáticas sobre a bacia hidrográfica, na escala local e regional. Dentre os métodos
clássicos utilizados nas análises de tendência estão os testes estatísticos de parâmetros como Análise
de Regressão Linear – LRA e Anomalias Cumulativas e, os testes estatísticos não paramétricos como
Spearman Rho – SR, Estimativa de Inclinação de Sen e Mann-Kendal – MK, sendo este último um
dos mais utilizados (WU et al., 2022).
Desde os trabalhos pioneiros de Mann (1945) e Kendall (1975), o número de pesquisas de
tendências tem aumentado. Neste sentido, Sen (2012) propôs um método de Análise Inovadora de
Tendências – ITA, que busca suprir as dificuldades com as premissas restritivas apresentadas pelos
métodos clássicos como a estrutural serial da série temporal, a normalidade da distribuição das
variáveis, a extensão do conjunto de dados, bem como a impossibilidade da identificação da
contribuição de valores baixos e altos na tendência detectada. Além disso, o método ITA permite
avaliar graficamente os valores baixos, médios e altos do parâmetro analisado (CALOIERO, 2019).
Por essas razões, este método tem ampla área de aplicação dentro da hidrologia sendo frequente objeto
de estudo.
Este fato aponta uma vantagem em usar a Análise Inovadora de Tendências em estudos de
variabilidade pluviométrica no Brasil, dado a ineficiência e limitações no monitoramento
hidrometeorológico da rede nacional. Apesar disso, esta ferramenta é pouco explorada,
principalmente quando se trata da análise de tendências de precipitação total mensal, uma vez que
ainda não há esse tipo de estudos para pesquisas brasileiras e até para estudos em outros países existe
pouca aplicação, o que traz originalidade e relevância para o tema proposto neste trabalho. Diante
disso, utilizando o método ITA de Sen (2012) e os métodos clássicos de MK e estimador de Sen, a
presente pesquisa tem como objetivo avaliar as tendências no comportamento da precipitação mensal
total no município de Recife durante o período de 1962 a 2019 (57 anos). O município do Recife está
contido na bacia hidrográfica do rio Capibaribe, uma das mais importantes do estado, sendo marcada
historicamente por grandes tragédias naturais relacionadas a eventos climáticos extremos
(SALGUEIRO et al., 2014; ALCÂNTARA et al., 2019; ALCÂNTARA et al., 2020).
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2 - METODOLOGIA

2.1 - Caracterização da área de estudo

A área de estudo compreende a cidade do Recife, capital de Pernambuco, na Região Nordeste,


sendo a maior área urbana do estado (Tabela 1). Recife ocupa a 16ª posição em um ranking que elenca
as cidades mais vulneráveis as mudanças climáticas no mundo elaborado pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática - IPCC, em função das suas condições geográficas, alta
densidade demográfica, elevado grau de urbanização e o histórico de eventos extremos hidrológicos,
com ocorrências de inundações e deslizamentos (IPCC, 2014; RECIFE, 2020; RECIFE, 2019).

Tabela 1 – Aspectos gerais da área de estudo, Recife/PE.


Latitude 8º 04’ 03’’ S População 1.661.017 habitantes
Longitude 34º 55’ 00’’ O Área territorial 218,84 km²
Altitude 2,5 a 5m Clima Tropical úmido
Precip. média anual 2.000mm Temp. média mensal 18º C a 30º C
Fonte: Recife (2020); IBGE (2021).

Na Figura 1, abaixo, ilustra-se a localização da capital pernambucana, diante do estado, bem


como onde estão situados a sede municipal e a estação pluviométrica dentro do município.

Figura 1 – Mapa de localização do posto pluviométrico em estudo. Fonte: Autores (2022).


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2.2 - Obtenção dos dados pluviométricos

Os dados foram obtidos do posto pluviométrico do Curado, localizado na cidade do Recife,


com série histórica de dados de chuva relativo ao período de 1962 a 2019. Os dados pluviométricos
coletados foram oriundos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 2022).
Em seguida, as falhas de dados identificadas nas séries históricas foram preenchidas pelo
método de média histórica mensal, onde, de modo geral, se em um determinado ano a série
pluviométrica apresenta falhas em até dois meses, é adotado para esses meses a precipitação média
histórica mensal respectiva (RÍO et al., 2011; DEBORTOLI et al., 2015).

2.3 - Análises de tendências de precipitações

Na etapa de análise de tendência foram utilizados três métodos: i) o método ITA proposto por
Sen (2012); ii) o método clássico MK; e, iii) o Estimador Sen. Todos foram aplicados ao nível de
significância de 5%, ao passo que, quando o p-valor resultante for menor do que 0,05, a série
analisada possui tendência estatisticamente significante.
O teste não paramétrico de Mann-Kendal para uma série de valores com dimensão n, dados os
valores xi e xj nos tempos i e j, respectivamente, com j>i, a estatística MK (S) é obtida através das
Equações 1 e 2 (Tabela 2).
Se S for um valor positivo indica uma tendência crescente, caso seja S seja um valor negativo
indica uma tendência decrescente. Em casos que n ≥ 10, os dados seguem um padrão normal de
distribuição com média zero. Sendo assim, a variância é dada pela Equação 3 (Tabela 2), onde P é o
número de grupos empatados (dados iguais em séries temporais) e ti é a quantidade de repetições de
valores iguais i. Após o cálculo da variância através da Equação 3 (Tabela 2), o valor padrão (ZMK)
é calculado através da Equação 4 (Tabela 2).
Também, foi aplicado um outro teste não paramétrico no conjunto de dados analisado. O
estimador de Sen (1968) consiste na estimativa da inclinação de N pares de dados, por meio da
Equação 5 (Tabela 2), que posteriormente são ranqueados em ordem crescente e calculada a mediana
desses valores para se obter o estimador, pela Equação 6 (Tabela 2).
Para ambos os métodos clássicos a manipulação e processo dos dados foram efetuados em
linguagem Python versão 3.10.2. Maiores detalhes sobre as aplicações dos métodos MK e Estimador
Sem, podem ser consultados em Mann (1945), Kendall (1975) e Ay e Kisi (2015).

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Tabela 2 – Equações utilizadas pelos métodos de análise de tendência
𝑆−1
; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑆 > 0
1; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥𝑗 > 𝑥𝑖 √𝑉𝑎𝑟(𝑆)
𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙(𝑥𝑗 − 𝑥𝑖 ) = { 0; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥𝑗 = 𝑥𝑖 (1) 𝑍𝑀𝐾 = 0; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑆 = 0 (4)
−1; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑥𝑗 < 𝑥𝑖 𝑆+1
; 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑆 < 0
{ √𝑉𝑎𝑟(𝑆)
𝑛−1
𝑥𝑗 − 𝑥𝑘
𝑆 = ∑ 𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙(𝑥𝑗 − 𝑥𝑖 ) (2) 𝑄𝑖 = (5)
𝑗−𝑘
𝑖=1

𝑁+1
; 𝑁 𝑓𝑜𝑟 í𝑚𝑝𝑎𝑟
𝑛(𝑛 − 1)(2𝑛 + 5) − ∑𝑃𝑖=1 𝑡𝑖 (𝑡𝑖 − 1)(2𝑡𝑖 + 5) 2
𝑉𝑎𝑟(𝑆) = (3) 𝑄𝑚𝑒𝑑 = { (6)
18 1 𝑁 𝑁+2
( + ) ; 𝑁 𝑓𝑜𝑟 𝑝𝑎𝑟
2 2 2
Fonte: Adaptado de Ay e Kisi (2015).

Por fim, a aplicação do método ITA seguiu a metodologia proposta por Sen (2012). Inicialmente
os dados foram organizados em planilha eletrônica no software Excel e a série histórica da primeira
até a data final dividida em duas partes de tamanhos iguais organizadas em ordem crescente.
Posteriormente, foi elaborado um gráfico de dispersão em sistema de coordenadas cartesianas, onde
a primeira série de dados foi disposta no eixo x e a segunda parte no eixo y.
A análise de tendência da precipitação é feita a partir deste gráfico considerando três situações:
(1) Se os dados se concentram na linha 1:1 (45º) indica que não há tendência na série histórica. (2)
Se os dados estão dispostos na área triangular abaixo da linha 1:1 (45º), significa que há uma
tendência decrescente nos dados analisados. (3) Se os dados estiverem na área triangular superior da
linha 1:1, pode-se dizer que há uma tendência crescente dos dados pluviométricos (Figura 2).
90

Região de
Segunda metade da série ordenada

tendência
crescente Linha reta
1:1 (45°)
60

Região sem
tendências
30

Região de
tendência
decrescente
0

0 30 60 90
Primeira metade da série ordenada
Figura 2 – Representação gráfica do método ITA de Sen (2012). Fonte: Adaptado de Ay e Kisi (2015).

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos testes de Mann-Kendall e inclinação de Sen são apresentados na Tabela 3, ao


nível de significância de 5%, para precipitações totais mensais, no período que vai de 1962 a 2019,
em um posto pluviométrico situado no munícipio do Recife/Pernambuco. Nota-se que por meio do
teste de MK apenas o mês de março teve tendência significativa (p-valor 1,96). Para este mês, pode-
se aplicar o teste de inclinação de Sen, sendo verificado que houve um decréscimo de chuva de 1,83
mm/mês, sendo referente a uma redução de 104,31 mm no período analisado de 57 anos.

Tabela 3 – Testes de Mann-Kendall e Inclinação de Sen para a Estação Recife (Curado)


Período Z p-valor Tendência de Mann-Kendall Inclinação de Sen
Janeiro 0,952 0,341 Não significativa Não aplicado
Fevereiro -0,637 0,524 Não significativa Não aplicado
Março -2,22 0,026 Decrescente -1,83
Abril -0,597 0,550 Não significativa Não aplicado
Maio -0,711 0,477 Não significativa Não aplicado
Junho 0,583 0,559 Não significativa Não aplicado
Julho -0,529 0,596 Não significativa Não aplicado
Agosto 0,080 0,936 Não significativa Não aplicado
Setembro -1,70 0,088 Não significativa Não aplicado
Outubro 0,369 0,712 Não significativa Não aplicado
Novembro 0,101 0,919 Não significativa Não aplicado
Dezembro 0,181 0,856 Não significativa Não aplicado
Anual -1,247 0,212 Não significativa Não aplicado
Fonte: Autores (2022).

Na Figura 3, observa-se os resultados do método inovador de Sen, aplicado à estação


pluviométrica já mencionada. Pode-se dizer que, para os valores de pico de precipitação, existem
tendências crescentes nos meses de janeiro, fevereiro, maio, junho, setembro, outubro e dezembro,
enquanto as tendências decrescentes são exibidas em março, abril, julho, agosto e novembro.
Observando os baixos valores de precipitação, percebe-se que há tendências decrescentes de
diferentes graus em fevereiro, março, maio, junho, setembro e dezembro, enquanto a tendência de
aumento ocorre em janeiro e outubro.

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400
300

800
a) Janeiro b) Fevereiro c) Março

200
150

400
0

0
0 150 300 0 100 200 300 400 0 400 800

800
800
800

d) Abril e) Maio f) Junho

400
400
400
Precipitação (mm) 1991-2019

0
0

0 400 800 0 400 800 0 400 800

400
800
800

g) Julho h) Agosto i) Setembro

200
400
400

0
0

0 400 800 0 400 800 0 200 400


200
120
200

j) Outubro k) Novembro l) Dezembro


100
100

60
0
0

0 100 200 0 60 120 0 100 200


Precipitação (mm) 1962-1990
Figura 3 – Resultados do método ITA de Sen (2012) para precipitação total mensal (1962-2019) do posto
pluviométrico Recife (Curado). Fonte: Autores (2022).

De forma geral, é visto que existe uma certa consistência entre o método inovador e o MK, uma
vez que ambos evidenciaram tendências de diminuição na precipitação do mês de março (Tabela 3 e
Figura 3c).
Como já citado, uma relevante vantagem do método inovador de Sen está na identificação
visual de subtendências em valores baixos, médios e alto de chuva, as quais são em grande parte
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ocultadas nos métodos tradicionais, como o MK. Averiguando os valores baixos e de pico no gráfico
de Sen, pode-se realizar inferências significativas a respeito de possíveis tendências de episódios
extremos de seca e inundação em séries temporais de precipitação.
Relacionado a isto, é valido citar o caso de Recife e sua região metropolitana, que na primeira
metade do ano de 2022 foi fortemente marcada por desastres naturais devido as chuvas. Nesse período
de seis meses foram contabilizados, pela Secretaria de Defesa Social do estado, 128 mortes e mais de
9 mil desabrigados (Notícia veiculada pelo jornal Diário de Pernambuco, 6 de junho de 2022). Além
disso, as fortes chuvas causaram destruição às plantações e os agricultores contabilizam prejuízos, a
exemplo do mês de maio que teve média histórica de 328,90 mm, conforme destacou a Agência
Pernambucana de Águas e Clima – APAC (Notícia veiculada pelo jornal G1, 25 de maio de 2022).
Os acontecimentos acima relatados ocorreram onde a estação pluviométrica estudada neste
trabalho está localizada, bem como suas imediações, conforme Figura 1. A descrição feita ratifica a
importância da análise de tendências sobre conclusões a respeito de episódios extremos com chuvas,
já que pelo mês de maio (Figura 3e), vê-se que há o maior pico de precipitação em tendência crescente
quando comparado aos outros meses, semelhante ao que foi noticiado. Também, como os desastres
naturais foram marcados até a metade do ano, é possível ver que de todos os outros meses desse
período, junho (Figura 3f) foi o que apresentou comportamento parecido com maio, uma vez que
apresentou tendência de aumento para pico de precipitação total mensal.
A observação dos resultados do método inovador para a precipitação total mensal do posto
pluviométrico Recife (Curado), no período de 1962 a 2019, apresentou tendências crescentes tanto
para valores baixos quanto para valores de pico de precipitação para os meses de janeiro e outubro
(Figura 3a e 3j), dando um indicativo que tanto os eventos extremos de seca quanto de inundação
podem vir a ser mais acentuados nessa área com o passar do tempo.
Por fim, conforme posto na Tabela 3 a Figura 3, embora não tenha havido tendência na maioria
dos meses, segundo o Teste Mann-Kendall, tendências crescentes e decrescentes são vistas no método
inovador de Sen. Os resultados revelaram que tendências decrescentes foram observadas em 1 dos 12
meses analisados na série histórica do posto pluviométrico, enquanto nenhum mês mostrou tendência
crescente, para o teste de tendência MK. Os resultados do método inovador indicaram que tendências
crescentes foram observadas em 7 dos 12 meses, enquanto 5 meses mostraram tendências
decrescentes, em relação ao pico de precipitação total mensal. De acordo com as baixas precipitações
totais mensais, 2 meses tiveram tendência de aumento enquanto 6 meses apresentaram tendência
decrescente. Esses resultados fornecem detalhes sobre as tendências dos dados mensais de
precipitação total em termos de avaliação de valores baixos e de pico, além de ser entendido como
um aspecto diferente do teste de tendência MK.
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4 - CONCLUSÕES

De acordo com o teste de tendência MK, o mês de março foi o único que apresentou tendência
de diminuição estatisticamente significativa, enquanto nos outros meses não houve tendência
estatisticamente significativa (série temporal sem tendência). Pelo método de Şen, os valores
máximos e baixos dos doze meses foram particularmente avaliados, podendo-se dizer que os
resultados de Şen são mais claros do que os resultados do teste MK.
O estudo mostrou que o método de Sen tem várias vantagens em comparação com o teste de
tendência MK, em que uma delas está no conjunto de suposições, o qual pode ser analisado com
menor quantidade de dados e com distribuições distorcidas. Também, todos os intervalos de dados
podem ser fornecidos graficamente no sistema de coordenadas cartesianas; isso demonstra um poder
de inspeção visual e de comentários que podem ser tomados como base para outras interpretações.
Portanto, percebe-se a importância do método inovador para análise de tendências de eventos
extremos de chuvas na Estação Pluviométrica do Recife (Curado), já que trouxe diversas observações
acerca de picos e baixas de precipitação. Com isso, foi possível a comparação de desastres naturais
ocorridos em Recife e na sua região metropolitana, no mesmo ano de realização desta pesquisa
(2022), confirmando uma relação direta entre as informações e, assim, mostrando a viabilidade da
análise de tendências para interpretações desse tipo de episódio.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, pela concessão da


bolsa de estudo de doutorado ao primeiro autor. O segundo autor agradece a bolsa de pesquisa
concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

REFERÊNCIAS

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