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RESUMO
A agricultura é uma atividade primária que se desenvolve sob condições ambientais
específicas, sendo as alterações na vegetação, solo e clima questões que trazem reflexos
diretos para o seu desenvolvimento. Dessas condições, podemos destacar a escassez de
água como uma questão impactante à prática agrícola, podendo contribuir para perdas
econômicas e gastos não previstos pelos agricultores, principalmente para a agricultura
familiar. Partindo desse pressuposto, o presente trabalho busca compreender as
mudanças pluviométricas ocorridas no município de Campos dos Goytacazes no
período de 2014 e 2015, assim como perceber os impactos da estiagem ocorrida nos
anos de 2014 e 2015 na agricultura familiar no assentamento Ilha Grande, Campos dos
Goytacacazes. Para alcançar tal objetivo o presente trabalho realizará ora metodologias
de cunho quantitativo, ora qualitativo.
INTRODUÇÃO
Desde que o ser humano passou a desenvolver práticas sedentárias, o domínio
sobre os recursos hídricos e a tentativa de compreender os ciclos hidrológicos são
presentes. Isso ocorreu devido à necessidade da sociedade produzir seu próprio
alimento, deixando de ser apenas coletores e caçadores, para se tornarem agricultores e
criadores. Portanto as questões hídricas sempre estiveram imbricadas nos
desenvolvimento da sociedade.
Na atualidade, o desenvolvimento e o domínio de diferentes técnicas e
tecnologias que permitem o controle de recursos hídricos, assim como uma previsão das
condições atmosféricas são essências nas práticas agrícolas. Todavia, a utilização das
técnicas e tecnologias assim como o acesso água não é igualmente acessível para todos
os modelos de agricultura, sendo os agricultores mais pobres os mais suscetíveis a
problemas relacionadosà seca, aos longos períodos de estiagem ou intensas chuvas.
Em particular, a questão da seca foi historicamente e socialmente assimilada à
Região Nordeste, mas precisamente na sub-região do Sertão Nordestino, cujo clima
predominante é o semiárido tendo medias pluviométricas inferiores a 800 mm ao ano,
contudo um evento de alterações climáticas assolou a Região Sudeste entre os anos de
2014 e 2015, seus reflexos no abastecimento de água na cidade de São Paulo, através da
diminuição do nível do sistema Cantareira e em outros pontos dos estados do Sudeste,
foram alarmantes e muito divulgados na mídia, principalmente a televisiva
(QUINTSLR, 2018).
Segundo Marengo et Al (2015), como principal causa física para tal estiagem
podemos indicar a atuação de um sistema de alta pressão atmosférica que afetou o
transporte das massas de ar oriundas da região amazônica e o desenvolvimento da Zona
de Convergência do Atlântico Sul e das frentes frias, que atuam no clima da Região
Sudeste ocasionando chuvas.
Todavia não podemos apontar apenas as questões climáticas como responsáveis
pelo desenvolvimento de uma severa estiagem, pois está realidade é resultado de
diferentes fatores, como a má administração dos recursos hídricos, a falta de políticas
públicas de abastecimento de água e tratamento de esgoto para a população, assim como
o modelo de produção agrícola respaldado nos preceitos da Revolução Verde e do
modelo industrial, que trouxe uma série de impactos ambientais e sociais.
Os impactos da estiagem na agricultura, em particular na agricultura
desenvolvida por pequenos produtores tomaram grandes proporções, segundo a
Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento do Rio de Janeiro foi estimado 10
milhões de perdas econômicas em apenas um ano no Norte e Noroeste Fluminense
(2014 à janeiro de 2015), sofridas por 13 mil pequenos produtores.
Após essa premissa, o presente estudo tem como objetivo geral perceber os
impactos da estiagem ocorrida nos anos de 2014 e 2015 na agricultura familiar em
Campos dos Goytacacazes. Tendo como objetivos específicos: perceber a dinâmica
climática no município nos anos de 2015 e 2014 através de dados pluviométricos
mensais; e por fim identificar como a seca nesses anos foi sentida pelos assentados da
reforma agrária no assentamento Ilha Grande, Campos dos Goytacazes, RJ.
Para alcance de tais objetivos, a pesquisa realizará metodologias de cunho
quantitativo e qualitativo, realizando as seguintes etapas metodológicas: a)
Levantamento bibliográfico com intuito de compreender as causas climáticas que
ocasionaram a estiagem, assim como os seus impactos na agricultura familiar; b)
construção de um pluviograma com dados pluviométricos dos anos de 2014 e 2015 no
município e c) Aplicação de um questionário com os assentados do Assentamento Ilha
Grande, tal questionário buscará perceber como as mudanças climáticas nesses anos
atingiram as suas produções agrícolas, assim como os mesmos desenvolveram formas
de resistir a tal problemática.
Foram aferidos os dados pluviométricos dispostos por dia dos anos de 2014 e
2015, obtendo uma somatória mensal e anual. Posteriormente foi realizada uma
porcentagem do total desses meses, que foi utilizado para a construção do pluviograma.
Por fim foi calculada uma média das três estações, chegando a um único valor para cada
mês de cada ano. A metodologia usada esta disposta no quadro 2.
Quadro 2- Metodologias para a Tabulação dos dados
1º Extração de dados nas séries históricas da ANA
2º Somatório diário
3º Média das 3 estações
4º Construção do pluviograma
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2014 1,5 0 8,54 26,07 8,06 11,38 19,22 0,75 1,71 1,35 12,97 7,82 415,8
2015 0 0,86 9,42 5,14 19,95 7,76 3,54 3,03 9,22 6,89 20,4 13,79 313,2
2,0- 4,0- 8,3- 12,5-
0,00% <2,0% 3,9% 8,2% 12,4% 25% >25,1%
Gráfico 2- Pluviograma da Estação Farol de São Thomé (2014 e 2015)
Fonte: Agência Nacional de Água, adaptado pela autora, 2021.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2014 3,7 1 24 18,3 0,6 5,4 24,9 2,1 1,6 3,4 10,5 4,3 621,30
2015 0 5,1 17,5 5,7 13,8 5,8 1,3 3,3 12,3 7,9 13,6 13,5 794,3
2,0- 4,0- 8,3- 12,5-
0,00% <2,0% 3,9% 8,2% 12,4% 25% >25,1%
Gráfico 3- Pluviograma da Estação Ponte Municipal (2014 e 2015)
Fonte: Agência Nacional de Água, adaptado pela autora, 2021.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2014 8,22 7,11 6,93 11,47 0,38 3,67 6,49 1,38 0,89 4,77 36,67 12,01 628
2015 0,47 3,97 16,56 9,8 10,68 3,36 2,03 4,51 9,54 6,83 18,69 13,56 590
2,0- 4,0- 8,3- 12,5-
0,00% <2,0% 3,9% 8,2% 12,4% 25% >25,1%
Gráfico 4- Pluviograma da Estação Cardoso Moreira (2014 e 2015)
Fonte: Agência Nacional de Água, adaptado pela autora, 2021.
Ao analisar os pluviogramas, é notório o baixo índice de chuva presentes nos
anos de 2014 e 2015 no município de Campos dos Goytacazes. Podemos destacar
também que dentre as três estações analisadas, a estação de Farol de São Thomé, a mais
próxima do assentamento Ilha Grande (15 Km), é a que possuiu o menor índice
pluviométrico. A seguir, no gráfico 5, está exposto a média anual obtida das três
estações no ano de 2014, 2015.
140
120
100
80
60
40
20
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
2014 2015
Referências
ANA. Agência Nacional de Águas - Encarte Especial Crise Hídrica. Conjuntura dos
Recursos Hídricos no Brasil - Informe 2014, Brasília, ANA, 2014.
CANAL CIENCIA. Mapa de Déficits e Excessos de Chuvas no Verão de 2014.
Disponível em < https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese1/ciencias-exatas-e-da-
terra/238-a-seca-durante-o-verao-de-2014-na-regiao-sudeste-do-brasil>. Acesso em 16
de Julho de 2021.
COELHO, C. A. S.; CARDOSO, D. H. F.; FIRPO, M. A. F.. A seca de 2013 a 2015 na
região sudeste do Brasil. Climanálise – Edição Especial de 30 anos, p. 55-61, 2016.
IDOETA, P. A. A agricultura é vilã ou vítima na crise hídrica. BBC News Brasil. 2015.
Disponível
em:https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150302_agua_agricultura_pai.
Acesso em 10 de Julho de 2021.
INEA. Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro. Vamos falar sobre segurança
hídrica. Disponível em: https://www.segurancahidricarj.com.br/estiagem. Acessado em
26 de setembro de 2021.