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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
GDGEO0106 – HIDROGEOGRAFIA

Tema 2ª Avaliação
A crise da água no Semiárido Brasileiro

BRUNO ALVES DA SILVA


MIGUEL BARROS CLAUDINO GOMES
ULYSSES BORGES DE GOUVEIA
WASHINGTON JOSÉ DE MEDEIROS

João Pessoa – PB
Dezembro de 2022
A crise da água no Semiárido Brasileiro

“Venderei a última pedra da minha coroa antes que um nordestino venha a morrer de fome”

Essa frase de Dom Pedro II revela a gravidade da seca que assolou o Nordeste entre 1877 e
1879 que resultou em trágica mortandade na região com estimativa de cerca de 500.000 óbitos.
Foi a partir desse choque que atingiu a sociedade brasileira que começou uma busca de
soluções estruturais (Campos & Studart 1997).
Desde os primórdios, as secas marcaram a história do Nordeste.
Fernão Cardin (citado por Souza 1979) relata que houve uma grande seca e esterilidade na
província (Pernambuco) e desceram do sertão, ocorrendo-se aos brancos no litoral cerca de quatro
ou cinco mil índios.
Também merece destaque a citação ao Professor João de Deus de Oliveira (Paulino 1992)
que relata movimentos dos Tabajaras e Kariris acossados pelas secas.
Depreende-se dessas narrativas que os movimentos migratórios já aconteciam dos sertões
mesmo em uma época de baixa densidade demográfica.
A ocupação dos sertões foi bastante retardada em decorrência, principalmente, das secas.
Contudo, após uma carta régia, os criadores de gado tiveram que adentrar os sertões.
De 1845 a 1876, aconteceram 32 anos sem secas intensas, que resultaram no aumento das
populações e dos rebanhos sem o aumento da infra-estutura hídrica.
Medidas estruturais se iniciaram nesse período com a construção de grandes açudes (como
do Cedro no Ceará) no intuito de “acabar” com o problema da falta de água, apesar dessas medidas
ocorrerem de forma bastante lenta.
Correspondendo a uma área de aproximadamente 982.563,3 Km2, o Semiárido brasileiro
representa 11% do território nacional e engloba boa parte dos Estados da região Nordeste (exceto o
Maranhão) e uma pequena porção do Norte de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha).
O que caracteriza a sua condição climática, vegetativa e hídrica é a alta taxa de evaporação e
a baixa e irregular pluviosidade, concentradas num período de quatro meses, que vai de fevereiro a
maio na estação do verão, com chuvas por vezes fortes, repentinas e isoladas.
Essa característica climática configurará uma condição hídrica intermitente ou temporária de
seus mananciais com poucos rios perenes, além do fato das chuvas se mostrarem bastante
irregulares e repentinas que acabam por não conseguir infiltrar o solo por este já apresentar uma
característica pouco profunda e da presença de rochas cristalinas, configurando em baixas trocas de
água entre o rio e o solo adjacente.
Esses fatores por si só já seriam suficientes para limitar suas condições hídricas e agravar a
condição social de seus habitantes, porém o agravamento das mudanças climáticas e de fatores
naturais e sazonais como “el ninõ” contribuem para o agravamento da seca, além do surgimento de
áreas de desertificação.
A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) conceituou
desertificação como o processo de degradação das terras em regiões áridas, semiáridas e subúmidas
secas, em decorrência de fatores como a ação antropogênica e as mudanças climáticas.
Essa degradação é a perda ou redução da produtividade econômica ou biológica dos
ecossistemas secos causada pela erosão do solo, deterioração dos recursos hídricos e a perda da
vegetação natural.
O relatório do IPCC, Intergovernamental Panel on Climate Change, denominado IPCC AR4
(disponível no site http://ipcc-wg1.ucar.edu/) sobre as mudanças climáticas concluiu, com mais de
90 % de confiança, que o aquecimento global dos últimos 50 anos é causado pelas atividades
humanas.
Segundo Marengo (2007), os resultados deste estudo para a América do Sul indicam que as
mudanças climáticas mais intensas para o final do Século XXI, relativas ao clima atual, vão
acontecer na região tropical e o sertão nordestino é a região mais vulnerável.
Isso significa um aumento da temperatura e da evaporação dos rios, o que agrava as
condições da qualidade hídrica para o plantio e abastecimento no decorrer dos próximos anos.
De acordo com estudo do Ministério do Meio ambiente (BRASIL 2002: 42), as áreas do
Nordeste com sinais extremos de degradação, os chamados “Núcleos de Desertificação”, são
Gilbués no Piauí, Irauçuba no Ceará, Seridó na fronteira dos estados da Paraíba e Rio Grande do
Norte e Cabrobó, em Pernambuco. Estima-se que o processo de desertificação vem comprometendo
uma área de 181.000 km2 decorrente de impactos difusos e concentrados sobre o território da
região.
Entre os escassos rios considerados perenes, destaque para o Rio Parnaíba, localizado no
Estado do Piauí e o São Francisco que percorre boa parte da Bahia e trechos do Oeste de
Pernambuco e entre as divisas de Sergipe e Alagoas.
Durante muito tempo órgãos federais e estaduais buscaram formas de se “combater” o
flagelo da seca, porém como bem sabemos, não se combate a seca, por ser um fator natural da
região, mas sim a convivência e adaptação à condição climática inerente.
Diante dessas ações públicas errôneas, o que se observa hoje é um agravamento do quadro
hídrico e social, onde fatores antrópicos como plantio de monoculturas e o uso de agrotóxicos e da
demanda cada vez maior por seu consumo/abastecimento, estão destruindo o que resta desses
escassos mananciais.
Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), através de relatório, desde de 2012 o
panorama da disponibilidade e escassez da agua mostra que o semiárido brasileiro, que abrange
estados do Nordeste e Norte de Minas no Sudeste são as regiões mais críticas do país em se tratando
de demanda por recursos hídricos.
Cerca de 38 milhoes de brasileiros foram afetados com a seca de 2017 e destes 80% dessas
familias vivem na região Nordeste.
Outra questão não menos importante é o crescimento desordenado das cidades devido a falta
de politicas publicas que tem contribuido para o aumento dos esgotos domésticos e industriais que
são jogados nos rios e que são levados aos manaciais o que impacta diretamente na qualidade da
água que abastece as cidades e tendo como consequência o aumento de doencas relacionadas aos
poluentes.
A incidência de doenças de veiculação hídrica associadas à má qualidade da água consumida
por parte significativa da população do semi-árido, especialmente a que reside nas zonas rurais e a
precariedade ou inexistência de estruturas de tratamento de esgoto reflete, principalmente, nos
indicadores de mortalidade infantil na região.
A disposição de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, em rios e reservatórios tem
resultado na eutrofização de mananciais e na floração de algas tóxicas chamadas cianofíceas, que
constituem verdadeiras pragas para os reservatórios. Essas algas liberam toxinas (neurotoxinas e
hepatotoxinas) que podem causar sérios danos à saúde humana, até mesmo a morte. O tratamento
da água é, além de difícil, extremamente dispendioso
A agência nacional de águas (ANA) Estima que o consumo de água aumente à medidas que
haja um crescimento populacional, onde a retiradas de água pode chegar, até 2030, a um volume
24% maior do que o atual.

A superexploração dos recursos naturais nessa região tem efeitos de médio prazo sobre a
qualidade ambiental na região, onde predominam, como atividades econômicas, as culturas de
subsistência, a pecuária extensiva e alguns perímetros de agricultura irrigada. Muitas áreas irrigadas
apresentam sinais de salinização pela deficiência ou ausência de drenagem dos solos. Em cerca de
600 mil hectares irrigados no Nordeste registram-se sinais de salinização e/ou de compactação do
solo em aproximadamente 30 % da área (MMA 2002).
Alguns pesquisadores defendem que o problema do semiárido não é falta de água e sim de
gestão.
É o caso de João Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim
Nabuco, um dos maiores especialistas na questão hídrica nordestina. “Não dá para copiar iniciativas
que deram certo em outros países.
O Semiárido nordestino é muito diferente do território israelense ou do deserto de Nevada.
O que precisamos copiar deles é o investimento que fazem em pesquisa. Eles encontraram
boas soluções para seus próprios problemas porque investigaram. Temos que fazer o mesmo.
O Semiárido nordestino deve ser encarado pelos brasileiros como um desafio e nunca como
um problema.”
Defende maneiras de contornar as dificuldades climáticas, priorizando culturas que se adaptam
ao meio. Não brigando com o regime hídrico, mas sabendo lidar com ele. E buscando formas de
fazer com que a água chegue a quem precise.
Ou seja, distribuir – verbo que muita gente se nega a conjugar por aqui. “Temos o maior
volume de água represada em regiões semiáridas do mundo. Se tivermos uma política consistente
de desenvolvimento, o Nordeste Semiárido não dependerá da ajuda do poder público a cada seca. O
problema é que nunca tivemos uma política assim. Em propriedades que só dispõem de poços com
águas salobras, por exemplo, são sugestivas o uso de dessalinizadores.
Nesse sentido, a indicação da tecnologia a ser utilizada estará na dependência das
características geoambientais de cada estabelecimento rural. Suassuna diz que não existe apenas um
Semiárido, mas semiáridos dentro do Semiárido. E para cada um, há uma resposta diferente.”
Portanto, o que se depreende da problemática hídrica no Nordeste semiárido não é o fato das
chuvas serem irregulares, essa é uma condição da região que por muito tempo politicas de combate
e não de adaptação incorreram em erros do manejo da água existente, em virtude de má gestão no
aproveitamento de suas águas.
Cabe aos órgãos responsáveis pela administração hídrica aperfeiçoar politicas que fomentem a
pesquisa na busca de soluções que gerem um aproveitamento adequado da água disponível, no
intuito de sistematizar seu uso e na implementação do saneamento básico a fim de proteger os
mananciais que restam sendo primordial para a redução dos poluentes urbanos e industriais que
tanto afetam a qualidade de vida da população que vive no semiárido.

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