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CAPÍTULO 1

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO
E SENSIBILIZAÇÃO

INFLUÊNCIAS DO
CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA:
CENÁRIOS PARA 2021
CARTILHA DE ORIENTAÇÃO
E SENSIBILIZAÇÃO

INFLUÊNCIAS DO
CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA:
CENÁRIOS PARA 2021
F E V E R E I R O 2 0 2 1
SU

RIO
06 APRESENTAÇÃO

12 CENÁRIO DE
ESTRESSE HÍDRICO

20 SISTEMA CANTAREIRA
E TENDÊNCIAS
CLIMÁTICAS

38 ORIENTAÇÕES
PARA ESTIAGEM
6

APRE
SEN
TA
ÇÃO
7

A presente publicação
pretende, de forma modesta,
porém em linguagem clara
e acessível (...) permitir
que os esclarecimentos
sensibilizem ainda mais a
comunidade e gestores
públicos, ampliando o
excelente Sistema de
Gestão Descentralizada
e participativa, que já é
praticado nas Bacias PCJ”
8 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021
APRESENTAÇÃO 9

E
m 2009 foi concluído, pelo Governo do Estado de São Paulo,
o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos
para a Macrometrópole Paulista, envolvendo as bacias hidro-
gráficas do Alto Tietê, PCJ, Sorocaba e Médio Tietê, Paraíba
do Sul, Ribeira do Iguape e Baixada Santista. Esse estudo apresentou
novas alternativas para o abastecimento dessa macro região.
Houve uma maciça divulgação da imprensa de todo o país,
causando enorme surpresa para muitos, pois nunca tinham
imaginado que o abastecimento da “Grande São Paulo”, envolvia
direta ou indiretamente várias regiões hidrográficas, todas
economicamente fortes no cenário nacional e com adensa-
mentos populacionais gigantescos, ou seja, somavam na época
30,5 milhões de moradores.
A complexidade do tema gerou debates nos meios técnicos do
setor, uma vez que, muitas dessas regiões hidrográficas, individual-
mente, já apresentavam problemas de estresse hídrico ou baixa
disponibilidade de água. Cada uma delas pela sua importância e
tradição já possuíam, há algumas décadas, planejamentos especí-
ficos visando o atingimento da sua sustentabilidade hídrica, porém,
infelizmente não implementados ou parcialmente executados pelos
problemas clássicos de falta de projetos, poucas fontes de finan-
ciamento disponíveis, da complexidade da implantação e conti-
nuidade das obras, entre outras.
O Sistema Cantareira faz parte desse contexto global, inicial-
mente visando o abastecimento da região Metropolitana de
São Paulo, com capacidade de regularização de até 33 m3/s. Ao
contrário de outros Projetos, ele foi integralmente executado,
sendo considerado uma elogiável obra da Engenharia.
10 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

O Sistema Cantareira é formado por reservatórios estrutu-


rados pelos barramentos nos rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira e
Atibainha, da Bacia do rio Piracicaba e, pelo reservatório Paiva
Castro, criado pelo barramento no rio Juqueri, na bacia do Alto
Tietê. Ainda na Bacia do Alto Tietê, próximo à Estação de Trata-
mento de Água do Guaraú-SP, existe um pequeno reservatório de
“Volume de Espera”, denominado Águas Claras.
Na renovação da outorga do Sistema Cantareira em 2004,
passaram a ser disponibilizadas para as Bacias PCJ, vazões de até
5 m3/s e na segunda renovação, em 2017, esse montante foi
ampliado para os atuais 10 m3/s, em média.
O ciclo hidrológico tem variações temporais, tanto que em alguns
momentos o Sistema Cantareira atingiu 100% de sua capacidade de
armazenamento, como registrado em 1983 e 2011, porém em outros
períodos chegou próximo de ser exaurido, situação registrada em
2014/2015. A partir dos anos 2000 o ciclo hidrológico vem sofrendo
severas influências dos eventos climáticos extremos. As próprias
áreas de contribuição com vazões de afluência aos reservatórios,
quer seja nos Estados de Minas Gerais ou São Paulo, vêm registrando
um sensível crescimento populacional e econômico, por conseguinte,
também de consumo de água.
Desde a inauguração plena do Sistema Cantareira, em 1984,
que as vazões de descarga para a Grande São Paulo e Bacias
PCJ recebem o acompanhamento e monitoramento de Grupos
Técnicos, sendo que na atualidade tal missão compete a Câmara
Técnica de Monitoramento Hidrológico (CT-MH) dos Comitês PCJ.
À medida que os fatores anteriormente mencionados são
agravados, destacando-se o aumento de consumo e eventos climá-
APRESENTAÇÃO 11

ticos extremos, surgem na população em geral muitas dúvidas,


tais como: Qual a situação da disponibilidade hídrica? Qual a
capacidade de atendimento do Sistema Cantareira e por quanto
tempo? Quais os municípios servidos e qual a população envolvida?
Depois da crise hídrica de 2014/2015 quais obras foram construídas
para auxiliar a manutenção da capacidade operacional do Sistema?
Como tem sido o comportamento das chuvas? Qual a relevância
dos eventos climáticos extremos? entre outras.
A presente publicação pretende, de forma modesta, porém em
linguagem clara e acessível, apresentar resposta para todas essas
indagações, no intuito de permitir que os esclarecimentos sensibi-
lizem ainda mais a comunidade e gestores públicos, ampliando o
excelente Sistema de Gestão Descentralizada e participativa, que
já é praticado nas Bacias PCJ.

MAURÍCIO LUIZ JANSSEN


Presidente do Conselho de Transição do Consórcio PCJ
12 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

CENÁRIO
DE
ESTRESSE
HÍDRICO
CAPÍTULO 13

Já parou para pensar o quanto


a água é importante?
14 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

A
água é um recurso natural essencial para a vida, além
disso, ela está diretamente associada ao desenvol-
vimento agrícola, industrial, econômico e social das
regiões, estando presente no dia a dia da população e,
direta ou indiretamente, em todos os setores da produção.
Se analisarmos, praticamente tudo ao nosso redor possui
água ou necessitou dela para sua produção. Dessa forma, o uso
consciente e estratégico deste recurso torna-se cada vez mais
importante a fim de garantirmos sua disponibilidade em qualidade
e quantidade para todos os usos. A degradação do meio ambiente
e o aumento da incidência dos eventos climáticos extremos, cada
vez mais recorrentes, reforçam essa preocupação.

Você sabia que as Bacias


PCJ possuem disponibilidade
hídrica crítica?
CENÁRIO DE ESTRESSE HÍDRICO 15

Apesar de o Brasil possuir aproximadamente 13% de toda a água


doce disponível do planeta, sua distribuição não ocorre de forma
uniforme pelo território nacional. Segundo a Agência Nacional de
Águas e Saneamento Básico [3] aproximadamente 81% da água doce
disponível no país está na Região Hidrográfica Amazônica, que
concentra apenas 5% da população brasileira. Na região Sudeste,
que possui a maior concentração demográfica do país, estão dispo-
níveis apenas 6% de todos os recursos hídricos brasileiros.
A região das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí (Bacias PCJ) não se mostra diferente a essa realidade.
Seus principais mananciais caracterizam-se como de baixa
disponibilidade hídrica, principalmente durante os períodos de
estiagem. Além disso, o potencial de recursos hídricos superficiais
das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí não está, em
sua totalidade, à disposição para uso na própria região, pois uma
parcela substancial é revertida, através do Sistema Cantareira,
para abastecimento da Bacia do Alto Tietê.
Quando associado a disponibilidade hídrica das Bacias PCJ a
sua pujança industrial, econômica e populacional, observa-se a
tendência de contínua redução da qualidade e quantidade de água
disponível por habitante. Dados dos Relatórios de Situação [1]
e
Gestão dos Recursos Hídricos das Bacias PCJ [2]
apontam que a
disponibilidade hídrica das Bacias PCJ caiu de 1.041 m3/hab.ano
em 2012, para os atuais 961,3 m3/hab.ano. Essa constatação
ocorre principalmente pelo fato de grande volume de água do seu
principal manancial, o Sistema Cantareira, ser transferida para a
Bacia Alto Tietê, para abastecimento de aproximadamente 50% da
população da Região Metropolitana de São Paulo.
16 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Nos períodos de estiagem (período seco) a disponibilidade hídrica


das Bacias PCJ é reduzida de forma ainda mais acentuada, podendo
chegar a valores de até 408 m3/hab.ano, conforme observado nos
períodos da crise hídrica (2014/2015), valores estes muito abaixo dos
1500 m3/hab.ano estipulados como parâmetro mínimo de disponibi-
lidade hídrica pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Vivemos em uma região de


Estresse Hídrico Crônico,
segundo parâmetros da ONU.

Mas, afinal, o que são


MUDANÇAS
CLIMÁTICAS?

Mudanças climáticas são alterações provocadas nos padrões


climáticos a longo prazo com base nas alternâncias meteorológicas,
ou seja, nas condições do tempo observadas por um período. Elas
podem ser causadas por processos naturais tais como a incidência
solar, atividades vulcânicas, orbita da terra e pela ação do homem
com a queima de combustíveis fósseis, com o desmatamento e a
CENÁRIO DE ESTRESSE HÍDRICO 17

exploração dos recursos naturais, uso e ocupação inadequados do


solo, degradação de nascentes e de cursos d’águas. Os impactos
das alterações climáticas sobre os recursos hídricos ameaçam o
desenvolvimento econômico, social e ambiental [5].
O aumento da temperatura do planeta tem sido acelerado nos
últimos 150 anos. Estudos feitos pela Nasa e pela NOAA (Administração
Oceânica e Atmosférica Nacional) mostram que a temperatura regis-
trada na Terra em 2018 foi a quarta mais alta nos últimos 140 anos .
[11]

Em 2017, a temperatura aumentou cerca de 0,83ºC com base na


temperatura média registrada entre os anos de 1951 e 1980. A tempe-
ratura média anual mais alta foi registrada no ano de 2016.
18 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

As mudanças no clima projetadas pelo Centro de Ciência do


Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) [11]
para o Brasil até o final do século XXI, são bastante pessi-
mistas, preveem aumento da temperatura para a região sudeste entre
3ºC e 6ºC com aumento da ocorrência de eventos extremos (CCST/
INPE, 2011). Essa alteração climática afetará sobremaneira os recursos
hídricos e, consequentemente, todos os setores da sociedade,
agricultura, indústria, energia, meio ambiente, entre outros.
Duas, das nove recomendações de estratégia regional para o plane-
jamento de iniciativas e ações adaptativas ligadas à água, da Confe-
rência das Partes da ONU, COP 16 [8], são necessárias de serem citadas:

1. 2.
É importante A adaptação à mudança
reconhecer a climática deve ser
iminência e incorporada à Gestão
relevância dos Integrada de Recursos
impactos da Hídricos como um
mudança climática elemento estratégico
nos recursos hídricos fundamental
CENÁRIO DE ESTRESSE HÍDRICO 19
20 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

SISTEMA
CANTAREIRA
E
TENDÊNCIAS
CLIMÁTICAS
CAPÍTULO 21

O que é o
SISTEMA CANTAREIRA?
22 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

C
onsiderado um dos maiores sistemas de abasteci-
mento do mundo, com capacidade total de 973,9
BILHÕES de litros (973,9 hm 3), o Sistema Cantareira
é o maior manancial produtor de água para a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP) e Bacias PCJ, envol-
vendo diretamente o abastecimento a mais de 10 milhões de
habitantes [2]
.
Com uma extensão de 2.279,5 km 2, sua área de contribuição
abriga 12 municípios, sendo oito no Estado de São Paulo
(Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis,
Mairiporã, Nazaré Paulista, Piracaia e Vargem) e quatro em
Minas Gerais (Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim).
Do total da área de drenagem do Sistema Cantareira, 1.934 km2
encontram-se na Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba.
Nas Bacias PCJ, o Sistema Cantareira conta com quatro
reservatórios de regularização nos rios Atibainha e Cachoeira,
na sub-bacia do rio Atibaia, e nos rios Jacareí e Jaguari, na
sub-bacia do rio Jaguari. Dessa forma, no total, o Sistema
Cantareira é composto por cinco reservatórios de regularização,
sendo o Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, nas Bacias PCJ
e Paiva Castro na Bacia do Alto Tietê, todos interligados por
meio de canais e túneis. Ainda na Bacia do Alto Tietê, próximo
à Estação de Tratamento de Água do Guaraú-SP, existe
um pequeno reservatório de “Volume de Espera” (pulmão),
denominado Águas Claras, no Ribeirão Santa Inês, no município
de Caieiras.
A seguir podemos verificar o esquema gráfico de represen-
tação do Sistema Cantareira.
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 23

FIG. 1 – Sistema Cantareira esquematizado

Fonte: Relatório de Gestão Agência PCJ, 2020

Quais municípios das


Bacias PCJ são atendidos pelo
Sistema Cantareira?

As Bacias PCJ possuem 76 municípios, sendo 18 deles somando


aproximadamente 3,8 milhões de habitantes que são atendidos
por cursos d’água que recebem contribuição direta ou indireta dos
24 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Reservatórios do Sistema Cantareira, fato que oferece determinada


tranquilidade para seus usuários.
Estes 18 municípios mencionados são: Americana, Atibaia,
Bragança Paulista, Campinas, Hortolândia, Itatiba, Jaguariúna,
Jundiai, Limeira, Monte Mor, Morungaba, Nazaré Paulista (no
próprio Reservatório Atibainha), Paulínia, Piracaia, Piracicaba,
Sumaré, Valinhos e Pedreira.
Entretanto, existem 58 municípios que somam uma população
de 1,9 milhões de habitantes que não são atendidos pelas vazões
liberadas do Sistema Cantareira e dependem de outras fontes
para seu suprimento hídrico. Poucos possuem reservatórios
municipais compatíveis, uma vez que a grande maioria ainda
depende de captações a fio d’água em córregos, ribeirões e rios
locais, complementados por poços profundos com vazões, na
maioria das vezes, não significativas.
Diante dos fatos, fica evidente a preocupação quanto a
garantia da sustentabilidade hídrica principalmente junto aos
municípios que não são beneficiados com as vazões liberadas
pelo Sistema Cantareira.
Dados do Plano de Bacias 2020-2035 [6]
atentam que a
região das Bacias PCJ apresenta um crescimento vegetativo de
1,3% ao ano, com previsão de aumento de 25% do número de
habitantes até 2035, o que pressionará ainda mais o consumo de
água, reforçando a necessidade da construção de reservatórios
regionais para regularização de vazão na bacia para ampliação
da disponibilidade hídrica. Ainda segundo o Plano de Bacias, esse
crescimento populacional, seguido do consumo industrial e rural
ampliará em 30% a demanda por água até 2035.
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 25

Pode-se citar como ações estratégicas que auxiliarão na


ampliação da disponibilidade hídrica regional e darão maior
suporte aos municípios da Bacia, as obras (em andamento) dos
reservatórios de regularização de Pedreira, no rio Jaguari, e Duas
Pontes, no rio Camanducaia, assim como o processo para implan-
tação do reservatório do Piraí, no Ribeirão Piraí.

Como tem sido o


comportamento das
Chuvas em nossos mananciais?
26 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Infelizmente as chuvas têm se comportado de forma irregular


em várias regiões do planeta, inclusive nas Bacias PCJ. A
incidência cada vez mais frequente dos eventos climáticos
extremos já é uma realidade na região e reflete diretamente no
comportamento dos mananciais.
Longos períodos de estiagem seguidos por períodos de chuva
cada vez mais volumosos e concentrados em curto espaço de
tempo geram desequilíbrios que dificultam a recarga do lençol
freático, e por consequência, e resiliência dos mananciais e
reservatórios.
Como exemplo disso podemos citar a pior estiagem dos
últimos 90 anos, que impactou a região das Bacias PCJ em
2014/2015, afetando drasticamente o Sistema Cantareira, que
pela primeira vez em sua série histórica registrou níveis de
volume acumulado mínimos para retirada por gravidade, neces-
sitando de ações complementares para captação de sua água
por bombeamento. Desde então, o sistema não se recuperou
completamente, fato que evidencia o reflexo da incidência dos
eventos climáticos extremos e do comportamento das chuvas,
que tem ocorrido em menor volume na região.
De acordo com as médias históricas as chuvas devem ocorrer
nas regiões de cabeceiras das Bacias PCJ na ordem de 1.544 mm
ao ano, porém, somente nos anos de 2015 e 2016 foram regis-
tradas chuvas dentro das médias esperadas. Nos últimos quatro
anos, em 2017, 2018, 2019 e 2020 foram registradas chuvas na
ordem de 14%; 20,5%; 12,4% e 23,2% abaixo do esperado respec-
tivamente, demonstrando tendência da redução das precipi-
tações nas regiões de mananciais.
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 27

FIG. 2 - Chuvas no Sistema Cantareira

Fonte: Consórcio PCJ (Dados SABESP)

Quais os atuais
volumes armazenados
no Cantareira?

Localizado nas regiões de cabeceiras, o Sistema Cantareira


apresenta-se como o principal manancial de abastecimento
da região. Infelizmente, devido à baixa incidência de chuvas
28 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

registradas em anos anteriores, seu volume de água armazenada


ainda não atingiu níveis satisfatórios desde a grande crise
hídrica. Esse comportamento pode ser sentido pelas baixas
vazões de afluência.
O recomendado é que após o período das chuvas mais
intensas, entre os meses de março e abril, os níveis de armaze-
namento do Sistema Cantareira estejam no mínimo na ordem
dos 75% para garantia de maior segurança hídrica. Porém, os
níveis máximos de volume registrados nos últimos anos após
os períodos de chuva foram de 54,2% em 2018; 58,7% em 2019
e 64,6% em 2020, não atingindo os valores mínimos desejados
ou recomendados.
É importante lembrar que tais volumes de armazenamento
registrados só foram possíveis devido a conclusão das obras e
início da transposição de água, em 2018, da Bacia do Rio Paraíba
do Sul para os reservatórios do Sistema Cantareira, no Atibainha,
auxiliando com incremento considerável de volume.
Em 2021 o Sistema Cantareira adentrou o ano com apenas
36% de reservação de água e com baixa expectativa de recom-
posição de seu volume até março/abril, quando deverá atingir
seu volume de reservação máxima. O boletim climatológico
elaborado pelo IRI-CPC - Instituto Internacional de Pesquisa
em Clima e Sociedade – está prevendo que a precipitação
pluviométrica no primeiro semestre de 2021 será abaixo da
média climatológica, exceto no mês de fevereiro, quando está
previsto chuvas dentro da normalidade.
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 29

Mas, qual a relação do


Sistema Cantareira com as
mudanças climáticas?

As projeções climatológicas da Agência de Meteorologia


e Oceanografia Norte Americana (NOAA) e do Instituto de
Pesquisas Internacionais para o Clima e Sociedade (IRI) da
Universidade de Columbia [10]
, indicam que o primeiro trimestre
de 2021 (janeiro – fevereiro – março) estará sob influência do
fenômeno La Niña, que está se apresentando de forte inten-
sidade este ano. Como consequência deverão ocorrer chuvas
mais intensas e volumosas na região costeira do sudeste e, por
outro lado, o interior de São Paulo, boa parte do Paraná, sul de
Mato Grosso do Sul, norte de Santa Catarina e oeste da região
Sul sentirão os efeitos clássicos do La Niña, com precipitação
abaixo da média histórica no trimestre.
Como os efeitos do La Niña, na atmosfera, deverão ser perce-
bidos até meados do ano de 2021, podemos estimar que o 2º e
3º trimestres, considerado um período de menor quantidade de
chuva, deverão apresentar volumes de chuvas inferiores à média
climatológica para o período. As temperaturas deverão ficar
próximas da média histórica com leve tendência de alta, princi-
palmente com relação à sensação térmica.
Como constatado, as mudanças climáticas interferem direta-
mente no regime de chuvas que por sua vez estão relacionadas
30 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

ao abastecimento e recarga do lençol freático e manutenção


das vazões de afluência dos mananciais. Já é possível constatar
esse comportamento das baixas vazões de afluência no Sistema
Cantareira ao longo das últimas décadas, quando foram regis-
tradas vazões abaixo das médias históricas.

FIG. 3 - Afluência Média por Décadas – Sistema Cantareira

Fonte: Consórcio PCJ (Dados SABESP/ANA)

Embora no mês de dezembro de 2020 o índice pluviométrico na


região do Sistema Cantareira tenha sido superior à média histórica
para o mês, o volume total de chuva no ano de 2020 foi o menor já
registrado após o ano de 2014, quando enfrentamos a estiagem mais
severa dos últimos 90 anos. No mês de janeiro de 2021 registrou-se
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 31

um índice pluviométrico de 181,6 mm de chuva, representando 31,5%


menos chuvas do que a média histórica registrada para o mês.
É sempre bom lembrar que as chuvas de verão, também
chamadas de “convectivas”, não são as ideais para melhoria da dispo-
nibilidade hídrica no longo prazo. São chuvas concentradas, com
grandes volumes e de pouca duração, atingindo principalmente as
regiões urbanas, muitas vezes não abrangendo grandes áreas rurais.
A melhoria na disponibilidade hídrica tem como um de seus principais
fatores, a recarga dos aquíferos subterrâneos, os confinados e os livres
ou freáticos que, nos períodos secos, serão os maiores responsáveis
pela manutenção das vazões nos cursos d’água.

Pode faltar água?


Quais os
cenários para 2021?

Pode-se dizer que o cenário é de ALERTA. As Bacias PCJ estão em


seu limite da disponibilidade hídrica e bem suscetíveis a incidências
extremas, caso ocorram. Buscando traçar cenários do possível
comportamento dos reservatórios do Sistema Cantareira, para 2021
e, tendo como base os dados das séries históricas de afluência ao
Sistema Cantareira, das vazões de transferência para a RMSP, das
vazões liberadas para jusante (Bacias PCJ) e as vazões de transferência
da represa de Igaratá no rio Jaguari, e da bacia hidrográfica do rio
Paraíba do Sul para a represa do rio Atibainha, estabelecemos algumas
INFLUÊNCIAS DO Pode faltar água? Quais os cenários para 2021?
32 CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Pode-se dizer que o cenário é de ALERTA. As Bacias PCJ estão em seu limite da
disponibilidade hídrica e bem suscetíveis a incidências extremas, caso ocorram.
hipóteses de cenários possíveis para o comportamento do volume útil
Buscando traçar cenários do possível comportamento dos reservatórios do Sistema
armazenado
Cantareira, parano Sistema
2021 e, tendoEquivalente ao longo
como base os dados do ano
das séries de 2021.
históricas de afluência ao
Sistema Cantareira, das vazões de transferência para a RMSP, das vazões liberadas para
jusante (Bacias PCJ) e as vazões de transferência da represa de Igaratá no rio Jaguari, e
Cenário 1 - Tendencial.
da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul para a represa do rio Atibainha,
estabelecemos
a) Cálculo algumas hipótesesmensais
das médias de cenários
dopossíveis
períodoparade o2011
comportamento
a 2020 do
volume útil armazenado no Sistema Equivalente ao longo do ano de 2021.
b) Vazões de retirada iguais às de 2020
Cenário
c) 1Transposição
- Tendencial. de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos
a) Cálculo das médias mensais do período de 2011 a 2020
12 meses
b) Vazõesdodeano
retirada iguais às de 2020
c)
d) Transposição
Cálculo de daIgaratá para Atibainha
curva igual a 5,13m
de tendência 3/s nos 12 meses do ano
através do método
d) Cálculo da curva de tendência através do método logarítmico.
logarítmico.

CENÁRIO 1 - TENDENCIAL
60,0%
54,2%

50,0%

41,8%
40,0% 36,4%
30,7%
30,0%
29,3%

27,6%
20,0%

10,0%

0,0%
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Fig. 4 – Volume útil armazenado no Sist. Equivalente para vazões tendenciais.


Fig. 4 – Volume útil armazenado no Sist. Equivalente para vazões tendenciais.

Cenário 2 – Médias 2011 a 2020


a) Série histórica de afluência médias mensais de 2011 a 2020
b) Vazões de retirada iguais às médias mensais de 2011 a 2020
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos
12 meses do ano
Cenário 2 – Médias 2011 a 2020
a) Série histórica de afluênciaSISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS
médias mensais de 2011 a 2020 33
b) Vazões de retirada iguais às médias mensais de 2011 a 2020
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos 12 meses do ano

Cenário 2 – Médias 2011 CENÁRIO


a 2020 2 - 2011 A 2020
a) Série histórica de afluência médias mensais de 2011 a 2020
70,00%
b) Vazões de retirada iguais às médias mensais de 2011 a 2020
60,00%
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos 12 meses do ano
50,00% 53,65% 46,11% 42,33%
44,70% CENÁRIO 2 - 2011 A 2020
40,00%
70,00% 43,14% 44,28%
30,00%
60,00%
20,00%
50,00% 53,65% 46,11% 42,33%
10,00% 44,70%
40,00%
43,14% 44,28%
0,00%
30,00%
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

20,00%
FIG. 5 – Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias entre 2011 e 2020
FIG. 5 – Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias entre 2011 e 2020
10,00%

Cenário
0,00% 3 – Vazões médias iguais a 2020
Cenário
a) JAN
Vazões3 FEV
–deVazões
afluência
MAR médias
iguais às
ABR MAI deiguais
2020
JUN aJUL2020 AGO SET OUT NOV DEZ
b)
a) Vazões
FIG. Vazões de útil
5 – Volume retirada
de iguais
afluência
armazenado às iguais
no S.E. de
para2020 às
vazões de 2020
de afluência e retirada médias entre 2011 e 2020
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos 12 meses do ano
b) Vazões de retirada iguais às de 2020
CENÁRIO
Cenário 3 – Vazões médias iguais a 3 - MÉDIAS DE 2020
2020
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos
a)
70,0% Vazões de afluência iguais às de 2020
b) Vazões
12 meses dodeano
retirada iguais às de 2020
58,9%
60,0%
c) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos 12 meses do ano
50,0% CENÁRIO 3 - MÉDIAS DE 2020
70,0% 43,8%
40,0%
58,9% 33,6% 29,5%
60,0%
30,0%
26,6%

50,0%
20,0%
23,9%
43,8%
40,0%
10,0% 33,6% 29,5%
30,0%
26,6%
0,0%
20,0% JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV 23,9%
DEZ

FIG. 6 - Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias iguais a 2020
10,0%

0,0%
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

FIG. 6 - Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias iguais a 2020
FIG. 6 - Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias iguais a 2020
34 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Cenário 4 – Vazões médias iguais a 75% das vazões de 2020


a) Vazões de afluência e de retirada iguais às de 2020
Cenário 4 – Vazões médias iguais a 75% das vazões de 2020
b) Transposição de Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos
a) Vazões de afluência e de retirada iguais às de 2020
b) Transposição
12 meses do anode Igaratá para Atibainha igual a 5,13m3/s nos 12 meses do ano

CENÁRIO 4 - AFLU 75% 2020


70,00%

60,00% 55,99%

50,00%

40,00%
43,17%

30,00%
26,63%
18,37%
20,00%
19,27%
10,00%
15,65%

0,00%
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

FIG. 7 - Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias iguais a 75% de 2020
FIG. 7 - Volume útil armazenado no S.E. para vazões de afluência e retirada médias iguais a 75% de 2020

Neste sentido, pode-se afirmar que considerando que a transposição da Bacia do


Paraíba do Sul (vazão contínua de 5,13 m³/s) representa um incremento anual de 16,6%
Neste armazenado
no volume sentido, pode-se
pelo Sistemaafirmar quesem
Cantareira, considerando que
esta transposição os a trans-
níveis de
armazenamento
posição do Cantareira
da Bacia ao final do
do Paraíba doano
Sul(dezembro)
(vazão para os cenários
contínua de I 5,13
e III ficariam
m3/s)
abaixo de 15% e, praticamente zero para o cenário IV, evidenciando a necessidade do
uso racional daum
representa águaincremento
e de seu maioranual
armazenamento
de 16,6%estratégico
no volumeno período das chuvas
armazenado
de 2021.
pelo Sistema Cantareira, sem esta transposição os níveis de armaze-
O Boletim 12/2020 do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres
namento do Cantareira
Naturais – CEMADEN ao finalde
[5], traz projeções doreservação
ano (dezembro) para os para
no Sistema Cantareira cenários
31 de
Imarço de 2021, associando diversos cenários de quantidade de chuva nas áreas de
e III ficariam abaixo de 15% e, praticamente zero para o cenário IV,
drenagem dos rios formadores do Sistema Cantareira com hipóteses de retirada total
(Jusante- PCJ + Túnel
evidenciando 5-Alto Tiete). As
a necessidade dosimulações realizadas
uso racional da indicam
água eque deoseu
volume útil
maior
no Sistema Cantareira em 31/03/2021 poderá variar entre 26% e 66%. Para a hipótese
armazenamento
de pluviometria 50% estratégico
abaixo da média noo período das
volume útil seráchuvas
de 26% e de 2021.
para a hipótese de
chuvas 25% acima da média para o período de janeiro a março, o volume útil reservado
seráO Boletim
de 66%. 12/2020
Para o cenário do Centro
de chuvas Nacional
iguais à média histórica de
para o Monitoramento
período (Jan-Mar)
o volume útil em 31/03/2021 deverá ser de 51%. Como referência lembramos que o
e Alerta de Desastres Naturais – CEMADEN [5]
, traz
volume útil reservado em 31/03/2020 era de 64,6% quando ocorreram chuvas muito
projeções
próximas
de da média. no Sistema Cantareira para 31 de março de 2021,
reservação
associando diversos cenários de quantidade de chuva nas áreas
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 35

de drenagem dos rios formadores do Sistema Cantareira com


hipóteses de retirada total (Jusante- PCJ + Túnel 5-Alto Tiete).
As simulações realizadas indicam que o volume útil no Sistema
Cantareira em 31/03/2021 poderá variar entre 26% e 66%. Para a
hipótese de pluviometria 50% abaixo da média o volume útil será
de 26% e para a hipótese de chuvas 25% acima da média para o
período de janeiro a março, o volume útil reservado será de 66%.
Para o cenário de chuvas iguais à média histórica para o período
(Jan-Mar) o volume útil em 31/03/2021 deverá ser de 51%. Como
referência lembramos que o volume útil reservado em 31/03/2020
era de 64,6% quando ocorreram chuvas muito próximas da média.

FIG. 8 - Projeções de armazenamento do Sistema Cantareira


(linhas tracejadas) para quatro cenários de precipitação

Fonte: Boletim nº 12/2020 CEMADEN


36 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

De acordo com os cenários apresentados, pode-se afirmar que


não teremos falta de água nas Bacias PCJ para o ano de 2021, porém,
novamente não atingiremos os níveis recomendados de armazena-
Fonte: Boletim nº 12/2020 CEMADEN
mento de água, fato que nos apresenta um sinal de alerta principal-
mente pela baixa incidência de chuvas constatadas nos últimos anos.
De acordo com os cenários apresentados, pode-se afirmar que não teremos falta de
Os dados de vazões de afluência natural ao Sistema Equiva-
água nas Bacias PCJ para o ano de 2021, porém, novamente não atingiremos os níveis
recomendados
lente de armazenamento
mostram uma queda de água, fato que nos apresenta
acentuada nos últimosum sinal 30
de alerta
anos. Das
principalmente pela baixa incidência de chuvas constatadas nos últimos anos.
10 menores vazões médias anuais de afluência natural ao Sistema
Os dados de vazões de afluência natural ao Sistema Equivalente mostram uma queda
Equivalente, dos últimos 90 anos, 8 aconteceram entre 2011 e 2020,
acentuada nos últimos 30 anos. Das 10 menores vazões médias anuais de afluência
natural ao Sistema
conforme Equivalente,
mostra dos últimos
a tabela I. 90 anos, 8 aconteceram entre 2011 e 2020,
conforme mostra a tabela I.

TABELA I – Vazões médias anuais de afluência natural


TABELA I – Vazões médias anuais de afluência natural
VAZÕES MÉDIAS ANUAIS DE AFLUÊNCIA NATURAL AO SISTEMA EQUIVALENTE
1953 1969 2012 2013 2014 2015 2017 2018 2019 2020
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
21,80 m /s 24,90 m /s 25,60 m /s 25,70 m /s 8,70 m /s 19,70 m /s 23,89 m /s 19,47 m /s 21,38 m /s 21,49 m /s
Fonte: Consórcio PCJ
Fonte: Consórcio PCJ

Os cenários evidenciam a necessidade de ações de planejamento estratégico,


urbano e rural, para maior armazenamento de água no caso da incidência de
Osprolongadas.
estiagens mais severas ou cenários evidenciam a necessidade
de ações de planejamento
estratégico, urbano e rural, para maior
armazenamento de água no caso da
incidência de estiagens mais severas
ou prolongadas.
SISTEMA CANTAREIRA E TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS 37

O Consórcio PCJ sempre atento e preocupado com as questões


ambientais e principalmente com os recursos hídricos da região,
acompanha sistematicamente as operações do Sistema Canta-
reira, as previsões climatológicas de chuvas e temperatura e, as
vazões nos rios das Bacias PCJ. Em razão das previsões pouco
otimistas para o ano de 2021 com relação às ocorrências de chuvas
e, comparando-se o volume útil armazenado nas represas do
Sistema Equivalente, em 31 de dezembro de cada ano, em 2020
tivemos o menor volume desde 2015, no período pós crise hídrica.
Até hoje, muitas pessoas responsabilizam São Pedro pela falta
ou excesso de chuva, se esquecendo que o desmatamento, assorea-
mento dos rios e nascentes também influenciam na qualidade dos
mananciais [9]. Temos e devemos estar preparados para períodos de
forte estiagem ou períodos de grandes cheias, mas isso somente
será possível com planejamento e conscientização de todos sobre
a importância da gestão dos recursos hídricos para o pleno desen-
volvimento sustentável das Bacias PCJ.
38 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

ORIENTAÇÕES
PARA
ESTIAGEM
39

O que podemos fazer


para aumentarmos
nossa resiliência?
40 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

O
Consórcio PCJ já há alguns anos vem alertando os
municípios da região para a necessidade de adoção
de políticas públicas que garantam eficiente gestão
e incentivo ao armazenamento da água da chuva
nos territórios urbano e rural. Essas ações passam por medidas
estruturais e não estruturais que ampliem a reservação de água
de chuva no primeiro trimestre do ano, quando temos meses com
previsão de precipitações mais significativas e/ou acima da média.


No âmbito Municipal é
recomendado o planejamento estra-
tégico para armazenamento desta
água em reservatórios de água bruta
previamente projetados ou em reser-
vatórios de água tratada distribuídos
por pontos estratégicos das cidades.
Recomenda-se que todos os reser-
vatórios de abastecimento de bairros
estejam em condições de pleno
funcionamento para garantir maior
armazenamento de água e que sejam
complementados os pontos críticos por reservatórios pré-fabri-
cados instalados estrategicamente. Os piscinões ecológicos ou
parques alagáveis também se apresentam como alternativas de
infraestrutura verde, muito utilizadas em outros países, para o
armazenamento da água da chuva em regiões a montante de áreas
sujeitas a inundações, garantindo a minimização das ondas de
pico durante os períodos chuvosos e a recarga do lençol freático.
ORIENTAÇÕES PARA ESTIAGEM 41

  No âmbito urbano a entidade recomenda o uso racional


da água e políticas de incentivo a instalação de cisternas em
residências, comércios, indústrias, parques e prédios públicos,
que permitam o armazenamento e reaproveitamento da água
da chuva para atividades menos nobres como a lavagem
de piso e carro, rega de jardim, abastecimento de sanitários,
entre outros. Hoje em dia já existem muitas empresas que
oferecem equipamentos que permitem garantir um perfeito
armazenamento de água da chuva para os mais diversos usos
e modelos de estabelecimentos e que respeitam as recomen-
dações dos órgãos de controle e fiscalização da saúde pública.
42 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Tais equipamentos são oferecidos em diversos tipos de materiais


e na maioria das vezes a pronta-entrega. É importante lembrar
que o uso de água de chuva só pode ser realizado para ativi-
dades consideradas não nobres, não sendo apropriado para o
consumo humano.
ORIENTAÇÕES PARA ESTIAGEM 43

fonte: Consórcio PCJ

 No âmbito rural recomenda-se além da execução de


cacimbas junto as estradas rurais, ampliando a infiltração
da água no solo e recarga do lençol freático, a construção ou
instalação de cisternas rurais. As cisternas rurais consistem em
três partes: a) o telhado da casa, rancho e/ou o próprio solo;
b) tanque de armazenamento de água, subterrâneo; c) sistema
de filtragem. Esse sistema é bastante simples e muito difundido
pela EMBRAPA visando o aproveitamento de águas pluviais para
complementação de atividades no meio rural, desde a desse-
dentação de animais até o uso na agricultura irrigada.
44 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

No início de 2020 o
Consórcio PCJ lançou
o documento intitulado
“Compilado Legal sobre
Incentivo ao Aproveitamento de
Águas Pluviais”, ressaltando o
período propício para uma série
de obras e ações que direta ou
indiretamente poderiam ampliar
a reservação de água nos
municípios da região.

O planejamento estratégico para tornar nossas cidades mais


resilientes e aptas a superar tais eventos extremos apresenta-se
como o grande desafio da atualidade. É importante lembrar que
as obras, originalmente, foram calculadas para chuvas com deter-
minada intensidade, duração, frequência e período de recorrência,
que na atualidade estão tendo seus recordes históricos superados
pelos “Eventos Climáticos Extremos”.
ORIENTAÇÕES PARA ESTIAGEM 45

Não existem mais as previsões da sazonalidade, ou seja, os


efeitos tradicionais das estações do ano (primavera, verão, outono
e inverno). As chuvas previstas para ocorrer em um mês, poderão
ocorrer em um único dia ou a estiagem prevista para quatro
meses poderá ser prolongada superando séries históricas. Nossas
cidades foram planejadas para realidades totalmente diferentes
das que estamos vivendo atualmente.
Dessa forma, reduzir a quantidade e a rapidez das águas que
chegam aos rios ou ribeirões canalizados, muitas vezes desconhe-
cidos pelos habitantes, é de extrema necessidade. Isso pode ser
conseguido por meio da implantação de cisternas em residências
e prédios públicos, piscinões ecológicos e alternativas estraté-
gicas de infraestrutura verde.
As ações para equacionar os problemas das estiagens e
enchentes são complementares entre si, porém são complexas
e de alto custo financeiro e envolvem uma série de medidas
associadas entre elas. A sensibilização da comunidade e a
implementação de políticas públicas eficientes que garantam a
resiliência das cidades envolve tanto o poder público quanto a
ação da sociedade em geral.

Devemos projetar nossas


cidades para que sejam
mais permeáveis!
46 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Além destas, existem


outras recomendações a
serem seguidas?

Existem inúmeras outras ações que podem ser realizadas


previamente para garantir a sustentabilidade hídrica, muitas
dessas ações estão em documentos ou diretrizes elaboradas pelo
Consórcio PCJ e disponibilizadas a seus associados.
O Consórcio PCJ publicou em 2020 o documento “Os 30
Mandamentos para o combate da Estiagem”, que traz uma série
de recomendações preventivas para ampliação da resiliência e
minimização dos efeitos da estiagem. Podemos destacar:

 Incentivar a implantação de novas tecnologias mais


eficientes no consumo de água, como o gotejamento na
agricultura, o reuso na indústria, e tecnologias inteligentes em
escolas e prédios públicos (torneiras e cisternas).


Estudar estratégias regionais para diversificação de
fontes para o uso dos recursos hídricos, como por exemplo a
construção de grandes reservatórios de regularização (Pedreira,
Duas Pontes e Piraí).
ORIENTAÇÕES PARA ESTIAGEM 47

 Cadastrar fontes alternativas e seguras para atendimento


emergencial de água, como as águas subterrâneas, tanques
particulares, entre outros, atrelando planejamento estratégico e
logístico para o abastecimento através de caminhões-tanque e
tubulações de engate rápido.

 Aumentar o estoque de suprimentos essenciais no trata-


mento de água para período de pelo menos 6 meses. Buscar
armazenar o estoque em depósitos complementares caso não
exista capacidade.

 Sensibilizar a população quanto às consequências das


captações e lançamentos irregulares, e aumentar a fiscalização
para impedir que eles aconteçam.

 Sensibilização, preservação e recuperação de nascentes


nas áreas rurais, e reflorestamento das matas ciliares dos rios.

SECRETARIA EXECUTIVA
Consórcio PCJ
2 0 2 1
48 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

Referências:

1. AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ. Relatório de Situação dos


Recursos Hídricos 2017; Versão Simplificada ano Base 2016 – 79p.

2. AGÊNCIA DAS BACIAS PCJ. Relatório de Gestão das Bacias


PCJ 2020; Ano Base 2019 – 66p.

3. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO (ANA)


- ANA divulga relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no
Brasil – Informe 2014.

4. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO (ANA) -


Sistema Cantareira – Boletins Diários – disponível em: https://www.
gov.br/ana/pt-br/sala-de-situacao/sistema-cantareira/sistema-
cantareira-boletim-diario

5. Boletim Nº 12/2020 - Situação Atual e Projeção Hidrológica


para o Sistema Cantareira – CEMADEN/MCTI - http://www.cemaden.
gov.br/?s=cantareira

6. COMITÊS PCJ – Plano de Recursos Hídricos das Bacias PCJ


2020-2035, Relatório Final – setembro 2020 – 850p.

7. Diálogo regional de Política de América Latina y el Caribe –


versión Cancun- COP.

8. Equipe Caminhos Para o Futuro - COP 21: Quais as soluções para


a crise hídrica no Brasil? Disponível em https://epocanegocios.globo.
com/Caminhos-para-o-futuro/Desenvolvimento/noticia/2015/12/
cop-21-quais-solucoes-para-crise-hidrica-no-brasil.html
REFERÊNCIAS 49

9. Guapyassú, Maisa - Brigando com São Pedro – publicado


em 22/11/2007- disponível em https://www.oeco.org.br/colunas/
colunistas-convidados/16811-oeco-24980/

10. Instituto Nacional de Meteorologia – INMET - Prognóstico


climático de verão – disponível em https://portal.inmet.gov.br/uploads/
notastecnicas/PROGNOSTICO_ver%C3%A3o_2020_2021.pdf

11. Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) - Sumário


das mudanças de clima projetadas pelo INPE CCST para o Brasil
até final do Século XXI – disponível em http://mudancasclimaticas.
cptec.inpe.br/

12. IRI ENSO, Previsão – International Research Institute for


Climate and Socitey – disponível em https://iri.columbia.edu/
our-expertise/climate/forecasts/enso/current/?enso_tab=enso-
quicklook

13. SABESP – Portal dos Mananciais – disponível em: http://


mananciais.sabesp.com.br/Situacao

14.
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "Mudanças climáticas";
Brasil Escola. https://brasilescola.uol.com.br/biologia/mudancas-
climaticas.htm.

15. Revista Galileu – disponível em https://revistagalileu.globo.


com/Ciencia/noticia/2020/01/6-gifs-representam-principais-
mudancas-climaticas-dos-ultimos-140-anos.html
50 INFLUÊNCIAS DO CLIMA NO SISTEMA
CANTAREIRA: CENÁRIOS PARA 2021

WWW.AGUA.ORG.BR

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