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INFLUÊNCIA DE OSCILAÇÕES INTERDECADAIS NA

PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL

Daris Correia dos Santos¹ Raimundo Mainar Medeiros² José Ivaldo Barbosa de Brito³

1
Bolsista CAPES do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia, UFCG, Campina
Grande, PB, dariscorreia@gmail.com
² Bolsista CAPES do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia, UFCG, Campina
Grande, PB, mainarmedeiros@gmail.com
3
Meteorologista, Prof. Dr. Unidade Acadêmica de Ciências Atmosférica-UFCG,
Ivaldo@dca.ufcg.edu.br

Resumo

O objetivo principal é analisar possíveis influências da Oscilação Decadal do Pacifico


(PDO) nos índices extremos de precipitação da Amazônia Ocidental. Foram utilizados
dados anuais de precipitação, distribuídos em pontos de grade, oriundas da reanalise do
Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo (ECMWF), para o período de
1967 a 2001. Também foram utilizadas informações de índices de teleconexões PDO
extraídos do Home Page do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos
da América (NCEP). A análise foi realizada em nível anual. Os resultados mostraram
que existe associação entre a chuva e a PDO, de modo que décadas com chuvas acima
da normal são associadas à fase quente da PDO, intercaladas com décadas com chuva
abaixo da normal associadas à fase fria da PDO, o que indica oscilações periódicas de
médio e longo prazo na precipitação pluvial da Amazônia Ocidental.

Palavras-chave: Índices, Anomalias, Variabilidade Climática.

INTRODUÇÃO

O clima atual da região Amazônica é uma combinação de vários fatores como


latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, vegetação, relevo, etc, sendo que o
mais importante é a disponibilidade de energia solar, através do balanço de energia.

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Situada na região entre 5oN e 10oS recebe no topo da atmosfera um valor máximo de
36,7 MJ.m-2.dia-1 em Dezembro/Janeiro e um valor mínimo de 30,7 MJ.m-2.dia-1 em
Junho/Julho (Salati e Marques, 1984). Esta distribuição é controlada pela nebulosidade
advinda da migração SE/NW da convecção amazônica (Horel et al., 1989).
O nome Oscilação Decadal do Pacífico (PDO) foi dado pelo biólogo Steve Hare
da Universidade de Washington em 1996, junto com outros pesquisadores como,
Nathan Mantua, Yuan Zhang, Robert Francis e Mike Wallace , que descobriram esse
padrão decadal de trabalhos feitos sobre a variação da população dos peixes no Pacífico
norte (Mantua et al., 1997).

A fase quente da Oscilação Decadal definida por Mantua et al. (1997),


configura-se com um forte sistema de baixa pressão das Aleutas, águas de superfície
mais frias do que o normal no Pacífico Norte Central e Oeste, e mais quentes do que o
normal na costa oeste das Américas e no Pacífico Tropical Central e Leste. As
mudanças de fase da PDO, com duração de 20-30 anos, são relativamente abruptas.

Na América do Sul, vários estudos mostraram que a variabilidade na escala


interdecadal é significativa na precipitação da Argentina e Uruguai e nas vazões de rios
no sudeste da América do Sul (e.g. Castañeda e Barros, 1994; Krepper e Sequeira,
1998; Robertson e Mechoso, 1998). Estudos mostram também que há sinais de
variabilidade interdecadal na precipitação e vazões na Amazônia (e.g. Marengo, 1999).
Bischoff et al. (1997) na região da Bacia do Rio Uruguai observaram ciclos entre 14 e
15 anos, 8 e 9 anos, e entre 3,5 e 4 anos, os quais estão associados a frequências baixas,
sendo o último provavelmente associado a eventos El Niño.
A variabilidade da PDO pode produzir diferenças entre chuvas sazonais de
primavera e verão de até 50% entre fases opostas de uma oscilação. Estas fases podem
durar uma década ou mais e produzir secas severas e constantes, assim como estações
muito úmidas. Elas ainda influenciam no início e final da estação chuvosa, o que pode
ter consequências significativas.

MATERIAL E MÉTODOS

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No presente trabalho foram usados dados de reanalise do projeto ERA-40 do
Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo (ECMWF - European Center for
Medium-Range Weather Forecasts), de precipitação de 1967 a 2001 da Amazônia
Ocidental (Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia), disponibilizados em ponto de grade
com resolução de 2,5° x 2,5°, e de índices de PDO disponíveis no site do NCEP
(National Centers for Environmental Prediction).
Para a analise dos dados foi utilizado o software Excel. Os dados foram
agrupados anualmente, calcularam‑se a média para o período 1967–2001 – denominada
de normal- e as respectivas anomalias, (subtraindo-se o valor de cada ano do valor da
normal (1880,66 mm)). Desse modo, anomalias negativas e positivas representam
valores de precipitação abaixo e acima da normal, respectivamente. Posteriormente,
realizou‑se a análise de frequência, pelo cálculo da percentagem de anos com anomalias
negativas e positivas, em cada agrupamento, em dois períodos: 1967–1976 (fase fria da
PDO), 1977–1998 (segunda fase quente da PDO). O período de 1999 a 2001 não foi
incluído nas análises de frequência, pela pequena série com dados pluviométricos. Para
detectar periodicidade (oscilações e suas frequências) na série temporal de precipitação
de 1967–2001, relacionadas à PDO, foram identificadas as fases quente e fria da PDO,
Figura 1. Uma fase fria completa ocorreu no período de 1947-1976 (29 anos). Já a
última fase quente ocorreu no período de 1977-1998 (21 anos). A fase fria corresponde
ao maior número de La Niña e a fase quente ao maior número de El Niño.

Figura 1. Fases da Oscilação Decadal do Pacífico (Fonte: CPC-NOAA).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A La Niña é um fenômeno em que ocorre o abrandamento das águas superficiais


do oceano Pacífico, gerando intensificação dos padrões atmosféricos em toda faixa
longitudinal do nosso planeta. Na Amazônia, o La Niña, normalmente, estar associado
ao acréscimo de precipitação (Figura 2). A fase fria da PDO corresponde ao maior
número de La Niña. Ocorreu La Niña de intensidade forte para o período relacionado à
fase fria de PDO nos anos de 1973 e 1975.

Segundo Oliveira (1999) o fenômeno El Niño é um aquecimento anormal das


águas do Oceano Pacífico Equatorial, conjugado com o enfraquecimento dos ventos
alísios na região equatorial, provocando um déficit de precipitação pluviométrica no
norte e leste da Amazônia. As causas desse aquecimento ainda são desconhecidas e não
possuem duração e periodicidade exatas. Na Amazônia, esse fenômeno contribui para a
diminuição das precipitações (Figura 3). A fase quente da PDO estar associada ao maior
número de El Niño. Ocorreu El Niño de intensidade forte para o período relacionado à
fase quente da PDO nos anos de 1982 e 1997.

Normal (mm) y = 68,669x + 1429,6 y = -6,3819x + 1979,2


Normal (mm)
R² = 0,5401 R² = 0,0546
Linear (Normal (mm)) Linear (Normal (mm))
2500 2500
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)

2000 2000

1500 1500

1000 1000

500 500

0 0

Figura 2: Tendência da precipitação (mm) durante Figura 3: Tendência da precipitação (mm)


a fase fria da PDO. durante a fase quente da PDO.

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Na Tabela 1 observam-se a intensidade do fenômeno climático El Niño e La
Niña que foi classificada em classes fraca, moderada e forte utilizando-se a média do
ION (Índice Oceânico Niño).

Tabela 1. Classificação anual da intensidade do fenômeno ENOS 3.4.


El Niño La Niña
Fraco Moderado Forte Fraco Moderado Forte
1969 1951 1957 1950 1955 1973
1976 1963 1965 1954 1970 1975
1977 1968 1972 1956 1998 1988
2004 1986 1982 1962 2007 1999
2006 1987 1997 1964 2010
1991 1967
1994 1971
2002 1974
2009 1984
1995
2000
2011
Fonte: NOAA - National Weather Service.

Na Figura 4, estão representados a distribuição dos totais médios anuais de


precipitação e o respectivo índice PDO médio de cada ano da série histórica 1967–
2001. As décadas com chuvas acima da normal estão associadas à fase quente da PDO,
intercaladas com décadas com chuva abaixo da normal associadas à fase fria da PDO.

Precipitação Média Anual(mm) Normal PDO


2500 2
Fase quente 1,5
2000
Precipitação (mm)

1
1500 0,5
PDO

Fase fria
1000 0
-0,5
500
-1
0 -1,5

5
Figura 4. Total de precipitação anual na Amazônia Ocidental (1967-2001).

A análise de frequência das anomalias negativas de precipitação na fase fria


corresponde a 49% e as anomalias positivas a 51%; na fase quente as anomalias
positivas correspondem a 53% e as anomalias negativas a 47% (Figura 5).

Precipitação Média (mm) Anomalias Linear (Anomalias)


2500 0,001

Anomalias positivas e negativas


Fase fria Fase quente 0,0005
2000 0
Precipitação (mm)

-0,0005
1500
-0,001
-0,0015
1000
-0,002
500 -0,0025
-0,003
0 -0,0035

Figura 5. Anomalias positivas e negativas da precipitação (mm) na Amazônia


Ocidental.

Os mecanismos dinâmicos que produzem precipitação na Amazônia, descritos por


Vianello e Alves (1991), resultam da combinação ou da atuação predominante da Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT), das linhas de instabilidade, da penetração de
sistemas frontais, da fonte de vapor d’água representada pela floresta amazônica e pela
atuação da cordilheira dos Andes. A Fig.6 mostra a variabilidade espacial dos totais
médios anuais de precipitação na Amazônia Ocidental. Os maiores valores de
precipitação anual se concentram na parte central da Amazônia Ocidental, acima de
6°S, com núcleo máximo no lado oeste. Os menores valores estão na parte norte da área
em estudo.

6
4

2
2600
2500
0 2400
2300
2200
-2
2100
2000

-4 1900
1800
1700
-6 1600
1500
1400
-8
1300
1200

-10 1100
1000

-12

-74 -72 -70 -68 -66 -64 -62 -60 -58

Figura 6. Distribuição da precipitação média anual (mm) na Amazônia Ocidental no


período de 1961 a 2001.

CONCLUSÃO

1. A variabilidade interdecadal do regime de chuva na Amazônia Ocidental está


associada a mudanças nos campos de circulação atmosférica e oceânica no
Pacífico Central que ocorreu entre 1975-1976 e, aparentemente, está associada
com a fase positiva da Oscilação Decadal do Pacífico (PDO).
2. Na Amazônia Ocidental notam-se variações interdecadais de períodos
relativamente mais secos ou chuvosos.
3. As variações interanuais e interdecadais, associadas à variabilidade natural do
clima torna-se importante nas mesmas escalas temporais da variabilidade dos
fenômenos interdecadais.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

Bischoff, S.A.; Garcia, N.O. e Vargas, W.M., 1997: On the variability of the Uruguay
River in south America. Preprints. 7thconference on climate varations. Long Beach,
American Meteotological Society, J28-J30.

7
Castañeda, M.E. e V.R. Barros, 1994: Las tendencias de la precipitacion en el Cono Sur
de America al leste de los Andes. Meteorologica, 19, 23-22.

Horel, J.D.; Hahmann, A.N.; Geisler, J.E. An investigation of the annual cycle of
convective activity over the tropical Americas. Journal of Climate, 2(11), p.1388 -
1403, 1989.

Krepper, C.M. e M.E. Sequeira, 1998: Low frequency variability of rainfall in


southeastern South America. Theor. Appl. Climatol., 61, 19-28.

OLIVEIRA, José Aldemir de et al. (organizadores). Cidade de Manaus: visões


interdisciplinares. Manaus: Edua, 2003.

Salati, E. e Marques, J. Climatology of the Amazon region. In The Amazon - Limnology


and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Sioli, H. (ed.). Dr. W.
Junk Publishers, 1984. 763 p.

Robertson, A. W. e C.R. Mechoso, 1998: Interannual and decadal cycles in river flows
of southeastern South American. J. Climate, 11, 2570-2581.

Mantua, N. J., Hare, S. R., Zhang, Y. et al; A Pacific Decadal Interdecadal Climate
Oscillation with impacts on Salmon production, Bulletin of American Meteorological
Society, 78, 1069-1079, 1997.

Marengo, J.A, 1999: Observed historical long-term trends in precipitation in the


Amazon basin since the late 1920's. Preprints, 10th Symposium on Global Change
Studies, Dallas, American Meteorological Society, 135-138.

Vianello, R. L.; Alves, A. R.1991. Meteorologia Básica e Aplicações. 449pp.

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