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7(2), 583-592
RESUMO
ABSTRACT
Tabela 3. Categorias das estações chuvosas definidas em função dos percentis. Os valores que expressam os intervalos
das categorias são em mm. As categorias representam os seguintes intervalos de percentis: M S ( S 20%); S
(> 20% S 40%), N (> 40% S 60%), C (> 60% e S 80%) e MC (> 80% e S 100%).
REGIÕES CATEGORIAS
MS S N C MC
Setor n o r t e d o NEB S 382 > 382 S 468 > 468 S 557 > 557 S 665 > 665
Sub-região 1 S 703 > 703 S 905 > 905 S 1067 > 1067 S 1227 > 1227
Sub-região 2 C 662 >662<786 >786S 910 > 910S1094 >I094
Sub-região 3 C 327 > 327 S 443 > 443 S 562 > 562 < 685 > 685
Sub-região 4 S 439 > 439 S 516 > 516 S 594 > 594 S 705 > 705
Sub-região 5 S 251 > 251 S 324 > 324 S 398 > 398 S 454 > 454
Sub-região 6 C 199 > 199 S 262 > 262 S 318 > 318 S 381 > 381
Tabela 5. Freqüência de ocorrência (percentagem) de um evento ENOS parece não afetar a formação e fre-
anos classificados como: Muito Chuvoso qüência dos sistemas de meçoescala (como efeitos de
(MC), Chuvoso (C), Normal (N), Seco (S) e brisas e linhas de instabilidade) que atuam no sentido de
Muito Seco (MS) em cada uma das sub-re- incrementar o índice pluviométrico, particularmente das
giões estudadas. Classificação realizada em regiões mais próximas do litoral, caso das sub-regiões 1,
função do valor do total pluviométrico médio 2 (Knusky, 1980; Cavalcanti, 1982).
da estação chuvosa, nas respectivas sub-re- No que se refere a grande diferença mostrada na
giões. classificados nas categorias definidas Figura 2d, as classificações dos periodos chuvosos, mé-
pelos intervalos de percentis. dios. em S e MS (sub-regiões 1 e 2). aparentemente é
uma conseqüência da forte heterogeneidade encontrada
nas séries dos totais pluviométricos, médios de ambas as
sub-regiões. Para estes anos em que ocorreram eventos
ENOS, e o total pluviométrico, durante a estação chwo-
sa, sobre o setor do NEB como um todo foi classificado
dentro da categoria de uma estação MC, verificou-se que
tanto para a sub-região 1 como para a 2, os seus totais
pluviométricos estavam inseridos nas categorias de anos
S e até MS.
A Figura 3 mostra a classificação dos totais pluvio-
métricos médios, segundo as categorias definidas na Ta-
bela 3, para os 17 anos (+) dos eventos ENOS analisados
no estudo. Nota-se que em média, não levando-se em
consideração as caracterlsticas dos eventos, como mag-
nitude e localização das anomalias de TSM e atividade
convectiva no Pacifico Tropical, em média, os períodos
foram classificadas como N (Fig. 2a). Nos anos normais chuvosos ao longo do setor norte do NEB, tendem a ser
(Fig. 2b), períodos chuvosos normais foram verificados normal e até chuvosos sobre o setor norte do NEB.
apenas nas sub-regiões 3,4 e 5, enquanto as demais sub- A sub-região mais afetada aparentemente pelos
regiões tiveram seus períodos chuvosos classificados eventos ENOS é a sub-região I,enquanto a sub-região 6
como chuvosos e até muito chuvosos (sub-região 6). teve seu indice pluviométrico menos reduzido. Vale men-
Para os anos classificados como chuvosos, as esta- cionar que, a sub-região 6 têm seu periodo chuvoso ini-
ções chuvosas mais abundantes ocorreram nas sub-re- ciado um mês antes das demais sub-regiões, além de que
gióes 1 e 6, cujos totais pluviométricos médios foram esta se localiza em uma área de transição para o sul do
classificados nas categorias de estações MC. Por outro NEB, sofrendo influência mais direta das chuvas de verão
lado, a sub-região 2, apreseptou uma estação chuvosa provocadas pela atividade convectiva associada à Zona
média deficiente, classificada na categoria de uma esta- de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (Calheiros &
ção S (Fig. 2c). Silva Dias, 1988). Outro fato, é que a sub-região 6 apre-
Durante os anos considerados MC uma característi- senta o menor índice pluviométrico médio, ao longo do
ca interessante foi verificada ou seja, enquanto todas as seu periouo chuvoso, comparado às demais sub-regiões
sub-regiões apresentaram um periodo chuvoso médio {Tabela 1).
classificado na categoria de uma estação MC, as sub-re-
Nota-se também na Figura 3, que as sub-regiões
giões 1 e 2 tiveram seus periodos chuvosos, médios, clas-
sificados como MS e S (Fig. 2d). com periodos chuvosos médios classificados nas catego-
Nos anos MS, verificamos que quase todas as rias de N a C, estão localizadas aproximadamente abaixo
de 4% de latitude. Nesta localização, tais sub-regiões são
sub-regiões apresentaram um periodo chu\~osomédio
mais beneficiadas pela atividade convectiva, associada a
deficiente, enquadrado como S ou MS, exceto a sub-re-
ZCAS, que se intensifica durante os anos de ENOS. Res-
gião 6 cujo período chuvoso médio foi classificado como
salta-se também, que nesta análise não foi considerada a
N (Fig. 2e).
variabilidade espacial a longo de cada uma sub-região.
0 s mapas analisados acima foram importantes para
mostrar uma certa diferença da influência dos episádios É importante mencionar que nem todos os anos de
ENOS, durante o periodo chuvoso, em particular nas estiagem no setor norte do NEB estiveram ligados A
sub-regidos 1, 2 e 6. Pela distribuição apresentada nos ocorrência de episódios ENOS. A Figura 4 mostra o ex-
anos S (Fig. Za), pode-se supor que a tirea de subsidên- cesso ou déficit de chuvas representados pelo desvio p e ~ -
cia, sobre a Amazdnia Oriental, setor norte do NEB e centual; para o periodo da quadra chuvosa do setor norte
Oceano Atlantico, provocada quando da ocorrhcia de do NEB com u m todo, onde se pode verificar esta carac-
Jose Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli
REGIA0 ESTUOADA-
' ANO SECO ANO NORMAL
-12 - .I2 -
-45. -43. -41. -39 -37. -35. -45 -43 -41' -39 -37 -35.
LONGITUDE
LONGITUDE
TSM e suas anomalias na bacia do Pacífico Equatorial torno da média (1966, 1969, 1987) e até acima (1973,
-
(campos cedidos pelo Climate Analysis Center EUA no 1978).
período de agostolmaio de 1986 a 19871, classificamos o
episódio ENOS relativo a este ano no tipo 1 de Fu et alii
(19861, embora as anomalias não tenham sido muito su- Tabela 6. Comparação dos anos (+) (Tabela 2). tendo
periores à climatologia, e o aquecimento tenha se pro- como base a quantidade de chuvas, no pe-
longado por todo o outono do Hemisfério Sul. ríodo chuvoso sobre o setor norte do NEB,
com a classificaçáo segundo Fu et alii (19861e
Quinn et alii (1978), exceto o ENOS de
198211983 que não foi incluido nas análises.
TYPE 1 O asterisco significa que o referido evento
ENOS não foi classificado por este autor.
TYPE 3
Anos Categoria Fu et alii Quinn et alii
TYPE 2
Fraco
*
Forte
Muito fraco
Moderado
*
Figura 5. Mapa esquemAtico dos padrões de aqueci- Fraco
mento equatorial associado com eventos Forte
ENOS, classificados de acordo com Fu et alii
Moderado
(1986). Fonte: Fu et alii (1986).
Moderado
*
Quinn et alii, 1978 classificou os eventos ENOS,
analisando a intensidade, a extensão da área e a duração
das anomalias de TSM ao longo da bacia equatorial do Os coeficientes de correlação calculados entre a sé-
Oceano Pacífico. rie de IOS e a de precipitação, utilizando-se os postos
Na Tabela 6 pode-se comparar a classificação atri- pluviométricos tanto isoladamente, como agrupados por
buida pelos autores citados acima, e a obtida em função sub-regiões, nos respectivos "lags" citados na seção de
do valor do total pluviométrico médio para o período metodologia, foram excessivamente baixos, não chegan-
chuvoso, do setor norte do NEB como um todo, classifi- do a explicar 30% da variância das chuvas observadas.
cada em uma das categorias mostradas na Tabela 3. Res- Relacionado a significãncia desses coeficientes, o teste T
salta-se que, para esta comparação, o valor do total plu- de Student mostrou que, exceto um reduzido nlimero de
viométrico utilizado foi o referente ao do segundo ano postos que não representam 10% das estações usadas
para qual foi classificado o evento ENOS. Isto se deve ao neste estudo cujos coeficientes foram significativos aos
fato de que, em geral, os eventos ENOS afetam com níveis de 90% e 95%, a maior parte das estações apre-
maior intensidade a quadra chuvosa do ano (+), como já sentaram coeficientes de correlação significativos a níveis
foi exposto na seção de metodologia. inferiores a 60%.
Nota-se uma variabilidade muito grande entre a
intensidade dos eventos ENOS classificada pelos autores
e a classificação atribuida ao período chuvoso verificado
no setor norte do NEB. Em geral, nos anos em que
ocorreram eventos do tipo 1 segundo Fu et ali; (1986) e
forte segundo Quinn et alii (1978). foram verificadas chu-
vas abaixo da média sobre a região (períodos chuvosos S Apesar de estatisticamente, o número de eventos
e MS). Entretanto, para alguns anos a classificação do ENOS estudados ser relativamente pequeno, os resulta-
evento foi do tipo 1 e o total pluviométrico verificado dos mostraram que não existe uma tendência predomi-
durante a quadra chuvosa do setor norte do NEB foi em nante de que, nos anos de ocorrência da fase quente des-
A variabilidade pluviométrica no setor norte do nordeste e os eventos El Nitío-Oscilação Sul (ENOS)
ses episódios, a quadra chuvosa do setor norte do NEB, Por outro lado, a resposta a este fenomeno em re-
se situe abaixo da climatologia. lação à distribuição de chuvas intra-regionais é bastante
Relacionado a anos considerados muito chuvosos variada. Esta resposta deve-se As características específi-
ou chuvosos no setor norte do NEB quando da ocorrên- cas de cada sub-região, principalmente à sua posição
cia de episódio ENOS, as análises mostraram que IOS, geográfica. seu quadrimestre mais chuvoso e os princi-
em média, já apresentava-se nos meses mais próximos e pais sistemas atmosféricos responsáveis pelas chuvas so-
até dentro da estação chuvosa bastante negativo e relati- bre as mesmas.
vamente alto em módulo (>1,5). Este fato evidencia, o As análises realizadas indicaram que os eventos
porque da relação não tão direta entre 10s e as chuvas ENOS, dependendo do grau e das caracteristicas espa-
no semi-árido nordestino, explicando de certa forma a ciais e temporais das anomalias de TSM no Pacífico
baixa correlação encontrada entre os mesmos. O que su- Equatorial, estão ligados ou não a anos de estiagem
põe-se ter acontecido, nestes anos, é que as característi- prolongada no setor norte do NEB. Neste sentido, torna-
cas físicas da TSM e principalmente a mãxima atividade se de fundamental importância o monitoramento destas
convectiva não se localizaram na costa oeste da América caracteristicas, que poderão sewir de subsfdios às ativi-
do Sul. durante os meses de verão ou sobre o outono dades de previsão climática da quadra chuvosa do setor
austral. Em anos secos e muito secos, esta característica norte do NEB e das suas diversas sub-regiões.
também é evidente. Porém, as configurações das anoma-
lias de TSM e a atividade convectiva estão bem mais pró-
ximas ou ao longo da costa oeste da América do Sul.
Com relação ao mencionado no parágrafo anterior, 5. AGRADECIMENTOS
podemos citar o episódio de 199111992, em que o IOS já
se apresentava bastante negativo, e elevado em mbdulo 0 s autores são gratos aos revisores andnimos da
desde janeiro (-3,4), e o ENOS não afetou substancial- RBMet pelas críticas e sugestões que muito contribuiram
mente as chuvas de janeiro, fevereiro e março. no setor para 0 aprimoramento deste trabalho, e todos aqueles
norte do NEB, vindo influenciar diretamente na redução que de alguma forma deram o seu esforço para que este
das chuvas apenas em abril, quando a máxima atividade artigo se completasse. Este trabalho foi financiado pela
convectiva começou a desenvolver-se junto a costa oeste Fundação de Desenvolvimento e Tecnologia do Estado
da América do Sul no final de março e início de abril (a- do Ceará (FUNDETECI, como parte do projeto Estudos
nálise visual nas imagens diárias do METEOSAT-4). Meteorológicos, convênio no 004192.
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