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Revista Brasileira de Meteorologia; 1992; Vol.

7(2), 583-592

A VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA NO SETOR NORTE DO NORDESTE E OS


EVENTOS EL NINO-OSCILAÇÃO SUL (ENOS)

Jos6 Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli

Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME


Caixa Postal D-3221
60325-000 Fortaleza, CE

RESUMO

Este trabalho investigou a influência do episódio El Niíío-Oscilação Sul (ENOS), fase


quente, na distribuição de chuvas sobre o setor do Nordeste do Brasil (NEB) e suas
respectivas sub-regiões. Foram analisados 17 episódios ENOS (compreendidos entre
o período de 191211990).
Embora o número de eventos ENOS estudados tenha sido relativamente pequeno, os
resultados mostraram que não há um predomínio para anos de estiagem (secos ou
muito secos), sobre o setor norte do NEB, quando comparado a ocorrência de anos
normais ou muito chuvosos.
Entretanto, a resposta a este fenómeno 6 bastante variada quanto à distribuição de
chuvas intra-regionais. Tal resposta deve-se às características especfficas de cada sub-
região, principalmente a sua posição geográfica, seu quadrimestre mais chuvoso e os
principais sistemas atmosf6ricos responsáveis pelas chuvas sobre as mesmas.

ABSTRACT

l n this work we researched the influence of El Niiio-Southern Oscillation (ENSO)


episodes, warm fase, in rainfall distribution in the North sector of Northeast Brazil and
its micro regions. Seventeen ENSO episodes were analised (in the period 1912-1990).
In spite of the'fact that the number of ENSO events studied is relatively short, the
results show that there is no predominance of years of dry weather (dry or very dry),
over the Northeast Brazil, when compared with the occurrence of normal or very rainy
yea rs.
However, the effect of this phenomenon is variable with respect t o intraregional rain
distribution. These effects take into account the specific characteristics of each micro
region, mainly its geographic position, its wettest four months and the main
atmospheric systems responsible for rainfall in each micro-regions.

Um fenomeno que interfere nas características cli-


máticas desta circulação de grande escala da atmosfera
A atmosfera terrestre, um fluido gasoso que pode terrestre 6 o fenbmeno El Niíío Oscilação Sul (ENOS).
sofrer tanto efeitos de compressão como de expansão, Aparentemente, a diferença de pressão ao'nível do mar
é regida por uma circulação geral, que implica basica- (PNM) entre os setores centro-leste (Tahiti) e oeste (Dar-
mente em ar ascendente nas regiões mais quentes e ar win) no Oceano Pacifico Tropical, está relacionada a um
descendente nas regiões menos aquecidas. Esta circula- aquecimento andmalo de águas geralmente frias no lado
ção, sem levar em consideração os efeitos de rotação da leste d&se oceano. Este aquecimento, provoca mudanças
Terra, é o principio fundamental para definir as condições na circulação de grande escala da atmosfera, causando
climáticas predominantes, particularmente no que diz anomalias climáticas em várias regiões do globo (Ops-
respeito a precipitação, para as várias regiões do globo. teegh and van Dool, 1980; Hoskin & Karoly, 1981 e
José Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli

Webster, 1981; Wallace & ~ u t z l e r 1981;


, Horel & Wallace,
1981; Kousky et alii, 1984 e outros).
O setor norte do Nordeste do Brasil (NEB), parti-
cularmente o semi-árido, constitui-se numa região ex-
tremamente anômala quanto a distribuição de chuvas,
em relação a outras regiões localizadas nas mesmas lati-
tudes (como 6 o caso da Amazônia). Para essa região, al-
guns trabalhos têm mostrado que o ENOS provoca uma
redução das chuvas (De Brito, 1984; Nobre 81 Oliveira,
1985; Ropelewski & Halpert, 1986). Entretanto, nenhum
desses trabalhos analisou seus efeitos intra-regionais.
O objetivo deste estudo foi verificar a distribuição
de chuvas sobre o setor norte do NEB durante os anos de
ocorr8ncia da fase quente de episódios ENOS. Atraves
desta análise pode-se ter uma idéia de como este episó-
dio influência a região como um todo ou as vhrias micro-
regiões homogêneas da mesma. Os resultados obtidos
poderão subsidiar as atividades de previsão climática a
respeito do período chuvoso nas diversas sub-regiões do
setor norte do NEB.
-4 3 -4 1 -39 -37. -3 5
2. DADOS E METODOLOGIA LONGITUDE

Foram utilizadas séries de totais mensais de preci-


pitação para 66 estações, período variável entre 19121
1990, espacialmente bem distribuídas pelo setor norte do
Figura 1. Área de estudo (setor norte do NEB) e suas
NEB (Fig. 1). Estes dados foram cedidos pelo Departa-
respectivas sub-regiões. Os pontos são os
mento Nacional de Água e Energia Elétrica (DNAEE) e
postos pluviométricos utilizados no estudo.
pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hi-
dricos (FUNCEME).
A metodologia básica fundamentou-se em Scho-
nher & Nicholson (1989). As áreas homogêneas, dentro
do setor norte do NEB foram escolhidas em função da
comparação do total medi0 anual de precipitação e o Tabela 1. Totais pluviométricos médios de longo tem-
quadrimestre mais chuvoso para as estações das respec- po (mm): anual (TPMA) e para a quadra chu-
tivas micro-regiões. Seis'su b-regiões foram classificadas vosa (TPMQC) e o quadrimestre mais chuvo-
(Fig. 1 e Tabela 1). As sub-regiões 1 e 2 apresentam pre- so (QMC) para o setor norte do NEB como
cipitação média anual superior a 1000 mm, porém com u m todo e para as sub-regiões estudadas.
quadrimestre mais chuvoso diferente. As sub-regiões 3,4
e 6 com índices médios de precipitação anual situando-se
entre 600 m m e 1000 m m e também com quadrimestre
mais chuvoso diferenciado, e a sub-região 5 com media
TPMA TPMOC OMC
anual de precipitação inferior a 600 mm.
Inicialmente, para os totais mensais de precipitação,
foram executados alguns testes para verificar se a preci - Setor norte do N E B 804 548 FevlMarlAbrlMai
pitação durante a quadra chuvosa sobre o setor norte do
NEB como um todo e das suas respectivas sub-regiões Sub-região 1 1310 997 FevlMarlAbrlMai
poderia ser considerada como tendo uma distribuição Sub-região 2 1188 885 JanlFevlMarlAbr
com características de homogeneidade. Estes testes fo-
Sub-região 3 692 544 FevlMarlAbrlMai
ram executados segundo Kraus (1977) e Nicholson (1986).
Tais testes tem como base análises de variâncias, fazen- Sub-região 4 807 577 JanlFevlMarlAbr
do-se comparações entre a variabilidade temporal das Sub-região 5 533 358 DezlJanlFevlMar
séries regionais com a variabilidade espacial dentro da
respectiva região em análise, neste caso, o setor norte do sue-região 6 730 312 DezlJanlMarlAbr
NEB como u m todo e as sub-regiões estudadas.
A variabilidade pluviométrica no setor norte do nordeste e os eventos El Niíio-Oscilação Sul (ENOS) 585

A variabilidade interanual da precipitação no setor vosa do setor norte do NEB.


norte do NEB, foi investigada atravAs do total' pluviomA- Apesar da grande irregularidade temporal e espa-
trico relativo'^ quadra chuvosa do setor norte do NEB cial da precipitação nesta região, ocasionada principal-
como um todo, e das suas diversas sub-regiões, utilizan- mente pela característica convectiva dos sistemas at-
do-se sAries com u m número de anos superiorea a 30 mosféric6s provocadores destas precipitaçóes, este cál-
anos de dados, referente a cada estação utilizada no es- culo foi importante para mostrar que o ano (+) A signifi-.
tudo. Posteriormente. foi obtido um total pluviométrico cativamente o mais afetado quanto a distribuição de chu-
mAdio dado pela soma dos totais pluviom~tricosindivi- vas. Os resultados evidenciaram que aproximadamente
duais dividido pelo número de estações usadas. 70% das 66 estações utilizadas no estudo apresentaram
Os episódios ENOS foram estudados dentro do desvios percentuais, relativo ao.total pluviométrico médio
período compreenc(i$o entre 1912 e 1990. Foram escolhi- da estação chuvosa, inferiores a -30% do valor do desvio
dos neste periodo 17 casos considerados como episódios verificado no ano (O). Tendo como base estes resultados
ENOS de acordo com Rasmusson & Carpenter (1983) ex- os cálculos citados em pakgrafos anteriores foram feitos
ceto o de 1986 que foi documentado recentemente (Ta- para os anos posteriores aos da Tabela 2.
bela 2). Ressalta-se que o ENOS de I98211983 não foi in- Foram calculados coeficientes de correlação linear
cluído nas an8lises por ter sido o episódio mais f m e já entre o índice de Oscilação Sul (10s) e os totais mensais
verificado neste sAculo. Tal característica poderia influen- de chuva no setor norte do NEB como um todo e suas di-
ciar substancialmente os resultados. versas sub-regiões. A metodologia básica para este cál-
culo fundamentou-se em Rao & Hada (1990). Tais cailcu-
10s foram' executados utilizando-se somente m6dias
mensais de precipitação, dentro do periodo chuvoso (fe-
Tabela 2. Anos de episódios ENOS, classificados se- vereiro a maio), bem como para o acumulado quadri-
gundo Rasmusson & Carpenter (1983), ex- mestral. Quando se falar em "lags", subentende-se que
ceto 1986. no "lag 0" faz-se a correlação com os dados simultâneos
de IOS e precipitação tanto mensal como quadrimestral,
enquanto para os "lags 1, 2,3", os dados de 10s foram
Anos: 1911, 1914, 1918, 1923, 1925, 1930, 1932, 1939, usados sempre defasados, ou seja no caso da chuva de
janeiro os dados de IOS foram os referentes ao mês de
1941, 1951, 1953, 1957, 1965, 1969, 1971, 1976,
dezembro, e assim por diante. Esta regra também serviu
1982, 1983, 1986
de base para a correlação entre os acumulados quadri-
mestrais, de precipitação e IOS, ao longo do ano. Os da-
dos de precipitação e IOS utilizados nestes cálculos refe-
rem-se ao período comprendido entre 193511985.
Para estudar a influência desses episódios ENOS,
Constatou-se que em, alguns episódios, o ciclo de as análises fundamentaram-se nas séries dos totais
vida dos fenomenos ENOS A de 18 meses (Rasmusson & anuais de precipitação da estapão chuvosa do setor norte
Carpenter, 1983), embora tenham sido verificados ENOS do NEB e das suas diversas sub-regiões. Estes valores
com período vital mais curto (como por exemplo o de foram utilizados para os cálculos de cinco intervalos de
1986). .Procurou-se então identificar qual a influência percentis de 20% cada, que definiram as categorias das
destes eventos na distribuição de chuvas sobre ÇI setor respectivas estações chuvosas em: Muito Seca (MS), Seca
norte do NEB nos chamados ano (-), ano (0) e ano (+). (S), Normal (N), Chuvosa (C) e Muito Chuvosa (MC), Ta-
Estes anos foram definidos par Ropelewski & Halpert bela 3.
(1986). Por exemplo, para o episódio de 1976, estes au- Foi executada tambAm uma comparação entre os
tores definiram como ano (0) os doze meses de 1976, e de anos classificados nas categorias da Tabela 3, tendo co-
ano (-1 e ano (+) os períodos de julho a dezembro de mo base os seus totais pluviométricos médios para o se-
1975 e de janeiro a julho de 1977, respectivamente. Em tor norte do NE.B como um todo, relacionando-os com os
função desta definição de anos, tal influência foi medida vairios tipos de episódios ENOS classificados por Fu et alii
pelos valores obtidos pelo c8lculo de um desvio percen- '(1986) e por Quinn et alii (1978). Segundo os autores, fo-
tua1 para todas as 66 estações do setor norte do NEB, le- ram escolhidos I 2 casos considerados como ENOS (19511
vando-se em consideração apenas os anos denominados 52, 1953154, 1957158, 1963164, 1965166, l968/69, l969/7O,
ano (0) e ano (+). No caso dos episódios ENOS mais l972/73, 1976177, 1977/78, 1982183 e 1986/87), excetuan-
curtos, o ano (0) foi considerado como'o ano (+).A utili- do-se os anos de 1986187, como citado em parágrafos
zação do ano (0) e do ano (+I para quantificar a influên- anteriores, cujo evento foi documentado recentemente.
cia do episódio ENOS, refere-se ao fato de que no perío- Vale mencionar também que o ENOS de 1982183 não foi
do de definição dos mesmos será centrado a quadra chu- incluído nesta análise.
José Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli

Tabela 3. Categorias das estações chuvosas definidas em função dos percentis. Os valores que expressam os intervalos
das categorias são em mm. As categorias representam os seguintes intervalos de percentis: M S ( S 20%); S
(> 20% S 40%), N (> 40% S 60%), C (> 60% e S 80%) e MC (> 80% e S 100%).

REGIÕES CATEGORIAS
MS S N C MC

Setor n o r t e d o NEB S 382 > 382 S 468 > 468 S 557 > 557 S 665 > 665
Sub-região 1 S 703 > 703 S 905 > 905 S 1067 > 1067 S 1227 > 1227
Sub-região 2 C 662 >662<786 >786S 910 > 910S1094 >I094
Sub-região 3 C 327 > 327 S 443 > 443 S 562 > 562 < 685 > 685
Sub-região 4 S 439 > 439 S 516 > 516 S 594 > 594 S 705 > 705
Sub-região 5 S 251 > 251 S 324 > 324 S 398 > 398 S 454 > 454
Sub-região 6 C 199 > 199 S 262 > 262 S 318 > 318 S 381 > 381

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta grande variabilidade na classificação destes


anos, deve estar relacionada às características do tipo i n -
A Tabela 4 mostra a influ8ncia dos episbdios tensidade e localização da região no Pacífico Equatorial
ENOS. relacionados em função da distribuição interanual da área com o ápice do fenômeno, n o que se refere a
dos totais pluviom~tricosda estação chuvosa sobre o máxima Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a
setor norte do NEB. Nesta análise considerou-se o setor atividade convectiva. O monitoramento da quadra chuvo-
norte do NEB como uma Única região. Estes totais foram sa neste setor norte do NEB, nos Últimos cinco anos, tem
classificados de acordo com as categorias definidas pelos mostrado que realmente há uma resposta diferente
intervalos de percentis. Nota-se que, em media, não há quanto a intensidade de chuvas sobre essa região devido
predominância para os anos de estiagem, muito secos o u às características citadas acima.
secos, em relação aos demais. Apesar, de não existir di- Na Tabela 5 pode se analisar a freqüência de ocor-
ferença significativa, estes anos representaram 29% e rência (percentagem) dos anos classificados como MC, C,
24%. respectivamente do's eventos estudados. N, S e MS nas seis sub-regiões do setor norte do NEB,
relacionados aos 17 episbdios ENOS. Verifica-se uma
grande variabilidade nos percentuais de sub-região para
sub-região. Esta característica mostra que para os anos
Tabela 4. Anos classificados como Muito Chuvoso de ENOS acentua-se bastante a irregularidade da'distri-
(MC), Normal (N), Seco (S) e Muito Seco buição pluviométrica sobre o setor norte do NEB. Os
(MS) em função da quantidade de chuvas ao maiores percentuais para os anos MS foram verificados
longo da estação chuvosa sobre o setor norte nas sub-regiões 2 e 5,enquanto o menor foi verificado na
do NEB, para o ano (+) de episódio ENOS. sub-região 6.
A variabilidade da influência dos eventos ENOS na
distribuição de precipitação sobre o setor norte do NEB é
melhor representada pelas composições dos totais plu-
viométricos, durante a estação chuvosa, para cada sub-
região, referentes aos anos mostrados na Tabela 4 (Figs.
2a a 2e). Estes totais pluviométricos médios, tambem fo-
" ram expressos segundo as categorias definidas pelos in-
tervalos de percentis em uma estação MS, S, N, C ou MC.
Para os anos classificados como secos, pratica-
mente todas as sub-regiões tiveram suas estações chuvo-
sas classificadas como S, exceto a 1 e 2 cujas estações
A variabilidade pluviométrica no setor norte do nordeste e os eventos El Nino-Oscilação Sul (ENOS) 587

Tabela 5. Freqüência de ocorrência (percentagem) de um evento ENOS parece não afetar a formação e fre-
anos classificados como: Muito Chuvoso qüência dos sistemas de meçoescala (como efeitos de
(MC), Chuvoso (C), Normal (N), Seco (S) e brisas e linhas de instabilidade) que atuam no sentido de
Muito Seco (MS) em cada uma das sub-re- incrementar o índice pluviométrico, particularmente das
giões estudadas. Classificação realizada em regiões mais próximas do litoral, caso das sub-regiões 1,
função do valor do total pluviométrico médio 2 (Knusky, 1980; Cavalcanti, 1982).
da estação chuvosa, nas respectivas sub-re- No que se refere a grande diferença mostrada na
giões. classificados nas categorias definidas Figura 2d, as classificações dos periodos chuvosos, mé-
pelos intervalos de percentis. dios. em S e MS (sub-regiões 1 e 2). aparentemente é
uma conseqüência da forte heterogeneidade encontrada
nas séries dos totais pluviométricos, médios de ambas as
sub-regiões. Para estes anos em que ocorreram eventos
ENOS, e o total pluviométrico, durante a estação chwo-
sa, sobre o setor do NEB como um todo foi classificado
dentro da categoria de uma estação MC, verificou-se que
tanto para a sub-região 1 como para a 2, os seus totais
pluviométricos estavam inseridos nas categorias de anos
S e até MS.
A Figura 3 mostra a classificação dos totais pluvio-
métricos médios, segundo as categorias definidas na Ta-
bela 3, para os 17 anos (+) dos eventos ENOS analisados
no estudo. Nota-se que em média, não levando-se em
consideração as caracterlsticas dos eventos, como mag-
nitude e localização das anomalias de TSM e atividade
convectiva no Pacifico Tropical, em média, os períodos
foram classificadas como N (Fig. 2a). Nos anos normais chuvosos ao longo do setor norte do NEB, tendem a ser
(Fig. 2b), períodos chuvosos normais foram verificados normal e até chuvosos sobre o setor norte do NEB.
apenas nas sub-regiões 3,4 e 5, enquanto as demais sub- A sub-região mais afetada aparentemente pelos
regiões tiveram seus períodos chuvosos classificados eventos ENOS é a sub-região I,enquanto a sub-região 6
como chuvosos e até muito chuvosos (sub-região 6). teve seu indice pluviométrico menos reduzido. Vale men-
Para os anos classificados como chuvosos, as esta- cionar que, a sub-região 6 têm seu periodo chuvoso ini-
ções chuvosas mais abundantes ocorreram nas sub-re- ciado um mês antes das demais sub-regiões, além de que
gióes 1 e 6, cujos totais pluviométricos médios foram esta se localiza em uma área de transição para o sul do
classificados nas categorias de estações MC. Por outro NEB, sofrendo influência mais direta das chuvas de verão
lado, a sub-região 2, apreseptou uma estação chuvosa provocadas pela atividade convectiva associada à Zona
média deficiente, classificada na categoria de uma esta- de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (Calheiros &
ção S (Fig. 2c). Silva Dias, 1988). Outro fato, é que a sub-região 6 apre-
Durante os anos considerados MC uma característi- senta o menor índice pluviométrico médio, ao longo do
ca interessante foi verificada ou seja, enquanto todas as seu periouo chuvoso, comparado às demais sub-regiões
sub-regiões apresentaram um periodo chuvoso médio {Tabela 1).
classificado na categoria de uma estação MC, as sub-re-
Nota-se também na Figura 3, que as sub-regiões
giões 1 e 2 tiveram seus periodos chuvosos, médios, clas-
sificados como MS e S (Fig. 2d). com periodos chuvosos médios classificados nas catego-
Nos anos MS, verificamos que quase todas as rias de N a C, estão localizadas aproximadamente abaixo
de 4% de latitude. Nesta localização, tais sub-regiões são
sub-regiões apresentaram um periodo chu\~osomédio
mais beneficiadas pela atividade convectiva, associada a
deficiente, enquadrado como S ou MS, exceto a sub-re-
ZCAS, que se intensifica durante os anos de ENOS. Res-
gião 6 cujo período chuvoso médio foi classificado como
salta-se também, que nesta análise não foi considerada a
N (Fig. 2e).
variabilidade espacial a longo de cada uma sub-região.
0 s mapas analisados acima foram importantes para
mostrar uma certa diferença da influência dos episádios É importante mencionar que nem todos os anos de
ENOS, durante o periodo chuvoso, em particular nas estiagem no setor norte do NEB estiveram ligados A
sub-regidos 1, 2 e 6. Pela distribuição apresentada nos ocorrência de episódios ENOS. A Figura 4 mostra o ex-
anos S (Fig. Za), pode-se supor que a tirea de subsidên- cesso ou déficit de chuvas representados pelo desvio p e ~ -
cia, sobre a Amazdnia Oriental, setor norte do NEB e centual; para o periodo da quadra chuvosa do setor norte
Oceano Atlantico, provocada quando da ocorrhcia de do NEB com u m todo, onde se pode verificar esta carac-
Jose Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli

REGIA0 ESTUOADA-
' ANO SECO ANO NORMAL

-12 - .I2 -
-45. -43. -41. -39 -37. -35. -45 -43 -41' -39 -37 -35.
LONGITUDE

ANO CHUVOSO ANO MUITO

-45 -43 -41 -39 . -37. -35.


LONGITUDE

Figuras 2a-2e. Mapas das composições dos totais plu-


viombtticos médios do período chuvo-
so nas respectivas sub-regiões para os
anos cla'ssificados como Seco, Normal,
Chuvoso, Muito Chuvoso e Muito Seco,
para o ano (+) dos 17 eventos ENOS
estudados. Estes totais pluviom&ricos
foram expressos de acordo com as
suas classifica@es atribuídas através
das categorias definidas pelos interva-
los dos percentis.
A variabilidade pluviométrica no setor norte do nordeste e os eventos E1 Nirio-Oscilação Sul (ENOS) 589

-2 a leste de sua posição climatológica. 'No tipò 2, a água é


I 1 1 1 1
--- L I M I T E DA aquecida acima da média em quase todos os lugares e a
- 3. REGIA0 ESTUDADA área mais aquecida se estende a leste da Linha da Data,
mas não tão a leste como no tipo i. No tipo'3, o aqueci-
mento acima da normal está a leste da Linha da Data e
levemente abaixo da média no lado oeste desta, além de
próximo da normal nas áreas vizinhas..

LONGITUDE

Figura 3. Classificações do periodo chuvoso médio,


função do total pluviométrico médio durante
- o ano (+) para os 17 casos considerados co-
mo eventos ENOS. segundo as categorias
definidas pelos percentis, para as 6 sub-re-
giões estudadas.
Figura 4. Desvios percentuais para o período chuvoso
do setor norte do NEB. A seta representa o
ano (+I do episódio ENOS.
teristica. Isto evidencia que anos de estiagens, nos quais
não ocorreu a fase quente do evento ENOS, as configu-
rações dos campos de vento e pressão em superfície e Adicionalmente, nos anos de tipo 1 as anomalias de
TSM na bacia do Oceano Atlântico Tropical devem ser as TSM tendem a persistir até o verão do Hemisfério Sul
variantes fundamentais para definir a qualidade e inten- (dezembro, janeiro e fevereiro). No tipo 2 as anomalias
sidade do periodo chuvoso no setor norte do NEB. de TSM são fracas prosseguindo por todo o verão e no
Com o objetivo de melhor explicar a influência dos tipo 3 estas anomalias retornam para próximo da média
eventos ENOS na distribuição de chuvas sobre o setor climatológica na maior parte do Pacifico Equatorial até
norte do NEB, foi executada uma análise comparativa dezembro. Na realidade, gradientes de TSM e suas ano-
relacionada as suas magnitudes e aos seus efeitos sobre a malias são mais fortes nos eventos do tipo 1 e 3 e fracas
distribuição de chuvas sobre essa região. Estes eventos no tipo 2. Altas anomalias ocorrem rio tipo 1 e baixas no
foram classificados tendo como base as suas intençida- tipo 3.
des, a extensão das suas áreas de atuação na bacia do De acrodo com Fu et alii (1986), o tipo 1 incluiu
Oceano Pacífico Equatorial e os períodos de duração das 1957,1965,1972. No tipo 2. foram incluidos 1963 e 1969 e
suas anomalias de TSM'(Ouinn et alii, 1978 e Fu et alii, no tipo 3 somente 1976. f u et alii (1986). por falta de da-
1986). dos não analisaram os anos de 1951,1953,1968,1977 e
Fu et alii (19861, analisaram a distribuição zonal da 1978 não os selecionando como eventos ENOS. Entre-
TSM no Pacífico Equatorial durante os meses de junho a tanto, Schonher & Nicholson (1989),lisando informações
agosto, diferenciando três tipos de configurações relacio- de TSM na bacia do Pacífico Equatorial e seus efeitos
nadas a eventos ENOS (Fig. 5).'As características do tipo provocados na distribuição de chuvas sobre a Califórnia,
1 são: aquecimento acima do normal-'das águas a este da incluiram esses anos baseados na classificação segundo
Linha da Data (1800); aquecimento próximo da cliniato- Fu et alii (1986) (anos com valores entre parênteses na
logia a oeste dessa linha e as águas mais aquecidas es- Tabela 6). Com relação às caracterlsticas citadas acima
tendendo-se aproximadamente entre 150PE-1600E. bem para os tipos de eventos ENOS. e através da análise da
José Maria Brabo Alves & Carlos Alberto Repelli

TSM e suas anomalias na bacia do Pacífico Equatorial torno da média (1966, 1969, 1987) e até acima (1973,
-
(campos cedidos pelo Climate Analysis Center EUA no 1978).
período de agostolmaio de 1986 a 19871, classificamos o
episódio ENOS relativo a este ano no tipo 1 de Fu et alii
(19861, embora as anomalias não tenham sido muito su- Tabela 6. Comparação dos anos (+) (Tabela 2). tendo
periores à climatologia, e o aquecimento tenha se pro- como base a quantidade de chuvas, no pe-
longado por todo o outono do Hemisfério Sul. ríodo chuvoso sobre o setor norte do NEB,
com a classificaçáo segundo Fu et alii (19861e
Quinn et alii (1978), exceto o ENOS de
198211983 que não foi incluido nas análises.
TYPE 1 O asterisco significa que o referido evento
ENOS não foi classificado por este autor.

TYPE 3
Anos Categoria Fu et alii Quinn et alii
TYPE 2
Fraco
*
Forte
Muito fraco
Moderado
*
Figura 5. Mapa esquemAtico dos padrões de aqueci- Fraco
mento equatorial associado com eventos Forte
ENOS, classificados de acordo com Fu et alii
Moderado
(1986). Fonte: Fu et alii (1986).
Moderado
*
Quinn et alii, 1978 classificou os eventos ENOS,
analisando a intensidade, a extensão da área e a duração
das anomalias de TSM ao longo da bacia equatorial do Os coeficientes de correlação calculados entre a sé-
Oceano Pacífico. rie de IOS e a de precipitação, utilizando-se os postos
Na Tabela 6 pode-se comparar a classificação atri- pluviométricos tanto isoladamente, como agrupados por
buida pelos autores citados acima, e a obtida em função sub-regiões, nos respectivos "lags" citados na seção de
do valor do total pluviométrico médio para o período metodologia, foram excessivamente baixos, não chegan-
chuvoso, do setor norte do NEB como um todo, classifi- do a explicar 30% da variância das chuvas observadas.
cada em uma das categorias mostradas na Tabela 3. Res- Relacionado a significãncia desses coeficientes, o teste T
salta-se que, para esta comparação, o valor do total plu- de Student mostrou que, exceto um reduzido nlimero de
viométrico utilizado foi o referente ao do segundo ano postos que não representam 10% das estações usadas
para qual foi classificado o evento ENOS. Isto se deve ao neste estudo cujos coeficientes foram significativos aos
fato de que, em geral, os eventos ENOS afetam com níveis de 90% e 95%, a maior parte das estações apre-
maior intensidade a quadra chuvosa do ano (+), como já sentaram coeficientes de correlação significativos a níveis
foi exposto na seção de metodologia. inferiores a 60%.
Nota-se uma variabilidade muito grande entre a
intensidade dos eventos ENOS classificada pelos autores
e a classificação atribuida ao período chuvoso verificado
no setor norte do NEB. Em geral, nos anos em que
ocorreram eventos do tipo 1 segundo Fu et ali; (1986) e
forte segundo Quinn et alii (1978). foram verificadas chu-
vas abaixo da média sobre a região (períodos chuvosos S Apesar de estatisticamente, o número de eventos
e MS). Entretanto, para alguns anos a classificação do ENOS estudados ser relativamente pequeno, os resulta-
evento foi do tipo 1 e o total pluviométrico verificado dos mostraram que não existe uma tendência predomi-
durante a quadra chuvosa do setor norte do NEB foi em nante de que, nos anos de ocorrência da fase quente des-
A variabilidade pluviométrica no setor norte do nordeste e os eventos El Nitío-Oscilação Sul (ENOS)

ses episódios, a quadra chuvosa do setor norte do NEB, Por outro lado, a resposta a este fenomeno em re-
se situe abaixo da climatologia. lação à distribuição de chuvas intra-regionais é bastante
Relacionado a anos considerados muito chuvosos variada. Esta resposta deve-se As características específi-
ou chuvosos no setor norte do NEB quando da ocorrên- cas de cada sub-região, principalmente à sua posição
cia de episódio ENOS, as análises mostraram que IOS, geográfica. seu quadrimestre mais chuvoso e os princi-
em média, já apresentava-se nos meses mais próximos e pais sistemas atmosféricos responsáveis pelas chuvas so-
até dentro da estação chuvosa bastante negativo e relati- bre as mesmas.
vamente alto em módulo (>1,5). Este fato evidencia, o As análises realizadas indicaram que os eventos
porque da relação não tão direta entre 10s e as chuvas ENOS, dependendo do grau e das caracteristicas espa-
no semi-árido nordestino, explicando de certa forma a ciais e temporais das anomalias de TSM no Pacífico
baixa correlação encontrada entre os mesmos. O que su- Equatorial, estão ligados ou não a anos de estiagem
põe-se ter acontecido, nestes anos, é que as característi- prolongada no setor norte do NEB. Neste sentido, torna-
cas físicas da TSM e principalmente a mãxima atividade se de fundamental importância o monitoramento destas
convectiva não se localizaram na costa oeste da América caracteristicas, que poderão sewir de subsfdios às ativi-
do Sul. durante os meses de verão ou sobre o outono dades de previsão climática da quadra chuvosa do setor
austral. Em anos secos e muito secos, esta característica norte do NEB e das suas diversas sub-regiões.
também é evidente. Porém, as configurações das anoma-
lias de TSM e a atividade convectiva estão bem mais pró-
ximas ou ao longo da costa oeste da América do Sul.
Com relação ao mencionado no parágrafo anterior, 5. AGRADECIMENTOS
podemos citar o episódio de 199111992, em que o IOS já
se apresentava bastante negativo, e elevado em mbdulo 0 s autores são gratos aos revisores andnimos da
desde janeiro (-3,4), e o ENOS não afetou substancial- RBMet pelas críticas e sugestões que muito contribuiram
mente as chuvas de janeiro, fevereiro e março. no setor para 0 aprimoramento deste trabalho, e todos aqueles
norte do NEB, vindo influenciar diretamente na redução que de alguma forma deram o seu esforço para que este
das chuvas apenas em abril, quando a máxima atividade artigo se completasse. Este trabalho foi financiado pela
convectiva começou a desenvolver-se junto a costa oeste Fundação de Desenvolvimento e Tecnologia do Estado
da América do Sul no final de março e início de abril (a- do Ceará (FUNDETECI, como parte do projeto Estudos
nálise visual nas imagens diárias do METEOSAT-4). Meteorológicos, convênio no 004192.

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