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ISSN 2317-3297

Estudo Estatístico Sobre a Ocorrência de Eventos Extremos de


Precipitação no Nordeste do Brasil

Priscilla Teles de Oliveira, Cláudio Moisés Santos e Silva, Kellen Carla Lima
Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas (PPGCC), UFRN, Natal – RN, Brasil.
priskateles@yahoo.com.br

Palavras chave: eventos extremos, climatologia, tendência.

Resumo: O Nordeste do Brasil (NEB) apresenta alta variabilidade no clima, os regimes de


chuvas se apresentam de forma heterogênea tanto na escala espacial quanto nas escalas de
tempo. Segundo o último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change, o NEB é
uma região altamente susceptível às mudanças climáticas, além de ser uma região sujeita à
ocorrência de eventos de precipitação intensa (EPI); contudo, ainda existem poucos estudos
sobre a climatologia destes episódios na região. Neste sentido, o objetivo principal da pesquisa
é determinar a climatologia e tendência dos EPI sobre o NEB, comparando seu comportamento
com a climatologia e tendência dos eventos de precipitação fraca e dos eventos de precipitação
normal. Para tanto, serão utilizados os dados diários de precipitação da rede
hidrometeorológica gerenciada pela Agência Nacional de Águas. Para identificar os eventos de
precipitação será aplicada a técnica dos quantis e sua confiança estatística será analisada
através do teste de Mann Kendall.

1. Introdução

Devido a sua grande extensão territorial são vários os sistemas meteorológicos atuantes no
NEB, sendo os principais: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT); os Vórtices Ciclônicos
de Altos Níveis (VCAN); os Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) e as Linhas de
Instabilidade (LI). Ao sul da Bahia ainda há a atuação dos Sistemas Frontais (SF) e da Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Apesar destes diferentes sistemas atmosféricos atuantes
em todo o NEB, climatologicamente o período mais chuvoso é durante a estação do outono, nos
meses de Março, Abril e Maio (Silva, 2004).
A ocorrência de seca no NEB é uma característica comum para grande parte da região,
climatologicamente cerca de 70% de sua precipitação é igual a zero, causando grandes prejuízos
sociais e econômicos à população, gerando diversas pesquisas no tema nos mais diferentes
contextos. No entanto, os EPI sobre o NEB são pouco estudados mesmo causando grandes
prejuízos à população; portanto, acredita-se que se faz necessário um estudo mais abrangente
sobre esses eventos.

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Um estudo observacional sobre EPI no NEB, com quantidade considerável de dados de


precipitação que apresentem boa qualidade é inexistente, não há informações sobre sua
climatologia, tendência, áreas preferenciais de ocorrência, características de formação,
desenvolvimento e dissipação. O conhecimento da climatologia destes eventos é uma
informação de grande importância, pois pode servir para fins de previsibilidade.
Neste contexto, a presente pesquisa será realizada no intuito de responder a seguinte questão: Os
eventos de precipitação intensa no NEB apresentam tendência em número de ocorrência e
intensidade de precipitação? A hipótese para responder a essa questão é: Visto que resultados
através de modelagem computacional mostram alterações no ciclo hidrológico em diversas
regiões, incluindo o NEB, e também, em grande parte, aumento na quantidade de eventos
extremos, então é provável que os eventos intensos de precipitação possam ter tendência, ou
então estarem associados à variabilidade da atmosfera.

2. Material e Métodos

2.1. Dados: Rede pluviométrica da Agência Nacional de Águas (ANA)

Foram utilizados os dados diários de precipitação da rede hidrometeorológica gerenciada pela


ANA, contabilizando 349 estações, para o período de 1972 a 2002 (31 anos). Os dados
recebidos passaram por uma série de etapas a fim de serem organizados e filtrados até chegarem
à melhor forma de serem utilizados, resultando em um total de 151 estações que apresentaram
5,91% de falhas.

2.2. Metodologia

2.2.1. Técnica dos quantis

Os eventos de precipitação foram definidos com base no cálculo dos percentis (Wilks, 2006) da
distribuição de precipitação. Definiu-se como evento de precipitação intensa (EPI) aquele que
apresentou precipitação acima do percentil 95º; como evento de precipitação normal (EPN)
aquele que apresentou precipitação em torno do valor médio, ou seja, entre o percentil 45º e 55º;
como evento de precipitação fraca (EPF) aquele que apresentou precipitação abaixo do percentil
5º. Após o cálculo dos percentis e a identificação dos eventos, dividiram-se os dados por
estações do ano: verão, DJF (Dezembro, Janeiro e Fevereiro); outono, MAM (Março, Abril e
Maio); inverno, JJA (Junho, Julho e Agosto); primavera, SON (Setembro, Outubro e
Novembro). Calculou-se a quantidade de EPF, EPN e EPI e a intensidade da precipitação média
diária destes eventos, durante o período de estudo (1972 a 2002).
Gráficos com a distribuição interanual da quantidade dos eventos serão elaborados também por
estação sazonal, enquanto que os gráficos da intensidade da precipitação serão elaborados pelo
tipo do evento, devido à diferença de grandeza entre a intensidade da precipitação.

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2.2.2. Análise de tendência

Aplicou-se o teste de Mann-Kendall para analisar a tendência de variação na quantidade de


eventos e na intensidade da precipitação. Este teste é classificado como não-paramétrico (Mann,
1945; Kendall, 1975) e consiste em comparar cada valor da série temporal com os valores
restantes, sempre em ordem sequencial, contando o número de vezes em que os termos restantes
são maiores que o valor analisado.

3. Resultados preliminares

Na Figura 1a tem-se a distribuição da quantidade de eventos. Os EPI apresentam quantidade


máxima de ocorrência em 1974, 1985, 1989, 1999 e 2000; e quantidade mínima em 1976, 1981,
1983, 1987 e 1993. Os anos de quantidades máximas e mínimas de EPI foram caracterizados
por atuações de fortes El Niño e La Niña, marcados por fortes secas e enchentes sobre o NEB,
respectivamente. De acordo com Grimm e Tedeschi (2009) e Rodrigues et al. (2011), eventos de
El Niño e La Niña influenciam diretamente na estação chuvosa do NEB, e consequentemente
nos EPI. Em anos de El Niño a quantidade de EPI no período chuvoso diminui, enquanto que
durante a La Niña aumenta. Porém, a atuação do El Niño é mais marcante que a atuação da La
Niña. A distribuição sazonal dos eventos é apresentada na Figura 1b. As estações não
apresentam variação significativa, com exceção da primavera (SON) que apresenta uma visível
tendência negativa.
Na Figura 2a mostra-se a distribuição interanual da intensidade da precipitação média diária. A
variação na intensidade dos eventos também apresenta relação com a ocorrência dos fenômenos
El Niño e La Niña, porém esta variação é menos sensível a estes fenômenos que a variação na
quantidade de eventos. Na distribuição sazonal da precipitação, Figura 2b, verifica-se uma
tendência de aumento durante o outono (MAM) e a primavera (SON).
A Tabela 1 apresenta os valores da confiança estatística e tendência, resultantes do teste de
Mann-Kendall sobre a variação na quantidade de eventos e sobre a intensidade da precipitação
média diária. Quanto à quantidade, os EPI apresentaram tendência negativa na variação anual,
no outono (MAM) e na primavera (SON), com confiança estatística ao nível de 90% apenas
para a primavera (SON); e apresentam tendência positiva no verão (DJF) e no inverno (JJA),
mas sem confiança estatística.
Em relação à intensidade da precipitação, verificou-se tendência positiva nos EPI durante o
outono (MAM), primavera (SON) e variação anual, sendo que apenas no outono e primavera
houve confiança ao nível de 95%. Durante o verão (DJF) e inverno (JJA) foi verificada uma
tendência negativa, mas sem confiança estatística.
De forma geral, a quantidade de EPI apresenta uma tendência negativa sobre o NEB, enquanto
que sua intensidade apresenta-se mais forte.

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Figura 1 – Distribuição interanual(a) e Figura 2 – Distribuição interanual(a) e


sazonal(b) dos eventos sazonal(b) da intensidade da precipitação
média diária.

Tabela 1 – Valores da confiança estatística (Conf.) e tendência (Tend.) positiva (+) ou negativa
(-), resultante do teste de Mann-Kendall sobre a variação da quantidade e da intensidade da
precipitação média diária dos Eventos de Precipitação.

Eventos Precipitação
Conf. Tend Conf. Tend
Anual - +
DJF + -
MAM - 95% +
JJA + -
SON 90% - 95% +

Referências

GRIMM, A.M. and TEDESCHI, R.G. ENSO and extreme rainfall events in South
America.Journal of Climate, v. 22, n. 7, p. 1589-1609, 2009.
KENDALL, M. G. Rank correlation methods. London: Charles Griffin, 1975. 120p.
MANN, H. B. Nonparametric tests against trend. Econometrica, v.13, p.245-259, 1945.
RODRIGUES, R.R., R.J. HAARSMA, E.J.D. CAMPOS and T. AMBRIZZI, The impacts of
inter-El Nino variability on the Tropical Atlantic and Northeast Brazil climate. Journal of
Climate, v. 24, p. 3402-3422, 2011.
WILKS, D. S. Statistical methods in the atmospheric sciences. 2. ed. Amsterdam: Elsevier
Academic Press, 2006. 627 p.

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