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Meteorologia
Classificação Climática
Rita Yuri Ynoue
Michelle S. Reboita
Tércio Ambrizzi
Gyrlene A. M. da Silva
Nathalie T. Boiaski
11.1 Introdução
11.2 Definição de tempo e clima
11.3 Fatores ou controles climáticos
11.4 Modelos de classificação climática
11.4.1 Modelos de classificação genética
11.4.2 Modelos de classificação empírica
Referências
11.1 Introdução
Este texto apresenta a definição de clima e sua diferença em relação ao tempo atmosférico,
os fatores que o controlam e, por fim, um resumo de algumas das diferentes classificações
climáticas existentes.
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Latitude: as regiões mais próximas do equador recebem mais energia (portanto, são mais
quentes) do que as mais afastadas, em função do ângulo de incidência dos raios solares sobre a
superfície do planeta (Figura 11.1).
Altitude: regiões mais afastadas do nível médio do mar (NMM) são mais frias do que
aquelas próximas a tal nível. Isso ocorre devido ao fato de a temperatura do ar decrescer com
a altitude até aproximadamente 10 km de altura. A superfície terrestre é aquecida durante o
dia pela energia proveniente do Sol. Através de alguns processos físicos (radiação, condução,
convecção e turbulência), a superfície transfere parte da energia para as camadas de ar acima,
aquecendo a atmosfera das camadas mais baixas para as mais altas. Assim, menor quantidade de
energia chega até as camadas mais afastadas da superfície, que também são mais rarefeitas, e o
aquecimento acaba sendo menor do que naquelas próximas ao NMM.
Nesse contexto, pode aparecer a seguinte questão: Se no topo de uma montanha a radiação
solar também aquece a superfície, que transfere energia para o ar adjacente, por que essas regiões
são mais frias do que aquelas próximas ao NMM?
As regiões montanhosas são mais frias porque estão inseridas em regiões de menor pressão
atmosférica, isto é, em regiões mais rarefeitas. Como a densidade da atmosfera é menor, o
aquecimento também será menor.
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Distância dos oceanos: a capacidade térmica da água é bem maior do que a capacidade
térmica da superfície continental; enquanto a água necessita de 4 unidades de energia para se
aquecer, a terra só necessita de 1 unidade de energia. Portanto, o tempo necessário para aquecer
e esfriar a água é maior do que para a terra. Assim, a grande capacidade térmica dos corpos
d’água reduz as variações de temperatura ao longo do dia nas áreas continentais vizinhas, tanto
pela proximidade como pela grande quantidade de vapor d’água que é proveniente do oceano e
se distribui pelas regiões próximas (Silva Dias e Justi da Silva, 2009). Uma maior quantidade de
vapor d’água significa uma maior absorção de radiação infravermelha ou efeito estufa e, assim, as
temperaturas não baixam muito. Também é válido mencionar o efeito das correntes oceânicas.
Uma corrente quente pode ter um efeito moderador sobre um clima frio, como é o caso da
corrente do Atlântico Norte, que torna o clima europeu menos frio.
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Tipo de superfície: algumas superfícies refletem mais energia solar do que outras; portanto,
as que mais refletem se aquecerão menos. Um exemplo é o caso de superfícies cobertas por
neve e gelo, que refletem aproximadamente 85% da radiação solar incidente. Já superfícies
florestadas refletem cerca de 5% a 20% da energia solar incidente. É interessante ressaltar que a
relação entre a quantidade de radiação solar refletida pela superfície de um objeto e o total de
radiação incidente sobre ele recebe o nome de albedo.
Sistemas predominantes de ventos e pressão: a distribuição da precipitação no globo
mostra uma relação muito próxima com a distribuição dos principais sistemas de ventos e
pressão da Terra (rever o texto Circulação Geral da Atmosfera para mais detalhes). Embora
a distribuição latitudinal desses sistemas não seja exatamente em forma de um “cinturão”,
é possível verificar um arranjo zonal da precipitação (Figura 11.3). Na região próxima
ao equador, a convergência dos ventos quentes e úmidos favorece a formação de nuvens e
grandes volumes de chuva ao longo do ano. Nas regiões dominadas pelos anticiclones subtro-
picais, geralmente, prevalecem condições áridas. Já nas latitudes médias, os intensos gradientes
horizontais de temperatura favorecem o desenvolvimento de frentes e ciclones, que, por sua
vez, contribuem para a precipitação. Finalmente, nas regiões polares, onde as temperaturas
são muito baixas, o ar só consegue manter pequena quantidade de umidade, o que desfavo-
rece a precipitação. O deslocamento sazonal dos “cinturões” de ventos e pressão, que segue
o movimento aparente do Sol, afeta significativamente áreas em posições intermediárias.
Tais áreas são influenciadas por dois regimes diferenciados. Uma estação localizada, por exemplo,
entre a baixa equatorial e a região dos anticiclones subtropicais no Hemisfério Sul terá um
verão chuvoso quando a baixa equatorial migra em direção ao polo, e inverno seco quando
esse sistema se move em direção ao equador. O deslocamento latitudinal das áreas de pressão é
grandemente responsável pela sazonalidade da precipitação em muitas regiões do globo.
Figura 11.3: Média anual da precipitação (mm.dia-1) no período de 1998 a 2009, baseada nos dados
de satélite do programa Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM). / Fonte: NASA.
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Ayoade (2010) apresenta quatro exemplos de modelos de classificação climática que adotam
a abordagem genética. Destes, dois se baseiam nos sistemas dinâmico-sinóticos, enquanto os
outros dois, no balanço de energia. Abaixo segue uma descrição sucinta desses modelos.
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a. A classificação genética de H. Flohn, em 1950, estabelece sete tipos climáticos que são
baseados nas zonas de ventos globais e nas características da precipitação (Tabela 11.1).
A temperatura não aparece de maneira explícita nesta classificação.
b. Em 1951, Strahler propôs uma classificação genética baseada nos movimentos das massas
de ar e zonas frontais. Com isso, definiu três categorias climáticas principais: os climas
de latitudes baixas, os de latitudes médias e os de latitudes altas. Além disso, há uma
categoria extra para os climas de terras altas (montanhas). As três divisões principais são
ainda subdivididas. A classificação climática de Strahler é apresentada em detalhes em
Strahler e Strahler (1997) e sintetizada na Tabela 11.2 e Figura 11.4.
Tabela 11.2: Classificação genética de Strahler. / Fonte: adaptado de Strahler e Strahler, 1997.
Grupo I: Climas das latitudes baixas Grupo II: Climas das Latitudes
– controlados pelas massas de ar médias – controlados pelas
equatoriais e tropicais massas de ar tropicais e polares
5. Subtropical seco
1. Equatorial úmido 6. Subtropical úmido
2. Monção e ventos alísios 7. Mediterrâneo
3. Tropical úmido seco 8. De costa oeste marítimo
4. Tropical seco 9. Latitudes médias seco
10. Continental úmido
Grupo III: Climas das latitudes altas
– controlados pelas massas de ar H: Clima de terras altas
polar e ártica/antártica
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Figura 11.4: Classificação climática genética de A.N. Strahler. / Fonte: adaptado de Strahler & Strahler, 1997.
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Ayoade (2010) ressalta que a classificação genética de Budyko fornece apenas um quadro
generalizado dos climas do mundo devido à natureza do índice e ao fato de que um número
muito pequeno de postos no planeta tem dados confiáveis a respeito do fluxo radiativo líquido.
d. Terjung e Louie (1972) propuseram uma classificação genética baseada nos fluxos de
energia e umidade. Para essa classificação foi utilizada a equação do balanço de energia
na superfície (para mais detalhes ver Ayoade, 2010, pg. 229). Os autores definiram
6 grupos climáticos principais e 62 tipos climáticos. Os 6 grupos climáticos principais são:
A. Climas macrotropicais.
B. Climas subtropicais.
C. Climas continentais de latitudes médias.
D. Climas mesotropicais.
E. Climas ciclônico-marítimos.
G. Climas polares.
Há vários modelos de classificação climática que adotam a abordagem empírica; entretanto, aqui
só serão apresentados três e de forma resumida: o de Köppen (1918), o de Thornthwaite (1948) e
o de Trewartha (1954).
a. O modelo de classificação climática elaborado por Köppen (1918), ou de alguma de suas
versões adaptadas, é muito utilizado em livros didáticos de meteorologia, climatologia e
geografia regional. Neste modelo, cada clima é definido de acordo com os valores de tempera-
tura e precipitação calculados em termos anuais ou mensais. Qualquer posto (localidade)
pode identificar seu grupo climático e subgrupo somente com base nos registros de
temperatura e precipitação do local (Strahler & Strahler, 1997). Köppen acreditava
que a distribuição natural da vegetação era o que melhor expressava os diferentes climas.
Assim, os limites climáticos que definiu foram grandemente baseados nos limites de
certas plantas (Lutgens & Tarbuck, 2010).
Köppen definiu cinco grupos climáticos principais, que foram identificados por letras
maiúsculas. Esses grupos são apresentados na Tabela 11.4 e na Figura 11.5.Tais grupos
ainda são subdivididos em outros, que têm como base a distribuição sazonal de precipi-
tação e características adicionais de temperatura do ar (Tabelas 11.5 e 11.6).
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Tabela 11.4: Os cinco grupos climáticos de Köppen (1918). Quatro desses grupos (A, C,
D e E) são definidos com base na temperatura. Somente o grupo B tem a precipitação
como seu critério principal. / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.
E - Climas polares
Invernos e verões extremamente frios
A temperatura do mês mais quente é abaixo de 10 °C
Não há verão “de verdade”
Figura 11.5: Os cinco grupos climáticos de Köppen (1918). / Fonte: adaptado de Strahler e Strahler, 1997.
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Tabela 11.5: Os subgrupos do modelo climático de Köppen (1918). / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.
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Figura 11.6: Classificação climática de Köppen. / Fonte: adaptado de Lutgens & Trabuck, 2010.
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Uma classificação climática ainda mais regional foi feita para o estado de São Paulo por Setzer
(1966), através da metodologia proposta por Köppen (1918) e está ilustrada na Figura 11.9.
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Este texto mostrou que há diferentes classificações climáticas; portanto, quando se trabalha
com este assunto é necessário mencionar qual o modelo de classificação climática abordado e
qual é o autor responsável pela classificação.
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Referências
Ayoade, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 14. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2010, 332 p.
Infoescola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/clima/>. Acesso: [s.d].
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Normais climatológicas do Brasil.
Brasília: Instituto Nacional de Meteorologia, 2019.
Jacobson, M.Z. Fundamentals of atmospheric modeling. 2. ed. Cambridge University
Press, 2005.
Koppen, W. Klassifikation der klimate nach temperatur, niederschlag und jahreslauf.
Petermanns Mitt., v. 64, 1918, p. 193-203.
Lutgens, F.K. & Tarbuck, E.J. The atmosphere: an introduction to meteorology. 11. ed.,
New York: Prentice Hall, 2010.
Moran, J.M. & Morgan, M.D: Meteorology: the atmosphere and the science of weather.
New Jersey: Prentice-Hall, 1994, 516 p.
Nasa. Disponível em: <http://trmm.gsfc.nasa.gov/trmm_rain/Events/all_years.3B43.color.anno-
tated.gif>. Acesso: [s.d].
Setzer, J. Atlas climático e ecológico do estado de São Paulo. São Paulo: CIBPU, 1966.
Silva Dias, M.A. F. & Justi da Silva, M.G.A. Para entender tempo e clima. In: Cavalcanti,
I.D.A.;Ferreira, N.J.;Silva, M.G.A.J.; Silva Dias M.A.F. (Org.). Tempo e clima no Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2009, p. 15-21.
Straher A. & Strahler, A. Introducing physical geography. 2. ed., New Jersey: John
Wiley & Sons, Inc., 1997.
Terjung, W.H. & Louie S. Energy input output climates of the world: a preliminary
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Thornthwaite, C.W.An approach towards a rational classification of climate. Geographical
Review, n. 38, 1948, p. 55-94.
Trewartha, G.T. An introduction to climate. New York: McGraw-Hill, 1954, 402p.
______.; Horn, L.H. An introduction to climate. 5.ed. NewYork : McGraw-Hill, 1980, 416 p.
WMO. Guide to climatological practices, 2. ed., n.100. Geneva: Secretariat of the World
Meteorological Organization, 1983.
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Glossário
Albedo: é a quantidade de radiação solar refletida pela superfície de um objeto. Em outras palavras, é a
razão entre a radiação solar refletida e o total de radiação incidente.
Barlavento: lado de uma região montanhosa em que o escoamento de ar ascende.
Clima: estado médio da atmosfera, que é obtido através da média dos eventos de tempo durante um
longo período.
Lado barlavento: Lado em que o ar ascende.
Normais climatológicas: média das variáveis atmosféricas (temperatura, umidade, etc.) calculada
em períodos específicos de 30 anos (1931-1960, 1961-1990, 1991-2020, etc.) estabelecidos pela
Organização meteorolóica mundial, a fim de permitir a comparação de dados obtidos em diferentes
partes do globo.
Sotavento: lado de uma região montanhosa em que o escoamente descende, isto é, escoa do topo para
a superfície.
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