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Meteorologia
Classificação Climática
Rita Yuri Ynoue
Michelle S. Reboita
Tércio Ambrizzi
Gyrlene A. M. da Silva
Nathalie T. Boiaski

11.1 Introdução
11.2 Definição de tempo e clima
11.3 Fatores ou controles climáticos
11.4 Modelos de classificação climática
11.4.1 Modelos de classificação genética
11.4.2 Modelos de classificação empírica
Referências

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Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 229

11.1 Introdução
Este texto apresenta a definição de clima e sua diferença em relação ao tempo atmosférico,
os fatores que o controlam e, por fim, um resumo de algumas das diferentes classificações
climáticas existentes.

11.2 Definição de tempo e clima


O termo tempo é utilizado para se referir ao estado momentâneo da atmosfera (uma
manhã ensolarada, uma tarde nublada ou chuvosa etc.), enquanto o termo clima se refere ao
estado médio da atmosfera, que é obtido através da média dos eventos de tempo durante um
longo período (meses, anos, séculos).
As informações utilizadas para a determinação do clima são obtidas principalmente de
estações meteorológicas que registram as variáveis atmosféricas (temperatura do ar, umidade
relativa, pressão atmosférica, precipitação, entre outras). A Organização Meteorológica
Mundial (WMO, 1983) define como clima a média destas variáveis com períodos de
30 anos, bem como estabelece tais períodos (1931-1960, 1961-1990, 1991-2020 etc.), que
são denominados normais climatológicas e possibilitam a comparação entre os dados
coletados em diversas partes do planeta.

11.3 Fatores ou controles climáticos


Se a superfície terrestre fosse completamente homogênea, o mapa dos climas do globo seria
composto por uma série de bandas latitudinais mostrando as temperaturas mais frias nos polos
e mais quentes no equador. Como a superfície terrestre não é homogênea, diferentes fatores
ou controles climáticos fazem com que numa mesma latitude ocorram climas variados.
Os fatores climáticos correspondem aos mesmos “controles de temperatura” apresentados no
texto Temperatura. Entretanto, vale a pena apresentá-los aqui, novamente, de forma resumida.

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Latitude: as regiões mais próximas do equador recebem mais energia (portanto, são mais
quentes) do que as mais afastadas, em função do ângulo de incidência dos raios solares sobre a
superfície do planeta (Figura 11.1).

Figura 11.1: Distribuição


da radiação solar em
função da latitude.

Altitude: regiões mais afastadas do nível médio do mar (NMM) são mais frias do que
aquelas próximas a tal nível. Isso ocorre devido ao fato de a temperatura do ar decrescer com
a altitude até aproximadamente 10 km de altura. A superfície terrestre é aquecida durante o
dia pela energia proveniente do Sol. Através de alguns processos físicos (radiação, condução,
convecção e turbulência), a superfície transfere parte da energia para as camadas de ar acima,
aquecendo a atmosfera das camadas mais baixas para as mais altas. Assim, menor quantidade de
energia chega até as camadas mais afastadas da superfície, que também são mais rarefeitas, e o
aquecimento acaba sendo menor do que naquelas próximas ao NMM.
Nesse contexto, pode aparecer a seguinte questão: Se no topo de uma montanha a radiação
solar também aquece a superfície, que transfere energia para o ar adjacente, por que essas regiões
são mais frias do que aquelas próximas ao NMM?
As regiões montanhosas são mais frias porque estão inseridas em regiões de menor pressão
atmosférica, isto é, em regiões mais rarefeitas. Como a densidade da atmosfera é menor, o
aquecimento também será menor.

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Regiões montanhosas também causam influência nos ventos e na distribuição de preci-


pitação, pois uma corrente de ar, ao encontrar uma barreira topográfica, tende a ascender e,
nesse processo, pode ocorrer formação de nuvens e precipitação (Figura 11.2). Normalmente,
na presença de topografia elevada, ocorre chuva no lado barlavento e condições secas no
lado sotavento. As condições secas são devidas a
a. o ar ter perdido parte de sua umidade no lado barlavento e
b. o aquecimento do ar quando ele desce a topografia, pois isso diminui a sua umidade
relativa, o que o torna mais seco, desfavorecendo a formação de nuvens.

Figura 11.2: Influência da topografia no escoamento atmosférico e na distribuição de precipitação. /


Fonte: adaptado de Tércio Ambrizzi (IAG/USP).

Distância dos oceanos: a capacidade térmica da água é bem maior do que a capacidade
térmica da superfície continental; enquanto a água necessita de 4 unidades de energia para se
aquecer, a terra só necessita de 1 unidade de energia. Portanto, o tempo necessário para aquecer
e esfriar a água é maior do que para a terra. Assim, a grande capacidade térmica dos corpos
d’água reduz as variações de temperatura ao longo do dia nas áreas continentais vizinhas, tanto
pela proximidade como pela grande quantidade de vapor d’água que é proveniente do oceano e
se distribui pelas regiões próximas (Silva Dias e Justi da Silva, 2009). Uma maior quantidade de
vapor d’água significa uma maior absorção de radiação infravermelha ou efeito estufa e, assim, as
temperaturas não baixam muito. Também é válido mencionar o efeito das correntes oceânicas.
Uma corrente quente pode ter um efeito moderador sobre um clima frio, como é o caso da
corrente do Atlântico Norte, que torna o clima europeu menos frio.

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Tipo de superfície: algumas superfícies refletem mais energia solar do que outras; portanto,
as que mais refletem se aquecerão menos. Um exemplo é o caso de superfícies cobertas por
neve e gelo, que refletem aproximadamente 85% da radiação solar incidente. Já superfícies
florestadas refletem cerca de 5% a 20% da energia solar incidente. É interessante ressaltar que a
relação entre a quantidade de radiação solar refletida pela superfície de um objeto e o total de
radiação incidente sobre ele recebe o nome de albedo.
Sistemas predominantes de ventos e pressão: a distribuição da precipitação no globo
mostra uma relação muito próxima com a distribuição dos principais sistemas de ventos e
pressão da Terra (rever o texto Circulação Geral da Atmosfera para mais detalhes). Embora
a distribuição latitudinal desses sistemas não seja exatamente em forma de um “cinturão”,
é possível verificar um arranjo zonal da precipitação (Figura 11.3). Na região próxima
ao equador, a convergência dos ventos quentes e úmidos favorece a formação de nuvens e
grandes volumes de chuva ao longo do ano. Nas regiões dominadas pelos anticiclones subtro-
picais, geralmente, prevalecem condições áridas. Já nas latitudes médias, os intensos gradientes
horizontais de temperatura favorecem o desenvolvimento de frentes e ciclones, que, por sua
vez, contribuem para a precipitação. Finalmente, nas regiões polares, onde as temperaturas
são muito baixas, o ar só consegue manter pequena quantidade de umidade, o que desfavo-
rece a precipitação. O deslocamento sazonal dos “cinturões” de ventos e pressão, que segue
o movimento aparente do Sol, afeta significativamente áreas em posições intermediárias.
Tais áreas são influenciadas por dois regimes diferenciados. Uma estação localizada, por exemplo,
entre a baixa equatorial e a região dos anticiclones subtropicais no Hemisfério Sul terá um
verão chuvoso quando a baixa equatorial migra em direção ao polo, e inverno seco quando
esse sistema se move em direção ao equador. O deslocamento latitudinal das áreas de pressão é
grandemente responsável pela sazonalidade da precipitação em muitas regiões do globo.

Figura 11.3: Média anual da precipitação (mm.dia-1) no período de 1998 a 2009, baseada nos dados
de satélite do programa Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM). / Fonte: NASA.

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11.4 Modelos de classificação climática


Como o clima de um determinado lugar é dependente dos controles, apresentados na seção
anterior, logo se tem uma grande variedade de climas ou de tipos climáticos sobre a superfície
terrestre. Embora dois lugares no globo não tenham climas idênticos, é possível definir áreas
em que o clima é relativamente uniforme entre diversos lugares (Ayoade, 2010). Para facilitar
o mapeamento das regiões com climas semelhantes são definidos critérios, que também podem
ser chamados de esquemas (ou modelos) de classificação climática.
De acordo com Ayoade (2010), existem vários esquemas de classificação climática, os quais
podem estar inseridos em uma das duas abordagens fundamentais: a abordagem genética e a
abordagem genérica ou empírica.
Na primeira abordagem, a classificação está baseada nos controles climáticos, que são os
fatores que determinam ou causam os diferentes climas, como os padrões de circulação da
atmosfera, a radiação líquida e os fluxos de umidade. Na segunda abordagem, a classificação está
baseada nos próprios elementos climáticos observados (medidas de temperatura e precipitação,
por exemplo) ou em seus efeitos sobre outros fenômenos, usualmente, na vegetação ou no homem.
Como os controles climáticos são muito mais difíceis de medir do que os elementos
climáticos, a maior parte das classificações climáticas adotou a abordagem empírica, para a qual
há maior disponibilidade de informações (Ayoade, 2010).
Em 1972, Terjung e Louie fizeram um levantamento dos esquemas de classificação climática
existentes e encontraram 169 esquemas, dos quais 21 foram considerados genéticos e 148 empíricos.
A seguir são apresentados alguns modelos de classificação climática genética e genérica.

11.4.1 Modelos de classificação genética

Ayoade (2010) apresenta quatro exemplos de modelos de classificação climática que adotam
a abordagem genética. Destes, dois se baseiam nos sistemas dinâmico-sinóticos, enquanto os
outros dois, no balanço de energia. Abaixo segue uma descrição sucinta desses modelos.

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a. A classificação genética de H. Flohn, em 1950, estabelece sete tipos climáticos que são
baseados nas zonas de ventos globais e nas características da precipitação (Tabela 11.1).
A temperatura não aparece de maneira explícita nesta classificação.

Tabela 11.1: Classificação genética de Flohn. / Fonte: adaptada de Ayoade, 2010.

Tipo limático Características da precipitação


I. Zona equatorial (ventos de oeste) Constantemente úmida
II. Zona tropical (ventos alísios) Precipitação no verão
Condições secas predominam durante
III. Zona subtropical seca (alta pressão subtropical) o ano todo
IV. Zona subtropical de chuva de inverno Precipitação no inverno
(do tipo de Mediterrâneo)
V. Zona extratropical (ventos de oeste) Precipitação durante o ano todo

VI. Zona subpolar Precipitação reduzida o ano todo


Precipitação limitada no verão e precipitação
VII. Subtipo continental boreal de neve no inverno
Precipitação escassa; precipitação no verão;
VIII. Zona polar precipitação de neve no início do inverno.

b. Em 1951, Strahler propôs uma classificação genética baseada nos movimentos das massas
de ar e zonas frontais. Com isso, definiu três categorias climáticas principais: os climas
de latitudes baixas, os de latitudes médias e os de latitudes altas. Além disso, há uma
categoria extra para os climas de terras altas (montanhas). As três divisões principais são
ainda subdivididas. A classificação climática de Strahler é apresentada em detalhes em
Strahler e Strahler (1997) e sintetizada na Tabela 11.2 e Figura 11.4.

Tabela 11.2: Classificação genética de Strahler. / Fonte: adaptado de Strahler e Strahler, 1997.

Grupo I: Climas das latitudes baixas Grupo II: Climas das Latitudes
– controlados pelas massas de ar médias – controlados pelas
equatoriais e tropicais massas de ar tropicais e polares
5. Subtropical seco
1. Equatorial úmido 6. Subtropical úmido
2. Monção e ventos alísios 7. Mediterrâneo
3. Tropical úmido seco 8. De costa oeste marítimo
4. Tropical seco 9. Latitudes médias seco
10. Continental úmido
Grupo III: Climas das latitudes altas
– controlados pelas massas de ar H: Clima de terras altas
polar e ártica/antártica

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11. Floresta boreal


a. Árido
12. Tundra
s. Semiárido (estepe)
13. Cobertura de gelo

Figura 11.4: Classificação climática genética de A.N. Strahler. / Fonte: adaptado de Strahler & Strahler, 1997.

c. Em 1956, Budyko propôs uma classificação climática baseada no balanço de energia.


Para essa classificação foi utilizado o índice radiativo de aridez Id = Rn/L r, onde Rn é
a quantidade de radiação disponível para evaporação a partir de uma superfície úmida
supondo um albedo de 0,18 L é o calor latente de evaporação e r é a precipitação média
anual. O valor do índice radiativo de aridez (Id) é menor do que 1 em áreas úmidas e
maior do que 1 em áreas secas. Com base nesse índice, Budyko (1956) definiu cinco
tipos climáticos (Tabela 11.3).
Tabela 11.3: Classificação genética de Budyko. / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.

Tipo climático Índice radiativo de aridez (Id)


I. Desértico > 3,0
II. Semidesértico 2,0 – 3,0
III. Estepe 1,0 – 2,0
IV. Floresta 0,33 – 1,0
V. Tundra < 0,33

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Ayoade (2010) ressalta que a classificação genética de Budyko fornece apenas um quadro
generalizado dos climas do mundo devido à natureza do índice e ao fato de que um número
muito pequeno de postos no planeta tem dados confiáveis a respeito do fluxo radiativo líquido.
d. Terjung e Louie (1972) propuseram uma classificação genética baseada nos fluxos de
energia e umidade. Para essa classificação foi utilizada a equação do balanço de energia
na superfície (para mais detalhes ver Ayoade, 2010, pg. 229). Os autores definiram
6 grupos climáticos principais e 62 tipos climáticos. Os 6 grupos climáticos principais são:
A. Climas macrotropicais.
B. Climas subtropicais.
C. Climas continentais de latitudes médias.
D. Climas mesotropicais.
E. Climas ciclônico-marítimos.
G. Climas polares.

11.4.2 Modelos de classificação empírica

Há vários modelos de classificação climática que adotam a abordagem empírica; entretanto, aqui
só serão apresentados três e de forma resumida: o de Köppen (1918), o de Thornthwaite (1948) e
o de Trewartha (1954).
a. O modelo de classificação climática elaborado por Köppen (1918), ou de alguma de suas
versões adaptadas, é muito utilizado em livros didáticos de meteorologia, climatologia e
geografia regional. Neste modelo, cada clima é definido de acordo com os valores de tempera-
tura e precipitação calculados em termos anuais ou mensais. Qualquer posto (localidade)
pode identificar seu grupo climático e subgrupo somente com base nos registros de
temperatura e precipitação do local (Strahler & Strahler, 1997). Köppen acreditava
que a distribuição natural da vegetação era o que melhor expressava os diferentes climas.
Assim, os limites climáticos que definiu foram grandemente baseados nos limites de
certas plantas (Lutgens & Tarbuck, 2010).
Köppen definiu cinco grupos climáticos principais, que foram identificados por letras
maiúsculas. Esses grupos são apresentados na Tabela 11.4 e na Figura 11.5.Tais grupos
ainda são subdivididos em outros, que têm como base a distribuição sazonal de precipi-
tação e características adicionais de temperatura do ar (Tabelas 11.5 e 11.6).

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Tabela 11.4: Os cinco grupos climáticos de Köppen (1918). Quatro desses grupos (A, C,
D e E) são definidos com base na temperatura. Somente o grupo B tem a precipitação
como seu critério principal. / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.

A - Climas tropicais úmidos


Todos os meses têm temperatura média maior que 18 °C
Quase todos os meses são quentes
Não existe estação de inverno “de verdade”
Precipitação anual é grande e excede a evaporação anual
B - Climas secos
Precipitação deficiente a maior parte do ano
Evaporação potencial e transpiração excedem a precipitação

C - Climas úmidos de latitudes médias


com invernos amenos
Verões quentes a muito quentes, com invernos amenos
A temperatura média do mês mais frio é abaixo de 18 °C e acima de -3 °C
D - Climas úmidos de latitudes médias com
invernos severos
Verões quentes, com invernos frios
A temperatura média do mês mais quente excede 10 °C e
A temperatura média do mês mais frio é abaixo de -3 °C

E - Climas polares
Invernos e verões extremamente frios
A temperatura do mês mais quente é abaixo de 10 °C
Não há verão “de verdade”

Figura 11.5: Os cinco grupos climáticos de Köppen (1918). / Fonte: adaptado de Strahler e Strahler, 1997.

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Tabela 11.5: Os subgrupos do modelo climático de Köppen (1918). / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.

A. Climas tropicais úmidos B. Climas secos


Af – clima tropical chuvoso de floresta BSh – Clima quente de estepe
Aw – clima de savana BSk – Clima frio de estepe
Am – Clima tropical de monção BWh – Clima quente de deserto
BWk – Clima frio de deserto
C. Climas úmidos de latitudes médias com invernos amenos
Cfa – Úmido em todas as estações, verão quente
Cfb – Úmido em todas as estações, verão moderadamente quente
Cfc – Úmido em todas as estações, verão moderadamente frio e curto
Cwa – Chuva de verão, verão quente
Cwb – Chuva de verão, verão moderadamente quente
Csa – Chuva de inverno, verão quente
Csb – Chuva de inverno, verão moderadamente quente
D. Climas úmidos de latitudes médias com invernos severos
Dfa – Úmido em todas as estações, verão quente
Dfb – Úmido em todas as estações, verão frio
Dfc – Úmido em todas as estações, verão moderadamente frio e curto
Dfd – Úmido em todas as estações, inverno intenso
Dwa – Chuva de verão, verão quente
Dwb – Chuva de verão, verão moderadamente quente
Dwc – Chuva de verão, verão moderadamente frio
Dwd – Chuva de verão, inverno intenso
E. Climas polares
ET – Tundra
EF – Neve e gelo perpétuos
Tabela 11.6: Significado das letras que acompanham a classificação principal de Köppen. / Fonte: adaptado de Ayoade, 2010.

2ª letra – minúscula, representa as particularidades do regime de chuva


(apenas valem para os casos “A”, “C” e “D”)
f: sempre úmido (mês menos chuvoso, tem precipitação superior a 60 mm)
m: monçônico, com uma breve estação seca e com chuvas intensas durante o resto do ano
s: chuvas de inverno (mês menos chuvoso com precipitação inferior a 60 mm), a estação seca é o verão
w: chuvas de verão (mês menos chuvoso com precipitação inferior a 60 mm)
2ª letra - maiúscula, apenas caso “B”
S: clima semiárido (chuvas anuais entre 250 e 500 mm)
W: clima árido ou desértico (chuvas anuais menores que 250 mm)
2ª letra - maiúscula, apenas caso “E”
T: clima de tundra (pelo menos um mês com temperaturas médias entre 0 °C e 10 °C)
F: clima de calota de gelo (todos os meses do ano com médias de temperatura inferiores a 0 °C)
3ª letra - minúscula, representa a temperatura característica de uma região
(apenas valem para os casos “C” e “D”)
a: verões quentes (mês mais quente com média igual ou superior a 22 °C)
b: verões brandos (mês mais quente com média inferior a 22 °C)
c: frio o ano todo (no máximo três meses com médias acima de 10 °C)
d: inverno muito frio, o mês mais frio tem temperatura média menor do que -38 °C
3ª letra - minúscula, apenas caso “B”
h: deserto ou semideserto quente (temperatura anual média igual ou superior a 18 °C)
k: deserto ou semideserto frio (temperatura anual média inferior a 18 °C)

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Figura 11.6: Classificação climática de Köppen. / Fonte: adaptado de Lutgens & Trabuck, 2010.

A Figura 11.7 apresenta os climas do Brasil de


acordo com a classificação de Köppen. No norte do
país predomina o clima Am, enquanto no sul, o Cfa.
Na interface desses dois tipos há o clima Aw. A evolução
mensal da temperatura do ar e da precipitação para as
capitais do Brasil é mostrada na Figura 11.8. Assim,
para saber como é a evolução dessas variáveis atmos-
féricas em cada clima mostrado na Figura 11.7, basta
verificar qual a capital brasileira localizada na região em
que predomina tal clima (Figura 11.7) e encontrá-la
na Figura 11.8. Por exemplo, para o clima Cfa, temos
Porto Alegre (Figura 11.8). Nesta cidade, a tempera-
tura do ar mostra uma grande amplitude térmica, com
verões quentes e invernos frios, e os totais mensais de
Figura 11.7: Classificação climática de Köppen aplicada ao Brasil.
precipitação oscilam pouco ao longo do ano. / Fonte: adaptado de Infoescola.

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Figura 11.8: Climógrafos das capitais do Brasil mostrando


a evolução mensal da temperatura média do ar (linha
vermelha) e da precipitação (barras azuis). As figuras
foram construídas com base nas normais climatológicas
do período de 1961 a 1990, determinadas pelo Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET, 2009). / Fonte: Cortesia
de Michelle S. Reboita.

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Uma classificação climática ainda mais regional foi feita para o estado de São Paulo por Setzer
(1966), através da metodologia proposta por Köppen (1918) e está ilustrada na Figura 11.9.

Figura 11.9: Classificação


climática de Köppen para o
estado de São Paulo. / Fonte:
adaptado de Setzer, 1966.

b. Em 1948, Thornthwaite propôs uma classificação contendo 120 tipos climáticos,


baseada no conceito de evapotranspiração potencial, no balanço hídrico e num
índice de umidade. O método de Thornthwaite é bastante difícil de manejar e,
de acordo com o próprio autor, deficiente quanto ao refinamento matemático.
Seria difícil usá-lo sem um nomograma (ábaco) (Ayoade, 2010). Um resumo da
classificação climática desse autor é apresentado em Ayoade (2010), p. 237-238.

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c. A classificação climática de Köppen (1918) sofreu numerosas e substanciais revisões pelo


próprio Köppen e por outros climatologistas. Uma dessas modificações foi realizada por
Trewartha (1954) e, posteriormente, adaptada por G.T. Trewartha e L.H. Horn (1980).
Neste modelo, há 7 grupos climáticos principais (Tabela 11.7 e Figura 11.10), 5 são
baseados na temperatura e 1 na precipitação; além disso, 1 aplica-se às regiões montanhosas.
Tabela 11.7: Classificação empírica dos climas: classificação de Trewartha adaptada por Trewartha; Horn (1980).
/ Fonte: adaptado de Setzer,1966.

Grupo climático Tipo climático Precipitação

Ar – Tropical úmido No máximo 2 meses secos


a. Tropical úmido
Aw – Tropical úmido e seco Verão úmido e inverno seco
BS – Semiárido (estepe)
BSh(Quente),tropical-subtropical A estação úmida é curta
BSk (Frio), temperado-boreal Precipitação escassa e a maior
parte ocorre no verão
b. Seco
BW – Árido (Desértico )
BWh (Quente), tropical-subtropical Seco

BWk (Frio), temperado-boreal Seco


Cs – Subtropical com verão seco Verão seco e inverno chuvoso
c. Subtropical
Cf – Subtropical úmido Chuvoso em todas as estações do ano
Do – Oceânico Chuvoso em todas as estações do ano
d. Temperado Dc – Continental Chuvoso em todas as estações do ano e no
inverno ocorre cobertura de neve.
e. Boreal E – Boreal Precipitação escassa o ano todo.
Ft – Tundra Precipitação escassa o ano todo.
f. Polar
Fi – Cobertura de gelo Precipitação escassa o ano todo.
g. Terras altas H – Variável Variável

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Figura 11.10: Classificação


climática de Trewartha e, posteri-
ormente, adaptada por Trewartha;
(1980). / Fonte: adaptado de
Moran & Morgan, 1994.

Este texto mostrou que há diferentes classificações climáticas; portanto, quando se trabalha
com este assunto é necessário mencionar qual o modelo de classificação climática abordado e
qual é o autor responsável pela classificação.

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Referências
Ayoade, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 14. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2010, 332 p.
Infoescola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/clima/>. Acesso: [s.d].
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Normais climatológicas do Brasil.
Brasília: Instituto Nacional de Meteorologia, 2019.
Jacobson, M.Z. Fundamentals of atmospheric modeling. 2. ed. Cambridge University
Press, 2005.
Koppen, W. Klassifikation der klimate nach temperatur, niederschlag und jahreslauf.
Petermanns Mitt., v. 64, 1918, p. 193-203.
Lutgens, F.K. & Tarbuck, E.J. The atmosphere: an introduction to meteorology. 11. ed.,
New York: Prentice Hall, 2010.
Moran, J.M. & Morgan, M.D: Meteorology: the atmosphere and the science of weather.
New Jersey: Prentice-Hall, 1994, 516 p.
Nasa. Disponível em: <http://trmm.gsfc.nasa.gov/trmm_rain/Events/all_years.3B43.color.anno-
tated.gif>. Acesso: [s.d].
Setzer, J. Atlas climático e ecológico do estado de São Paulo. São Paulo: CIBPU, 1966.
Silva Dias, M.A. F. & Justi da Silva, M.G.A. Para entender tempo e clima. In: Cavalcanti,
I.D.A.;Ferreira, N.J.;Silva, M.G.A.J.; Silva Dias M.A.F. (Org.). Tempo e clima no Brasil.
São Paulo: Oficina de Textos, 2009, p. 15-21.
Straher A. & Strahler, A. Introducing physical geography. 2. ed., New Jersey: John
Wiley & Sons, Inc., 1997.
Terjung, W.H. & Louie S. Energy input output climates of the world: a preliminary
attempt. Arch. Met. Geo. Bickl. Series B, 20, 1972, p. 129-166.
Thornthwaite, C.W.An approach towards a rational classification of climate. Geographical
Review, n. 38, 1948, p. 55-94.
Trewartha, G.T. An introduction to climate. New York: McGraw-Hill, 1954, 402p.
______.; Horn, L.H. An introduction to climate. 5.ed. NewYork : McGraw-Hill, 1980, 416 p.
WMO. Guide to climatological practices, 2. ed., n.100. Geneva: Secretariat of the World
Meteorological Organization, 1983.

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Glossário
Albedo: é a quantidade de radiação solar refletida pela superfície de um objeto. Em outras palavras, é a
razão entre a radiação solar refletida e o total de radiação incidente.
Barlavento: lado de uma região montanhosa em que o escoamento de ar ascende.

Clima: estado médio da atmosfera, que é obtido através da média dos eventos de tempo durante um
longo período.
Lado barlavento: Lado em que o ar ascende.

Lado sotavento: Lado em que o ar desce.

Normais climatológicas: média das variáveis atmosféricas (temperatura, umidade, etc.) calculada
em períodos específicos de 30 anos (1931-1960, 1961-1990, 1991-2020, etc.) estabelecidos pela
Organização meteorolóica mundial, a fim de permitir a comparação de dados obtidos em diferentes
partes do globo.
Sotavento: lado de uma região montanhosa em que o escoamente descende, isto é, escoa do topo para
a superfície.

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