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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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INDICE

2.1 Introdução .............................................................................................................................................3

2.2 A Meteorologia ......................................................................................................................................4

2.2.1 Elementos meteorológicos importantes .........................................................................................5

2.4 Estabilidade e instabilidade da atmosfera ...........................................................................................19

2.4.1 Estabilidade do ar seco (ou húmido) .............................................................................................20

2.4.4 Determinação prática da Estabilidade Atmosférica: ......................................................................22

2.5 Inversão térmica ..................................................................................................................................25

2.5.1 Exemplos típicos de gradientes térmicos verticais de temperatura ...............................................27

2.6 Escalas de movimento ........................................................................................................................29

Trabalho prático 2 .....................................................................................................................................31

Bibliogafia ..................................................................................................................................................33

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2.1 Introdução

Um problema de poluição atmosférica envolve três partes: a fonte de poluição, o movimento da dispersão
do poluente e o recepiente. Padrões meteorológicos determinam como os contaminantes atmosféricos são
dispersados e são transportados na troposfera e desta forma determinam a concentração de um poluente
que é inalado no processo de respiração ou que se deposita na vegetação.

Dado que a atmosfera da terra tem cerca de 160 km de espessura, essa espessura e volume são vistos
como sendo suficientimente grande para diluir todas as espécies químicas e partículas que são lançadas
para o seu interior.

Noventa e cinco por cento da massa de ar se encontra nos primeiros 20 km de altura acima da superfície
da terra, a troposfera. É esta espessura que contém o ar que respiramos assim como os poluentes do ar
que emitimos. É onde ocorrem os fenómenos meteorológicos e os problemas de poluição atmosférica.

Depois de se ter discutido as fontes e os efeitos da poluição no Capítulo I, neste capítulo iremos discutir os
mecanismos de transporte de poluentes através da atmosfera. Um Engenheiro ambiental deve se
familiarizar muito com alguns conceitos básicos da meteorologia de modo a ser capaz de prever,
aproximadamente a dispersão de poluentes no ar atmosférico.

No capítulo anterior vimos que a atmosfera da terra é dividida em camadas bem distinguíveis. Ela possui
uma massa total equivalente a 5x1018 kg e ¾ desta massa se encontra abaixo dos 11 km de altura. A
atmosfera vai se tornando mais fina com o aumento da altitude. Embora a linha de Karman localizada a
uma altitude de 100 km acima do nível médio das águas do mar é comumente usada como a fronteira entre
a atmosfera e o espaço livre.

Baseado no comportamento da temperatura, vimos que a atmosfera é dividida em camada, conforme a


Figura 2.1:

Figura 2.1 – Camadas atmosféricas


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Troposfera – varia entre 8 km nos polos a 16 km no equador (também varia com a estação do ano). Esta
camada é aquecida pela transferencia de energia a partir da superfície da terra e a temperatura diminui
com a altitude. Nesta camada a taxa de variação vertical da temperatura tem valor médio de 6,5°C/km.
Contém 80% da massa atmosférica e 99% do vapor de água (proveniente da evapração e transpiração).
Como a saturação do vapor de água diminui com a diminuição da temperatura, a quantidade de vapor de
água diminui com a altitude.

Na parte mais baixa da troposfera, a camada limite planetária (CLP) é directamente influenciada pelo seu
contacto com a superfície. Dentro da CLP, o vento é directamente influenciada pela rugosidade da
superfície (gerando a turbulencia) que se move perpendicularmete às isòbaras (enquanto acima da CLP, o
vento é paralelo às isòbaras). A velocidade do vento aumenta exponencialmente com a altitude sendo zero
na superfície pelo facto de a superfície da terra não ser lisa. Isóbaras são linhas que unem pontos com
pressões iguais numa carta meteorológica.

A turbulência causa misturas verticais do ar, que são fundamentais na dispersão de poluentes
atmosféricos. A espessura da CLP varia grandemente entre 50 m (por exemplo, nas noites calmas) e 2000
m (por exemplo, nas tardes quentes), com um valor típico de 300 m nas latitudes médias.

Estratosfera – estende-se da tropopausa (topo da troposfera) até cerca de 50 km onde atinge ~ -90°C. Ao
contrário da troposfera, a temperatura aumenta com a altitude devido a absorção da radiação ultravioleta
pela camada de ozono. Tem turbulência e misturas restritas devido ao perfil da sua temperatura (ar mais
quente acima do ar mais frio), assim é dinamicamente estável (isto é, não há uma convecção regular e
turbulência). Aviões geralmente voam abaixo da estratosfera para aproveitar a camada de ar mais fina para
reduzir a força de dragagem e evitar a turbulência da troposfera.

Mesosfera – varia entre 50 km e 80km e a temperatura diminuir com a altitude. Milhões de meteoritos que
colidem com a terra são maioritariamente diluídos vaporizados nesta camada.

Termosfera ou Ionosfera – varia de 80 km a 350 km ~ 800 km (varia com a actividade solar). O ar é mais
fino nesta camada e estável com o aumento da temperatura (acima de 1500oC).

2.2 A Meteorologia
A meteorologia é definida como a ciência que estuda os fenómenos que ocorrem na atmosfera, e está
relacionada ao estado físico, dinâmico e químico da atmosfera, as interacções entre elas e a superfície
terrestre subjacente.

A Meteorologia básica, como o próprio nome sugere, nos fornece uma visão mais simples dos fenómenos
atmosféricos que ocorrem em nosso dia a dia. Baseados em observações, os elementos meteorológicos
mais importantes do ar, a velocidade e direcção do vento, tipo e quantidade de nuvens, a temperatura, a
quantidade da precipitação, humidade, a pressão podemos ter uma boa noção de como o tempo se
comporta num determinado instante e lugar.
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As leis físicas aplicadas à atmosfera podem explicar o estado dela. Mas o estado ou o tempo é o resultado,
desses elementos e outros mais com a influência dos factores astronómicos e factores geográficos (por
exemplo, altitude, latitude e o relevo), podem estar distribuídos em um número infinito de padrões no
espaço e no tempo e em constante modificação.

A meteorologia engloba tanto tempo como clima, enquanto os elementos da meteorologia devem
necessariamente estar incorporados na climatologia para torná-la significativa e científica. O tempo e o
clima podem, juntos, ser considerados como consequência e demonstração da acção dos processos
complexos na atmosfera, nos oceanos e na Terra.

A Meteorologia no seu sentido mais amplo, é uma ciência extremamente vasta e complexa, pois a
atmosfera é muito extensa, variável e sede de um grande número de fenómenos

As condições meteorológicas têm um papel determinante na descrição físico-química do transporte de


poluentes entre a fonte e o receptor. A concentração de uma determinada substância na atmosfera varia no
tempo e no espaço em função de reacções químicas e/ou fotoquímicas, dos fenómenos de transporte, da
topografia da região e de factores meteorológicos como ventos, turbulências, temperatura, precipitação e
inversões térmicas.

Nos estudos de impacto da poluição do ar, normalmente se inclui uma descrição das condições
meteorológicas e de topografia do local. Deve-se ressaltar que, mesmo mantendo constante a emissão de
poluentes, a qualidade do ar pode piorar ou melhorar, dependendo das condições meteorológicas
estarem desfavoráveis ou favoráveis à dispersão de poluentes.

2.2.1 Elementos meteorológicos importantes

2.2.1.1 Radiação Solar Incidente


Embora a atmosfera seja muito transparente à radiação solar incidente, somente em torno de 25% penetra
diretamente na superfície da Terra sem nenhuma interferência da atmosfera, constituindo a insolação
directa. O restante é ou reflectido de volta para o espaço ou absorvido ou espalhado em volta até atingir a
superfície da Terra ou retornar ao espaço (Figura 2.2). O que determina se a radiação será absorvida,
espalhada ou reflectida de volta depende em grande parte do comprimento de onda da energia que está
sendo transportada, assim como do tamanho e natureza do material que intervém.

a) ESPALHAMENTO
Embora a radiação solar incida em linha recta, os gases e aerossóis podem causar seu espalhamento,
dispersando-a em todas as direcções - para cima, para baixo e para os lados. A reflexão é um caso
particular de espalhamento. A insolação difusa é constituída de radiação solar que é espalhada ou
reflectida de volta para a Terra. Esta insolação difusa é responsável pela claridade do céu durante o dia e
pela iluminação de áreas que não recebem iluminação directa do sol.

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As características do espalhamento dependem, em grande parte, do tamanho das moléculas de gás ou
aerossóis. O espalhamento por partículas cujo raio é bem menor que o comprimento de onda da radiação
espalhada, como o caso do espalhamento da luz visível por moléculas de gás da atmosfera, é dependente
do comprimento de onda (espalhamento Rayleigh), de forma que a irradiância monocromática espalhada é
inversamente proporcional à 4ª potência do comprimento de onda ( 1 ). Esta dependência é a base para
ES ~
4

explicar o azul do céu.

Grande parte da energia da radiação solar está contida no intervalo visível, entre o vermelho e o violeta. A
luz azul (λ ≅0,425μ) tem comprimento de onda menor que a luz vermelha (λ≅0,625μ). Consequentemente,
a luz azul é aproximadamente 5,5 vezes mais espalhada que a luz vermelha. Além disso ela é mais
espalhada que o verde, amarelo e laranja. Assim, o céu, longe do disco do sol, parece azul. Como a luz
violeta (λ≅0.405μ) tem um comprimento de onda menor que a azul, por que o céu não parece violeta?
Porque a energia da radiação solar contida no violeta é muito menor que a contida no azul e porque o olho
humano é mais sensível à luz azul que à luz violeta. Como a densidade molecular decresce drasticamente
com a altura, o céu, visto de alturas cada vez maiores, iria gradualmente escurecer até tornar-se totalmente
escuro, longe do disco solar. Por outro lado, o Sol apareceria cada vez mais branco e brilhante. Quando o
Sol se aproxima do horizonte (no nascer e por do Sol) a radiação solar percorre um caminho mais longo
através das moléculas de ar, e, portanto, mais e mais luz azul e com menor comprimento de onda é
espalhada para fora do feixe de luz, e, portanto, a radiação solar contém mais luz do extremo vermelho do
espectro visível. Isto explica a coloração avermelhada do céu ao nascer e por do Sol. Este fenómeno é
especialmente visível em dias nos quais pequenas partículas de poeira ou fumaça estiverem presentes.

Quando a radiação é espalhada por partículas cujos raios se aproximam ou excedem em aproximadamente
até 8 vezes o comprimento de onda da radiação, o espalhamento não depende do comprimento de onda
(espalhamento Mie). A radiação é espalhada igualmente em todos os comprimentos de onda. Partículas
que compõem as nuvens (pequenos cristais de gelo ou gotículas de água) e a maior parte dos aerossóis
atmosféricos espalham a luz do Sol desta maneira. Por isso, as nuvens parecem brancas e quando a
atmosfera contém grande concentração de aerossóis o céu inteiro aparece esbranquiçado.

Quando o raio das partículas é maior que aproximadamente 8 vezes o comprimento de onda da radiação, a
distribuição angular da radiação espalhada pode ser descrita pelos princípios da ótica geométrica. O
espalhamento de luz visível por gotas de nuvens, gotas de chuva e partículas de gelo pertence a este
regime e produz uma variedade de fenômenos óticos como arco íris, auréolas, etc...

b) REFLEXÃO
Aproximadamente 30% da energia solar é reflectida de volta para o espaço (Figura 2.2). Neste número está
incluída a quantidade que é retroespalhada. A reflexão ocorre na interface entre dois meios diferentes,
quando parte da radiação que atinge esta interface é enviada de volta. Nesta interface o ângulo de
incidência é igual ao ângulo de reflexão (lei da reflexão). Conforme já mencionamos, a fracção da radiação
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incidente que é reflectida por uma superfície é o seu albedo. Portanto, o albedo da Terra como um todo
(albedo planetário) é 30%. O albedo varia no espaço e no tempo, dependendo da natureza da superfície e
da altura do Sol. Dentro da atmosfera, os topos das nuvens são os mais importantes reflectores. O albedo
dos topos de nuvens depende de sua espessura, variando de menos de 40% para nuvens finas (menos de
50m) a 80% para nuvens espessas (mais de 5000m).

2.2 Distribuição percentual da radiação solar incidente

c) ABSORÇÃO NA ATMOSFERA

O espalhamento e a reflexão simplesmente mudam a direcção da radiação. Contudo, através da absorção,


a radiação é convertida em calor. Quando uma molécula de gás absorve radiação esta energia é
transformada em movimento molecular interno, detectável como aumento de temperatura. Portanto, são os
gases que são bons absorvedores da radiação disponível que tem papel preponderante no aquecimento da
atmosfera.

A Fig. 2.3 fornece a absortividade dos principais gases atmosféricos em vários comprimentos de onda. O
Nitrogénio, o mais abundante constituinte da atmosfera é um fraco absorvedor da radiação solar incidente,
que se concentra principalmente nos comprimentos de onda entre 0,2μ e 2μ.

O único outro absorvedor significativo da radiação solar incidente é o vapor de água que, com o oxigénio e
o ozono, respondem pela maior parte dos 19% da radiação solar que são absorvidos na atmosfera.

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Figura 2.3 - Absortividade de alguns gases da atmosfera e da atmosfera como um todo.

2.2.1.1 Pressão atmosférica


Entre os vários elementos do tempo (pressão, temperatura, humidade, precipitação, ventos, etc.) a pressão
é a menos percetível fisicamente. Contudo, diferenças de pressão de um lugar para outro são responsáveis
pelos ventos e variações na pressão tem importante influência na variação do tempo. A pressão do ar está
intimamente relacionada com os outros elementos do tempo.

À medida que a altitude aumenta, a pressão diminui, pois diminui o peso da coluna de ar acima. Como o ar
é compressível, diminui também a densidade com a altura, o que contribui para diminuir ainda mais o peso
da coluna de ar à medida que a altitude aumenta. Inversamente, quando a altitude diminui, aumenta a
pressão e a densidade.

A lei dos gases ideais


As variáveis temperatura, pressão e densidade, conhecidas como variáveis de estado, são relacionadas
nos gases pela chamada lei dos gases ideais. Por definição, um gás ideal segue a teoria cinética dos gases
exactamente, isto é, um gás ideal é formado de um número muito grande de pequenas partículas, as
moléculas, que tem um movimento rápido e aleatório, sofrendo colisões perfeitamente elásticas, de modo a
não perder quantidade de movimento. Além disso, as moléculas são tão pequenas que as forças de
atracção entre elas são omissíveis. Embora a lei dos gases tenha sido deduzida para gases ideais, ela dá
uma descrição razoavelmente precisa do comportamento da atmosfera, que é uma mistura de muitos
gases.

A lei dos gases pode ser expressa como:


pV = mRT ou p = ρRT
Onde p,  e T são pressão, densidade e temperatura absoluta. R é a constante do gás. Para o ar seco
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(sem vapor de água).

A lei dos gases afirma que a pressão exercida por um gás é proporcional a sua densidade e temperatura
absoluta. Assim, um acréscimo na temperatura ou na densidade causa um aumento na pressão, se a outra
variável (densidade ou temperatura) permanece constante. Por outro lado, se a pressão permanece
constante, um decréscimo na temperatura resulta em aumento na densidade e vice-versa.

Pode parecer, a partir do parágrafo anterior, que em dias quentes a pressão será alta e em dias frios será
baixa. Contudo, isto não ocorre necessariamente. A dependência da pressão em relação a duas variáveis
interdependentes (densidade e temperatura) complica o assunto. Como na atmosfera o volume de ar pode
variar, variações na temperatura afectam a densidade do ar, isto é, a densidade varia inversamente com a
temperatura. Em termos da lei dos gases isto significa que o aumento da temperatura não é normalmente
acompanhado por um aumento na pressão ou que decréscimo de temperatura não está usualmente
associado com pressão mais baixa. Na realidade, por exemplo, sobre os continentes em latitudes médias
as pressões mais altas são registradas no inverno, quando as temperaturas são menores. A lei dos gases
ainda é satisfeita porque a densidade do ar neste caso cresce (número maior de moléculas) quando a
temperatura diminui (menor movimento das moléculas) e mais do que compensa esta diminuição. Assim,
temperaturas mais baixas significam maiores densidades e frequentemente maiores pressões na
superfície.

Por outro lado, quando o ar é aquecido na atmosfera, ele se expande (aumenta seu volume), devido a um
movimento maior das moléculas e sua densidade diminui, resultando geralmente num decréscimo da
pressão.

Variações verticais
A variação vertical da pressão e densidade é muito maior que a
variação horizontal e temporal. Em regiões montanhosas as diferenças
na pressão da superfície de um local para outro são devidas
principalmente a diferenças de altitudes. Para isolar a parcela do
campo de pressão que é devida à passagem de sistemas de tempo, é
necessário reduzir as pressões a um nível de referência comum,
geralmente o nível do mar.

A Figura 2.4 - Variação da pressão da atmosfera padrão com a altitude

Variações horizontais
A pressão atmosférica difere de um local para outro e nem sempre devido a diferenças de altitude. Quando
a redução ao nível do mar é efectuada, a pressão do ar ainda varia de um lugar para outro e flutua de um
dia para outro e mesmo de hora em hora.
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Em latitudes médias o tempo é dominado por uma contínua procissão de diferentes massas de ar que
trazem junto mudanças na pressão atmosférica e mudanças no tempo. Em geral, o tempo torna-se
tempestuoso quando a pressão cai e bom quando pressão sobe. Uma massa de ar é um volume enorme
de ar que é relativamente uniforme (horizontalmente) quanto à temperatura e à concentração de vapor de
água. Por que algumas massas de ar exercem maior pressão que outras? Uma razão são as diferenças na
densidade do ar, decorrentes de diferenças na temperatura ou no conteúdo de vapor de gua, ou ambos.
Via de regra, a temperatura tem uma influência muito maior sobre a pressão que o vapor de água.

Divergência e convergência
Além das variações de pressão causadas por variações de temperatura
e (com menor influência) por variações no conteúdo de vapor de água, a
pressão do ar pode também ser influenciada por padrões de circulação
que causam divergência ou convergência do ar. Suponha, por exemplo,
que na superfície da Terra, ventos horizontais soprem rapidamente a
partir de um ponto, como mostrado na figura a abaixo. Esta situação
configura divergência de ar (horizontal).

No centro, o ar descendente toma o lugar do ar divergente. Se a


divergência de ar na superfície for menor que a descida de ar, então a
densidade de ar e a pressão atmosférica aumentam. No centro, o ar
descendente toma o lugar do ar divergente. Se a divergência de ar na
superfície for menor que a descida de ar, então a densidade de ar e a
pressão atmosférica aumentam
A Figura 2.5 – Convergência e divergência das massas de ar

Por outro lado, suponha que na superfície ventos horizontais soprem radialmente em direcção a um ponto
central, como na figura b. Se a convergência de ar na superfície for menor que a subida de ar, então a
densidade de ar e a pressão atmosférica diminuem.

Altas e baixas pressões atmosféricas


Após a redução das pressões superficiais ao nível do mar, pode-se traçar mapas de superfície nos quais
pontos com mesma pressão atmosférica são ligados por linhas chamadas isóbaras, veja a figura abaixo. As
letras A e B designam regiões com máximos e mínimos de pressão. Por razões apresentadas nos
parágrafos anteriores, uma alta é geralmente um sistema de bom tempo enquanto uma baixa é geralmente
sistema de tempo com chuvas ou tempestades.

A Figura 2.6 abaixo mostra (a) a pressão e circulação na superfície em janeiro e (b) pressão e circulação na
superfície em julho.

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2.2.1.2 Velocidade e direcção do vento


O fluxo geral do ar sobre a terra é induzido por variações de pressão de grande escala
(macrometeorológicos) comummente apresentadas nas cartas meteorológicas (sinópticas). A intensidade
destes sistemas de pressão e seu posicionamento normal ou trajectórias determinam a distribuição dos
ventos em uma dada área. Dentro deste macrossistema existem vários factores que influenciam nas
particularidades do movimento de ar nas direcções vertical e horizontal, e para muitos problemas de
poluição atmosférica é a combinação de padrões gerais e particulares que é importante.

Variação Temporal e Espacial: Os movimentos dos sistemas de pressão e o aquecimento diurno e


resfriamento da superfície da terra produzem padrões característicos que geralmente são apresentados na
forma de uma “rosa dos ventos”. Nestes diagramas polares as frequências da várias direcções (sectores)
observadas são proporcionais ao comprimento dos raios e a distribuição das velocidades em cada
direcção (sector) é indicada pelos comprimentos dos segmentos individuais de cada raio.

Os meteorologistas definem a direcção do vento como aquela da qual o vento sopra

Figura 2.7 - Rosa dos ventos de uma dada estação meteorológica.


A direcção predominante em uma rosa dos ventos é geralmente chamada de “vento predominante”. Por
exemplo, na rosa dos ventos apresentada acima a direcção nordeste é predominante. Frequentemente,
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este termo, é erroneamente utilizado como sendo a única direcção do vento observada em um dado local.
Na realidade ele simplesmente indica a direcção mais frequentemente observada.

A variação da componente horizontal da velocidade do vento e da direcção com a altitude é importante na


avaliação da difusão dos gases de chaminés. A certa altura acima do solo (geralmente 500-750 m) o fluxo
de ar é quase paralelo as linhas de mesma pressão e a velocidade é prescrita pelo gradiente horizontal de
pressão, este vento é denominado “vento gradiente”. Próximo do solo os efeitos do atrito retardam o
fluxo do ar bem como causam uma mudança na direcção.
Como mostrado na Figura 2.8 o perfil vertical da velocidade do vento é afectado pelas mudanças na
cobertura do solo e pela estabilidade térmica da atmosfera.

Figura 2.8- Perfil vertical da velocidade do vento


A mudança de direcção pode, algumas vezes, ser muito maior e mais complicada, caso dos terrenos
irregulares sob condições estáveis onde os padrões do fluxo próximo ao solo são completamente
diferentes daqueles das correntes superiores.

A resistência do atrito reduz a velocidade do vento próximo do solo abaixo daquela do vento de gradiente.
Durante a noite, quando o ar é estável, o perfil vertical geralmente é mais acentuado que aquele
encontrado durante o dia.

2.3.1.3 Temperatura do ar
A temperatura do ar é variável, no tempo e no espaço. Pode ser regulada por vários factores, que são os
controles da temperatura:

a) Radiação solar
Factores que influem no balanço local de radiação e consequentemente na temperatura local do ar
incluem: (1) latitude, hora do dia e dia do ano, que determinam a altura do sol e a intensidade e duração
da radiação solar incidente; (2) cobertura de nuvens, pois ela afecta o fluxo tanto da radiação solar como
da radiação terrestre e (3) a natureza da superfície, pois esta determina o albedo e a percentagem da
radiação solar absorvida usada para aquecimento por calor sensível e aquecimento por calor latente. Em
consequência destes factores, a temperatura do ar é usualmente maior nos trópicos e menor em latitudes
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médias, maior em janeiro que em julho (no Hemisfério Sul), durante o dia que à noite, sob céu claro do
que nublado (durante o dia) e com solo descoberto ao invés de coberto de neve e quando o solo está
seco ao invés de húmido.

O ciclo anual de temperatura reflete claramente a variação da radiação solar incidente ao longo do ano.
Por isso, na faixa entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, as temperaturas médias variam pouco
durante o ano, enquanto em latitudes médias e altas grandes contrastes de temperatura entre inverno e
verão são observados.

Em latitudes médias e altas a variação da temperatura média mensal está atrasada em aproximadamente
1 mês em relação à variação da insolação, o que reforça o facto de que a radiação solar não é o único
factor que determina a temperatura. Nas cidades costeiras, com maior influência marítima, essa
desfasagem é um pouco maior e a amplitude da variação anual da temperatura é reduzida.

O ciclo diurno da temperatura reflecte a variação da radiação ao longo do dia. Tipicamente, a menor
temperatura ocorre próximo ao nascer do sol, como resultado de uma noite de resfriamento radiativo da
superfície da Terra. A temperatura mais alta ocorre usualmente no começo ou meio da tarde, enquanto o
pico de radiação ocorre ao meio dia.

A desfasagem entre temperatura e radiação resulta principalmente do processo de aquecimento da


atmosfera. O ar absorve pouca radiação solar, sendo aquecido principalmente por energia provinda da
superfície da Terra. A taxa com a qual a terra fornece energia à atmosfera, contudo, não está em balanço
com a taxa com a qual a atmosfera irradia calor. Geralmente, durante umas poucas horas após o período
de máxima radiação solar, o calor fornecido pela Terra à atmosfera é maior que o emitido pela atmosfera
para o espaço. Em consequência, geralmente a temperatura do ar é máxima a tarde.
A amplitude do ciclo diurno pode ser afectada por vários fatores. (1) Amplitude de variação da altura
do sol durante o dia, que é maior em latitudes baixas que em altas. De facto, nos trópicos a diferença de
temperatura entre dia e noite é frequentemente maior que o contraste inverno-verão. (2) A nebulosidade
diminui a amplitude da variação porque durante o dia as nuvens bloqueiam a radiação solar, reduzindo o
aquecimento e à noite as nuvens retardam a perda de radiação pela superfície e o ar e re-irradia calor
para a Terra. (3) Localidades costeiras podem ter menores variações de temperatura durante o dia.
Durante 24 horas o oceano se aquece tipicamente menos que 1ºC. Portanto, o ar acima dele também tem
pequena variação e localidades a sotavento do oceano apresentam menor amplitude do ciclo diurno.

b) Advecção de massas de ar
A advecção de massas de ar se refere ao movimento de uma massa de ar de uma localidade para outra.
A advecção de ar frio ocorre quando o vento sopra através das isotermas de uma área mais fria para
outra mais quente, enquanto na advecção de ar quente o vento sopra através das isotermas de uma
região mais quente para uma mais fria. Isotermas são linhas traçadas sobre um mapa, que unem pontos
com mesma temperatura do ar. A advecção de massa de ar ocorre quando uma massa de ar substitui
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outra com diferentes características de temperatura.

A advecção de massas de ar pode compensar ou mesmo sobrepor-se à influência da radiação sobre a


temperatura podendo, por exemplo, causar a queda da temperatura num início de tarde, apesar do céu
claro.

c) Aquecimento diferencial da terra e da água


O aquecimento da superfície da Terra controla o aquecimento do ar sobrejacente. Portanto, para
entender variações nas temperaturas do ar, deve-se examinar as propriedades das várias superfícies,
que reflectem e absorvem energia solar em quantidades diferentes. O maior contraste é observado entre
terra e água. A terra aquece mais rapidamente e a temperaturas mais altas que a água e resfria mais
rapidamente e a temperaturas mais baixas que a água. Variações nas temperaturas do ar são, portanto,
muito maiores sobre a terra que sobre a água.

Há vários factores que contribuem para o aquecimento diferencial da terra e da água.

1. Uma importante razão para que as temperaturas da superfície da água aumentem e diminuam mais
vagarosamente que as da superfície da terra é o facto que a água é altamente móvel. Quando é
aquecida, a turbulência distribui o calor através de uma massa bem maior. A variação diurna de
temperatura na água alcança profundidade de 6 metros ou mais e a variação anual pode atingir de
200 a 600 metros.

Por outro lado, o calor não penetra profundamente no solo ou rocha; ele permanece numa fina camada
superficial, pois deve ser transferido pelo lento processo de condução. Consequentemente, variações
diurnas são muito pequenas além da profundidade de 10cm e as variações anuais atingem apenas 15m.
Portanto, uma camada mais grossa de água é aquecida a temperaturas moderadas durante o verão,
enquanto uma fina camada de terra é aquecida a temperaturas mais elevadas. No inverno, a fina camada
de terra aquecida durante o verão resfria-se rapidamente. Na água o resfriamento é mais lento, pois a
camada superficial resfriada vai sendo substituída pela água mais aquecida subjacente, até que uma
grande massa seja resfriada.

2. Como a superfície da terra é opaca, o calor é absorvido somente na superfície. A água, sendo mais
transparente, permite que a radiação solar penetre à profundidade de vários metros.

3. O calor específico (a quantidade de calor necessária para aumentar de 1 oC uma massa de 1g da


substância) é quase 3 vezes maior para a água que para a terra. Assim, a água necessita de bem
mais calor para aumentar sua temperatura na mesma quantidade que a terra, para uma mesma
quantidade de massa.

4. A evaporação (que é um processo de resfriamento) é bem maior sobre a água que sobre a superfície
da terra.

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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Devido às propriedades acima descritas, localidades costeiras que sofrem a influência da presença da
água, apresentam menores variações anuais de temperatura.

Numa escala diferente, a influência moderadora da água pode também ser demonstrada quando se
comparam variações de temperatura no Hemisfério Norte (HN) e no Hemisfério Sul (HS). O HN é coberto
por 61% de água; a terra ocupa os outros 39%. O HS tem apenas 19% de terra, com 81% de água. Entre
45oN e 70oN há mais terra do que água, enquanto entre 40 oS e 65oS quase não há terra.

d) Correntes oceânicas
Os efeitos de correntes oceânicas sobre as temperaturas de áreas adjacentes são variáveis. Correntes
oceânicas quentes que se dirigem para os pólos tem efeito moderador do frio. Um exemplo famoso é a
corrente do Atlântico Norte, uma extensão da corrente do Golfo (quente) (Fig. 3.4), que mantém as
temperaturas mais altas no oeste da Europa do que seria esperado para aquelas latitudes. Este efeito é
sentido mesmo no interior do continente devido aos ventos dominantes de oeste.

O efeito de correntes frias é mais pronunciado nos trópicos ou durante o verão em latitudes médias. A
corrente de Benguela, por exemplo, é responsável por ser a cidade de Walvis Bay (23oS), na costa oeste
da África, 5oC mais fria no verão que Durban (29o S), na costa leste da África do Sul.

Figura 2.9 - Principais correntes oceânicas.


e) Altitude
Além de influir sobre a temperatura média a altitude também influi sobre a amplitude do ciclo diurno.
Como a densidade do ar também diminui com a altitude, o ar absorve e reflecte uma porção menor de
radiação solar incidente. Consequentemente, com o aumento da altitude a intensidade da insolação
também cresce, resultando num rápido e intenso aquecimento durante o dia. À noite, o resfriamento é
também mais rápido.

f) Posição geográfica
A posição geográfica pode ter grande influência sobre a temperatura numa localidade específica. Uma
localidade costeira na qual os ventos dominantes são dirigidos do mar para a terra e outra na qual os
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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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ventos são dirigidos da terra para o mar podem ter temperaturas consideravelmente diferentes. No 1 o
caso, o lugar sofrerá a influência moderadora do oceano de forma mais completa enquanto o 2o terá um
regime de temperatura mais continental, com maior contraste entre as temperaturas de inverno e verão.

Outro aspecto a ser considerado é a acção das montanhas como barreiras. Localidades não tão distantes
do mar e a sotavento do mar podem ser privadas da influência marítima pela existência de uma barreira de
montanhas.

Variação vertical da temperatura


A variação vertical de temperatura é maior que a variação horizontal. A distribuição actual da temperatura
na vertical é conhecida como gradiente vertical de temperatura. Consiste no decréscimo da temperatura
com a altura que tem lugar dentro de uma atmosfera em repouso. Ele é normalmente determinado
mediante radiosondagens.

O estudo dos gradientes verticais de temperatura apresenta grande interesse, pois eles condicionam a
possibilidade de ocorrência e o sentido dos movimentos verticais de ar na atmosfera. Quando o ar
experimenta um processo de ascensão ou de subsidência, sua temperatura é determinada pelo gradiente
adiabático.

É importante notar que um gás (ou vapor) realiza uma transformação adiabática quando a passagem
do estado inicial ao final é determinada apenas pela criação de sua energia interna, sem receber
ou ceder calor. Seja um gás contido num cilindro com paredes impermeáveis ao calor. Se a expansão se
fizer adiabaticamente, a energia necessária para executar este trabalho é extraída do próprio gás e ele se
resfria. Se, pelo contrário, ele for comprimido adiabaticamente sua temperatura aumenta, pois o trabalho
de compressão converter-se-á em calor.

Gradiente vertical da adiabática seca é o fenómeno da expansão ou compressão do ar seco ou


húmido. Se um volume de ar seco ou não saturado for elevado, sua pressão diminui (pressão atmosférica
diminui com a altitude) e sua temperatura baixará devido a expansão. Se o processo for adiabático a
variação de temperatura será de 0,98 ou 1oC/100 m. Teoricamente, quando um pequeno volume de ar é
deslocado para cima na atmosfera encontra baixa pressão, se expande e resfria. Se assumirmos que
não exista troca de calor entre o meio e o pequeno volume, podemos definir a taxa na qual o resfriamento
ocorre durante a ascensão como gradiente vertical da adiabática seca ou “gradiente adiabático seco” ou
ainda “Adiabatic Lapse Rate”. Na realidade, este processo nunca ocorre na atmosfera, uma vez que a
turbulência tende a destruir o volume teoricamente isolado e ocorre a troca de calor, porém, o conceito
tem valor considerável como referência para se estimar as características turbulentas na atmosfera real.

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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Mecanismos actuantes no conceito:
 Ao elevar-se na atmosfera o volume da parcela se expande de forma a acomodar-se em uma
situação de menor pressão;
 A expansão é supostamente adiabática, isto é, a troca de calor entre a parcela e o ar as suas
circunvizinhanças é negligível;
 Com a expansão da parcela dá-se um decréscimo de temperatura em seu interior.
 O processo de mistura vertical na atmosfera é, de forma simplificada, assumido como envolvendo
um sem número de parcelas de ar ascendendo e descendo;
 Não havendo troca de calor entre as fronteiras do sistema a parcela e seu ambiente imediato
podem estar em temperaturas diferentes na mesma pressão. Este fato governa o seu movimento
vertical.
 A variação da temperatura ao longo da altura para uma parcela ascendente de ar seco que se
resfria adiabaticamente é utilizada como um perfil padrão de temperaturas para comparação com as
situações reais.
O gradiente vertical de temperatura raramente se aproxima do gradiente adiabático nos primeiros 100m
acima do solo para qualquer período de tempo.

Gradiente vertical da adiabática saturada é o processo de expansão do ar saturado. Para uma


pressão de 1000 milibares e temperatura de 10ºC o gradiente da adiabática saturada é de
0,60°C/100m.

2.3.1.4 Humidade relativa


Humidade é o termo geral usado para descrever a presença de água na atmosfera. O índice mais
conhecido para descrever o conteúdo de vapor de água é a humidade relativa. De entre as várias maneiras
existentes para descrever quantitativamente a presença de vapor de água no ar (que são a pressão de
vapor, humidade absoluta, razão de mistura e humidade relativa) a humidade relativa é a mais usada.

Ela é definida como a razão que existe entre a quantidade de vapor de água contida no momento num m3
de ar e a quantidade de vapor que este mesmo volume de ar conteria se estivesse saturado, à mesma
temperatura.

 Primeiro, se vapor de água é adicionado ou subtraído do ar, sua HR mudará, se a temperatura


permanecer constante.

 Segundo, se o conteúdo de vapor de água permanecer constante, um decréscimo na temperatura


aumentará a HR e um aumento na temperatura causa uma diminuição na HR

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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Variações da humidade relativa causadas por variações da temperatura ocorrem na natureza tipicamente
por:
1) variação diurna da temperatura;
2) movimento horizontal de massa de ar;
3) movimento vertical de ar.

Em suma, a humidade relativa indica quão próximo o ar está da saturação.

2.3.1.5 Camada limite planetária ou camada de mistura


A maioria dos fenómenos de poluição do ar ocorrem na parte mais baixa da atmosfera, a chamada camada
limite planetária (ou bondary layer). Esta camada (que pode ser chamada também de camada de atrito -
friction layer) é definida com a "região na qual a atmosfera sofre os efeitos oriundos da superfície através
de trocas verticais de momento, calor e mistura de massas de ar" (Zannetti, 1990). A difusão e o transporte
dos poluentes à escala micrometeorológica e mesmo mesoescala se produzem ao nível desta camada
limite (De Melo Lisboa, 1996).

Ela pode ser dividida em três subcamadas principais:


 A camada próxima ao chão (zo) . Esta camada é conhecida como "camada de rugosidade". Nesta
camada a viscosidade molecular e os fluxos turbulentos são importantes.
 A camada de superfície (de zo até hs), onde hs varia de cerca de 10 a 200 m. Nesta camada os
fluxos de momento, calor e mistura são assumidos independente da altura e o efeito de Coriolis é
geralmente desprezível.
 A camada de transição, ou de Ekman (de hs até zi), onde zi varia de cerca de 100 a 20000 metros.

Em condições especiais, como nas tempestades, a camada de mistura pode estender-se até a estratosfera.
Valores típicos da altura da camada de mistura, definidos à partir do coeficiente de rugosidade Z o, para
condições atmosféricas estáveis, são apresentados na tabela abaixo

Tabela 1 - Valores típicos da altura da camada de mistura

Fonte : Khan et al. (1992).

Este parâmetro Zo é de aproximadamente um décimo da altura dos elementos responsáveis pela


rugosidade. Ele é de 1 m para as cidades, florestas e zonas industriais, de 10 cm para as plantações
agrícolas, de 1 cm para relvados e de 1 mm para superfícies pavimentadas (Hanna e Drivas, 1989).

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2.4 Estabilidade e instabilidade da atmosfera
A estabilidade da atmosfera é a sua tendência a resistir ou intensificar o movimento vertical, ou
alternativamente suprimir ou aumentar a turbulência existente. O grau de turbulência na baixa atmosfera
depende fortemente do gradiente vertical de temperatura, embora este seja também influenciado pela
rugosidade do terreno, velocidade do vento e efeitos da viscosidade (cisalhamento). Embora não sejam
completamente equivalentes os termos “estabilidade atmosférica” e “turbulência atmosférica” são
considerados permutáveis quando se tratando de difusão atmosférica.

O grau de estabilidade ou instabilidade da atmosfera exprime a tendência da supressão ou da


favorabilidade dos movimentos verticais. Ele é função da relação entre o gradiente de temperatura do
perfil vertical ambiental (gradiente térmico vertical) e o gradiente adiabático.

O gradiente térmico (ou gradiente de temperatura) é a relação da variação da temperatura da


atmosfera em função do aumento da altitude, normalmente negativo para decréscimo da temperatura.
Quando a temperatura aumenta com a altura, o gradiente é positivo.

O conceito de Estabilidade envolve não só o conhecimento do gradiente vertical de temperatura, isto é, a


Estabilidade Estática, como o Perfil Vertical do Vento pois há que considerar não apenas a produção
térmica mas também a produção mecânica de turbulência.

Figura 2.10 – Exemplos de variação da temperatura e da velocidade do vento com a altitude (Adaptada de
Ingeniería Ambiental – Fundamentos, entornos, tecnologías y sistemas de gestión, Gerard Kiely).

A Estabilidade Atmosférica na Camada Limite (primeiras centenas de metros acima da superfície) toma
frequentemente valores muito diferentes dos observados na atmosfera livre (grosso modo, acima dos 1
000 m). Nesta não se faz sentir o ciclo diurno de aquecimento/arrefecimento do solo e existe, em geral,
estabilidade estática (∆T/∆z = -6.5 ºC/km). Na camada limite, com céu limpo, observa-se uma forte
variação diurna: durante o dia o solo aquece provocando instabilidade, durante a noite gera estabilidade.

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2.4.1 Estabilidade do ar seco (ou húmido)
Uma camada de ar não saturado é estável quando seu gradiente térmico vertical é inferior ao gradiente da
adiabática seca

Figura 2.11 - Atmosfera estável


Sempre que o gradiente térmico vertical for maior que o gradiente da adiabática seca, a atmosfera
está em condições de instabilidade.

Figura 2.12 - Atmosfera instável


Quando o decréscimo da temperatura vertical é muito próximo do gradiente adiabático seco, diz-se que a
atmosfera é indiferente ou neutra. Qualquer que seja a posição de uma partícula deslocada dentro da
massa de ar, ela estará a mesma temperatura que a atmosfera circunvizinha, portanto, a mesma
densidade. A turbulência e a dispersão são, portanto, normais. Uma partícula libertada na atmosfera não
possui nenhuma tendência a continuar seu movimento.

Figura 2.13 - Atmosfera neutra ou indiferente


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2.4.2 Estabilidade do ar saturado
Uma camada de ar saturado é sempre estável quando seu gradiente térmico vertical é inferior ao gradiente
da adiabática saturada. Se o gradiente térmico vertical da camada de ar saturado for maior do que o
gradiente da adiabática saturada, a atmosfera poderá estar em condições de instabilidade.

2.4.3 Atmosfera condicionalmente instável


Se o gradiente térmico vertical estiver compreendido entre os gradientes da adiabática seca e da
adiabática saturada, diz-se que a atmosfera é condicionalmente instável.
Se uma massa de ar não saturado se elevar ela seguirá a linha adiabática (Lapse Rate) e estará sempre
mais fria que o ar circundante, tendendo a voltar a sua posição inicial (equilíbrio estável).
Se esta massa de ar for elevada até atingir o nível de saturação, ela se transforma em ar saturado,
seguindo o gradiente de adiabática saturada. A massa de ar, então, depois de uma certa altitude, terá
temperaturas mais elevadas que o ar circundante, tendendo a prosseguir na ascensão, com
condensações de vapor continuadas e chuvas prováveis (equilíbrio instável).

Condições de instabilidade:
 Forte intensidade de radiação solar;
 Céu com nebulosidade do tipo cúmulo convectivo;
 Gradiente superadiabatico;
 Vento entre fraco e moderado;
 Temperatura elevada.
Condições de neutralidade:
 Céu nublado;
 Não há resfriamento nem aquecimento;
 Vento forte a moderado;
 Forte mistura mecânica;
 A temperatura estabelece um perfil adiabático.

A instabilidade é aumentada por:


1. intensa radiação solar que aquece o solo e, por consequência, o ar por baixo;
2. aquecimento de uma massa de ar por baixo quando ela atravessa uma superfície quente;
3. movimento ascendente do ar associado com convergência geral;
4. levantamento forçado de ar, tal como o induzido por montanhas;
5. resfriamento radiativo do topo de nuvens.

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2.4.4 Determinação prática da Estabilidade Atmosférica:
Como visto, o grau de estabilidade atmosférica varia desde muito instável que corresponde a um elevado
grau de turbulência a muito estável com turbulência mínima. Nenhum esquema de classificação do grau de
turbulência foi até então reconhecido como superior pela comunidade científica, utilizaremos o proposto por
Pasquill, Gifford, Briggs e outros, que reduz uma variedade infinita de condições de estabilidade a seis
categorias apresentadas na tabela a seguir

Tabela 2 - Categorias de estabilidade atmosférica.

Ao conjunto de factores meteorológicos que determinam o grau de dispersão dos poluentes no ar,
associa-se o termo estabilidade atmosférica. Em função da intensidade da turbulência atmosférica, o
estado atmosférico pode ser classificado em estável, instável e neutro. Para cada uma das classes de
estabilidade pesquisadora mediram experimentalmente os coeficientes de dispersão em função da
distância do ponto de emissão.

Tabela 3 - Características das condições atmosféricas (TURNER, 1994).


Condição Condições típicas Fluxo de Estrutura térmica Natureza da
atmosférica calor turbulência
Meio dia, Céu Limpo, Ventos
Super Horizontal e vertical
Instável fraco Para cima
adiabático
Ventos ou nublado ou Próximo ao
Neutro transição Zero Adiabático seco Meio alcance
Noite Céu limpo Ventos Próximo ao
Estável fracos Para baixo isotérmico ou Vertical
Inversão

A dispersão dos poluentes emitidos por uma fonte tipo chaminé, depende das condições
meteorológicas presentes na região onde a pluma formada se dispersa. A velocidade do vento e a
intensidade da turbulência atmosférica determinam a altura que a pluma atingirá e a velocidade com que
os poluentes se dispersarão.

Normalmente, em período nocturno a atmosfera é estável. Os poluentes têm a tendência a ficarem


confinados na parte baixa da atmosfera. No caso particular de uma colina, um escoamento laminar se
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produz ao longo do relevo – Figura 2.14. Ao curso de um dia ensolarado o estado da atmosfera é instável.
A dispersão de poluentes é ligada a forte turbulência. No caso de uma colina, por exemplo, numa
atmosfera instável ocorre uma tendência de uma pluma a passar por cima da mesma (DE MELO LISBOA,
1996).

Figura 2.14 - Estabilidade da atmosfera e transposição de obstáculo

LEVANTAMENTO FORÇADO
Foi mencionado que ar estável e condicionalmente instável não subirá por sua própria flutuação; é
necessário algum outro mecanismo para forçar o movimento vertical. Tais mecanismos são convergência,
levantamento orográfico e levantamento frontal.
Quando o ar flui horizontalmente para uma certa região (convergência), resulta um movimento geral
ascendente, pois quando o ar converge ele ocupa uma área cada vez menor, necessitando aumentar a
altura da coluna de ar. Portanto, o ar dentro da coluna sobe, aumentando a instabilidade.
Levantamento orográfico ocorre quando terreno inclinado, como montanhas, age como barreira ao fluxo de
ar e força o ar a subir. Muitos dos lugares mais chuvosos do mundo estão localizados na encosta de
montanhas, do lado de onde sopra o vento. Além do levantamento para tornar o ar instável, as montanhas
ainda removem humidade do ar por outros meios. Freiando a corrente horizontal de ar, elas causam
convergência e retardam a passagem de sistemas de tempestades. Além disso, a topografia irregular das
montanhas dá lugar ao aquecimento diferencial e instabilidade de superfície. Por tudo isso, há geralmente
precipitação mais alta associada com regiões montanhosas, comparada com a das regiões baixas vizinhas.
Quando o ar passou por cima da montanha e atinge o outro lado, muito da umidade já foi perdida. Quando
o ar desce ele aquece, tornando a condensação e a precipitação ainda menos provável do outro lado da
montanha.

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Figura 2.15 – Levantamento orográfico

O levantamento frontal ocorre quando ar frio actua como um separador sobre o qual o ar mais quente e
menos denso sobe. Este fenómeno é comum no sul do Moçambique e é responsável por grande parte da
precipitação nesta parte do país. A Figuras 2.16 ilustra o levantamento de ar instável e estável. O
levantamento forçado é importante para produzir nuvens. A estabilidade do ar, contudo, determina em
grande parte o tipo de nuvens formadas e a quantidade de precipitação.

Figura 2.16 (a) - Do levantamento do ar estável usualmente resultam nuvens em camadas.

Figura 2.16 (b) - Do levantamento do ar instável resultam nuvens profundas.

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2.5 Inversão térmica e poluição do ar
As condições mais estáveis ocorrem durante uma inversão de temperatura, quando a temperatura cresce
com a altura. Como os poluentes são geralmente adicionados ao ar a partir da superfície, a inversão de
temperatura os confina às camadas mais baixas, até que a inversão se dissipe. Nevoeiro espalhado é outro
sinal de estabilidade.

As inversões de temperatura podem provocar graves problemas de contaminação do ar, não porque
representem uma fonte de contaminação, e sim porque fazem com que os contaminantes do ar se
acumulem na atmosfera inferior em lugar de se dispersarem. Muitos dos casos mais graves de
contaminação atmosférica ocorreram durante inversões de temperatura.

O movimento do ar na Troposfera pode ter sentido horizontal ou vertical. O primeiro está governado
principalmente pelos ventos predominantes. Se estes são activos ou tem força suficiente, os contaminantes
apresentam poucas possibilidades de acumular-se antes de serem dispersados. As montanhas, colinas, e
inclusive edifícios circundantes de uma grande cidade diminuem a velocidade dos ventos e os desviam,
minorando horizontal do ar.

Com o movimento horizontal limitado, a dispersão dos contaminantes passa a depender do movimento
vertical do ar. O movimento vertical do ar está governado pelo perfil de temperaturas da troposfera.
Normalmente, a temperatura diminui com a altura. O ar mais próximo da superfície terrestre é aquecido por
esta, se expande e torna-se menos denso que o ar mais frio que está acima. O ar aquecido e menos denso
ascende através do ar mais frio, que o renova. Este ar novo também se aquece em contacto com o solo,
expande e acende. Deste modo criam as correntes de ar e os contaminantes se dispersam.

Figura 2.17 - Inversão térmica

As condições meteorológicas podem causar uma inversão no esquema normal de variação da


temperatura na troposfera. O resultado é a formação de uma “camada de inversão”. O efeito
resultante é a colocação de uma massa de ar frio por baixo de outra de ar mais quente. A presença de
uma camada de inversão impede a circulação atmosférica vertical, já que o ar mais frio não pode acender
através da camada quente de inversão. Os contaminantes lançados no ar são confinados na capa inferior
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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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da inversão. Estas situações podem permanecer invariáveis durante dias, até que as condições
atmosféricas mudem e a camada de inversão se destrua.
Um problema que vem somar-se aos da contaminação pela presença de camadas de inversão consiste no
aumento da actividade fotoquímica. A camada de inversão é normalmente quente, seca e sem nuvens,
permitindo a transmissão de uma quantidade máxima de luz solar, que interage fotoquimicamente
com os contaminantes confinados até formar quantidades extremas de “smog”.

Portanto, os níveis elevados de neblina contaminante tem-se associado com casos de contaminação
atmosférica que implicam inversões de temperatura.

As inversões de temperatura se combinam com outros factores, tais como, a frequência dos ventos,
velocidade dos mesmos e irregularidades do terreno (colinas, vales, edifícios) incrementando os
problemas relacionados com a qualidade do ar em alguns lugares.
A inversão de temperatura pode formar-se por (1) subsidência de ar, (2) grande resfriamento radiactivo ou
(3) advecção de massas de ar. A inversão pode ocorrer para cima ou sobre a superfície.

Figura 2.18 – Exemplo típico da presença de Inversão térmica na atmosfera.

O resfriamento radiativo consiste na perda de calor da Terra por emissão de radiação infravermelha,
principalmente à noite, sob céu limpo. A camada de ar superficial é então resfriada por contacto com a
superfície mais fria e uma inversão superficial de temperatura se desenvolve. Após o nascer do sol, a
radiação solar é absorvida pela superfície e calor é irradiado e conduzido para o ar acima e a inversão
desaparece. No inverno, contudo, a radiação solar é mais fraca e a inversão pode permanecer por mais
tempo, inibindo a dispersão de poluentes.

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2.5.1 Exemplos típicos de gradientes térmicos verticais de temperatura:

Superadiabático: A condição superadiabática favorece

Altura
a convecção forte, instabilidade e turbulência. Esta
condição geralmente fica restrita aos primeiros 200 m da
atmosfera.

Temperatura
Neutro: Condição na qual o gradiente térmico da atmosfera está próximo ao gradiente adiabático seco,
implica na inexistência de tendência de um volume ganhar ou perder flutuação

Subadiabático: Condição na qual a temperatura diminui mais gradualmente que 0,98ºC/100m, é na


realidade levemente estável

Isotérmico: Quando a temperatura ambiente é constante com a altura, a camada é constante com a altura,
a camada é denominada isotérmica, como no caso subadiabático existe uma pequena tendência para um
volume resistir ao movimento vertical

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Inversão: Uma camada atmosférica na qual a temperatura aumenta com a altura, resiste fortemente ao
movimento vertical e tende a suprimir a turbulência. Assim sendo, é de particular interesse para a poluição
atmosférica, uma vez que esta situação limita em muito a dispersão.

A figura abaixo apresenta o conjunto dos Gradientes térmicos verticais de temperatura.

Variação Temporal e Espacial: Em geral, a estabilidade nas primeiras centenas de metros mais baixas da
atmosfera apresenta variações diurnas características, alternando entre as condições estável e instável de
acordo com a hora do dia. Por outro lado, inversões elevadas frequentemente persistem por dias ou
mesmo semanas.

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2.6 Escalas de movimento
Os fenómenos meteorológicos que actuam no processo de dispersão o fazem obedecendo a uma
sequência de escalas de movimento em função da dinâmica da atmosfera. Essas escalas são: a sinóptica,
a mesoescala e a microescala. A descrição da actuação de cada escala associada aos fenómenos
meteorológicos são:

a) Escala Sinóptica – A essa escala estão associados os movimentos do ar resultantes da circulação


geral da atmosfera, interagindo com as massas de ar, isto é, os sistemas frontais, os anticiclones
(altas pressões) e as baixas pressões na troposfera, tendo extensão horizontal que varia entre 100 a
3.000 km. Os efeitos dessa escala sobre a poluição podem ser classificados de duas formas: a
condição favorável à dispersão (baixas pressões, frentes) e a condição desfavorável à dispersão (altas
pressões estacionárias no inverno e as inversões térmicas que inibem a dispersão vertical, reduzindo
a velocidade do vento e aumentando as horas de calmaria)

Figura 2.19 - Escala sinóptica (imagem de satélite à direita e carta sinóptica de superfície)

b) Mesoescala – São os movimentos que incluem as brisas marítima e terrestre, circulação


dentro de vales e os fenómenos do efeito de ilhas de calor. Os fenómenos dessa escala que
influenciam a qualidade do ar local são variações diurnas da estabilidade atmosférica e a
topografia regional. A extensão horizontal d e s s a escala é da ordem de 100 km e na vertical é de
dezenas de metros até 1 km acima do solo. Os fenómenos que ocorrem dentro dessa camada tem
importância fundamental nos processos de transporte e dispersão sobre as emissões das fontes
poluidoras. Os principais parâmetros meteorológicos que atuam nesse processo são as inversões
térmicas de baixa altitude, a variação diária da altura da mistura e a taxa de ventilação horizontal
dentro dessa camada.

c) Microescala – Incluem os movimentos resultantes dos efeitos aerodinâmicos das edificações das
cidades e dos parques industriais, rugosidade das superfícies e a cobertura vegetal de diversos tipos
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de solo. Esses movimentos são responsáveis pelo transporte e difusão dos poluentes em um raio
horizontal inferior a 10 km e entre 100 e 500 metros na vertical acima do solo. Nesses casos, a
turbulência atmosférica, gerada por diversos pequenos obstáculos, é importante na verdadeira
trajectória das plumas emitidas pelas fontes industriais, uma vez que a direcção e a velocidade do
vento são totalmente dominadas pelas características topográficas e regionais em torno da fonte.

Figura 2.20 – Microescala


Portanto, se uma determinada fonte está instalada dentro de um pequeno vale inclinado de NE (Nordeste)
para SW (Sudoeste), o vento vai soprar ao longo dessas direcções, sendo que o sentido vai variar de uma
ou outra direcção em função dos efeitos de resfriamento e aquecimento das encostas local do vale.
Nessas circunstâncias, é extremamente importante fazer medições horárias dos parâmetros
meteorológicos mais importantes para se definir qual a direcção e velocidade mais predominante à noite e
durante o dia. Com isto se pode estabelecer estratégias de controlo de poluição do ar mais racionais e
eficientes, na tomada de decisões.

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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Trabalho Prático 2
1. Explique o balaço da radiação solar que chega no topo da atmosfera.

2. Em que faixa de latitudes pode haver incidência perpendicular de raios solares?

3. Em quais porções do espectro electromagnético concentra-se a maior parte da radiação solar?

4. Qual o papel do tempo e do clima na percepção dos fenómenos de poluição atmosférica?

5. Explique a relação entre a estabilidade atmosférica e poluição atmosférica.

6. Por que a temperatura do ar é variável, no tempo e no espaço?


7. Porque a temperatura mais alta durante o dia tende a ocorrer usualmente no começo ou meio da
tarde e não ao meio dia?
8. Qual o papel das nuvens em relação à radiação solar e à radiação terrestre?

9. Fale da influência da altitude sobre a temperatura.


10. Sob quais condições poderia a temperatura mínima do dia ser registrada no início da tarde?
11. Por que a maior densidade da atmosfera ocorre adjacente à superfície da Terra?

12. Explique porque a diferença dia-noite da temperatura é tipicamente maior numa localidade quente
e seca que numa localidade quente e húmida.

13. Alta temperatura sobre a superfície da terra provoca a diminuição da densidade do ar circundante
e consequentemente baiaxas pressões. Se a densidade permanecer constante e a temperatura
sobir, como variará a pressão do ar?

14. Quando gases na atmosfera são aquecidos a pressão do ar normalmente cai. Comparando com a
sua resposta à questão anterior, explique este aparente paradoxo.

15. Sabendo que a constante específico dum gás ( Rgas ) é distinguido da constatnte universal dos
gases (R) através do peso molecular (m) dum gás específico ( R/mgas ), ou seja,

a) Determine a constante do gás para o ar seco (desprese os gases menoritários).

b) Calcule a constante do gás para o vapor de água.

c) Qual é a densidade que o vapor de água exerce a 900Pa de pressão e 20 oC de Temperatura

16. O que causa a dinâmica dos fluidos (ou seja, movimento de ar) na atmosfera?

17. Duas cidades estão situadas na mesma latitude. Uma está localizada no litoral, com o vento
dominante vindo do mar para o continente e a outra está no centro do continente. Com base
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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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apenas nestas informações, o que você esperaria a respeito das amplitudes do ciclo anual de
temperatura dessas cidades?

18. Qual seria a diferença entre a variação diurna da temperatura num dia completamente nublado e
num dia sem nuvens e ensolarado? Explique.

19. Dado o perfil de temperaturas obtido numa certa cidade, com base em radiossondagem, identifique
(escrevendo na terceira coluna da tabela abaixo) a estabilidade das diferentes camadas (estável,
instável, neutra, isotérmica, inversão).
Altura x temperatura.
Nível do 100 150 350 950 1200 1300 1600
solo
20 15 18 16 13 13 14 11

a) Indique as camadas superadiabática e subadiabática.


20. Considere os resultados da sondagem atmosférica seguintes: 21oC, 500 m; 20oC, 600 m; 19oC,
1000 m. Se uma parcela de ar for lançada a 600 m irá descer, subir ou permanecer a 600 m?

21. Num determinado dia, a temperatura pode variar linearmente com a altura entre 28oC a 100 m
acima do solo e 26oC a 500 m acima do solo. Você considera a camada entre 100 e 500m acima do
solo estável ou instável? Justifique a sua resposta.

22. Dados os quatro perfis de temperatura abaixo, identifique qual o que seria mais desfavorável para
qualidade do ar, supondo uma região urbana no mês Julho, e qual o perfil que seria mais favorável.

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CAPÍTULO II – METEOROLOGIA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
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Bibliogafia
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versão, Montereal.
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7. Stern, A.C. (1976), “Air Pollution” Vol. 1: Air pollutants, their transformation and transport. Academic
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