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TECNOLOGIA EM GERAÇÃO EÓLICA

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TECNOLOGIA EM GERAÇÃO EÓLICA

NATAL - RN
2019

CENTRO DE TECNOLOGIAS DO GÁS E ENERGIAS RENOVÁVEIS – CTGAS-ER 2


 2019. CTGAS-ER
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada à fonte.

Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis – CTGAS-ER


Diretor ISI-ER
Rodrigo Diniz de Mello

CENTRO DE TECNOLOGIAS DO GÁS E ENERGIAS RENOVÁVEIS – CTGAS -ER


AV: Cap. Mor Gouveia, 2770 – Lagoa Nova
CEP: 59063-400 – Natal – RN
Telefone: (84) 3204.8100
Fax: (84) 3204.8143
E-mail: ctgas@ctgas-er.com.br
Site: www.ctgas.com.br
Sumário
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1 – ENERGIA EÓLICA NO MUNDO ................................................................. 6
CAPÍTULO 2 – ENERGIA EÓLICA NO BRASIL ................................................................ 10
CAPÍTULO 3 – METEOROLOGIA EÓLICA: POTENCIAL EÓLICO ................................... 33
CAPÍTULO 4 – AERODINÂMICA APLICADA ÀS TURBINAS EÓLICAS ........................... 56
CAPÍTULO 5 – TECNOLOGIA DOS AEROGERADORES................................................. 64
CAPÍTULO 6 – ASPECTOS DE HABILITAÇÃO TÉCNICA DE PROJETOS ...................... 96
CAPÍTULO 7 – IMPACTOS AMBIENTAIS ....................................................................... 100
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 106
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INTRODUÇÃO

O objetivo do presente curso é apresentar os conceitos fundamentais de geração


eólica. A presente apostila tem como objetivo complementar as informações apresenta-
das durante as aulas, informações mais detalhadas poderão ser encontradas nas refe-
rências apresentadas no final da mesma. Caso haja necessidade de referenciar alguma
informação apresentada nesta apostila, fazer referência à fonte original.
No primeiro capítulo é apresentada a situação da energia eólica no mundo, serão
abordadas informações referentes à capacidade eólica instalada no mundo; dispersão
mundial dos 10 países com maior capacidade instalada do Top 10 e crescimento espe-
rado.
O segundo capitulo mostra informações referentes ao estado atual e perspectivas
da energia eólica no Brasil, serão apresentadas características da nova oferta, capaci-
dade eólica brasileira, atlas eólico brasileiro, situação da energia eólica no Brasil; com-
plementaridade sazonal eólica-hídrica, fases do Brasil: PROINFA e Leilões, e por último
as perspectivas do setor eólico Brasileiro.
O terceiro capítulo intitulado "Meteorologia Eólica: Potencial Eólico" apresenta con-
ceitos acerca de "o que o vento e de onde ele vem", Força de Coriolis, Forças fundamen-
tais que atuam na atmosfera, vento geostrófico, vento gradiente, vento na superfície e
camada limite, comprimento de rugosidade, modelagem atmosférica e bases de dados.
No quarto capítulo são apresentadas informações referentes à Aerodinâmica apli-
cada às Turbinas Eólicas como: forças aerodinâmicas e efeito esteira.
O quinto capítulo mostra informações acerca de Tecnologia dos Aerogeradores,
evolução histórica, estimativa de instalações vs. tamanho, Evolução do tamanho dos ae-
rogeradores, Número de pás e Tipos de geradores.
No capítulo seis são apresentadas informações sucintas referentes aos Aspectos
de habilitação técnica de projetos.
Por último, no capítulo sete são apresentados os impactos ambientais e uma breve
referência ao processo de licenciamento ambiental de um empreendimento eólico.

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CAPÍTULO 1 – ENERGIA EÓLICA NO MUNDO E NO BRASIL

1.1 Introdução

1.1.1 Definição
É a conversão de energia cinética contida no vento em outra forma de energia como
energia elétrica. Assim como a maioria das fontes renováveis de energia, exceto a geo-
térmica, a energia eólica provém da ação da radiação solar combinada juntamente
com a rotação da Terra.

1.1.2 Histórico
A energia eólica vem sendo utilizada pela humanidade em diversas aplicações há mais de
3000 anos. O desenvolvimento da navegação e o período das grandes descobertas de
novos continentes foram propiciados pelo emprego da energia dos ventos (Fig. 1.1a). As
primeiras aplicações da energia eólica foram os moinhos de vento utilizados em atividades
agrícolas para moagem de grãos (Fig. 1.1b). Depois surgiram outras aplicações como cata-
ventos para bombeamento de água (Fig. 1.1c).

Figura 1.1- Aproveitamento da energia eólica a) Caravela b) Moi nho e c) Cata-vento

Mas a aplicação que cada dia vem se tornando mais importante é o aproveitamento da
energia eólica como forma alternativa de energia para produção de eletricidade através de
aerogeradores (Fig. 1.2).

Figura 1.2 - Transformação de energia eólica em eletricidade a) Parque eólico [5] b) Linha de trans-
missão e c) Energia Elétrica

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1.2 Capacidade Eólica Instalada no mundo.

.
Tabela 1.1 - Distribuição regional da capacidade eólica instalada no mundo em MW até o final de 2017

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A tabela 1.1 mostra como se apresentava a distribuição regional da capacidade eólica ins-
talada no mundo até final de 2017. A capacidade instalada é dinâmica e sua taxa de cres-
cimento anual é uma variável que depende de vários fatores, tais como decisões de go-
verno, foco na diversificação da matriz energética, política de incentivo fiscal para implan-
tação de energias renováveis e desenvolvimento da economia do país.

Nessa tabela é possível observar que a capacidade instalada no mundo até o final de 2017
é de pouco mais de 539 MW e que o continente que possui a maior capacidade instalada
é a Ásia, seguido pelo continente Europeu e a América do Norte. Observa-se também que
o continente Africano junto ao Oriente Médio possui a menor capacidade instalada a nível
mundial.

Figura 1.1 – Top 10 da capacidade instalada mundial até o ano de 2017.

Na figura 1.1 podemos visualizar os 10 países com a maior capacidade instalada mundial,
nele é possível identificar que a China é o país com a maior capacidade eólica instalada
seguida de países como os Estados Unidos e a Alemanha. Outra informação importante
é a presença do Brasil entre os 10 países de maior capacidade instalada mundial.

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Figura 1.2 – Futuro da capacidade eólica instalada no mundo em GW até 2021.

Já na figura 1.2 podemos visualizar o gráfico com a projeção até 2021 do crescimento
dessa capacidade. Em 2016 estávamos com 486,8 GW, em 2019 com 671,7 GW e até o
final de 2021 estaremos com 817 GW de capacidade instalada só em geração de energia
elétrica a partir da energia eólica no mundo.

OBS: Para dados atualizados, veja o site da Abeeólica: http://abeeolica.org.br/

Em nossa Biblioteca no Ambiente Virtual de Aprendizagem também encontrará dados


atuais.

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CAPÍTULO 2 – ENERGIA EÓLICA NO BRASIL

O Brasil, tem como sua principal fonte energética a energia Hidroelétrica, que apesar de
possuir grande capacidade instalada, vem apresentando escassez de novos projetos
devido às dificuldades para licenciamento ambiental. As novas usinas a fio d'água tam-
bém afetam a volatilidade do SIN (Sistema Nacional Interligado), pois à redução da ca-
pacidade de regularização plurianual do sistema de reservatórios faz com que variações
semanais na afluência tenham um efeito amplificado frente ao armazenamento.

Outra fonte energética explorada no país é a partir da energia térmica, as Termelétrica,


mas essa fonte apresenta custo variável unitário elevado, impacta a segurança do SIN.
Seu despacho ocorre somente para hidrologias críticas, em montantes e antecedência
que não são suficientes para recompor os reservatórios.

Já com relação a energia eólica, o primeiro atlas eólico do Brasil realizado em 2001
estimou um potencial eólico Brasileiro de: 143.000 MW (à 50 metros acima do nível da
superfície) (Figuras 2.1 e 2.2). Posteriormente, medições realizadas em 2008 e 2009 a
alturas de 80- 100 metros indicaram um potencial consideravelmente maior, em torno
de 350 GW. As melhores áreas para a energia eólica se encontram ao longo da costa
especialmente nos estados do Nordeste (RN, CE, MA, PB) e em certas áreas elevadas
no interior do país (BA, RN, CE, PE e PI) (Fig. 2.3). O Brasil possui também um bom
potencial na região sul (RS, SC).

2.1 Complementaridade sazonal Eólica - Hídrica

Um fato importante da energia eólica é a complementaridade sazonal desta fonte com


a hídrica. Na figura 2.5 é possível observar que os meses de maior produção eólica
(maior vento) são os meses nos quais os rios se encontram com a menor vazão, ou
seja, nos meses de menor capacidade de produção de energia hidroelétrica. Tal fato é
conhecido como Complementaridade sazonal Eólica - Hídrica.

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Figura 2.1 - Atlas eólico do Brasil indicando a potência de fluxo anual em W/m2 a 50 metros
acima do nível da superfície.

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Figura 2.2 - Atlas eólico do Brasil indicando a velocidade média anual do vento a 50 metros
acima do nível da superfície.

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Figura 2.3 - Atlas eólico do Nordeste indicando a velocidade média anual do vento a 50 metros acima
do nível da superfície.

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Figura 2.4 - Parques eólicos instalados no Brasil a) Até 2001, b) Até outubro de 2008.

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SAZONALIDADE DAS USINAS EÓLICAS DO PROINFA
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6.000 350.000

Eólicas - NE

PROINFA - Eólicas do NE (MWh)


300.000
5.000

250.000
4.000
Vazão (m3/s)

200.000

3.000

150.000

2.000
100.000

1.000
50.000
Vazão do Rio São Francisco

0 0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Figura 2.5 - Complementaridade sazonal Eólica - Hídrica das usinas eólicas e dos reservató-
rios do Nordeste

2.2 Fases do Brasil

Após a crise energética de 2001, ficou evidenciada a necessidade de diversificar a matriz


energética do Brasil, assim em 2002 foi lançado o Programa de Incentivo às Fontes Al-
ternativas de Energia Elétrica - PROINFA.

2.2.1 O PROINFA

O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica - PROINFA foi lan-


çado em 2002 com os seguintes objetivos:

Objetivos estratégicos:

• Diversificação da matriz energética brasileira, aumentando a segurança


no abastecimento;
• Valorização das características e potencialidades regionais e locais, com criação de
empregos, capacitação e formação de mão-de-obra;
• Redução de emissão de gases de efeito estufa.

Objetivo específico:

• Implantar 3300 MW de capacidade instalada, até dezembro de 2008, distribuída pelas


fontes eólica, PCH e biomassa.

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Figura 2.6 - Projetos do PROINFA instalados até agosto de 2009

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Figura 2.7 - Projetos do PROINFA que se encontravam em instalação até agosto de 2009

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Para o caso especifico dos projetos eólicos contratados no PROINFA, o resultado foi que
a maioria dos projetos ultrapassou o prazo estabelecido para entrar em operação (2008).
Devido a esse fato a Lei no 11.94312009, prorrogou o prazo para entrar em operação
para 30 de dezembro de 2010.

O prazo para o PROINFA foi prorrogado mais uma vez pelo governo mediante na
Medida Provisória 51712010, para que se tornasse possível obter toda a capacidade eó-
lica contratada (534 MW) e concluído o projeto do programa.

2.3 Situação da energia eólica no Brasil

A figura 2.4a mostra os parques eólicos instalados no Brasil até 2001. Em 2001 o Brasil tinha
uma capacidade instalada de 22,6 MW, a maior parte dos parques estavam no estado do
Ceará. Já com o PROINFA em outubro de 2008 o Brasil possuía uma capacidade instalada
de 272,45 MW, o que representa um incremento de mais de 1000% (Fig. 2.4b). Em outubro
de 2008 mais da metade da capacidade instalada se encontrava na região sul. Já no final de
2008 a capacidade instalada no Brasil atingiu 341 MW, 606 MW em 2009 e 931 MW em
2010. No dia 23 de maio de 2011, com a entrada em operação do parque eólico Elebrás
Cidreira 1 (RS, 70 MW), a capacidade de energia instalada no Brasil atingiu 1.000 MW um
marco para o país que hoje aumenta em média mais de 1.000 MW por ano a sua capacidade
instalada em energia eólica.

Após o PROINFA foram lançados os leilões para energias alternativas. Em 2007 aconteceu
o primeiro leilão especifico para fontes alternativas (PCHs, Biomassa e Eólica), porém devido
ao valor baixo oferecido todas as eólicas desistiram. Em 2009, e 2010 aconteceram mais
três leilões que envolveram energia eólica, em 2011 foram mais três leilões e desde então
praticamente todos os anos são realizados leilões para ampliar a capacidade instalada e a
atender a demanda energética do país.

O objetivo dos leilões é de atender o crescimento da demanda de energia elétrica através da


contratação de novos empreendimentos de geração, cada leilão possui um tempo específico
de entrega, podendo esse tempo ser de 3, 4, 5, 6 anos ou mais de acordo com o tipo de
empreendimento e objetivo do leilão. A figura 2.8 mostra dois tipos de leilões em função do
prazo para entrega da energia.

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• A-5: energia para entrega daqui a cinco anos;


• A-3: energia para entrega daqui a três anos.

A-5
A-3

t t+1 t+2 t+3 t+4 t+5 t+6 t+7 t+8 t+9 t+10
Figura 2.8-Tipos de leilões em função do prazo para entrega de energia [19]

Figura 2.9-Evolução da capacidade instalada do setor eólico - ABEEólica em dez/17

Na figura 2.9 podemos visualizar a evolução da capacidade instalada no Brasil de 2005 até
2023, segundo os dados fornecidos pela Associação Brasileira de Energia Eólica(ABEEó-
lica) em 2023 o país apresentará uma capacidade instalada de pouco mais 17.876 MW.

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CAPÍTULO 3 – METEOROLOGIA EÓLICA: POTENCIAL EÓLICO

3.1 Introdução

Conforme apresentado no capítulo 1, a apl icação que cada dia vem se tornando mais
importante é o aproveitamento da energia eólica como forma alternativa de energia para
produção de eletricidade através de aerogeradores. Para o investidor uma maior produ-
ção significa maior lucro, assim é necessário instalar o parque em locais com potencial
eólico significativo, mas na figura 3.1 podemos observar o comportamento do vento
durante um determinado mês (velocidade média em função do tempo). Nessa figura é
possível identificar que o a velocidade média do vento muda em função do dia e do
horário do dia. Se observarmos o com portamento do vento em função dos meses,
anos e décadas veremos que a velocidade média também muda. Então podemos concluir
que o vento apresenta um comportamento difícil de predizer.
O conhecimento da meteorologia aplicada a energia eólica é importante devido a que,
tal conhecimento, nos permitirá entender quais são os fenômenos físicos envolvidos na
formação do vento.

Figura 3.1- Variação da velocidade média do vento (horária e diária) durante um determi n ado
mês

3.2 O que é o vento e de onde ele vem

Vento significa atmosfera em movimento; os gases na atmosfera se aquecem com


a radiação solar e se deslocam devido à transformação da energia térmica em
energia cinética. Embora o ar possa mover-se na direção vertical, a denomi nação
vento é aplicada apenas ao movimento horizontal, paralelo à superfície do planeta.
A componente vertical é tratada como turbulência.
As regiões próximas ao Equador estão sujeitas a maior irradiação solar e as próximas
aos polos estão sujeitas a pouca irradiação (Fig. 3.2). Para que os trópicos não se tornem
cada vez mais quentes e os polos cada vez mais frios, deve haver uma transferência
continua de energia (Fig. 3.2).

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Figura 3.2- Visão simplificada da circulação em grande escala das regiões frias para as quen-
tes e vice-versa.

Dessa forma surgem os movimentos para promover uma redistribuição de calor , ou


seja, transporte de ar quente para os polos e de ar frio para o Equador (Fig. 3.3). Cada
ti po de superfície (terra ou oceano) e de cobertura vegetal (floresta ou deserto) reage
de forma diferente à absorção da radiação. Esse transporte de massa e calor sofre
influência da rotação da terra através da força de Coriolis (Fig. 3.4).

Figura 3.3 - Movimentos para promover a redistribuição de calor entre os polos e o Equador.

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Para um observador externo Para um observador sobre o alvo

Figura 3.4 - Efeito Coriolis a) Para um observador externo b) Para um observador sobre o alvo

Observando a figura 3.4 podemos observar o efeito da rotação da terra no movimento


de uma partícula de ar para um observador externo (Fig 3.4a) que observa a partícula
de ar se desloca em linha reta, porém é possível que o alvo (retângulo vermelho se
desloca). No caso do observador sobre o alvo a partícula de vento descreve uma
trajetória cu rva devido a influência do movimento de rotação da terra.

3.3 Forças fundamentais que atuam na atmosfera


As forças fundamentais envolvidas na formação do vento que atuam na atmosfera são:
• Gravitacional: Força de atração exercida pela terra sobre um corpo de massa
“m” sobre a superfície. Orientada para o centro da Terra.
• Centrifuga: Surge exclusivamente devido a rotação da Terra para equilibrar o
sistema.
• Coriolis: Ocorre quando um corpo se movimenta em relação a um referencial
não inercial (Terra em rotação).
• Gradiente de pressão: Existe devido a diferença de pressão. Orientada das
altas pressões para as baixas pressões.
• Fricção: Devido a "rugosidade" da Terra. Atua no sentido de frear os mo-
vimentos atmosféricos próximos a superfície da terra.

3.4 Tipos de vento


As forças apresentadas anteriormente atuam na formação de diferentes tipos de ventos,
entre os principais temos:

3.4.1 Vento Geostrófico

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O vento geostrófico é um vento não acelerado, que sopra ao longo de trajetórias


retilíneas, que resulta de um equilíbrio entre a força de gradiente de pressão (hori-
zontal) e a força de Coriolis. Este equilíbrio só é aproximadamente possível em
altitudes nas quais o efeito do atrito seja omissível (isto é, acima de poucos quilô-
metros) (Fig. 3.5).

Figura 3.5 - Formação do vento Geostrófico.

3.4.2 Vento gradiente


O Vento gradiente é o vento geostrófico modificado pelo gradiente de pressão entre
uma zona de alta e baixa pressão, ele descreve uma trajetória curva conforme obser-
vado na figura 3.6.

Figura 3.6 - Formação do vento gradiente

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3.4.3 Modelo conceituai de circulação global atmosférica

Os movimentos atmosféricos e os sistemas meteorológicos aos quais estão relacionados


possuem diferentes padrões de circulação, com diferentes dimensões espaciais e tempos
de vida, de maneira que o seu estudo, na Meteorologia, é realizado através da subdivisão
em escalas. Os movimentos atmosféricos são enquadrados nas segui ntes escalas de
tempo e espaço:
• Microescala: dimensões de menos de 1 km e tempos de vida de segundos a mi nutos;
• Mesoescala: dimensões de 1 a 100 km e tempos de vida de minutos a dias;
• Escala sinótica: dimensões de 100-5000 km e tempos de vida de dias a semana;
• Escala planetária: dimensões de 1000-40000 km e duração de semanas a anos.

Os movimentos de escala planetária são primeiramente causados pelo aquecimento


diferencial da superfície terrestre, em que a irradiação solar incide com maior intensidade
nas regiões próximas ao Equador. Os movimentos que surgem a partir de então agem
para promover uma redistribuição de calor (transporte de ar quente para os polos e ar
frio para o Equador, diminuindo as desigualdades térmicas). Além disso deve-se ter em
mente, que devido ao movimento de rotação da Terra, a circulação atmosférica planetária
é influenciada pela conservação do momento do sistema Terra-Atmosfera. A figura 3.7
apresenta um modelo conceitual de circulação atmosférica planetária chamado de modelo
de três células. Neste modelo, a circulação em cada hemisfério é descrita por três células
meridionais de circulação, cada qual apresentando direções de vento predominantes à
superfície. Apesar de algumas limitações, este modelo é considerado o melhor modelo
simples da circu1ação global atmosférica.

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Figura 3.7 -Modelo conceitual de circulação global atmosférica.

Ao aquecer-se próximo à superfície, o ar das vizinhanças do Equador torna-se mais


leve, ascende, resfria-se, e sua umidade condensa e precipita em forma de chuva.
Chegando ao topo da troposfera terrestre, o ar, agora frio e seco, desloca -se na
direção de ambos os polos forçado pelas parcelas de ar que continuamente ascendem
a parti r da superfície. Nas latitudes entre 20º e 35º Norte e Sul, o ar descende até a
superfície e parte do ar descendente dirige-se para o Equador em baixos níveis,
fechando, assim, células de circulação chamadas células de Hadley. Nas células de
Hadley, as correntes de ar dirigidas para o Equador na superfície, são refletidas pela
força de Coriolis. Assim, os ventos resultantes possuem uma componente de leste
para oeste e uma componente dos trópicos para o Equador.
Esses ventos predominantes em baixos níveis, na região tropical, são chamados de
alísios. Nas regiões extratropicais, entre 30 e 60º de latitude, a circulação atmosférica
resulta em outra célula meridional de circulação em cada hemisfério: a célula de
Ferrel. Nesta célula, parte do ar descendente entre 20º e 35º de latitude escoa em
direção aos polos nas proximidades da superfície, até ser forçado a subir e encontrar
o ar mais frio e denso da região polar. Essa ascensão ocorre em torno de 60º de
latitude, acompanhada de condensação de umidade , precipitação e divergência do ar
em altos níveis.
Os ventos próximos à superfície são predominantemente de oeste para leste em
consequência da ação da força de Coriolis. Existem ainda as células polares, em que
parcelas do ar, após ascender nas latitudes próximas a 60º, deslocam -se para os
polos, descendem exatamente sobre eles e retornam em direção ao Equador, sendo
que o vento em superfície, defletido pela força de Coriolis, é aproximadamente de leste

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para oeste. Este vento polar, frio e seco, eventualmente encontra os ventos de oeste
mais quentes das latitudes médias , constituindo uma região chamada frente polar, onde
em geral ocorrem tempestades.
A ascensão de ar junto ao Equador ocasiona alta precipitação na região que se caracteriza
pela presença das florestas tropicais do planeta. Essa zona de convergência de ar úmido
em superfície e formação de nuvens convectivas é chamada de Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), e constitui-se uma região de baixas pressões (Baixa Equatorial). A
descendência de ar seco nos cinturões de 30° de latitude de ambos os hemisférios cons-
titui as regiões de altas pressões (Altas Subtropicais) e coincidem com a ocorrência de
desertos. A convergência de ar em baixos níveis na frente polar constitui as Baixas Sub-
polares, onde ocorrem movimentos de ascensão de ar e formação de nuvens e precipita-
ção. Finalmente, o ar frio e seco descendente sobre os polos resulta nas Altas Polares.
Vale enfatizar que os movimentos e células descritos constituem apenas um modelo sim-
plificado da circulação global atmosférica e correspondem às condições médias aproxi-
madamente observadas ao longo do ano e em torno do globo terrestre, indicando os ven-
tos de grande escala predominantes. Na realidade, as circulações atmosféricas e regiões
de altas e baixas pressões se modificam ao longo do ano (com a modificação da incidência
de radiação solar) e não são zonalmente uniformes como na Fig. 3.7.
Essas diferenças ao longo da direção zonal se devem em grande parte à distribuição de
continentes e oceanos, e às suas diferentes propriedades térmicas. A ZCIT se desloca
para latitudes a sul do Equador durante o verão do Hemisfério Sul, e para latitudes a norte
do Equador durante o inverno no Hemisfério Sul, deslocando também os ventos alísios
que passam sobre a região Nordeste do Brasil.

3.4.4 Partes de um aerogerador

Embora este capítulo trate da meteorologia serão mostradas as principais partes de um


aerogerador já que esta informação será necessária para os itens segui ntes. Na figu ra
3.8 são mostradas as principais partes de um aerogerador e são:
a) Fundação a qual suporta o peso do aerogerador para evitar que a mesma afunde no solo
e atua como contrapeso;
b) Torre;
c) Nacele a qual comporta o gerador e a caixa multiplicadora;
d) Rotor composto pelas pás.

Esses componentes serão apresentados com maior detalhe no capítulo 5.

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Figura 3.8 - Principais partes e nomenclatura de um aerogerador

3.4.5 Vento na superfície e camada limite

O vento na superfície é o vento afetado pelas condições da superfície da terra, sejam rugo-
sidade, temperatura, umidade, orografia, entre outros. Na figura 3.9 podemos observar
como o vento é afetado pela superfície. O vento que provém do mar é geralmente um vento
com fluxo laminar devido à baixa rugosidade da água, podemos observar que o perfil do
vento só é afetado na parte inferior devido à fricção com a água. Quando o vento atinge o
litoral podemos observar que o perfil vertical do mesmo muda devido à mudança da rugo-
sidade da superfície. Então vemos o surgimento de uma camada limite.
A camada limite é uma linha imaginária que divide dois tipos de vento, nesse caso o vento
laminar acima desta linha e vento turbulento abaixo da mesma. Quando o vento atinge uma
região de floresta o perfil vertical do vento muda novamente devido à mudança da rugosi-
dade e observamos a formação de outra camada limite. Quando o vento passa da região

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de floresta para uma planície sem vegetação muda novamente o perfil do mesmo e se
forma outra camada limite.

Perfil do vento Camada limite

Figura 3.9 - Vento na superfície e formação da camada limite

Figura 3.10 - Determinação da altura do aerogerador em função da camada limite

O conhecimento da camada limite é muito importante para a energia eólica já que é impor-
tante instalar um aerogerador da tal maneira que a área varrida pelo rotor fique na região
do vento laminar evitando assim turbulências (Figuras 3.9 e 3.10). As turbulências além de
diminuir a potência do vento geram esforços excessivos nos componentes de um aeroge-
rador já a velocidade e a direção do vento mudam constantemente.

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

3.4.6 Comprimento de rugosidade

De maneira sucinta o comprimento de Rugosidade (Z0) pode ser definido como a altura da
superfície onde a velocidade do vento é nula (Fig. 3.11). A velocidade do vento é influenciada
pela rugosidade do terreno e existe uma determinada altura a partir da superfície do solo
para cada tipo de terreno até a qual a velocidade do vento é nula. Entre maior for à rugosi-
dade do terreno maior será o comprimento de rugosidade.

Figura 3.11 - Determinação da altura do aerogerador em função da camada limite.

O conhecimento do valor comprimento de rugosidade de um determinado terreno permite


estimar a velocidade a uma determinada altura conhecendo uma velocidade medida a uma
altura diferente. Para esse cálculo é necessário utilizar a equação 3.1 apresentada abaixo:

Onde:
V = Velocidade do vento a determinar (m/s)
Vref = velocidade do vento medida (m/s)
Z = Altura da velocidade a determinar (m)
Zref = Altura de medição do vento (m)

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Z0 = Comprimento de rugosidade (m)

Na tabela 3.1 são mostrados valores do comprimento de rugosidade (z0) para


diferentes tipos de terreno, na mesma é possível observar que entre maior for a
rugosidade do terreno o valor de z0 é maior. Na figura 3.12 são mostrados perfis
do vento para três valores diferentes de z0, na mesma é possível observar que o
perfil vertical do vento sofre maior perturbação com valores maiores de z0.

Tabela 3.1 - Valores do comprimento de rugosidade (z 0) em função da classe de terreno.

Figura 3.12 - Perfis verticais de vento para diferentes comprimentos de rugosidade

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

Exemplo 3. 1

Estime a velocidade do vento a 108 m para uma região de área cultivada partindo de
médias de velocidade do vento de uma torre de 10 m = 4,9 m/s.

Solução:
Temos que:
V = Velocidade do vento a determinar (m/s)
Vref = 4,9 m/s
Z = 108 m
Zref = 10 m
Z0 = 0,1 m (Tabela 3.1)

Aplicando a equação 3.1 temos

Resposta: A velocidade para 108 m de altura acima da superfície será 7,43 m/s.
IMPORTANTE!!!
Para obter o valor correto da velocidade do vento, utilizando calculadoras, o cálculo do loga-
ritmo utilizado na fórmula é o “ln” e não o “log”.

3.5 Lei da Potência


Outra forma de estimar a velocidade do vento conhecendo a uma determinada velo-
cidade a certa altura e as condições do terreno (rugosidade) é através de Lei da
Potência dada por:

Onde:

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V = Velocidade do vento a determinar (m/s)


Vref = velocidade do vento medida (m/s)
Z = A1tura da velocidade a determinar (m)
Zref = A1tura de medição do vento (m)
 = Constante em função da estabilidade atmosférica e rugosidade (adimensional)

O valor de alfa pode ser determinado aplicando o logaritmo natural na equação 3.2:

Contudo, o valor de α pode s e r encontrado tabelado em função da rugosidade do


terreno (Tab. 3.2)

Tabela 3.2 - Valor de α em função do ambiente.

Classe Ambiente α
0 Águas abertas, lagos e oceanos 0,1
1 Planícies de vegetação, desertos, terreno 0,15
2 planocultivada , fazendas
Área 0,2
3 Vilas e florestas baixas 0,3

3.6 Potência eólica disponível

Considere um cilindro no espaço de seção transversal de área A onde o vento sopra


com velocidade v ao longo da direção longitudinal. É possível demonstrar que a potência
eólica, em Watts, disponível em uma seção circular é expressa pela Equação 3.4.
1
𝑃 = 2 𝜌𝐴𝑉 3 (3.4)

Onde:

P = Potência disponível no vento (W)


𝜌 = Densidad e do vento (kg/m3), aproximadamente 1,25 kg/m 3
A = Área do rotor (m2 )
v = Velocidade do vento (m/s)

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P = 0,625v 3 (3.5)

Analisando a equação 3.5 podemos observar que a potência do vento é proporcional ao


cubo da velocidade do vento.

3.7 Potência eólica utilizável

Para um aerogerador ser 100% eficiente precisaria provocar uma paragem total na
massa de ar em deslocação que ocupa a área A1 mostrada na figu ra 3.13, mas nesse
caso em vez de pás seria necessária uma massa sólida cobrindo 100% da área de
passagem e o rotor não rodaria e não converteria a energia cinética em mecânica.

Foi um físico alemão que em 1919 concluiu que nenhuma turbina eólica pode converter
mais do que 16/27 (59,3%) da energia cinética do vento em energia mecânica no rotor.
Até aos dias de hoje isto é conhecido pelo limite de Betz ou a Lei de Betz. Este limite nada
tem a ver com ineficiências no gerador, mas sim na própria natureza das turbinas eólicas.

Na figura 3.14 é mostrada a potência disponível no vento por metro quadrado e da potên-
cia utilizável por metro quadrado (considerando o Limite de Betz) utilizando a equação 3.5.

Figura 3.13 - Mudança da velocidade do vento após a passagem pelo aerogerador.

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Figura 3.14 - Potência disponível no vento e potência utilizável do vento em função da veloci-
dade do vento.

3.8 Distribuição de frequência

A forma mais utilizada para apresentar o comportamento da velocidade do vento


durante um ano é distribuição de frequência (Fig. 3.15). Neste gráfico são mostradas
as horas de vento por ano em função de cada velocidade de vento. Então analisando
o gráfico da figura 3.15 podemos observar que durante este ano foram registradas
aproximadamente 320 horas com uma velocidade média de 1 m/s e 570 horas com
uma velocidade média de 2 m/s. É im portante ressa1tar que para o cálculo desse
gráfico são consideradas 8760 horas para um ano.

Figura 3.15 - Di stribuição de frequência das velocidades de vento médias durante um ano.

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3.9 Distribuição de Weibull

A Distribuição Estatística de Weibull caracteriza-se por dois parâm etros: um de escala


(C, em m/s) e outro de forma (k, adimensional). A frequência de ocorrência de uma
velocidade u é representada matematicamente por:

(4.7)

Na figura 3.16 é apresentada a distribuição de Weibull para diferentes fatores de forma.


No caso do fator de forma ser igual a 2, deriva-se a Distribuição de Rayleigh, carac-
terizada apenas pelo fator de escala (C, em m/s), que representa, neste caso, a velo-
cidade média do vento:

(4.8)

Figura 3.16 - Distr ibuições de Weibull e Rayleigh

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Por ser mais geral, a Distribuição de Weibull apresenta melhor aderência às estatísticas
de velocidade do vento, uma vez que o fator de forma pode assumir valores bastante
superiores a 2.

3.10 Curva de potência de um aerogerador

Na figura 3.17 é mostrada a curva de potência para um aerogerador. Observando a


cu rva de potência do aerogerador podemos observar três parâmetros importantes de
um aerogerador:
a) Velocidade de partida: é a velocidade em que o aerogerador começa a
gerar potência (2 m/s no caso da figura 3.17)
b) Velocidade da potência nominal: é a velocidade na qual o aerogerador
atinge a potência nominal (13 m/s no caso da figura 3.17)
c) Velocidade de parada: é a velocidade que o aerogerador deixa de gerar
para evitar danos estruturais resultantes das velocidades elevadas de vento
(25 m/s no caso da figura 3.17).

Figura 3.17 - Curva de potência de um aerogerador E82 da Wobben com potência nominal de
2 MW.

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A curva de potência mostra a potência gerada pelo aerogerador a diferentes velocida-


des. Esta curva está disponível geral mente como tabela (tabela 3.3) e ou gráfico (Fig.
3.17).

3.11 Cálculo da potência anual gerada

Para poder calcular a produção de um determi nado aerogerador turbina em um lugar


específico é necessário conhecer duas coisas: a curva de potência do aerogerador e
como se comporta o vento neste local.

A informação acerca do vento deve ser bastante detalhada. Não é suficiente conhecer
a velocidade média anual, também é necessário conhecer a distribuição de frequên-
cias: quantas horas por ano a velocidade do vento será 1, 2, 3, 4, entre outros metros
por segundo. Além da velocidade do vento, também é necessário conhecer a altura de
cubo.

Se esta informação está disponível, é bastante simples realizar o cálculo. Multiplica-se a


potência para cada velocidade do vento vezes a quantidade de horas que este vento
ocorre. As distribuições da frequência de vento podem estar disponíveis tanto em
horas por ano como em porcentagem de tempo. No segundo caso, se multiplica a per-
centagem vezes o número de horas em um ano: 8.760.

A tabela 3.4 mostra o cálculo da potência gerada por um aerogerador uti1izando os dados
de distribuição de frequências mostrada na figura 3.15 e os valores da curva da potência
de um aerogerador da tabela 3.3

Na tabela 3.4 observa-se que o aerogerador nessas condições de vento gerará 6,3
GWh/ano. Na figura 3.18 são mostradas as curvas da potência disponível no vento, po-
tência utilizável do vento e a potência gerada por um determinado aerogerador em função
da velocidade do vento.

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Tabela 3.3 – Valores da curva da potência de um aerogerador

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Tabela 3.4 – Cálculo da potência anual gerada por um aerogerador

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Figura 3.18 – Potência disponível no vento, potência utilizável do vento e a potência gerada por um
determinado aerogerador em função da velocidade do vento.

3.12 Modelagem atmosférica


Existem dois tipos principais de modelos para tentar prever o comportamento atmosférico
os modelos globais e os modelos de mesoescala.

3.12.1 Modelo global


Nos modelos globais as equações de escoamento são modeladas utilizando u m sistema
global de coordenadas esféricas.

Este modelo requer um trabalho computacional muito grande. O Modelo do CPTEC uti-
liza 2,24 milhões de elementos. Embora seja muito pesado este modelo permite modelar
o comportamento em escala global (Fig. 3.19)

3.12.2 Modelo de mesoescala ou regional


Os modelos de mesoescala ou regional são modelos de área limitada. Representam pro-
cessos meteorológicos de escala regional ou local (2 a 2000 km). São modelos que re-
querem um esforço computacional bem menor aos de escala global, porém precisam ser
alimentados de dados de outros modelos. (Fig. 3.20)

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Figura 3.19 - Modelo de escala global

Figura 3.20 - Modelo de mesoescala ou regional

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3.13 Bases de dados


Existem três tipos principais de bases de dados de vento.

3.13.1 Medidas locais


São importantes para prever com precisão velocidade média do vento. Precisam de
uma instrumentação para a aquisição de dados deve ser robusta (dados confiáveis
por períodos suficientemente longos). O posicionamento do anemômetro é fu ndamental
e recomenda -se que ele seja posicionado no mesmo local e altura do rotor da turbi na
a ser instalada.

3.13.2 Redes de coleta de dados


Quando não existem de dados locais o potencial eólico pode ser estimado a parti r
de dados coletados em regiões próximas com características climáticas e ambientais
similares. Essas redes estão compostas por institutos de pesquisa, instituições de en-
sino, e outras organizações que oferecem serviços públicos (aeroportos , por exemplo).
Esses dados podem ser utilizados não só para uso direto no levantamento de recursos
eólicos disponíveis para um local ou região como também para a validação de estima-
ti vas fornecidas por modelos numéricos de previsão de vento.

3.13.3 Reanálises

Disponibilizam dados climáticos em escala global gerados em projetos de reanálise de


dados meteorológicos. Contemplam um conjunto homogêneo de dados de vento para o
intervalo de uma década ou mais. Essas reanálises são preparadas com o uso de mode-
los numéricos de previsão do tempo alimentados com dados coletados em estações si-
nóticas, boias oceânicas, radiosondas, satélites, embarcações, entre outros.

Permitem uma visão geral da climatologia global dos ventos e podem ser utilizados como
estimativas para regiões onde a quantidade de dados coletados em superfície é muito
pequena.

Não apresentam falhas, isto é, os dados de vento estão disponíveis em todo o período
englobado pelo projeto. Sua principal desvantagem é a baixa resolução espacial uma vez
que a malha da grade apresenta dimensões grandes para reduzir a demanda.

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CAPÍTULO 4 – AERODINÂMICA APLICADA ÀS TURBINAS EÓLICAS

4.1 Introdução

Conforme foi mostrado no capítulo 3 o valor da potência eólica disponível no vento


em Watts pode ser calculada pela equação 3.4.
1
𝑃= 𝜌𝐴𝑉 3
2

Onde:

P = Potência disponível no vento (W)


ρ = Densidade do vento (kg/m3)
2
A = Área do rotor (m )
v = Velocidade do vento (m/s)

Porém, só é possível utilizar 59,3% da energia disponível do vento conforme de-


monstrado por Betz (Capítulo 3). Também foi possível observar que um aerogerador
não consegue converter toda a potência disponível no vento (Fig. 4.1).

Figura 4.1 - Potência disponível no vento, potência utilizável do vento e a potência gerada por um
determinado aerogerador em função da velocidade do vento.

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4.2 Coeficiente de potência

O valor do coeficiente de potência (Cp) de um aerogerador é o valor que permite


relacionar a potência disponível do vento e a potência extraída pelo aerogerador.
Então temos que a equação 3.5 fica da seguinte maneira:
1
𝑃= 𝜌𝑉 3 𝐴𝐶𝑝
2
Onde:
Cp = Coeficiente de potência (adimensional)

Dessa equação termos que o pv 3 depende das condições do site (local a onde será
instalado o aerogerador), ACp é depende do projeto do aerogerador. O projeto aero-
dinâmico do rotor é importante e é um dos principais fatores determinantes do valor do
Cp. O valor de Cp é geralmente indicado no mesmo gráfico da curva de potênci a do
aerogerador ou na tabela dos valores da curva de potência (Fig. 3.15 e Tab. 3.2).

4.3 Razão de velocidades na pá

A relação entre a velocidade linear (em m/s) da extremidade da pá de um rotor de raio R


(em m), girando à velocidade ωT (em rad/s), e a velocidade do vento u (m/s) que atinge
perpendicularmente o plano do rotor é caracterizada por um fator adimensional, conhecido
por razão de velocidades na ponta da pá ou velocidade específica na ponta da pá (λ), em
inglês Tip-speed ratio, sendo expresso por:

𝜔𝑡 𝑅
𝜆=
𝑢

4.4 Força de sustentação


Os aerogeradores que usam aerofólios como pás são chamados de aerogeradores de
sustentação. Na figura 4.2 é apresentado um corte transversal de um aerofólio, nela
são mostrados os temos utilizados para caracterizar um aerofólio.

Na figura 4.3 é representado o fluxo de ar na seção da pá de um aerogerador de susten-


tação. O vento (v) incide sobre a pá com um ângulo de ataque (α) em relação ao eixo da
pá. O fluxo de ar é forçado a mudar de direção na pá variando sua velocidade dando
lugar a força de empuxo Fe [43]. Na figura 4.3 são mostrados também o ângulo de passo
(β) e o ângulo de escoamento ().

A força de empuxo pode ser descomposta em duas componentes, a força de sustentação


Fs responsável pela sustentação aerodinâmica da pá e a força de arraste Fa, provocada
pela pressão do vento sobre a superfície da pá.

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Figura 4.2 - Nomenclatura de um aerofólio

β

Figura 4.3 - Fluxo na seção de uma pá de um rotor de um aerogerador de sustentação.

O valor do Cs depende das dimensões e características aerodinâmicas da seção da pá.


O mesmo poderá mudar ao longo do comprimento longitudinal da pá, devido à mudança
dimensional da mesma nesse sentido.

O desenho da pá e a sua inclinação com relação à direção do vento incidente devem ser
feitos de forma a direcionar a força de empuxo resultante sobre a pá de forma conveni-
ente, no sentido da rotação do rotor do aerogerador fazendo com que este realize um
trabalho ou torque.

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A incidência do vento sobre as pás de um aerogerador poderá provocar um deslocamento


do fluxo de ar de parte da superfície da pá, dependendo do ângulo de incidência do fluxo
do ar, das dimensões e perfil da pá e da velocidade do vento incidente. Na figura 4.4 são
mostradas duas situações do deslocamento.

É possível observar (Fig. 4.4 a) uma região de fluxo laminar e uma de fluxo turbulento.
Na região do fluxo laminar o fluxo é aderente à superfície da pá, e a força de sustentação
é maior, resultando também em uma maior transferência de potência. Na região de fluxo
turbulento o fluxo laminar se desloca da superfície da pá, resultando em uma região sem
sustentação aerodinâmica e consequentemente sem transferência de potência. Esta re-
gião é denominada de região de perda, pois há perda de sustentação aerodinâmica.
Quanto maior for a região de perda em uma pá em relação à região de sustentação,
menor será a transferência de potência do vento realizada pela pá.

A figura 4.5 mostra dois casos de pás de aerogeradores com fluxo aderente e com fluxos
separados, com perda de sustentação.

Figura 4.4 - Fluxos de ar no perfil de uma pá

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Figura 4.5 - Fluxos de ar em torno do perfil de uma pá.

4.5 Coeficiente de potência em função do tipo de aerogerador


Na figura 4.6 é mostrado um gráfico com as curvas do coeficiente de potência de diferen-
tes tipos de aerogeradores, comparadas com o coeficiente de potência teórico para um
rotor com um número infinito de pás. Na mesma figura é mostrado também o Limite de
Betz. As curvas são apresentadas em função da razão de velocidades na pá.

4.6 Efeito esteira


Outro aspecto a considerar é o chamado efeito de esteira. Uma vez que uma turbina
eólica produz energia mecânica a partir da energia do vento incidente, o vento que "sai"
da turbina tem um conteúdo energético muito inferior ao do vento que "entrou" na turbina.

O efeito esteira pode ser definido como a alteração produzida no vento ao passar pelo
rotor do aerogerador. Depois de passar pelo rotor, a velocidade do vento (v) diminui até
um terço da velocidade inicial e se forma uma esteira de vento turbulento, o diâmetro
dessa esteira aumenta conforme o vento se afasta do rotor e se dissolve com uma dis-
tância média de 10 diâmetros do rotor (Fig. 4.7).

A figura 4.8 foi obtida injetando fumaça branca no ar que passa através da turbina para
mostrar a o efeito esteira.

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Figura 4.6 - Coeficiente de potência para diferentes tipos de aerogeradores.

Figura 4.7 -Efeito esteira.

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Figura 4.8 - Experimento mostrando o efeito esteira.

Na figura 4.9 é mostrado o efeito esteira de um parque instalado no mar (offshore) essa
imagem foi capturada por um piloto de avião. Neste caso, a pressão diminuí após a
passagem do vento pelo aerogerador (e nestas condições de pressão e temperatura) a
umidade condensou e formou as "nuvens" mostrando o efeito esteira do parque.

Figura 4.9 - Efeito esteira em um parque eólico offshore (47)

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É por esta razão (efeito esteira) que a colocação das turbinas dentro de um parque eólico
tem de ser efetuada de modo criterioso (Fig. 4.10). É habitual espaçar as turbinas de uma
distância entre cinco e nove diâmetros na direção preferencial do vento e entre três e
cinco diâmetros na direção perpendicular. Mesmo tomando estas medidas, a experiência
mostra que a energia perdida devido ao efeito de esteira é de cerca de 5%.

Figura 4.10 - Configuração de um parque em função do efeito esteira.

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CAPÍTULO 5 – TECNOLOGIA DOS AEROGERADORES

5.1 Introdução
No capítulo três foram apresentados os principais componentes de um aerogerador (Fig
3.8). No presente capítulo serão apresentadas com maiores detalhes informações refe-
rentes a tecnologia dos aerogeradores. Informações como evolução histórica, estimativa
de instalações vs. tamanho, evolução do tamanho dos aerogeradores, número de pás e
tipos de geradores.

5.2 Evolução histórica


Conforme mostrado no capítulo 1, e energia eólica vem sendo aproveitada pelos seres
humanos há mais de 3000 anos para mover embarcações, com o passar do tempo tam-
bém foi utilizada para moinhos e bombeamento de água. Mas as primeiras tentativas para
aproveitar a energia eólica para gerar eletricidade aconteceram no final do século 19.

A figura 5.1 mostra o primeiro catavento utilizado para gerar energia elétrica, o mesmo
foi fabricado por Charles Brush nos Estados Unidos da América em 1888 e tinha uma
capacidade nominal de 12 kW.

Figura 5.1 - Primeiro catavento utilizado para gerar energia eólica em 1888.

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Em 1891 o cientista Poul La Cour's foi pioneiro na área de energia eólica na Dinamarca.
Ele utilizou um aerogerador com uma capacidade nominal de 10 kW (Fig. 5.2) para pro-
duzir energia elétrica para um processo de eletrolise para obter hidrogênio para alimentar
lâmpadas a gás nas escolas em Askov, o mesmo possuía um diâmetro de rotor de 20 m.
É interessante ressaltar que a energia eólica é conhecida como uma energia que não
permite ser armazenada, porém este processo (eletrolise) permitia armazenar o hidrogê-
nio gerado para ser utilizado durante o período noturno. Poul La Cour's foi o criador do
primeiro curso de engenharia eólica na Dinamarca e a primeira turma foi formada em
1904 (Fig 5.3).

Figura 5.2 - Aerogerador de Poul La Cour's na Dinamarca 1891

Em 1931 na Rússia foi instalada o aerogerador Wime D-30 em Balaklava, o mesmo


possuía um diâmetro do rotor de 30 m e uma potência nominal de 100 kW (Fig. 5.4).
Um projeto ambicioso com potência nominal 10000 kW foi o de MAN-Kleinhenz na Ale-
manha em 1942, com um aerogerador de quatro pás e diâmetro de rotor de 130 m (Fig.
5.5).

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Figura 5.3 - Primeira turma de engenheiros eólicos na Dinamarca 1904.

Figura 5.4 - Aerogerador Wime D-30 em Balaklava na Rússia, potência nominal de 100 kW,
diâmetro do rotor de 30 m.

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Figura 5.5 - Aerogerador MAN-Kleinhenz na Alemanha de quatro pás com diâmetro de rotor
de 130 m, potência nominal 10000 kW 1942.

O primeiro aerogerador dos Estados Unidos da América foi fabricado por Jacobs
em 1931 chamado de "wind charger" o mesmo possui um diâmetro de rotor de 4 m
e uma potência nominal entre 1.8 a 3 kW (Fig 5.6).

Figura 5.6 - Primeiro aerogerador dos Estados Unidos da América o "wind charger", diâmetro
de rotor de 4 m e potência nominal entre 1.8 a 3 kW [45]

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Na década de cinquenta (1958) na França foi instalado o aerogerador Best-Romani,


com diâmetro 30,1 m e potência nominal 800 kW (Fig. 5.7). Na mesma década na
Alemanha era testado o aerogerador Hütter W-34 com diâmetro de rotor de 34 m e
potência nominal de 100 kW, o mesmo funcionou entre 1959 e 1968 (Fig. 5.8).

Figura 5.7 -Aerogerador Best-Romani, com diâmetro 30,1 m e potência nominal 800 kW

Figura 5.8 - Aeroerador Hütter W-34 com diâmetro de rotor de 34 m e potência nominal
100 kW.

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O avanço da energia eólica foi alavancado pela crise do petróleo da década de 70.
Além dos aerogeradores com três pás que são os mais utilizados atualmente foram
testados aerogeradores de 1 e 2 pás (Figs. 5.9 e 5.10) e turbinas de eixo vertical (Fig.
5.11). Na figura 5.9 é mostrado o aerogerador de duas pás MOD-1 com diâmetro do
rotor de 61 m, potência nominal 2000 kW da General Electric instalado em 1979 nos
Estados Unidos da América. Na figura 5.10 é mostrado o aerogerador chamado de
Monopteros, instalado na Alemanha em 1985, o mesmo possuía um diâmetro de rotor
de 48 m, e potência nominal de 600 kW.

Um tipo diferente de turbina eólica é mostrado na figura 5.11, é a turbina Darrieus,


com capacidade nominal de 4 MW instalada no Canadá em 1987, esse tipo de turbina
é conhecida como de eixo vertical.

Figura 5.9 - Aerogerador de duas pás MOD-1 com diâmetro do rotor de 61 m, potência no-
minal 2000 kW.

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Figura 5.10 -Aerogerador Monopteros, diâmetro de rotor de 48 m, potência nominal de


600 kW.

Figura 5.11 -Turbina Darrieus, capacidade nominal de 4 MW instalada no Canadá.

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

5.3 Estimativa de instalações VS tamanho

Na figura 5.12 é mostrada a estimativa de instalação de potencial eólico e o tama-


nho dos aerogeradores desde 2009 até 2025. É possível observar que os aeroge-
radores com potência nominal entre 2,0 e 2.49 MW são os mais representativos
até 2025. Em segundo Jugar se encontram os aerogeradores com potência nomi-
nal entre 1.50 e 1.99 MW. Espera-se que aerogeradores com potência maior a 3,0
MW só apresentem um crescimento representativo a partir de 2021.

Figura 5.12 - Estimativa de instalações vs tamanho do aerogeradores até 2025.

5.4 Evolução do tamanho dos aerogeradores


Analisando o gráfico apresentado na figura 5.13 é possível observar que o tama-
nho dos aerogeradores comerciais apresenta uma constante evolução. Conforme
a tecnologia avança é possível construir aerogeradores com rotores e alturas de
torres maiores.

5.5 Componentes de aerogeradores


No capítulo 3 foram apresentadas sucintamente as partes de um aerogerador,
porém além destas, existem outros componentes que serão apresentados as
seguir.

5.5.1 Fundação
A fundação de um aerogerador tem duas funções principais, suportar o peso do
aerogerador para evitar que a mesma afunde no solo e atuar como contrapeso
para evitar o tombamento do aerogerador. O projeto e o peso das fundações têm
que ser adaptados não só ao peso do aerogerador como também considerado as
propriedades específicas do solo no qual o aerogerador será instalado.

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

Em solos com condições ordinárias uma cavidade de 2 a 3 metros é cavada for-


mando um quadrado de 7 a 12 metros de lado. As dimensões dependem do ta-
manho do aerogerador, peso e altura do mesmo e das condições do solo.
Após o nivelamento do fundo da cavidade, uma armadura é montada, no cen-
tro. A partir disso é montado um pilar acima da superfície do solo o qual será
utilizado para montar a base da torre. Depois é aplicado concreto para preen-
cher a cavidade (Fig. 5.14) .

Figura 5.13 - Evolução do tamanho dos aerogeradores

Figura 5.14 - Processo de construção da fundação

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5.5.2 Torre

A maior parte dos fabricantes de aerogeradores utilizam tubos cônicos de aço pintados de
branco ou cinza os quais são mais grossos na base do que no topo. Na década de 80 quando
os aerogeradores tinham alturas de apenas 30 metros as torres podiam ser de uma só peça
soldada. Em aerogeradores com alturas de cuba superiores as torres são construídas por
seções as quais são aparafusadas ou soldadas no momento da montagem. As torres têm
uma porta no nível da superfície do solo e o sistema de controle, displays e alguns equipa-
mentos elétricos são montados dentro da torre. Dentro da torre existe também uma escada
que possibilita o acesso à nacele. Alguns aerogeradores com alturas maiores possuem um
sistema de elevadores para acesso a nacele (Fig. 5.15).

Alguns fabricantes oferecem a opção de torres de concreto. Essas torres são construídas a
partir de segmentos os quais são empilhados e depois protendidos (Fig. 5.16). A possibilidade
de fabricação das torres em segmentos menores facilita o transporte dosmesmos até o local de
montagem.

Existe também a possibilidade de torres treliçadas as quais têm como vantagem o uso de me-
nos material, menor peso e preço, porém a montagem deste tipo de torres é muito demo-
rada e exigem uma manutenção maior. Outra vantagem é que o vento atravessa melhor a
torre resultando em menores carregamentos (Fig. 5.15). No caso dos aerogeradores de pe-
queno porte são utilizadas torres tubulares estaiadas.

Figura 5.15 -Aerogeradores com torres tubulares de aço e treliçadas(à esquerda),torre tubular metá-
lica(centro) e fábrica de torres metálicas(à direita).

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Figura 5. 16 - Aerogerador Enercon com torre de concreto protendido(à esquerda) e montagem de uma
torre de concreto(à direita)

5.5.3 Pás
Junto com o cubo do aerogerador e o sistema de pitch, as pás compõem o rotor que com-
preende todas as partes rotativas do aerogerador fora da nacele. As pás geralmente são
fabricadas a partir de material compósito (fibra de vidro e resina epóxi ou de poliéster). A
função das pás é converter, através da força de sustentação, a energia cinética do vento em
energia mecânica (rotação).

As pás geralmente são aparafusadas ao cubo mediante um flange (Fig. 5. 17). O cubo (Fig.
5.18) transmite o movimento de rotação do rotor ao sistema de acionamento mecânico (com-
posto por todos os componentes rotatório depois do rotor). Além disso, é instalado o sistema
de para-raios nas pás (Fig. 5.19).

5.5.4 Caixa multiplicadora


Nas turbinas modernas de grande porte, o rotor gira com uma velocidade angular de 20 a 30 rpm,
enquanto o gerador precisa girar em torno de 1520 rpm. Para incrementar a rotação é utilizado
uma caixa multiplicadora. Se o rotor do aerogerador girar a 30 rpm será necessária uma razão de
30 : 1520 = 1 : 50,7 revoluções no eixo de transmissão do aero gerador. A caixa multiplicadora tem
uma razão fixa.

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Figura 5. 17 - Componentes do Aerogerador V39 da Vestas: 1) Placa de apoio da nacele 2) Atuador do


sistema de pitch 3) Eixo do rotor 4) Pá 5) Cubo 6) Mecanismo de pitch 7) Mancal do rotor 8) Caixa multi-
plicadora 9) Freio do rotor 10) Eixo de transmissão ao gerador 11) Gerador 12) Sistema de medição do
vento 13) Sistema hidráulico 14) Controle elétrico 15) Sistema de yaw

Uma caixa multiplicadora geralmente tem vários estágios, assim a velocidade rotacional se incre-
menta gradualmente. As perdas são estimadas como 1 por cento por estagio. Nos aerogeradores
geralmente são utilizadas caixas com 3 estágios assim é considerada uma eficiência de 97% para
a caixa multiplicadora.

Existem aerogeradores com gerador conectado diretamente e de velocidade variável que não pre-
cisam de caixa multiplicadora. Porém a frequência e a voltagem da corrente elétrica irão variar
com a velocidade rotacional. A corrente será retificada para DC (corrente contínua) e depois con-
vertida por um inversor para corrente alternada (AC) com a mesma frequência (50 Hz ou 60 Hz) e
a voltagem da rede. A eficiência de um inversor é de aproximadamente 97%, perdas similares às
da caixa multiplicadora.

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Figura 5.18 - Sistema de para-raios na pá de um aerogerador e o cubo.

5.5.5 Rolamentos
Todas as turbinas eólicas modernas possuem rolamentos no eixo principal. O rolamento permite
tanto a absorção de cargas radiais a partir do peso do rotor, eixo, entre outras e as grandes forças
axiais (ao longo do eixo), resultante da pressão do vento sobre o rotor. Os rolamentos do eixo
principal são montados em mancais de rolamento. A quantidade de rolamentos e assentos de
rolamento varia em função dos diferentes tipos de turbinas eólicas. Os rolamentos do eixo prin-
cipal são sempre lubrificados por graxa, independentemente do tipo do mancal. Além dos rola-
mentos do eixo existem outros rolamentos como do sistema de pitch e do sistema de yaw.

5.5.6 Freios e acoplamentos


A função do sistema de freios é de diminuir ou parar o movimento de rotação do rotor. Um aero-
gerador possui dois sistemas de freio, o aerodinâmico realizado através da aerodinâmica da pá e
o freio mecânico.

O freio mecânico é um disco de freio colocado sobre o eixo de alta velocidade da caixa de câmbio.
O disco de freio, geralmente de aço, é fixado ao eixo. O sistema de freio funciona utilizando pres-
são de óleo hidráulico.

Já o acoplamento (Fig. 5.19) é colocado entre a caixa multiplicadora e o gerador. Não é possível
considerar o acoplamento como uma embreagem em um carro normal. Pois não é possível enga-
tar ou desengatar a transmissão entre a caixa multiplicadora e o gerador pressionando um pedal,
ou de alguma outra forma. A transmissão é uma união permanente, e o acoplamento deve ser
visto como uma junção feita para dois componentes da turbina que estão separados(Caixa multi-
plicadora e Gerador).
O acoplamento é sempre uma unidade flexível, feito de peças de borracha ou fibra de vidro, nor-
malmente permitindo variações de alguns milímetros apenas. Esta flexibilidade permite algumas
pequenas diferenças de alinhamento entre o gerador e a caixa multiplicadora.
Isto pode ser de grande importância em montagem e durante a operação em execução, quando a
caixa multiplicadora e o gerador podem ter tendências para pequenos movimentos de rotação de
um com relação ao outro.

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Figura 5.19 – Caixa multiplicadora(à esquerda) e acoplamento(à direita).

5.5.7 Gerador elétrico


O gerador é a unidade da turbina eólica, que transforma a energia mecânica em energia elétrica.
As pás convertem a energia cinética do vento em energia rotacional no sistema de acionamento
mecânico, e o gerador é o próximo passo no fornecimento de energia do aerogerador à rede elé-
trica, convertendo a energia elétrica em energia mecânica.

5.5.8 Conversor de frequência


Conversores de frequência são dispositivos utilizados para alterar a energia elétrica de uma forma
para outra, como no AC para DC, DC para AC, uma tensão para outra, ou uma frequência para
outra. Os conversores de frequência têm muitas aplicações em sistemas de energia eólica. Estes
equipamentos estão sendo usados com mais frequência conforme a tecnologia se desenvolve e
reduções de custos. Por exemplo, conversores de energia são utilizados na partida do gerador,
nos aerogeradores de velocidade de vento variável e em redes isoladas.

5.5.9 Sistemas elétricos auxiliares.


Além do gerador, o sistema do aerogerador utiliza uma série de outros componentes elétricos.
Alguns exemplos são cabos, chaves seccionadoras, transformadores, conversores eletrônicos de
potência, capacitores de correção de potência, yaw e pitch.

Sistema de yaw: Este sistema é necessário para manter o eixo do rotor devidamente alinhado
com o vento. Seu principal componente, um grande mancal que conecta a base da nacele à torre.
Uma unidade de yaw ativo é sempre utilizado em aerogeradores upwind (o vento atinge o rotor
antes da torre e da nacele) e algumas vezes em aerogeradores downwind (o vento atinge o rotor
depois da torre e da nacele). Este sistema está composto por um ou mais motores, cada um dos
quais dirige um peão contra uma engrenagem ligada ao mancal de yaw. Este mecanismo é con-
trolado por um sistema automático de controle de yaw com o seu sensor na direção do vento,
geralmente montado na nacele dos aerogeradores.

Sistema de pitch: Como regra geral, os aerogeradores de grande porte têm maiores rotores
equipados com controle de inclinação da pá. O mecanismo necessário para isso deve, basica-
mente, cumprir duas tarefas. A principal tarefa é para ajustar o ângulo de inclinação da pá para
controlar a potência e a velocidade do rotor. Uma faixa de pitching entre 20 a 25 graus é suficiente
para esta finalidade. Mas, além desta função principal, há uma segunda tarefa, que tem conside-
rável influência sobre o design do mecanismo de inclinação das pás. Para frear o rotor aerodinâ-
mico, deve ser possível lançar as pás do rotor para a posição de embandeiramento. Isso aumenta
a faixa de pitching para aproximadamente 90°.

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5.5.10 Sistemas de controle e segurança


O sistema de controle de um aerogerador é importante com relação a operação da máquina e a
produção de energia. Um sistema de controle de um aerogerador inclui os seguintes componentes:
• Sensores: de velocidade, de posição, de fluxo, de temperatura, de tensão, corrente, entre
outros;
• Controladores: dos mecanismos mecânicos, circuitos elétricos;
• Amplificadores de potência: switches, amplificadores elétricos, bombas hidráulicas e vál-
vulas;
• Atuadores: motores, pistões, ímãs, e solenóides;
• Inteligência: computadores, microprocessadores.

O projeto de sistemas de controle para a aplicação a aerogeradores segue as práticas tradicio-


nais da engenharia de controle. Muitos aspectos, no entanto, são bastante específicos para ae-
rogeradores. Os aerogeradores envolvem os seguintes três aspectos principais e o equilíbrio
criterioso de suas necessidades:
• Definir os limites superiores, limitação do torque e potência experimentada pelo sistema de
acionamento mecânico;
• Maximização da vida devido a fadiga do sistema de acionamento mecânico do rotor e ou-
tros componentes estruturais, na presença de mudanças na direção do vento, de velocidade
de vento (incluindo rajadas), e de turbulência, bem como ciclos de partida-parada do aeroge-
rador;
• Maximização da produção de energia.

5.5.11 Princípios de funcionamento do aerogerador


Para explicar sucintamente o funcionamento do aerogerador é necessário conhecer os principais
componentes do aerogerador envolvidos nesse processo (Fig. 5.20). A função de cada compo-
nente é descrita a seguir:
a) Controle de yaw: Movimenta a nacele para acompanhar o movimento do vento, ou seja,
manter o rotor perpendicular à direção do vento;
b) Gerador: é o equipamento que realiza a conversão da energia mecânica do vento capturada
pelo rotor em energia elétrica;
c) Pá: conforme o rotor, a sua função é capturar a energia cinética do vento;
d) Anemômetros: coleta dados de vento (velocidade e direção) alguns aerogeradores antigos
utilizam anemômetros de copos para determinar a velocidade do vento e windvent(birutas)
para determinar a direção;
e) Central de controle: coleta os dados de vento e realiza o controle dos demais componentes
para otimizar a produção.

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Figura 5.20 - Principais componentes de um aerogerador 2) Controle de yaw 3) Gerador


4) Cubo 6) Pá 7) Anemômetro

Para entender o funcionamento do aerogerador será utilizada a curva de potência do mesmo (Fig.
5.21). Considerando que a velocidade do vento é 0(zero) m/s (medida pelo anemômetro sônico) o
aerogerador está parado. Se a velocidade do vento medida pelo anemômetro sônico se incre-
menta até atingir a velocidade de partida (nesse caso 2 m/s) a central de controle do aerogerador
dá a ordem para o rotor começar a girar. Quando a velocidade do vento atinge a velocidade de
potência nominal a aerodinâmica do aerogerador atua de tal maneira que o gerador continua na
potência nominal. Quando a velocidade do vento atinge a velocidade de parada da máquina a
central de controle aciona um freio mecânico para evitar possíveis danos ao aerogerador por es-
forços excessivos (resultantes das velocidades de vento elevadas).

Se acontecer alguma mudança na direção do vento por um período significativo (registrado pelo
anemômetro sônico ou pelo windvent) a central aciona o controle de yaw que está composto por
motores localizados na base da nacele para alinhar o rotor de maneira que este fique perpendi-
cular à direção do vento.

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Figura 5.21 - Curva de potência de um aerogerador E82 da Wobben com potência nominal de 2 MW.

5.7 Tipos construtivos de aerogeradores


Os tipos construtivos de aerogeradores são agrupados em função da posição do rotor, posição do
eixo, número de pás, tipo de controle de potência e velocidade fixa ou variável.

5.7.1 Posição do Rotor


Em função da posição do rotor existem dois tipos de aerogeradores com rotor downwind e com
rotor upwind.

Com o rotor downwind: nesse tipo de aerogeradores o vento atinge o rotor depois da torre e
da nacele, permite o auto alinhamento do rotor na direção do vento, mas tem vindo a ser pro-
gressivamente abandonada, pois o escoamento é perturbado pela torre antes de incidir no rotor.
Na figura 5.22 é mostrado um aerogerador com rotor downwind.

Com o rotor upwind: nesse tipo de aerogeradores o vento atinge o rotor antes da torre. Este
tipo de aerogeradores generalizou-se devido ao fato do vento incidente não ser perturbado pela
torre (Fig. 5.23).

5.7.2 Posição do eixo


Em função da posição do eixo os aerogeradores podem ser construídos em dois tipos, de eixo
horizontal e de eixo vertical.
Aerogeradores de eixo horizontal: O tipo de aerogeradores mais conhecido e utili-
zado atualmente no mercado é o de eixo horizontal (Fig. 5.23).

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Figura 5.22 -Aerogerador com rotor tipo downwind instalado nos Estados Unidos da América em 1985.

Figura 5.23 -Aerogerador com rotor tipo upwitul, com três pás.

Aerogeradores de eixo vertical: Além dos aerogeradores com eixo horizontal com três pás, que
já estão consolidados como uma tecnologia madura, outro tipo de aerogerador é o de eixo vertical
que pode ser visualizado na figura 5.24 os três tipos mais utilizados desse tipo de turbina.

Na figura 5.25 é mostrada uma turbina Darrieus instalada nos Estados Unidos da América, com
diâmetro do rotor de 19 m e potência nominal de 170 kW. Na figura 5.26 é mostrada uma turbina
tipo H-rotor com diâmetro de rotor de 35 m, e potência nominal de 300 kW.

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Figura 5.24 -Tipos mais utilizados de turbinas de eixo vertical.

5.7.3 Número de pás


O critério do número de pás é geralmente utilizado apenas paras os aerogeradores de eixo hori-
zontal, os principais tipos são:

Aerogeradores de uma pá: neste tipo de aerogerador, apesar do fato de ter só uma pá significar
menor peso, é necessário um peso extra para balancear a pá. Um rotor com só uma pá significa
que a mesma deve girar mais rápido para capturar a mesma quantidade de energia o que resulta
em maior ruído e impacto visual (Fig. 5.10).

Aerogeradores de duas pás: este tipo de aerogerador apresenta maiores cargas devido à posi-
ção relativa das pás. Esse tipo de aerogerador representa uma solução intermediária entre os
aerogeradores de uma e três pás (Fig. 5.9).

Aerogeradores de três pás: o fato de ter três pás proporciona maior equilíbrio dos efeitos das
cargas cíclicas. Precisam de uma menor velocidade de giro que os aerogeradores de uma e duas
pás (Fig. 5.23).

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Figura 5.25 -Turbina Darrieus, potência nominal de 170kW.

Figura 5.26 -Turbina tipo H-rotor, potência nominal de 300 kW

5.7.4 Tipo de controle de potência

O controle de potência de um aerogerador pode ser efetuado por meios passivos, isto é, dese-
nhando o perfil das pás de modo que entrem em perda aerodinâmica, stall, a partir de determinada
velocidade do vento, sem necessidade de variação do passo, ou por meios ativos, isto é, variando
o passo das pás, pitch, do rotor.

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Controle passivo: Os aerogeradores com controle por stall têm as pás fixas, ou seja, não rodam
em torno de um eixo longitudinal. Neste tipo de aerogerador o ângulo de passo P é constante. A
estratégia de controle de potência assenta nas características aerodinâmicas das pás do rotor que
são projetadas para entrar em perda a partir de uma determinada velocidade do vento.

Uma vez que as pás estão colocadas a um dado ângulo de passo fixo, quando o ângulo de ataque
aumenta para além de um determinado valor, a componente de sustentação diminui, ao mesmo
tempo as forças de arrasto passam a ser dominantes.

A curva de potência típica de um aerogerador regulado por stall é mostrada na figura 5.27. É
possível observar que a partir da velocidade nominal do vento a turbina apresenta variações
leves da potência em torno do valor nominal.
Controle ativo: As turbinas "pitch" têm a possibilidade de rodar a pá em torno do seu eixo
longitudinal, isto é, variam o ângulo de passo das pás, P. A curva de potência de um aerogerador
regulado por pitch é mostrada na figura 5.21.

Controle por stall ativo: É um sistema de controle de potência e velocidade híbrido entre o con-
trole de passo e por stall. Neste caso o rotor é girado de forma que as pás atinjam uma menor
sustentação.

Figura 5.27 - Curvas de potência pitch (Aerogerador Bônus) e stall (aerogeradores NEG Micon e Nordex).

É possível identificar qual é o tipo de controle (passivo, ativo ou stall ativo) observando o aeroge-
rador parado. No tipo de controle passivo é possível observar o freio aerodinâmico (Fig 5.28) na
ponta pá. No caso dos aerogeradores com controle de stall ativo a posição de parada da pá é
mostrada nas figuras 5.29 e 5.30. No caso do tipo de controle por ativo (pitch) a posição de parada
da pá é inversa à dos aerogeradores com controle stall ativo (Figs 5.31 e 5.32).

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Figura 5.28 - Aerogeradores com sistema de controle por stall passivo.

Figura 5.29 - Posições das pás de um aerogerador com controle de potência por stall ativo.

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Figura 5.30 -Aerogerador Vestas V82 em posição de parada (pás embandeiradas)

Figura 5.31 - Posições das pás de um aerogerador com controle de potência por pitch

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Figura 5.32 - Aerogerador Enercon com sistema de controle por pitch em posição de parada (pás emban-
deiradas).

5.7.5 Velocidade fixa ou variável


Antes de apresentar os tipos construtivos de aerogeradores em função da velocidade será neces-
sário entender a relação entre a velocidade de vento e a potência gerada pelo aerogerador.

Relação entre a velocidade de vento e a potência gerada: O tamanho do gerador é definido pela
potência nominal do mesmo. Em um aerogerador esta potência é atingida na velocidade nominal
(11 a 16 m/s dependendo do fabricante, modelo, site entre outros) e velocidades maiores. Em
velocidades de vento menores a potência é significativamente menor.A relação entre a velocidade
de vento e a potência é apresentada nas curvas de potência (Fig. 5.33).

A uma determinada velocidade de vento (na maioria dos casos 25 m/s) o aerogerador irá parar(na
posição de embadeiramento) e se desconectar da rede. Na posição de embandeiramento o ae-
rogerador pode suportar ventos de furacões (60 m/s). A velocidade máxima de projeto de um ae-
rogerador é chamada de velocidade de sobrevivência do aerogerador. A perda de potência a ve-
locidades superiores à velocidade de parada é insignificante, devido a que essas velocidades de
vento são bem raras e ocorrem por períodos bem curtos.

Gerador assíncrono com velocidade fixa: Os primeiros aerogeradores comerciais conectados


à rede instalados no final da década de 70 e início dos anos 80 utilizavam geradores assíncronos
padrões que estavam disponíveis comercialmente e rotores com controle por stall. Possuíam ve-
locidade fixa e um sistema elétrico bastante simples (Fig. 5.34).

Este projeto simples originava alguns problemas para os operadores da rede. Os quais afirmavam
que os aerogeradores tinham impactos negativos na qualidade da energia, especialmente quando
o número de aerogeradores se incrementava. O impacto quando um aerogerador se conectava a
rede era na realidade similar à partida de um motor do mesmo tamanho. Quando os aerogeradores
partem e se conectam à rede o gerador precisa de uma potência reativa para magnetizar o rotor e

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quando o gerador se conecta à rede um curto pico de corrente mais forte se produz e a voltagem
cai por uma fração de segundo. Durante a operação os aerogeradores produzem potência ativa,
mas eles só consomem alguma potência reativa da rede.

Figura 5.33 - Curva de potência típica de um aerogerador.

Gerador soft start: no final da década de 70 e início dos anos 80 os aerogeradores eram peque-
nos e os distúrbios na rede se encontravam dentro dos limites toleráveis. Os primeiros equipamen-
tos instalados nos aerogeradores para reduzirem estes problemas foram os capacitores para re-
duzir o consumo de potência reativa e foram denominados de equipamentos soft start, um acopla-
mento de transistores para reduzir a corrente de partida (Fig. 5.35).

Quando um gerador roda com uma carga parcial (por exemplo um gerador de 500 kW produzindo
apenas 100 kW) a eficiência do gerador é considerada menor que quando está funcionando à
potência plena. Com uma velocidade rotacional fixa que foi configurada para uma boa razão de
velocidades na pá em ventos relativamente fortes a eficiência do rotor será comparativamente
menor a baixas velocidades de vento, uma vez que a razão de velocidades na pá deverá ser
relativamente alta.

Geradores duplos: para utilizar a potência do vento de uma maneira mais eficiente, especial-
mente nas chamadas áreas de baixa velocidade (com medias de velocidades de vento baixas)
alguns fabricantes começaram a instalar dois geradores separados denominados de geradores
duplos (os quais trabalham como dois geradores em um).Um gerador pequeno com seis polos e
100 rpm funciona a carga plena em velocidades baixas com velocidades rotatórias baixas (melhor
razão de velocidades na pá) no rotor. Quando a velocidade de vento se incrementa até um

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determinado limite (- 7 m/s) o gerador maior com quatro pares de polos e 1500 rpm entra em
operação e a velocidade rotacional se incrementa até um nível maior fixo (Fig. 5.36).

Figura 5.34 - Gerador assíncrono com velocidade fixa.

Figura 5.35 - Gerador assíncrono adaptado a rede.

Figura 5.36 -Aerogerador com dois geradores.

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Velocidade variável: para obter a máxima eficiência na utilização da potência do vento a veloci-
dade rotacional do rotor do aerogerador deve ser proporcional à velocidade do vento. Com uma
velocidade variável a razão de velocidades na pá deve ser mantida em um nível ótimo para todas
as velocidades de vento. Os aerogeradores com elevadas razões de velocidades na pá operam
eficientemente em uma faixa ampla de velocidades na pá, o que pode variar bastante em torno do
valor ótimo e ainda se manter boa eficiência. A introdução de geradores duplos foi o primeiro passo
para aerogeradores de velocidade variável.

Se o gerador atuar a velocidade variável a frequência da corrente elétrica também irá variar. E a
corrente elétrica deverá ser adaptada de acordo com a da rede. Para resolver este problema o
gerador é desconectado da rede. A corrente AC do gerador é primeiramente retificada para DC e
depois reconvertida para AC por um inversor o qual dá a corrente as mesmas propriedades de
frequência e voltagem da rede. Aerogeradores com velocidade variável estão disponíveis no mer-
cado desde finais da década de 80. Estes utilizam um gerador síncrono combinado com eletrônica
de potência (conversor de frequência) (Fig. 5.37).

Figura 5.37 -Aerogerador de velocidades variáveis.

Gerador conectado diretamente: geradores multipolos síncronos, tem sido utilizados por longo
tempo para estações hidráulicas. A vantagem desse tipo de gerador é que pode operar com uma
baixa velocidade de rotação. Em um aerogerador um gerador multipolos pode ser conectado dire-
tamente ao rotor sem uma caixa multiplicadora intermediaria.

O fabricante alemão Enercon (Wobben no Brasil) introduziu esse conceito em 1992 no modelo E-
40. Este gerador multipolos possui um grande diâmetro, aproximadamente 4 metros e 60 polos
em vez dos quatro ou seis de um gerador normal. O gerador multipolos pode produzir potência
elétrica com a mesma velocidade de rotação do rotor. Os aerogeradores da Enercon possuem
velocidade variável e utilizam eletrônica de potência para se adaptar à potência elétrica da rede
(Fig. 5.38). Outros fabricantes têm optado também por utilizar esta concepção de projeto.

Uma vantagem importante com o gerador conectado diretamente é que não é necessária manu-
tenção da caixa multiplicadora. A principal desvantagem é que os grandes geradores multipolos
são muito pesados e assim o peso do aerogerador se incrementa.
Um conceito interessante é o MULTIBRID o qual possui uma caixa multiplicadora planetária inte-
grada a um pequeno gerador multipolos (Fig. 5.39).

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Com velocidade variável o rotor do aerogerador pode utilizar o vento mais eficientemente. A
diferença de eficiência entre um aerogerador com velocidade variável plena e o com duas veloci-
dades fixas é quase insignificante. Outra vantagem do uso de velocidade variável, já que o vento
é sempre mais ou menos turbulento e as cargas nos aerogeradores mudam a toda hora o que
origina grandes tensões nos componentes. Com a possibilidade de variar a velocidade do rotor, a
potência da rajada pode ser absorvida pelo rotor através do incremento da velocidade rotacional
sem transmiti-la ao sistema de acionamento mecânico.

Figura 5.38 - Aerogerador conectado diretamente com gerador multipolos.

Figura 5.39 -Conceito MULTIBRID

Gerador com escorregamento: alguns fabricantes que utilizam geradores assíncronos precisam
projetar os seus aerogeradores para que permitam a variação da velocidade rotacional dentro de
certos limites. A solução técnica envolvia mudança da resistência dos enrolamentos do rotor do
gerador ou controlar a corrente dos enrolamentos do rotor mediante eletrônica de potência. Isso
possibilita que se incremente o escorregamento das rotações por minuto do gerador de 1 a 10%.

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

Quando uma rajada de vento incrementa a potência, o rotor do aerogerador pode incrementar sua
velocidade rotacional até em 10% sem afetar a potência ou frequência de saída do gerador .

O próximo passo no desenvolvimento de geradores assíncronos foi utilizar escorregamento com


um rotor acoplado em cascata (Fig. 5.40). Em um gerador assíncrono as correntes são também
induzidas no rotor. Este conceito possibilita um controle da velocidade de rotação em uma faixa
maior. Uma turbina Nordex pode variar de 11 a 19 rpm. Com esta solução o conversor de potência
é muito menor. Outra vantagem é que a potência reativa pode ser controlada.

Figura 5.40 - Gerador assíncrono com rotor acoplado em cascada e conversor de frequência.

5.8 Classificação dos aerogeradores


Além dos tipos construtivos de aerogeradores apresentados anteriormente os aerogeradores po-
dem ser classificados em relação a diferentes características entre elas segundo o tipo de trans-
missão e aerodinâmica.

5.8.1 Classificação segundo o tipo de transmissão


Na figura 5.41 são mostrados os diferentes tipos de aerogeradores em função da transmissão.
Podemos observar que existem vários tipos: com o gerador e a caixa multiplicadora na nacele,
com o gerador vertical no topo da torre e a caixa multiplicadora na nacele, com o gerador
vertical e a caixa multiplicadora na base da torre, com a caixa multiplicadora na nacele e o gera-
dor na base da torre, com o gerador na base da torre e duas caixas multiplicadoras e com gerador
conectado diretamente ao rotor (sem caixa multiplicadora). As duas configurações mais usadas
são a primeira (com o gerador e a caixa multiplicadora na nacele) e a última (com gerador
conectado diretamente ao rotor) (Figs. 5.42 e 5.43).

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a) b) c)

d) e) f)

Figura 5.41 -Tipos de aerogeradores em função do tipo de transmissão a) com o gerador


e a caixa multiplicadora na nacele, b) com o gerador vertical no topo da torre e a caixa
multiplicadora na nacele, c) com o gerador vertical e a caixa multiplicadora na base da torre,
d) com a caixa multiplicadora na nacele e o gerador na base da torre, e) com o gerador na
base da torre e duas caixas multiplicadoras f) com gerador conectado diretamente ao rotor
(sem caixa multiplicadora).

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Figura 5.42 - Aerogerador com gerador e caixa multiplicadora na nacele.

Figura 5.43 -Aerogerador sem caixa multiplicadora (gearless).

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TECNOLOGIA DE GERAÇÃO EÓLICA

5.9 Classificação dos aerogeradores em função do tipo de yaw

Existem dois tipos de controle de yaw:


Controle por yaw livre: Nesse tipo de controle o aerogerador acompanha a direção do vento
naturalmente, através de uma cauda. É utilizado geralmente em aerogeradores com rotor
downwind e em aerogeradores de pequeno porte (Fig. 5.44)

Controle ativo de yaw: Nessa casso o aerogerador é posicionado na direção predominante de


vento por um controle ativo. O movimento da nacele é realizado por meio de motores localizados
na base da nacele para alinhar o rotor de maneira que este fique perpendicular à direção do
vento (Fig. 5.45).

Figura 5.44 - Aerogerador de pequeno porte com sistema de yaw livre.

Figura 5.45 - Sistema de yaw de um aerogerador.

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CAPÍTULO 6 – ASPECTOS DE HABILITAÇÃO TÉCNICA DE PROJETOS

6.1 Introdução
No presente capítulo serão apresentadas informações sucintas referentes aos aspectos de habi-
litação técnica de projetos. Maiores informações podem ser encontradas na página da Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL da Empresa de Pesquisa Energética EPE.

6.2 Leilões para compra de energia elétrica


O Art. 19 do Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004, estabelece que a ANEEL é responsável
por promover, direta ou indiretamente, licitação na modalidade de leilão, para a contratação de
energia elétrica pelos agentes de distribuição do Sistema Interligado Nacional - SIN, observando
as diretrizes fixadas pelo Ministério de Minas e Energia – MME.

A EPE deve efetuar a Análise e Habilitação Técnica dos empreendimentos e a ANEEL a aferição
da capacidade da idoneidade financeira, da regularidade jurídica e fiscal dos licitantes.

Conforme disposto na LEI 10.848/2004 são previstos anualmente os leilões A-1, A-3, A-4, A-5
ou A-6. Poderão também ser promovidos leilões para contratação de energia de reserva, prove-
niente de usinas especialmente contratadas para este fim, destinadas a aumentar a segurança
no fornecimento de energia elétrica ao SIN.

A promoção de cada leilão é inaugurada pelo MME por meio da publicação de uma portaria onde
se estabelecem as diretrizes que deverão ser observadas, tais como:
• O ano base para o início do suprimento;
• Prazo contratual;
• Modalidade de contratação - Quantidade ou Disponibilidade;
• Data do leilão;
• Tipos de fontes (eólica, biomassa, hídrica, solar, etc.);
• Prazo para cadastramento na EPE;
• Prazo para protocolar documentos na EPE após o cadastramento.

É necessário observar o disposto na Portaria MME nº 21 que estabelece os requisitos para o


cadastramento e habilitação técnica na EPE. Também, nas instruções da EPE que estabelecem
a forma da apresentação da documentação e na Resolução Normativa nº 391/2009, da ANEEL,
que estabelece os requisitos necessários à outorga para exploração de usinas eólicas.

6.3 O sistema AEGE


Nos processos de habilitação técnica de empreendimentos a EPE utiliza o Sistema de Acompa-
nhamento de Empreendimentos Geradores de Energia - AEGE. Esse sistema é disponibilizado
aos agentes, para tanto deve-se inicialmente fazer adesão ao mesmo. Uma vez aprovada a ade-
são, a EPE envia uma senha para que possa acessá-lo e inserir os seus projetos.

No AEGE as informações são divididas em dois conjuntos: o primeiro, núcleo da base de dados
constituído pelas informações técnicas. O segundo conjunto constituído pelas informações es-
pecíficas de cada leilão (cronograma, orçamento, entre outros.).

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As informações do AEGE são armazenadas e podem ser editadas e usadas em qualquer leilão
futuro. Um empreendimento, uma vez cadastrado para participar de um leilão, terá a edição dos
dados bloqueada. O desbloqueio para edição será feito apenas na etapa da habilitação técnica
para promover regularizações.

Figura 6.1 - Página de cadastro do empreendedor no sistema AEGE da EPE .

6.4 O processo de habilitação técnica


O cadastramento do empreendimento gerador de energia nesse sistema será um dos elementos
constitutivos para o seu Cadastramento e Habilitação Técnica com vistas à participação nos Lei-
lões de Energia, e deve seguir as seguintes etapas:
• Cadastramento do empreendedor e usuário responsável;
• Inclusão de empreendimento;
• Inscrição do empreendimento no Leilão de Energia;
• Suplementação dos dados técnicos do empreendimento inscrito no Leilão;
• Cadastramento para habilitação técnica no Leilão;

Conforme disposto na Portaria MME 21/2008 e Instruções de Cadastramento vigentes em 2010,


o processo para cadastramento de empreendimento deverá ser instruído com os seguintes do-
cumentos (podendo ser adicionado ou retirado documentos da lista de acordo com novas porta-
rias para atender as regras do ano vigente):
• Registro da ANEEL;

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• Memorial descritivo do projeto;


• Licença Ambiental (ou Protocolo);
• Parecer de acesso (ou protocolo);
• Ficha de dados (AEGE);
• Certificado de consistência das medições anemométricas;
• Direito de usar ou dispor do local a ser destinado à Eólica;
• Declaração da quantidade de energia a ser disponibilizada ao SIN;
• Declaração de aerogeradores novos;
• Declaração da não participação da entidade certificadora;
• Outras declarações (ICG, direito de dispor do local da usina, etc.);
• Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (digitalizado - CD nº l);
• Arquivos Eletrônicos (CD nº 2 – anexos 1 a 11 digitalizados).

6.5 A análise técnica


Na figura 6.2 é mostrado o processo de análise técnica para o empreendimento habilitado. Se o
projeto cumprir com todas as exigências da EPE é outorgada a habilitação técnica para o em-
preendimento.

Figura 6.2 - Processo da análise técnica de um empreendimento.

6.6 A Habilitação Técnica


A Habilitação Técnica confere ao projeto analisado o direito de participar do leilão visto que
atende às condições para estar em operação na data de início do fornecimento da energia a ser
contratada.

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A Habilitação Técnica não implica em qualquer hipótese, responsabilidade ou vinculação à EPE


inclusive no tocante às obrigações cíveis, comerciais e administrativas. A Habilitação Técnica
destina-se exclusivamente a compor a lista de referência dos empreendimentos aptos à partici-
pação nos leilões de energia. É importante ressaltar que a Habilitação Técnica perde a sua efi-
cácia no término do leilão.

6.7 Recomendações da EPE


Finalmente a EPE recomenda:
• A Leitura atenta das normas legais e infra legais que regem os leilões para mitigar o risco
de não conformidades;
• Dar atenção para as questões fundiárias decorrentes do direito de uso do local do em-
preendimento;
• A boa qualidade nas medições anemométricas resulta em menor incerteza na produção
de energia;
• Um projeto bem estudado terá vantagens competitivas no leilão;

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CAPÍTULO 7 – IMPACTOS AMBIENTAIS

7.1 Introdução

No presente capítulo serão apresentados os impactos ambientais de um empreendimento eólico


e uma breve introdução ao licenciamento ambiental.

7.2 Impactos ambientais de um empreendimento eólico

Os aerogeradores devem ser instalados em lugares com condições de vento favoráveis. Algumas
vezes é preciso construir caminhos de acesso para os locais de instalação. O transporte das peças
dos aerogeradores até o lugar de instalação pode depender da construção de estradas e pontes.
Uma área exclusiva deve ser selecionada para a construção da subestação elétrica do parque eólico
e das linhas de transmissão.

Os aerogeradores são montados usualmente em uma fundação, que consiste em um grande bloco
de concreto armado construído alguns metros abaixo do nível do solo. Em alguns casos o desloca-
mento de terra pode ser muito volumoso. Além dos buracos para a construção das fundações tam-
bém são feitas valas em toda a área do projeto para a passagem dos cabos elétricos e cabos de
comunicação que conectam todos os aerogeradores do parque eólico com a subestação elétrica.

Ao final da instalação, e durante a operação do parque eólico, quase toda a área do parque eólico,
inclusive em volta dos aerogeradores fica disponível para usos produtivos tais como, agricultura e
pecuária, ou pode-se manter a vegetação nativa.

Os aerogeradores não expelem gases, não utilizam água, não liberam resíduos, não são radioati-
vos, não aquecem o ambiente, apenas emitem um ruído baixo quando estão produzindo energia.
O maior impacto de um parque eólico em operação é o visual, pois os aerogeradores, apesar de
serem pintados na cor branca ou em tons de cinza claro com o objetivo de causar pouca obstrução
visual, em geral não passam desapercebidos em sua vizinhança por causa do seu tamanho.

Outros impactos relacionados com o aspecto visual podem ocorrer caso ocorra algum reflexo de
raios solares nas peças do aerogerador ou caso as pás em rotação produzam sombras a um ob-
servador que recebe luz solar que passa através do rotor do aerogerador.

Os aerogeradores são projetados para uma vida útil de pelo menos 20 anos. Na verdade, vários
aerogeradores estão funcionando a mais de 30 anos, após manutenções e troca de alguns compo-
nentes. A fundação tem uma vida útil muito mais prolongada e poderia, em princípio, ser utilizada
novamente para outro aerogerador no mesmo lugar. Contudo, esta opção é pouco provável por
causa do desenvolvimento de aerogeradores cada vez maiores e melhores. A maioria dos compo-
nentes de um aerogerador pode ser reciclada, as pás e naceles (carenagem) de vibra de vidro, as
peças mecânicas de aço e ferro fundido, os cabos de cobre, os computadores e circuitos eletrôni-
cos.

7.2.1 Impactos ambientais na flora e fauna

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O impacto na flora e fauna dependerá do tipo de vegetação e vida animal que se encontre na área.
A flora pode ser afetada durante a etapa de construção ou por alterações nas condições hidrológicas
devido à presença de fundações, valas de passagem de cabos, acessos novos e sistema de esco-
amento de águas pluviais. No entanto, a experiência tem mostrado que, em condições normais,
este impacto é mínimo.

No que diz respeito à fauna, o maior risco pode estar relacionado à interferência no habitat de pás-
saros e morcegos, e na obstrução de rota migratória de aves. Vários estudos já comprovaram que
na maioria dos casos as aves aprendem a conviver com os aerogeradores e não sofrem impactos
negativos com a presença dos parques eólicos. Os casos de mortalidade de aves e morcegos mais
significativos estão relacionados com choque destes com as pás dos aerogeradores. Acredita-se
que em algumas situações, as pás de um aerogerador atraem insetos que fazem parte da cadeia
alimentar de aves e morcegos.

7.2.2 Propagação do ruído

Os aerogeradores podem produzir dois tipos diferentes de ruído: ruído mecânico/elétrico proveni-
ente do sistema de transmissão de torque e equipamentos elétricos (rolamentos, caixa multiplica-
dora, freios, gerador, transformadores, contactores e motores, sistema hidráulico e outros) e ruído
aerodinâmico, o mais significativo, que surge da rotação do rotor e da interação do vento com a
estrutura. Grande parte do ruído mecânico/elétrico tem sido minimizado mediante isolamento acús-
tico da nacele. Alguns modelos de aerogeradores não utilizam multiplicadores de velocidades, prin-
cipal fonte de ruído mecânico, logo tem o ruído mecânico reduzido.

Existem normas e métodos cuidadosamente descritos de como deve ser medido o ruído produzido
pelos aerogeradores, como os fabricantes devem especificar o ruído, e como calcular as emissões
sonoras de um aerogerador. A unidade Decibel, dB(A), é usada para avaliar e medir a intensidade
sonora. Esta escala é logarítmica, um incremento de 3 dB(A), por exemplo, corresponde ao dobro
da intensidade do som. Uma conversação normalmente tem um nível 65 dB(A), a emissão de um
aerogerador pode variar entre 95 e 105 dB(A) dependendo da velocidade do vento, condições at-
mosféricas e da turbulência local. Aerogeradores não emitem ruídos em frequências fora do espec-
tro da audição humana. Durante o planejamento de um parque eólico é importante fazer uma análise
da emissão de ruído total e verificar se a população vizinha não será afetada.

Tabela 7.1 - Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A)

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7.2.3 Sombras e reflexos

Durante determinados períodos do dia e do ano os aerogeradores podem criar sombras e refle-
xos que poderiam incomodar aos vizinhos se as turbinas estiverem situadas de maneira inapro-
priada com respeito às construções vizinhas.

O problema dos reflexos das pás do rotor tem sido eliminado atualmente, já que as mesmas
possuem um revestimento antirefletivo nos aerogeradores modernos. As sombras rotativas do
rotor podem criar um efeito estroboscópico ao projetar-se sobre uma janela. Tal fato pode cons-
tituir uma desagradável surpresa se o risco não foi considerado com antecedência à montagem
dos aerogeradores.

Quanto mais próximos os aerogeradores estiverem a uma casa o risco de sombras indesejadas
é maior. De qualquer forma, devido a normas de emissão máxima de ruído, a distância mínima
à casa mais próxima é de 6 a 10 diâmetros de rotor. Além disso, as sombras se produzem só
durante alguns momentos do dia, em determinados períodos do ano. A sombra se "diluirá" com
a distância, à medida que a nitidez diminui até que a sombra desaparece por um efeito ótico na
atmosfera. Teoricamente a sombra de uma turbina pode alcançar 4,8 km (um aerogerador com
45 m de diâmetro de rotor), o qual aconteceria ao amanhecer e ao pôr do sol. Uma sombra terá
um alcance máximo de 1,4 km (aerogerador de 2 MW com pás de 2 m de largura), embora os
efeitos se calculem para uma distância de 2 km. A sombra produzida por um aerogerador se
move da mesma maneira que a sombra de um relógio solar: de oeste a leste, desde ao amanhe-
cer até o pôr do sol, passando pelo norte ao meio dia. Como a altura do sol pode ser calculada
com precisão para cada momento do dia e para as distintas latitudes, é possível conhecer com
exatidão o caminho que recorrerá a sombra em qualquer local do parque eólico.

7.2.4 Impacto visual na paisagem

Os aerogeradores são máquinas de grandes dimensões instaladas com torres altas e consequen-
temente têm um impacto visual na paisagem similar ao de outras estruturas, como prédios, chami-
nés, linhas de transmissão, e torres retransmissoras de rádio e televisão. Mas os aerogeradores
também tem rotores que giram o que, comparativamente, representa um impacto visual mais ele-
vado. Deve-se notar, entretanto, que para muitas pessoas a visão de parques eólicos em funciona-
mento é agradável. Alguns vêm os aerogeradores como esculturas que mostram o poder do vento,
ou como uma maneira inteligente, e aceitável, de utilizar a energia que a natureza oferece gratuita-
mente. Outros consideram os aerogeradores como máquinas desagradáveis que transformam a
paisagem em uma área industrial.

É difícil determinar como os aerogeradores afetam a paisagem, já que a experiência indica que o
valor de uma paisagem é subjetivo e pode variar com o passar do tempo. Existem certamente ae-
rogeradores localizados em lugares equivocados, como também há aerogeradores que encaixam
bem na paisagem. Não obstante, é muito difícil formular normas gerais de como posicionar as tur-
binas da melhor forma para encaixar na paisagem.

Por isso, na etapa de planejamento do parque eólico é importante identificar os locais onde os
aerogeradores serão mais visíveis e estimar qual impacto o parque eólico nas vizinhanças. O im-
pacto visual é normalmente estudado com fotomontagens (Figura 7.4). O aerogerador pode ser
visível até cerca de 5 km mas o impacto visual decresce rapidamente com a distância. Em geral um

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aerogerador influencia muito a paisagem em um raio de 10 vezes a altura da torre, ou seja um raio
de 500 metros para um aerogerador com uma torre de 50 m de altura. Mas o tipo de terreno, número
de aerogeradores e o layout do parque eólico tem um papel importante no impacto visual.

Horas de sombra
por ano

Aerogerador

Figura 7.1 - Cálculo de horas/ano de sombra projetada pelas turbinas de um parque eólico conside-
rando o caso mais desfavorável utilizando o software comercial WindPro.

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Figura 7.2 - Localização dos aerogeradores na paisagem.

O tamanho e o número de aerogeradores e sua configuração também influenciam o impacto


visual. A experiência tem demonstrado que é muito difícil para a visão humana distinguir entre
pequenos e grandes aerogeradores. A visão humana interpreta uma diferencia em altura como
uma diferença em distância. As distintas configurações de parques eólicos também são difíceis
de distinguir.

Figura 7.3 - Impacto visual dos aerogeradores.

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Figura 7.4 - Recorte de fotomontagem realizado no software comercial WindPro.

7.3 Legislação ambiental

Toda usina eólica necessita de licenças ambientais para instalação e operação. A legislação ambi-
ental relevante para o desenvolvimento de parques eólicos se encontra estabelecida na resolução
CONAMA 237/1997. A resolução estabelece que a definição dos requisitos e obrigações que serão
necessários para obtenção de licença ambiental, será realizada pelo órgão ambiental competente,
com participação do empreendedor. Estabelece também que o requerimento da licença ambiental
pelo empreendedor deverá estar acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais
pertinentes, dando-se a devida publicidade. O órgão licenciador executará a análise dos documen-
tos, projetos e estudos ambientais e, se necessário, realizará vistorias técnicas e/ou solicitará, uma
única vez, esclarecimentos e complementações para, em seguida, emitir parecer técnico conclusivo
e, quando couber, parecer jurídico; deferindo ou não a licença, com devida publicidade.

As licenças estabelecidas conforme legislações federais pelas resoluções CONAMA 6/1987 e


279/2001 são:
• Licença Previa (LP),
• Licença de Instalação (LI),
• Licença de Operação (LO),
• Licença Simplificada (LS).
• Licença Simplificada (LS).

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CENTRO DE TECNOLOGIAS DO GÁS E ENERGIAS RENOVÁVEIS – CTGAS-ER 107

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