Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JOHN GROTZINGER
TOM JORDAN
Tradutores da 4ª edição
Rualdo Menegat
Professor do Instituto de Geociências/UFRGS
Paulo César Dávila Fernandes
Professor da Universidade do Estado da Bahia
Luís Aberto Dávila Fernandes
Professor do Instituto de Geociências/UFRGS
Carla Cristine Porcher
Professora do Instituto de Geociências/UFRGS
CDU 55
Átomo de carbono
Nuvem eletrônica
Núcleo
Na natureza, os elementos químicos existem como Na reação entre os átomos de sódio (Na) e de clo-
misturas de isótopos e, assim, suas massas atômicas nun- ro (Cl) para formar cloreto de sódio (NaCl), elétrons se
ca são números inteiros. A massa atômica do carbono, por transferem. O átomo de sódio perde um elétron, que o
exemplo, é 12,011. É próxima a 12, porque o isótopo car- átomo de cloro ganha (Figura 3.4a). Um átomo ou grupo
bono-12 é, de longe, muito mais abundante. A abundân- de átomos que tenha carga elétrica, seja positiva ou ne-
cia relativa entre os diferentes isótopos de um elemento gativa, devido à perda ou ganho de um ou mais elétrons
na Terra é determinada por processos que causam o au- é chamado de íon. Como o átomo de cloro recebeu um
mento da quantidade de alguns isótopos em relação aos elétron com carga negativa, tornou-se um íon carregado
⫺
outros. O carbono-12, por exemplo, é favorecido por algu- negativamente (Cl ). Da mesma forma, a perda de um
mas reações, como a fotossíntese, nas quais os compostos elétron dá ao átomo de sódio uma carga positiva, tornan-
⫹
de carbono orgânico são produzidos a partir de compos- do-o um íon de sódio (Na ). O composto NaCl perma-
⫹
tos de carbono inorgânico. nece eletricamente neutro, pois a carga positiva do Na
⫺
é exatamente balanceada pela carga negativa do Cl . Um
íon carregado positivamente é denominado de cátion, e
Reações químicas um íon carregado negativamente é chamado de ânion.
A estrutura de um átomo determina suas reações quí-
micas com os demais. As reações químicas são interações
entre átomos de dois ou mais elementos químicos em Ligações químicas
certas proporções fixas, produzindo compostos químicos. Quando um composto químico é formado por compar-
Por exemplo, quando dois átomos de hidrogênio combi- tilhamento ou transferência de elétrons, os íons ou áto-
nam-se com um de oxigênio, formam um novo composto mos que o compõem são mantidos juntos por atração
químico: a água (H2O). As propriedades de um composto eletrostática entre elétrons com carga negativa e prótons
químico podem ser inteiramente diferentes daquelas dos com carga positiva. As atrações, ou ligações químicas, entre
seus elementos constituintes. Por exemplo, quando um elétrons compartilhados ou elétrons cedidos e ganhos po-
átomo de sódio, um metal, combina-se com um átomo dem ser fortes ou fracas. As ligações fortes impedem que
de cloro, um gás nocivo, forma-se o composto químico a substância decomponha-se nos seus elementos consti-
cloreto de sódio, mais conhecido como sal de cozinha. tuintes ou em outros compostos. Elas também tornam os
Representa-se esse composto pela fórmula química NaCl, minerais duros e impedem que eles se quebrem ou se di-
na qual o símbolo Na refere-se ao elemento sódio e o Cl, vidam em partes. Existem dois principais tipos de ligações
ao cloro. (A cada elemento químico foi atribuído um sím- nos minerais que formam as rochas: as ligações iônicas e
bolo próprio, que se usa à maneira de uma notação taqui- as covalentes.
gráfica, para escrever fórmulas e equações químicas; esses
LIGAÇÕES IÔNICAS A forma mais simples de ligação quí-
símbolos estão na tabela periódica do Apêndice 3.)
mica é a ligação iônica. As ligações deste tipo formam-
Os compostos químicos, como os minerais, são for-
-se pela atração eletrostática entre íons de cargas opostas,
mados por transferências de elétrons entre os átomos ⫹ ⫺
como o Na e o Cl no cloreto de sódio (ver Figura 3.4a),
reagentes ou por compartilhamento de elétrons entre
quando os elétrons são transferidos. Essa atração é exa-
eles. O carbono e o silício, dois dos mais abundantes ele-
tamente do mesmo tipo da eletricidade estática que faz
mentos da crosta terrestre, tendem a formar compostos
com que as roupas de náilon ou de seda fiquem grudadas
por meio de compartilhamento de elétrons. O diamante 2
ao nosso corpo. A força de uma ligação iônica diminui
é um composto formado inteiramente por átomos de car-
muito à medida que a distância entre os íons aumenta e é
bono que compartilham elétrons entre si (Figura 3.3).
mais forte se as cargas elétricas destes forem maiores. As
ligações iônicas são predominantes nas estruturas crista-
Os átomos de carbono, no …que compartilham um linas: cerca de 90% de todos os minerais são compostos
diamante, são dispostos elétron com quatro átomos essencialmente iônicos.
em tetraedros regulares... vizinhos.
LIGAÇÕES COVALENTES Os elementos que não ganham
nem perdem elétrons facilmente para formar íons e que,
ao invés disso, formam compostos por compartilhamento
eletrônico ligam-se uns aos outros por meio de ligações
covalentes, que são, em geral, mais fortes que as ligações
iônicas. Um exemplo de mineral com estrutura crista-
lina ligada por meio de covalência é o diamante, que se
compõe unicamente do elemento carbono. Os átomos de
carbono têm quatro elétrons na camada de valência e ad-
Átomos de carbono
Elétrons quirem mais quatro por compartilhamento. No diamante,
Núcleo cada átomo de carbono é circundado por quatro outros
átomos, dispostos em um tetraedro regular, ou seja, uma
FIGURA 3.3 Alguns átomos compartilham elétrons para for- forma piramidal de quatro faces triangulares (ver Figura
mar ligações covalentes. 3.3). Nessa configuração, cada átomo de carbono compar-
C A P Í T U LO 3 M AT E R I A I S D A T E R R A : M I N E R A I S E R O C H A S 61
(a) Quando o sódio (Na) e o cloro (Cl) reagem, O átomo de cloro adquire aquele elétron.
o átomo de sódio perde um elétron. A atração eletrostática mantém os dois íons juntos.
Na Cl Na Cl
Átomo de sódio Átomo de cloro Íon sódio (⫹) Íon cloreto (⫺)
(1 elétron na camada externa) (7 elétrons na camada externa)
Íon
cloreto Íon
sódio
tilha um elétron com cada um de seus átomos vizinhos, o e as condições em que são formados. Mais adiante, nes-
que resulta em uma configuração muito estável. A Figura te capítulo, veremos de que maneira a estrutura cristalina
3.10 mostra um retículo formado por tetraedros de carbo- dos minerais se manifesta nas suas propriedades físicas.
no ligados entre si.
LIGAÇÕES METÁLICAS Os átomos de elementos metálicos, A estrutura atômica dos minerais
que têm forte tendência a perder elétrons, são empaco- Os minerais formam-se pelo processo de cristalização,
tados como se fossem cátions, e os elétrons, que perma- que é o crescimento de um sólido a partir de um gás ou
necem livres para mover-se, são compartilhados e ficam líquido cujos átomos constituintes agrupam-se segundo
dispersos entre esses cátions. Esse compartilhamento de proporções químicas e arranjos cristalinos adequados
elétrons livres resulta em um tipo de ligação covalente (lembre-se de que os átomos dos minerais são organiza-
chamada de ligação metálica, que ocorre em poucos mi- dos segundo um arranjo tridimensional ordenado). Um
nerais, entre eles, o cobre metálico e alguns sulfetos. exemplo de cristalização são as ligações de átomos de
As ligações químicas de alguns minerais têm caráter carbono do diamante, que é um mineral constituído por
intermediário entre ligações puramente iônicas e pura- ligações covalentes. Sob as altíssimas pressões e tempe-
mente covalentes, pois alguns elétrons são trocados, en- raturas do manto da Terra, os átomos de carbono juntam-
quanto outros são compartilhados. -se em tetraedros, cada qual ligado a outros, constituin-
do uma estrutura tridimensional regular a partir de um
grande número de átomos (ver Figura 3.8). À medida que
A formação dos minerais o cristal de diamante cresce, estende sua estrutura tetra-
édrica em todas as direções, sempre adicionando novos
As formas ordenadas dos minerais resultam das ligações átomos e seguindo um arranjo geométrico próprio. Os
químicas que acabamos de descrever. Os minerais podem diamantes podem ser sintetizados artificialmente a partir
ser estudados segundo dois pontos de vista complemen- do carbono em altas temperaturas e pressões, que repro-
tares: como agrupamentos de átomos submicroscópicos duzem as condições do manto terrestre.
organizados segundo um arranjo tridimensional ordena- Os íons sódio e cloreto, que constituem o cloreto de
do ou como cristais que podem ser vistos a olho nu. Nesta sódio, um mineral cujas ligações são iônicas, também cris-
seção, examinamos as estruturas cristalinas dos minerais talizam segundo um arranjo tridimensional ordenado. Na
62 PA R A E N T E N D E R A T E R R A
Figura 3.4b, podemos ver como é a geometria desse agru- do segundo em muitas estruturas cristalinas. Neste caso, a
pamento, onde cada íon de um elemento é circundado diferença de carga entre o alumínio (3⫹) e o silício (4⫹) é
por seis íons do outro, formando uma série de estruturas compensada pelo aumento do número de outros cátions,
cúbicas que se estendem em três direções. Podemos assim como o sódio (1⫹).
considerar os íons como se fossem esferas rígidas, em-
pacotadas em conjunto e formando unidades estruturais
que se ajustam precisamente. A Figura 3.4b também mos- A cristalização de minerais
tra as dimensões relativas dos íons no NaCl. Os tamanhos A cristalização começa com a formação de cristais mi-
relativos dos íons sódio e cloreto permitem que eles se croscópicos individuais, que são arranjos tridimensionais
encaixem em um arranjo precisamente ajustado. ordenados de átomos, nos quais o arranjo básico repete-
Nos minerais mais comuns, a maioria dos cátions é -se em todas as direções. Os limites dos cristais são su-
relativamente pequena e a dos ânions é grande (Figura perfícies planas chamadas de faces cristalinas (Figura 3.6).
3.5), como é o caso do ânion mais comum na Terra, o oxi-
2⫺
gênio (O ). Como os ânions tendem a ser maiores que
os cátions, a maior parte do espaço de um cristal é ocupa-
da por ânions, e os cátions ocupam os espaços entre es-
tes. Como consequência, as estruturas cristalinas são em
grande parte determinadas pela forma como os ânions
estão dispostos e pela maneira como os cátions se colo-
cam entre eles.
Os cátions com tamanhos e cargas semelhantes ten-
dem a substituir-se mutuamente e formar compostos de
mesma estrutura cristalina, mas com composições quími-
cas diferentes. A substituição catiônica é comum em mine-
4⫺
rais contendo o íon silicato (SiO4 ), e esse processo pode
ser ilustrado pela olivina, um mineral do tipo silicato que
é abundante em muitas rochas vulcânicas. Os íons ferro
2⫹ 2⫹
(Fe ) e magnésio (Mg ) têm tamanhos semelhantes e
duas cargas positivas, podendo então substituir-se mutu-
amente com muita facilidade na estrutura da olivina. A
composição da olivina puramente magnesiana é Mg2SiO4,
e a da olivina puramente ferrífera é Fe2SiO4. A compo-
sição da olivina contendo ferro e magnésio é dada pela
fórmula (Mg,Fe)2SiO4, o que significa simplesmente que
o número de cátions de ferro e de magnésio pode variar,
mas seu total combinado (expresso pelo número 2 na fór-
4⫺
mula da olivina) não muda em relação a cada íon SiO4 .
A proporção entre ferro e magnésio é determinada pela
3
abundância relativa dos dois elementos no material fun-
dido a partir do qual a olivina cristalizou-se. Da mesma FIGURA 3.6 Cristais de ametista e quartzo, crescendo sobre
3⫹ 4⫹
forma, o alumínio (Al ) substitui o silício (Si ) em mui- cristais de epídoto (verde). As superfícies planas são faces cris-
tos minerais silicáticos. Os íons alumínio e silício são tão talinas e refletem a estrutura atômica interna do mineral. [John
similares em tamanho que o primeiro pode tomar o lugar Grotzinger/Ramón Rivera-Moret/Harvard Mineralogical Museum]
C A P Í T U LO 3 M AT E R I A I S D A T E R R A : M I N E R A I S E R O C H A S 63