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MICROBIOLOGIA

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EAD

EDIÇÃO: DEZEMBRO/2020
SUMÁRIO

UNIDADE 01 - MORFOLOGIA, CITOLOGIA E FISIOLOGIA DO CRESCI-


MENTO BACTERIANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................05
INTRODUÇÃO.......................................................................................06

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1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS SERES PROCARIOTOS.....................06
2. MORFOLOGIA BACTERIANA...........................................................07
3. CITOLOGIA BACTERIANA................................................................08
3.1 Componentes externos à parede celular........................................09
3.2 Parede celular................................................................................11
3.3 Componentes internos à parede celular.........................................13
4. CRESCIMENTO E CULTIVO BACTERIANO.........................................15
4.1 Ciclo celular...................................................................................15
4.2 Fatores que afetam o crescimento microbiano...............................15
4.3 Cultivo microbiano........................................................................18
4.4 Curva de crescimento microbiano..................................................21
4.5 Mensuração do crescimento microbiano.......................................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................25

UNIDADE 02 - DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS DE INTERESSE


MÉDICO E FÁRMACOS ANTIBACTERIANOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM..........................................................26
INTRODUÇÃO.......................................................................................27
1. ASPECTOS GERAIS DAS DOENÇAS..................................................27
2. DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS DE INTERESSE MÉDICO E SEUS
MECANISMOS DE PATOGENICIDADE..............................................30
2.1 Bacilos Gram-Positivos...................................................................31
2.2 Bacilos Gram-Negativos.................................................................34
SUMÁRIO

2.3 Cocos Gram-Positivos....................................................................37


2.4 Cocos Gram-Negativos...................................................................39
3. AGENTES ANTIMICROBIANOS........................................................40
3.1 Fármacos que inibem a síntese de parede celular..........................41

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3.2 Fármacos que inibem a síntese proteica.........................................43
3.3 Fármacos que inibem a síntese de ácidos nucleicos.......................44
3.4 Fármacos que inibem vias metabólicas..........................................45
3.5 Fármacos que causam danos à membrana plasmática...................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................45

REFERÊNCIAS.......................................................................................47
UNIDADE

01
MORFOLOGIA,
CITOLOGIA E
FISIOLOGIA DO CRES-
CIMENTO BACTERIANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

» Identificar as características morfológicas e citológicas das bactérias;

» Analisar a fisiologia e os fatores que interferem no crescimento microbiano;

» Identificar as características dos meios de cultura empregados em laboratório e


os métodos de quantificação microbiana.

VÍDEOS DA UNIDADE

http://bit.ly/38f7UQy http://bit.ly/38ht7JJ http://bit.ly/2KYg334


INTRODUÇÃO
O termo microbiologia tem origem grega: mikros (“pequeno”), bios (“vida”) e logos (“ciência”).
Nessa área, as características morfológicas, a organização espacial, a estrutura, as características

UNIDADE 01
bioquímicas, a reprodução dos micro-organismos, bem como a relação desses seres com o meio
ambiente e com os seres humanos são estudadas.
Quando você pensa em uma bactéria, qual é a primeira coisa que vem à sua mente? Para mui-
tas pessoas os micro-organismos são “ruins”, porque causam muitas doenças – inclusive fatais – ou
porque eles estragam os alimentos, por exemplo. No entanto, a microbiologia também se faz pre-
sente de forma muito positiva em nossas vidas, como é caso das bactérias empregadas no setor de

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alimentos nos processos fermentativos (ex.: produção de iogurtes), na produção de combustíveis
(ex.: produção de etanol a partir da cana-de-açúcar) e na proteção do nosso corpo pela microbiota
intestinal. Nesse sentido, estudar microbiologia é algo muito entusiasmante e importante, pois ela
está presente no nosso dia a dia desde quando nascemos.
Nesta Unidade iremos compreender as características gerais das bactérias em termos de mor-
fologia e organização, atributos esses que podem ser utilizados para presumir qual o possível agen-
te de uma infecção antes mesmo que uma espécie seja identificada. Além disso, vamos estudar
quais são os componentes encontrados nessas células na seção “Citologia Bacteriana”. Veremos,
por exemplo, que uma estrutura chamada pili permite que determinadas bactérias troquem genes
(ex.: genes que conferem resistência a antibióticos) umas com as outras.
Um outro ponto muito importante que iremos explorar nesta Unidade inclui a forma como os
micro-organismos podem ser cultivados em laboratório e quais são os fatores influenciadores/
necessários para o crescimento desses organismos. Nós, seres humanos, precisamos de oxigênio,
por exemplo. Será que as bactérias também precisam? Além disso, estudaremos como os micro-
-organismos podem ser quantificados em laboratório, verificando que diversos métodos diretos e
indiretos de mensuração são empregados na rotina da microbiologia.

1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS SERES


PROCARIOTOS
As células são basicamente classificadas em dois grandes grupos: as células eucariontes e as célu-
las procariontes, as quais se diferenciam, principalmente, em termos estruturais, já que quimicamen-
te esses dois grupos são muito parecidos. As células animais e vegetais, por exemplo, fazem parte do
grupo dos seres eucariontes. As bactérias, por outro lado, são células procariontes e, por esta razão,
iremos ressaltar as características desse grupo nesta Unidade (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012).

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Via de regra, os procariotos são menores, mais simples e caracterizados pela escassez de mem-
branas. Nessas células o material genético não está compartimentalizado por um envoltório e
também não são observadas organelas revestidas por membranas. Como veremos adiante, o que
geralmente se observa nas bactérias é presença de uma única a membrana: a membrana celular.
Além disso, o DNA das células procariontes não está associado a proteínas histonas, com ocorre

UNIDADE 01
nas células eucarióticas.
Como mencionado anteriormente, as células procarióticas são menores do que as células euca-
rióticas. Na verdade, a maioria das bactérias são muito, muito diminutas e, portanto, são mensu-
radas em uma escala de medida muito menor do que aquela que estamos acostumados no nosso
dia a dia. A unidade utilizada é o micrômetro (µm), o que equivale a 0,000001 metros. De modo
geral, as bactérias apresentam entre 0,2 a 2,0 µm e 2 a 8 µm de diâmetro e de comprimento,

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respectivamente, fazendo com que elas possam ser observadas por meio de equipamentos de
ampliação – os microscópios.

2. MORFOLOGIA BACTERIANA
Embora sejam todas organismos microscópicos, as bactérias são muito diversificadas e podem
ser agrupadas por meio de muitos esquemas. Elas são classificadas tanto em função de sua forma
(morfologia) quanto do seu arranjo (organização espacial). Com relação à forma, existem três va-
riações principais: os cocos, os bacilos e os espirais.
Os cocos são caracterizados por células esféricas ou parcialmente esféricas – salvo algumas
ligeiras variações (ex.: ovais), as quais arranjam-se, principalmente, como: i) diplococos (pares de
células); ii) estreptococos (na forma de cadeia/colar de pérolas); iii) tétrades (grupos de quatro
células; iv) sarcinas (cubos de oito células); e v) estafilococos (forma irregular ou com aspecto de
cachos de uva). Já os bacilos são células que se assemelham a cilindros ou bastões e podem se
apresentar tanto na forma de diplo como estreptobacilos. As bactérias em formato de espiral in-
cluem os vibriões (semelhantes a bastões curvos ou uma “vírgula”) e os espirilos e espiroquetas,
que se apresentam ao formato helicoidal.
É interessante destacar que muitas vezes as características morfológicas acabam participando
da nomenclatura de determinadas espécies. Sobre isso, podemos mencionar alguns exemplos de
bactérias que estão associadas à condições clínicas familiares para muitos de nós, como é o caso
de: Streptococcus pneumoniae (diplococos envolvidos em casos de pneumonia); Streptococcus
pyogenes (cocos Gram-positivos arranjados em cadeias e relacionados com infecções de gargan-
ta); Staphylococcus aureus (cocos Gram-positivos envolvidos, por exemplo, com casos de intoxica-
ção alimentar pela produção de toxinas); Vibrio cholerae (vibrião causador da cólera); e Trepone-
ma pallidum (uma espiroqueta responsável pela sífilis).

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SAIBA MAIS
Embora a sífilis seja uma infecção sexualmente transmissível (IST), ela pode ser transmitida por
outras vias, como pela via transplacentária para o feto ou para o recém-nascido durante a passa-

UNIDADE 01
gem do bebê pelo canal de parto.

A Figura 1 ilustra as principais formas e arranjos das bactérias discutidos até o momento.

FIGURA 1 - PRINCIPAIS MORFOLOGIAS BACTERIANAS

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COCOS BACILOS OUTROS
Estreptococos

Vibriões
Diplococos
Cadeia de bacilos
Tétrade

Espirilos
Bacilos flagelados

Estafilococos Sarcina Bacilos esporulados Espiroquetas

Além das formas mencionadas, existem outras que são menos comuns, como as bactérias que
se apresentam com aspecto estrelado, triangular, retangular, apendicular (estrutura de tubos com
pedúnculos) e filamentosas.

3. CITOLOGIA BACTERIANA
Além da morfologia estudada anteriormente, as características e as funções das estruturas que
compõem uma célula bacteriana são muito importantes. Como veremos adiante, muitas dessas
estruturas são implicadas na patogenia de certas bactérias ou, em muitos casos, podem ser alvos
de fármacos. Nesse sentido, o estudo dos componentes celulares será abordado nesta Unidade a
partir dos componentes externos à parede celular, seguindo com o estudo da parede celular pro-
priamente dita e, por último, com o estudo das estruturas internas à parede celular.

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A Figura 2 mostra as principais estruturas que podem ser encontradas em procariotos.

FIGURA 2 - ESTRUTURA DE UMA CÉLULA PROCARIÓTICA


Fímbria
Ribossomo Plasmídeo

UNIDADE 01
Cromossomo
Cápsula

Membrana
externa

Espaço Flagelo
periplasmático

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Membrana interna

Parede celular Citoplasma Píli Mesossomo

3.1 COMPONENTES EXTERNOS À PAREDE CELULAR


Com relação aos componentes externos à parede, eles podem ou não ser encontrados nas
células bacterianas, em função das características genéticas ou da própria espécie, e incluem: o
glicocálice; os flagelos e filamentos axiais; e as fimbrias e pili.

3.1.1 GLICOCÁLICE
Embora a maioria das células procarióticas possuam parede celular, algumas podem ter estru-
turas adicionais compostas por carboidratos e/ou proteínas localizadas na superfície externa da
parede celular: o glicocálice. Essas substâncias são secretadas pelo próprio micro-organismo e
podem assumir duas formas. Uma delas está frouxamente aderida à parede e pode ser removida
com mais facilidade, recebendo o nome de camada viscosa. A segunda forma se refere a uma ca-
mada mais organizada e firmemente aderida à parede celular e recebe o nome cápsula.
O glicocálice está relacionado com a adesão das células bacterianas à diversas superfícies, au-
xiliando na formação de biofilmes. Os biofilmes são definidos como comunidades microbianas
aderidas a uma superfície – biótica ou abiótica – e embebidas em uma matriz de substâncias po-
liméricas extracelulares, a qual é formada essencialmente pelo acúmulo de glicocálice. Sugere-se
que a maioria dos micro-organismos seja encontrado na natureza na forma de biofilmes, uma vez
que a forma de vida séssil (aderida) oferece diversas vantagens às células microbianas. A principal
delas é a resistência à dessecação e aos agentes antimicrobianos. Relatos da literatura mostram
que as bactérias em biofilmes chegam a ser mil vezes mais resistentes a determinado agente an-
timicrobiano quando comparadas à suas células análogas na forma de vida livre (QI et al., 2016).
Além disso, a capacidade de produzir cápsula pode contribuir para a patogenicidade de certas
bactérias, uma vez que essa estrutura confere resistência à fagocitose pelas células de defesa do

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hospedeiro. Como discutido anteriormente, S. pneumoniae é uma bactéria relacionada com o
desenvolvimento de pneumonia. No entanto, a capacidade de causar a doença só é observada
quando essa célula apresenta cápsula, uma vez que, na ausência dessa estrutura, as bactérias são
eliminadas pelo sistema imune do indivíduo.

UNIDADE 01
3.1.2 FLAGELOS E FILAMENTOS AXIAIS
Os flagelos são filamentos espirais formados pela polimerização de uma proteína chamada flageli-
na e funcionam como como hélices para a movimentação celular em ambientes aquosos. Uma região
denominada gancho conecta o filamento ao corpo basal, o qual está ancorado na membrana e parede
celular e gira em torno do seu eixo, funcionando, assim, como o motor para propulsão das células.
Diferentes tipos de bactérias móveis exibem diferentes arranjos de flagelos. Quando um único

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flagelo é encontrado em uma das extremidades de uma célula, esse flagelo é chamado de mono-
tríqueo e polar, observado em V. cholerae, por exemplo. As células com flagelo anfitríqueo têm
um flagelo ou uma porção de flagelos nas suas extremidades, como ocorre na bactéria Spirillum
minus, encontrada na saliva de ratos e causadora do sodoku ou febre por mordida de rato. Células
com flagelo lofotríqueo têm uma porção de flagelos em uma extremidade da célula, como ocorre
no bacilo Gram-negativo Pseudomonas aeruginosa, um patógeno oportunista conhecido por cau-
sar muitas infecções, incluindo a orelha de nadador e infecções em queimaduras. Por último, nos
casos em que os flagelos estão distribuídos por toda a superfície da célula, eles recebem o nome
de flagelos peritríqueos e são observados, por exemplo, na bactéria Escherichia coli.
Como já comentado, os flagelos atuam como estruturas propulsoras, permitindo que as bacté-
rias se movam em resposta a uma variedade de sinais ambientais, incluindo luz (fototaxia), campos
magnéticos (magnetotaxia) e, mais comumente, gradientes químicos (quimiotaxia), tanto em dire-
ção a um atrativo (fonte de alimento) ou para longe de um repelente (compostos tóxicos).
Os filamentos axiais são observados em espiroquetas (ex.: Leptospira interrogansi, agente cau-
sador da leptospirose) e, de modo geral, apresentam estrutura semelhante ao flagelo descrito
anteriormente. No entanto, os filamentos axiais permanecem entre a parede celular e a membra-
na externa. Ou seja, ficam envolvidos pela membrana externa. Por esse motivo, essas estruturas
também recebem o nome de endoflagelos, considerados importantes para a movimentação de
espiroquetas nos tecidos e fluidos biológicos.

3.1.2 FÍMBRIAS E PILI


As fímbrias e o pili são estruturalmente semelhantes e, como a diferenciação entre os dois
pode ser complexa, esses termos são frequentemente usados de forma intercambiável. O termo
fímbria geralmente se refere a proteínas curtas do tipo cerdas que se projetam da superfície ce-
lular em centenas de unidades. Essas estruturas permitem que uma célula consiga se fixar umas
às outras ou às superfícies, contribuindo tanto para a adesão em tecidos biológicos quanto para
formação de biofilmes.
O termo pili geralmente se refere a apêndices proteicos mais longos e menos numerosos (uma
ou duas unidades por célula), que auxiliam tanto na movimentação celular pelo mecanismo de

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translocação e mobilidade por deslizamento quanto na troca de material genético. Neste último
caso, o pili é chamado de sexual ou de conjugação e permite o contato físico entre duas células
para que genes de resistência, por exemplo, sejam compartilhados.

UNIDADE 01
3.2 PAREDE CELULAR
Quase todos os gêneros bacterianos têm uma parede celular que circunda a célula. Uma das
exceções são as espécies do gênero Mycoplasma que perderam suas paredes celulares, mas que
representam uma minoria de bactérias, uma vez que a parede celular confere diversas vantagens
às células que a possuem.

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A parede celular é uma estrutura rígida e porosa cuja função central é manter a forma da célula
e evitar a ruptura celular (lise) por pressão osmótica. O principal componente da parede celular é
o peptideoglicano. A porção “glicana” se dá por unidades alternadas de ácido N-acetilglicosamina
(NAG) e ácido N-acetilmurâmico. A porção “peptídica” da parede celular é formada por uma ca-
deia curta de aminoácidos e promove a conexão entre as cadeias polissacarídicas. Essas cadeias
peptídicas ainda podem interagir paralelamente umas com as outras por meio de ligações cruza-
das. Tais ligações são o alvo de ação das penicilinas.
Como você pode ter notado, os termos Gram-positivo e Gram-negativo foram empregados
em alguns momentos do texto, pois esse é um modo pelo qual os microbiologistas distinguem as
bactérias em dois principais grupos. Essa classificação se dá em função da reação que algumas
bactérias têm diante da técnica de coloração de Gram, a qual tem a parede celular como ponto
central. Antes de entendermos os princípios da coloração de Gram, vamos explorar as principais
diferenças entre as bactérias Gram-positivas e as Gram-negativas.
Nas bactérias Gram-negativas, a parede celular é formada por uma única camada de peptideo-
glicano e é cercada por uma membrana celular chamada de membrana externa. Embora a parede
celular das bactérias Gram-negativas seja menos compacta e mais fina (~10 nm de espessura)
do que a das bactérias Gram-positivas, essa parede ainda confere forma e proteção às células.
A membrana externa das bactérias Gram-negativas apresenta, além de fosfolipídios e proteínas,
lipopolissacarídeos (LPS).
O LPS tem importância tanto clínica como laboratorial e é formado por três porções: i) o lipí-
deo A; ii) o polissacarídeo O; e III) o cerne polissacarídeo. O lipídeo A – também conhecido como
endotoxina – pode ser liberado após a lise bacteriana, causando diversos sintomas no hospedeiro,
como febre, vasodilatação e choque. Já o polissacarídeo O é usado laboratorialmente para soroti-
pificação de algumas bactérias, como, por exemplo, de E. coli O157:H7 – um patógeno relacionado
a diversos surtos de doenças transmitidas por alimentos no mundo todo.
Por outro lado, a parede celular das bactérias Gram-positivas é mais espessa (até 80 nm). Esse
grupo de bactérias não possui uma membrana externa envolvendo a parede celular, mas apresen-
ta moléculas inseridas perpendicularmente às camadas de peptideoglicano, chamadas de ácidos
teicoicos. Essas moléculas são exclusivas das bactérias Gram-positivas e estão relacionadas com a
carga negativa superficial e a assimilação de cátions (ex.: Mg2+ e Ca2+) da célula.

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A Figura 3 apresenta um esquema da estrutura das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas.

FIGURA 3 - ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR BACTERIANA

BACTÉRIA GRAM-NEGATIVA BACTÉRIA GRAM-POSITIVA

UNIDADE 01
Lipoproteína Porinas Ácido teicoico Ácido lipoteicoico
Lipopolissacarídeos

Membrana externa Peptideoglicano

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Peptideoglicano
Membrana
Membrana interna citoplasmática

Proteína de membrana
Proteína de membrana

Helicobactéria Estafilococos

Estrutura da parede celular de uma bactéria Gram-negativa (à esquerda; com peptideoglicano delgado e presença
de membrana externa) e de uma Gram-positiva (à direita; com parede celular espessa, ausência de membrana exter-
na e presença de ácidos teicoicos.

3.2.1 COLORAÇÃO DE GRAM


Agora que já estudamos as características das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, va-
mos estudar um pouco sobre a técnica de coloração que deu nome a esses dois grupos.
A coloração de Gram foi descrita pelo cientista Hans Christian Gram, em 1884, e consiste na
aplicação de uma sequência de corantes sobre uma lâmina contendo uma amostra bacteriana
previamente fixada em uma lâmina de vidro. A primeira etapa da técnica se dá pela aplicação do
corante cristal violeta, que detecta e cora o peptideoglicano de ambas as bactérias Gram-positi-
vas e Gram-negativas em roxo. No próximo passo, o lugol (uma solução a base de iodo) é aplicada
sobre a amostra para promover a fixação da cor roxa. No terceiro estágio da técnica, a amostra
é lavada com uma solução de álcool-acetona que promove efeitos distintos em Gram-positivas e
Gram-negativas. Em Gram-positivas, o etanol promove redução da permeabilidade da parede ce-
lular ao cristal violeta, fazendo com que esse corante fique aderido às células. Por outro lado, nas
bactérias Gram-negativas, o álcool destrói a membrana externa e promove a formação de orifícios
na parede fina de peptideoglicano, permitindo que o corante roxo seja perdido e as células se
tornem incolores. Na última etapa, as células são coradas com um corante de fundo chamado fuc-
sina, fazendo com que as bactérias Gram-negativas (anteriormente incolores) assumam a cor rosa,
enquanto as Gram-positivas permanecem roxas, pois a cor rosa não sobrepõe a cor roxa (Figura 4).

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FIGURA 4 - BACTÉRIAS CORADAS PELO GRAM

UNIDADE 01
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Exemplo de bacilos Gram-negativos (rosa, à esquerda) e cocos Gram-Positivos (roxo, à direita).

É valido ressaltar que a coloração de Gram tem importância médica, tendo em vista que esse
é, quase sempre, o primeiro passo na identificação de um micro-organismo a partir de amostras
biológicas em laboratórios de análises clínicas. Isso permite que o clínico monitore/trate infecções
graves antes mesmo de os resultados definitivos (cultura) serem liberados.

3.3 COMPONENTES INTERNOS À PAREDE CELULAR


Já tratamos dos componentes que podem ser encontrados externamente à parede celular, bem
como das características e funções da parede celular propriamente dita; agora, iremos estudar
os componentes internos à parede celular. Veremos que todas essas estruturas são comuns para
ambas as bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas. Nesta seção, estudaremos a membrana
plasmática, o citoplasma, o nucleoide, os ribossomos e as inclusões.

3.3.1 MEMBRANA PLASMÁTICA


A membrana plasmática é uma bicamada fosfolipídica que envolve completamente uma célula
bacteriana, separando o conteúdo interno da célula (citoplasma) do ambiente externo. O termo
completamente é importante, porque qualquer quebra na bicamada provoca a morte das bacté-
rias. Na verdade, alguns dos produtos de limpeza antibacterianos comuns na nossa rotina diária
matam as bactérias destruindo ou lesionando a membrana celular.
Estruturalmente, a membrana é formada por fosfolipídios e, portanto, possui uma porção hidro-
fílica (grupo fosfato e glicerol; solúveis em água) e outra hidrofóbica (ácidos graxos; insolúveis em
água). Os componentes hidrofílicos alinham-se na superfície externa e interna da membrana, ficando
em contato com o ambiente externo e com o conteúdo interno da célula – o citoplasma. A porção
hidrofóbica orienta-se para o interior da bicamada, estabilizando e contribuindo para a estrutura.
A estrutura da membrana plasmática é frequentemente descrita em termos de modelo de mo-
saico fluido, que se refere à capacidade dos componentes de se moverem fluidamente dentro do
plano da membrana, bem como em razão da composição dos componentes em mosaico, incluindo
os próprios fosfolipídios e outros componentes, como as proteínas.

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As proteínas da membrana plasmática são essenciais para uma variedade de funções, como na
comunicação célula-célula, na detecção de condições ambientais, podendo atuar como fatores de
virulência e, ainda, estão relacionadas com o transporte de componentes através da membrana.
Na verdade, uma das principais funções da membrana celular é funcionar como uma barreira se-
letiva, elegendo quem deve ser transportado para dentro ou para fora da célula.

UNIDADE 01
Esse transporte de componentes através da membrana é influenciado por diversos fatores e
pode ser separado em dois tipos: em um deles não há gasto de energia (ATP; adenosina trifosfato)
e, no outro, o gasto de energético é necessário. O primeiro é chamado de transporte passivo,
pois ocorre a favor de um gradiente de concentração (ou seja, as moléculas se movem de um local
mais concentrado para outro menos concentrado). O transporte passivo pode ocorrer por três
vias, a saber: difusão simples, difusão facilitada e osmose. Já o transporte ativo ocorre contra um

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gradiente de concentração e, portanto, depende tanto do gasto de energia quanto do auxílio de
proteínas transportadoras imersas na membrana plasmática.
3.3.2 CITOPLASMA
Vimos anteriormente que a membrana plasmática é responsável por separar o citoplasma do
ambiente externo.
Mas o que é o citoplasma? Ele é uma substância semelhante a um gel, formada de água e
componentes químicos necessários para o crescimento microbiano. Esses componentes incluem
proteínas, carboidratos, sais minerais, vitaminas, entre outros.
3.3.3 NUCLEOIDE
O nucleoide é a região que contém o material genético da bactéria na forma de DNA. Algum
DNA pode ser encontrado em outras seções da célula, mas o material primário está presente no
nucleoide. De modo geral, o DNA bacteriano se apresenta como uma fita dupla longa e contínua,
a qual assume, na maioria dos casos, formato circular.
3.3.4 RIBOSSOMOS
Os ribossomos são estruturas localizadas no citoplasma bacteriano. É o local onde a tradução
de RNA mensageiro (RNAm) ocorre e, portanto, é considerada a fábrica de produção proteica.
O ribossomo consiste em duas subunidades: uma 30S e outra 50S. A junção dessas unidades for-
ma o ribossomo 70S, que difere do ribossomo 80S encontrado em células eucarióticas animais. Essa
diferença é explorada pela indústria farmacêutica no desenvolvimento de fármacos antibióticos que
atuam especificamente nos ribossomos 70S. Por serem específicos para os ribossomos bacterianos,
esses medicamentos inibem a síntese proteica apenas das bactérias e não dos seres humanos.
3.3.5 INCLUSÕES
Como organismos unicelulares que vivem em ambientes instáveis, algumas células proca-
rióticas têm a capacidade de armazenar excesso de nutrientes em estruturas citoplasmáticas
chamadas inclusões. Vários tipos de inclusões armazenam glicogênio e amidos e, portanto, atu-
am como fonte de carbono (energia). Algumas bactérias, como Corynebacterium diphtheriae
(agente etiológica da difteria), possuem grânulos de volutina, a qual armazena fosfato que pode

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ser utilizado para o metabolismo celular (ex.: síntese de membrana celular). Certas bactérias fo-
tossintéticas aquáticas possuem vacúolos de gás, que auxiliam na flutuação bacteriana em locais
de maior exposição aos raios solares.

UNIDADE 01
4. CRESCIMENTO E CULTIVO BACTERIANO
Nos tópicos anteriores, estudamos os aspectos morfológicos e citológicos das bactérias. Agora
iremos compreender como esses micro-organismos crescem (sinônimo de multiplicação, em mi-
crobiologia), ou seja, o processo pelo qual uma célula torna-se duas, e também veremos que esse

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processo pode ser influenciado por diversos fatores. Além disso, verificaremos que as bactérias
podem ser cultivadas em laboratório por meio do uso de meios de cultura e que podem ser quan-
tificadas por diversos métodos.

4.1 CICLO CELULAR


A fissão binária é o mecanismo mais comum do crescimento populacional de bactérias. Antes
da divisão propriamente dita, ocorre o aumento dos constituintes celulares e, na sequência, ob-
serva-se a replicação do DNA bacteriano. Posteriormente, a formação de um septo indica o local
de “separação”, onde duas células filhas que receberam uma cópia do cromossomo são formadas
e podem existir de forma independente.
Diversos reguladores estão envolvidos no processo de divisão celular; entre eles, as proteínas
Fts (filamentous temperature senstive) são consideradas essenciais. Esse grupo de proteínas for-
ma o aparelho chamado de divissomo, o qual apresenta proteínas importantes para a síntese de
peptideoglicano e é responsável pela formação de um anel na região central da célula que define
o local de formação do septo. Esse local de formação do septo é determinado pela presença de
outro grupo de proteínas, chamado de proteínas Min.
É válido pensar que esse processo de formação de duas células demande um certo tempo, não
é mesmo? Em microbiologia, o termo utilizado para esse assunto é o tempo de geração, que indi-
ca o tempo que uma população leva para dobrar de tamanho a partir de um ciclo de fissão binária.
Interessantemente, esse tempo é extremamente variável. Enquanto a população de E. coli pode
dobrar em menos de 20 minutos em condições ideais de laboratório, Mycobacterium tuberculosis,
o agente causador da tuberculose, tem um tempo de geração de aproximadamente 20 horas.

4.2 FATORES QUE AFETAM O CRESCIMENTO MICROBIANO


Além dos reguladores mencionados, outros fatores de natureza física e química são importan-
tes e serão estudados na sequência.

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4.2.1 TEMPERATURA
A temperatura é considerada um dos principais fatores que interferem no crescimento micro-
biano e, inclusive, é uma das condições controladas em laboratórios de microbiologia para favo-
recer o crescimento bacteriano. Isso ocorre porque os micro-organismos apresentam temperatu-
ra ótima, mínima e máxima de crescimento. A temperatura ótima é aquela na qual a população

UNIDADE 01
cresce melhor (mais rápido), ou seja, é a temperatura ideal de crescimento. Já as temperaturas
mínimas e máximas representam a menor e maior temperatura, respectivamente, na qual o mi-
cro-organismo pode crescer.
Considerando o crescimento em função da temperatura, as bactérias podem ser classificadas
em três grupos, a saber: pscicrófilas, mesófilas e termófilas.

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As bactérias pscicrófilas são aquelas que têm preferência por temperaturas mais baixas para seu
crescimento, apresentando temperatura mínima de crescimento de 0 ºC, enquanto as temperatu-
ras ótima e máxima são de 15 e 25 ºC. Existe ainda um subgrupo de bactérias que crescem em tem-
peraturas mais baixas, chamadas de psicrotróficas. Estas também crescem a 0 ºC, mas apresentam
temperatura ótima mais elevada (20-30 ºC) e não suportam temperaturas próximas a 40 ºC.

REFLITA
Você sabe por que os alimentos perecíveis precisam ser armazenados na geladeira?
A temperatura de refrigeração é inferior à temperatura ótima de crescimento da maioria dos
micro-organismos deteriorantes. Nesse sentido, a taxa de multiplicação microbiana é menor e,
assim, o alimento demora mais para estragar.

Por outro lado, as bactérias mesófilas são aquelas que têm temperatura ótima de crescimento
entre 25 e 40 ºC. Nesse grupo se encontra a maioria das bactérias patogênicas de seres humanos
(ex.: Salmonella sp.), uma vez que elas se adaptaram para crescerem melhor na temperatura do
nosso corpo (~37 ºC).
Por último, o grupo das termófilas abarca as bactérias que crescem em temperaturas elevadas.
Nesse caso, as temperaturas ótimas de crescimento variam de 50 a 60 ºC, enquanto em tempera-
turas inferiores a 40 ºC, o crescimento dessas bactérias não é observado. As termófilas são ampla-
mente distribuídas em fontes termais, solos geotérmicos e ambientes de decomposição. Alguns
micro-organismos ainda são passíveis de crescimento em temperaturas superiores a 80 ºC e, nesse
caso, são chamados de hipertermófilos ou termófilos extremos.

4.2.2 PH
Outra condição muito importante que interfere no crescimento microbiano é o pH do meio.
Assim como a temperatura, os micro-organismos também apresentam condições de acidez, neu-
tralidade ou alcalinidade que são favoráveis para o seu crescimento.

16
O pH ótimo de crescimento é aquele mais favorável para a multiplicação de um micro-organis-
mo. O menor valor de pH que um organismo pode tolerar é chamado de pH mínimo de crescimen-
to, ao passo que o valor mais elevado no qual o crescimento microbiano pode ocorrer é chamado
de pH máximo de crescimento.

UNIDADE 01
De modo geral, a maioria das bactérias se desenvolve bem em condições de pH entre 6,5 e 7,5 –
ou seja, próximos à neutralidade. Normalmente valores de pH inferiores a 4,0 inibem a multiplica-
ção microbiana. Por esse motivo, o pH baixo do nosso estômago (~1,5 a 2,0) pode funcionar como
um fator de proteção para possíveis patógenos, como é caso da Salmonella sp, que apresenta pHs
ótimo e mínimo de crescimento de 7,0 e 4,0, respectivamente.
Outras bactérias, por outro lado, são mais resistentes a condições de pH baixo de <5,5 e são cha-

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madas de acidófilas. Um bom exemplo são espécies do gênero Lactobacillus que fazem parte da
microbiota vaginal. Essas bactérias toleram ambientes ácidos (pH 3,5) e ainda contribuem para ma-
nutenção do pH baixo da vagina, por meio da produção de ácido lático durante seu metabolismo.
Os fungos e as leveduras também toleram condições de pH ligeiramente ácidas (pH 5,0-6,0). Esse
é um dos motivos pelos quais alimentos ácidos, como extrato de tomate, por exemplo, são mais
facilmente contaminados por esses micro-organismos quando estão armazenados sob refrigeração.
Também existem bactérias que sobrevivem em condições de pH elevados, ou seja, em ambien-
tes alcalinos. Esses micro-organismos são chamados de alcalíficos. A bactéria que causa a cólera
– V. cholerae –, por exemplo, cresce em condições relativamente básicas (pH ~8,0), mas tem seu
crescimento inibido em condições ácidas.

4.2.3 PRESSÃO OSMÓTICA


Normalmente se observa que a concentração de solutos no ambiente intracelular é maior do
que aquela observada nos ambientes naturais extracelulares. Essa diferença de pressão osmótica
é contornada pela parede celular rígida. Por outro lado, quando a concentração de solutos no am-
biente externo é muito grande (hipertônico), a parede celular passa a ser incapaz de driblar essa
situação e a célula morre pela perda de água para o ambiente externo (plasmólise). Esse é um dos
fatores que explicam o motivo pelo qual as técnicas de salga ou cristalização são empregadas como
método de controle da deterioração microbiana dos alimentos.
Embora a maioria dos micro-organismos seja incapaz de sobreviver em meios com concentração
de sais superior a 2%, outros conseguem viver em condições de pressão osmótica muito superio-
res. Esses micro-organismos são chamados de halófilos e classificados em dois grupos: os halófilos
obrigatórios e os halófilos facultativos. O primeiro grupo se refere às células que necessitam de
concentrações elevadas de sais para sobreviver (ex.: bactérias que vivem no Mar Morto). Na verda-
de, ambientes com baixa pressão osmótica são tóxicos para essas células. Por outro, halófilos facul-
tativos não necessitam de sais para crescer, no entanto, a concentração elevada de sais não é tóxica.

17
4.2.4 OXIGÊNIO
O último fator – não menos importante – que interfere no crescimento microbiano e que iremos
estudar nesta Unidade é a presença de oxigênio. Embora o oxigênio seja considerado essencial à
vida por muitos de nós, veremos que essa premissa nem sempre é verdadeira, pois para muitos

UNIDADE 01
micro-organismos a presença dele é tóxica.
Considerando os efeitos do oxigênio no crescimento microbiano, os micro-organismos podem
ser classificados em cinco grupos distintos, quais sejam: aeróbios obrigatórios, anaeróbios obriga-
tórios, anaeróbios facultativos, anaeróbios aerotolerantes e microaerófilos.
Os micro-organismos aeróbios obrigatórios são aqueles que precisam de oxigênio para sobre-
viver, ou seja, sua ausência causa a morte celular. No caminho inverso, os anaeróbios obrigatórios

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– como é o caso de Clostridium botulinum, o agente responsável pelo botulismo – são aqueles que
crescem somente na ausência de oxigênio. Os anaeróbios facultativos crescem tanto em ambien-
tes aeróbios quanto anaeróbios, mas têm seu crescimento favorecido na presença de oxigênio. Os
anaeróbios aerotolerantes não precisam de oxigênio para seu crescimento, mas são capazes de
tolerar a presença dele. Por último, os microaerófilos são micro-organismos aeróbios, mas reque-
rem concentrações de oxigênio baixas, normalmente inferiores àquelas encontradas no ar.
Agora você pode estar se perguntando: Mas por que o oxigênio pode ser tóxico para algumas
bactérias? Primeiramente, é necessário saber que durante o metabolismo celular espécies de oxi-
gênio tóxicas para os micro-organismos são formadas, como, por exemplo, o radical superóxido
e o peróxido de hidrogênio. No entanto, células aeróbias produzem enzimas de defesa, como a
superóxido dismutase e a catalase, as quais neutralizam os efeitos tóxicos das espécies reativas.
Os micro-organismos anaeróbios, por outro lado, são desprovidos dessas enzimas, o que justifica
a toxicidade do oxigênio para essas células.

4.3 CULTIVO MICROBIANO


Outras indagações que podemos fazer é: Como será que os micro-organismos crescem em
laboratório? De que modo os agentes microbianos causadores de doenças infecciosas são identi-
ficados? No caso das infecções bacterianas, é necessário – na maioria das vezes – que os micro-
-organismos eventualmente presentes em uma amostra biológica (ex.: sangue) sejam cultivados,
isolados e identificados em laboratórios clínicos. Para isso, um material que contém nutrientes,
pH, quantidade de água e outros fatores, chamados de meios de cultura, é empregado. Ou seja,
os meios de cultura são considerados veículos que permitem o desenvolvimento microbiano em
condições laboratoriais.
Levando em consideração que diversos tipos de meios de cultura podem ser adotados em um
laboratório de microbiologia, esses meios são classificados em diferentes grupos, em razão da sua
consistência, da sua composição e da sua função. A partir de agora estudaremos as principais ca-
racterísticas de cada um desses grupos.

18
Quanto à consistência, os meios podem ser líquidos, sólidos e semissólidos. Os meios líquidos,
também chamados de caldos, têm aspecto fluído, como a água. Para obtenção de meios sólidos,
um agente solidificante inerte (isto é, que não interfere no crescimento microbiano) como o ágar-
-ágar é adicionado à formulação em uma concentração de 1,5 a 2,0%. Os meios semissólidos são
preparados com concentrações inferiores de ágar-ágar (~0,2 a 0,5%) e têm aspecto gelatinoso. Os

UNIDADE 01
meios sólidos são distribuídos em placas de Petri e mais utilizados para identificação e caracteriza-
ção morfológica das colônias de micro-organismos, enquanto meios semissólidos (normalmente
distribuídos em tubos) são mais empregados para avaliação da motilidade bacteriana.
Quanto à composição, os meios de cultura são classificados em quimicamente definidos (ou
sintéticos) e complexos (não sintéticos). Os meios quimicamente definidos são aqueles em que
a concentração e os componentes exatos da formulação são conhecidos, como, por exemplo, a

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quantidade de fatores de crescimento, de aminoácidos, de vitaminas, entre outros. Esses meios
são normalmente empegados em condições em que o crescimento deve ser finamente controlado,
como em determinadas pesquisas científicas. Por outro lado, nos meios complexos a composição
e a concentração exatas de todos os componentes não são possíveis, já que diversos constituintes
usados na formulação do meio de cultura, como os extratos (ex.: carne e levedura) têm proporções
indefinidas de aminoácidos, vitaminas e outras macromoléculas.
Com relação à função, os meios de cultura podem ser divididos em cinco grupos diferentes: meios
não seletivos, meios seletivos, meios diferenciais, meios de transporte e meios de enriquecimento.
Os meios não seletivos são aqueles que não apresentam inibidores ou indicadores em sua
composição e, portanto, permitem o crescimento de diversos tipos de micro-organismos, como é
caso do Ágar Tripticase de Soja (TSA; Trypticase Soy Medium), apresentado na Figura 5.

FIGURA 5 - ÁGAR TRIPTICASE DE SOJA

O meio de cultura Ágar Tripticase de Soja é um meio de cultura não seletivo e, portanto, permite o crescimento de
diversos grupos de bactérias. Como apresentado na imagem, colônias com diferentes aspectos podem ser observadas.

Os meios seletivos, por outro lado, têm componentes que selecionam o crescimento de um certo
grupo de micro-organismos por meio da inibição de outros. O Ágar Hektoen (Figura 6), por exemplo,
contém sais biliares que inibem o crescimento de bactérias Gram-positivas e é usado para isolamen-
to do bacilo Gram-negativo Salmonella sp. em amostras biológicas (ex.: fezes) e de alimentos.

19
FIGURA 6 - MEIO DE CULTURA HEKTOEN

UNIDADE 01
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Os meios diferenciais contêm componentes (ex.: indicadores de pH) que permitem a distinção
de espécies ou grupos de micro-organismos pelas características da colônia. Um exemplo desse
meio é o Ágar MacConkey, que, além de ser ligeiramente seletivo, permite a diferenciação entre
bactérias que fermentam ou não o carboidrato lactose durante o metabolismo. Nesse meio, as co-
lônias que se desenvolvem na cor rosa indicam a fermentação de lactose (Figura 7), ao passo que
os micro-organismos que não fermentam esse carboidrato formam colônias amarelas.

FIGURA 7 - ÁGAR MACCONKEY

A imagem mostra unidades formadoras de colônias de coloração rosa, indicando que houve fermentação de lactose
pelo micro-organismo.

Os meios de transporte são rotineiramente empregados em laboratórios de microbiologia e


formulados para minimizar o crescimento bacteriano de uma amostra desde o momento da co-
leta até o momento em que é recebida no laboratório para ser processada. Normalmente esses
meios contêm apenas tampões e sais em vez de ingredientes nutricionais, a fim de se evitar a
multiplicação microbiana. Um exemplo é meio Stuart, usado para preservação de Neisseria sp e
Haemophilus influenzae.

20
Por último, temos os meios de enriquecimento, que são formulados para promover o cresci-
mento de determinado grupo de micro-organismos e ao mesmo tempo inibir o desenvolvimen-
to de outros. Esses meios também são de certa forma seletivos, empregados em amostras que
normalmente apresentam elevado índice de contaminação por outros micro-organismos, como
em amostras de fezes e do solo. Além disso, os meios de enriquecimento também podem ser

UNIDADE 01
utilizados na área de alimentos para pesquisa de muitas bactérias, como Salmonella sp. Este mi-
cro-organismo normalmente está presente em um número reduzido de células e acompanhado
de um microbiota numerosa e mista. Nesse sentido, o meio de cultura de enriquecimento caldo
Rappaport-Vassiliadis modificado é utilizado em uma das etapas de pesquisa de Salmonella sp. em
amostras de alimentos (SILVA et al., 2017, p. 324).

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VÍDEO

Assista ao seguinte vídeo, que apresenta como os meios de cultura são preparados em laborató-
rios de microbiologia:
MEIOS de cultura. Labted UEL, 23 set. 2014. Disponível em: https://bit.ly/32HHpPv. Acesso em:
9 jun. 2020.

4.4 CURVA DE CRESCIMENTO MICROBIANO


Nesta Unidade, já verificamos que as bactérias crescem, normalmente, por meio de um proces-
so de fissão binária e que o intervalo de tempo necessário para que esse processo ocorra é cha-
mado de tempo de geração. Vimos que o tempo de geração para E. coli em condições ótimas de
crescimento é 20 minutos e, levando isso em consideração, o número de células pode ser superior
a 1 bilhão após 10 horas de cultivo.
Nesse sentido, para facilitar a visualização gráfica e tornar mais intuitiva a compreensão do quão
grande pode ser uma cultura microbiana, os microbiologistas costumam expressar a quantidade
de células de uma população bacteriana em escala logarítmica na base 10. Por exemplo, podemos
considerar uma cultura que passou por 20 gerações e atingiu um número total de 1.048.576 célu-
las. Trabalhar com esse número pode ser muito trabalhoso e por isso ele pode ser representado
na forma logarítmica como 6,02.
Dando continuidade aos nossos estudos, vamos aprender agora que uma bactéria inoculada
em um meio de cultura líquido por um determinado período pode ter seu crescimento expresso
graficamente em uma curva de crescimento bacteriano. Essa curva demonstra a quantidade de
células (população bacteriana) em função do tempo e é dividida em quatro fases: lag, log, estacio-
nária e de declínio, como mostra a Figura 8.

21
FIGURA 8 - CURVA DE CRESCIMENTO MICROBIANO

UNIDADE 01
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Fonte: O autor (2020).

O início da curva de crescimento é a fase lag, na qual as células estão se preparando para a pró-
xima fase de crescimento e o número de células permanece inalterado. Embora não haja aumento
da população, são metabolicamente ativas, pois estão sintetizando os componentes celulares ne-
cessários para crescer dentro do meio.
A fase log, ou fase de crescimento exponencial, é caracterizada pela divisão celular ativa e,
portanto, o número de células aumenta exponencialmente. Nessa fase as células têm taxa de cres-
cimento e atividade metabólica uniforme e, por esse motivo, são usadas preferencialmente para
aplicações industriais e trabalhos de pesquisa. A fase logarítmica também é o estágio em que as
bactérias são mais suscetíveis à ação de desinfetantes e antibióticos comuns que afetam a síntese
de proteínas, DNA e parede celular.
À medida que o número de células aumenta durante a fase logarítmica, vários fatores contri-
buem para uma desaceleração da taxa de crescimento, como, por exemplo, o acúmulo de meta-
bólitos e depleção de nutrientes e oxigênio (para bactérias aeróbias). A combinação desses fatores
inibe o crescimento celular a um ponto em que o número de células novas e o número de células
que morrem atingem um equilíbrio, caracterizando um platô chamado de fase estacionária.
Com o decorrer do tempo, o meio de cultura acumula resíduos tóxicos e os nutrientes se es-
gotam. Por essa razão o número de células que morrem é maior do que a taxa de células novas,
caracterizando uma fase de morte exponencial, chamada de fase de morte ou fase de declínio.

4.5 MENSURAÇÃO DO CRESCIMENTO MICROBIANO


Agora que já estudamos como as bactérias se multiplicam, os fatores que podem interferir no
crescimento, os tipos de meios de cultura e as diferentes fases de crescimento, uma boa pergunta
a ser feita é: Como será que a quantificação dos micro-organismos é realizada? É realmente neces-
sário quantificar o número de células em uma amostra?

22
Na verdade, estimar o número de células em uma amostra biológica é uma tarefa comum exe-
cutada por microbiologistas. O número de bactérias em uma amostra pode representar, por exem-
plo, qual é a extensão de uma infecção. Além disso, os laboratórios de controle de qualidade
avaliam a carga microbiana de água, alimentos, cosméticos e medicamentos, a fim de assegurar a
qualidade e segurança desses produtos.

UNIDADE 01
Nesse sentido, duas abordagens são utilizadas para mensurar o número de micro-organismos:
os métodos diretos e os indiretos. Os métodos diretos envolvem a contagem do número de célu-
las, podendo ser representados pelo método de contagem microscópica direta, pelo método de
contagem em placas e pela técnica do número mais provável. Nos métodos indiretos, as estima-
tivas são baseadas na atividade celular e não na contagem de células propriamente dita, como
ocorre nos métodos por turbidimetria e mensuração do peso seco.

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4.5.1 CONTAGEM MICROSCÓPICA DIRETA
A maneira mais simples de contar bactérias é a contagem microscópica direta, na qual um
volume conhecido de uma cultura é transferido para uma lâmina calibrada e as células são quan-
tificadas utilizando-se um microscópio óptico. A lâmina calibrada é denominada câmara de Pe-
troff-Hausser, que apresenta uma área central grafada com áreas delimitadas. Após a contagem
das células individuais na área grafada e a correção do volume usado para contagem, é possível
estimar a concentração de células de uma amostra original.
A principal vantagem desse método é que ele é barato e fácil de ser realizado. No entanto, é
inconveniente para amostras diluídas e não permite distinguir células vivas de células mortas.

4.5.2 CONTAGEM EM PLACAS


Esse método é amplamente empregado na rotina de laboratórios de microbiologia e correspon-
de à técnica de contagem de células vivas. O princípio do método é que células viáveis se replicam
na superfície de um meio de cultura sólido, dando origem a colônias visíveis, as quais recebem o
nome de unidades formadoras de colônias (UFCs).
É válido pensar que uma amostra com alta densidade celular dificultaria a contagem das UFCs,
não é mesmo? Por isso, o método de contagem em placa normalmente é precedido por um proce-
dimento chamado de diluição seriada. Esse processo tem como objetivo diluir a amostra em valo-
res múltiplos de 10 até que se obtenham placas de meio de cultura sólido com uma faixa contável
de UFCs (normalmente entre 20 a 200 colônias).
A Figura 9 mostra como o processo de diluição é realizado. Nesse caso, um volume fixo da cul-
tura original (1 mL) é transferido e misturado no primeiro tubo da série de diluições, que contém
9 mL de caldo estéril (ex.: água peptonada). Esse primeiro tubo representa a primeira diluição, ou
diluição 1:10. Depois, o mesmo volume (1 mL) é retirado do tubo com diluição 1:10 e homogenei-
zado com 9 mL de caldo estéril em um terceiro tubo, perfazendo a diluição 1:100. Esse processo
é realizado sucessivamente para obtenção de diversas diluições. Na sequência, uma amostra de
cada tubo (isto é, diluição) é retirada e semeada em meios de cultura sólidos, que, por sua vez,
são incubados para posterior enumeração das UFCs. Observa-se que quanto maior for a diluição,
menor será o número de UFCs contadas.

23
FIGURA 9 - DILUIÇÃO SERIADA

UNIDADE 01
Água destilada
Solução original

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diluição diluição diluição diluição

4.5.3 TÉCNICA DO NÚMERO MAIS PROVÁVEL


A técnica do número mais provável consiste em um método estatístico usado para amostras em
que o número de micro-organismos é geralmente muito baixo para ser quantificado pelos méto-
dos de contagem de placas.
Esse método é muito empregado para determinação de coliformes (indicadores higiênico-sani-
tários) em amostras de água ou alimentos. Nessa técnica três diluições da amostra (ex.: água) são
inoculadas em três séries de cinco tubos cada, contendo caldo lactose. A primeira série de cinco
tubos recebe 10 mL da amostra, a segunda série de cinco tubos recebe 1,0 mL da amostra e a úl-
tima série recebe 0,1 mL. Esses tubos são incubados e, caso ocorra fermentação de lactose pelos
coliformes, o meio que antes se apresentava na cor amarela passa a ser rosa, ou seja, positivo. A
quantidade de tubos positivos para cada diluição é comparada com uma tabela que estima a po-
pulação de coliformes naquela amostra.

4.5.4 TURBIDIMETRIA
A turbidimetria é um método de mensuração indireto de uma população em um meio líquido,
na qual um equipamento chamado espectrofotômetro é empregado. Nesse aparelho um feixe de
luz é projetado através da suspensão de células. A luz que atravessa essa suspensão é mensurada
por um detector de luz e convertida em porcentagem de transmitância ou absorbância. À medida
que o número de bactérias em uma suspensão aumenta, a turbidez também aumenta e faz com
que menos luz atinja o detector. Ou seja, a quantidade de luz que chega ao detector é inversamen-
te proporcional à densidade celular.

4.5.5 DETERMINAÇÃO DO PESO SECO


Esse é outro método indireto de determinar a densidade de uma cultura sem medir diretamen-
te a contagem de células. Nesse caso, uma suspensão de células é filtrada ou centrifugada para
que o material seja concentrado. Depois, a amostra é lavada para remoção de restos celulares e
submetida às medições de peso. A determinação do peso seco é especialmente útil para micro-
-organismos filamentosos que são difíceis de enumerar por contagem direta ou viável de placas.

24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim da primeira Unidade da disciplina de Microbiologia e Imunologia. Estudamos
as características morfológicas, citológicas, de cultivo e a quantificação dos micro-organismos, em

UNIDADE 01
especial das bactérias.
Aprendemos que as bactérias são seres procariontes, apresentando, portanto, escassez de
membranas. Embora bactérias sejam consideradas mais simples do que células eucarióticas, vimos
que elas podem se apresentar na forma de cocos, bacilos e espirais que, por sua vez, arranjam-se
nas mais diversas estruturas. Essas características são valiosas na rotina médica, pois indicam o
possível patógeno causador de uma doença.

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Vimos que diversos componentes são encontrados na maioria das células bacterianas. Primei-
ramente estudamos os componentes externos à parede celular, como a cápsula, por exemplo,
que auxilia na formação de biofilmes e na proteção contra a fagocitose pelas células de defesa do
hospedeiro. Em segundo lugar, observamos que a parede celular é formada pelo peptideoglicano
e permite a classificação das bactérias em Gram-negativas e Gram-positivas. No terceiro grupo ex-
ploramos os componentes internos à parede, como os ribossomos, que são considerados a fábrica
de proteínas e alvo de antibióticos.
Em seguida, verificamos que os micro-organismos podem ser cultivados em laboratório por meio
do uso de meios de cultura, os quais são classificados: a) quanto à consistência (líquido, sólido e se-
missólido); b) quanto à composição (sintéticos e complexos); e c) quanto à função (ex.: meio diferen-
cial e meios de transporte). Ademais, vimos que diversos fatores influenciam na taxa de crescimento,
como a temperatura, o pH, a pressão osmótica, bem como a presença e ausência de oxigênio.
Estudamos também a cinética de crescimento microbiano por meio da curva de crescimento.
Vimos que essa curva é dividida em quatro fases (lag, log, estacionária e de declínio), as quais
apresentam taxas de crescimento e atividade metabólica distintas. Por último, aprendemos sobre
os métodos diretos e indiretos de quantificação laboratorial de micro-organismos.

ANOTAÇÕES

25
UNIDADE

02
DOENÇAS CAUSADAS
POR BACTÉRIAS DE
INTERESSE MÉDICO
E FÁRMACOS
ANTIBACTERIANOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

» Identificar o desenvolvimento da doença infecciosa e suas formas de transmissão;

» Caracterizar os principais grupos de bactérias de interesse médico, bem como


as doenças causadas pelas classes estudadas;

» Identificar as classes dos fármacos antibacterianos e seus respectivos mecanis-


mos de ação.

VÍDEOS DA UNIDADE

http://bit.ly/3rVED5d http://bit.ly/3nhQxCT http://bit.ly/3bgl1CP


INTRODUÇÃO
Vimos na Unidade I que as bactérias são seres complexos que podem afetar positiva e negativa-
mente as nossas vidas. Com relação aos aspectos negativos, podemos nos lembrar da deterioração

UNIDADE 02
dos alimentos, que resultam em prejuízos econômicos, e também das doenças causadas por esses
micro-organismos. Agora que já temos o conhecimento das características gerais das bactérias,
como elas crescem e são cultivadas, iremos estudar as principais patologias por elas causadas.
Iniciaremos esta Unidade discutindo as principais características das doenças infecciosas e ve-
remos que esse tipo de doença pode ser divido em fases distintas. Dentre essas fases, podemos
mencionar a fase de incubação, que é um período em que o micro-organismo já entrou em con-

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tato com o hospedeiro, mas os sintomas ainda são inexistes. Você já se perguntou, por exemplo,
quanto tempo demora para que sintomas de intoxicação alimentar (como vômito e/ou diarreia)
comecem após a ingestão de um alimento contaminado?
Depois, identificaremos os principais grupos de bactérias de interesse médico e seus mecanis-
mos de patogenicidade. Algumas pessoas apresentam, por exemplo, uma condição desconfortável
de “queimação estomacal” ou azia de maneira frequente. Esses sintomas podem ser da gastrite
bacteriana causada pela bactéria Helicobacter pylori. Sobre isso, você poderia se perguntar: Como
será que essa bactéria causa uma doença no estômago (com pH próximo a 2), já que estudamos
na Unidade anterior que ambientes ácidos são inóspitos para a maioria das bactérias? Realmente,
H. pylori é muito sensível a condições de pH reduzidos! No entanto, veremos que essa bactéria
produz a enzima urease, que consegue tamponar o pH do estômago, permitindo que a doença
seja desenvolvida.
Além disso, iremos estudar como os medicamentos antibacterianos podem auxiliar no combate
às doenças infecciosas. Você, por exemplo, já pode ter experimentado uma condição de infecção
urinária ou de garganta e ter recebido um tratamento com antibiótico. Mas você já se perguntou
como esses fármacos conseguem destruir as células microbianas sem destruir as células do seu
próprio corpo? Será que isso acontece? Isso é o que também exploraremos nesta Unidade!

1. ASPECTOS GERAIS DAS DOENÇAS


Após termos estudado as principais características da morfologia, citologia, e crescimento mi-
crobiano, iremos explorar os aspectos gerais das doenças causadas pelas bactérias. Embora saiba-
mos que os micro-organismos têm seu aspecto benéfico, o lado negativo dessa história também
existe, pois certamente você já experimentou a desagradável condição de uma doença causada
por bactérias patogênicas em algum momento da vida.

27
Mas antes de falarmos sobre uma enfermidade propriamente dita, precisamos destacar alguns
termos importantes empregados na área do estudo das doenças. Na verdade, existe um ramo da
ciência para essa especificidade, que é a patologia, do grego pathos, “sofrimento”, e logos, “ciên-
cia”. Além disso, precisamos saber que muitas vezes os termos infecção e doença são usados como
sinônimos, mas em realidade eles indicam situações diferentes. A palavra infecção indica que um

UNIDADE 02
micro-organismo invadiu e colonizou um tecido biológico, enquanto o termo doença resulta em
danos ou alterações no estado de saúde do paciente. Para fins didáticos, vamos usar esses dois
termos de forma intercambiável nesta Unidade.
As doenças podem ser classificadas em função da duração e da extensão que acomete um
hospedeiro. Com relação ao tempo de duração, elas podem ser agudas, caracterizadas por apre-

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sentarem um curso rápido (ex.: resfriado), ou crônicas, que têm curso mais lento, como ocorre na
gastrite (inflamação da mucosa estomacal) causada pela bactéria Helicobacter pylori.
Sobre o segundo ponto, ou seja, sobre a extensão de acometimento, as infecções podem ser
locais, sistêmicas ou focais. As infecções locais são aquelas em que o agente infeccioso se limita a
uma determinada área. Quando os micro-organismos de infecções locais atingem a circulação san-
guínea e/ou linfática, pode ocorrer disseminação do patógenos para todo o organismo, causando
uma infecção sistêmica. Nas infecções focais, as bactérias e/ou toxinas bacterianas e subprodutos
metabólicos podem adentrar a circulação sistêmica por uma porta de entrada e serem transloca-
dos para partes distantes, iniciando a doença nesses locais específicos (ex.: articulações).
O fato é que, quando um micro-organismo é capaz de driblar os sistemas de defesa do orga-
nismo humano e causar uma doença, esta apresenta estágios de desenvolvimento segregados em
cinco fases: a fase de incubação, o período prodrômico, a fase de doença, o período de declínio e
a convalescência (Figura 1).

FIGURA 1 - ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE UMA DOENÇA

Fonte: O autor (2020).

28
O período de incubação ocorre com a entrada inicial do patógeno no hospedeiro, sendo a fase
na qual o micro-organismo começa a se multiplicar. Como o número de células microbianas ainda
é muito pequeno, não são observados sintomas. A duração desse período varia em função de
diversos fatores, como local da infecção, condição do sistema imune do hospedeiro, carga de pató-
genos e outros. A incubação é seguida pelo período prodrômico, no qual ocorre a continuidade da

UNIDADE 02
multiplicação microbiana e o início dos sintomas (ainda leves e inespecíficos). Após esse período,
ocorre o período da doença, durante o qual os sinais e sintomas são mais específicos e severos. No
período de declínio, os sintomas e o número células patogênicas começam a diminuir. O período
final, conhecido como período de convalescença, é o estágio em que indivíduo retorna às suas
atividades normais, pois o corpo retoma as funções (normais) anteriores à doença.
Outros fatores importantes ao se estudar as doenças infecciosas são as formas pelas quais elas

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são disseminadas e quais são seus reservatórios. Os reservatórios representam locais que forne-
cem condições para multiplicação e sobrevivência de um organismo, auxiliando na perpetuação
da doença. Esses locais podem incluir tanto os seres vivos (ex.: seres humanos e animais) como
objetos inanimados. Um exemplo de reservatório inanimado é o solo, onde células de Clostridium
tetani – o agente etiológico do tétano – pode ser encontrado.

REFLITA
Mesmo após a fase de convalescência, alguns indivíduos ainda podem apresentar o patógeno da
cólera (Vibrio cholerae) no seu organismo, no entanto, eles são assintomáticos. Sabendo que a
cólera é transmitida pela ingestão de água e alimentos contaminados com a bactéria, qual seria a
importância de indivíduos assintomáticos em termos de saúde pública?
Como indivíduos assintomáticos não têm sinais de doença, essas pessoas participam ativamente
na disseminação da doença, principalmente quando as condições de saneamento são precárias,
já que a contaminação se dá pela ingestão de alimentos/água contaminados com o patógeno.

Agora que já conhecemos o que são reservatórios, vamos estudar como os patógenos deixam
esses locais para causar doença. Sobre esse assunto, diversas formas de transmissão já foram des-
critas, incluindo a transmissão por contato, por veículo ou por vetores. A transmissão por contato
ainda pode ser por contato direto, indireto ou por gotículas.
Na transmissão por contato direto (normalmente sexual) não existe um intermediário entre a
fonte de infecção e o hospedeiro, como ocorre, por exemplo, na transmissão da bactéria Neisseria
gonorrhoeae, que causa a gonorreia. Na transmissão por contato indireto existe um objeto me-
diador fazendo a ponte entre o reservatório e indivíduo a ser infectado, como objetivos pessoais
(ex.: toalhas, escovas de dente) e instrumentos médicos (ex.: laringoscópios). A última forma de
transmissão por contato é a transmissão por gotículas de saliva ou muco expelidos no ato de
espirrar, por exemplo. A Figura 2 demostra as gotículas de saliva durante um espirro, evidencian-
do que centenas de patógenos eventualmente presentes podem ser disseminados por essa via.
A coqueluche ou tosse comprida, que tem como agente etiológico o Bordetella pertussis, é um
exemplo desse tipo de transmissão.

29
FIGURA 2. TRANSMISSÃO POR GOTÍCULAS DE SALIVA

UNIDADE 02
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A transmissão por veículos é caracterizada pela ingestão de alimentos contaminados. Um
exemplo são os casos de surtos de infecções intestinais causadas por Salmonella sp. após a inges-
tão de alimentos contaminados com essa bactéria.
A transmissão de doenças infecciosas também pode envolver vetores, os quais podem aturar
como vetores mecânicos ou vetores biológicos. A forma mecânica tem como exemplo as moscas,
que carregam bactérias patogênicas em seus apêndices e contaminam alimentos ao pousarem
sobre eles. Nesse caso, o patógeno não penetra no corpo da mosca. Por outro lado, os vetores bio-
lógicos são aqueles que albergam os patógenos no interior do seu corpo e os transmitem de forma
ativa – normalmente por picada –, como é caso da doença de Lyme, causada por espiroquetas do
gênero Borrelia e que têm como vetor um carrapato.

2. DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS


DE INTERESSE MÉDICO E SEUS MECA-
NISMOS DE PATOGENICIDADE
Agora que nós já estudamos os conceitos gerais dos processos patológicos, bem como as for-
mas pelas quais as doenças podem ser transmitidas, e considerando os conceitos analisados na
Unidade anterior, vamos dar início ao estudo das principais doenças humanas causadas por bacté-
rias de interesse médico. Para isso, os conteúdos desta seção estão agrupados de acordo com as
características morfológicas microbianas, a saber: bacilos Gram-positivos, bacilos Gram-negativos,
cocos Gram-positivos e cocos Gram-negativos. Iremos apresentar alguns dos principais patógenos
para cada um dos grupos, discutindo suas características e os mecanismos de patogenicidade en-
volvidos nas doenças causadas por esses agentes.

30
2.1 BACILOS GRAM-POSITIVOS
2.1.1 BACILLUS ANTHRACIS
Bacillus anthracis é um bacilo Gram-positivo anaeróbio facultativo, formador de esporo e cau-

UNIDADE 02
sador do antraz ou carbúnculo. Seu nome deriva da palavra grega para “carvão”, devido à sua
capacidade de causar uma escara cutânea negra, semelhante ao carvão. É um patógeno princi-
palmente de animais, mas que também pode causar doença em seres humanos. Embora os casos
tenham reduzido muito em razão da vacinação, o emprego desse micro-organismo no bioterro-
rismo é preocupante.
Os esporos são formados em condições inóspitas (ex.: falta de água ou nutrientes) e podem

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viver no solo por muitas décadas. Com a exposição a um ambiente rico em nutrientes, como teci-
dos do corpo ou sangue, esses esporos germinam e as células vegetativas passam a se multiplicar.
A infecção ocorre após a introdução do esporo através de uma ruptura na pele (antraz cutâneo),
entrada na mucosa intestinal (antraz gastrointestinal) ou por inalação (antraz pulmonar).
O antraz cutâneo é o mais comum e ocorre quando os esporos penetram na pele lesionada
(ex.: cortada) durante o manuseio de animais infectados e/ou produtos de origem animal. Aparece
primeiro como uma úlcera com centro negro/púrpura e acompanhada de edema. Com o passar do
tempo, observa-se a formação de uma escara negra espessa próxima a essa úlcera. As lesões são
indolores e raramente causam febre.
O antraz gastrointestinal resulta da ingestão de carne crua contaminada com B. anthracis.
A escara característica da doença se desenvolve com mais frequência na parede do íleo ou ceco
terminal, embora orofaringe, estômago e duodeno também possam ser afetados. Os sintomas ini-
ciais são náusea, vômito, anorexia e febre. À medida que a doença progride, ocorrem fortes dores
abdominais, diarreia com sangue, seguidas de septicemia e morte.
O antraz pulmonar resulta da inalação dos esporos e pode causar doenças respiratórias graves,
às vezes letais. A doença começa com sintomas de um resfriado com febre leve, fadiga, mal-estar,
mialgia e tosse improdutiva. Essa fase prodrômica inicial leve, que geralmente dura cerca de 48
horas, termina subitamente com o desenvolvimento de uma doença caracterizada por dispneia,
estridor, febre e cianose.
O mecanismo de patogenicidade envolve a produção de três toxinas: o fator edema, o fator
letal e o antígeno de necrose, que induzem hemorragia, edema e necrose. Após a fagocitose dos
esporos bacterianos pelos macrófagos no local de entrada, ocorre a germinação para forma vege-
tativa, seguida pela multiplicação extracelular juntamente com produção de toxinas. As bactérias
vegetativas se espalham pelo sangue e pela linfa, causando septicemia grave. A grande quantidade
de toxinas produzidas é responsável pelos sintomas e pela morte.

2.1.1 BACILLUS CEREUS


Bacillus cereus são bacilos Gram-positivos aeróbios, mesófilos, esporulados e com flagelos pe-
ritríqueos. Embora essa bactéria possa estar relacionada a infecções não gastrointestinais, como

31
ceratite, meningite, endocardite e infecções sistêmicas, normalmente é associada com quadros
de intoxicação alimentar. Neste último caso duas condições podem ser categorizadas: a síndrome
diarreica e a síndrome emética – ambas causadas pela produção de toxinas.
Após 1 a 24 horas de incubação, dor e cãibras abdominais associadas com diarreia aquosa são
sintomas típicos na síndrome diarreica. Não é comum ocorrer vômitos e febre. Nesse caso, a to-

UNIDADE 02
xina pode ser encontrada no alimento ou ser produzida no corpo do indivíduo a partir da multipli-
cação de células viáveis. Uma gama de alimentos está envolvida nos casos de síndrome diarreica,
como sorvetes, massas, vegetais crus e cozidos. A forma emética da doença tem tempo de incuba-
ção menor (1 a 5 horas) e é caracterizada por náusea, vômito e, eventualmente, também diarreia,
durando normalmente 24 horas. A síndrome emética está associada ao consumo de arroz chinês.
O mecanismo de patogenicidade da síndrome emética é pouco conhecido, mas, na forma diar-

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reica, sugere-se que a toxina (sensível ao pH e a tripsina) estimula a adenilciclase na mucosa in-
testinal, promovendo o acúmulo de eletrólitos (Na+ e Cl-) no lúmen intestinal, causando diarreia.

2.1.3 CLOSTRIDIUM TETANI


Clostridium tetani é um bacilo Gram-positivo esporulado e móvel, cujo endosporo apresenta
um aspecto de raquete muito característico. A doença causada por esse micro-organismo é o téta-
no, que resulta da ação de uma toxina (toxina tetânica) produzida por essa bactéria.
Nessa doença ocorre a penetração dos esporos por injúrias traumáticas na pele, como objetos
contaminados com os esporos (ex.: pregos) e uso de piercings. Ao encontrarem condições de baixa
oxigenação, os esporos germinam e, com a multiplicação das células vegetativas, a toxina é produ-
zida. A toxina tetânica bloqueia a liberação de neurotransmissores das membranas pré-sinápticas
dos neurônios inibitórios da medula espinhal e do tronco cerebral dos mamíferos, causando con-
trações musculares contínuas.
Clinicamente o tétano pode ser localizado ou generalizado. A forma localizada é caracterizada
por espasmos musculares intensos e dolorosos no local da penetração dos esporos e pode antece-
der a forma sistêmica. No tétano generalizado ocorre, inicialmente, paralisia de músculos faciais e
do pescoço, seguida de paralisia generalizada. Esta última causa uma postura arqueada caracterís-
tica da doença, chamada de postura opistotônica (Figura 3).
FIGURA 3 - POSTURA OPISTOTÔNICA

32
2.1.4 CLOSTRIDIUM BOTULINUM
O Clostridium botulinum é amplamente encontrado no ambiente e está relacionado com casos
de doenças transmitidas por alimentos (DTA). Esse micro-organismo produz toxinas de natureza
proteica classificadas de A a G, das quais apenas algumas causam doença em seres humanos.

UNIDADE 02
Existem três tipos de botulismo: a) o clássico, causado pela ingestão de alimentos contendo a
toxina pré-formada; b) o botulismo de ferida, causado pela multiplicação e produção de toxinas
em lesões infectadas por C. botulinum; e c) o botulismo infantil, que está relacionado com a in-
gestão de esporos, que germinam, multiplicam-se e produzem toxinas no intestino de crianças
menores de um ano de idade. De modo geral, a sintomatologia é semelhante nos três tipos, já que
a mesma toxina é responsável pelos quadros.

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O botulismo clássico (alimentar) tem período de incubação de 12 a 36 horas e se inicia com sin-
tomas de náusea, vômito e diarreia, que não estão relacionados com a toxina. Após a germinação,
ocorre produção da toxina, que é absorvida pelo intestino e atinge a corrente sanguínea. Essa to-
xina é então carreada até as junções neuromusculares, onde inibe a liberação de acetilcolina pelos
transmissores pré-sinápticos, causando paralisia muscular. A ação da toxina inclui fadiga e fraqueza
musculares. Os sintomas são acompanhados por visão embaçada, dupla e queda de pálpebra. A
musculatura da respiração é progressivamente paralisada, podendo causar parada respiratória e
morte após cinco dias.
2.1.5 CORYNEBACTERIUM DIPHTHERIAE
Corynebacterium diphtheriae é um bacilo Gram-positivo imóvel, não encapsulado e que pode
causar infecções de pele e pulmonares. As cepas toxigênicas são responsáveis pela difteria pulmo-
nar em humanos. Embora os casos de difteria tenham sido reduzidos em função da imunização efe-
tiva, essa bactéria ainda continua sendo uma importante preocupação de saúde em todo o mundo.
Ao colonizar as mucosas, a bactéria produz a toxina diftérica, que promove destruição do epi-
télio e resposta inflamatória local. O processo inflamatório superficial está associado ao desenvol-
vimento de uma camada fibrótica chamada de pseudomembrana, cuja cor é acinzentada. Pode
haver sangramento se essa membrana for removida, em função da lesão de capilares. Os bacilos
de C. diphtheriae se multiplicam adjacentemente à mucosa coberta pela pseudomembrana e, em
alguns casos, a quantidade de toxina produzida é tão grande que pode chegar ao coração.
Nos casos de infecção pelas vias respiratórias, os sintomas iniciais incluem dor de garganta,
febre baixa e inchaço ganglionar. Com o tempo pode haver complicações, que incluem dispneia e
asfixia pela obstrução causada pela pseudomembrana.
2.1.6 LISTERIA MONOCYTOGENES
Embora diversas espécies façam parte do gênero Listeria, L. monocytogenes é considerada a
espécie mais comum e mais importante. Essa bactéria é um bacilo Gram-positivo anaeróbio facul-
tativo, não formador de esporos e móvel. A doença causada por esse micro-organismo é chamada
listeriose e pode se manifestar clinicamente pelas formas invasiva e não invasiva. A diferença entre
os dois quadros se dá em função da condição imune do hospedeiro.

33
A doença tem início com a invasão das células intestinais pelo ápice das microvilosidades a par-
tir ingestão de alimentos contaminados. Em alguns casos, as bactérias conseguem invadir a muco-
sa intestinal, evadir-se do sistema fagocitário, atingir a corrente sanguínea e colonizar outros sítios,
como sistema nervoso central, sangue e a placenta. Nos casos de infecção placentária, as bactérias
atingem a corrente sanguínea do feto, podendo causar morte intrauterina, aborto ou nascimento

UNIDADE 02
natimorto. Nos casos não invasivos, a doença se limita a uma gastrenterite com febre baixas e
sintomas de resfriado. Ao atingir a corrente sanguínea, os sintomas são mais intensos, incluindo fe-
bre, mal-estar, vômito e diarreia. Se o micro-organismo atinge o sistema nervoso central, é comum
causar meningite e encefalite. No último caso, o percurso da doença é quase inevitavelmente fatal.
L. monocytogenes é uma grande preocupação para a indústria de alimentos, tendo em vista
que esse micro-organismo consegue se desenvolver em uma ampla faixa de temperatura (inclu-

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sive de refrigeração), pH e concentração de sais. Nesse sentido, a aplicação de boas práticas de
fabricação é imprescindível para prevenir a contaminação dos alimentos.

2.2 BACILOS GRAM-NEGATIVOS


2.2.1 SALMONELLA
Salmonella sp. representa o patógeno de origem alimentar mais comum, sendo frequentemen-
te isolado de animais e responsável por infecções zoonóticas em humanos e espécies de outros
animais, incluindo aves. Esse gênero é composto por bacilos Gram-negativos móveis, anaeróbios
facultativos, não fermentadores de lactose e não formadores de esporos.
A nomenclatura desse gênero é complexa e, atualmente, existem duas espécies: Salmonella
bongori, que é restrita a animais de sangue frio, e Salmonella enterica, que pode infectar uma
grande variedade de animais de sangue quente. Embora a última espécie seja subdividida em su-
bespécies, um esquema de classificação baseado na diversidade de antígenos de superfície celular
(sorotipagem) é empregado e já identificou mais de 3 mil sorotipos de S. enterica. As salmonelas
ainda apresentam fatores de virulência que auxiliam na adesão das bactérias ao epitélio intestinal
(fímbrias) e sistemas de evasão do sistema imune (lipopolissacarídeo, antígeno Vi).
A doença se inicia com a ingestão de alimentos ou água contaminados. Se conseguir sobrepor
as condições inóspitas do estômago (pH baixo) e os sistemas de defesa, o micro-organismo colo-
niza e invade o epitélio intestinal por meio de vários mecanismos e fatores de virulência. Salmo-
nelose é o nome da doença causada por essa bactéria e pode ser dividida, basicamente, em dois
tipos: gastroenterite e febre tifoide.
A gastroenterite é causada por salmonelas não tifoides e é uma inflamação aguda do epitélio
gastrointestinal associada ao acúmulo de células fagocíticas nos tecidos, resultando em diarreia,
febre (38-39 ºC), dores de cabeça e cólicas abdominais. Os sintomas são autolimitados e têm iní-
cio, geralmente, após 48 h da ingestão do alimento, durando por volta de uma semana. Indivíduos
imunossuprimidos (ex.: transplantados e HIV-positivos) podem evoluir para bactermia com aco-
metimento de outros órgãos, como meninges, pulmões e articulações.

34
As salmonelas tifoides – Salmonella Typhi e Salmonella Paratyphi A e B – têm os humanos como
únicos hospedeiros e causam, respectivamente, as doenças chamadas febre tifoide e paratifoide.
Nesse caso, as células bacterianas alcançam a submucosa intestinal após invadirem o epitélio in-
testinal. Em razão de diversos fatores de virulência, as bactérias fagocitadas conseguem escapar
dos sistemas de defesa e são disseminadas para o fígado e o baço. Nesses órgãos, ocorre multi-

UNIDADE 02
plicação dos micro-organismos, que, por sua vez, são disseminados pela via hematogênica para
outros órgãos. Os sintomas são inespecíficos e incluem febre de 39-40 ºC duradoura (~2 semanas),
cólicas abdominais, tosse, dores de garganta, fraqueza, dores de cabeça, diarreia ou constipação.

SAIBA MAIS

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Note que, pelas regras de nomenclatura, o nome utilizado para designar um sorotipo não é es-
crito em itálico e, ainda, tem a primeira letra escrita em caixa-alta (maiúscula), como ocorre em
Salmonella Typhi ou Salmonella Heidelberg.

2.2.2 ESCHERICHIA COLI


Esse grupo consiste em bacilos Gram-negativos anaeróbios facultativos, fermentadores de lac-
tose e não formadores de esporos. A espécie é amplamente distribuída na natureza, sendo con-
siderada o principal comensal do trato gastrointestinal de seres humanos e animais de sangue
quente. Embora a maioria das E. coli viva inofensivamente no intestino e raramente cause doenças
em indivíduos saudáveis, várias cepas patogênicas podem causar doenças intestinais e extraintes-
tinais (ex.: infecções urinárias), tanto em indivíduos saudáveis quanto em imunocomprometidos.
As doenças diarreicas por E. coli são consideradas um problema de saúde pública, com altas
taxas de morbidade e mortalidade de crianças pequenas em diversos países do mundo. As cepas
patogênicas apresentam fatores de virulência que permitem a adesão das células bacterianas à
mucosa intestinal, enquanto outras produzem toxinas associadas a eventos gastrointestinais. De
acordo com o padrão de infecção, local de colonização intestinal, mecanismos de virulência e sin-
tomas, as E. coli diarreicas (DEC; diarrheagenic E. coli) são classificas em diferentes grupos. Como
exemplos, podemos mencionar: E. coli enterotoxigênica (ETEC; enterotoxigenic E. coli), E. coli ente-
roagragativa (EAEC; enteroaggregative E. coli) e E. coli enteroinvasiva (EIEC; enteroinvasive E. coli).
Uma das doenças diarreicas causadas por cepas patogênicas de E. coli é a diarreia dos viajan-
tes, que resulta da ingestão de alimentos e água contaminados com material de origem fecal. Essa
condição clínica pode ser causada tanto por ETEC, que produz uma toxina responsável por quadros
de diarreia aquosa, quanto por EAEC, que tem esse nome em função da aderência à superfície do
epitélio intestinal com características de “tijolos-empilhados”.
Uma linhagem de importância clínica é a E. coli produtora de toxina Shiga (STEC; Shiga-toxin E.
coli), que pode causar uma miríade de doenças em seres humanos. Um dos principais sorotipos é
E. coli O157:H7. As condições variam desde portadores assintomáticos até complicações severas,

35
como a síndrome hemolítica urêmica (SHU), sendo a colite hemorrágica a patologia mais comum.
A infecção também se inicia com ingestão de alimentos contaminados com a bactéria que, ao
atingirem o intestino grosso, produzem a toxina de Shiga (Stx). Essa toxina é absorvida por meio do
epitélio intestinal e atua em diferentes células do corpo, como as dos rins, do sistema nervoso e do
intestino. A colite hemorrágica é caracterizada por dores abdominais e diarreia aguda, seguida de

UNIDADE 02
diarreia sanguinolenta, as quais são reflexos das lesões causadas pela toxina no cólon. Um número
reduzido (< 10%) de indivíduos podem evoluir para SHU – uma complicação da doença, na qual
anemia hemolítica, plaquetopenia e falência renal são observadas.
2.2.3 HELICOBACTER PYLORI
Essa espécie é caracterizada por bacilos Gram-negativos curvos (que também podem se apre-

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sentar na forma helicoidal) móveis, microaerófilos e não formadores de esporos. Anteriormente
esse micro-organismo era classificado em outro gênero (Campylobacter), mas, com base em estu-
dos moleculares, em 1989 o gênero Helicobacter foi criado.
Essa bactéria está relacionada com o desenvolvimento de gastrite, úlcera gástrica e úlcera duo-
denal. Além disso, a infecção causada por H. pylori é considerada uma das principais causas de
câncer gástrico e eventual risco de adenocarcinomas de esôfago. Diversos fatores de virulência
são observados nesse micro-organismo, como, por exemplo: i) mucinase, que auxilia no processo
infeccioso por destruir o muco que protege as paredes do estômago; ii) urease, que aumenta o pH
do estômago pela produção de amônio a partir da degradação da ureia, protegendo a bactéria do
baixo pH estomacal; iii) adesinas, que auxiliam na adesão bacteriana ao epitélio gástrico; iv) toxina
vacuolizante, que permite a formação de vacúolos no interior da células do epitélio gástrico.
Após entrar no estômago do hospedeiro, H. pylori utiliza sua atividade da urease para neutrali-
zar a condição ácida hostil no início da infecção. A motilidade mediada por flagelos é então neces-
sária para que a bactéria se mova em direção às células do epitélio gástrico do hospedeiro, seguida
de interações específicas entre adesinas bacterianas com os receptores das células hospedeiras, o
que leva a uma colonização bem-sucedida e a uma infecção persistente. A adesão e a colonização
da mucosa gástrica induzem alterações na morfologia celular, danos aos tecidos e um processo
inflamatório superficial, caracterizando a gastrite.
Por diversos fatores (ex.: imunológicos e nutricionais) pode haver progressão da gastrite para
úlcera gástrica ou duodenal (Figura 4). Tanto a úlcera gástrica como a duodenal são comumente
referidas como úlceras pépticas e se caracterizam por feridas na mucosa que penetram através
da mucosa muscular – ou seja, são mais profundas. Sugere-se que fatores de virulência de H.
pylori estimulem a produção de gastrina (hormônio que induz a produção de ácido clorídrico no
estômago), o que exacerba o processo inflamatório local intenso, resultando nas úlceras. A erra-
dicação do H. pylori muda drasticamente o curso natural da úlcera e quase completamente evita
a recorrência da doença.

36
FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DA ÚLCERA GÁSTRICA E DUODENAL

Úlcera péptica
Estômago
saudável

UNIDADE 02
Úlcera duodenal

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Úlcera estomacal
Na imagem temos a representação de um estômago saudável do lado esquerdo, enquanto o da direta apresenta as
lesões ulceradas.

2.3 COCOS GRAM-POSITIVOS


2.3.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS
Staphylococcus aureus é uma bactéria que se apresenta como cocos Gram-positivos agrupados
na forma de cachos de uva. São imóveis, anaeróbios facultativos e sobrevivem em condições ad-
versas, como altas concentrações de sais e pH relativamente baixo. Essa bactéria está amplamente
distribuída na natureza e pode colonizar diversos sítios do corpo humano, sendo isolada mais fre-
quentemente das fossas nasais de humanos saudáveis. É um patógeno perigoso, cujo potencial de
virulência depende predominantemente da produção de toxinas, as quais se relacionam com uma
infinidade de doenças em humanos, incluindo pneumonia, sepse, infecções de pele, síndrome do
choque tóxico e intoxicação alimentar.
O impetigo é uma infecção superficial da epiderme que pode ocorrer em duas formas clínicas:
o impetigo contagioso, que é mais comum e pode ser causado por outras espécies (como Strepto-
coccus sp.), e o impetigo bolhoso, caracterizado por vesículas e bolhas cheias de líquido e causado
invariavelmente por cepas patogênicas do S. aureus. A patogênese do impetigo envolve a intera-
ção de fatores de virulência bacteriana e fatores imunes do hospedeiro. Os fatores de virulência
incluem a produção de várias enzimas, como a catalase, que afeta a fagocitose, e a hialuronidase,
que causa lesões tissulares. A produção da toxina esfoliativa (ET) é determinante para o desen-
volvimento do impetigo bolhoso. Se permanecer localizada, essa toxina causa a forma bolhosa da
doença. Se houver disseminação hematogênica dessa toxina, pode ocorrer o desprendimento do
estrato granuloso da epiderme de modo generalizado.
A síndrome do choque tóxico (SCT) é uma doença que pode ser causada por S. aureus, cujo início é
agudo e caracterizado por febre, hipotensão, erupção cutânea (tipo queimadura solar) e acometimento
de no mínimo três órgãos-alvo, como, por exemplo, aqueles do trato gastrointestinal, do sistema renal
e do sistema nervoso central. Nessa doença as toxinas atuam como superantígenos e ativam de modo
exacerbado as células T (envolvidas na resposta imune). Com isso, os mediadores pró-inflamatórios
também são produzidos de maneira exacerbada, o que resulta nos sintomas supracitados.

37
Outro problema relacionado com cepas toxigênicas de S. aureus são as intoxicações alimenta-
res causadas por enterotoxinas estafilocócicas. Para que essa condição ocorra, é necessário que
o indivíduo consuma alimentos contaminados com toxinas pré-formadas, ou seja, é preciso que a
bactéria tenha condições apropriadas para se multiplicar nos alimentos e produzir toxinas, já que o
micro-organismo não é capaz de produzir tais componentes tóxicos no intestino do hospedeiro. A

UNIDADE 02
doença é caracterizada por um início repentino de náusea, vômito e cãibras no estômago, acompa-
nhados eventualmente de diarreia. Esses sintomas geralmente têm início dentro de 0,5 a 8 horas
após a ingestão de alimento contendo a toxina e costumam cessar em um dia. Além disso, as toxinas
são termorresistentes, ou seja, após produzidas no alimento, não são destruídas pelo calor.
2.3.2 STREPTOCOCCUS β-HEMOLÍTICOS
Os Streptococcus representam bactérias Gram-positivas esféricas, que se organizam na forma

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de cadeias, são catalase-negativas e se distribuem amplamente na natureza. Algumas espécies do
gênero são capazes de causar hemólise em diferentes níveis em meios de cultura.
Quando a hemólise é completa, observa-se a formação de uma zona clara ao redor da colônia em
meios sólidos (ex.: ágar sangue), a qual é chamada de β-hemólise. S. agalactiae é um dos patógenos
mais importantes desse grupo, um micro-organismo encontrado na microbiota vaginal e intestinal
de muitas mulheres. Em recém-nascidos, ele causa duas condições clínicas importantes: a infecção
neonatal precoce (mais comum) e a tardia. A infecção precoce se inicia em até sete dias após o nas-
cimento e se dá quando o bebê aspira secreções vaginais contaminadas com a bactéria durante o
parto, resultando em pneumonia e sepse. Pode haver evolução para óbito em até 48 horas. A forma
tardia ocorre entre 7 e 12 semanas de vida e envolve meningite e/ou sepse e se dá por meio da con-
taminação do bebê pela mãe ou por outras crianças próximas que estejam contaminadas.
2.3.3 STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE
Também chamada de pneumococo, essa espécie se apresenta na forma de cocos agrupados
aos pares ou em cadeia. É caracterizada por hemólise parcial em ágar sangue (α-hemólise) e, como
os outros estreptococos, é anaeróbia facultativa. Esse micro-organismo apresenta diversos fatores
de virulência, como, por exemplo, a presença de cápsula – que impede ou dificulta a fagocitose
pelas células de defesa do hospedeiro – e IgA proteases (enzimas que degradam o subtipo de anti-
corpo IgA1). Embora seja encontrada na microbiota do trato respiratório de até 70% da população
humana, S. pneumoniae está envolvida com várias doenças, incluindo pneumonia, otite, sinusite,
bacteremia e meningite.
As infecções causadas pelo pneumococo se dão com a colonização da nasofaringe e, a partir daí,
pode haver infecção de outros sítios, especialmente dos pulmões (pelos brônquios) e do ouvido
médio (pela tuba auditiva). Os quadros de pneumonia são caracterizados por febre, calafrios e der-
rame pleural de início súbito. Esses casos ocorrem apenas quando a bactéria possui cápsula, pois
dessa maneira as células microbianas conseguem promover autólise dos fagócitos nos alvéolos pul-
monares, com consequente inflamação do tecido afetado. A partir dos pulmões a S. pneumoniae
pode atingir a corrente sanguínea, resultando em bacteremia (muitas vezes fatal), as meninges,
causando meningite, e, mais raramente, infecções nos ossos, nas articulações e no coração.

38
2.4 COCOS GRAM-NEGATIVOS
2.4.1 NEISSERIA GONORRHOEAE
O gênero Neisseria abrange diversas espécies, das quais apenas N. gonorrhoeae e N. menin-
gitidis são patogênicas para os seres humanos. Essas bactérias são caracterizadas por diplococos

UNIDADE 02
Gram-negativos imóveis, não esporulados, oxidase positiva e bom crescimento em ambientes úmi-
dos com tensão de 5% de CO2.
N. gonorrhoeae, também conhecida como gonococo, é responsável pelos casos de gonorreia.
Esse micro-organismo apresenta diversos fatores de virulência essenciais para sua patogenia em
seres humanos, incluindo lipopolissacarídeo de membrana externa (relacionado com o processo
inflamatório), fímbrias do tipo IV e proteínas Opa (ambas envolvidas com a adesão ao epitélio),

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IgA1 proteases, entre outros.
A gonorreia é uma infecção adquirida por contato sexual, podendo causar doença em diversos
sítios, como reto, orofaringe, em órgãos que têm contato/relação com os órgãos sexuais, além
de conjuntivites (infecção neonatal). O tempo de incubação é de 2 a 5 dias e a infecção se inicia
com a adesão seguida da endocitose do micro-organismo no epitélio que, por sua vez, atinge
o subepitéio. Na sequência, observa-se um processo inflamatório mediado essencialmente pela
produção de fator de necrose tumoral (TFN) induzida pelo lipopolissacarídeo de membrana. Como
resultado, ocorre descamação do epitélio, com formação de abscesso e exsudato. Nos homens a
doença se caracteriza por uretrite purulenta e algúria (dor ao urinar) ou, ainda, pode ocorrer de
forma assintomática. Nas mulheres as infecções do trato genital inferior são assintomáticas, com
formação de corrimento. Em casos não tratados, tanto em homens quanto em mulheres, pode
haver infecção ascendente com possível desenvolvimento de esterilidade.
Os casos de infecção de conjuntivite normalmente são observados em neonatos, que têm essa
região do corpo contaminada durante a passagem pelo canal vaginal no parto. Esse quadro é cha-
mado de oftalmia neonatal e tem curso rápido, podendo evoluir para cegueira, se não tratado.
2.4.2 NEISSERIA MENINGITIDIS
Também chamada de meningococo, N. meningitidis está associada, essencialmente, a três
condições clínicas: a meningite sem meningocococemia, a meningite com meningocococemia e a
meningocococemia sem meningite. Assim como N. gonorrhoeae, N. meningitidis apresenta fato-
res de virulência relacionados diretamente aos seus mecanismos de patogenia.
A contaminação dos indivíduos se dá por gotículas de secreções respiratórias contendo o mi-
cro-organismo, que então passa a colonizar as células epiteliais do trato respiratório superior. Essa
colonização pode ser transitória, durando de poucos dias a vários meses. A bactéria invade as cé-
lulas epiteliais e pode causar bacteremia (cujos sintomas são mais brandos) ou meningocococemia
fulminante, uma manifestação grave da bacteremia que envolve sintomas como febre elevada,
coagulação intravascular, formação de exantemas hemorrágicos difusos pelo corpo, hipotensão
e pode ser fatal. Além disso, os poucos sobreviventes dessa condição apresentam sequelas como
perda de membros e doenças neurológicas.

39
A meningite representa a infecção das meninges por esse micro-organismo e é caracterizada
por dores de cabeça, vômito, rigidez de nuca e evolução para coma. Pode haver exsudação e in-
filtração de leucócitos, resultando em formação de pus por toda a superfície do cérebro. Eventu-
almente, esse micro-organismo pode ser associado a pneumonia, endocardite, uretrite e outras
doenças infecciosas.

UNIDADE 02
LEITURA
Considerando que as micobactérias constituem um grupo especial de patógenos dentro da mi-
crobiologia clínica, sugerimos a leitura do Capítulo 21 – “Micobactérias” – do livro Microbiologia
médica e imunologia. Esse capítulo aborda as características das principais espécies patogênicas

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desse gênero: Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium leprae, agentes etiológicas da tuber-
culose e da hanseníase, respectivamente.
LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.

3. AGENTES ANTIMICROBIANOS
Muitas vezes, e por diversas razões, as infecções que acometem os seres humanos não são
superadas pelas próprias defesas naturais, ou seja, pelo sistema imune. Nesse sentido, fármacos
são amplamente empregados na rotina médica para ajudar no combate a essas infecções. Essas
drogas são os antimicrobianos.
O termo antimicrobiano é muito amplo e utilizado para substâncias que combatem micro-
-organismos, ou seja, bactérias, fungos e vírus. Daremos enfoque aqui ao estudo dos fármacos
antibacterianos, uma vez que o cerne dos nossos estudos está nesse grupo de micro-organismos.
Os fármacos antibacterianos podem ser classificados, primordialmente, por três atributos: pelo
espectro de ação, pela atividade e pelo mecanismo de ação. A classificação pelo espectro de ação
é mais genérica, na qual podemos encontrar os fármacos de espectro restrito, como as penicili-
nas, que apresentam atividade contra bactérias Gram-positivas, mas ação muito limitada para as
Gram-negativas. Por outro lado, drogas como o cloranfenicol são ativos contra bactérias Gram-po-
sitivas e Gram-negativas e, por esse motivo, são de amplo espectro.
Com relação à atividade, os fármacos antibacterianos podem ser bactericidas, pois promovem
a morte celular, ou bacteriostáticos. Neste último caso, as drogas apenas inibem o crescimento
(multiplicação) das células e não as matam.
Acerca do mecanismo de ação, a classificação é feita em fármacos que: a) inibem a síntese da
parede celular; b) inibem a síntese de proteínas; c) causam danos à membrana plasmática; d) ini-
bem a síntese de ácidos nucleicos; e e) inibem vias metabólicas.

40
A Figura 5 mostra um esquema dos mecanismos de ação dos fármacos antimicrobianos.

FIGURA 5 - PRINCIPAIS MECANISMOS DE AÇÃO DOS FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS

MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS

UNIDADE 02
Inibição da sín- Inibição da sín-
de parede Danos à mem-
Inibição da tese de ácidos tesecelular brana celular Inibição de
síntese de nucleicos vias metabó-
proteínas licas

Parede celular
DNA Membrana celular
Ribossomo Ácido fólico

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Uma característica muito valiosa de um fármaco antimicrobiano se refere à toxicidade seletiva,
ou seja, a capacidade de matar ou inibir o crescimento de um micro-organismo ao mesmo tempo
que prejuízos mínimos ou nenhum dano ao hospedeiro seja causado. Ou seja, quanto mais se-
letivo para o micro-organismo, mais interessante se torna o fármaco. Essa seletividade pode ser
alcançada porque as células procarióticas possuem alvos que não são encontrados nas células dos
mamíferos (ex.: parede celular), como veremos em breve.
Considerando a classificação dos fármacos antimicrobianos pelo seu mecanismo de ação, va-
mos estudar a partir de agora as classes supracitadas, dando enfoque às principais drogas incluídas
em cada uma delas e suas principais características.

3.1 FÁRMACOS QUE INIBEM A SÍNTESE DE PAREDE CELULAR


Os fármacos que inibem a síntese de parede celular podem atuar em diversas etapas da bios-
síntese do peptideoglicano e, como resultado, as células ficam mais suscetíveis à lise osmótica.
Logo, esses fármacos são considerados bactericidas. Além disso, as células humanas não possuem
parede celular, fazendo com que o modo de ação seja um bom exemplo de toxicidade seletiva.
Existem muitos fármacos que inibem a síntese de parede celular, como as penicilinas. Esse gru-
po ainda faz parte do conjunto de fármacos chamados de β-lactâmicos, em que diversas outras
classes estão incluídas, como cefalosporinas, carbapenemos e monobactamos.
3.1.1 PENICILINAS
O grupo das penicilinas apresenta na sua estrutura química o anel β-lactâmico, o qual é cons-
tituído por três átomos de carbono e um de nitrogênio, como mostra a Figura 6. Esse anel é res-
ponsável pelo mecanismo de ação desses fármacos, pois interage com uma enzima importante

41
na síntese da parede celular, a proteína de ligação da penicilina (PBP; penicillin-binding-proteins).
Além de ser responsável pela ação antibacteriana, esse anel tem papel-chave no mecanismo de
resistência das bactérias produtoras de β-lactamases, como discutiremos adiante.

FIGURA 6 - ANEL β-LACTÂMICO NA ESTRUTURA QUÍMICA DA PENICILINA

UNIDADE 02
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ANEL β-LACTÂMICO

Apesar da necessidade de manutenção da estrutura química do anel β-lactâmico para que a


atividade antibacteriana seja observada, alterações químicas estratégicas nos radicais da molécula
da penicilina natural (extraídas do fungo) permitiram o desenvolvimento de β-lactâmicos semis-
sintéticos, os quais possuem atributos superiores, em termos de espectro e tempo de ação, aos
das penicilinas. Como exemplo, as penicilinas naturais (ex.: penicilina G) com ação muito restrita a
bactérias Gram-positivas receberam a adição de grupos amina (-NH2) na molécula. Isso permitiu o
desenvolvimento das aminopenicilinas (ex.: amoxicilina e penicilinas de amplo espectro), que são
ativas tanto contra bactérias Gram-negativas quanto Gram-positivas.
Embora esses fármacos tenham sido uma importante descoberta para o tratamento de infec-
ções, algumas bactérias passaram a ser resistentes a eles em razão da produção da enzima β-lacta-
mase (ou penicilinase) que quebra o anel β-lactâmico, inativando o fármaco. Por esse motivo, um
agente inibidor da enzima, o clavulanato de sódio, é associado à amoxicilina (Clavulin), pois, ao
neutralizar a enzima penicilinase, ele permite que o antibiótico exerça sua ação.

SAIBA MAIS
A penicilina foi o primeiro antibiótico descoberto, por Alexander Fleming, em 1928. O cientista
isolou a substância a partir de um fungo chamado Penicillium notatum (hoje chamado de Peni-
cillium chrysogenum) e, por isso, o fármaco recebeu esse nome.

3.1.2 CEFALOSPORINAS
Os fármacos desse grupo também são β-lactâmicos e inibem a síntese de parede celular pelo
mesmo mecanismo das penicilinas. No entanto, uma diferença estrutural (ligação de um anel de
seis átomos ao anel β-lactâmico, em vez de cinco, como ocorre nas penicilinas) confere às cefalos-
porinas uma resistência aumentada à inativação por β-lactamases. Esse grupo apresenta fármacos

42
naturais e semissintéticos. Os últimos foram classificados em gerações com base, principalmente,
em seu espectro de atividade, que aumenta desde as cefalosporinas de primeira geração (ex.: ce-
falexina, cujo espectro estreito) até as de quarta geração (ex.: cefepima, de amplo espectro).
3.1.3 CARBAPENEMOS E MONOBACTAMOS

UNIDADE 02
Os carbapenêmicos e monobactamos também possuem um anel β-lactâmico e, portanto, inibem
a síntese de parede. O único monobactamo usado clinicamente é o aztreonam, que apresenta ativi-
dade restrita para certas bactérias Gram-negativas (ex.: Escherichia coli). Por outro lado, a família car-
bapenemos inclui uma variedade de drogas semissintéticas (ex.: imipenem e meropenem) que for-
necem atividade de amplo espectro contra patógenos bacterianos Gram-positivos e Gram-negativos.
3.1.4 ANTIBACTERIANOS POLIPEPTÍDICOS

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Outro grupo de fármacos que atuam na inibição da síntese da parede celular são os antibacte-
rianos polipeptídicos, como a bacitracina e a vancomicina. No entanto, esses fármacos atuam em
outros estágios da síntese da parede celular. A vancomicina é uma molécula que se liga ao final da
cadeia peptídica dos precursores da parede celular, criando um bloqueio estrutural que impede
que as subunidades da parede celular sejam incorporadas ao esqueleto de ácido N-acetilglicosami-
na (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM). A bacitracina, por outro lado, inibe a síntese de parede
por impedir o transporte das subunidades de peptideoglicano através da membrana plasmática.

3.2 FÁRMACOS QUE INIBEM A SÍNTESE PROTEICA


Como estudamos na Unidade I, os ribossomos 80S encontrados nas células animais são dife-
rentes dos encontrados nas células bacterianas (70S), tornando a biossíntese de proteínas um alvo
seletivo para medicamentos antibacterianos. Também vimos que os ribossomos 70S são formados
pela união de duas subunidades, uma 30S e outra 50S, e, por essa razão, veremos que há fármacos
que atuam em cada uma destas.
3.2.1 FÁRMACOS QUE ATUAM NA SUBUNIDADE 30S
Os aminoglicosídeos estão entre os fármacos que se ligam à subunidade 30S prejudicando a ca-
pacidade de “revisão” das proteínas sintetizadas. Isso resulta na produção de proteínas com ami-
noácidos incorretos. As proteínas defeituosas se ligam à membrana plasmática, causando ruptura
da membrana e morte celular. Como exemplo de fármacos que fazem parte dessa classe, podemos
citar a estreptomicina, a gentamicina e a neomicina. Embora os aminoglicosídeos sejam fármacos
de amplo espectro, eles são potencialmente nefrotóxicos, neurotóxicos e ototóxicos.
Outra classe de compostos antibacterianos que se ligam à subunidade 30S são as tetraciclinas. Ao
contrário dos aminoglicosídeos, esses fármacos são bacteriostáticos e inibem a síntese proteica por
impedir a associação do RNA transportador à subunidade 30S. Como exemplo desse grupo, temos
a tetraciclina, a doxiciclina e a minocilina. As tetraciclinas também apresentam amplo espectro, mas
podem causar fototoxicidade, descoloração permanente dos dentes em desenvolvimento (no caso
de crianças – e, por esse motivo, não devem ser utilizados nessa faixa etária) e toxicidade ao fígado.

43
3.2.2 FÁRMACOS QUE ATUAM NA SUBUNIDADE 50S
Diversas classes de medicamentos antibacterianos atuam por se ligarem à subunidade 50S.
Dentre eles, podemos destacar os macrolídeos, que recebem esse nome em razão do anel volu-
moso, como pode ser observado na estrutura química da azitromicina, na Figura 7. Esses fármacos
têm amplo espectro de ação e inibem a formação das ligações peptídicas entre os aminoácidos e,

UNIDADE 02
portanto, são bacteriostáticos. A eritromicina é um exemplo desse grupo e foi isolada a partir de
uma bactéria filamentosa do gênero Streptomyces. A azitromicina é um macrolídeo semissintético
que apresenta maior espectro em comparação com a eritromicina. O maior tempo de meia-vida
da azitromicina permite que esse fármaco seja administrado apenas uma vez ao dia.

FIGURA 7 - ESTRUTURA QUÍMICA DA AZITROMICINA

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Um fármaco chamado cloranfenicol tem uma estrutura distinta dos macrolídeos, mas também
inibe a síntese proteica bacteriana por se ligar à subunidade 50S. Esse fármaco, além de apresen-
tar amplo espectro, consegue se difundir muito bem nos tecidos biológicos – o que não ocorre
com muitos fármacos antimicrobianos. Embora essas notáveis vantagens existam, o cloranfenicol
é potencialmente tóxico e, portanto, utilizado com muita cautela. Sua toxicidade está relacionada
à supressão da atividade da medula óssea, resultando em quadros de anemia.

3.3 FÁRMACOS QUE INIBEM A SÍNTESE DE ÁCIDOS NUCLEICOS


3.3.1 RIFAMICINAS
Essa classe de medicamentos atua inibindo a síntese de ácidos nucleicos por meio da inibição
da atividade da enzima RNA polimerase, ou seja, a síntese de RNA mensageiro. As enzimas RNA
polimerase nas bactérias são estruturalmente diferentes das dos eucariotos, proporcionando to-
xicidade seletiva contra células bacterianas. A rifampicina é um fármaco semissintético incluído
nessa classe, usado (em associação com outras drogas) para o tratamento de diversas infecções,
como a tuberculose.

44
3.3.1 QUINOLONAS
O ácido nalidíxico é um exemplo desse grupo e atua inibindo a síntese de DNA por meio da ini-
bição da enzima DNA girasse. Após a descoberta desse fármaco, na década de 1960, substituições
químicas permitiram o desenvolvimento de outra classe: as fluorquinolonas. Os medicamentos
ciprofloxacino e levofloxacino estão nesse grupo. Esses fármacos são de amplo espectro e utiliza-

UNIDADE 02
dos para o tratamento de infecções dos tratos urinário e respiratório.

3.4 FÁRMACOS QUE INIBEM VIAS METABÓLICAS


Dentre os fármacos que apresentam essa atividade, podemos citar a classe das sulfonamidas,

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como o sulfametoxazol, que é usado em associação com o trimetoprim. O sulfametoxazol e o
trimetoprim inibem, respectivamente, as enzima di-hidropteroato sintetase e di-hidrofolato redu-
tase. Ambas as enzimas são importantes para produção de ácido fólico, um composto essencial
para síntese de purina e pirimidinas – precursoras para síntese de ácidos nucleicos. Esse mecanis-
mo de ação fornece inibição bacteriostática do crescimento contra um amplo espectro de pató-
genos Gram-positivos e Gram-negativos. Os humanos não são capazes de sintetizar ácido fólico
intracelularmente e, portanto, assimilam essa substância por meio da alimentação. Isso faz com
que as sulfonamidas sejam seletivamente tóxicas para as bactérias.

3.5 FÁRMACOS QUE CAUSAM DANOS À MEMBRANA PLASMÁTICA


Um pequeno grupo de fármacos tem como alvo a membrana bacteriana em seu modo de ação.
Dentre eles, podemos destacar as polimixinas, cujas drogas comercialmente disponíveis são: a po-
limixina B e a polimixina E (colistina). Esses fármacos são lipofílicos e atuam como detergentes na
membrana plasmática (bicamada fosfolipídica) das bactérias. Ao causarem a ruptura da membra-
na, os fármacos matam as bactérias e são considerados, portanto, bactericidas. Infelizmente, essas
drogas também têm como alvo a membrana das células nos rins (nefrotoxicidade) e no sistema
nervoso (neurotoxocidade), quando administradas sistemicamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim da segunda Unidade da disciplina de Microbiologia e Imunologia. Estudamos
as características essenciais do desenvolvimento de uma doença infecciosa, os principais grupos
de bactérias de interesse médico e suas respectivas doenças e os fármacos antibacterianos.
Sobre o desenvolvimento de uma doença, vimos que ela pode ser separada em momentos dis-
tintos, incluindo o período de incubação, o período prodrômico, o período de doença, o período
de declínio e o período de convalescência. A última fase é caracterizada pelo desaparecimento
dos sintomas (caso não ocorram sequelas). No entanto, alguns indivíduos podem permanecer co-

45
lonizados com uma bactéria e se tornarem disseminadores de uma doença. Ademais, verificamos
que existem diversas formas de transmissão das doenças, como, por exemplo, a transmissão por
vetores, como é caso da contaminação de alimentos por insetos voadores.
Também exploramos os principais cocos e bacilos (Gram-positivos e Gram-negativos) de inte-
resse médico. Vimos que esses micro-organismos podem estar presentes no organismo de muitos

UNIDADE 02
indivíduos sem causar doença. Por outro lado, algumas bactérias podem causar desde infecções
de pele até infecções no sistema nervoso central e morte. Essas doenças ocorrem em função de
diversos fatores de virulência encontrados nas bactérias, como proteínas de adesão, toxinas e pela
estrutura de movimento. No caso de S. pneumoniae, por exemplo, constatamos que sem a presen-
ça de cápsula essa bactéria não é capaz de causar doença (por exemplo, pneumonia).
Constatamos que as infecções bacterianas podem ser controladas por meio do uso dos fár-

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macos antibacterianos. Vimos que existem diferentes grupos de medicamentos que podem ser
utilizados para essa finalidade e que eles são classificados por diversos critérios. Um deles leva em
consideração o mecanismo de ação e separa os antibacterianos em fármacos que: inibem a síntese
de parede celular; inibem a síntese proteica; inibem a síntese de ácidos nucleicos; inibem a síntese
de componentes essenciais; além daqueles que causam danos à membrana celular. Ademais, estu-
damos que os antibacterianos podem ser bactericidas (que causam morte celular) e bacteriostáti-
cos (que inibem o crescimento populacional) e podem apresentar toxicidade seletiva quando têm
como alvo componentes exclusivos de células procarióticas.

ANOTAÇÕES

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REFERÊNCIAS

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