Você está na página 1de 35

COLÉGIO PAULO FREIRE

ENSINO FUNDAMENTAL

MARIA FERNANDA BRAGA VARANDA COSTA

BIOTECNOLOGIA: ENGENHARIA GENÉTICA E SEUS DESAFIOS

NITERÓI
2021

0
MARIA FERNANDA BRAGA VARANDA COSTA

BIOTECNOLOGIA: ENGENHARIA GENÉTICA E SEUS DESAFIOS

Trabalho apresentado ao Colégio Paulo


Freire – Ensino Fundamental II, como requisito
para obtenção de nota na disciplina Trabalho de
Conclusão do Fundamental.

Orientador: Prof. Dra. Pollyana Feteira

NITERÓI
2021

1
À minha família,

e em especial ao meu irmão gêmeo, pessoa tão importante na minha vida.

2
AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado esta família que me dá força e coragem para seguir em
frente.
Ao Colégio Paulo Freire, seu corpo docente, direção e administração que através
dos seus ensinamentos proporcionaram a conclusão deste trabalho.
A Professora Pollyana Feteira, pela excelente orientação.
Aos colegas da turma, que contribuíram direta e indiretamente para a realização
deste trabalho.

3
“Se você tivesse uma ideia que escandalizaria o mundo você a guardaria para
si?” (Charles Darwin)

4
RESUMO

O presente trabalho tem como tema abordar a importância da engenharia genética e


da biotecnologia em nossas vidas. Onde o objetivo é descrever esse maravilhoso
ramo da ciência, que ultimamente vem tomando conta dos noticiários. Seu destaque
está no desenvolvimento ou no aprimoramento de organismos de origem animal ou
vegetal, através de técnicas de manipulação do DNA. O uso dessas diferentes
ferramentas tem contribuído cada vez mais para a melhoria da sociedade em
diversos aspectos. Esses processos de manipulação possibilitam que sequências de
bases completas de DNA sejam decifrados e reproduzidos em laboratórios,
procedimento que facilitou a clonagem de genes, uma técnica amplamente utilizada
em microbiologia celular como forma de identificar e copiar determinado gene no
interior de um organismo. A escolha desse tema surgiu da necessidade de
compreender e conhecer a importância de como trabalhar a genética na cura de
doenças malignas, na disseminação de pragas em plantações, na produção de
vacinas, na produção de biocombustíveis, na modificação de alimentos, entre outras
infinitas possibilidades. Propõe-se, portanto, a divisão do presente trabalho em duas
partes, a primeira parte abordará avanços da teorias que proporcionam cada vez
mais conhecimentos sobre o genoma dos seres vivos; a segunda parte tratará do
tema sob o aspecto da relação dessas técnicas e a natureza humana apontando
questões cruciais para o homem e seu futuro. Assim sendo, essa monografia vem
mostrar a possibilidade de o ser humano superar a sua própria natureza, através da
ciência. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no século XIX, já falava na ascensão
de um “Super-homem” que ultrapassaria o próprio homem. Na mesma seara, o
escritor Aldous Huxley, autor do famoso livro de ficção cientifica intitulado “Admirável
Mundo Novo”, trata exatamente dos perigos que tal ideia de ultrapassagem da
natureza humana poderia conduzir, tendo como tema a criação de seres humanos
em laboratórios através da manipulação genética. Assim, considera-se que essas
atividades conduzidas de forma errônea podem encantar cientistas na busca pelo
aperfeiçoamento da raça humana por meio da ciência e da tecnologia. Tivemos um
exemplo, recente na história mundial, quando o líder político Adolf Hitler
implementou um plano insano de multiplicação e fortalecimento de uma raça branca
e pura, no qual ele premiava mães alemães escolhidas por ele a terem um número
recorde de filhos, levando a humanidade a um destino incerto semelhante a ficção
cientifica.

5
INDICE DE FIGURAS

Figura 1.......................................................................................................................13
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao19.php

Figura 2.......................................................................................................................16
https://www.deviante.com.br/noticias/resenha-sapiens-uma-breve-historia-da-
humanidade-yuval-noah-harari/

6
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................9

2. A TEORIA GENETICA DA EVOLUÇÃO..............................................................10

1.1 Conceito de Genética........................................................................................10

2.2 A Teoria de Charles Darwin..................................................................................10

2.3 A Teoria de Gregor Mendel...................................................................................11

2.4 A Teoria de Jean Piaget........................................................................................11

2.5 Teoria Neodarwiniana...........................................................................................11

2.6 Tipos de Mutações................................................................................................12

2.7 O aspecto antropológico e as modificações epigenéticas....................................14

2.7.1 Do gênero Homo.........................................................................................14

2.8 Teorias sobre o início da vida...............................................................................16

3. BIOTECNOLOGIA e ENGENHARIA GENÉTICA...................................................19

3,1 Conceito de Biotecnologia....................................................................................19

3.2 Evolução Histórica.................................................................................................19

3.3 Aplicações da Biotecnologia.................................................................................20

4. ENGENHARIA GENETICA.....................................................................................23

4.1 Conceito de engenharia genética.........................................................................23

4.2 Objetivo da engenharia genética..........................................................................23

4.3 Processos de Indução genética............................................................................23

4.3.2 Transgênicos...............................................................................................25

4.3.3 Edição Genética..........................................................................................26

7
5.CONCLUSÃO...........................................................................................................28

ANEXO........................................................................................................................29

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................34

1. INTRODUÇÃO

O homem para chegar o que é hoje, passou por um processo de evolução, seja ela
física, mental, todas maneiras de adaptação para a sobrevivência da espécie. O
primeiro registro do homem ocorreu a mais de 70 mil anos atrás, tamanha a
complexidade do processo evolutivo, evolução está que continua a ocorrer nos dias
atuais. Porém com o passar dos anos, com o avanço científico novas formas de
adaptação vão surgindo. Nessa ótica, importa trazer à tona a manipulação genética,
qualquer organismo animal ou vegetal é constituído por células, e dentro delas
existe um núcleo, com um conjunto de cromossomos. Estes são estruturas de DNA
(ácido desoxirribonucleico) que contêm toda a informação sobre o organismo a que
pertencem. Os genes, constituintes do DNA, representavam, cada um, uma
propriedade específica. A manipulação consiste em retirar o DNA de um organismo
e enxertá-lo no DNA de outro, a fim de criar algo inteiramente novo – novas
moléculas vivas, novos genes, e consequentemente, uma nova vida. Desse modo,
surge uma importante questão a ser avaliada, pois obviamente não é possível alterar
uma característica que levou milhares de anos para se consolidar, sem que haja
prejuízos ou até mesmo descaracterização da espécie como tal. Tais prejuízos
refletem nas mais diversas ordens, ultrapassando importantes barreiras, não apenas
naturais, mas também no que tange à sociedade e à ética. A ética na ciência tem
sido ignorada há tempos. Munidos pela ganância, cientistas prescindem da ética de
forma que muitas vezes valendo dos avanços tecnológicos justificam a urgência na
obtenção de resultados, lamentavelmente empregados, como se os fins
justificassem os meios. A ética permanece relegada ao último plano, pois até mesmo
as leis por vezes são utilizadas para servirem como respaldo às mais bizarras
experiências cientificas, tudo em nome da ciência e do progresso, que menospreza
a vida humana. Esses avanços tecnológicos permitiram a criação dos transgênicos,

8
a clonagem e a decifração do código genético humano. Hoje através da genética é
possível modificar, manipular e até mesmo criar novas formas de vida.

2. A TEORIA GENETICA DA EVOLUÇÃO

Os humanos começaram o desenvolvimento com a adaptação de seus genes,


quando tratamos de evolução percebemos que um determinado grupo humano
pertencente a uma determinada área geográfica começa a desenvolver
características semelhantes que permitem que este grupo se adapte melhor às
condições ambientais em que vivem. Essa mutação cria novos genes, e os mistura
com os genes já existentes, originando indivíduos geneticamente variados. A
seleção natural neste processo favorece os indivíduos portadores de determinados
conjuntos gênicos adaptativos, que tendem a sobreviver e se reproduzir em maior
escala que outros. Em função da atuação desses e de outros fatores evolutivos, a
composição gênica das populações se modifica ao longo do tempo.

1.1 Conceito de Genética

“A genética é o ramo da biologia que estuda a hereditariedade, ou seja, a


transmissão de características de pais para filhos, ao logo de várias gerações.” 1

2.2 A Teoria de Charles Darwin

Em 1859, o naturalista e cientista britânico Charles Darwin em seu livro intitulado “A


Origem das Espécies” mudava radicalmente a biologia ao desenvolver a teoria da
seleção natural, sendo o primeiro estudioso a oferecer provas científicas e explicar o
mecanismo que a torna possível. De acordo com Darwin há uma luta pela
sobrevivência na natureza, mas aquele que sobrevive não é necessariamente o
mais forte e, sim, o que melhor se adapta às condições do ambiente em que vive.

1
https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/genetica.htm.

9
2.3 A Teoria de Gregor Mendel

Em 1920, o monge Gregor Mendel acreditava que apenas as mutações eram


responsáveis pela evolução e que a seleção natural não tinha importância nesse
processo. Ele desenvolveu a teoria através da observação da transmissão de
caracteres entre várias gerações de ervilhas sem ao menos saber da existência dos
cromossomos e desconhecer os processos de divisão celular.

2.4 A Teoria de Jean Piaget

Também chamada de Epistemologia Genética esta teoria defende que o indivíduo


passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da sua vida.” É
essencialmente baseada na inteligência e na construção do conhecimento e visa
responder não só como os homens, sozinhos ou em conjunto, constroem
conhecimentos, mas também por quais processos e por que etapas eles conseguem
fazer isso”.2

2.5 Teoria Neodarwiniana

As teorias que sobrevieram as anteriores começaram a conciliar as ideias sobre


seleção natural com os fatos da Genética, o que resultou na formulação da Teoria
sintética da evolução, às vezes chamada também de Neodarwinismo.

Essa teoria considera a população como a unidade evolutiva, considerando que


população pode ser definida como um grupamento de indivíduos da mesma espécie
que ocorrem em uma mesma área geográfica, em um mesmo intervalo de tempo.

https://edisciplinas.usp.br › mod_resource › content.

10
O conjunto de todos os genes presentes nessa população é denominado conjunto
gênico, desta forma, quanto maior for o conjunto gênico da população, maior será a
variabilidade genética.

A partir desse conceito temos dois grupos de fatores evolutivos que vão atuar sobre
o conjunto gênico da população:

1. “Aumentam a variabilidade genética – Mutação e Permutação;


2. Atuam sobre a variabilidade genética – Migração, Deriva Genética e Seleção
Natural.”3

2.6 Tipos de Mutações

As mutações podem ser de dois tipos:

 Mutações Cromossômicas;
 Mutações Gênicas.

As mutações cromossômicas surgem através da modificação no número ou na


forma dos cromossomos. Os cromossomos são estruturas compostas de DNA que
carregam os genes responsáveis pelas características físicas de cada indivíduo.
Cada individuo possui 23 pares de cromossomas em cada célula, em cada par há
um herdado do pai e o outro da mãe.

As mutações gênicas formam-se pela mudança na sequência das chamadas bases


nitrogenadas do gene no momento em que ocorre a duplicação da molécula de
DNA.

No DNA existem quatro tipos de bases nitrogenadas:


 Adenina (A);
 Guanina (G);

3
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao19.php

11
 Citosina (C);
 Timina (T),

Qualquer perda, adição ou substituição desses nucleotídeos pode originar um gene


diferente. Esses genes vão atuar dentro de nossas células “fabricando” proteínas ou
enzimas que terão diferentes funções metabólicas em nosso organismo. Apesar de
serem consideradas fontes primárias da variabilidade da população, também são as
responsáveis pelas diversas doenças genéticas existentes. Embora ocorram
espontaneamente, podem ser provocados por agentes como radiações e certas
substâncias químicas, como drogas psicotrópicas. Destarte ressaltar que elas não
ocorrem para adaptar o indivíduo ao ambiente, ocorrem por acaso. Quando
mantidas são adaptativas (seleção positiva) ou eliminadas em caso contrário
(seleção negativa). Ocorrem em células somáticas ou em células germinativas;
neste último caso suas mutações são transmitidas aos descendentes.

Figura 1

12
2.7 O aspecto antropológico e as modificações epigenéticas

As diferenças genéticas importantes não estão apenas na sequência dos


nucleotídeos, mas também em outras coisas que se anexam a ela, também
chamadas modificações epigenéticas sobre os genes. Enquanto a genética é a
ciência que estuda a base estrutural do DNA e suas funções, como a
hereditariedade. O ramo da epigenética está ligado à adaptação metabólica aos
estímulos do meio externo no dia a dia.

2.7.1 Do gênero Homo

A espécie humana evoluiu de um ancestral comum agrupado sob o nome de


“gênero”. Os gêneros, por sua vez, são agrupados em famílias. O homem como não
poderia deixar de ser também pertence a uma família, numerosa e especialmente
barulhenta chamada de grandes primatas.

Os homens começaram a evoluir cerca de 2,5 milhões de anos atrás, Os primeiros


habitantes são da África Oriental e de lá alguns abandonaram a terra natal e
migraram para o norte da África, da Europa e da Ásia, indo viver nas florestas
cobertas de neve da Europa Setentrional, com características geográficas e
climáticas completamente diferentes daquelas aos quais estavam adaptados. O
resultado foi a evolução do gênero em várias espécies distintas, aos quais os
cientistas atribuíram diversos nomes latinos.

 O Homo neanderthalensis – popularmente conhecidos como neandertais,


eram mais corpulentos, musculosos e mais adaptados ao clima frio da era do
gelo;
 O Homo erectus- provenientes do leste asiático, lá sobreviveram por quase 2
milhões de anos, sendo assim a espécie humana mais duradoura;
 O Homo soloensis- provenientes da Indonésia, receberam essa denominação
por habitarem a ilha de Java, ou vale do Solo, que por sofrer inundações
constantes muitos de seus indivíduos ficaram presos a ilha e devido a

13
carência de recursos alimentícios passaram a desenvolver o nanismo. Os
indivíduos de maior porte que precisavam de mais alimentos para
sobreviverem, morreram primeiro. Aqueles que eram menores tinham mais
chances de sobreviver;
 O Homo denisova- originário da Sibéria, descoberto na caverna de Desinova,
com características previamente desconhecidas;
 O Homo rudolfensis- ou “homem do lago Rudolf”;
 O Homo ergaster- ou “homem trabalhador”;
 O Homo sapiens- sua característica mais notável é o fato de possuírem
cérebros extremamente grandes e consequente inteligência refinada. Devido
ao grande peso do crânio exigia-se maior energia para carrega-lo e, portanto,
esses humanos dedicaram mais tempo á busca de comida. Outras
características a partir dessa foram desenvolvidas, locomoção rápida e ereta,
capacidade de fabricar carros e armas, braços desnecessários para a
locomoção foram liberados para propósitos manufatureiros que exigiram o
desenvolvimento de músculos e nervos nas mãos. Os prejuízos foram o
desenvolvimento de dores nas costas, torcicolos, mulheres com quadris mais
estreitos, compressão do canal vaginal, nascimentos mais prematuros.

Partindo dessa ideia,.Yuval Noah Harari, historiador, filósofo e professor de História


na Universidade Hebraica de Jerusalém, em seu livro intitulado “Sapiens: uma breve
história da humanidade”1 teve o poder de sintetizar essa história e dividir o seu
progresso em três grandes revoluções: A cognitiva, a agrícola e a científica. Na
revolução cognitiva o autor explica como as sociedades se formaram através da
capacidade de abstração e memória que somente o cérebro humano possui. Porém
devido à escassez de alimento, essas sociedades não podiam ser numerosas, daí a
necessidade da segunda revolução, a revolução agrícola. Esta permitiu que o
homem produzisse grandes quantidades de alimentos e com isso a possibilidade da
formação de grupos ainda maiores. E por último, temos a revolução científica, que
ainda está ocorrendo nos dias atuais. Essa revolução só foi possível porque
acumulamos alimentos suficientes, de forma que não precisarmos mais nos
preocupar.

14
“A real diferença entre seres humanos e outros animais não está no âmbito
individual, mas sim no âmbito coletivo. Ao longo da evolução, os seres humanos se
destacaram dos demais animais por 2 motivos principais:

 1 – Cooperação em grandes grupos e


 2 – Flexibilidade.” 4

Figura 2

2.8 Teorias sobre o início da vida

Através do avanço da biologia molecular, em meados do século XX, foi descoberto o


DNA, e a partir da década de 70, o DNA recombinante foi descoberto, e assim a
primeira tentativa de clonagem.

Com a possibilidade de a humanidade manipular a “origem” da vida, a preocupação


onde ela começa exatamente ficou eminente.

4
https://www.resumocast.com.br/sapiens-1-yuval-noah-harari/.

15
A reprodução humana envolve a união de células sexuais, um ovulo e um
espermatozoide formam um ovo, e essa célula única se transforma em um ser
multicelular.

Considerando que metade dos cromossomos é de origem paterna e outra metade


de origem materna, o ovo resultante é uma nova combinação cromossômica, pois
contêm uma carga genética própria, com algumas características herdadas do pai e
outras da mãe.

Aproximadamente setenta e duas horas após a fecundação, uma massa celular,


denominada mórula, penetra na cavidade uterina. Após várias transformações, ela
se transforma em um blastocisto, que se liga no endométrio no sexto dia após a
fecundação, fenômeno este denominado nidação, e é através dele que se tem início
as transformações hormonais no organismo que determina o estado gravídico.

Algumas teorias sobre o início da vida surgem nos diversos campos do


conhecimento:

1 - Para a teórica genética a vida se inicia, com a fecundação, com a união dos
gametas, gerando um código genético único, portanto um novo ser;

2 - Já a visão embriológica defende que a vida, somente começa na terceira semana


após a concepção, pois é quando é estabelecida a individualidade humana.;

3 - Já a visão neurológica afirma que a vida se inicia quando o sistema nervoso está
constituído, quando o feto apresenta atividade cerebral, mesmo que seja de forma
primitiva.;

4 - Para a visão ecológica a vida só começa quando o feto interage com o mundo,
quando ele possui capacidade de sobreviver fora do útero.

Entretanto, essas ponderações sobre o início da vida, não são puramente humanas,
a questão é determinar se o começo da vida é equivalente ao surgimento da pessoa
humana.

Para a antropologia, a pessoa, possui racionalidade como característica essencial. A


ética acrescenta a moralidade, pessoas são seres que agem com liberdade e
responsabilidade. Portanto para a visão ética, alguns seres humanos ainda não são
16
pessoas, como os recém-nascidos, e os que nunca serão, os deficientes mentais e
os que deixaram de ser, os que estão em estado vegetativo, os senis.

Partindo do pressuposto que o começo da personalidade se dá a partir do


nascimento com vida, linha seguida pelo atual Código Civil, a vida do novo ser
configura-se no momento em que este novo ser respira sozinho e com autonomia, a
partir de então existe uma pessoa em que se integram direitos e obrigações.

17
3. BIOTECNOLOGIA e ENGENHARIA GENÉTICA

3,1 Conceito de Biotecnologia

Segundo a ONU, “biotecnologia significa qualquer aplicação tecnológica que utilize


sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar
produtos ou processos para utilização específica” (ONU, Convenção de
Biodiversidade 1992, Art. 2).5

3.2 Evolução Histórica

Historicamente, o termo “biotecnologia” surgiu por volta de 1919, pelo engenheiro


húngaro Karl Ereky, mas os primeiros relatos desta ciência remontam aos processos
de fermentação por volta de 6000 a.C. com a produção de pães, queijos, bebidas
alcóolicas, vinagres e iogurtes. No entanto, somente em 1876 que o cientista Louis
Pasteur, por meio do microscópio, provou a existência que pequeníssimos
organismos eram os causadores deste processo.

Nos períodos das guerras mundiais ocorreu um aumento expressivo da ciência com
a fabricação de bombas, explosivos e munições. Em 1928, outro importante cientista
colaborou muito nos avanços deste segmento, Alexandre Fleming descobriu neste
ano a penicilina.

Atualmente, as pesquisas na área vêm aumentando, levando à criação de novos


campos de estudo como a engenharia genética e seus desdobramentos, a técnica
do DNA recombinante, a clonagem, a edição gênica, o método CRISPR.

3.3 Aplicações da Biotecnologia

5
https://biotechtown.com/blog/o-que-e-biotecnologia/

18
A Biotecnologia possui diversos ramos de acordo com a área da aplicação.
Podemos desenvolver técnicas de biotecnologia em áreas como medicina,
agricultura, pecuária, alimentação, bioenergia, indústria química, eletrônica, dentre
outras.

Convencionou-se que a classificação dos dez tipos diferentes ramos da


biotecnologia seria realizado através de cores.

 Biotecnologia Vermelha: a sua cor está relacionada diretamente ao sangue


e está relacionada a medicina humana tanto como a animal. Então tudo
aquilo ligado a melhoria da vida humana e animal, relacionado a área de
saúde em biotecnologia está nesta classificação. Alguns exemplos são a
produção e o desenvolvimento de vacinas, medicações, métodos de
diagnóstico, terapias gênicas, órteses e próteses, equipamentos médicos,
reprodução artificial, dentre muitos outros.

 Biotecnologia Branca: neste ramo a cor se relaciona a área industrial e seus


processos. Tem como função principal melhorar a sustentabilidade e a
eficiência nos processos de produção de alimentos, biocombustíveis,
cosméticos e vacinas.

 Biotecnologia Cinza: Seu objetivo está ligado a área ambiental, buscando


soluções para cuidar e preservar o solo, a flora, as águas e as novas formas
de reaproveitamento de resíduos.

 Biotecnologia Azul:  A cor está relacionada ao mar e seus biomas. A rica


biodiversidade encontrada nos oceanos oferece oportunidades que podem
ser aplicadas em outras áreas, como agricultura, alimentação,
biocombustíveis, farmacêuticos, ambiental, entre outros.

 Biotecnologia Marrom: Sua cor se relaciona aos desertos e todas os biomas


de locais inóspitos ou pouco habitados. O desenvolvimento de técnicas para o

19
desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para suportar os
grandes períodos de seca, aridez ou de uso racional da água

 Biotecnologia Amarela: Ramo cuja cor está voltada para o ramo da


alimentação e da nutrição. Suas técnicas permitem desenvolver alimentos
mais nutritivos que promovam a saúde e não causem alergias ou
intolerâncias.

 Biotecnologia Dourada: Esta cor se relaciona a área de bioinformática e


nanotecnologia. Tem como objetivo pesquisar e desenvolver programas,
algoritmos e equipamentos para a análise de dados biológicos, além de
fabricar biossensores e demais dispositivos que podem ser utilizados na
biotecnologia.

 Biotecnologia Verde: Tem a sua cor ligada a natureza sendo responsável


pelas técnicas de agricultura, tais como, nutrir e fertilizar as plantações, o
combate de pragas, à criação de novas variedades de plantas e à clonagem
de vegetais. Um exemplo bem comum aos nossos tempos é a produção ds
alimentos transgênicos.

 Biotecnologia Roxa: Ligada às questões éticas, morais e da regulamentação


da propriedade intelectual.

 Biotecnologia Laranja: Este é o setor responsável pela educação. Sua


função é desenvolver materiais e estratégias educacionais para o maior
número de pessoas.

 Biotecnologia Preta: Está relacionada ao desenvolvimento de armas


biológicas e o fomento do bioterrorismo. Uma das áreas da biotecnologia
mais perigosa, pois sua mal utilização pode gerar graves riscos para a
humanidade.

20
A biotecnologia é uma das principais áreas de desenvolvimento em todo o planeta,
responsável por setores essenciais à vida, como medicina, o meio ambiente, a
agricultura, a indústria, a educação, dentre outros. Os benefícios são diversos e
intangíveis, mas a biotecnologia também pode ser considerada um risco se utilizada
para fins errados.

A Biotecnologia Vermelha, por exemplo, como já citado neste conteúdo, pretende


ser o objeto principal deste trabalho, e com ela o desenvolvimento da engenharia
genética ligada a clonagem e edição do DNA e, com elas, as questões legais, éticas,
morais e filosóficas decorrentes deste processo.

21
4. ENGENHARIA GENETICA

4.1 Conceito de engenharia genética

A engenharia genética é um conjunto de técnicas capazes de manipular genes.


Engloba uma diversidade de conhecimentos científicos, como os conhecimentos no
campo da genética, da biologia molecular e da bioquímica.

Manipulação genética e modificação genética são termos para o processo de


manipulação dos genes num organismo, geralmente fora do processo normal
reprodutivo deste. Envolvem frequentemente o isolamento, a manipulação e a
introdução do DNA em um ser vivo, geralmente para expressar um gene.

4.2 Objetivo da engenharia genética

Tem como objetivo desenvolver técnicas que possibilitem que determinados


organismos tenham um melhor desempenho ou melhoramento, visando ao
aprimoramento ou estruturação genética de determinada espécie, seja vegetal ou
animal, conforme as necessidades científicas.

4.3 Processos de Indução genética

Os processos de indução genética possibilitaram que sequências de bases


completas de DNA fossem decifradas, procedimento que facilitou a clonagem de
genes, uma técnica amplamente utilizada em microbiologia celular como forma de
identificar e copiar determinado gene no interior de um organismo simples, como as
bactérias.

4.3.1 Clonagem

22
A clonagem é uma técnica utilizada no ramo da engenharia genética. Trata-se de
vários processos diferentes que podem ser usados para obtenção de “cópias’
genéticas de um mesmo ser vivo a partir de uma célula mãe. Tais cópias consistem
em genes, células, protozoários, plantas e até mamíferos, como uma ovelha. Essa
ideia de clonagem partiu de um embriologista alemão, Hans Spermann, que em
1938 propôs um experimento que até então consistia em transferir o núcleo de uma
célula em estagio tardio de desenvolvimento para um óvulo.

A técnica de clonagem se desenvolveu ao longo das décadas até que, em 1995, os


escoceses da estação de reprodução animal, Keith Campbell e Ian Wilmut, partiram
de células idênticas embrionárias de 9 dias para clonar duas ovelhas idênticas
chamadas de “Megan” e “Morag”. Apesar disso, foi apenas no ano seguinte que a
célebre ovelha Dolly surgiu, clonada a partir de células congeladas de uma ovelha.
O processo utilizado pelos escoceses gerou opiniões um tanto controversas, uma
vez que a ovelha não originou a partir uma célula embrionária e sim a partir de uma
célula mamária. Independentemente de toda a repercussão negativa mundial e das
discussões envolvendo a ética do experimento que surgiram com a anunciação do
nascimento de Dolly, esse seria um dos maiores passos já dados pela ciência e foi
um marco de uma nova era biotecnológica.

Envolvendo clonagem em processos laboratoriais, podemos mencionar a clonagem


reprodutiva e terapêutica.

 Clonagem Reprodutiva
A clonagem reprodutiva tem como objetivo criar um ser vivo que é geneticamente
igual a outro ser vivo através da transferência nuclear de células somáticas a um
óvulo sem núcleo. Surpreendentemente, esse começa a se comportar como um
óvulo recém-fecundado por um espermatozoide. Após a fusão, se introduz esse
óvulo enucleado ao útero (que funcionaria com uma barriga de aluguel) e se ele se
desenvolver, ao final da gestação se obterá um indivíduo com a bagagem genética
idêntica ao indivíduo original, ou seja, um clone.

23
É muito discutido nos dias de hoje sobre clonagem humana. Esse tema é abordado
em filmes como “A Ilha” e “Cópias – De Volta à Vida”. Discorre Mayana Zatz sobre
clonagem humana:

“O risco biológico é enorme, pelo que a gente viu das


pesquisas com animais. A tecnologia não está nem
disponível em humanos, mas se tivesse disponível é
impensável o risco de fazer uma clonagem reprodutiva
humana”. (ZATZ, 2008).6

 Clonagem terapêutica

A clonagem reprodutiva não é um processo fácil. Dolly só nasceu depois de 276


tentativas fracassadas. Por décadas, os cientistas tentaram e não conseguiram
clonar mamíferos de adultos existentes. Experimentos recentes provaram que esta
reprogramação de genes, que originou Dolly, é extremamente difícil. A clonagem
terapêutica, por sua vez, é um processo mais simples de ser realizado e tem por
finalidade atuar na medicina paliativa, em tratamentos médicos e reproduções de
tecidos e órgãos. Ocorre em laboratório, sem a introdução no útero.

4.3.2 Transgênicos

Transgênicos ou Organismos Geneticamente Modificados se refere a uma área da


engenharia genética mais voltada às plantas. Neste método o organismo recebe um
gene retirado de outro, o que lhe confere uma característica nova. Muito utilizada na
agricultura conferindo ao alimento características maiores, com menos manchas,
mais resistente às pragas. No entanto, há relatos que vêm causando alergias e
resistência a antibióticos em humanos.

Do ponto de vista econômico tem sido a solução para determinadas áreas de plantio
infestadas de pragas.  Essa resistência a pragas e doenças citada acaba por gerar
uma grande redução nos custos agrícolas, além disso algumas dessas espécies
podem ser colhidas mais rapidamente e com menor perda. Os organismos

6
https://revistapesquisa.fapesp.br/mayana-zatz-e-cristiane-segatto/
24
geneticamente modificados também podem ser utilizados para produção de
biocombustível.

4.3.3 Edição Genética

Dentre os processos de indução genética talvez o mais promissor e que vem


causando mais alvoroço na comunidade científica. Seu método consiste
basicamente em recortar, copiar e deletar partes do DNA como se fossem arquivos
digitais de computadores. Suas técnicas são utilizadas para o tratamento de
doenças genéticas, síndromes, e a promessa de cura de doenças mais conhecidas
como o câncer e a AIDS. Alguns exemplos são as produções, em larga escala, de
insulina, de interferon alfa humano com atividade biológica contra infecções
ocasionadas por vírus e contra algumas formas de tumores malignos humanos, de
vacinas e anticorpos em geral. 

Atualmente são três as técnicas mais utilizadas e envolvem a ação de enzimas, que
são proteínas com ação de catalise, denominadas nucleases. As nucleases
são enzimas capazes de cortar a fita dupla de DNA de um genoma.

 Dedo de Zinco ou ZFN (Zinc Finger Nucleases)

É um mecanismo existente nas células e ocorre mais frequentemente nos


eucariotos, células que contém um núcleo somente e organelas ligadas a menbrana.
As ZFNs utilizadas são enzimas de restrição artificiais. A sua estrutura é composta
por um domínio que corta o DNA – atividade de nuclease, e um domínio de ligação
ao DNA com a presença de átomos de zinco.

Para que a ligação ao DNA seja possível, são utilizadas de 3 a 6 proteínas ZFP
(Zinc Finger Proteins, Proteínas Dedos de Zinco) ligadas em sequência. As ZFPs
são modificadas para que reconheçam uma sequência específica da fita de DNA
alvo e, quando encontram essa sequência, se ligam à mesma e a porção nuclease é
responsável pela clivagem da região.7
7
https://profissaobiotec.com.br/3-tecnicas-revolucionarias-para-a-edicao-do-dna/
25
 TALENs (Efetor Tipo-Ativador de Transcrição nucleases, Transcription
Activator-Like Effector Nucleases)

A técnica consiste em primeiramente reconhecer a região do DNA a ser editada,


para isso são utilizadas proteínas TALE (Transcription Activator-Like Effector). Essas
proteínas e o mecanismo de edição do genoma ocorrem naturalmente no gênero
das bactérias Xanthomonas sp. As tecnicas TALENs e ZFNs são muito
semelhantes, pois utilizam o mesmo domínio de corte do DNA. Entretanto, para a
ligação ao DNA, são necessárias TALEs de 34 aminoácidos que reconhecem
apenas um único par de bases no DNA.

A grande vantagem dessa técnica é que ela pode reconhecer sequência de


aminoácidos de grande tamanho, se tornando própria para alvos de DNA diferentes.

 CRISPR-Cas9 (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente


Interespaçadas associada à proteína Cas 9, Clustered Regularly Interspaced
Short Palindromic Regions)

O CRISPR é uma técnica de edição do genoma que ganhou grande destaque na


mídia nos últimos anos, desenvolvida pela francesa Emmanuelle Charpentier e a
americana Jennifer A. Doudna. Existem enzimas de restrição que funcionam para
quebrar o DNA constantemente e para realizar a multiplicação das células, são
chamadas de “tesouras moleculares”. Essa tecnologia em particular, utiliza a enzima
Cas9, que corta a parte do DNA que contêm um erro e edita ele. Corrige o erro.

5.CONCLUSÃO

26
As maravilhas que se podem tornar realidade com a engenharia genética fazem
surgir numerosas questões éticas, políticas e ideológicas. É muito temido que ela
possa ser utilizada para criar uma geração de super-homens, no entanto não é bem
assim. Sem dúvida, não estamos muito distantes de dispor do saber para alcançar
isso. Os maiores obstáculos são as objeções éticas que tornaram mais lentas as
pesquisas envolvendo humanos.

É dada a seguinte situação: imagine que desenvolvêssemos uma cura para


diabetes por meio dos métodos de edição gênica, alguém poderia interromper uma
pesquisa tão relevante? E se a cura estivesse disponível, quem iria garantir que o
tratamento se limitasse a pessoas portadoras da diabetes? Esses estudos
genômicos estão muito baratos e fáceis de serem feitos, é necessária uma grande
responsabilidade ao disponibilizar uma tecnologia desse tamanho. Muito se discute
o perigo dos biohackers. Em 2017, o biohacker Josiah Zayner fica conhecido por
injetar em seu braço uma seringa contendo o DNA da da técnica CRISPR, dizendo
que isso lhe permitiria crescer mais músculos. Isso apenas prova que a ciência
ainda é incapaz de determinar o que fazer com suas descobertas. Será que
devemos usar o conhecimento sobre genética para curar o câncer ou para criar uma
raça de “super-homens”?

Estamos vivendo em uma era muito tecnológica e o mundo se encontra muito


impactado com os últimos avanços na ciência. Muitos estão até, estão convencidos
que a tecnologia é a resposta para todos os nossos problemas. A Ciência está mais
avançada do que nunca, porém ainda não temos a responsabilidade para lidar com
esse poder. As novas descobertas no ramo da Engenharia Genética, como o
CRISPR, poderiam melhorar o mundo drasticamente, mas também colocá-lo em
perigo.

Não é como desenvolver um novo remédio. Ao desenvolver um novo remédio, você


pode não querer toma-lo. Pode recusar. Mas esta é uma mudança ambiental. Se a
comunidade decidir fazê-la, você será afetado. Trata-se de descobrir como
desenvolver esse tipo de tecnologia de forma responsável. E isso exige controle
comunitário.

27
ANEXO

ENTREVISTA COM A DOUTORA CAROLINA FISCHINGER MOURA DE SOUZA

Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996),


mestrado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2001) e doutorado em Ciências pelo programa de pós graduação de
Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(2005), Presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica Biênio 2016 até
2018. Atualmente é médica geneticista do Serviço de Genética do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, coordenadora do Serviço de Informação sobre Erros Inatos
do Metabolismo (SIEM). Possui título de especialista em Genética Médica, Genética
Bioquímica e Patologia Clínica pela Associação Médica Brasileira. Tem experiência
na área de Genética, com ênfase em Genética Humana e Médica, atuando
principalmente nos seguintes temas: Genética Médica, Aconselhamento genético,
Doenças Genético Metabólicas (Erros Inatos do Metabolismo), Doenças
mitocondriais, Neurogenética, Glicogenoses hepáticas e Musculares. Realiza e
participa de inúmeros projetos de pesquisa em Genética Médica.

Eu (entrevistadora): Quando o DNA humano pode ser editado, qual é o futuro da


biologia?

Tu já leste alguma coisa sobre a edição de DNA? Já leu? Então assim, o DNA é
uma estrutura bastante complexa, né? Composta ali pelos carbonos e as moléculas
de adenina, a guanina, citosina e timina que fazem aquela cadeia e o DNA ele vem
em sequência e compõe os genes. Cada gene vai ser responsável por formar uma
determinada proteína e a proteína vai ser o que vai funcionar. Só que nem todo o
nosso DNA vai formar proteína. Agora eu vou te dizer uma coisa bem
impressionante: de todo o nosso DNA só 3% dele serve pra formar as nossas
proteínas, o resto tá ali como estrutura que a gente nem sabe direito qual é o efeito e
tudo mais. E o que que se faz hoje? O que é a edição gênica é cortar um pedacinho
dele, corrigir e fazer com que aquela sequência de letrinhas que estão erradas,
passem a ter a sequência correta. Isso se faz utilizando as próprias enzimas.
Existem enzimas de restrição que funcionam pra quebrar o DNA constantemente e

28
para fazer a multiplicação das células se usa uma enzima que corta, né? Então, uma
delas é a Cas9, que é uma enzima que corta o DNA e edita ele. Corrige o erro. Do
ponto de vista de fazer isso em laboratório é relativamente tranquilo pra quem faz.
Já faz há bastante tempo. Só que a aplicabilidade dessa correção pra curar doenças
ainda é um desafio, porque sempre que a gente tem uma estrutura em que a gente
vai cortar e corrigir, primeiro isso tem que funcionar em todo o DNA do indivíduo.
Todas as células, as milhares de células que tem. E nem sempre isso acontece, né?
A partir dessa correção a produção daquela proteína que poderia estar deficiente,
também não funciona exatamente como se quer. Não é simplesmente trocar a
letrinha e a partir daí a proteína que não funcionava vai começar a funcionar. Por
exemplo, se eu tenho um gene que expressa no desenvolvimento humano, vamos
dizer que ele faz o dedo, aquele gene é responsável pela estrutura do dedo. Se eu
nascer sem o dedo porque tem algum erro genético não adianta mais eu corrigir
esse erro, porque eu não vou reformar o dedo por causa disso, mesmo que ele vá
produzir aquela proteína. É assim pra outras proteínas de funcionamento cerebral
por exemplo. Para as doenças de metabolismo é um bom exemplo, porque a gente
tem uma proteína que funciona numa determinada rota metabólica que está
deficiente. Nesse caso, a edição pode ser uma solução porque eu vou começar a
formar aquela proteína e aquela rota vai voltar a funcionar, então isso pode ajudar.
Então assim, na teoria, funciona, na prática, ainda tem muita coisa pra acontecer
porque a interação da edição gênica ainda é bem complexa. Temos que entender
primeiro bem sobre as doenças, sobre a causa das doenças e entender se o efeito
dela é causado por aquela deficiência de proteína ou se tem outras coisas junto. A
gente corrige, mas podem aparecer outros problemas. Eu acho ainda que a gente
tem uma rodada de muitos anos pela frente, mas pode ser que seja uma solução.

Eu (entrevistadora): O que a Doutora pensa sobre clonagem reprodutiva?

Felizmente a molécula do DNA ela é uma molécula bem dinâmica e ela sofre
interferência do ambiente também. A expressão de determinados genes depende de
o que a gente chama de “fatores epigenéticos”, eles têm uma importância sobre
expressar ou não expressar uma determinada proteína e quando fazer isso. Por que
que algumas pessoas que fumam, têm câncer e outras não têm câncer. Esses
mecanismos epigenéticos a gente não conhece ainda. Algumas pessoas podem ter

29
genes de mais predisposição do que outras ao reagir, por exemplo, ao tabagismo,
que é um fator externo. Então mesmo que façamos uma clonagem de um indivíduo,
ele nunca vai ser idêntico ao outro e nunca vai ser perfeito também, porque naquela
formação dele teve todo um ambiente de gestação especial. E a gente não
consegue criar esse mesmo ambiente, mesmo que a gente pegue todas as células
daquele indivíduo e tente que criar outra, a gente não consegue ter aquele mesmo
ambiente. Então, aparentemente, pode ser igual, mas ele não é como esperamos. O
gêmeo é clone, né? O gêmeo monozigótico ele é quase um clone na verdade, mas
eles são diferentes porque sofrem ambientes diferentes. Então, o que eu acho que
talvez seja interessante na clonagem é a geração de órgãos, por exemplo, para
transplantar. Porque hoje, para transplantar um fígado, precisamos esperar alguém
morrer para transplantar o órgão. Mas se a gente conseguir com uma clonagem
produzir um órgão, isso seria uma coisa interessante, porque eu posso produzir
fígados e transplantar para pessoas que tenham alguma condição genética. E a
Dolly também, não sei se você sabe, mas ela envelheceu muito rapidamente. Aquela
clonagem não deu certo, na verdade. Foi uma falsa clonagem, porque ela já nasceu
velha né? (risos) Dessa forma ela foi perdendo pedacinhos do DNA com o passar do
tempo e ela acabou tendo uma série de condições clínicas. Eu não acho que a
clonagem vai ser algo pros próximos 50 anos assim, nem a clonagem reprodutiva. O
ser humano sempre tenta ter um controle total sobre todas as coisas, mas esse
controle na verdade não existe, porque a molécula do DNA é muito dinâmica e ela
modifica e ela se adapta conforme os diferentes ambientes.

Eu (entrevistadora): quais os riscos dos avanços tecnológicos ligados à engenharia


genética?

É... Eu acho que antes disso, é importante saber que isso depende de muita
tecnologia laboratorial e como eu te falei, eu acho que nunca a gente vai conseguir
reproduzir, mesmo a gente pode ter um DNA igual, mas nunca vai conseguir
reproduzir seres iguais, porque tem toda essa questão do ambiente e da
epigenética, mas eu acho que temos outros desafios, por exemplo, em relação aos
testes genéticos que são realizados em embriões antes deles serem implantados.
Por exemplo, fazer um teste de DNA e selecionar por características físicas, ou por
cor de cabelo, ou por desempenho de QI dos pais, ou por cor da pele, por exemplo,

30
ou cor do olho. Eu acho que isso são desafios éticos maiores que a gente tem e que
já poderiam potencialmente serem, né, serem utilizados na prática. A gente sabe por
exemplo, que é possível já saber genes de predisposição de determinadas doenças
que podem vir a acontecer daqui a sessenta anos, já saber se aquele bebê vai ter ou
não essas doenças e tu imaginas a pessoa conviver com essa informação, de que
ela vai ter uma doença aos sessenta anos de idade. Então acho que esses são
desafios éticos mais reais nesse momento, que é lidar com a tecnologia do
diagnóstico genômico. Hoje depois do sequenciamento do DNA, descoberta do DNA
e tudo mais, esses estudos genômicos eles ficaram muito fáceis e baratos de serem
feitos e se ele cai na mão de pessoas que não tem uma boa habilidade de
interpretação, tu podes dar o diagnóstico de uma probabilidade de uma doença que
ela vai ter, isso vai acabar gerando talvez um stress, até talvez um suicídio, por
exemplo, saber que vai ter uma doença ruim na vida adulta e talvez não ter um
tratamento específico, são desafios mais presentes do que o desafio da clonagem
reprodutiva, que eu espero não ver, tá? (risos) A não ser que seja para o bem, aquilo
que eu falei de ter órgãos que possam ser transplantados com mais facilidade para
salvar vidas, ou células que possam ser produzidas pra gente curar um câncer ou
pra curarmos doenças raras, que eu lido muito com a questão da doença rara. Então
eu tenho mais interesse em primeiro a prevenção, claro, e ainda mais a cura de
condições mais raras. Eu acho que a tecnologia devia se voltar muito mais pra isso
do que a tecnologia se voltar para a melhoria do ser humano. Até por que isso pode
gerar guerras entre populações e aí daqui a pouco você cria um exército de uma
pessoa muito ruim. Você já viu o filme GATTACA?

Eu (entrevistadora): Vi! Vi sim, com o colégio inclusive.

Dra. Carolina: Acho que inclusive tem uma edição nove né? Mas pra você ter uma
ideia, quando eu vi o GATTACA Maria, aquela gotinha que eles coletam para saber
se aquela criança ia ser assim e assado, claro que tem muita coisa que é fantasia,
mas já é possível coletar o DNA e saber se a criança vai ter uma doença, por
exemplo, como o câncer. Isso é bem fácil de fazer e é bem barato. Com 5 mil reais a
gente faz isso. Mas tem questões éticas envolvidas nisso e é por isso que não
devemos sair fazendo, porque você pode detectar uma condição que não tenha
nada de diferente pra fazer e a pessoa vai ter que conviver com aquela informação e

31
a vida dela vai ser um inferno. Então eu queria que as pessoas pensassem mais
sobre isso. Em fazer uma tecnologia muito mais para salvar vidas e tentar curar as
doenças que a gente ainda tem desafios. Ninguém ainda tem a cura para a diabetes,
para pressão alta, ninguém tem a cura para muitos cânceres. Então, seria melhor se
trabalhássemos tecnologicamente mais para isso do que para a melhoria do ser
humano, ou pra fazer um teste recreacional, que é aquilo do “eu quero ver se eu vou
ter”. Isso pode ser um tiro no pé, como a gente diz né? Porque podemos achar que
estamos fazendo uma coisa legal, mas aquilo na verdade pode acabar com a sua
vida.

32
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/genetica.htm.
2. https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao19.php .
3.

4. https://edisciplinas.usp.br › mod_resource › content.


5. https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao19.php .
6. https://brandplanosdesaude.com.br/saude-e-bem-estar/genetica-e-epigenetica-
como-interferem-em-nossas-vidas/.
7. HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma breve história da humanidade. Porto Alegre:
L&PM Editores S. A., 2018.
8. https://www.resumocast.com.br/sapiens-1-yuval-noah-harari/.
9. https://www.deviante.com.br/noticias/resenha-sapiens-uma-breve-historia-da-
humanidade-yuval-noah-harari/.
10. MIRANDA DE ALMEIDA, Rogério; MASSAMBANI RUTHES, Vanessa Roberta. A
POLÊMICA DO INÍCIO DA VIDA: uma questão de perspectiva de interpretação.
Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, v. 2, n. 1, 2010.
11. ALMEIDA, Silmara S.A. Chinelato. Tutela Civil do Nascituro. São Paulo: Saraiva.
2000.
12. DE BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. BIOÉTICA NO INÍCIO DA VIDA TITULO.
Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, v. 2, n. 1, 2010.
13. https://biotechtown.com/blog/o-que-e-biotecnologia/ .
14. https://querobolsa.com.br/enem/biologia/engenharia-genetica .
15. https://www.spectrun.com.br/blog/engenharia-genetica/engenharia-genetica-
conceito-e-aplicacao/#.
16. Seleção Artificial – série Netflix,
17. https://revistapesquisa.fapesp.br/mayana-zatz-e-cristiane-segatto/.
18. https://profissaobiotec.com.br/3-tecnicas-revolucionarias-para-a-edicao-do-dna/.

33
34

Você também pode gostar